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AUTORES

Sumário
CONCEITOS FÍSICOS E QUÍMICOS DO SOLO ............................................................................................ 3
MACRONUTRIENTES ........................................................................................................................... 28
MICRONUTRIENTES ............................................................................................................................ 37
TABELAS DE INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISES DE SOLO ........................................................................... 60
CORREÇÃO DO SOLO ........................................................................................................................... 68
FERTILIZANTES .................................................................................................................................... 73
ADUBAÇÃO MINERAL ......................................................................................................................... 78
ADUBAÇÃO ORGÂNICA ....................................................................................................................... 85
ADUBAÇÃO FOLIAR ............................................................................................................................. 94
FERTIRRIGAÇÃO ................................................................................................................................ 109
ADUBAÇÃO VERDE............................................................................................................................ 120
SISTEMA DE PLANTIO DIRETO ........................................................................................................... 129
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................... 139
LITERATURAS CONSULTADAS ............................................................................................................ 140
CONCEITOS FÍSICOS E QUÍMICOS DO SOLO

1. INTRODUÇÃO
Os solos minerais são constituídos por uma mistura de partículas sólidas de
natureza mineral e orgânica, ar e água, formando um sistema trifásico, sólido, gasoso
e líquido.
As partículas da fase sólida variam grandemente em tamanho, forma e
composição química e a sua combinação nas várias configurações possíveis forma a
chamada matriz do solo. Considerando o solo como um corpo natural organizado,
portanto ocupando dado espaço, a recíproca da matriz do solo forma a porosidade
dos solos. Outro fator que interfere diretamente na porosidade dos solos refere-se à
maneira com que as partículas sólidas se arranjam na formação dos solos.
Duas propriedades físicas, hierarquicamente mais importantes, referem-se a
textura do solo, que é definida pela distribuição de tamanho de partículas, e a
estrutura do solo definida pelo arranjamento das partículas em agregados.
A porosidade do solo, por sua vez, é responsável por um conjunto de
fenômenos e desenvolve uma série de mecanismos de importância na física de solos,
tais como retenção e fluxo de água e ar, e, se analisada conjuntamente com a matriz
do solo, gera um grupo de outras propriedades físicas do solo associadas às relações
de massa e volume das fases do sistema solo. Não menos importantes são as
propriedades associadas à reação mecânica do solo à aplicação de forças externas. A
física de solos estuda e define, qualitativa e quantitativamente, as propriedades
físicas, bem como sua medição, predição e controle, com o objetivo principal de
entender os mecanismos que governam a funcionalidade dos solos e seu papel na
biosfera.
A importância prática de se entender o comportamento físico do solo está
associada ao seu uso e manejo apropriado, ou seja, orientar irrigação, drenagem,
preparo e conservação de solo e água. A definição de um solo fisicamente ideal é

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difícil devido ao tipo e natureza das variações físicas dos solos que ocorrem ao longo
da profundidade do solo, na superfície da paisagem e ao longo do tempo. Um
exemplo clássico refere-se ao suprimento de água e ar que variam continuamente
junto com os ciclos de umedecimento e secagem, que ocorrem com a alternância de
chuva e estiagem.
Um solo é considerado fisicamente ideal para o crescimento de plantas quando
apresenta boa retenção de água, bom arejamento, bom suprimento de calor e pouca
resistência ao crescimento radicular. Paralelamente, boa estabilidade dos agregados
e boa infiltração de água no solo são condições físicas importantes para qualidade
ambiental dos ecossistemas. O conceito de um solo fisicamente ideal é complexo e
carece de melhor definição quantitativa.
No entanto, já há indicação clara de uma série de valores quantitativos de
indicadores da qualidade física de um solo, seja valores ideais, críticos ou restritivos
ao crescimento de plantas ou na qualidade ambiental.

2. CONCEITOS FÍSICOS
2.1. TEXTURA DO SOLO
A textura do solo é definida pela proporção relativa das classes de tamanho de
partículas de um solo. A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo define quatro classes
de tamanho de partículas menores do que 2 mm, usadas para a definição da classe
de textura dos solos: Areia grossa – 2 a 0,2 mm ou 2000 a 200 µm Areia fina – 0,2 a
0,05 mm ou 200 a 50 µm Silte – 0,05 a 0,002 mm ou 50 a 2 µm Argila – menor do que
2 µm. Desconsiderando a presença da matéria orgânica e de partículas maiores do
que 2 mm no solo, o total de partículas de um solo é igual ao somatório da proporção
de areia, silte e argila, de maneira que um solo pode ter de 0 a 100% de areia, de silte
e de argila. O número possível de arranjamento resultante da combinação das
proporções de classes de partículas é muito grande, o que impulsionou o
desenvolvimento de um sistema de classificação gráfico e funcional

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para definição das classes de textura dos solos. O sistema consta da sobreposição de
três triângulos isósceles que representam a quantidade de argila, silte e areia do solo.
A avaliação da textura é feita diretamente no campo e em laboratório. No campo, a
estimativa é baseada na sensação ao tato ao manusear uma amostra de solo.
A areia manifesta sensação de aspereza, o silte maciez e a argila maciez e
plasticidade e pegajosidade quando molhada. No laboratório, a amostra de solo é
dispersa numa suspensão e, por peneiramento e sedimentação, se determina
exatamente a proporção de areia, argila e por diferença a de silte.
A natureza e a forma das partículas do solo foram elementos chaves para a
definição, que é empírica, das classes de tamanho de partículas e, juntamente com a
experiência prática, da delimitação das classes texturais no TT. Assim, as partículas de
areia e silte, especialmente nos solos do Brasil, são predominantemente de forma
esférica e composição mineralógica formada por quartzo, ao passo que as partículas
de argila são de formato laminar e compostas por minerais de argila (caulinita, ilita,
montmorilonita,...) e óxidos (de Fe, Al,...).
A classe textural é determinada pela distribuição do tamanho de partículas e
juntamente com o tipo de argila marcadamente afetam outras propriedades físicas
como a drenagem e a retenção de água, a aeração e a consistência dos solos.

TABELA 1. Relação da textura do solo com algumas propriedades dos solos.

Solos Arenosos Solos Argilosos

Menor porosidade do solo Maior porosidade do solo

Menor micro e maior macroporosidade Maior micro e menor macroporosidade

Baixa retenção de água Alta retenção de água


Drenagem lenta e pouco arejado (se pouco
Boa drenagem e aeração
agregados)
Menor densidade do solo Maior densidade do solo

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Aquece rápido Aquece lentamente

Resiste à compactação Maior susceptibilidade à compactação

Baixa CTC Maior CTC

Mais lixiviável Menos lixiviável

Maior erosão Mais resistente à erosão

Coesão baixa, friável Coesão elevada, firme


Consistência plástica e pegajosa quando
Consistência friável quando úmido
molhado
Fácil preparo mecânico Mais resistente ao preparo (pesado)
Matéria orgânica baixa e rápida Matéria orgânica média a alta e menor taxa de
Decomposição decomposição
Fonte: EMBRAPA.

A classe textural de um solo é uma característica importante de um solo porque


varia muito pouco ao longo do tempo. A mudança somente ocorrerá se houver
mudança da composição do solo devido à erosão seletiva e/ou processos de
intemperismo, que ocorrem em escala de séculos a milênios. Portanto, o uso e o
manejo do solo afetam muito pouco a textura de um solo, implicando no fato que em
nível de propriedade rural, em área com classe textural similar, as variações da
qualidade física estão associadas à variação de outras propriedades físicas.

2.2. ESTRUTURA DO SOLO


A estrutura do solo refere-se ao agrupamento e organização das partículas do
solo em agregados e relaciona-se com a distribuição das partículas e agregados num
volume de solo. Considerando que o espaço poroso é de importância similar ao
espaço sólido, a estrutura do solo pode ser definida também pelo arranjamento de
poros pequenos, médios e grandes, com consequência da organização das partículas
e agregados do solo. Esta última definição aponta um dos principais e primário efeito
da estrutura na qualidade dos solos.
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A estrutura do solo, conceitualmente, não é um fator de crescimento das
plantas ou indicativo direto da qualidade ambiental. Porém, está relacionada
indiretamente com praticamente todos os fatores que agem sobre eles. O suprimento
de água, a aeração, a disponibilidade de nutrientes, a atividade microbiana e a
penetração de raízes, dentre outros, são afetados pela estrutura dos solos.
De acordo com a organização das partículas e do ambiente de formação muitos
tipos de agregados estruturais podem se formar. O tipo de agregado presente num
solo determina o tipo de estrutura do solo. Uma descrição geral desses tipos é
apresentada a seguir.
 granular e grumosa – agregados arredondados formados
predominantemente na superfície do solo sob influência marcada da matéria
orgânica e atividade microbiológica. Os grumos apresentam poros visíveis. A sensação
ao manusear o solo é de friabilidade, soltando-se facilmente dos agregados vizinhos;
 laminar – os agregados são de formato laminar e formados por influência
do material de origem ou em horizontes muito compactados;
 prismática e colunar – os agregados formam-se em ambientes mal
drenados e em horizontes subsuperficiais com pequena influência da matéria
orgânica. Normalmente são agregados grandes e adensados. Quando o topo dos
prismas são arredondados teremos a estrutura colunar;
 blocos angulares e subangulares – os agregados têm formato cubóide e
formam-se em ambientes moderadamente a bem drenados nos subsolos.

A variação do tipo de estrutura do solo é bastante usada na classificação de


solos e variam claramente quando varia o tipo de solo.

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2.2.1. AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA DO SOLO
A avaliação direta da estrutura do solo é complexa e demanda de modernas
tecnologias tipo ressonância magnética, tomografia, etc., que ainda são de acesso
limitado. Porém, diretamente usa-se a descrição morfológica, que é qualitativa, para
verificar a estrutura do solo quanto ao tipo, tamanho e grau de desenvolvimento dos
agregados. Essa descrição distingue bem a estrutura quando consideradas grandes
diferenças da condição estrutural.
A avaliação quantitativa mais usada na avaliação da qualidade da condição
estrutural é de natureza indireta e mede outras propriedades físicas indiretamente
influenciadas pela estrutura do solo. A avaliação da estabilidade de agregados,
densidade do solo, porosidades e infiltração e retenção de água, considerando a
classe textural, indicam o estado atual da estrutura do solo. Esse tipo de avaliação é
bastante usado para medir-se a evolução da estrutura de um dado solo quando
submetido a diferentes sistemas de manejo.

2.3. ESTABILIDADE DOS AGREGADOS


Expressa a resistência à desagregação que os agregados apresentam quando
submetidos a forças externas (ação implementos agrícolas e impacto gota chuva) ou
forças internas (compressão de ar, expansão/contração) que tendem a rompê-los.
Mais freqüentemente medida contra forças aplicadas pela água, é uma
medição que tem estreita relação com a habilidade de um solo resistir a erosão. Um
dos métodos mais usados para medir a estabilidade de agregados aplica forças de
desintegração em uma amostra de agregados grandes (4 mm) e mede
posteriormente a distribuição de tamanho de agregados resultantes. O tamanho
médio e a proporção de tamanho são usados como índice de estabilidade.
A estabilidade dos agregados é fortemente afetada pelo cultivo, demonstrando
a perda da estabilidade pelo uso de aração e gradagem para instalação da cultura de
milho. Com o retorno da não mobilização e aporte de
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cobertura de solo pelo plantio direto, a estabilidade no solo arenoso foi restabelecida
após 2 a 3 anos.
A estabilidade é também fortemente afetada pela matéria orgânica do solo,
através da quantidade e de sua qualidade e, especialmente, por ser o agente
cimentante mais dependente do manejo de solo e plantas.

2.4. DENSIDADE DO SOLO (Ds)


Expressa a relação entre a quantidade de massa de solo seco por unidade de
volume do solo. No volume do solo é incluído o volume de sólidos e o de poros do
solo. Entretanto, havendo modificação do espaço poroso haverá alteração da Ds. O
uso principal da densidade do solo e como indicador da compactação, assim como
medir alterações da estrutura e porosidade do solo.
Os valores normais para solos arenosos variam de 1,2 a 1,9 g cm-3, enquanto
solos argilosos apresentam valores mais baixos, de 0,9 a 1.7 g cm-3. Valores de Ds
associados ao estado de compactação com alta probabilidade de oferecer riscos de
restrição ao crescimento radicular situam-se em torno de 1,65 g cm-3 para solos
arenosos e 1,45 g cm-3 para solos argilosos.
A determinação da Ds é relativamente simples e baseia-se na coleta de uma
amostra de solos de volume conhecido e com estrutura preservada com técnicas
diversas, incluindo coleta de solo em cilindros, torrão ou feito diretamente no campo
por escavação. Em todos necessita-se medir o volume da amostra e quantificar
quanto de solo seco tem-se no volume coletado.

2.5. POROSIDADE DO SOLO (Pt)


O espaço do solo não ocupado por sólidos e ocupado pela água e ar compõem
o espaço poroso, definido como sendo a proporção entre o volume de poros e o
volume total de um solo. É inversamente proporcional à Ds e de grande importância
direta para o crescimento de raízes e movimento de ar, água e solutos no solo. A
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textura e a estrutura dos solos explicam em grande parte o tipo, tamanho, quantidade
e continuidade dos poros.
Os tipos de poros estão associados à sua forma, que por sua vez tem relação
direta com sua origem. O tipo de poros mais característico são os de origem biológica,
que são arredondados e formados por morte e decomposição de raízes ou como
resultado da atividade de animais ou insetos do solo, como minhocas, térmitas, etc.
Outro tipo de poros apresenta forma irregular e de fenda formados por vários
processos, tipo umedecimento e secagem, pressão, etc. Poros arredondados tendem
a ser mais contínuos e de direção predominante normal a superfície, ao contrário das
fendas no solo.
A classificação mais usual da porosidade refere-se à sua distribuição de
tamanho. A mais usual é a classificação da porosidade em duas classes: micro e
macroporosidade. A microporosidade é uma classe de tamanho de poros que, após
ser saturada em água, a retém contra a gravidade. Os macroporos, ao contrário, após
serem saturados em água não a retém, ou são esvaziados pela ação da gravidade. A
funcionalidade desses poros fica evidente quando se considera que os microporos são
os responsáveis pela retenção e armazenamento da água no solo e os macroporos
responsáveis pela aeração e pela maior contribuição na infiltração de água no solo.
A determinação da porosidade total (Pt) em laboratório é feita, principalmente,
de dois modos:
a) Saturando-se uma amostra de solo e medindo-se o volume de água contido;
b) Por cálculo conhecendo-se a Ds e a Dp;

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Ms = massa de sólidos; Vt = volume total
Vs = volume de sólidos; Vp = volume de poros
Microporos Vol Sólidos Va = volume de água retido à –6 kPa
37.9 35.0
Solo de Ds = Ms/Vt; Dp = Ms/Vs
mato Pt % = (1-Ds/Dp) 100
Macroporos Microporosidade % = 100 Va/Vt
27.1
Macroporosidade = Pt – microporosidade

Microporos
40.7
Vol Sólidos
42.1 4 anos de Microporos
Vol Sólidos
50 anos de
40.2
cultivo 47.0 cultivo

Macroporos
17.2 Macroporo
12.8

A separação da porosidade total em micro e macroporos é feita em laboratório,


drenando-se a água dos macroporos usando uma sucção leve (-6kPa) em mesa de
tensão ou coluna de areia e medindo-se o volume de água que permanece na
amostra, que é igual ao volume de microporos. Conhecendo-se a Pt, calcula-se a
macroporosidade por diferença. Usando-se equação fundamental da

então o tamanho aproximado ao limite entre micro e macroporos.


Em solos arenosos há predominância de macroporos, enquanto em solos
argilosos a tendência é predominar microporos. Nesse aspecto, a origem do tamanho
de poros relaciona-se ao tamanho de partículas e são considerados de natureza
textural ou porosidade textural. Quando as partículas se organizam em agregados, há
a criação de poros no solo, geralmente poros grandes entre agregados, sendo
considerados porosidade estrutural. Esta última é especialmente importante em
solos argilosos onde os macroporos são formados como conseqüência da
estruturação.
Em solos argilosos bem estruturados como muitos latossolos do Planalto
Riograndense temos porosidade textural dentro dos agregados e estrutural entre
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agregados, e nesses solos a macroporosidade é uma boa indicadora da condição
estrutural ou física do solo. A aeração dos solos refere-se à habilidade de um solo
atender a demanda respiratório da vida biológica do solo. Para isso, há necessidade
de contínua troca de oxigênio e CO2 entre a atmosfera e o solo e, para que isso ocorra,
é de grande importância a presença de macroporos. Normalmente, considera-se que
o espaço aéreo de 10 % de macroporos é suficiente para arejar o solo e satisfazer a
demanda respiratório no solo.

2.6. CONSISTÊNCIA DO SOLO


Descreve a resistência do solo em diferentes umidades contra pressão ou
forças de manipulação, ou refere-se à sensação de dureza, à facilidade de quebra ou
à plasticidade e pegajosidade de um solo em diferentes umidades ao ser manipulado
pelas mãos. Sua descrição morfológica é feita em três classes de umidade, seco,
úmido e molhado, manifestando, respectivamente, dureza, friabilidade e plasticidade
e pegajosidade.
A variação da consistência com a umidade do solo é devido à influência da
umidade nas forças de adesão e coesão.
O preparo e o tráfego do solo têm relação estreita com a consistência, pois
afeta a resistência do solo e, por conseguinte, sua compressibilidade,
compactabilidade, capacidade suporte e especialmente orientar manejo de solo em
umidades ótimas de uso, exigindo menor esforço para tração ou compactando menos
por unidade de carga aplicada.
A consistência do varia muito de solo para solo e depende, especialmente, dos
seguintes fatores: textura, mineralogia, teor de matéria orgânica e da agregação do
solo.
A mineralogia tem efeito marcante na consistência e na resposta do solo à
mecanização. Solos com o tipo de argilomineral 2:1 expansivas, como ocorre em solos
escuros da fronteira oeste do RS, são muito plásticos e pegajosos quando
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úmidos e muito duros quando secos. A faixa de friabilidade, onde a umidade do solo
é boa para manejo do solo é muito pequena, exigindo maquinária mais potente e em
maior número para trabalhar o solo. O contrário se observa nos solos argilosos bem
estruturados do Planalto Riograndense, onde a mineralogia indica presença
predominante de caulinita (argilomineral 1:1) imprimindo ao solo ampla faixa de
friabilidade, facilitando o manejo.
A resistência do solo tem estreita relação também com o estado de
compactação do solo e é freqüentemente usada para avaliar manejo de solos, visto
que as raízes ao crescerem, o fazem em espaços já existentes no solo ou têm que
vencer a resistência para abrir espaço ao seu crescimento. Quando a resistência do
solo é maior que a pressão celular, as raízes crescem na direção de menor resistência
e mudam sua distribuição, apresentando deformação do sistema radicular.

2.7. RETENÇÃO DE ÁGUA NO SOLO


A água na forma líquida apresenta uma série de propriedades de fundamental
importância em seu comportamento no solo. A polaridade, pontes de hidrogênio e
tensão superficial da água fazem com que a água em sistemas porosos atinja estado
de menor energia livre e seja retida contra a gravidade, especialmente por
capilaridade e também por adsorção.
A equação fundamental da capilaridade estabelece que a força de retenção da
água é inversamente proporcional ao diâmetro do capilar multiplicado por uma
constante derivada das condições locais (gravidade local, Dp, temperatura). Se
considerarmos o sistema poroso do solo como um sistema capilar e com determinada
área superficial entenderemos que a água é retida no solo devido aos dois
mecanismos: capilaridade e adsorção. A força capilar explica a ascensão da água em
vasos ou no campo, de baixo para cima contra a gravidade e lateralmente quando a
água é adicionada num ponto e aumenta a medida que o tamanho de

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poro diminui. A medida que o solo seca diminui o volume de água retido até que a
lâmina de água fica restrita ‘a superfície das partículas, retida por efeito eletrostático
ou por adesão. Nestes dois processos de retenção, o maior volume de água e o mais
disponível é retido por efeito capilar e o volume menor e fortemente retido no solo é
retido por adsroção.
A textura e a estrutura do solo que definem a área superficial e a arquitetura
do sistema poroso são os principais fatores associados ao armazenamento e
disponibilidade da água nos solos, assim como, com a habilidade dos solos de deixar
passar água na sua matriz para camadas profundas do perfil do solo e da camada
terrestre.
A quantidade de água retida por unidade de massa de sólido é definida como
umidade gravimétrica (Ug) e por unidade de volume do solo (Vt) é definida como

percentuais. A medida da umidade é importante e de fácil execução, porém para a


medição da Uv necessita-se de coletar amostra com volume conhecido e estrutura
preservada. Como a umidade do solo é muito variável, o comum é medir-se a Ds e
determinar a Ug, transformando-a em Uv multiplicando-se pela Ds como segue: Uv
= Ug x Ds.
Assim como a chuva, a quantidade de água armazenada em um solo é
comumente apresentada em termos de lâmina de água retida. Um solo que
apresenta Uv=0,3 cm3 cm-3 de 0 a 50 cm de profundidade possui retida um lâmina
de 150 mm de água armazenada, calculada como segue:
Armazenamento, mm=Uv . espessura da camada = 0,3 cm3 cm-3 . 50 cm = 15
cm = 150 mm Se considerarmos um hectare de área haverá 1 500 000 litros de água
armazenado, calculado como segue:
Armazenamento, litros ha-1 até 50 cm = 0,15 m. 10 000 m2 = 1 500 m3 = 1 500
000. A quantidade de água retida é um importante parâmetro do solo, porém não
informa sua disponibilidade ou a sua força de retenção. O movimento de
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massas na natureza se dá de pontos de energia livre mais altos para pontos de energia
mais baixa, e como no solo o movimento de água é pequena a energia considerada é
a potencial. Modernamente, no solo estipulou-se medir o quanto de trabalho deve
ser realizado numa quantidade de água para se deslocar de um dado estado ao estado
de referência. Três forças definem o total da energia livre da água:
a) osmótica;
b) gravitacional e;
c) forças originadas pela matriz do solo.

No solo as concentrações de sais tendem a se igualar por difusão, sendo a


diferença de energia devido a forças osmóticas, predominantes no domínio solo- raiz,
influindo pouco no movimento e retenção da água. Na gravidade a energia potencial
toma conotação de energia de posição dentro do campo gravitacional, importante na
definição do movimento de água e deve ser computado para equacionamento de
fluxo de água no solo. As forças originadas pela matriz do solo, através dos fenômenos
de adsorção e capilaridade, são as responsáveis pelo potencial matricial, antigamente
chamado de potencial capilar.
O total de energia por unidade de volume de água é definido como sendo o
potencial total expresso em termos de pressão (kPa, bar, cm de coluna de Hg ou
água). O principal componente do potencial total em solos não saturados é o
potencial matricial, responsável pela retenção de água contra a ação da gravidade e
por isso ter sinal negativo e chamado de tensão da água no solo. Pela equação da
capilaridade temos que, quanto menor o tamanho dos poros maior a força capilar e
maior tem que ser a força para extrair a água de dentro deste capilares. Deste modo
um solo saturado ao secar os poros maiores são esvaziados primeiro e a medida que
a umidade do solo vai reduzindo, a energia livre é menor e a água vai ficando mais
fortemente retida. Assim na mesma posição gravitacional e no mesmo solo ou
horizonte a água de desloca de pontos mais úmidos para mais secos, no entanto,
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quando a posição gravitacional não é a mesma não necessariamente a água se move
de pontos mais úmidos para mais secos.
Em laboratório constrói-se curvas relacionando umidade do solo e potencial
matricial denominado-as de curva de retenção de água no solo ou curva característica
de água no solo. No campo a medição do potencial matricial é feita por um
equipamento chamado de tensiômetro.

Um solo saturado apresenta toda sua porosidade cheia de água, que após
drenado em condições naturais, os macroporos são drenados e os microporos ficam
preenchidos com água. Neste estado o movimento descendente é pequeno e
tradicionalmente considera- se que o solo apresenta a sua máxima capacidade de
armazenamento de água contra a gravidade e considera-se a umidade deste estado
como sendo a capacidade de campo (CC).
O potencial matricial da água no solo encontra-se na faixa de -10 a -33 kPa,
dependendo da textura e estruturação do solo. Ao contrário, a umidade onde as
plantas murcham permanentemente é chamada de ponto de murcha permanente
(PMP) e apresenta potencial matricial em torno de –1500 kPa. A diferença de umidade
entre a CC e PMP nos indica a faixa de água disponível de um solo, que
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pode ser dada em termos percentuais ou em lâmina de água. Esta última é uma
excelente indicadora da habilidade de um solo reter água a ser utilizada pelas plantas.
A textura, matéria orgânica e a agregação são os principais fatores que afetam a
disponibilidade de água para as plantas.

3. CONCEITOS QUÍMICOS
3.1. FERTILIDADE DO SOLO
3.1.1. FERTILIDADE NATURAL
A fertilidade natural corresponde à fertilidade do solo que ainda não sofreu
nenhum manejo, ou seja, não foi trabalhado e, portanto, não sofreu recente
interferência antrópica. É muito usada na avaliação e classificação de solos onde não
existe atividade agrária. Dá idéia da capacidade que apresenta um solo ou unidade de
classificação para ceder os nutrientes (Lepsch, 1983). Por exemplo, um solo distrófico
(V < 50%) aparentemente apresentaria menor capacidade de ceder os nutrientes, do
que um eutrófico (V \u2265 50%). Na verdade, este índice pouco representa em
termos da real capacidade de ceder nutrientes, já que um solo pode ser distrófico e
ter uma CTC superior, com maiores teores de cátions trocáveis, do que um solo
eutrófico e, portanto, ter condições de fornecer maior quantidade de nutrientes para
as plantas.

3.1.2. FERTILIDADE POTENCIAL


No caso da fertilidade potencial, evidencia-se a existência de algum elemento
ou característica que impede o solo de mostrar sua real capacidade de ceder
nutrientes. Assim, persistindo essas condições limitantes, a capacidade de ceder
elementos estará obstruída, ainda que a fertilidade potencial seja alta.
Entre as características limitantes cita-se o caso de solos ácidos, onde o teor de
Al3+ é elevado e a disponibilidade de Ca, Mg e P é baixa ou insuficiente, o que se
poderia corrigir com adição de calcário, gesso e fosfato.
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Assim, também, os solos salino-sódicos apresentam conteúdos excessivos de
Na+, o que eleva o pH e ocasiona diminuição da disponibilidade de micronutrientes,
principalmente Fe, Mn, Zn e Cu.
O Quadro 3 dá uma idéia desse tipo de fertilidade, pois se observa que a
incorporação de gesso, CaSO4.2H2O, aumentou significativamente a produção de
soja e de feijão, mesmo em diferentes solos, devido ao fornecimento de Ca e S, efeito
fertilizante, e a diminuição de saturação de Al no solo, efeito corretivo.

