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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO

PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC


AULA 17

EMBARGOS DE TERCEIRO

Nesta aula 17 do nosso Curso Começando do Zero, analisamos o segundo


procedimento especial: os Embargos de terceiro.
Fizemos uma breve introdução apontando que o devedor responde para o
cumprimento de suas obrigações com todos os seus bens (art. 789, CPC). Alertamos
que pode suceder, entretanto, de um terceiro, completamente despido de
responsabilidade, vir a ser afetado pela constrição judicial de um bem ou direito seu.
Para tanto, o ordenamento jurídico, na perspectiva de salvaguardar aqueles bens,
previu o instituto dos Embargos de terceiro como remédio jurídico apto a sanar a
ilegítima constrição perpetrada.

1. Definição

É a ação incidental, de rito especial, destinada a excluir bens de terceiro que


foram ilegitimamente alvos de constrição judicial.

2. Finalidade e fundamento

A ação judicial em questão tem a finalidade, conforme dito, de liberar bens


daquele que não é parte em dado processo judicial, além de não possuir a qualidade
de codevedor. O ato prejudicial em questão deve ter sido praticado pelo Poder
Judiciário. Assim, acaso a posse venha a ser ofendida por ato de particular, o remédio
jurídico adequado passa a ser a ação possessória e não o que ora tratamos.
O seu fundamento de seu manejo pode ser vislumbrado na premissa de que
a sentença só pode surtir efeitos em relação às partes do processo (limites subjetivos
da coisa julgada- artigo 506, CPC), não podendo atingir terceiros, que não integraram
a relação jurídico-processual, sob pena de ferir os princípios do contraditório e da
ampla defesa.

3. Legitimidade

Parte legítima para figurar como autor da ação é o terceiro, sendo entendido,
por exclusão, como aquele que não ocupa um dos polos da relação jurídica
processual.
Frise-se que a legislação equipara a terceiro a pessoa que, não obstante
ostente a qualidade de parte, venha a defender bens que não poderiam ter sido
atingidos pela constrição judicial. Seja em virtude do título em que o possua, seja
pela qualidade em que o possua.
Atento a isso, o legislador considerou como terceiros, outorgando-lhes
legitimidade, os seguintes sujeitos: I - o cônjuge ou companheiro, quando defende a
posse de bens próprios ou de sua meação, ressalvada a possibilidade de penhora de
bem imóvel, nos termos do artigo 843, CPC; II - o adquirente de bens cuja constrição
decorreu de decisão que declara a ineficácia da alienação realizada em fraude à
execução; III - quem sofre constrição judicial de seus bens por força de

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desconsideração da personalidade jurídica, de cujo incidente não fez parte; IV - o


credor com garantia real para obstar expropriação judicial do objeto de direito real de
garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios
respectivos.

Legitimado passivo é aquele que figura como credor no processo principal


(autor/exequente/requerente), justificando-se pelo fato de que a constrição só foi
realizada em virtude de provocação inicial do demandante, já que fora este que
propunha a ação;

Nada obsta, entretanto, que venha o devedor figurar como réu, juntamente
com o demandante, acaso tenha sido ele o indicador do bem objeto da constrição
(artigo 677, § 4o, CPC). Neste caso estaríamos diante de um litisconsórcio passivo
necessário, haja vista que a desconstituição da constrição poderia acarretar prejuízos
ao exequente, bem assim para o réu-executado, já que estaria este último sujeito a
sofrer nova constrição. Ressalte-se, entretanto, que, a teor da Súmula 303 do STJ, a
condenação nas custas processuais e honorários advocatícios ficará a cargo da parte
que deu causa à ilegítima constrição (indicou o bem).

4. Prazo para a propositura da ação

Tratando-se de constrição sobre bem durante o processo de conhecimento,


a propositura da ação de embargos de terceiro se dará a qualquer momento, desde
que antes do trânsito em julgado da decisão.

No caso de processo de execução, a propositura dar-se-á até 5 (cinco) dias


após a arrematação, adjudicação ou alienação por iniciativa particular, desde que
antes da assinatura da respectiva carta (art. 675, CPC).

Vale salientar que, em virtude do terceiro não poder ser atingido pelos efeitos
da coisa julgada, o transcorrer do prazo em questão não o impede de, pelas vias
ordinárias, reivindicar o bem que fora objeto da constrição. O vencimento do prazo é
meramente preclusivo no sentido de o impedir de manejar os embargos para a defesa
imediata da posse.

5. Procedimento

Os embargos são uma ação especial autônoma, a qual dá origem a um


processo incidente, distribuído por dependência perante o juízo que determinou a
constrição. O procedimento segue às seguintes regras:

 Competência: é competente o mesmo juízo que ordenou a apreensão do


bem, mediante a expedição do mandado de constrição. Assim, embora realizado o ato
de constrição por intermédio do juízo deprecado, este apenas será competente se
tiver ordenado o ato em questão (art. 676, CPC).

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 Petição Inicial: deverá obedecer aos requisitos gerais do artigo 319


combinados com os específicos do artigo 677 do CPC, os quais exigem: a) prova
sumária da posse; b) prova da constrição, c) qualidade de terceiro; d)
documentos e rol de testemunhas.

 Da Liminar: julgando suficientemente provada a posse, o juiz deferirá


liminarmente os embargos e ordenará a expedição de mandado de manutenção ou
de restituição em favor do embargante, que só receberá os bens depois de prestar
caução de os devolver com seus rendimentos, caso sejam afinal declarados
improcedentes, ressalvada a impossibilidade da parte economicamente
hipossuficiente.

 Da audiência preliminar: faculta-se ao magistrado determinar a realização


de audiência preliminar quando o autor não tiver provado suficientemente, por meio
de documentos, a sua posse. Seria, em outros termos, audiência que se assemelha à
justificação prévia das possessórias.

 Contestação: será apresentada no prazo de 15 (quinze) dias.

 A conversão ao rito comum: apresentada a defesa, haverá a conversão


do rito especial para o rito comum. Destarte, deverá o magistrado determinar a
intimação do autor para apresentar a réplica, seguindo-se a fase de saneamento e
audiência de instrução e julgamento. Logo após, proferirá a sentença. Se procedente,
determinará a expedição de mandado de manutenção ou de restituição; acaso tais
medidas já tiverem sido tomadas no limiar do processo, o magistrado determinará a
liberação da caução anteriormente prestada pelo autor.

 Condenação em custas e honorários advocatícios: deverá ser


condenado aquele que deu causa à constrição indevida e, por consequência, causou
o tumulto processual. Inclusive há o entendimento neste sentido, expresso mediante
a Súmula 303, do STJ: “Em Embargos de terceiro, quem deu causa à constrição
indevida deve arcar com os honorários advocatícios”.

Assim, é possível que até mesmo o embargante seja o responsável pelas


verbas sucumbenciais em sede de embargos de terceiro, ainda que seu pedido de
liberação tenha sido atacado pelo juízo. Isso ocorre, geralmente, quando a constrição
surgiu por não ter o atual proprietário precedido com a transferência do bem perante
o registro competente, deixando o bem em nome do antigo dono, o que acabou
gerando o ato de constrição.

Veja-se que o Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou a este respeito,


através de julgamento de recursos especiais repetitivos, senão vejamos:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA


CAUSALIDADE PARA VERBAS SUCUMBENCIAIS EM
EMBARGOS DE TERCEIRO. RECURSO REPETITIVO. TEMA 