3.1.3. FERTILIDADE ATUAL


A fertilidade atual é a que apresenta o solo após receber práticas de manejo
para satisfazer as necessidades das culturas; dá a idéia da fertilidade de um solo já
trabalhado. Deve ser interpretada considerando-se as correções realizadas, por
exemplo, calagem, adubação fosfatada, etc.
A fertilidade atual é caracterizada pela determinação das formas disponíveis
dos nutrientes do solo.

3.2. POTENCIAL HIDROGÊNICO (pH)


O pH mede a acidez ativa do solo que é a atividade de H+ presente na solução
do solo. O pH varia ao longo do tempo, alterando seu valor conforme o manejo do
solo, cultivos sucessivos e adubações.
As plantas, ao absorverem nutrientes de carga positiva (K+ , Mg++, Ca++ etc.),
liberam H+ das raízes para a solução do solo, o que reduz o pH. Na reação dos
fertilizantes nitrogenados com o solo, especificamente na nitrificação (passagem de
amônio para nitrato), também há liberação de H+.
Além desses, outros fatores contribuem para o aumento da acidez do solo
como precipitação pluviométrica, irrigações, dentre outros. Na análise do solo, o pH
é determinado agitando-se 10 cm3 de solo com 25 mL de água (relação 1:2,5),
realizando-se a leitura em potenciômetro. Em alguns estados do Brasil, como São

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Paulo, o pH é determinado em solução de CaCl2 (0,01 mol/L), que tem por objetivo
reduzir a influência de sais sobre a leitura do pH.
O pH do solo é um indicativo da sua fertilidade atual, isto é, da forma química
em que o alumínio se encontra, se tóxica (Al3+) ou precipitada (Al(OH) 3 ), do nível de
solubilidade dos macro e micronutrientes e da atividade de micro-organismos no solo.
A alteração da disponibilidade de alumínio e dos macro e micronutrientes em
função do pH do solo é apresentada na figura abaixo:

Disponibilidade de nutrientes e alumínio em função do pH do solo.


Fonte: Adaptado de Potash Phosphate Institute (1989).

A redução do pH do solo diminui a disponibilidade dos micronutrientes Cl, Mo


e B e dos macronutrientes e aumenta a solubilidade de Al3+, forma tóxica do
alumínio. Em solos com pH superior a 6,5 há redução acentuada na disponibilidade
dos micronutrientes Zn, Cu, Fe e Mn. Por essas razões, o pH do solo considerado
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adequado para o crescimento e desenvolvimento das plantas situa-se entre 6,0 e 6,5.
Nessa faixa de pH não há presença de Al3+ (forma tóxica) e há boa disponibilidade de
nutrientes. Em pH acima de 6,5, a solubilidade do Fe decresce aproximadamente mil
vezes para cada unidade de aumento do pH do solo. Na faixa de pH de 4 a 9, a
solubilidade de Mn diminui 100 vezes, para cada unidade de aumento do pH do solo.

3.3. ALUMÍNIO (Al3+)


Indica o teor de alumínio na forma iônica Al3+ (também denominada acidez
trocável) que é a forma tóxica às plantas. Todos os solos contêm alumínio em diversas
formas ou compostos, sendo o seu teor total praticamente constante. O que varia são
as formas em que o alumínio se encontra.
O pH do solo influencia as formas de alumínio, sendo este alterado com a
calagem. A dissociação dos carbonatos de Ca e Mg do calcário liberam OH- para a
solução do solo, que reage com o H+ formando H2 O, elevando assim o pH (reação de
neutralização). Com a elevação do pH, a forma de alumínio solúvel Al3+ (tóxica) passa
para a forma insolúvel Al(OH) 3 (não tóxica).
Com o passar do tempo, a lixiviação de bases do solo, proporcionada pelas
chuvas, a absorção de bases pelas plantas em cultivos sucessivos e a aplicação de
fertilizantes, principalmente os nitrogenados amoniacais, voltam a acidificar o solo,
reduzindo o seu pH e aumentando assim a solubilidade do alumínio, que passa da
forma Al(OH) 3 0 para Al3+ (e outras formas intermediárias), voltando a causar toxidez
às plantas.

25
Em solos ácidos, a solubilidade do Al3+ é muito elevada, causando danos às
raízes das plantas. Com a elevação do pH, ocorre a redução da solubilidade de Al3+,
até pH 5,5, não mais havendo presença da forma tóxica, predominando o alumínio na
forma Al(OH) 3 , que é um precipitado inerte.
O Al3+ causa o engrossamento das raízes, reduz o seu crescimento e impede a
formação de pêlos radiculares, prejudicando a absorção de água e nutrientes. No
entanto, há espécies de plantas com alta tolerância ao Al3+, como diversas espécies
do gênero Eucaliptus.

3.4. H+Al
Também denominada “acidez potencial” ou “acidez total”. As classes de
interpretação para a acidez potencial (H+Al) estimadas pela correlação com o pH
SMP.
Essas classes de interpretação são genéricas e de pouca aplicação prática, uma
vez que a determinação do H+Al tem por objetivo principal o cálculo da CTC Total do
solo (T). Geralmente os valores de H+Al são maiores em solos ricos em matéria
orgânica, principalmente se estes apresentarem baixos valores de pH.

3.5. SOMA DE BASES (SB)


Representa a soma das bases presentes no solo, ou seja, dos elementos K+ ,
Na+ Ca2+ e Mg2+. É também denominada S, sendo que esta representação deve ser
evitada para não confundir com o enxofre, cujo símbolo também é representado pela
letra S. Para o cálculo da soma de bases (SB), todos os elementos devem estar
expressos na mesma unidade (cmolc /dm³). Como o teor de K+ é expresso em
mg/dm³, é necessária a sua transformação. Para isso, divide-se o teor de K+ por 39,1
(massa atômica do K), obtendo-se assim o seu teor em mmolc /dm³, utilizando a
análise de solo de referência, 73/39,1 = 1,87 mmolc /dm³. Para converter mmolc/cm³
em cmolc/dm³ divide-se por 10. O que equivale a 0,187 cmolc /dm³.
Portanto, para simplificar o cálculo, é utilizado o fator de transformação 391, isto é,
26
se for dividido o teor de K+ em mg/dm³ por 391 (K/391) será obtido oresultado em
cmolc/dm³ (73 mg/dm³ de K ÷ 391 = 0,187 cmolc /dm³ de K). O teor de Na na
análise, assim como o K, também é expresso em mg/dm3 , para a sua transformação
para cmolc /dm3 . Se o teor de Na for dividido por 23 (massa atômica do Na),
obtém-se dessa forma o seu teor em mmolc/dm³ , ou seja, 15/23 = 0,65 mmoc/dm³.
Para converter mmolc/cm³ em cmolc/dm³ divide-se por 10, resultando em
0,065 cmolc/dm³. Portanto, para simplificar o cálculo, é utilizado o fator de
transformação 230, isto é, se for dividido o teor de Na em mg/dm3 por 230 (Na/230)
será obtido o resultado em cmolc/dm³ (15 mg/dm³ de Na ÷ 230 = 0,065 cmolc/dm³
de Na). Ressalta-se a pouca contribuição do sódio na soma de bases do solo em solos
não salinos ou sódicos. Os teores de Ca2+ e Mg2+ na análise frequentemente já são
expressos em cmolc /dm³.

SB = 𝑲+ + 𝑵𝒂+ + 𝑪𝒂𝟐++ 𝑴𝒈𝟐+

3.6. CTC TOTAL (T)


É a capacidade de troca de cátions do solo, medida à pH 7, também
representada pela letra T. É uma das variáveis mais importantes para a interpretação
do potencial produtivo do solo. Indica a quantidade total de cargas negativas que o
solo poderia apresentar se o seu pH fosse 7.
Essas cargas são aptas a adsorver (reter) os nutrientes de carga positiva (K+,
Ca2+ e Mg2+), adicionados ao solo via calagem ou adubações, e outros elementos
como Al3+, H+, Na+ etc.

T = 𝑲+ + 𝑵𝒂+ + 𝑪𝒂𝟐++ 𝑴𝒈𝟐+ + (H + Al)


ou
T = SB + (H + Al)

27
Para o cálculo da T é necessário que os elementos estejam expressos na mesma
unidade (cmolc/dm³). Assim, os teores de K e Na (expressos em mg/dm³) têm que ser
transformados para cmolc/dm³ , conforme já descrito anteriormente.
A T é uma característica do solo e apresenta valor praticamente constante
(somente pode ser alterada com a aplicação de elevadas doses de matéria orgânica
ou em decorrência de intenso processo erosivo, quando há perda da camada
superficial). Assim, sendo a quantidade total de cargas negativas do solo praticamente
constante, quanto maior a quantidade de Al3+, H+ e Na+ no solo menor é a
quantidade de cargas negativas disponíveis para adsorver as bases K+ Ca2+, Mg2+.
Quando a quantidade de nutrientes catiônicos adicionada via adubação é
superior à CTC do solo, esses nutrientes (K+, Ca2+, Mg2+) podem ser perdidos por
lixiviação. Solos argilosos e/ou com elevado teor de matéria orgânica geralmente
possuem elevada T, isto é, conseguem adsorver grande quantidade de nutrientes
catiônicos. Solos arenosos apresentam baixa T e, mesmo com pequena adição de
bases, estas estão suscetíveis a perdas por lixiviação. Solos de regiões de clima
temperado, menos intemperizados, geralmente apresentam maior T do que solos
de regiões tropicais, devido à mineralogia e aos maiores teores de matéria orgânica
em razão da menor taxa de mineralização proporcionada pelas baixas temperaturas.
Solos que apresentam T abaixo de 4,5 cmolc /dm3 geralmente apresentam
baixa capacidade tampão, isto é, menor resistência à variação do pH.
Pequenas quantidades de calcário geralmente são suficientes para alterar
significativamente o pH. Solos que apresentam CTC (T) acima de 10 cmolc /dm3
geralmente também apresentam elevado poder tampão, isto é, necessitam de maior
quantidade de calcário para alterar o pH. A proporção de ocupação de cada elemento
na T do solo é obtida pela divisão do seu teor pelo valor da T, multiplicando-se o
resultado por 100.

28
Solos com boas características de fertilidade geralmente apresentam as
seguintes proporções de nutrientes na CTC:

𝑲+ = 3 a 5%
𝑪𝒂𝟐+= 50 a 70%
𝑴𝒈𝟐+ = 10 a 15%
𝑵𝒂+= < 5%

Esses valores são variáveis com a calagem e as adubações e podem ser


utilizados para indicar o limite máximo da quantidade do elemento a ser aplicado ao
solo para que este não se perca por lixiviação; entretanto, não devem ser utilizados
como base para a adubação das culturas, pois em solos com baixa CTC certamente a
quantidade estimada poderá ser inferior à necessidade das plantas.

3.7. CTC EFETIVA (t)


Indica a quantidade de cargas negativas ocupadas com os cátions trocáveis.
Neste caso não se considera o H+.

t = 𝑲+ + 𝑵𝒂+ + 𝑪𝒂𝟐++ 𝑴𝒈𝟐+ + 𝑨𝒍𝟑+


ou
y = SB + 𝑨𝒍𝟑+

29
3.8. SATURAÇÃO POR BASE (V)
Indica a porcentagem do total de cargas negativas ocupadas por bases (K+ +
Na+ + Ca2+ + Mg2+). É calculada pela divisão da soma de bases (SB) pela T do solo,
multiplicado por 100.

𝐒𝐁
𝐕= 𝐗 𝟏𝟎𝟎
𝐓

A unidade utilizada para expressar a saturação por bases é a porcentagem (%),


sendo aceita pelo Sistema Internacional de Unidades por se tratar de um índice
calculado e não concentração ou teores.
Com a calagem, busca-se elevar a saturação por bases do solo a valores
adequados à exigência da cultura, os quais geralmente variam de 50 a 80%.
Ao se elevar a saturação por bases do solo com a calagem, há uma redução
proporcional do H+Al, reduzindo-se assim a acidez do solo.

3.9. SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO (m)


É o índice de saturação por Al3+ na CTC efetiva (t).

𝑨𝒍𝟑+
𝐦= 𝐗 𝟏𝟎𝟎
𝐭

O Al é o único elemento cuja proporção é determinada com base na t, pois a T


é estimada considerando-se todas as cargas negativas ocupadas com bases, em pH
7. Para os demais elementos (K+, Ca2+, Mg2+ e Na+), a proporção é calculada em
relação à T. Para o adequado crescimento e desenvolvimento das plantas, o ideal é
que não haja presença de Al3+, isto é, que o pH seja maior que 5,5, ocasião em que o
m se iguala a zero.

30
3.10. Na ISNa
Na é o teor de sódio disponível (trocável) e ISNa é o índice de saturação de
sódio do solo, também denominado Porcentagem de Sódio Trocável (PST).
Mesmo não sendo um nutriente essencial às plantas, sua determinação é
importante em solos halomórficos ou salinos, próximos ao litoral ou que receberam
resíduos de indústrias como efluentes de laticínios, ricos em sais.
Quando presente em alta concentração no solo, o Na pode causar efeito
depressivo sobre a produtividade das culturas por dificultar a absorção de água e
nutrientes pela planta ou pelo seu efeito dispersante sobre as argilas, causando a
desestruturação do solo e reduzindo a infiltração de água, trocas gasosas e
dificultando a penetração de raízes.
Somente a informação do teor de Na disponível do solo não é suficiente para
avaliar os efeitos adversos sobre o crescimento e desenvolvimento das plantas.
É importante conhecer também a proporção em relação aos demais cátions do
solo, como K+ , Ca2+ e Mg2+. O índice de saturação de sódio em relação aos demais
cátions trocáveis na T do solo é expresso pela relação:

𝑵𝒂+ (𝒄𝒎𝒐𝒍𝒄/𝒅𝒎³)
𝐈𝐒𝐍𝐚 = 𝐗 𝟏𝟎𝟎
𝐓 (𝒄𝒎𝒐𝒍𝒄/𝒅𝒎³)

Um solo é considerado sódico quando apresenta ISNa superior a 15%


(RICHARDS, 1970). Considerando-se, por medida de segurança, um ISNa máximo de
10% e sendo a CTC do solo utilizada como exemplo igual a 7,1 cmolc/dm³, estima-se,
pela fórmula acima, que o teor de Na máximo seria de 0,71 cmolc/dm³, que
corresponde a 163 mg/dm³, valor muito superior ao indicado no resultado da análise
de referência (15 mg/dm³).

31
3.11. MATÉRIA ORGÂNICA (MO)
A matéria orgânica (MO) do solo é formada pelos resíduos da parte aérea e
radicular das plantas, de micro-organismos e exsudados de raízes. É constituída
basicamente por C, H, O, N, S e P. A proporção destes elementos gira em torno de
58% de C, 6% de H, 33% de O e 3% de N, S e P. O teor de MO do solo é calculado
multiplicando-se o teor de carbono do solo (carbono orgânico) pelo fator 1,72 (obtido
pela divisão 100/58).

Matéria Orgânica = Carbono Orgânico x 1,72

O teor de matéria orgânica do solo é um indicativo do seu potencial produtivo,


pois solos com maior teor de MO apresentam maiores valores de T e maior
capacidade de fornecimento de nutrientes às plantas, quando comparados a solos
com menores teores de MO. Em solos tropicais, a MO é a principal responsável pela
geração de cargas negativas do solo, contribuindo com até 80% das cargas negativas
do solo. Com a mineralização da MO no solo, há liberação de bases que se
encontravam imobilizadas nas cadeias carbônicas dos tecidos vegetais, que
promovem aumento do pH e da disponibilidade de nutrientes. Ocorre também a
complexação do Al3+ do solo pelas moléculas orgânicas liberadas, o que contribui
para reduzir a toxidez desse elemento e elevar o pH.
Na análise do solo geralmente não se determina o teor de N em razão da sua
complexa dinâmica no solo, com alteração de sua forma em função das condições
ambientais, como umidade, temperatura, pH, atividade de micro-organismos etc.
Embora existam métodos para a determinação das diferentes formas de N do solo,
ainda não foi possível um método que integralize um número tão grande de fatores
e forneça um índice de disponibilidade de N. Uma forma de se estimar o potencial de
fornecimento de N do solo é a quantificação de sua disponibilização pela matéria
orgânica do solo.
32
MACRONUTRIENTES

1. INTRODUÇÃO

Ao analisar-se quimicamente um solo, inúmeros elementos podem ser


encontrados na amostra e, de forma semelhante, o mesmo pode ser observado nos
vegetais superiores. De maneira geral, qualquer elemento que se encontre na forma
disponível pode ser absorvido. No entanto, a presença de um elemento químico no
tecido vegetal não implica que este seja fundamental para a nutrição da planta.
Em decorrência a este fato, foi necessário separar os elementos que são
essenciais para o crescimento e desenvolvimento das plantas, daqueles que sem ser
essenciais, são benéficos. Para tanto, foram definidos os critérios de essencialidade
dos nutrientes.
Para que um elemento seja classificado como essencial, deve satisfazer alguns
critérios (Arnon & Stout, 1939):
 A ausência do elemento impede que a planta complete seu ciclo;
 A deficiência do elemento é específica, podendo ser prevenida ou
corrigida somente mediante seu fornecimento;
 O elemento deve estar diretamente envolvido na nutrição da planta,
sendo que sua ação não pode decorrer de correção eventual de condições químicas
ou microbiológicas desfavoráveis do solo ou do meio de cultura, ou seja, por ação
indireta.
Epstein (1975), de maneira simples e direta, funde os dois últimos critérios em
apenas um, mais objetivo:
O elemento faz parte da molécula de um constituinte essencial à planta. Um
exemplo clássico de um elemento que satisfaz este critério é o Mg, que toma parte
da molécula de clorofila.
Desde o início do Século XX foram realizadas inúmeras pesquisas visando à
caracterização dos elementos fundamentais para o ciclo vital das plantas. Com o
34
desenvolvimento dos cultivos em soluções hidropônicas ou, simplesmente, técnica
hidropônica, as pesquisas puderam rapidamente evoluir tornando-se mais fácil à
supressão de um determinado elemento e a tentativa de sua substituição por outro,
prática fundamental para a caracterização de essencialidade de um elemento.
Como todo ser vivo, as plantas necessitam de água e de diferentes moléculas
orgânicas para sua sobrevivência. Portanto, os elementos que compõem a água (H2O)
e qualquer molécula orgânica (C, O, H) obviamente têm sua essencialidade
totalmente comprovada. Esses elementos são absorvidos pelas plantas a partir da
água absorvida pelas raízes e do CO2 absorvido via fotossíntese.
Juntamente a esses três elementos, mais seis são absorvidos e exigidos em
quantidades superiores aos demais: nitrogênio (N), fósforo (P), enxofre (S), potássio
(K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg), formando os chamados macronutrientes. Já os
micronutrientes, que são exigidos em quantidades inferiores aos nove anteriormente
citados, são: ferro (Fe), manganês (Mn), zinco (Zn), cobre (Cu), boro
(B) molibdênio (Mo) e cloro (Cl).
Cerca de 90 % da matéria seca de uma planta consiste de C, H e O. De maneira
geral, no estudo da fertilidade do solo esses três elementos não são considerados,
uma vez que o solo não é a maior fonte destes, como comentado anteriormente.
A separação entre macro e micronutrientes é principalmente didática, pois esta
separação quantitativa pode variar entre as diferentes espécies. Plantas como
palmeiras (Cocus nucifera L) ou cebola (Allium cepa L) podem apresentar em seus
tecidos o Cl em concentrações equivalentes ou superiores a de alguns
macronutrientes como P e Mg, por exemplo.
Os elementos com funções específicas e essenciais no metabolismo das plantas
são geralmente classificados em dois grupos, os macronutrientes e os
micronutrientes, em relação às suas concentrações na planta, conforme são
requeridos para crescimento e reprodução adequados (MARSCHNER, 1995; MENGEL
e KIRKBY, 2001; EPSTEIN e BLOOM, 2004). Os nutrientes minerais que são essenciais
35
para as plantas foram estabelecidos em experimentos com cultivos em água e em
areia, comparando o crescimento e os sintomas visuais de plantas que receberam
soluções completas de nutrientes com aque- las que receberam soluções nas quais
foram suprimidos elementos específicos. A partir de tais experimentos, os
micronutrientes de plantas são agora reconhecidos como ferro (Fe), manganês (Mn),
cobre (Cu), molibdênio (Mo), zinco (Zn), boro (B), cloro (Cl) e níquel (Ni). As
concentrações requeridas de todos os nutrientes, incluindo os micronutrientes, são
mostradas na Tabela 1. As con- centrações comparativas, expressas tanto em termos
de matéria seca como do número relativo de átomos presentes em relação ao Mo,
indicam claramente as concentrações consideravelmente mais baixas dos
micronutrientes. Contudo, deve-se sempre lembrar que, apesar dessas baixas
concentrações, os micronutrientes têm importância igual à dos macronutrientes para
o crescimento das culturas.

2. NITROGÊNIO

O N geralmente é exigido em grandes quantidades pelos vegetais,


encontrando-se em concentrações que variam de 1 a 5 dag/kg da matéria seca. De
maneira geral, é observado em maiores concentrações nos tecidos das espécies
pertencentes à família Leguminoseae.
Para a maioria das culturas, sua absorção ocorre preferencialmente na forma
de NO -, exceto em solos sob condições adversas a nitrificação. Uma vez absorvido o
NO - é reduzido e incorporado em compostos orgânicos.
Sua forma mais abundante é como um peptídeo ligado as proteínas, uma
ligação muito estável graças a sua configuração eletrônica que permite fortes ligações
covalentes com dois átomos adjacentes de C. Assim, o N é constituinte de
aminoácidos, nucleotídeos, coenzimas, clorofila, alcalóides, e outros.
Na ausência desse elemento, o principal processo bioquímico afetado na planta
é, justamente, a síntese protéica, com conseqüências no seu crescimento. O
36
amarelecimento ou clorose das folhas mais velhas, como sintoma de deficiência de N,
decorre da inibição da síntese de clorofila. Plantas com excesso de N apresentam
folhas de coloração verde escura, com folhagem suculenta, tornando-a mais
susceptível às doenças e ataque de insetos ou déficits hídricos.
O N apresenta interações com P, S e K. A absorção de NO - estimula a absorção
de cátions, enquanto que a absorção de NH + pode restringir a
absorção de cátions como o Ca2+,por exemplo.
Sinais de deficiência:

3. FÓSFORO

O P, apesar de seu papel fundamental como componente energético, sua


concentração nos tecidos vegetais pode variar de 0,10 a 1,0 dag/kg da matéria seca,
sendo que a faixa de suficiência para a maioria das culturas pode variar de 0,12 a 0,30
dag/kg. Da solução do solo, é absorvido nas formas aniônicas (H PO -2- e HPO4), as
quais apresentam uma forte ligação covalente com o átomo de O, que é mantida
mesmo após sua incorporação aos tecidos vegetais. Ao ligar-se a átomos de C, forma
complexos polifosfatados como adenosina trifosfato (ATP) e adenosina difosfato
(ADP), vitais para o metabolismo energético, ou seja, para processos de conversão de
energia nas plantas.
Além de formar ATP e ADP, o P atua em outras funções vitais. Participa de
reações de esterificação com açúcares e outros compostos envolvidos na
37
fotossíntese e na respiração. Componente dos ácidos ribonucléicos (DNA e RNA) e
formando fosfolipídeos nas membranas, sua maior concentração pode ser observada
nas sementes e frutos. O P pode apresentar interações com N, S e micronutrientes
como: Cu, Fe, Mn e Zn.
A carência de fosfato causa distúrbios severos no metabolismo e
desenvolvimento das plantas, levando a menor perfilhamento em gramíneas,
redução no número de frutos e sementes. Inicialmente, em folhas mais velhas, a
deficiência de P mostra-se sob a forma de clorose, ou redução no brilho e um tom
verde-azulado. Os sintomas de excesso aparecem, principalmente, na forma de
deficiência de micronutrientes, como Fe e Zn.
Sinal de deficiência:

4. POTÁSSIO

A concentração de K nos tecidos vegetais pode apresentar grande variabilidade


em função da espécie e do manejo cultural utilizado. Valores mais comumente
encontrados situam-se na faixa de 1,0 a 3,5 dag/kg. Seu papel tem pouco em comum
com o desempenhado pelo N, P e S. Sua estrutura química não conduz à formação de
ligações covalentes e, portanto, não forma complexos de grande estabilidade. Assim
como o P, e contrariamente ao que ocorre com o N e

38
com o S, durante sua assimilação não sofre alteração em seu estado redox,
permanecendo na mesma forma iônica em que foi absorvido.
Seu principal papel é o de ativador enzimático, com participações no
metabolismo protéico, fotossíntese, transporte de assimilados e potencial hídrico
celular. Como principal componente osmótico das células guardas, a transferência de
K dentro e fora destas células regula a abertura e o fechamento dos estômatos. Junto
com Ca e Mg participa da importante função de manutenção do equilíbrio iônico com
os ânions.
Como ativador de inúmeras enzimas, sua deficiência conduz a profundas
alterações no metabolismo. Compostos nitrogenados solúveis acumulam-se,
indicando a redução na síntese protéica. Em condições de deficiência de K, as plantas
tendem a apresentar diminuição da dominância apical, internódios mais curtos e
clorose seguida de necrose das margens e pontas de folhas mais velhas.
Sinal de deficiência:

39
5. CÁLCIO

O Ca é comumente encontrado nos tecidos vegetais em concentração que pode


variar entre 0,5 a 3 dag/kg da matéria seca. A maior parte do Ca nas plantas ocorre
formando ligações intermoleculares nas paredes celulares e membranas,
contribuindo, assim, para a estabilidade estrutural e o movimento intercelular de
vários metabólitos. Atua, ainda, como catalisador de várias enzimas.
Níveis adequados de Ca ajudam a planta a evitar estresse decorrente da
presença de metais pesados e, ou, salinidade. A substituição do cálcio por metais
pesados pode causar um desequilíbrio estrutural e alterar a rigidez estrutural da
parede celular. Apresenta interações com Mg e K a ponto de um excesso do nutriente
promover deficiências nos últimos
Como o Ca não se movimenta via floema, sua redistribuição entre os órgãos da
planta praticamente não ocorre, podendo existir, simultaneamente, carência do
elemento nas partes mais novas da planta e excesso nas partes mais velhas. Dessa
forma, a deficiência de Ca mostra-se inicialmente nos tecidos mais jovens.
Sinal de deficiência:

40
6. MAGNÉSIO

A concentração de Mg nos tecidos dos vegetais pode variar de 0,15 a 1,0 dag/kg
da matéria seca. Mais da metade do Mg contido nas folhas pode estar formando
clorofila, já que esta possui um átomo central de Mg. Além de seu papel na clorofila,
o Mg é ativador das enzimas relacionadas com o metabolismo energético, além de
servir de ligação entre as estruturas de pirofosfato do ATP e ADP. Apresenta
interações com Ca e K.
A deficiência de Mg afeta parte do metabolismo das plantas, sendo a clorose
internerval das folhas velhas o sintoma inicial, seguido da redução da fotossíntese
decorrente da menor síntese de clorofila. Em casos extremos de deficiência, são
observadas necroses inclusive nas folhas novas.
Sinais de deficiência:

41
7. ENXOFRE

Assim como o P e a maior parte do N, o S é absorvido do solo sob a forma


aniônica de sulfato (SO4 ) e, posteriormente, reduzido e incorporado a compostos
orgânicos. Pode ser encontrado em concentrações que variam de 0,1 a 0,4 dag/kg,
não sendo incomum apresentar-se em valores superiores ao P.
Como o N, sua estrutura química permite a formação de ligações covalentes
estáveis, principalmente com o C e com outros átomos de S. A ligação estável com o
C nos aminoácidos cisteína (-C-SH), metionina (-C-S-CH3) e cistina (-C-S-S-C) que
formam as proteínas, compõem a maior parte do S contido nas plantas.
Quando o fornecimento de sulfato é grande, sua absorção pode ser mais rápida
que sua redução e assimilação em compostos orgânicos. Fração apreciável do S total
pode, por isso, estar na forma de sulfato - uma fração maior que a correspondente ao
nitrato em relação ao N total.
O S pode apresentar interações notadamente com o N, P, B e Mo.
Plantas deficientes em S tornam-se cloróticas devido a redução da biossíntese
de proteínas que formam complexos com a clorofila nos cloroplastos. A deficiência
de S pode, ainda, levar a um baixo nível de carboidratos e a um acúmulo das frações
nitrogenadas solúveis como o nitrato. Dessa forma, observa-se, além da redução da
fotossíntese (devido ao baixo nível de carboidratos), a impossibilidade dos substratos
nitrogenados serem utilizados na síntese de proteínas. Dada a baixa mobilidade
interna do S, a sintomatologia de sua deficiência normalmente é inicialmente
manifestada em tecidos mais jovens.
Sinal de deficiência:

42
MICRONUTRIENTES

1. INTRODUÇÃO

As concentrações muito mais baixas dos micronutrientes em comparação com


as dos macronutrientes nos tecidos das plan- tas implica diferentes papéis para estes
dois grupos de nutrientes no crescimento e no metabolismo das plantas, e na maior
parte das vezes isto é verdade.
As concentrações mais baixas dos micro- nutrientes se refletem em sua função
como constituintes de grupos prostéticos em metaloproteínas e como ativadores de
reações enzi- máticas. Sua presença em grupos prostéticos permite que eles cata-
lisem processos redox por transferência de elétrons (principalmen- te os elementos
de transição Fe, Mn, Cu e Mo).
Os micronutrientes também formam complexos enzimáticos ligando a enzima
ao substrato (por exemplo, Fe e Zn). Atualmente também se sabe que vários
micronutrientes (Mn, Zn, Cu) estão presentes nas isoenzimas superóxido dismutase
(SD), as quais agem como sistemas de varre- dura para erradicar radicais de oxigênio
tóxicos de modo a proteger as biomembranas, o DNA, a clorofila e as proteínas. Para
os não- metais B e Cl não há nenhuma enzima ou outros compostos orgâni- cos
essenciais bem definidos que contenham esses elementos micronutrientes. Porém, já
se encontra estabelecido que o B é um constituinte essencial das paredes celulares.

2. FERRO
O Fe é constituinte de inúmeros metabólitos, podendo ser parte integrante de
proteínas (ferrodoxinas p.e.) e de enzimas mitrocondriais relacionadas com o
transporte de elétrons, ou mesmo cofator de outras enzimas. Participa da redução do
nitrato e do sulfato e da produção de energia. Sendo essencial para a síntese de
clorofila, podem ser observadas correlações significativas entre o teor de Fe e de
clorofila na planta. Esse fato proporciona certa semelhança entre as deficiências de
Mg e de Fe, sendo, contudo, a deste último manifestada inicialmente nas folhas
novas, dada a pouca mobilidade do Fe na planta. Em casos extremos a folha inteira
pode apresentar clorose intensa manifestada por um branqueamento foliar. Sua
concentração normal em plantas cultivadas pode variar de 50 a 150 mg/kg na matéria
seca de folhas.
Elevadas concentrações de P na planta reduzem a solubilidade interna do Fe.
A falta de Fe deprime a produção de ferridoxina, o que, por sua vez, afeta o
transporte de elétrons para estes processos, incluindo a redução de nitrito e de
sulfito, de tal modo que tanto o nitrato quanto o sulfato estão freqüentemente
presentes em níveis elevados em plantas deficientes neste micronutriente.
As várias funções do Fe no desenvolvimento e na função dos cloroplastos
indicam que as causas da clorose não são simplesmente uma expressão da
necessidade de Fe para a biossíntese da clorofila. As menores concentrações de
carboidratos em plantas deficientes em Fe também são indicativas da diminuição da
atividade fotossintética.
As pesquisas mais recentes dos biólogos moleculares es- tão enfocando a
detecção e a sinalização do Fe nas plantas. O Fe é um nutriente modelo para os
biólogos moleculares no estudo dos transportadores regulados por este
micronutriente na planta, que é altamente coordenado. Uma complexa rede de
tráfego de Fe intra e intercelularmente parece conduzir a um nível de distribuição de
Fe de acordo com as necessidades da planta (SCHMIDT, 2003).
O primeiro sintoma visível nas brotações é o desenvolvi- mento de clorose nas
folhas jovens. Na maioria das espécies, a clorose é internerval e um padrão de
reticulado fino pode ser encontrado nas folhas recém-formadas, as nervuras verde-
escuras contrastando bastante com um fundo verde mais claro ou amarelo. As folhas
mais jovens podem ficar totalmente destituídas de cloro- fila. Em cereais, a deficiência
de Fe é evidenciada por faixas verdes e amarelas alternadas. Como 80%
45
do Fe das folhas está localizado nos cloroplastos, e este é o sítio primário da função
do Fe, não é de surpreender que a deficiência deste micronutriente cause mudanças
marcantes na ultraestrutura dessas organelas e, sob extrema deficiência, os grana de
tilacóide podem estar ausentes.
O intervalo de deficiência situa-se em torno de 50 mg kg-1 a 100 mg kg-1,
dependendo da espécie de planta e até mesmo da cultivar. No entanto, as folhas das
plantas nas quais as concentrações de Fe são maiores podem mostrar sintomas de
deficiência deste micronutriente em decorrência da inibição do crescimento da folha
em extensão.
O Fe incorporado nos cloroplastos tem mobilidade bastante limitada dentro
das plantas, o que está de acordo com a observação de que os sintomas de deficiência
deste micronutriente são restritos às brotações jovens (TERRY e LOW, 1982).
Entretanto, Rissmüller (1874 citado por MOLISCH, 1892) mostrou, há mais de 100
anos, que o Fe pode ser translocado através do floema durante a senes- cência das
folhas (Tabela 14). Esta mobilidade do Fe dentro da planta foi confirmada mais
recentemente por Zhang et al. (1995) em feijão fava (Vicia faba) submetido a
sombreamento. Além disso, os mesmos autores mostraram que uma alta proporção
de Fe que foi translocada das raízes para as brotações no xilema pode ser
retranslocada pelo floema até os ápices das brotações em crescimento após a
transferência no xilema/floema nas folhas mais velhas sem a necessidade de
senescência como pré-requisito.
Para isso, a transferência no xilema/floema ou o carregamento do floema com
Fe-nicotianamina é obviamente requerido, pois a nicotianamina é quelador de
micronutrientes catiônicos. Esses dados claramente enfatizam que, em princípio, o Fe
é móvel no floema.
Este fato é importante para aplicações foliares deste micronutriente. Porém,
deve-se levar em consideração que, antes de atingir o apoplasto das folhas, o Fe tem
que passar através da parede celular da epiderme, com sua camada cutinizada
46
e cera epicuticular e, para atingir isto, é essencial estar em uma forma quelada. O Fe
pode ser facilmente transportado dentro do xilema ou do floema antes que seja
rapidamente desintoxicado por imobilização para evitar danos às folhas por formação
de radicais de oxigênio.
Sinais de deficiência:

3. ZINCO

Atuando como constituinte de algumas enzimas (desidrogenases, p. e.) ou


como cofator destas, sua faixa de concentração normal nos tecidos foliares pode
variar de 27 a 150 mg/kg na matéria seca, conforme a espécie. Sua deficiência talvez
seja uma das que mais afeta o crescimento de plantas, resultando em pequena
expansão foliar e encurtamento dos internódios (formação de "roseta"). Essa
manifestação deve-se a seu papel na síntese de triptofano, importante aminoácido
precursor das auxinas. O P pode interferir no metabolismo de Zn assim como em sua
absorção pelas raízes. Altas concentrações de Zn podem induzir deficiências de Fe.
Em contraste com Fe, Mn, Cu e Mo, o elemento de transição Zn não está sujeito
a mudanças de valência e ocorre nas plantas somente como Zn(II). O elemento
funciona principalmente como cátion divalente em metaloenzimas, em algumas das
quais liga as enzimas a seus substratos correspondentes, enquanto em
47
outras o Zn forma complexos tetraédricos com N e O e, particularmente, ligantes de
S com uma variedade de compostos orgânicos.

Há cada vez mais evidências de que o Zn, pelo fato de manter a estrutura e a
integridade da membrana e de controlar a permeabilidade, também protege a planta
contra vários patógenos. Em plantas deficientes neste micronutriente, as membranas
tornam-se permeáveis, de tal modo que os carboidratos e os aminoácidos são
liberados, atraindo patógenos e insetos tanto para as raízes quanto para as brotações.
Concentrações críticas deficientes características para Zn nos tecidos
encontram-se entre 15 mg kg-1 e 30 mg kg-1 e podem ser maiores em plantas com
alto teor de P. Os sintomas visuais mais característicos em dicotiledôneas são os
internódios curtos e a diminuição da expansão foliar (folhas pequenas). Nas
monocotiledôneas, faixas cloróticas se formam em ambos os lados da nervura central,
as quais, posteriormente, tornam-se necróticas. A ocorrência de plantas enfezadas e
especialmente de necrose das folhas mais velhas em plantas deficientes em Zn é
intensificada com alta intensidade luminosa. Em árvores no campo, o lado voltado
para o sol é particularmente afetado, indicando o envolvimento de radicais
superóxido (MARSCHNER e CAKMAK, 1989; CAKMAK, 2000). O Zn também é
requerido para o crescimento generativo e a viabilidade do pólen é altamente
dependente de um adequado suprimento deste nutriente (SHAR- MA et al., 1990).
Pensa-se que a mobilidade do Zn dentro das plantas é baixa e sua translocação
ocorre principalmente durante a senescência, como mostrado na Tabela 15 (WOOD
et al., 1986). No entanto, estudos recentes indicaram que há retranslocação
substancial deste micronutriente via floema em folhas de trigo jovens em
desenvolvimento (ERENOGLU et al., 2002) e em arroz, como mostra a Tabela 18
(HAJIBOLAND et al., 2001). Nesta última cultura, a taxa de retranslocação de Zn
mostrou correlação com a eficiência de Zn observa- da para os genótipos

48
estudados. Esta descoberta enfatiza a importância de uma mobilidade interna do Zn
em adição à aquisição pelas raízes na determinação da eficiência deste
micronutriente. A importância da mobilidade do Zn, portanto, deve ser considerada
na obtenção de genótipos melhorados com alta eficiência em Zn.
Sinal de deficiência:

4. MANGANÊS
Com concentração variando entre 20 e 100 mg/kg na matéria seca de folhas, o
Mn atua como ativador de muitas enzimas. Está envolvido em processos de oxidação
e redução no sistema de transporte de elétrons. Sua deficiência tem efeito

49
direto na respiração, podendo, ainda, afetar a formação de vários metabólitos. Os
sintomas manifestam-se inicialmente nas folhas novas na forma de clorose
internerval, ou de pequenas manchas necróticas ou mesmo de, até, dimorfismo foliar.
O Mn está presente nas plantas principal- mente na forma divalente (MnII).
Este forma apenas ligações fracas com ligantes orgânicos, nos quais pode ser
prontamente oxidado a Mn(III) e Mn(IV). Além disso, o Mn desempenha um papel
importante nos processos redox, tais como no transporte de elétrons na fotossíntese
e na desintoxicação de radicais livres de oxigênio. O Mn é uma metaloproteína, isto
é, um com- ponente integrante de somente duas enzimas, a enzima que quebra a
molécula da água no fotossistema II (FS II) e a superóxido dismutase que contém Mn.
Também é ativador de várias enzimas.
O papel mais bem documentado e exclusivo do Mn em plantas verdes é aquele
da reação de quebra da molécula da água e do sistema de evolução de O2 na
fotossíntese que ocorre nos cloro- plastos, denominado reação de Hill. Os elétrons
são liberados pela enzima que quebra a água, a qual contém quatro átomos de Mn, e
são transferidos para o FS II. No processo de fotólise, duas moléculas de água liberam
uma molécula de O2 e quatro H com a doação simultânea de quatro elétrons. Em
decorrência desta função-chave na reação de quebra da água, a deficiência de Mn
afeta principal- mente a fotossíntese e a evolução de O.
Até mesmo deficiências leves de Mn afetam a fotossíntese e diminuem o nível
de carboidratos solúveis na planta, mas o re- suprimento deste micronutriente reativa
a evolução fotossintética de oxigênio. Com deficiência mais severa de Mn, entretanto,
ocorre uma quebra na estrutura do cloroplasto que não pode ser revertida. Por causa
da importância fundamental do Mn na cadeia de trans- porte de elétrons durante a
fotossíntese, quando ocorre deficiência deste micronutriente a reação à luz durante
a fotossíntese é seria- mente prejudicada e todas as outras reações associadas com o
transporte de elétrons também o são.
50
O Mn também atua como um importante co-fator para várias enzimas-chave
na biossíntese dos metabólitos secundários da planta associados com a via do ácido
chiquímico, incluindo aminoácidos aromáticos fenólicos, cumarinas, ligninas e
flavonóides (BUR- NELL, 1988). Deste modo, concentrações mais baixas de compostos
fenólicos, lignina e flavonóides foram detectadas em tecidos deficientes em Mn, o
que pode, em parte, ser a causa da maior suscetibilidade a doenças das plantas
deficientes neste micronutriente (GRAHAM, 1983).
Esta relação com o metabolismo secundário também provavelmente pode ser
a causa da influência que a deficiência deste micronutriente tem sobre a diminuição
da viabilidade do pólen. Plan- tas de milho deficientes em Mn desenvolveram
sintomas visíveis de deficiência e apresentaram baixo pendoamento e
desenvolvimento tardio das anteras. Tanto a produção de sementes das plantas
deficientes em Mn como a taxa de germinação das sementes produzidas foram
especialmente diminuídas (SHARMA et al., 1991).
Os cloroplastos são as mais sensíveis de todas as organelas celulares à
deficiência de Mn, o que leva à desorganização do sistema lamelar e a sintomas
visíveis de clorose. A deficiência de Mn, portanto, se parece com a deficiência de Mg,
pois em ambas ocorre clorose internerval nas folhas. Porém, em contraste com a
deficiência de Mg, os sintomas da deficiência de Mn são primeiramente visíveis nas
folhas mais jovens, enquanto na deficiência de Mg as folhas mais velhas são afetadas
primeiro. Nas dicotiledôneas, freqüentemente aparecem pequenas manchas
amarelas nas folhas mais jovens. Nas monocotiledôneas, particularmente em aveia,
que é uma cultura-teste, os sintomas de deficiência de Mn aparecem na parte basal
das folhas como manchas ou listras cinza-esverdeadas e é conhecida como “grey
speck”. O nível crítico de deficiência deste nutriente para a maioria das espécies de
plantas situa-se no intervalo de 10 mg kg-1 a 20 mg kg-1.
O Mn, da mesma forma que o Fe, é facilmente translocado através do xilema
das raízes até as brotações, mesmo as localizadas nos ápices da planta (HORST,
51
1976); já a translocação no floema é limitada. Este é particularmente o caso para Mn
aplicado via foliar (EL-BAZ et al., 1990), sendo a retranslocação de Mn quelado como
MnEDTA um tanto melhor do que a de MnSO4. Em contraste com Fe, Zn e Cu, assim
que o Mn é incorporado ou imobilizado nas folhas, não pode mais ser retranslocado,
mesmo sob senescência induzida (WOOD et al., 1986).
Particularmente interessante é a redistribuição a curto prazo do Mn junto com
o Si após ataque de patógenos (LEUSCH e BUCHENAUER, 1988), a qual está
estreitamente relacionada com o aumento da biossíntese de substâncias fenólicas
que aumentam a resistência a doenças (MARSCHNER, 1995). Também está bem
documentado que o Si pode alterar a mobilidade do Mn e o padrão de redistribuição
deste nutriente e, portanto, diminuir os sintomas de toxicidade de Mn quando há alto
suprimento deste micronu- triente (HORST e MARSCHNER, 1978).
Em algumas leguminosas, entretanto, possivelmente duran- te o estádio de
enchimento de vagens, uma concentração relativa- mente alta de Mn já foi relatada
na seiva do floema, o que está estreitamente correlacionado com a ocorrência de
sintomas da desordem denominada “semente partida” em tremoço (CAMPBELL e
NABLE, 1988). Esta descoberta sugere alta dependência da re- translocação de Mn
para o genótipo da planta e o estádio de crescimento e requer pesquisas sistemáticas
adicionais.

5. COBRE
Assim como o Zn, o cobre atua como constituinte e cofator de enzimas,
participa do metabolismo de proteínas e de carboidratos e na fixação simbiótica de
N2. Concentrações foliares normais podem variar de 5 a 30 mg/kg. Dada sua pouca
mobilidade interna, sua deficiência inicialmente manifesta-se como clorose nas
pontas e margens, encurvamento das folhas mais novas, permitindo que as nervuras
fiquem mais salientes. Observa-se, ainda, acúmulo de compostos nitrogenados
solúveis e menor absorção de O2.

52
O cobre pode interferir no metabolismo do Fe, resultando no
desenvolvimento de deficiências de Fe.
O Cu é um pouco semelhante ao Fe, pois forma quelatos altamente estáveis e
permite a transferência de elétrons (Cu2+ + e-
papel comparável ao do Fe em processos fisiológicos redox. No entanto,
diferentemente do Fe, as enzimas que contêm Cu podem reagir com oxigênio
molecular e preferencialmente catalisam processos de oxidação terminais.
Várias proteínas contendo Cu desempenham papel funda- mental em
processos tais como fotossíntese, respiração, desin- toxicação de radicais superóxido
e lignificação. Quando há defi- ciência de Cu, as atividades de todas essas enzimas
ficam drastica- mente reduzidas. O decréscimo do transporte fotossintético de elé-
trons, como conseqüência especialmente dos menores teores da plastocianina, uma
proteína contendo Cu, diminui a taxa de fixação de CO2, de tal modo que o teor de
amido e de carboidratos solúveis (especialmente sacarose) é diminuído. Este é o
principal fator que causa a redução da produção de matéria seca em plantas que so-
frem deficiência de Cu durante o crescimento vegetativo. A falta de suprimento de
carboidratos para os nódulos das leguminosas, cau- sando crescimento restrito e
deficiência de N na planta hospedeira, também parece ser um efeito indireto da
deficiência de Cu, pois não há evidência de que o Cu seja requerido especificamente
no pro- cesso de fixação de N2.
O papel do Cu no metabolismo secundário pode ser mais bem relacionado com
o aparecimento dos sintomas de deficiência. As enzimas polifenoloxidase, ascorbato
oxidase e diamino oxidase contêm Cu, ocorrem nas paredes celulares e
desempenham um papel nas vias biossintéticas desde fenol via quinona até
substâncias melanóticas e lignina.
A deficiência de Cu diminui a atividade dessas enzimas,levando ao acúmulo de
fenóis e à diminuição da lignificação e de substâncias melanóticas. Este papel do Cu
no metabolismo secundário indica uma função importante do elemento para
53
conferir à planta resistência a doenças. A formação da lignina significa uma barreira
mecânica contra a entrada de organismos assim como a produção de substâncias
melanóticas também aumenta a resistência, pois alguns desses compostos são ativos
como fitoalexinas, as quais inibem a germinação de esporos e o crescimento fúngico.
O atraso no florescimento e na senescência, que são freqüentemente
observados em plantas deficientes em Cu (REUTER et al., 1981), parecem ser
causados por concentrações elevadas de ácido indolacético (AIA) resultantes do
acúmulo de certas substância sfenólicas, as quais inibem a ação da IAA oxidase.
A falta de Cu afeta o crescimento reprodutivo (formação de grãos, sementes e
frutos) muito mais do que o crescimento vege- tativo. Nas flores de plantas
adequadamente supridas com Cu, as anteras (contendo pólen) e os ovários têm o
maior teor e demanda deste nutriente . Assim, o pólen proveniente de plantas
deficientes em Cu não é viável (AGARWALA et al., 1980). Outras causas de esterilidade
masculina incluem falta de amido no pólen e inibida liberação dos estames como
resultado de problemas na lignificação das paredes celulares das anteras. Jewell et al.
(1988) também sugerem que o desenvolvimento anormal tanto do tapete quanto dos
micrósporos pode ser uma causa de esterilidade masculina. O efeito marcante da falta
de Cu na diminuição do crescimento reprodutivo do trigo, expresso pela produção de
grãos.
Sintomas típicos de deficiência de Cu são clorose, necrose, distorção foliar e
dieback (seca de ponteiro). Os sintomas ocorrem preferencialmente em tecidos das
brotações e são indicativos de redistribuição pobre de Cu em plantas deficientes
neste nutriente (LONERAGAN, 1981).
Plantas de cereais deficientes apresentam aparência arbustiva, com as pontas
das folhas enroladas e brancas e redução da formação de panículas. As espigas não
se desenvolvem totalmente e podem ficar parcialmente chochas. A redução da
lignificação é outro sintoma típico, o qual é associado com murcha, tombamento
54
das brotações e acama- mento, principalmente em cereais, e baixa resistência a
doenças. A deficiência de Cu reduz drasticamente as produções de frutos e sementes
em decorrência de seu efeito indutor da esterilidade masculina.
A mobilidade do Cu dentro das plantas é limitada e particularmente
dependente do estado nutricional em termos de Cu e de N. Devido a sua forte ligação
com as paredes celulares, a translocação do Cu das raízes para as brotações é lenta.
Além disso, um alto suprimento de N diminui a disponibilidade de Cu dentro das plan-
tas com a conseqüência de um requerimento crítico maior de Cu para a máxima
produtividade de grãos. Em adição a isso, como um alto suprimento de N retarda a
senescência, a possível retranslocação de Cu induzida pela senescência também é
retardada.

55
6. BORO

Existindo nas plantas na forma do ânion borato (BO 3-) o principal papel do B
nas plantas é o de regulador do metabolismo de carboidratos. Acredita-se que seja
importante na síntese de uma das bases que forma o RNA (uracil). Está associado à
germinação do pólen e à formação do tubo polínico. Sua concentração foliar pode
variar de 1 a 6 mg/kg nas monocotiledôneas; de 20 a 70 mg/kg nas dicotiledôneas e
de 80 a 100 mg/kg nas dicotiledôneas produtoras de látex. Sintomas de deficiência
podem ser identificados pela formação de folhas de menor tamanho, com clorose
irregular, deformadas, quebradiças e morte do meristema apical, entre outros.
Elevadas concentrações de Ca na planta podem proporcionar maior requerimento de
B.

O Boro é o menos compreendido de todos os nutrientes minerais, embora em


termos molares seja requerido pelas dicotiledôneas nas maiores quantidades dentre
todos os micronutrientes. Não parece ser requerido por fungos ou bactérias e não há
evidências de que seja nem um ativador, nem um constituinte de qualquer

56
enzima. É relativamente fácil induzir deficiência de B e os sintomas aparecem
rapidamente, junto com mudanças distintas na atividade metabólica. Ao longo dos
anos, estas mudanças foram sendo investigadas e as funções que se sugere para o B
nas plantas incluem o transporte de açúcar, a lignificação da parede celular, a
estruturação da parede celular, o metabolismo de carboidratos, o metabolismo do
RNA, a respiração, o metabolismo do AIA, o metabolismo dos fenóis, a função da
membrana, a fixação de N2, o metabolismo do ascorbato e a diminuição da toxicidade
de Al. Há evidências crescentes de que alguns destes efeitos são o que Marschner
(1995) descreveu como uma cascata de efeitos secundários originados de falta de B
na parede celular e na interface membrana plasmática/parede celular.
Os papéis do B na germinação do pólen e no crescimento do tubo polínico são
particularmente importantes para a produção das culturas. Ambos os processos são
severamente inibidos pela deficiência deste micronutriente. Para que ocorra o
crescimento do tubo polínico são necessárias altas concentrações de B no estigma e
no estilete para a inativação fisiológica de calose por intermédio da formação de
complexos borato-calose na interface tubo polínico/estilete (LEWIS, 1980). Este alto
requerimento para o crescimento generativo foi observado por vários autores e um
exemplo mostrando o efeito do B sobre o crescimento vegetativo e os vários
parâmetros do crescimento reprodutivo de trevo vermelho são mostrados na Ta- bela
7 (SHERELL, 1983).
As espécies de plantas variam em termos de requerimento de B. As plantas
produtoras de látex, tais como a papoula (plantas do gênero Papaver) e o dente-de-
leão (plantas do gênero Taraxa- cum) apresentam valores de 80-100 mg kg-1; as
dicotiledôneas, de 20-70 mg kg-1; e as monocotiledôneas, de 5-10 mg kg-1. Essas
diferenças provavelmente decorrem de diferenças na composição da parede celular.
Para muitas culturas nas quais a mobilidade do B dentro da planta é baixa, as folhas
mais jovens e as brotações terminais mostram crescimento retardado ou necrose. Os
internódios ficam mais curtos e as lâminas foliares, deformadas. Os diâmetros

57
dos caules e dos pecíolos ficam aumentados e isto pode levar à “rachadura da haste”
em aipo. Áreas encharcadas e queima das pontas são sintomas típicos em alface.
Podridão da coroa e do coração ocorrem em beterraba açucareira, com necrose das
áreas meristemáticas, podendo facilitar a instalação de infecções. A deficiência de B
aumenta a queda de botões florais, flores e frutos em desenvolvimento, bem como o
insucesso do estabelecimento de sementes e de frutos.
Há uma crença generalizada, baseada na literatura mais antiga, de que o B é
imóvel no floema (OERTLI e RICHARDSON, 1970) e isto é realmente verdadeiro para a
maioria das espécies de plantas. Porém, recentemente reconheceu-se que o B é
móvel, em variados graus, no floema de várias espécies de plantas, incluindo uma
grande gama de culturas agrícolas e olerícolas, como por exemplo brássicas, cenoura,
ervilha, aipo e cebola. Nessas espécies, nas quais os álcoois de açúcar e os polióis
(sorbitol, manitol e dulcitol) são as principais formas de exportação de C das folhas, o
B é ligado e transportado na forma de complexos poliol-B (BROWN e SHELP, 1997).
As diferenças em mobilidade do B no floema entre as espécies resulta em um padrão
típico de concentração deste micro- nutriente nas folhas e nos frutos de árvores que
cresceram no campo, com uma distribuição muito mais equânime em espécies nas
quais o B é móvel no floema.
A importância da translocação de B mediada por sorbitol no floema foi provada
em plantas de fumo geneticamente modificadas para sintetizar sorbitol. A síntese de
sorbitol aumentou acentuadamente a mobilidade do B dentro da planta, o que, por
sua vez, aumentou o crescimento da planta e a produtividade pelo fato de ter ajudado
a superar deficiências transitórias de B no solo (BROWN et al., 1999).

7. MOLIBIDÊNIO

O Mo está envolvido com várias enzimas, principalmente naquelas que atuam


na fixação de N2 atmosférico (nitrogenase) e na redução do nitrato (nitrato-
58
redutase). Plantas dependentes da simbiose ou aquelas nutridas apenas por nitrato,
quando ausente o Mo, apresentam deficiência de N. O teor foliar de Mo normalmente
é inferior a 1 mg/kg na matéria seca Os sintomas de deficiência manifestam-se sob a
forma de clorose geral, manchas amarelo-esverdeadas em folhas mais velhas, seguida
de necrose. Podem ser observados, ainda, murchamento das margens e
encurvamento do limbo foliar.
O Mo difere de Fe, Mn e Cu pelo fatoO Mo difere de Fe, Mn e Cu pelo fato de
estar presente nas plantas como ânion principalmente em sua forma mais altamente
oxidada, Mo(VI), mas também como Mo(V) e Mo(IV). Além disso, diferentemente de
todas as outras deficiências de micronutrientes, a de Mo está associada com
condições de pH do solo baixo e não alto. Também é interessante notar que, dentre
todos os micronutrientes, o Mo é o que está presente nas plantas em menor
concentração sendo que menos de 1 mg kg-1 de matéria seca já é suficiente para
suprir as plantas adequadamente. Há apenas algumas poucas enzimas contendo Mo
nas plantas superiores. As duas mais importantes, e mais bem pesquisadas, são a
nitrato redutase e, em leguminosas noduladas, a nitrogenase. As enzimas contendo
Mo podem ser descritas como proteínas multi- centro de transferência de elétrons.
As plantas com deficiência de Mo mostram aumento de compostos solúveis de
N, tais como amidas, e na atividade da ribonuclease, enquanto a concentração de
proteínas diminui, indicando envolvimento deste micronutriente na síntese de
proteínas. Este papel na síntese de proteínas pode ser responsável pelo efeito
deletério do Mo sobre a concentração de clorofila, a estrutura do cloroplasto e o
crescimento. Os sintomas de deficiência de Mo diferem entre as espécies de plantas,
mas mosqueado internerval, clorose marginal das folhas mais velhas e enrolamento
para cima das margens das folhas são todos sinto- mas típicos. À medida que a
deficiência progride, aparecem manchas necróticas nas pontas e nas margens das
folhas, as quais são associadas com altas concentrações de nitrato no

59
tecido. Talvez o exemplo mais bem conhecido desta deficiência ocorra em couve- flor,
na qual a lamela foliar não é formada adequadamente e, em casos extremos, somente
as nervuras da folha estão presentes e, por esta razão, a deficiência é conhecida como
“rabo de chicote”.
Alguns aspectos do papel do Mo nas plantas ainda não são completamente
entendidos. Em várias culturas, a deficiência de Mo parece afetar mais a fase
reprodutiva do que o crescimento vegetativo. Em milho apresentando deficiência de
Mo, o estádio de pendoamento é atrasado, uma grande proporção de flores não se
abre e a formação de pólen, tanto em termos de tamanho do grão quanto de
viabilidade, é grandemente reduzida (AGARWALA et al., 1979). Do mesmo modo, o
florescimento pobre e tardio e a viabilidade reduzida dos grãos de pólen também
podem explicar a redução da formação de frutos em plantas de melão deficientes em
Mo cultivadas em solos ácidos (GUBLER et al., 1982 citados por RÖMHELD e
MARSCHNER, 1991).
Há várias outras mudanças metabólicas que não são tão fáceis de explicar em
termos das funções conhecidas do Mo. Por exemplo, em plantas deficientes neste
micro- nutriente, a resistência a baixas temperaturas e a encharcamento é diminuída
(VUNKOVA-RADEVA et al., 1988).
Quando ocorre deficiência de Mo em grãos de milho, o risco de brotação
prematura aumenta e este efeito é acentuado pela aplicação de N (TANNER, 1978).
Parece que o Mo é um componente da aldeído oxidase e funciona na síntese de ABA
(LEYDECKER et al., 1995) e quando há deficiência deste micronutriente,
especialmente quando há alto suprimento de N, então a síntese de ABA é bloqueada.
Não há muitas informações sobre a mobilidade do Mo dentro das plantas e os
poucos relatos existentes ainda são contraditórios. Em leguminosas parece que há
uma alta taxa de retranslocação deste micronutriente durante o estádio de
enchimento de grãos, para garantir um alto armazenamento de Mo nas sementes .
60
As diferenças relatadas em termos de eficiência de Mo em cultivares de feijão fava
(Vicia faba) podem ser atribuídas a diferentes níveis de acúmulo de Mo nos nódulos
e a diferentes taxas de retranslocação das raízes para as vagens e dessas para os grãos
durante o estádio de amadurecimento de grãos (BRODRICK e GILLER, 1991).

8. CLORO

O Cl é um nutriente de plantas excepcional, pois, embora seja classificado como


um micronutriente, e geralmente seja requerido em concentrações muito baixas, está
presente nos tecidos das plantas em concentrações muito maiores, semelhantes
àquelas que seriam normalmente associadas com os macronutrientes. Isto reflete a
larga distribuição do Cl por toda a natureza. De fato, quando Broyer et al. (1954)
estavam demonstrando que o Cl era um elemento essencial para as plantas, foram
necessárias medidas extremas para evitar contaminações. Comparado com as altas
concentrações de Cl nos tecidos da maioria das plantas, seu requerimento para o
crescimento ótimo da maioria das plantas é muito mais baixo (100-200 mg kg-1).
Sintomas típicos de deficiência deste nutriente incluem murcha das folhas,
enrolamento dos folíolos, bronzeamento e clorose similares à deficiência de Mn e

61
severa inibição do crescimento radicular (BERGMANN, 1992). Para uma revisão
bastante útil e mais detalhada sobre o Cl como nutriente de plantas, ver Xu et al.
(2000).
Não há informações específicas disponíveis na literatura a respeito da
mobilidade de Cl ou sobre a relevância deste como micronutriente. Do mesmo modo,
muito pouco se sabe a respeito da mobilidade do Ni dentro das plantas. Entretanto,
o grande acúmulo específico de Ni em sementes, semelhante ao que ocorre para Mo,
provavelmente requer alta regulação da mobilização e da retranslocação de Ni das
folhas mais velhas e durante o estádio de enchimento de grãos.

9. ELEMENTOS BENÉFICOS

Com a evolução das pesquisas na área de nutrição mineral de plantas, foram


identificados alguns elementos que podem ser considerados essenciais para algumas
espécies ou mesmo substituir parcialmente a função de elementos essenciais.
Outros,quando em concentrações muito baixas, estimulam o crescimento de plantas,
porém sua essencialidade não é demonstrada ou, apenas demonstrada sob
determinadas condições especiais. Esses elementos têm sido classificados como
elementos benéficos.
Existem casos em que o efeito positivo do elemento no crescimento da planta
decorre de aumento da resistência a pragas e a doenças, ou favorecem a absorção de
outros elementos essenciais.
São considerados elementos benéficos Al, Co, Ni, Se, Si, Na.

9.1. ALUMÍNIO

O Al é reconhecidamente um elemento tóxico para inúmeras espécies


cultivadas. No entanto, trabalhos empregando solução nutritiva purificada
procuraram demonstrar efeito benéfico do elemento quando suprido em baixas
62
concentrações. Asher (1991) cita exemplos de trabalhos clássicos que demonstram
efeitos benéficos do Al, tanto em plantas acumuladoras desse elemento (chá,
Camellia sinensis L.), como no milho, onde a concentração de 7,4 µmol de Al/L na
solução nutritiva resultou em aumento da produção de matéria seca.
A literatura é vasta de trabalhos que procuram caracterizar o elemento como
benéfico, quando suprido em baixas concentrações, no entanto, nos módulos
seguintes o enfoque prioritário será com relação à sua toxicidade às plantas e sua
capacidade de gerar acidez no solo.

9.2. COBALTO
O Co pode ser encontrado nas folhas dos vegetais em concentrações que
variam de 0,03 a 1,0 mg/kg de matéria seca. Condições especiais de solos ricos em Co
podem propiciar o acumulo nos tecidos de algumas espécies a teores de 0,2 a 0,4
dag/kg.
Existem evidências de que o elemento seria essencial para leguminosas em
associação simbiótica com bactérias fixadoras de N2 atmosférico. O Co é tido como
elemento importante na síntese de vitamina B12, a qual, provavelmente, é
importante para a síntese da leghemoglobina. Essa proteína possui papel primordial
na manutenção do ambiente redutor nos nódulos, necessário à fixação do N2 pelas
bactérias do gênero Rhizobium.

9.3. NÍQUEL
Diferentes pesquisas têm demonstrado a capacidade do Ni em prevenir e
reduzir a infecção de plantas por fungos que promovem a ferrugem em trigo.
Entretanto, sua utilização como fungicida é restrita pois se trata de um metal pesado.
De acordo com resultados de trabalhos com diferentes espécies submetidas a
soluções com ou sem Ni, e pela detecção desse elemento na urease contida nos

63
tecidos vegetais, alguns autores propuseram a inclusão do elemento na lista dos
essenciais.
Até recentemente, somente os efeitos tóxicos do Ni eram considerados na
nutrição de plantas e especialmente como certas espécies de plantas eram capazes
de tolerar as altas concentrações de Ni presentes em solos serpentinos. Cerca de 30
anos atrás, entretanto, Dixon et al. (1975) fizeram a importante descoberta de que a
urease de feijão de porco (Canavalia ensiformis L.) é uma metaloproteína contendo
Ni. Como mostrado em uma revisão feita por Asher (1991), esta descoberta elevou a
condição do Ni à de nutriente funcional. Shimada e Ando (1980 citados por ASHER,
1991), trabalhando com plantas de tomate e de soja com baixo teor de Ni, puderam
demonstrar que houve acúmulo de uréia nos tecidos concomitantemente com o
desenvolvimento de necrose da ponta da folha. Em plantas de soja com baixo teor de
Ni, dependentes de fixação de N2 ou supridas com N-NO3 e N-NH4, foram
encontradas concentrações extremamente altas de uréia nas pontas das folhas, o que
pôde ser evitado pela adição de Ni (ESKEW et al., 1983; ESKEW et al., 1984). A partir
deste e de outros experimentos semelhantes, porém, não foi possível concluir que o
Ni era um elemento essencial, pois, embora tivesse sido demonstrada sua função na
atividade da urease, não houve nenhuma evidência de que a falta deste nutriente
diminuísse a produção de sementes ou a viabilidade delas.
A confirmação final de que o Ni é um nutriente essencial para as plantas veio a
partir do trabalho de Brown e seus colaboradores, os quais foram capazes de
demonstrar que o Ni é requerido para a viabilidade da cevada (BROWN et al., 1987a).
Cultivando plantas de cevada por três gerações em meio nutritivo sem Ni, as
sementes produzidas apresentaram concentrações extremamente baixas deste
micronutriente. A porcentagem de germinação dessas sementes decresceu
linearmente com concentrações de Ni abaixo do nível crítico de 100 µg kg-1. A
viabilidade dessas sementes defi- cientes em Ni não pôde ser restabelecida por sua
imersão em solução contendo o nutriente, demonstrando que ele é essencial para o
64
desenvolvimento normal das plantas-mãe e, portanto, para que o ciclo de vida da
planta de cevada se complete.Os autores também conseguiram induzir sintomas de
deficiência de Ni em trigo, aveia e cevada mostrando clorose internerval e
similaridades com as deficiências de Fe, Mn, Zn e Cu (BROWN et al., 1987b).
A deficiência de Ni em plantas cultivadas em solo foi relatada em apenas uma
cultura, de árvores de noz-pecan no sudeste dos Estados Unidos, as quais
apresentaram folhas pequenas em forma de concha (“orelha-de-rato”) e madeira
quebradiça (WOOD et al., 2003).

9.4. SELÊNIO
O Se encontra-se nos tecidos vegetais em concentrações inferiores a 1 mg/kg.
Em solos com elevada disponibilidade do elemento, espécies forrageiras podem
apresentar concentrações excessivamente elevadas a ponto de serem constatados
casos de toxicidade em animais.
Quanto a seus efeitos benéficos, existem poucos casos na literatura com relatos
de respostas positivas, os quais se restringem a poucas espécies e em concentrações
muito baixas.

9.5. SILÍCIO
O Si é elemento abundante na litosfera e, por isso mesmo, os trabalhos que
procuram determinar sua essencialidade, ou mesmo efeitos benéficos ao
crescimento, requerem especiais precauções quanto à contaminação.
Grande diversidade de efeitos benéficos do Si tem sido descrita para diferentes
espécies. Resistência à infecção por fungos, a ataques de insetos, e à toxidez de Mn
são exemplos clássicos. A deposição de SiO2 na parede celular de folhas e do caule,
de cana-de-açúcar, de arroz e de sorgo, parece conferir considerável rigidez a essas
estruturas.

65
Ensaios utilizando solo demonstraram efeitos indiretos do Si no crescimento de
plantas. Aumento da disponibilidade de P e decréscimo na solubilidade de Al e de
metais pesados são exemplos. No entanto, evidências claras de sua essencialidade
não foram observadas.

9.6. SÓDIO
O Na não é considerado um nutriente essencial para a maioria das plantas, mas
para algumas espécies pertencentes ao gênero Atriplex encontrados na Austrália
e no Chile sua essencialidade tem sido demonstrada. Alguns trabalhos sugerem
que o Na, quando em baixas concentrações, propicia maior crescimento a plantas C4.
Na realidade, o íon Na+ tem-se mostrado capaz de substituir o K+ em algumas
funções relacionadas com o equilíbrio iônico interno das plantas.
Mais comentários sobre o Na poderão ser encontrados no módulo referente a
correção de solos sódicos.

66
TABELAS DE INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISES DE SOLO

1. pH

Tabela 2. Classe de interpretação da acidez ativa do solo (pH).

Acidez
Determinação
Elevada Média Fraca

pH em água < 5,0 5,0 – 5,9 6,0 – 6,9


pH em 𝑪𝒂𝑪𝒍𝟐 < 4,5 4,6 – 5,5 5,6 – 6,5

Tabela 3. Prováveis características do solo em função do pH em água.

pH Prováveis características do solo


Elevados teores de Al3+ (tóxico)
Baixos teores de Ca2+ e Mg2+
Baixa saturação por bases (V)
Boa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
Baixa disponibilidade de B, Mo e Cl
< 5,5
Deficiência de P (formação de precipitados
P-Al, P-Fe e P
Mn e elevada adsorção nos coloides)
Menor perda de N por volatilização de NH3
Baixa atividade de micro-organismos
Ausência de Al3+ (tóxico)
Boa disponibilidade de B
5,5 – 6,5 Disponibilidade intermediária dos demais
micronutrientes pH ideal para a maioria das
culturas
Ausência de Al3+ (tóxico)
Elevados teores de Ca e Mg
Elevada saturação por bases (V)
Baixa disponibilidade de Zn, Cu, Fe, Mn
> 6,5 Boa disponibilidade de B até pH 7,5
Alta disponibilidade de Mo e Cl
Aumento das perdas de N por volatilização
de NH3
Alta atividade de micro-organismos

68
2. ALUMÍNIO (𝑨𝒍𝟑+)

Tabela 4. Classes de interpretação para o teor de alumínio trocável (𝑨𝒍𝟑+)

Elemento Baixo Médio Alto

𝑨𝒍𝟑+ (𝑪𝒎𝒐𝒍𝒄/𝒅𝒎³) < 0,3 0,3 – 1,0 > 1,0

3. H + Al

Tabela 5. Classes de interpretação para a acidez potencial (H+Al).


Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
Acidez potencial Correlação
cmolc /dm³ < 2,5 2,5 – 5,0 > 5,0
(H + Al) pH SMP

4. SOMA DE BASES (SB)

Tabela 6. Classes de interpretação para a soma de bases (SB).


Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
K+ + Na+ +
Soma de bases (SB)
Ca2+ + Mg2+
cmolc /dm3 < 2,0 2,0 – 5,0 > 5,0

5. CTC TOTAL (T)

Tabela 7. Classes de interpretação para a CTC Total (T).

Classificação
Característica Método Unidade
Baixo Médio Alto
CTC (T) SB + H + Al cmolc /dm³ < 4,5 4,5 – 10 > 10

69
6. CTC EFETIVA (t)

Tabela 8. Classes de interpretação para a CTC efetiva (t)

Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
CTC efetiva (t) SB + Al³+ cmolc /dm³ < 2,5 2,5 – 6,0 > 6,0

7. SATURAÇÃO POR BASE (V)

Tabela 9. Classes de interpretação para saturação por bases (V).

Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto

Saturação em 𝑺𝑩
x 100 % < 50 50 – 70 > 70
bases (V) 𝑻

8. SATURAÇÃO POR ALUMÍNIO (m)

Tabela 10. Classes de interpretação para saturação em alumínio (m).

Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
Saturação em 𝑨𝒍𝟑+
x 100 % < 50 50 – 70 > 70
alumínio (m) 𝒕

9. MATÉRIA ORGÂNICA (MO)

Tabela 11. Classes de interpretação para MO.

Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
Matéria
Colorimétrico dag/kg < 1,5 1,5 - 3,0 > 3,0
orgânica (MO)
70
10.FÓSFORO REMANESCENTE (P–rem)

Tabela 12. Estimativa da textura do solo em função do fósforo remanescente (P-


rem).

P-rem (mg/L) Estimativa da textura do solo


< 20 Argilosa
20 - 40 Média
> 40 Arenosa

Tabela 13. Disponibilidade de P para as culturas em função do teor de P no solo


determinado pelo extrator Mehlich-1.

Teor de P no solo mg/dm³ Disponibilidade de P para as culturas


A maioria das culturas cultivadas em solo com este teor de P
provavelmente terão baixa produtividade devido à baixa
<5
disponibilidade desse elemento, principalmente em solos de
textura arenosa (Prem > 40)
Situação em que somente algumas culturas perenes
conseguem manter produtividades médias, como, por
5 – 10 exemplo, espécies florestais. Em solos de textura arenosa,
esta faixa de teor ainda é limitante para culturas anuais e
hortaliças.
Satisfaz a demanda de grande parte das culturas perenes,
10 – 20 mas ainda é limitante para a maioria das culturas anuais e
hortaliças.
Faixa de teor é adequada para a maioria das culturas perenes
e limitante para hortaliças. Apresenta média disponibilidade
20 – 40
para culturas anuais somente em solo com característica
arenosa.
Boa disponibilidade para culturas perenes e anuais, porém
40 – 80 limitante para algumas hortaliças de alta produtividade
como, por exemplo, tomate e batata.

> 80 Faixa de teor adequada para a maioria das culturas.

71
Tabela 14. Classes de interpretação para fósforo disponível em função da cultura e
do fósforo remanescente (P-rem).

Classificação
P–rem
P Método Cultura Baixo Médio Alto
mg/L mg/dm³
< 20 <5 5 – 10 > 10
Perene 20 – 40 < 10 10 – 20 > 20
> 40 < 20 20 – 30 > 30
< 20 < 20 20 – 40 > 40
Mehlich-1 Anual 20 – 40 < 40 40 – 60 > 60
> 40 < 60 60 – 80 > 80
< 20 < 30 30 – 60 > 60
Hortaliça 20 – 40 < 60 60 – 100 > 100
> 40 < 100 100 – 150 > 150

Fonte: Prezotti et al. (2007).

Tabela 15. Classes de interpretação para fósforo disponível pelo extrator Resina
em função da cultura.

Classificação
Método Cultura Muito

Baixo Médio Alto Muito Alto


Baixo
mg/dm³
Florestais 0–2 3–5 6–8 9 – 16 > 16
Resina Perenes 0–5 6 – 12 13 – 30 31 – 60 > 60

Anuais 0–6 7 – 15 16 – 40 41 – 80 > 80


Hortaliças 0 – 10 11 – 25 26 – 60 61 – 120 > 120

72
11.POTÁSSIO DISPONÍVEL (K)

Tabela 16. Classes de interpretação para K disponível, pelo extrator Mehlich-1, em


função da cultura.

Método Cultura Classificação


Baixo Médio Alto
mg/dm³
Mehlich-1 Perene/Anual < 60 60 – 150 > 150
Hortaliça < 80 80 – 200 > 200
Fonte: Prezotti et al. (2007).

Tabela X. Classes de interpretação para potássio disponível pelo extrator Resina.

Classificação
Método
Muito Baixo Baixo Médio Alto Muito Alto

Resina 0 – 30 31 – 60 61 – 120 121 – 235 > 235


Fonte: Raij et al (1996).

12.CÁLCIO (Ca) E MAGNÉSIO (Mg)

Tabela 17. Classes de interpretação para cálcio e magnésio.

Classificação
Elemento Método Unidade
Baixo Médio Alto
Cálcio (Ca) KCl 1 mol/L cmolc /dm³ < 1,5 1,5 – 4,0 > 4,0

Magnésio (Mg) KCl 1 mol/L cmolc /dm³ < 0,5 0,5 – 1,0 > 1,0

73
13.ENXOFRE (S)

Tabela 18. Classes de interpretação para enxofre.

Classificação
Elemento Método
Baixo Médio Alto
mg/dm³

Enxofre (S) CaHsPO4 0,01 M < 5,0 5,0 – 10 > 10

14.MICRONUTRIENTES

Tabela 19. Classes de interpretação para micronutrientes disponíveis no solo.

Elemento Método Classificação


Baixo Médio Alto
Boro (B) Água quente < 0,35 0,35 – 0,9 > 0,9
Zinco (Zn) Mehlich – 1 < 1,0 1,0 – 2,2 > 2,2
Cobre (Cu) Mehlich – 1 < 0,8 0,8 – 1,8 > 1,8
Ferro (Fe) Mehlich – 1 < 20 20 - 45 > 45
Manganês (Mn) Mehlich – 1 < 5,0 5,0 - 12 > 12
CORREÇÃO DO SOLO

1. CALAGEM
É recomendada quando o solo apresenta baixa V, elevada acidez e elevado teor
de Al3+. O calcário, constituído por carbonatos de cálcio e magnésio (CaCO3 e MgCO3
), quando aplicado ao solo se dissocia em íons de 𝐶𝑎2+, 𝑀𝑔2+e 𝐶𝑂32-. Este último é o
responsável pela neutralização do H+ , elevando assim o pH do solo.
Com a elevação do pH, ocorre a redução da solubilidade do alumínio, que passa
da forma tóxica Al3+ para a forma insolúvel 𝐴𝑙 (𝑂𝐻)3. Portanto, a calagem eleva o
pH, neutraliza o Al3+ e aumenta a saturação por bases do solo (V) pela elevação dos
teores de Ca e Mg.
A determinação da necessidade de calagem (NC) pode ser feita por diversos
métodos. No Estado do Espírito Santo, o método mais comumente utilizado é o da
saturação por bases, que tem por objetivo elevar a V do solo a um valor adequado à
cultura.

1.1. CÁLCULO DE NECESSIDADE DE CALAGEM

A necessidade de calagem (NC) é calculada multiplicando-se a diferença entre


a saturação por bases que se deseja atingir (V2) e a saturação por bases atual do solo
(V1) pela T, dividindo-se o resultado por 100, conforme a fórmula:

(𝑽𝟐 − 𝑽𝟏) 𝑻
𝑵𝑪 =
𝟏𝟎𝟎

A saturação por bases exigida para cada cultura pode ser encontrada nos
manuais de recomendação para o uso de corretivos e fertilizantes. De modo geral, o
nível de exigência em bases das culturas pode ser assim classificado:
 Hortaliças: V2 = 70% a 80%
76
 Culturas anuais e perenes: V2 = 60% a 70%
 Espécies florestais: V2 = 50% a 60%

A quantidade de calcário (PRNT = 100 %) gerada pelo cálculo da NC é


recomendada exclusivamente para elevar a saturação por bases a 70% no volume de
solo representado pela área de um hectare (100 x 100 m), na camada de 0 a 20 cm, o
que equivale a um volume de solo corrigido de 2.000 m³. Caso o volume de solo a ser
corrigido seja diferente de 2.000 m³, ou o PRNT do calcário não seja 100%, deve-se
calcular a quantidade de calcário (QC) a ser efetivamente aplicada.

1.2. CÁLCULO DA QUANTIDADE DE CALCÁRIO


A quantidade de calcário (QC) é a dose a ser efetivamente aplicada ao solo. É
dependente do PRNT do calcário e do volume de solo com o qual o calcário irá reagir.
Para a correção pelo PRNT, basta substituir, na fórmula da NC, o valor “100” pelo
PRNT do calcário.
Considerando-se:
 Calcário com PRNT de 90%;
 Saturação por base desejada (V2 = 70);
 Saturação por base atual (V1 = 28)
 CTC (T = 7,1 cmolc/dm³)
, tem-se:

(𝑽𝟐−𝑽𝟏) 𝑻 (𝟕𝟎−𝟐𝟖) 𝟕,𝟏


𝑵𝑪 = 𝑵𝑪 = 𝑵𝑪 = 𝟑, 𝟑 𝒕/𝒉𝒂
𝑷𝑹𝑵𝑻 𝟗𝟎

Para a correção pelo volume efetivamente corrigido, deve-se considerar a


superfície de aplicação e a profundidade de incorporação. No exemplo anterior, a
quantidade de calcário de 3,3 t/ha (330 g/m²) foi estimada para ser aplicada em

77
toda a área do hectare. Para o caso de aplicação em faixas, a quantidade
recomendada por hectare deve ser corrigida proporcionalmente para a área de
aplicação. Por exemplo: em uma cultura com espaçamento de 3x1m, com aplicação
do calcário nas linhas das plantas em faixas de 1,5 m de largura, a quantidade de
calcário recomendada por hectare deverá ser reduzida pela metade, pois a superfície
de aplicação será de 50% da área de um hectare.

2. GESSAGEM
O uso do gesso agrícola (𝐶𝑎𝑆𝑂4. 𝐻2𝑂) é indicado para solos com elevado teor
de Al3+ e/ou baixos teores de Ca e Mg em camadas subsuperficiais. A aplicação de
gesso deve ser realizada somente para situações em que for comprovada a sua
necessidade, de modo a evitar a lixiviação de bases para profundidade além do
alcance das raízes.
Atenção especial deve ser dada a solos arenosos com baixa CTC, onde há grande
facilidade de lixiviação de nutrientes. Assim, o gesso só deve ser recomendado para
situações em que a análise do solo da camada de 20-40 cm apresentar teor de Al3+
superior a 0,5 cmolc/dm³ e/ou teor de Ca2+ inferior a 0,5 cmolc/dm³. O cálculo da
dose de gesso deve ser baseado na análise do solo da camada de 20-40 cm, sendo a
dose igual a 30% da NC determinada para essa profundidade.

Quantidade de gesso = 0,3 x NC (para a profundidade de 20-40 cm)

Exemplo: Supondo uma cultura que necessite de V = 70% e a análise do solo da


camada de 20-40 cm apresente as seguintes características:
 Al = 1,4 cmolc /dm³
 Ca = 0,3 cmolc /dm³
 V = 25%
78
 T = 6,5 cmolc /dm³

O primeiro passo é determinar se o solo necessita de gesso. Para isto, observa-


se o teor de Al e Ca na análise de 20 a 40 cm de profundidade. Neste caso, o teor de
Al de 1,4 cmolc /dm3 comprova a necessidade de gesso, pois é superior a 0,5
cmolc/dm³.
Esta característica já seria suficiente para a indicação do uso do gesso. O teor
de Ca de 0,3 cmolc/dm³ também comprova a necessidade de gesso, pois é inferior a
0,5 cmolc/dm³. Comprovada a necessidade do uso do gesso, o segundo passo é o
cálculo da quantidade de gesso (QG).
Para isto temos que, primeiramente, calcular a necessidade de calagem para a
camada de 20 a 40 cm:

(𝑽𝟐−𝑽𝟏) 𝑻 (𝟕𝟎−𝟐𝟖) 𝟕,𝟏


𝑵𝑪 = 𝑵𝑪 = 𝑵𝑪 = 𝟐, 𝟗𝟖 𝒕/𝒉𝒂
𝟏𝟎𝟎 𝟏𝟎𝟎

A quantidade de gesso será igual a 30% da necessidade de calagem calculada


para a profundidade de 20 a 40 cm. Assim, 0,3 x 2,98 t/ha = 0,89 t/ha de gesso.
A dose de gesso deve ser aplicada a lanço, sobre toda a superfície do terreno,
sem necessidade de incorporação, no mínimo três meses após a calagem. A calagem
realizada antes da gessagem é importante para aumentar a CTC efetiva da camada
superficial, aumentando o número de cargas negativas, evitando assim a lixiviação
excessiva de bases e a adsorção de 𝑆𝑂42 −, o que permite seu aprofundamento no
perfil do solo.
Ressalta-se que a NC calculada para a camada de 0-20 cm é independente da
aplicação de gesso e não deve ser alterada.

79
FERTILIZANTES

1. INTRODUÇÃO
Esquematicamente, toda a cadeia produtiva de fertilizantes minerais, cujo
complexo produtor envolve atividades que vão desde a extração da matéria-prima
até a composição de formulações aplicadas diretamente na agricultura. O segmento
extrativo mineral fornece as matérias-primas básicas dos fertilizantes, principalmente
o gás natural, o RASF (resíduo asfáltico do petróleo) e a nafta, além da rocha fosfática,
do enxofre e das rochas potássicas. Com base nesses insumos, obtêm-se então as
matériasprimas intermediárias, sobretudo o ácido sulfúrico, o ácido fosfórico, a
amônia anidra e os fertilizantes simples, dos quais resultam os fertilizantes básicos,
como a uréia, o sulfato de amônio, o MAP, o superfosfato simples e o cloreto de
potássio, que, por fim, originam os fertilizantes granulados e as misturas de
formulação NPK, complexos.

Cadeia Produtiva dos Fertilizantes


Fonte: Adaptado de Petrofértil/Coppe-UFRJ (Ano 1992)
Os fertilizantes simples constituem, em geral, um único composto químico, que
pode ou não ter a presença de certos macro ou micronutrientes. Exemplos comuns
são o superfosfato simples (SSP), o superfosfato triplo (TSP), o fosfato de
monoamônio (MAP) e o fosfato de diamônio (DAP), fabricados pela Fosfertil, pela
Copebras e pela Bunge.
O setor encontra dificuldades de transporte por causa das distâncias a serem
percorridas pelas matérias-primas, principalmente as rochas, até os complexos ou
unidades industriais, e também pelos produtos intermediários destinados a outras
indústrias que atuam na ponta, como misturadoras ou granuladoras. Alguns
produtos, como amônia, ácido sulfúrico e ácido nítrico, estão sujeitos a normas
especiais de transporte. Os fertilizantes podem ser classificados em três tipos:
 Fertilizante mineral: produto de natureza fundamentalmente mineral, natural ou
sintético, obtido por processo físico, químico ou físico-químico, fornecedor de um
ou mais nutrientes das plantas.
 Fertilizante orgânico: produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido
por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado,
com base em matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou
animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais.
 Fertilizante organomineral: produto resultante da mistura física ou combinação de
fertilizantes minerais e orgânicos.

2. FERTILIZANTES MINERAIS

Esse tipo é feito a partir de minerais e minérios que possuem os elementos


essenciais para o desenvolvimento de uma planta, que são o Fósforo (P), o Potássio
(K), o nitrogênio (N), o Enxofre (S), o Cálcio (Ca) e o Magnésio (Mg). Desse modo
podemos classificá-los em três tipos principais de fertilizantes, que são os
nitrogenados, fosfatados e os potássicos.

82
2.1. NITROGENADOS
A principal fonte de nitrogênio para fertilizantes é a amônia anidra, que é um
gás. Porém, também é possível extrair esse elemento a partir de minerais, como a
nitromagnesita [Mg(NO3)2 . XH2O], que é encontrada em regiões áridas do mundo.
O papel do nitrogênio no crescimento das plantas é como um importante constituinte
de proteínas.

2.2. FOSFATADOS
Os fosfatos são uma classe de minerais com composição bem variada. Embora
sua quantidade em peso na crosta terrestre seja relativamente pequena, tem sido
utilizado extensivamente para produção de fertilizantes. Os produtos obtidos através
das rochas ricas em fosfatos, principalmente do mineral apatita, são os superfosfatos,
termofosfatos e fosfatos acidulados com composição variada.
Dentre estes, os termofosfatos apresentam melhores resultados, logo que são
insolúveis em água, mas solúveis em soluções do solo. O que dificultaria o
escoamento do íon fosfato. E, além disso, micronutrientes como o magnésio podem
ser incorporados diretamente a ele. Sua desvantagem é o alto gasto energético para
sua produção, elevando seu valor.

2.3. POTÁSSICOS
O potássio está presente em numerosos minerais, a maioria com presença
significativa de potássio em sua composição. Mais apenas um pequeno número deles,
constituído por cloretos e/ou sulfatos, são considerados de interesse econômico.
Devido principalmente, ao seu conteúdo em potássio e à sua fácil solubilização.
Geralmente o elemento é obtido das reservas de sais de potássio que ocorrem na
forma do minério silvinita. Uma mistura de silvita (KCl), halita (NaCl), e carnalita
(KMgCl3 . 6H2O), que contêm minerais extremamente solúveis em água. Que podem
fornecer o potássio móvel necessário ao desenvolvimento das plantas.
83
O beneficiamento desse minério é feito em diversas etapas, visando retirar as
impurezas (minerais não desejados) da rocha. Sendo ainda necessário que o minério
possua teor maior que 30% de fosfato (P2O5), para que possa ser beneficiado.
Apesar de os potássicos serem os principais, existem diversos outros tipos de
fertilizantes minerais que são aplicados na agricultura atualmente. Além de estudos
que buscam novas e melhores formas de extraí-los. Assim, a aplicação de fertilizantes
minerais é bastante benéfica para a agricultura, visto que eles são absorvidos
rapidamente pelas plantas e aceleram seu crescimento.

3. FERTILIZANTES ORGÂNICOS
Os fertilizantes orgânicos sólidos e líquidos, são todos aqueles materiais de
procedência vegetal ou animal que podem ser utilizados para fertilizar os solos como
um todo e assim adubar as culturas. Eles devem ter alto valor agregado e baixo custo
de aquisição e produção. Eles podem ser produzidos à partir de matérias primas
próprias ou adquiridos de terceiros e se diferenciam dos adubos convencionais pela
sua atividade e atuação sobre o solo, as plantas e o ambiente, onde normalmente tem
efeitos positivos como um todo, produzindo menores impactos que os convencionais.
Os produtos orgânicos a serem utilizados para a fertilização não podem ser
provenientes de resíduos contaminados por metais pesados e componentes químicos
tóxicos e precisam ser homologados pela legislação e regulamentações das entidades
certificadoras de agricultura orgânica, tanto à nível nacional, quanto internacional.
Vários materiais orgânicos podem ser utilizados como fertilizantes. Os
fertilizantes orgânicos aplicados no solo precisam ser mineralizados, pois as plantas
não absorvem compostos na forma orgânica. Além de contribuir com a melhoria da
fertilidade dos solos, os resíduos orgânicos contribuem com a melhoria da agregação
do solo, da estrutura, da aeração, da drenagem e da capacidade de
84
armazenagem do solo. O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal
e vegetal que, ao se decompor, vira húmus. O húmus é o fruto da ação de diversos
microorganismos sobre os restos animais e vegetais.

85
ADUBAÇÃO MINERAL

1. INTRODUÇÃO
Fertilizantes são materiais que tem a função de fornecer nutrientes que são
necessários e de grande importância em diversas fases fenológicas às plantas, seja na
germinação, no crescimento, desenvolvimento, produção e reprodução. Os
fertilizantes podem fornecer um ou mais nutrientes.
Os fertilizantes mais usuais no mercado hoje são os chamados químicos, ou
minerais, que são os industriais. Ou seja, os fertilizantes minerais são produzidos por
meio de processos químico-industriais, que tem como objetivo específico serem
usados como fonte de nutrientes para as plantas.
Hoje em dia, os fertilizantes são essenciais nos sistemas de produção agrícola
para reposição de nutrientes extraídos do solo na forma de alimentos (grãos,
forragem, bioenergia, dentre outros).

2. CLASSIFICAÇÃO DOS FERTILIZANTES


2.1. CRITÉRIO QUÍMICO
Os fertilizantes minerais são formados por compostos inorgânicos, sejam de
origem natural ou industrial. Visto disso, a sua classificação quanto ao critério químico
pode ser dado da seguinte forma:

 Fertilizantes simples: são fertilizantes constituídos por apenas um composto


químico, contendo um ou mais nutrientes, que sejam macro e micronutrientes, ou
ambos.
 Fertilizantes mistos: produto resultante da mistura física de dois ou mais
fertilizantes simples, complexos ou ambos.
 Fertilizantes complexos: produto formado por dois ou mais compostos químicos,
resultante da reação química de seus componentes, e que pode conter dois ou
mais nutrientes (misturas produzidas com a participação de matériasprimas).

2.2. CRITÉRIO FÍSICO


 Pó: Quando as partículas estão na forma de pó ou tem pequenas dimensões.
 Mistura de grânulos: Consiste simplesmente em uma mistura física de matérias-
primas previamente granuladas. Ocorre quando dois ou três tipos de grânulos
diferentes estão presentes na mistura. Exemplo: Mistura de grânulos de sulfato de
amônio + Grânulos de SFT + Grânulos de KCl.

 Mistura granulada: É uma mistura de produtos em pó que passa pelo processo de


granulação para que os diferentes nutrientes fiquem no mesmo grânulo. Não
ocorre reação entre os componentes da mistura. Exemplo: N-P-K no grânulo.

88
 Complexo granulado: É uma mistura de matérias-primas cujo resultado é o
surgimento de novos compostos químicos. Exemplo: NH3 (g) + H2 PO4 (l) + KCl
(pó)  NH4H2 PO4 + KCl
 Líquidos ou fluídos: São fertilizantes que se encontram no estado líquido. Podem
ser divididos em duas classes: Soluções: são os fertilizantes líquidos que se
apresentam na forma de soluções verdadeiras, isto é, isentas de material sólido.
Suspensões: são os fertilizantes líquidos que se apresentam na forma de
suspensões, isto é, uma fase sólida dispersa num meio líquido. Exemplos:
Aquamônia e URAN.
 Gasosos: São os fertilizantes que se apresentam no estado gasoso, nas condições
normais de temperatura e pressão. O único fertilizante que se apresenta nesta
forma é a amônia anidra.

3. CARACTERÍSTICAS DOS FERTILIZANTES


Dividir os fertilizantes por características é muito importante, pois tem relação
direta com a produção de misturas e formulados e com a eficiência e o manejo da
adubação.
Pode-se resumidamente descrever as principais características dos
fertilizantes, como descritas abaixo:

3.1. SOLUBILIDADE
Para avaliação da solubilidade de fertilizantes nitrogenados e potássicos
(Tabela 20), geralmente são utilizados os teores solúveis em água, enquanto que em
fertilizantes fosfatados, são utilizados para recomendação os teores solúveis em água
e em citrato neutro de amônio e ácido cítrico.

89
TABELA 20. Produto de solubilidade de diferentes fertilizantes usados na agricultura.
Fertilizantes Produto da Solubilidade ¹
Ácido fosfórico 45,7
Ácido bórico 5,0
Cloreto de cálcio 60
Cloreto de potássio 34
DAP 40
MAP 22
Gesso 0,241
Nitrato de amônio 190
Nitrato de potássio 31
Sulfato de amônio 73
Sulfato de potássio 11
Superfosfato simples 2
Superfosfato triplo 4
Sulfato de manganês 105
Sulfato de zinco 75
Sulfato de cobre 22
Ureia 100
¹ O produto de solubilidade pode ser definido como a quantidade do fertilizante que pode ser
dissolvida em 100 mL de água.
Fonte:

3.2. HIGROSCOPICIDADE
Refere-se à capacidade do fertilizante absorver água da atmosfera e tem
implicação direta sobre a compatibilidade entre fertilizantes na produção de misturas.

90
Essa tendência do fertilizante em absorver água é expressa pela umidade
relativa crítica (𝑈𝑟𝑐) que é a umidade relativa máxima a que determinado fertilizante
pode ser exposta sem que ocorra absorção de água.
Algumas misturas de fertilizantes são incompatíveis porque ocorre uma
diminuição do valor da (𝑈𝑟𝑐). Um exemplo é a mistura de ureia e nitrato de amônio
que possui 𝑈𝑟𝑐= 18,1%.
Uma das principais maneiras de reduzir o problema da higroscopicidade em
fertilizantes é a granulação. Outra alternativa é o recobrimento dos grânulos com
materiais como caulim, enxofre, parafina, polímeros, formaldeído e fosfatos naturais,
dentre outros.

3.3. SALINIDADE
É caracterizada pelo índice salino (IS) do fertilizante, que é a pressão osmótica
causada pelo fertilizante quando aplicado no solo. A referência é o nitrato de sódio:
NaNO3 (IS = 100); (Tabela 21).

TABELA 21. Índice salino de fertilizantes, determinado em relação ao nitrato de


sódio, tomado como padrão com índice 100.
Fertilizantes Produto da Solubilidade ¹
Nitrato de sódio 100
Nitrato de amônio 105
Sulfato de amônio 69
MAP 30
DAP 34
Nitrocálcio 61
Ureia 75
Amônia anidra 47
Superfosfato simples 8
91
Superfosfato triplo 10
Cloreto de potássio 116
Sulfato de potássio 46
Sulfato de potássio e magnésio 43
Fonte: BOLETIM TÉCNICO – UFLA – 2012

3.4. REAÇÃO
Capacidade de alterar a reação do meio no qual eles são solubilizados (reação
ácida ou alcalina); (Tabela 22).
 Reação ácida: expressa em termos da quantidade de CaCO3 necessária para
corrigir a acidez gerada pelo fertilizante.
 Reação alcalina: expressa em termos da quantidade de CaCO3 que gera
alcalinidade equivalente à gerada pelo fertilizante.

Tabela 22. Poder acidificante e alcalinizante ¹ de alguns fertilizantes.


FERTILIZANTES EQUIVALENTE 𝑪𝒂𝑪𝑶𝟑 (kg 𝒕−𝟏) ¹
Amônia anidra 1480
Sulfato de amônio 1100
DAP 880
MAP 600
Nitrato de amônio 600
Nitrocálcio 280
Sulfonitrato de amônio 840
Ureia 840
Salitre do Chile - 290
Salitre de potássio - 260
Cloreto de potássio 0
Sulfato de potássio 0

92
Sulfato de potássio em magnésio 0
Superfosfato simples 0
Superfosfato triplo 0
Termofosfato magnesiano -8
Farelo de algodão 90
Composto de lixo - 70
Caule de planta de fumo - 250
¹ kg de CaCO3 equivalente, em excesso.
Fonte: BOLETIM TÉCNICO – UFLA – 2012

3.5. DENSIDADE
É a característica dos fertilizantes que relaciona massa e volume do produto. O
conhecimento da densidade é importante no dimensionamento de áreas de
armazenamento e de embalagens.
Como exemplos de densidade de fertilizantes sólidos podem ser citados os
valores da ureia: 1,33 g cm-3; fosfato diamônico: 1,78 g cm-3 e; KCl: 1,99 g cm-3 . A
densidade é uma característica muito importante em adubos líquidos porque afeta
diretamente a fluidez e a viscosidade e, consequentemente, a dosagem a ser aplicada
do fertilizante fluído.
Como exemplos de densidade de fertilizantes líquidos podem ser citados os
valores do URAN, 1,326 g cm-3, sulfuran 1,26 g cm-3 e Aquamônia 0,89 g cm -3.

93
ADUBAÇÃO ORGÂNICA

1. INTRODUÇÃO
Fertilizantes orgânicos tanto os sólidos quanto os líquidos, são materiais que
tem origem animal ou vegetal e podem ser utilizados como adubos para fertilização
dos solos como um todo e assim adubar as culturas. Visto disso, esses fertilizantes
devem ter muito valor agregado e baixo custo tanto para a sua aquisição quanto para
a sua produção.
Os adubos orgânicos podem ser produzidos a partir de matérias primas
próprios ou serem adquiridos de terceiros e se diferenciam dos adubos convencionais
pela sua atividade e atuação sobre o solo, as plantas e o ambiente, onde normalmente
tem efeitos positivos como um todo, produzindo menores impactos que os
convencionais.
Os produtos orgânicos destinados à adubação devem ser devidamente
processados para que não haja nenhum tipo de resíduo contaminado por metais
pesados e componentes químicos que sejam tóxicos, além de ser obrigatória a
homologação pela legislação e regulamentação pelas entidades certificadoras de
agricultura orgânica, tanto a nível nacional, quanto a nível internacional.
Vários materiais orgânicos podem ser utilizados como fertilizantes, porém
devem ser mineralizados, pois as plantas não absorvem compostos em forma
orgânica, apenas em forma mineral.
Dessa forma, além de estarem contribuindo para a fertilidade dos solos, os
resíduos orgânicos contribuem com a melhoria dos agregados do solo, da estrutura,
aeração, drenagem e capacidade de armazenamento no solo.
O adubo orgânico é constituído de resíduos de origem animal e vegetal que, ao
se decompor, vira húmus. O húmus é o fruto da ação de diversos microrganismos
sobre os restos animais e vegetais.
Os sistemas agropecuários dão origem a vários tipos de resíduos orgânicos, os
quais, corretamente manejados e utilizados, transformam-se em fornecedores de
nutrientes para a produção de alimentos e melhoradores das condições físicas,
químicas e biológicas do solo.
Quando inadequadamente manuseados e tratados, constituem fonte de
contaminação e agressão ao meio ambiente, especialmente quando direcionados
para os mananciais hídricos. A produção econômica, tanto de grãos quanto de
pastagens, pressupõe a oferta de nutrientes às plantas, oriunda de uma fonte que
não o solo, em quantidade e qualidade compatíveis com a obtenção da produtividade
que se pretende.
Essa fonte são os adubos químicos e orgânicos, que podem ser usados de
maneira exclusiva ou associados. As culturas, especialmente as produtoras de grãos,
após sua colheita, deixam uma grande quantidade de resíduos contendo nutrientes
retirados do solo.
As produções animais recebem seus alimentos através dos concentrados e das
plantas cultivadas e nativas. Somente uma parte desses elementos contidos nos
alimentos ingeridos pelos animais resulta em ganho de peso e crescimento, sendo a
maior parte eliminada através do esterco e da urina.
A transformação dos resíduos em insumos agrícolas de baixo risco ambiental
exige a adoção de adequados processos de manejo, tratamento, armazenamento e
utilização. O princípio da sustentabilidade dos processos se verifica na implantação
dos sistemas de produção pecuários, cujos projetos e programas integram as
construções e equipamentos de manejo dos animais, bem como a estrutura de
armazenamento, manejo, tratamento e utilização dos resíduos gerados.
As dietas, tanto para suínos e aves quanto para bovinos, são oriundas de
sistemas de produção de grãos e forragens, exigindo cuidadoso balanceamento para
um resultado técnico e econômico. Sabe-se que a alimentação representa a maior
parte do custo final da produção.
96
2. RELAÇÃO CARBONO/NITROGÊNIO (C/N)
A proporção C/N na matéria orgânica do solo é fator importante sobre vários
aspectos, dos quais os mais significativos são: uma adição ao solo de resíduos com
relação C/N elevada, motiva a competição pelo N disponível entre os microrganismos;
e as plantas e resíduos com relação C/N baixa (leguminosas), podem favorecer o
desenvolvimento microbiológico no processo de decomposição, implicando em maior
quantidade de N mineralizado.
O húmus se apresenta em forma coloidal e pode influir em diversas
propriedades físicas e químicas do solo, como a melhoria da estrutura do solo,
redução da plasticidade e coesão, aumento da capacidade de retenção de água,
amenização da variação da temperatura do solo, aumento da capacidade de troca
catiônica, aumento do poder tampão, compostos orgânicos atuam como quelato e
matéria orgânica em decomposição é fonte de nutriente.

3. ORIGEM DOS FERTILIZANTES ORGÂNICOS


3.1. ORIGEM ANIMAL
Os fertilizantes orgânicos de origem animal são geralmente formados por
excrementos sólidos e líquidos dos animais e pode estar misturado com restos
vegetais.
O adubo orgânico de origem animal mais conhecido é o esterco, seja de origem
bovina, suína ou de frango, dentre outras origens animais. Sua composição é muito
variada. São bons fornecedores de nutrientes, tendo o fósforo e o potássio
rapidamente disponível e o nitrogênio fica na dependência da facilidade de
degradação dos compostos.
Segue na tabela abaixo a composição média dos estercos de suínos, bovinos e
frangos.

97
TABELA 23. Composição média dos estercos de suínos, bovinos e frangos.
ESTERCOS Kg 𝒎−𝟑 ou tonelada
pH MS % N 𝑷𝟐𝑶𝟓 𝑲𝟐𝑶
Suínos (líquido integral) 7,2 - 7,8 1,3 - 2,5 1,6 - 2,5 1,2 - 2,0 1,0 - 1,4
Suínos (líquido separado) 7,0 - 7,5 0,1 - 0,3 0,7 - 0,9 0,3 - 0,5 0,6 - 0,8
Bovinos(chorume) 7,0 - 7,5 10 - 15 1,5 - 2,5 0,6 - 1,5 1,5 - 3,0
Bovinos (fezes+urina) 6,8 - 7,5 12 - 15 4,5 - 6,0 2,1 - 2,6 2,8 - 4,5
Bovinos (sólido) 7,0 - 7,5 45 - 70 15 - 25 8 - 12 8 - 15
Aves (cama frango) 6,0 - 7,5 65 - 90 24 - 40 20 - 35 18 - 35
Fonte: Adaptado de vários autores.

Esses conteúdos poderão variar, dependendo do sistema de higienização


empregado e do desperdício dos comedouros e bebedouros. O conhecimento desses
valores é a base para o cálculo da adubação que cada cultura exige, em função da
produtividade pretendida.
Os dejetos como fertilizante, podem ser aplicados no solo de maneira uniforme
e/ou localizada, dependendo do tipo de equipamento envolvido e do sistema de
plantio adotado.
Os equipamentos mais utilizados são os tanques ou carretas tratorizados e
sistemas de aspersão. Para os líquidos, os aspectos positivos da aspersão são a maior
área possível de ser fertilizada com o mesmo equipamento, maior precisão nas doses
estabelecidas e menor investimento em equipamentos por unidade de área e
conseqüente menor custo da fertilização.
A distribuição por aspersão é em torno de 50% menor que o da fertilização com
tanque tratorizado. Este, por sua vez, traz grave inconveniente de compactar o solo,
pelo intenso trânsito na hora da aplicação.

98
3.2. ORIGEM VEGETAL
Qualquer material orgânico no solo pode ser eventualmente reduzido em
tamanho por pequenos animais e ser decomposto por organismos já nele presentes,
ou que vem do solo. Sua função de fornecedor de nutrientes, como de quase todos
os outros resíduos, depende basicamente do material empregado em seu preparo.
Deve-se destacar que o efeito do composto como agente condicionador do solo,
melhorando suas características físicas, (retenção de água, plasticidade, porosidade,
etc.), talvez seja mais importante que seu efeito fertilizante.
As principais formas de agregar ao solo adubação orgânica de origem vegetal
são:

3.2.1. ADUBAÇÃO VERDE


A adubação verde é uma prática recomendada, principalmente na regiões
tropicais e subtropicais. Nestas condições climáticas é possível fazer o plantio de
adubos verdes o ano todo, obtendo uma nutrição natural para as plantas.
Adubo verde é o termo empregado para designar plantas que são empregadas
para melhorar o solo com nutrientes, como nitrogênio e principalmente biomassa
(matéria orgânica) em quantidades elevadas.
Os benefícios são muitos, pois esta prática melhora a estrutura do solo, fornece
nutrientes essenciais, conserva a umidade, favorece a flora microbiana, etc. As
principais plantas utilizadas como adubos verdes são as leguminosas (mucuna,
crotalária, feijão, soja, etc.), gramíneas (milheto, aveia preta, etc.) e outras como nabo
forrageiro e girassol.
As leguminosas são importantes por fornecerem nitrogênio através do
processo de fixação simbiótica das bactérias. As gramíneas, por sua vez, são
produtoras de biomassa, fornecendo carbono, mantendo e/ou aumentando o teor de
matéria orgânica e favorecendo a flora e fauna benéficas do solo (microrganismos).
99
3.2.2. RESÍDUOS ORIGINADOS DA AGROINDÚSTRIA
3.2.2.1. VINHAÇA
Resíduo produzido em grande quantidade nas destilarias de álcool. A vinhaça
de cana é rica em potássio e possui teores relativamente elevados de outros
elementos.
A composição desse resíduo é muito variável, dependendo das condições em
que a usina vem operando. Se for considerado apenas o efeito do potássio, pode-se
dizer que praticamente 100% deste elemento está disponível para as plantas.
A vinhaça contém ainda nitrogênio, enxofre, matéria orgânica e alguns
microelementos. Sua aplicação mais racional deve ser feita com base no teor de
potássio. A maioria das aplicações vem sendo feita in natura, em quantidades que
variam de 50 a 200 m³ ha-¹.

3.2.2.2. TORTA DE FILTRO


Resíduo da indústria açucareira oriundo da filtração a vácuo do lodo retido nos
clarificadores. É composto de resíduos solúveis e insolúveis da fase de calagem. Cada
tonelada de cana moída rende em torno de 40 kg.
A torta é rica em fósforo, cálcio, cobre, zinco e ferro, possuindo, porém, relação
C/N muito elevada, o que pode diminuir a disponibilidade de nitrogênio no solo. É
deficiente em potássio, o que sugere a combinação deste resíduo com a vinhaça.

3.2.3. RESÍDUOS ORIGINADOS DE BIODIGESTORES


Constituídos pelos efluentes de biodigestores, são considerados excelentes
adubos orgânicos. Possui composição muito variável, uma vez que o efluente consiste
de material que por concentração perdeu carbono. Se o material contiver

100
alta concentração de metais pesados, esses aparecerão em concentração ainda
maior no efluente e poderão estar disponíveis para absorção pelas plantas.

3.2.4. OUTROS RESÍDUOS


Resíduos das indústrias de café solúvel podem ser utilizados diretamente na
hortifruticultura, após a devida fermentação. Palha de café e casca de arroz,
aproveitados após a decomposição como adubos orgânicos.

4. PRODUÇÃO DE MILHO COM RESÍDUOS ORGÂNICOS


As alternativas de reciclagem de dejetos de suínos, aves e bovinos mais
adotadas nas regiões de cerrado são as adubações para produção de grãos e
forragens. O alcance da adequada reciclagem necessita do conhecimento do volume
e da composição em nutrientes dos resíduos produzidos pelos diversos processos
criatórios.
O estabelecimento da estrutura de armazenamento e a subseqüente
estabilização dos resíduos de suínos baseia-se, para ciclo completo, em 150 a 170
litros/dia por fêmea no plantel. Para o núcleo de produção de leitões, o volume de
dejetos é considerado de 35 a 40 litros/dia por matriz. Os criatórios somente com
terminados geram normalmente de 13 a 15 litros/suíno/dia.
A produção diária de esterco (fezes + urina) dos bovinos leiteiros é
aproximadamente 10% de seu peso corporal, o que representa, na maioria dos casos,
uma quantidade de 45 a 48 kg/vaca/dia. Já bovinos de corte confinados produzem
em torno de 30 a 35 kg/cabeça/dia.
Os sistemas de produção animal geram continuamente dejetos e estes, para
serem utilizados como insumo adequado, necessitam de armazenamento e
estabilização. Para efeito do estabelecimento da capacidade dessa estrutura,
recomenda-se sempre a adoção da quantidade real de dejetos produzidos num
período de 90 a 120 dias, acrescidos de 20% como margem de segurança.
101
Uma das razões é a disponibilidade de área livre para a aplicação e outra a de
efetuar estabilização natural anterior ao seu uso, aumentando, assim, a segurança
ambiental. A locação dos depósitos em pontos estratégicos dentro das áreas de
utilização minimiza o custo operacional do sistema de distribuição. A utilização dos
dejetos como insumo pode ser feita de forma integral ou com separação de sólidos.
A fertilização normalmente realiza-se de forma integral e a fertirrigação, de
ambas as maneiras. O sólido deve sempre ser submetido ao processo compostagem,
para evitar perdas e disponibilizar os nutrientes para culturas a serem desenvolvidas
na propriedade. A compostagem é um processo de fermentação aeróbio que reduz a
carga orgânica nociva dos resíduos sólidos. A eficiência da estabilização depende da
relação entre o carbono e o nitrogênio (C:N) dos resíduos (1:25 a 1:30), bem como da
umidade dos mesmos, que deve ser em torno de 55 a 60%.

4.1. COMPOSIÇÃO
Uma lavoura de milho pode gerar entre 6 e 12 t ha -1 de resíduos vegetais. As
lavouras com maior produtividade de grãos certamente proporcionam quantidades
maiores de resíduos do que as menos produtivas. Esses resíduos contêm quantidades
apreciáveis de nutrientes que se encontram temporariamente imobilizados.
A taxa de liberação para a cultura subseqüente depende do manejo destes. Se
incorporados ao solo, essa taxa se acelera; se mantidos sobre o solo, como cobertura
morta para plantio direto, ela é retardada, observando-se que, quanto menos picada
for, menor é a taxa de decomposição. Decorrente disso, em sistema de plantio direto
há inicialmente maior demanda de nutrientes, especialmente de nitrogênio.
Depois de estabelecido o sistema, a demanda decresce, pois a reciclagem entra
em equilíbrio, quando, então, os nutrientes imobilizados são liberados às

102
plantas. Em média, pode-se considerar que a palhada de milho imobiliza as
quantidades de nutrientes mostrados na Tabela 24.

TABELA 24. Quantidade média de nutrientes imobilizados pela palhada de milho.

PALHADA (𝒕 𝒉𝒂−𝟏) N P K (𝑲𝒈 𝒉𝒂−𝟏) Ca Mg

6 - 12 30 - 45 4-6 50 - 70 12 - 20 5-7

Fonte: Adaptado de diversos resultados analíticos de diversas cultivares (Embrapa Milho e


Sorgo).

Quando a cultura de milho é colhida para ensilagem, cortando-se as plantas a


0,40 m, a exportação de potássio pode ser reduzida em mais de 50%, em comparação
ao corte próximo ao solo. Os resíduos culturais de milho compostados em mistura
com dejetos animais proporcionam um adubo orgânico de alta qualidade. A utilização
dos resíduos depende do conhecimento de sua qualidade. A maioria dos sistemas de
produção de suínos gera dejetos com o conteúdo de matéria seca variando de 1,7 a
3,5% e os de bovinos estabulados e/ou confinados varia de 5% a 16%.

103
ADUBAÇÃO FOLIAR

1. INTRODUÇÃO
A adubação via foliar é um tipo de aplicação de fertilizantes minerais direto na
folha da planta, através da absorção total, seja ativa ou passiva, com o uso destes
nutrientes por toda planta. Não se limitando a uma terapia local da folha, e assim
suprindo as carências nutricionais sem qualquer lugar da morfologia da planta.
A adubação foliar não se limita à aplicação de soluções nutritivas apenas à
folhagem das plantas, o tratamento pode se estender também para os ramos, sejam
novos ou já adultos e também nas estacas e troncos por meio das pulverizações, o
que é designado de adubação caulinar.
A adubação foliar é utilizada como complemento da adubação via solo, de
forma rápida e eciente. Atualmente, a prática está no planejamento e manejo da
produção de praticamente todas as espécies cultivadas.
Com o alto potencial produtivo das cultivares utilizadas atualmente, adubar via
foliar impulsiona a produtividade e proporciona resposta rápida das plantas
cultivadas.
A recomendação de fertilizantes foliares deve seguir a necessidade nutricional
das plantas na lavoura, que pode ser verificada com a diagnose foliar. A análise da
folha é a maneira mais precisa para identicar falta de nutrientes.

2. PROCESSO DE ABSORÇÃO VIA FOLIAR


Os nutrientes entram nas folhas pelos estômatos, devido à pressão negativa
existente na evapotranspiração. Também entram pelas cutículas da vegetação, por
meio de microcanais ou rupturas.
O processo de absorção de um determinado nutriente pelas folhas envolve
várias etapas, iniciando pela aplicação do fertilizante com o nutriente sobre a

105
superfície das folhas, passando pela penetração desse nutriente nas folhas,
terminando com a distribuição para os demais órgãos da planta:

a) Molhamento da superfície foliar com a solução fertilizante


A parede exterior das células da folha está coberta pela cutícula e uma camada
de cera com uma forte característica hidrófoba (repele a água). Por essa razão, em
determinadas situações são usados umectantes, que reduzem a tensão superficial
para facilitar a absorção de nutrientes.

b) Penetração dos nutrientes pela parede externa das células epidérmicas


As paredes exteriores das células da epiderme são cobertas pela cutícula e uma
camada de cera para proteger as folhas da perda de água por transpiração. Essa
proteção se deve às propriedades hidrófobas das ceras e cutinas. Para que os
nutrientes possam penetrar pela parede exterior da célula, um dos conceitos
geralmente aceitos é a entrada do nutriente pelos poros através da cutícula. A
absorção diretamente pelos estômatos da folha é pouco provável, já que as
célulasguardas também estão cobertas por uma camada de cutina similar às do resto
da folha.

c) Entrada dos nutrientes na parede celular (apoplasto)


O apoplasto é constituído de um sistema contínuo de paredes celulares e
espaços intercelulares. Dessa forma, a parede celular é um espaço importante para a
absorção e o 88 transporte de nutrientes, já que estes penetram nos espaços
intercelulares após transporem a camada exterior da epiderme.

d) Absorção de nutrientes dentro da célula (simplasto)


Os princlpios fisiológicos da absorção de nutrientes minerais do apoplasto para
o interior das células, que constitui o simplasto, são similares aos que ocorrem

106
na absorção pelas raízes. No entanto, a absorção pelas folhas é mais dependente de
fatores externos, como a umidade relativa e a temperatura ambiente, do que a
absorção radicular.

e) Distribuição do nutriente dentro das folhas e sua translocação para outros


órgãos da planta.
O movimento e a translocação para fora das folhas, após a adubação foliar,
dependem do movimento do nutriente no floema e no xilema. Os nutrientes móveis
no floema, tais como potássio, fósforo, nitrogênio e magnésio se distribuem dentro
da folha tanto pelo xilema como pelo floema, e uma alta porcentagem do nutriente
absorvido pode ser transportado para fora da folha para outras partes da planta que
tenham uma alta demanda. O contrário ocorre com nutrientes de movimento
limitado no floema, tais como cobre, ferro e manganês, que se distribuem
principalmente pelo xilema dentro da folha sem uma translocação considerável fora
da folha. No caso do boro, a mobilidade dentro da planta depende muito do genótipo
da planta.
Estrutura de uma folha: em destaque a cutícula (parte adaxial) e os estômatos (parte abaxial).
3. QUELATOS
A quelatização é o processo que combina uma carga iônica positiva (cátion) de
zinco, manganês, ferro, cobre, magnésio, ou de cálcio com outra molécula orgânica
de carga negativa, chamada de “agente quelatizador”.
A molécula orgânica envolve o íon metálico carregando positivamente o cátion,
protegendo a nova forma quelada do cátion da agressividade química do solo ou no
tanque de dissolução do fertilizante solúvel.
Os nutrientes quelatizados são mais facilmente absorvidos pelas plantas do que
os mesmos nutrientes em formas não quelatizadas.
Estes compostos quelatizados inibem a ação de certos cátions altamente
reativos de metais, impedindo-os de formar reações químicas e formar compostos
insolúveis que são indisponíveis para as plantas.
Se por um lado, os quelatos usados em fertilizantes foliares precisam ter uma
ligação química, suficientemente forte para protegê-los de inesperadas reações
químicas, por outro, devem permitir a liberação de forma facilitada, quando
absorvidos pelas plantas.
Desta forma, quelatos incorporam íons de metal numa forma solúvel e
facilmente disponível às plantas, pois são altamente solúveis em água.
A quelatização é considerada a forma mais fácil de fornecer nutrientes as
plantas através da adubação foliar.
A quelatização é realizada para facilitar a entrada dos nutrientes na planta,
tornar as formulações mais estáveis na calda e também proteger os nutrientes que
caem no solo.
Os nutrientes quelados podem também ser misturados a defensivos, sem que
haja incompatibilidade.

108
Esquema ilustrativo da quelatização.

Não são todos os elementos que podem ser quelatizados: o nitrogênio, fósforo,
boro, molibdênio, enxofre e cloro não podem passar por esse processo.

4. CARACTERÍSTICAS DA ADUBAÇÃO FOLIAR


A adubação no solo fornece os principais macronutrientes para a planta de
forma bastante eficiente, como nitrogênio, fósforo e potássio (NPK). Entretanto,
durante o ciclo da cultura, pode haver deficiência de certos micronutrientes
essenciais, como boro, cálcio, zinco, manganês, cobalto ou selênio, que podem ser
complementados com o nutriente específico.
Os fertilizantes aplicados sobre as folhas são mais rapidamente assimilados
pela planta do que via solo. Porém, seu aproveitamento é de curto prazo. Portanto,
os nutrientes podem e, preferencialmente devem, ser utilizados em fases fenológicas
em que a planta tem capacidade de responder e aumentar a produtividade.
É importante que você saiba que a adubação foliar é utilizada de forma
associada à aplicação via solo, não para substituir, mas para complementar a
demanda de nutrientes.
Além disso, nas grandes culturas, existem três situações em que se indicam os
nutrientes aplicados por via foliar como:
109
 Adubação complementar: Reduz a quantidade de nutriente via solo e aplica
nutrientes via foliar no momento em que a planta mais necessita;
 Adubação suplementar: Vai utilizar nutriente a mais do que necessita com
objetivo de aumentar a produtividade, melhorar a resistência da planta a pragas e
doenças;
 Adubação corretiva: Quando são identificadas deficiências nutricionais após
análise foliar, as aplicações foliares devem ser feitas para garantir a produtividade.

A adubação foliar, comparada com a absorção de nutrientes através da raiz, é


bem mais rápida e eficaz, principalmente para micronutrientes quando estes se
encontram no solo em muito baixas concentrações. No entanto, deve-se considerar
que a intensidade da absorção pelas folhas é muito limitada pelas barreiras impostas
pelas características da planta, do ambiente e do produto a ser utilizado.
Dessa forma, não é adequado suprir os nutrientes requeridos pelas plantas
unicamente pela adubação foliar.
A velocidade de absorção foliar dos diferentes nutrientes é variável. O potássio,
os elementos secundários e os micronutrientes são absorvidos em períodos de horas
até 1 dia; já a velocidade de absorção do fósforo é mais lenta. Essas características
são extremamente importantes para a tomada de decisão, definindo quando realizar
a adubação foliar.
Existe uma série de fatores que interagem entre si e influenciam sobremaneira
a eficiência da adubação foliar, que são apresentados na Tabela 25.

110
TABELA 25. Fatores que influem na eficiência da adubação foliar
Fatores relacionados ao
Fatores relacionados à planta Fatores relacionados à solução
ambiente

Tipos de cera Temperatura Concentração


Idade da folha Luz Dose do fertilizante
Estômatos Fotoperíodo Técnicas de aplicação
Células-guarda Vento Agentes umectantes
Presença de tricomas Umidade pH
Superfície superior e inferior da
Seca Higroscopicidade
folha

Turgidez da folha Hora do dia Compostos utilizados


Potencial osmótico do meio
Umidade sobre a folha Propriedade de aderência da folha
que banha as raízes
Período de déficit de
Estado nutricional da folha Açúcares
nutrientes

Cultivar Equilíbrio nutricional


Estados fenológicos Umectantes e outras substâncias
Fonte: Camargo & Silva (1975); Malavolta (2006); Rosolém (1984); Rosolém & Boaretto (1989).

O efeito de quaisquer desses fatores varia com as condições tanto do solo como
do ambiente, o que pode tornar a resposta da adubação foliar muito variável e
complexa. O manejo de todos os fatores mencionados determinará a eficiência
agronômica da aplicação.
A adubação foliar poder ser afetada por fatores inerentes à planta, aos
nutrientes, às soluções pulverizantes e por fatores externos. Quanto aos fatores
relacionados à planta, podem-se destacar:

a) A estrutura da folha
Já que condições como cutícula fina, alta frequência de estômatos e número
elevado de ectodesmas podem favorecer a absorção de nutrientes. Além disso, a
absorção é menos intensa na página adaxial do que na abaxial.
111
b) A composição química da folha
Já que cutículas bem hidratadas são bastante permeáveis à água e aos
hidrossolúveis, bem como as substâncias lipoides penetram mais facilmente nas
folhas mais velhas.

c) A idade da folha
Uma vez que a absorção de nutrientes é mais intensa nas folhas novas do que
nas adultas e nas velhas.

d) O estado iônico interno


Já que a capacidade de absorção foliar pode ser limitada pela quantidade do
elemento já contido nas folhas.

Quanto aos fatores relacionados aos nutrientes, pode-se destacar:

a) A mobilidade
Já que os nutrientes podem ser classificados como móveis (nitrogênio, fósforo,
potássio, magnésio, cloro e molibdênio), parcialmente móveis (enxofre, cobre, ferro,
manganês e zinco) e imóveis (cálcio e boro) (Malavolta, 2006);

b) Interações entre nutrientes


Considerando a sinérgica, por exemplo, aplicações foliares de zinco com
nitrogênio, que aumentam significativamente as concentrações de zinco nas folhas
novas, ou, então, a antagônica, por exemplo, aplicações foliares de cobre e zinco, em
que o cobre deprime a absorção de zinco.
Quanto aos fatores inerentes às soluções pulverizantes, pode-se destacar:

112
a) A solubilidade dos nutrientes
Já que o conhecimento do grau de solubilidade dos sais evita a formação de
resíduos insolúveis nas folhas (injúrias).

a) A concentração da calda pulverizante


Uma vez que existem plantas que toleram concentrações relativamente
elevadas de sais sobre as folhas, ao passo que outras são injuriadas com baixas
concentrações. Conforme as condições, podem ser obtidos resultados muito mais
eficazes por meio de várias aplicações foliares em intervalos semanais, ou quinzenais,
com calda a baixas concentrações, do que com uma só aplicação de calda mais
concentrada.

b) As misturas de nutrientes e outros solutos


Considerando que caldas pulverizantes concentradas em sais podem causar
fitotoxidade, de modo que devem ser usados agentes protetores, sulfactantes,
espalhantes para aumentar a eficiência;

c) Efeitos do pH
Efeitos diretos na absorção e disponibilidade dos elementos.

Quanto aos fatores externos, pode-se destacar:

a) A luz
Já que a energia luminosa é utilizada na absorção iônica pelas células e favorece
também a translocação dos nutrientes. A luz intensifica a produção de cera superficial
da folha;

113
b) A disponibilidade de água no solo
Uma vez que planta com boa disponibilidade de água no solo mantém túrgidas
as células, favorecendo a penetração foliar dos nutrientes.

c) A temperatura
Em geral, a absorção aumenta com a elevação da temperatura e diminui com
seu abaixamento (metabolismo). A temperatura também favorece a evaporação na
superfície das folhas e aumenta a concentração dos nutrientes, o que favorece a
penetração de maior quantidade de íons no apoplasto (pode ser tóxico).

d) A umidade atmosférica
A absorção foliar é favorecida pela elevada umidade atmosférica, pois mantém
a cutícula hidratada. Alta umidade e baixa temperatura podem formar neblina ou
orvalho (a diluição pode inverter o gradiente) e podem prejudicar a absorção. A baixa
umidade favorece a evaporação e eleva a concentração a níveis tóxicos.

e) O modo de aplicação das pulverizações foliares


As pulverizações grosseiras produzem gotas muito grandes, molham em
excesso a folhagem e provocam o gotejamento e escorrimento da solução para o solo.

5. SOLUÇÃO DE NUTRIENTES
A entrada de um íon ou molécula na superfície da folha é o princípio da
adubação foliar. Além da pressão negativa no estômato e as injúrias nas cutículas das
folhas, a entrada da solução requer outros cuidados, principalmente com relação aos
nutrientes que serão disponibilizados na aplicação.

114
Os princípios para uma boa solução incluem formulação nutritiva, atomização
e transporte das gotículas formadas até a parte externa da planta, molhamento e
espalhamento da superfície da folha, retenção da solução e formação do depósito de
pulverização na planta, penetração e distribuição dos nutrientes.
Em quase todos os casos, a água é a matriz mais usual das adubações foliares.
Com isso, dependendo das características da superfície, o contato das gotas de água
pode ser limitado. Isso ocorre devido à característica hidrofóbica da superfície foliar.
A solução de nutrientes não é só uma mistura de água e sais. A calda aplicada
nas plantas há também agentes que melhoram a permanência da calda na folha e sua
absorção.

5.1. UMIDADE E TEMPERATURA DO AR


O cuidado com o ambiente é imprescindível. Em geral, temperaturas mais altas
facilitam a absorção da solução pela planta. Porém, elas podem causar a evaporação
da solução nutritiva, o que aumenta a concentração dos sais nas folhas a níveis que
podem ser tóxicos.
Umidade relativa do ar elevada é melhor para a absorção dos nutrientes, além
de manter a cutícula hidratada e evitar a evaporação da solução de nutrientes,
mantendo-os por mais tempo sobre a folha.

5.2. AGENTES PROTETORES


Uma forma de minimizar os efeitos tóxicos que os nutrientes podem causar nas
folhas é utilizar agentes protetores feitos com base em açúcares e magnésio, por
exemplo. Cabe testar um tipo de agente para cada cultura, após recomendação de
um técnico especializado.

115
5.3. AGENTES MOLHANTES E ESPALHANTES
Funcionam como detergentes, pois quebram a tensão supercial da gota da
solução que está sobre a folha. Com a menor tensão supercial, a solução ca mais
aderida à superfície da folha, permitindo o espalhamento da solução e o
umedecimento da superfície foliar. Além desses agentes, podemos citar vários outros,
com diferentes funções e especificidades.

TABELA 26. Adjuvantes disponíveis no mercado, classicados de acordo com seu


suposto modo de ação:
Nome do adjuvante no rótulo Modo de ação proposto
Surfactante Quebrar a tensão superficial
Agente molhante Quebrar a tensão superficial
Detergente Quebrar a tensão superficial
Espalhante Quebrar a tensão superficial
Adesivo Aumentar a retenção da solução; resistência à chuva;
Auxiliar de retenção Aumentar a retenção da solução; resistência à chuva;
Agente tamponante Tamponador de pH
Neutralizante Tamponador de pH
Acidificante Abaixar o pH
Penetrante Aumentar a taxa de penetração foliar, solubilizando componentes
cuticulares
Sinergista Aumentar a taxa de penetração foliar
Ativador Aumentar a taxa de penetração foliar
Agente de compatibilidade Aumentar a compatibilidade da formulação
Umectante Retardar a secagem da solução pelo abaixamento do ponto de
deliquescência da formulação da folha
Retardante de deriva Melhorar o direcionamento do pulverizado e a deposição no dossel
Minimizador de respingo Melhorar o direcionamento do pulverizado e a deposição no dossel
FONTE: Fernández V; Sotiropoulos T; Brown P; Adubação foliar: fundamentos cientícos e técnicas
de campo, 2015.

116
6. MÉTODOS DE APLICAÇÃO
Cada espécie vegetal possui características foliares diferenciadas em relação a
absorção foliar. As pulverizações grosseiras que produzem gotas muito grandes, que
molham em excesso a folhagem, provocam um gotejamento excessivo e o
escorrimento da solução para o solo, havendo, portanto, desperdício e diminuição
dos resultados esperados.
O uso de bicos pulverizadores de qualidade pode prevenir a formação de gotas
nas folhas que agem como uma lente para a luz do sol, podendo queimálas. Isso
ajudará também a maximizar a quantidade de gotículas que grudará nas folhas
aumentando a absorção.
Pulverizadores de baixo volume podem perder a eficiência. Diversas técnicas
devem ser utilizadas na tentativa de maximizar a absorção foliar de nutrientes que
depende basicamente do tipo de equipamento pulverizador. Deve-se tentar
pulverizar tanto na superfície inferior quanto a superior da folha, quando possível,
facilitando, assim, a absorção pelos dois lados da folha.
Fertilizantes foliares devem ser aplicados quando a planta não está captando
água em sua máxima potência. A aplicação de micronutrientes via foliar é melhor
realizada quando a planta está túrgida (sem déficit hídrico). Os momentos mais
críticos para a aplicação são momentos de grande esforço da planta que são os
períodos de grande crescimento ou quando a planta está saindo do seu estado
vegetativo e passando para um estado reprodutivo. A maioria das aplicações foliares
deve conter Nitrogênio para agir como um eletrólito carregando os íons de
micronutrientes para dentro da planta. Pequenas quantidades de Fósforo são
recomendadas para a circulação interna.
Para que não ocorra deriva dos produtos aplicados deve-se proceder da
seguinte maneira:

 Escolher bicos de pulverização que produzam gotas maiores;

117
 Utilizar baixa pressão para reduzir a quantidade de pequenas gotas (menor 100
microns). Em boas condições, regule a pressão entre 40-45psi;

 Reduzir a altura da barra de pulverização evitando, com a velocidade do vento,


maior deslocamento das gotas. Prefira bicos de ângulo 110º que permitem
executar trabalhos com altura da barra mais baixa (menor que 50 centímetros do
alvo);

 Utilizar bicos de pulverização com maior capacidade de vazão; - Aplicar somente


quando a velocidade do vento for menor que 10 Km/h;

 Não aplicar quando o ar estiver muito calmo ou haja inversão de correntes de ar


(inversão térmica);

 Usar adjuvantes quando necessário, pois eles diminuem a velocidade de


evaporação das gotas e aumentam o peso das mesmas, o que diminui o arrasto
pelo vento.

7. VANTAGENS E DESVANTAGENS
A adubação foliar pode ser utilizada com sucesso em agriculturas de baixa,
média e alta tecnologias. Ela ajuda a estabelecer o equilíbrio nutricional das plantas
na lavoura, ajustando os níveis foliares próximos ao ótimo. No entanto, como toda
técnica, a adubação foliar possui vantagens e desvantagens.

7.1. VANTAGENS
 Menores doses, quando comparadas a aplicações via solo;
 Fácil uniformização e distribuição;
 Rápida resposta de absorção;
 Correção de deficiências nutricionais no mesmo ciclo da cultura.

118
7.2. DESVANTAGENS
 Custo dos produtos e custo da aplicação extra pode ser mais elevado;
 Idade da folha: vegetações muito novas, que não estão totalmente desenvolvidas,
não têm a capacidade de absorção dos nutrientes e podem sofrer danos;
 Menor poder residual da disponibilidade de nutrientes;
 Podem ocorrer incompatibilidades com outros produtos.
FERTIRRIGAÇÃO

1. INTRODUÇÃO
A fertirrigação é uma técnica que objetiva a aplicação de fertilizantes no solo
via água, ou seja, é uma aplicação simultânea de nutrientes e água, através de
sistemas de irrigação.
A depender da realidade da propriedade, é uma forma um pouco mais
eficiente, tanto em aspectos técnicos, quanto em aspectos econômicos, para aplicar
fertilizantes às plantas, principalmente em regiões de clima árido e semiárido, pois
aplicando-se os fertilizantes em menor quantidade por vez, mas com maior
frequência, é possível manter um teor mais uniforme dos nutrientes no solo durante
todo o ciclo e fases fenológicas da cultura, uma vez que dessa forma é possível
aumentar a eficiência das plantas na absorção e uso dos nutrientes, e
consequentemente o aumento da produtividade.
Em resumo, a fertirrigação viabiliza o uso racional de fertilizantes na
agricultura. Uma vez que aumenta a eficiência do seu uso, reduz a mão de obra e o
custo com máquinas, além de flexibilizar a época de aplicação, podendo ser
fracionada conforme a necessidade da cultura.
Na fertirrigação, o tempo de chegada do fertilizante às raízes das plantas é
significativamente reduzido, em razão de que o fertilizante encontra-se misturado na
água que será aplicada ao solo compondo sua solução nutritiva.
Na aplicação convencional, os nutrientes sólidos são depositados próximo da
planta e na superfície do solo e há necessidade de chuva ou irrigação para entrarem
na solução do solo, podendo ou não ser interceptados pelo sistema radicular. Porém,
muitas vezes esses fertilizantes sólidos são depositados em posições que podem não
corresponder à região do solo de maior concentração de raízes.
2. COMPATIBILIDADE DE FERTILIZANTES
Ao preparar uma solução de fertilizantes que envolvem mais de uma fonte de
nutrientes, é obrigatória a verificação da compatibilidade desses fertilizantes, para
que sejam evitados alguns danos problemáticos, como por exemplo, o entupimento
das tubulações e emissores.
O cálcio, por exemplo, não pode ser injetado com um fertilizante que contém
sulfato. Esses cuidados devem ser ainda maiores, quando a água usada na irrigação
tem pH de neutro a alcalino, ou seja, quando as concentrações de Ca + Mg e de
bicarbonatos são maiores que 50 e 150 ppm, respectivamente. O ácido fosfórico não
pode ser injetado via água de irrigação que contenha mais que 50 ppm de cálcio e
nitrato de cálcio e em água que contenha mais de 5,0 meq.L-1 de HCO3-, pois poderá
formar precipitados de fosfato de cálcio.

TABELA 27. Compatibilidade entre os fertilizantes para fertirrigação.


FERTILIZANTE UR NA SA NC NK CK SK FA MS MQ SM AF AS AN
Ureia (UR) C C C C C C C C C C C C C
Nitrato de Amônio (NA) C C C C C C C C C C C C
Sulfato de Amônio (SA) I C C SR C C C C C C C
Nitrato de Cálcio (NC) C C I I I SR I I I C
Nitrato de Potássio (NK) C C C C C C C C C
Cloreto de Potássio (CK) SR C C C C C C C
Sulfato de Potássio (SK) C SR C SR C SR C
Fosfatos de Amônio: MAP e
I SR I C C C
DAP (FA)
Fe, Zn, Cu, Mn, Sulfato (MS) C C I C C
Fe, Zn, Cu, Mn, Quelato
C SR C I
(MQ)
Sulfato de Magnésio (SM) C C C
Ácido Fosfórico (AF) C C
Ácido Sulfúrico (AS) C
Ácido Nítrico (AN)
C = compatível; SR = solubilidade reduzida; I = incompatível. Fonte: Villas Bôas et al. (1999).

122
Os procedimentos adequados para aplicação de fertilizantes via água de
irrigação compreendem três etapas distintas. Durante a primeira etapa, deve
funcionar o sistema de irrigação durante um quarto do tempo de irrigação, para
equilibrar hidraulicamente as unidades de rega como um todo. Na segunda etapa, faz-
se a injeção dos fertilizantes no sistema de irrigação, através de equipamentos
apropriados. Na terceira etapa, o sistema deverá continuar funcionando, visando à
complementação do tempo total de irrigação, lavagem completa do sistema e carrear
os fertilizantes da superfície para camadas mais profundas do solo.
A fertirrigação depende da taxa de injeção de fertilizantes, do tempo de
irrigação por unidade de rega e dos tipos e doses de fertilizantes por unidade de rega.
Visto disso, deve também considerar as variedades utilizadas e suas respectivas fases
fenológicas. Como regra geral, dependendo da complexidade do desenho do sistema
de irrigação com relação à fertirrigação, recomenda-se iniciar o processo com
fertilizante potássico, seguido dos nitrogenados, administrando-se as quantidades
aplicadas por unidade de rega, com base no tempo de irrigação.
As propriedades que utilizam o ácido fosfórico como fonte de fósforo, devem
aplicá-lo no final da fertirrigação, pois pode, também, proporcionar a limpeza do
sistema. Caso os fertilizantes sejam aplicados na forma de mistura, as soluções devem
ser preparadas em separado e misturadas, na proporção desejada, de acordo com as
necessidades nutricionais das plantas.
Uma alternativa mais recente, no sentido de amenizar a complexidade da
injeção de fertilizantes, via água de irrigação, é a utilização de adutoras secundárias,
paralelas às adutoras das unidades de rega, cuja finalidade é transportar a solução ou
mistura concentrada até a entrada da unidade de rega específica.
Porém, é necessário que em cada unidade de rega, a injeção da solução seja
feita nos dois quartos intermediários do tempo de irrigação, pois a permanência do
nitrogênio na tubulação, após a fertirrigação, pode favorecer o desenvolvimento de
microorganismos que causam a obstrução dos emissores.
123
3. ASPECTOS BÁSICOS DA FERTIRRIGAÇÃO
3.1. APLICAÇÃO DE ÁGUA E FERTILIZANTES NA SUPERFÍCIE DO SOLO
O sucesso da fertirrigação depende da distribuição de água às plantas, o que
deve ocorrer do modo mais uniforme possível, isto é, o ideal é que todas as plantas
recebam a mesma quantidade de nutrientes. Isso pode ser possível desde que haja a
menor variação possível entre a vazão dos emissores para uma mesma pressão de
serviço e haja a menor variação possível de pressão nas linhas laterais e entre linhas
laterais de um mesmo setor irrigado. Keller e Karmeli (1975) sugerem uma variação
máxima de 5% na vazão dos emissores.
No uso de fertirrigação em aspersão convencional, deve-se espaçar as linhas
laterais e os aspersores de forma a obter o maior coeficiente de uniformidade de
distribuição e de aplicação de água possível. Na irrigação localizada, o uso de
emissores autocompensantes garante uma vazão uniforme na linha lateral,
minimizando o efeito da variação de pressão.
A fertirrigação se adequa muito melhor ao sistema de gotejamento que ao
sistema de microaspersão, porque no gotejamento o sistema radicular da cultura
coincide com as regiões de maiores valores de umidade do volume molhado gerado
por um ou mais gotejadores, otimizando com isso o aproveitamento dos fertilizantes.
Na microaspersão, o mesmo ocorre quando se usa um microaspersor por planta ou
quando se usa uma faixa molhada contínua; entretanto, é comum o uso de um
microaspersor para quatro plantas no caso de fruteiras como a bananeira e o
mamoeiro, cujo emissor é posicionado no centro das quatro plantas.
A distribuição individual da água próxima ao microaspersor tende a concentrar
água próxima a ele e consequentemente concentrar também os fertilizantes num raio
que, dependendo da vazão do emissor e do espaçamento entre plantas, pode não
promover uma distribuição correta dos fertilizantes, prejudicando a sua absorção
pelas plantas. No uso de um emissor para quatro

124
plantas, deve-se ater-se à escolha de um emissor que tenha um raio de ação
suficiente para aplicar os fertilizantes no entorno das plantas.

3.2. TRANSPORTE DOS SOLUTOS NO MEIO POROSO


A concentração e a distribuição de solutos no solo contribuem, em última
análise, para os rendimentos de uma cultura, o que requer o conhecimento da
distribuição e do movimento dos solutos dentro do volume molhado do solo. O
transporte de solutos no solo está inserido no movimento de água.
A convecção é um processo passivo de movimento de massas líquidas com
solutos dissolvidos em resposta a gradientes de potenciais, em que a água e o soluto
movimentam-se à mesma taxa.

3.3. DINÂMICA DOS NUTRIENTES NO VOLUME MOLHADO


A distribuição dos solutos no solo depende da sua mobilidade e das reações
com a matriz do solo a que estão sujeitos. Essas propriedades dependem dos solutos
no meio poroso e, portanto, do nutriente e da fonte de aplicação.

3.3.1. NITROGÊNIO
O nitrogênio pode ser aplicado via água de irrigação a partir de diferentes
fontes. Na fonte amídica, a ureia reage com a água (hidrólise), formando amônia
(NH3) e gás carbônico (CO2) pela ação da enzima urease, se estiver presente no solo.
Da hidrólise, resulta o íon amônio (NH4 +), que é adsorvido pelos coloides ou
partículas eletricamente carregadas (negativamente) do solo. O movimento desse íon
depende da sua concentração e da capacidade de troca catiônica do solo (CTC). Se a
CTC do solo for significativa, o próprio solo ajudará na retenção do movimento dos
íons de amônio.
Esses íons reagirão biologicamente no solo resultan do em nitratos, o que pode
ocorrer ao longo de duas a três semanas no solo, a temperaturas entre 25 °C e
125
30 °C. Todas as formas de amônio resultarão em nitratos. A nitrificação se desenvolve
melhor em condições de pH do solo entre 7 e 9,5. A aplicação de fontes amoniacais
em solos alcalinos, a altas temperaturas e umidades do solo baixas, implica
volatilização direta do amônio.
No uso de fontes de nitrogênio amoniacal, deve-se observar que o amônio é
um íon e que, uma vez lançado pelo emissor no volume molhado, o NH4 + será
adsorvido pelos coloides do solo que servirão de freio ao seu movimento, dando
continuação assim que se satisfizer a capacidade de troca catiônica do solo. Outro
ponto a ser observado é que a nitrificação requer a presença de bactérias aeróbicas.
Assim, a nitrificação não ocorre muito próxima do gotejador, onde as condições
tendem a ser anaeróbicas.
A nitrificação ocorrerá a distâncias maiores do emissor. As fontes nítricas, uma
vez aplicadas ao solo via água, hidrolizam-se liberando o NO3 - que é utilizado
diretamente pelas plantas (FASSBENDER, 1986).
Os nitratos são altamente solúveis em água e não são adsorvidos às partículas
do solo, o que os torna altamente móveis tanto por convecção como por difusão no
solo.
Dessa forma, após a transformação do amônio em nitrato, sucessivas irrigações
podem levar esses íons às bordas do volume molhado. Caso a irrigação seja feita de
forma a gerar perda por percolação, certamente haverá lixiviação de nitratos. Exceto
o nitrato de amônio, as demais fontes nítricas são neutras. Um ponto a ser observado
no uso das fontes de nitrogênio comuns em fertirrigação é o balanço catiônico-
aniônico na solução do solo.
Nesse balanço, um tipo de cátion ou ânion em excesso na solução poderá ser
mais absorvido pelas raízes, limitando a absorção de outros cátions importantes
(VIEIRA et al., 2001).
Caso se aplique nitrogênio na forma de NH4 + em excesso, isso provocará uma
redução da absorção dos outros cátions, K+, Ca2+ e Mg2+, bem como absorção
126
acima do normal de fosfatos, sulfatos e cloretos. O aumento de NO3 - na solução do
solo provoca a redução da absorção do fosfato e sulfatos e aumento da absorção de
K+, Ca2+ e Mg2+ (BURT et al., 1995).
As perdas de nitrogênio na fertirrigação podem ocorrer pela lixiviação ou em
razão da denitrificação biológica ou não biológica. Na denitrificação biológica, os
nitratos são reduzidos, convertendo-se em N2 gasoso ou óxido nitroso (N2 O) pela
ação de bactérias anaeróbicas do solo (ROLSTON et al., 1979).

(FASSBENDER, 1986)

As condições que favorecem essas transformações são umidades elevadas,


acima da capacidade de campo do solo, próximas ou na saturação. Essas condições
não são esperadas numa irrigação por aspersão. Na irrigação localizada, pode ocorrer
junto ao gotejador durante a irrigação, o que pode ser evitado se o tempo de
aplicação dos fertilizantes nitrogenados via água for pequeno dentro do tempo de
irrigação. Altos valores de pH do solo contribuem para essas transformações, e em pH
próximo de 4,8, tais transformações serão mínimas (FASSBENDER, 1986)
A denitrificação não biológica ocorre em razão de reações entre os
componentes nitrogenados inorgânicos presentes no solo e é muito importante no
caso do uso de fontes amoniacais e ureia. Essas transformações são favorecidas pela
elevação do pH do solo, principalmente para valores acima de 7, e baixas condições
de umidade. Na fertirrigação em condições de intervalos de irrigação maiores, como
na aspersão, essas perdas podem ser mais facilitadas do que na irrigação localizada,
onde os teores de umidade do solo se mantêm a níveis relativamente elevados
continuamente.

127
3.3.2. FÓSFORO
O fósforo tem suas restrições à aplicação via água de irrigação pela sua
característica de adsorção à matriz do solo, com consequente baixa mobilidade e
enorme possibilidade de precipitação dos fosfatos (CHASE, 1985; HAYNES, 1985). Se
aplicado na superfície do solo em forma sólida, não se move mais que 3 cm; porém,
em condições de fertirrigação, pesquisas têm registrado movimento de 0,20 m, tanto
horizontal como vertical em profundidade, a partir de um gotejador, num solo franco-
arenoso (ROLSTON et al., 1979). Rauschkoub et al. (1976) aplicaram ortofosfato em
solo franco-argiloso, via irrigação por gotejamento, e observaram que o mesmo se
moveu à distância horizontal do emissor de 0,25 m e à profundidade de 0,30 m,
concordando com Maciel (1998).
O fósforo requer cuidados na aplicação, principalmente no caso de águas com
alto teor de cálcio e magnésio. O uso de ácido fosfórico, nesses casos, mantém baixo
o pH durante a fertirrigação, evitando formação de precipitados no sistema de
irrigação (ROLSTON et al., 1979).
Os sistemas de irrigação localizados são os mais adequados à aplicação de
fósforo via fertirrigação, principalmente o gotejamento, que localiza ainda mais a
aplicação à zona radicular. De toda forma, o fósforo aplicado via fertirrigação em
gotejamento enterrado tem grandes chances de aumentar o desempenho do
nutriente, uma vez que este é depositado dentro da zona de maior atividade do
sistema radicular (BAR-YOSEF, 1999).

3.3.3. POTÁSSIO
O potássio pode ser usado na fertirrigação sem problemas de entupimentos, a
partir das fontes comumente disponíveis para tal fim, mesmo sólidas. A sua
movimentação no solo vai depender da concentração e da CTC do solo, mas, uma vez
saturadas as superfícies de adsorção, haverá menor impedimento à
128
movimentação dos íons. Pesquisas têm mostrado que o potássio aplicado via
gotejamento tem resultado em avanços laterais e verticais do nutriente de 0,60 m a
0,75 m de distância do emissor (ROLSTON et al., 1979).
Avaliações da distribuição do potássio no volume molhado do solo gerado pela
microaspersão em bananeira mostraram que as maiores incidências do nutriente e as
suas maiores variações com o tempo ocorreram até 0,40 m de profundidade no perfil
do solo (SILVA et al., 2002).

3.3.4. MICRONUTRIENTES
Os micronutrientes, tais como ferro, zinco, cobre e manganês, podem reagir
com os sais da água de irrigação, ocasionando formação de precipitados. Assim, seu
uso deve ser feito na forma de quelatos como o ácido etileno diamino triacético
(EDTA), ácido dietileno triamino penta-acético (DTPA) e outros (ROLSTON et al.,
1979), ficando solúveis e mais móveis que na condição original, uma vez que o uso de
quelatos evita a adsorção e a precipitação dos íons. Mesmo assim, com o uso de
quelatos, há possibilidade de que o micronutriente se desprenda e seja substituído
por outros íons, ficando imóvel no solo.

3.4. ABSORSÃO DE NUTRIENTES PELAS RAÍZES NA FERTIRRIGAÇÃO


A absorção de nutrientes pelo sistema radicular depende, entre outros, dos
seguintes fatores, segundo Bar-Yosef (1977):
a) taxa de absorção diária de nutrientes;
b) relação entre a concentração de nutrientes na solução do solo e a taxa de
absorção;
c) necessidade diária das plantas.

Pode-se dizer também que a absorção de nutrientes no solo depende da


disponibilidade do nutriente na solução do solo e da sua concentração na solução. A
129
disponibilidade dos nutrientes depende da sua concentração na solução e da sua
união ou adsorção ao solo (JUNGK, 1996).
O movimento dos nutrientes para as raízes é considerado de baixa velocidade
e se dá a curtas distâncias, visto que a solução do solo se encontra dentro do sistema
capilar tortuoso do solo, muitas vezes não interceptado por raízes. A absorção dos
nutrientes pela raiz depende da sua concentração no entorno da raiz e da cinética de
absorção da raiz.
O contato entre a raiz e a solução do solo, necessário para ocorrer a absorção,
dáse tanto pela interceptação da raiz na solução do solo como pelo transporte dos
nutrientes do solo para a raiz pela convecção ou fluxo de massa (predominante) e
pela difusão (JUNGK, 1996).
A quantidade de nutrientes absorvida pode ser tomada por meio do produto
do volume de água absorvido na transpiração pela concentração de nutrientes na
solução de equilíbrio do solo. Bar-Yosef (1977) observou, numa aplicação de
nitrogênio em tomate, em solo arenoso, que 30% a 50% do total aplicado foi
absorvido pelas raízes. As perdas ocorreram em razão da lixiviação e da baixa
concentração de N na zona radicular, o que reduziu a absorção. A concentração de
nutrientes no entorno das raízes constitui o principal fator determinante da absorção
(BAR-YOSEF, 1977; JUNGK, 1996).
Existe, portanto, uma concentração adequada de nutrientes na solução de solo,
no volume molhado, que otimiza a absorção, cujas concentrações inferiores ou
superiores fazem-na reduzir. A absorção do fósforo pelas raízes aumentou com a
aplicação em taxas razoáveis, o que promoveu elevação da concentração do nutriente
junto à superfície das raízes e, consequentemente, aumentou a difusão do nutriente
no volume molhado (CHASE, 1985).

130
3.5. IMPACTOS NO SOLO
A salinização é um processo com potencialidades em condições de cultivos
protegidos em virtude do uso intensivo da adubação, da falta de chuvas ou irrigação
para lixiviar o excesso de fertilizantes e da contínua evaporação da água do solo (DIAS,
2004).
O manejo inadequado da irrigação e da adubação via água de irrigação constitui
uma das principais causas de salinização nas condições de cultivos protegidos. Dias et
al. (2005) observaram, no período de maior exigência nutricional da cultura do
meloeiro, incrementos de ate 1,60 dS m-1 na salinidade da água de irrigação por causa
da fertirrigação em um Luvissolo cultivado com melão fertirrigado, fato que elevou
significativamente a salinidade do solo.
Medeiros (2001) constatou elevação da salinidade de um solo do nível não
salino para moderadamente salino e salino, respectivamente, pelo uso de
fertirrigação em condições de cultivos protegido
ADUBAÇÃO VERDE

1. INTRODUÇÃO
A adubação verde é uma técnica agrícola que promove a reciclagem de
nutrientes do solo por meio do plantio de determinadas espécies de plantas,
preferencialmente as espécies que pertencem à família das leguminosas, gramíneas,
crucíferas ou de cereais a m de tornar o solo mais fértil. Esta técnica visa recuperar
solos degradados, melhorar solos pobres e conservar os que já são altamente
produtivos.

1.1. SOBRE CULTURAS DE COBERTURA


Culturas de coberturas são plantas cultivadas com a finalidade de criar uma
camada de proteção no solo e melhorar a infiltração de água. Essa camada sobre o
solo ajuda a caracterizar o plantio direto, fazendo com que tenhamos mais umidade
e menos erosão na nossa propriedade.
A palhada também ajuda a suprimir as plantas daninhas pelo seu efeito físico,
alelopático (podem liberar substâncias que prejudicam as invasoras) e biológico.
As culturas de cobertura apresentam algumas vantagens nos solos, dentre elas
podemos citar as principais:
 Cobertura do solo com grande quantia de massa verde;
 Proteção do solo contra variações bruscas de temperatura;
 Redução da infestação de plantas daninhas, com alguns trabalhos indicando que
o plantio direto reduz em até 85% da infestação;
 Aumentar a capacidade de retenção nutrientes do solo;
 Proteção do solo contra erosão e lixiviação de nutrientes;
 Melhoria da biodiversidade dos solos.

2. ADUBAÇÃO VERDE NA PRÁTICA


Essa técnica também é utilizada tanto na agricultura em geral, quanto na
criação de florestas nobres. Há duas formas de se plantar os adubos verdes, que seria
por meio do plantio consorciado ou o plantio no local com posterior incorporação
dessas plantas no solo. Após essa incorporação, as mudas principais são plantadas.
Quando tratamos de florestas de mogno africano, é indicado o plantio da leguminosa
crotalária ou da gramínea sorgo volumoso no processo de preparo do terreno para
plantio dessas espécies. A recomendação é de que seja plantada 30 kg de sementes
do mix das espécies citadas acima a lanço ou com semeadeira por hectare em plantios
com mais de 6 meses de idade ou antes de receber as mudas principais. Esta
leguminosa cresce 1 metro por mês e leva de 3 a 4 meses para ser incorporada ao
solo por meio da gradagem. Desta forma, o produtor poderá fazer a
calagem/gessagem e plantar a crotalária de imediato.
A crotalária e o sorgo volumoso são as favoritas entre os agricultores e
silvicultores por apresentar alto desempenho na fixação de nitrogênio no solo. A
vantagem do sorgo é que suas raízes são longas e capazes de fixar esses nutrientes no
fundo do solo, onde as raízes das mudas florestais estarão quando adultas, trazendo
umidade ideal para seu desenvolvimento. Além disso, são altamente produtivas em
biomassa: 1 hectare deste adubo é equivalente a 50 a 100 toneladas de massa vegetal
em 1 ano. Segundo estudo realizado pela Embrapa na região do estado do Pará foi
obtido a média dos seguintes resultados por meio do plantio de crotalária:

TABELA 28. Média de resultados por meio do plantio de crotalária.


M. Verde M. Seca Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio
Leguminosa
(t/ha) (t/ha) (Kg/ha) (Kg/ha) (Kg/ha) (Kg/ha)

C.ssp 18,2 3,9 70,5 10 170,5 50


Fonte: ADAPTADO DE LOPES,Otávio Manoel Nunes. Embrapa Amazônia, Altamira/PA, 2000.

2.1. CARACTERÍSTICAS DAS PLANTAS


As plantas de cobertura, ou adubo verde, têm características que as tornam
benéficas, o que justifica sua utilização, contribuindo para melhoria do solo do talhão
ou área em que é empregada. Estas características são variadas e devem se adequar
para cada sistema de cultivo.
Estas plantas devem ser rústicas, produzindo sementes em grande quantidade
e de fácil obtenção. Isso é importante para o que o agricultor possa realizar um
manejo simplificado, sem a necessidade de adquirir maquinários específicos, o que
representaria gastos adicionais.
O desenvolvimento inicial intenso e sistema radicular vigoroso são ótimas
características que permitem um fechamento rápido da área. Essa característica
também contribui para o controle de plantas daninhas por supressão ou competição.
A adaptabilidade da planta ao clima e à fertilidade do solo é fundamental para
que ela cresça adequadamente. Ainda que rústicas, é importante garantir uma
condição mínima para sua nutrição, o que contribui para o seu melhor desempenho
e a obtenção dos benefícios almejados.
O conhecimento da fenologia e do hábito de crescimento é extremamente
importante para o planejamento de uso da adubação verde. Essas características
devem ser observadas para a modulação de um sistema, onde os adubos verdes
possam ser utilizados em consórcio, rotação ou sucessão com os cultivos econômicos,
sem que haja prejuízos por competição ou danos na colheita.
A relação C/N é uma característica dos adubos verdes que deve ser muito bem
observada. Plantas da família das leguminosas produzem uma palhada de baixa
relação C/N, facilmente degradada pelos microorganismos do solo, que ao
encerrarem sua decomposição disponibilizam os nutrientes que estavam na

135
palhada. Já as plantas da família das gramíneas produzem uma biomassa de alta
relação C/N, de difícil degradação. Devido a essa característica, é comum observar a
imobilização de nitrogênio do solo pelos microorganismos durante a decomposição
da palhada, o que pode prejudicar os cultivos agrícolas. Além desses aspectos,
palhadas de maior relação C/N oferecem melhor proteção do solo por ficarem mais
tempo recobrindo sua superfície.
Outra característica importante é a sanidade dos adubos verdes, os quais não
devem possuir pragas e patógenos em comum com a cultura principal. Pelo contrário,
é interessante que contribuam com o controle ou redução da pressão de patógenos,
ajudando a manter a cultura principal protegida. Um exemplo típico é o caso das
crotalárias, que funcionam como plantas armadilha, reduzindo a população de
algumas espécies de nematóides de solo.

2.1.1. LEGUMINOSAS NA ADUBAÇÃO VERDE


As leguminosas são famosas devido a sua capacidade de realização de FBN.
Podem se associar às bactérias do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium que fixam o
nitrogênio atmosférico.

TABELA 29. Quantidade de Kg de N por hectare para cada espécie.


ESPÉCIE ADUBO VERDE* (kg de N/ha)
Calopogônio 247
Crotalária Breviflora 65
Crotalária Juncea 200
Crotalária Ochroleuca 53
Crotalária Mucronata 89
Crotalária Spectabilis 40
Ervilhaca 80
Feijão de Porco 53
136
Feijão Guandu Anão 65
Feijão Guandu 60
Labe-Labe 44
Mucuna Anã 33
Mucuna Cinza e Mucuna Preta 113
Soja Perene 40
Tremoço Branco 100
* Cálculo referente a dois terços do nitrogênio encontrado na parte aérea das leguminosas acima.
Fonte: Carlos et al., 2006).

Algumas ainda, como certas espécies de crotalárias, possuem como


característica o controle de nematóides.
A palhada das leguminosas possuem menor relação C/N, o que auxilia na rápida
disponibilização de nutrientes às culturas subsequentes. Dentre os exemplos,
destacam-se:
 Feijão-de-porco;
 Feijão guandu;
 Ervilhaca;
 Crotalárias;
 Mucuna preta;
 Lab-lab e outros.

2.1.2. GRAMÍNEAS NA ADUBAÇÃO VERDE


A família das gramíneas apresentam elevado potencial de produção de matéria
verde, mesmo em solos de baixa fertilidade.
Além disso, contam com bom desenvolvimento radicular superficial, o que
favorece a atividade dos micro-organismos.

137
As gramíneas geram uma cobertura residual mais estável, o que beneficia ao
maior acúmulo de matéria orgânica nos solos.
A utilização das gramíneas mais utilizadas são:
 Aveia;
 Milheto;
 Capim Tanzânia;
 Capim Mombaça entre outros.

2.2. BENEFÍCIOS
O cultivo periódico de plantas de cobertura, ou adubos verdes, traz uma série
de benefícios, excepcionalmente no que diz respeito às qualidades físicas, químicas e
biológicas do solo. De acordo com Potafós (2005), o uso da adubação verde apresenta
os seguintes benefícios:
 Proteção contra a erosão do solo. Com o terreno coberto com planta ou palha, a
energia das gotas de chuva é dissipada, impedindo a desagregação do solo e
evitando o selamento superficial;
 Aumento da infiltração de água no corpo do solo, possibilitando maior
armazenamento e evitando o escorrimento superficial;
 Possibilidade de aumentar a matéria orgânica do solo, pelo uso contínuo dessa
prática;
 Diminuição da amplitude de variação térmica do solo, mantendo a temperatura
mais amena, o que permite o crescimento dos microrganismos e o retorno da vida
no solo;
 Papel de arado biológico, uma vez que as raízes dessas plantas normalmente são
profundas e a sua decomposição futura cria galerias e macroporos, que são
interessantes para promover o crescimento de microrganismos em profundidade
e com isso romper barreiras físicas do solo;

138
 Promoção da reciclagem de nutrientes pelo crescimento vigoroso do sistema
radicular, que tem capacidade de explorar um volume maior de solo e com isso
promover eficiente reciclagem de nutrientes;
 Promoção de aumento da CTC efetiva do solo e da disponibilidade de macro e
micronutrientes;
 Colaboração com a diminuição da acidez potencial do solo, com consequente
aumento na soma de bases e no V%;
 Fornecimento de nitrogênio no caso de utilizar leguminosas (Fabaceae), para as
culturas seguintes pelo processo de fixação biológica do nitrogênio;
 Atuação na redução da população de plantas daninhas pelos processos de supressão
e alelopatia. Nesse caso, é preciso um conhecimento das relações entre espécies;
 Melhoria da eficiência no aproveitamento de adubos minerais pelas culturas
seguintes e diminui a lixiviação de nutrientes, principalmente de nitrogênio;
 Promoção da integração das atividades agrícolas, uma vez que algumas plantas de
cobertura podem ser utilizadas como forragem na alimentação de animais;
 Atuação no controle de fitonematóides, principalmente aqueles formadores de
galhas e cistos, e na redução de inóculos de doenças e pragas, atuando na quebra
do ciclo.

2.3. CUIDADOS
O emprego dos adubos verdes deve ser bem planejado para evitar possíveis
malefícios ou prejuízos com o seu uso.
As espécies utilizadas não devem apresentar dormência de sementes, sendo
que em seu manejo é importante que sejam eliminadas antes de produzirem
sementes viáveis. É necessário também que sejam de fácil eliminação. Tais cuidados
devem ser tomados para que estas plantas não venham a se tornar plantas
indesejáveis.
139
No caso de serem empregadas como cultivo intercalar, é importante observar
o hábito de crescimento e vigor das plantas, para que não venham competir por
recursos com a cultura agrícola, ou prejudicar a execução de algum trato cultural.
Além disso, as plantas utilizadas devem ter boa sanidade e não hospedar pragas ou
doenças que possam vir a prejudicar a cultivo agrícola.
Deve-se também se atentar ao corte das plantas, já que o corte tardio permite
que as espécies introduzidas produzam sementes que serão liberadas no solo. Essas
sementes vão germinar durante sua safra, transformando em plantas daninhas na sua
lavoura. Assim, ao invés de melhorar a rentabilidade da propriedade, estaremos
prejudicando ainda mais.
Por isso ter um bom manejo de plantas daninhas para este sistema é crucial no
resultado final. Além disso, cortes tardios promovem decomposição mais lenta, pois
altos teores de lignina e celulose estão presentes nas plantas.
Cortes precoces favorecem o processo de decomposição das plantas, pois seus
caules e folhas mais novas contém mais elementos minerais que serão de grande
importância às plantas que serão introduzidas posteriormente.
Atente-se também para época ideal de cultivo para cada espécie:

TABELA 30. Épocas de plantio para diversas culturas na adubação verde.


Épocas de Plantio
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Aveias P I I P
Azevém P I I P
Calopogônio P P P P I I P
Crotalárias P I I I
Ervilhaca P I I P
Feijão de Porco P P P P I I P
Feijão Guandu P I I P
140
Anão
Feijão Guandu P P P P I I P
Girassol I P P P P I
Labe-Labe P P P P I I P
Milheto P P P P I I P
Macunas P I I P
Nabo Forrageiro P I I P
Soja Perene P P P P I I P
Tremoço Branco P I I P
I = Época IDEAL para plantio; P = Época POSSÍVEL para plantio, ou seja, sem rendimento máximo de
massa verde e tem restrições de acordo com a região.
Fonte: Carlos et al., 2006).

141
SISTEMA DE PLANTIO DIRETO

1. INTRODUÇÃO
As primeiras informações técnicas, sobre o Sistema de Plantio Direto, geradas
pela pesquisa, que surgiram imediatamente após a introdução do sistema no país
foram relativas à sua elevada eficiéncia no controle de erosão. A partir desses
resultados, somados aos conhecimentos proporcionados pelas experiências
individuais dos produtores, pioneiros adotantes, o plantio direto passou ordenado de
ações, cujo resultado almejado é a sustentabilidade do negdcio agrícola. Portanto, o
sistema plantio direto busca expressar o potencial genético das culturas em sua
plenitude, através da maximizacão do fator ambiente e do fator solo, reduzindo,
contudo, a degradacão dos recursos naturais.
Para tal, o sucesso do sistema plantio direto depende de um conjunto de acões
fundamentais que servem de requisitos para sua implantacão e sua continuidade.
Entre esses requisitos, destacam-se aqueles considerados mais essenciais,
procurando fornecer subsídios ao usuário, de modo que sejam enfocados nas
operacões de implantação e manejo do sistema, na forma mais adequada possível. As
acões consideradas requisitos para sucesso do sistema plantio direto são:
sistematização da lavoura; manejo da fertilidade do solo; planejamento de um
sistema de rotacão de culturas; manejo de restos culturais e de culturas de cobertura
de solo; estrutura de máquinas e implementos; e assistência técnica e atualizacão do
usuário.

2. SISTEMATIZAÇÃO DA LAVOURA
Na grande maioria dos casos, as lavouras nas quais se pretende implantar o
sistema plantio direto apresentam sulcos ou depressões no terreno decorrentes de
processos erosivos que sofreram quando submetidas a métodos de manejo de solo
sob intensa mobilizacão da camada arável. Essas "cicatrizes" de erosão têm como
142
inconvenientes concentrar enxurradas e provocar transtornos ao livre tráfego de
máquinas na lavoura, além de constituírem manchas de solo de menor fertilidade em
relação ao restante da área, cujas conseqüências são a seguir abordadas:

 na ocorrência de chuvas intensas que superam a capacidade de infiltração de água


no solo, formam-se enxurradas, as quais, quando concentradas em determinados
pontos do terreno, têm maior capacidade de transporte, elevando os riscos de
perdas de palha, de solo, de nutrientes e de outros insumos, contribuindo para a
contaminação de mananciais;
 a obstrução do livre tráfego de máquinas na lavoura, provocada por sulcos e
depressões do terreno, afeta sobremaneira a qualidade e o rendimento
operacional das atividades de pulverização, de semeadura e de colheita;
 manchas de solo de menor fertilidade são tratadas de forma similar a usada na
lavoura como um todo, recebendo quantidades proporcionais de insumos e de
horas-máquina em relação ao restante da área, porém não proporcionam a
mesma produtividade, constituindo pontos de contribuição para a elevação dos
custos de produção e de aumento de riscos de danos lavoura.

A eliminação desses obstáculos pode ser viabilizada de numerosas formas. O


emprego de plainas ou motoniveladoras é altamente eficiente, porém escarificações
seguidas de gradagens são práticas que podem solucionar a grande maioria dos casos.

3. DESCOMPACTAÇÃO DO SOLO
A degradação da estrutura de um solo normalmente é expressa pela redução
e/ou descontinuidade de sua porosidade. Tais alteracões físicas no perfil de solo são
conseqüências do emprego de técnicas inadequadas de manejo de solo e de culturas
no sistema de produção. Os métodos de preparo de solo que mobilizam
143
intensamente a camada arável são os principais promotores dessas alterações flsicas,
uma vez que fracionam mecanicamente os macroagregados e debilitam sua
estabilidade; pela elevação da taxa de oxidação da matéria orgânica.
Os processos de fracionamento e de desestabilização de macroagregados,
associados a eluviação de argilas dispersas e ao intenso tráfego de máquinas agrícolas
na lavoura, promovem aproximação das partículas do solo, resultando na eliminação
e/ou descontinuidade de seus poros, conseqüentemente elevando a massa de sólidos
por unidade de volume, ou seja, aumentando sua densidade.
A ocorrência desses processos na camada superficial do solo manifesta-se por
meio de um fenômeno denominado encrostamento superficial, o qual reduz a taxa
de infiltraçáo de água, aumenta a enxurrada, dificulta a livre emergência de plântulas
e eleva os riscos de erosão. Na camada subsuperficial do solo, esses processos são
detectados pela presenga de uma camada de maior densidade no perfil,
normalmente chamada camada compactada. A camada compactada reduz a
capacidade de armazenamento de água, reduz a disponibilidade da água estocada
para plantas, reduz a taxa de mobilização da água no perfil do solo, reduz a taxa de
troca gasosa do solo com a atmosfera e limita o desenvolvimento radicular de
culturas.
Solos que apresentam essas características, além de serem altamente
suscetíveis à erosão, mesmo em períodos curtos de estiagem promovem sintomas de
deficiência hídrica em plantas. A cobertura vegetal permanente do solo, seja por
culturas vivas, seja por restos culturais, associada a redução da intensidade de
mobilizacão do solo, constituem as técnicas mais eficazes para solucionar e prevenir
o fenômeno do encrostamento superficial do solo.
Contudo, para solucionar o problema da camada compactada sáo necessárias
técnicas mais complexas.

144
4. DIAGNÓSTICO DA CAMADA COMPACTADA
A camada compactada de um solo, resultante do manejo agrícola inadequado,
normalmente situa-se na profundidade de 7 a 25 cm. O método mais apropriado para
deteccão de sua presença em determinado solo é o exame do sistema radicular de
plantas. Preferencialmente, esse exame deve ser realizado no estádio de máximo
desenvolvimento vegetativo da cultura, observando-se a morfologia das raízes. Na
camada compactada a densidade de raízes é reduzida e estas podem apresentar
deformacões, como tortuosidade, não característica da planta, e perda da secão
cilíndrica, passando a assumir secões achatadas. Essa sintomatologia corresponde aos
esforços da planta para vencer as restrkões impostas pelas condicões fisicas do solo.
O método mais difundido e mais simples de ser executado, não dependendo
de época apropriada para aplicacão, é o do exame do perfil de solo em pequenas
trincheiras. Em trincheiras, com dimensões de 30 crn de lado por 50 cm de
profundidade, abertas em vários pontos da lavoura, a camada compactada pode ser
identificada por meio do aspecto morfológico da estrutura do solo e/ou pela
resistência que o solo oferece ao toque com qualquer instrumento pontiagudo. Os
toques com o instrumento pontiagudo são efetuados a partir da superfície do solo
até o limite inferior da trincheira, anotando-se as profundidades em que-inicia e
termina a maior resistência do solo ao toque.
Para que a camada compactada seja identificada pela análise morfológica da
estrutura do solo, é indispensável o conhecimento da estrutura natural do solo em
observacão, especialmente quanto ao tipo de estrutura e B forma das unidades
estruturais (macroagregados) desse solo.
A estrutura natural do solo pode ser conhecida realizando-se esse mesmo
procedimento em áreas adjacentes a lavoura, ainda sob vegetação natural e
pertencentes a mesma unidade de solo. O penetrômetro e o penetrógrafo são
instrumentos que podem ser usados para identificacão e localizacão da camada
145
compactada em um perfil de solo. Esses aparelhos são basicamente constituídos por
uma haste metálica e um manômetro. O principio de funcionamento desses
aparelhos, para localização de camada compactada, baseia-se no registro da variação
da força necessária para introdução da haste no solo; na medida em que a haste vai
sendo introduzida no solo, o manômetro vai indicando variacóes de forca despendida,
registrando-se a profundidade de início da camada compactada na qual demanda de
força sofre grande incremento e o fim desta, quando essa forca cessa.

5. OPERAÇÃO DE DESCOMPACTAÇÃO DO SOLO


A operação de descompactacáo tem por objetivo aumentara porosidade do
solo, reduzindo sua densidade e elevando a estabilidade de seus agregados, ao
mesmo tempo em que rompe camadas superficiais encrostadas e camadas
subsuperficiais adensadas. Conseqüentemente, a descompactacão facilita o
desenvolvimento radicular de plantas, eleva a taxa de infiltração e a capacidade de
armazenamento de água, aumenta a permeabilidade do solo, facilitando a
mobilizaçáo da água no perfil e as trocas gasosas com a atmosfera, e reduz enxurradas
e riscos de erosão.
Qualquer implemento de discos ou de hastes, capaz de operar a profundidades
maiores do que a da camada compactada, pode descompactar o solo. Entretanto,
implementos de hastes (escarificadores) são mais indicados pelo menor poder de
desagregação do solo e pela menor superfície de contato do implemento com o solo,
no limite da profundidade de operação. Escarificadores equipados com hastes
inclinadas para frente, formando ângulo de 20 a 25 graus com a superflcie do solo, e
com ponteiras de largura inferior a 7 cm, são mais indicados pela maior facilidade de
penetração no solo e por exigirem menos potência de tração. O sucesso da operação
de descompactação depende de alguns fatores essenciais.

146
 Umidade do solo: a operação de descompactação do solo é eficaz quando
realizada com o solo na faixa de umidade equivalente a da friabilidade. Em campo,
essa faixa de umidade pode ser facilmente identificada. Coleta-se, a 10 cm de
profundidade, um torrão de solo de aproximadamente 2 a 5 cm de diâmetro e
exerce-se sobre ele leve pressão entre os dedos polegar e indicador. Se o torrão
desagregar-se, sem oferecer grande resistência e sem moldar-se ao formato dos
dedos, o solo encontrase com umidade na faixa de friabilidade.

 Profundidade de trabalho: o implemento descompactador deve ser regulado para


operar a aproximadamente 5 cm abaixo do limite inferior da camada compactada.

 Espaçamento entre as hastes do escarificador: na operação de descompactação


do solo é indispensável a interação entre hastes do escarificador. Cada haste
possui uma capacidade limitada de ruptura do solo. Portanto, o espaçamento
entre uma haste e outra determina o grau de descompactacão do solo pelo
implemento. De modo geral, essa interação entre ponteiras é obtida quando o
espaçamento entre hastes for igual a 1,25 vez a profundidade de operação. Essa
relação é válida para condições de solo com umidade na faixa de friabilidade e para
ponteiras de aproximadamente 6 cm de largura. Para ponteiras mais largas, ou
equipadas com asas laterais, a relação é maior, podendo ser 1,5, 2,O ou até mesmo
2,5. Entretanto, a largura da ponteira está diretamente relacionada com a
intensidade de mobilização do solo e com o tamanho de torrões gerados durante
a operação de descompactação; quanto mais larga, maior será a intensidade de
mobilizacão e de entorroamento do solo.

 Adição de material orgânico ao solo descompactado: a ruptura da camada


compactada pelo implemento agrícola, por si só, não garante os efeitos
147
benéficos esperados dessa técnica. Em seqüência imediata a operação mecânica
de descompactação, é indispensável estabelecer uma cultura densa, com
abundante sistema radicular e elevada produção de matéria seca. Entre as culturas
com essas características destacam-se as aveias e o azevém, no outono- inverno,
e o capim italiano, na primaveraverão. O abundante sistema radicular dessas
culturas tem por função preencher a macroporosidade gerada pela operação de
descompactação e conseqüentemente promover a reagregação do solo e a
estabilização dos agregados, assegurando a redução da densidade do solo e
prevenindo-o contra o processo de recompactação.

6. PLANEJAMENTO DE UM SISTEMA DE ROTAÇÃO DE CULTURAS


O plantio direto, sob o conceito de sistema de exploração agropecuário, tem
por objetivos a geração de produtos e, conseqüentemente, de renda. A
sustentabilidade de um sistema de produção não está embasada exclusivamente no
aspecto ecoldgico nem preocupada apenas com a degradacão e com a eros8o do solo,
mas também em aspectos econômicos e sociais a ele associados. A rotação de
culturas, em virtude de seus benefícios conservacionistas e econõmicos, discutidos
em capítulo específico, constitui requisito fundamental para viabilização do sistema
plantio direto como negócio agrícola sustentável.
Portanto, o tipo e a freqüência das espécies contempladas no planejamento do
sistema de rotação de culturas devem atender tanto aos aspectos técnicos, que
objetivam a conservação do solo e a preservação ambienta/, como aos aspectos
econõmicos e comerciais, compatíveis com os sistemas de producão regionalmente
praticados.
O planejamento da seqüência de espécies dentro do esquema de rotação de
culturas deve considerar, basicamente, além do potencial de rentabilidade do
sistema, o histórico e o estado atual da lavoura, atentando para aspectos de
fertilidade do solo, de exigência nutricional e de suscetibilidade a fitopatógenos de
148
cada cultura, de infestação de pragas, de doenças e de plantas daninhas e de
disponibilidade de equipamentos para manejo de culturas e de restos culturais. A
alternância de culturas de diferentes famílias, ou de espécies com diferenciado grau
de suscetibilidade a pragas e a doenças e com variado comportamento ante a
problemas relacionados com o controle de plantas daninhas são aspectos desejados
no planejamento da rotação, por potencializarem a reduçáo de uso de insumos e,
consequentemente, a sustentabilidade do sistema.
A diversidade de espécies passíveis de integrar sistemas de rotação de culturas
no Brasil é ampla, sendo o planejamento dependente das características regionais. O
arranjo de espécies, no tempo e no espaço, além de permitir a obtenção dos
benefícios técnicos preconizados, aliado a diversidade de cultivares e sua integração
com a pecuária, deve permitir escalonamentos de épocas de plantio, de épocas de
colheita e de épocas de desfrute, permitindo maximizacão das oportunidades de
comercialização dos produtos. Na implantação do sistema plantio direto, em
seqüência as práticas de sistematização do terreno, de correção da acidez e de
descompactação do solo, é indispensável o cultivo de espécies com a propriedade de
produzir elevada quantidade de fitomassa.
Para continuidade eficiente do sistema, é igualmente indispensável que o
esquema de rotação de culturas promova na superfície do solo a manutencão
permanente de uma quantidade mínima, em torno de 6 t ha-' ano-', de matéria seca.
Exemplificando para as condicões regionais do Sul do Brasil as aveias, especialmente
a aveia preta, em virtude do abundante sistema radicular e da elevada produção de
matéria seca da parte aérea, é a espécie que melhor preenche os requisitos para
iniciar o sistema.
As culturas de milho e de aveia, integradas de forma planejada no sistema de
rotação de culturas, devido ao elevado potencial de producão de fitomassa e da
elevada relacão C/N, principalmente de milho, são garantias da manutencão da
cobertura morta do solo, dentro da quantidade mínima preconizada. O sistema de
149
rotacão de culturas comumente empregado pelos produtores que praticam sistema
plantio direto no Sul do Brasil, em funcão da economicidade, da praticidade do
manejo dos restos culturais, da compatibilidade entre espécies e dos seus efeitos
sobre o manejo de plantas daninhas, de pragas e de doenças, inclui, basicamente, as
seguintes culturas: trigo ou cevada ou triticale, aveias e uma leguminosa,
normalmente ervilhaca, no período de outono-inverno; e soja e milho, no período de
primavera-verão.
No tempo, a seqüência dessas culturas normalmente obedece ao seguinte
esquema: aveia preta/soja (no primeiro ano), trigo/soja (no segundo ano) e
ervilhaca/milho (no terceiro ano), formando um sistema de rotacão que completa seu
ciclo cada três anos. Contudo, para maximização econômica desse sistema de
rotação, é conveniente que a propriedade agrícola seja dividida em três glebas, de
modo que no outono-inverno cada gleba receba uma espécie (trigo, aveia e
leguminosa) e na primavera-verão as glebas que receberam trigo e aveia sejam
cultivadas com soja, e a gleba que recebeu a leguminosa seja cultivada com milho.
Dessa maneira, no outono-inverno, um terço da propriedade recebe trigo, um terço
recebe aveia e o outro terço recebe leguminosa.
Similarmente, na primavera-verão, dois terços da propriedade, provenientes
das culturas de trigo e de aveia, recebem soja, e o terco restante, proveniente da
leguminosa, recebe milho. A aveia, que no primeiro ciclo da rotação é uma
culturaessencialmente de cobertura, representada pela aveia preta, a partir do
segundo ciclo da rotação pode ser ou não substituída pela aveia branca com urilizaçáo
para pastejo ou producão de grãos. A leguminosa, antecedendo milho, participa como
adubação verde, podendo disponibilizarpara milho, no caso de ervilhaca, cerca de 80
a 100 kg ha-' de nitrogênio.
A posição da aveia após milho, dentro da seqüência de espécies no sistema de
rotacão, é decorrente da elevada producão de resíduos deixados pelo milho, os quais
dificultam a operacionalidade das semeadoras para plantio direto e o
150
estabelecimento de um estande satisfatório de culturas produtoras de
grãos, como de trigo, não sendo, contudo, limitante para as aveias que
são mais facilmente estabelecidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cuidado e o manejo adequado do solo melhoram os atributos


físicos, químicos e biológicos, e quando esses três fatores estão bem
alinhados o solo se torna mais fértil, disponibiliza melhor os nutrientes
para as plantas, armazena mais água, dentre muitos outros benefícios
já discutidos ao longo desse livro, e quando isso acontece,
consequentemente, maior produtividade, que significa maior
rentabilidade ao produtor.
Cuidar do solo é de extrema importância, não só pelo aumento
da produtividade, mas também pela conservação do solo e água, pois,
são deles que vem todo o sustento de todas as espécies.
Manejar bem o solo conserva os recursos naturais e a partir
disso podemos ter maiores produtividades em maior tempo na Terra,
uma vez que cuidando do ambiente, podemos usufruir dele muito
mais.
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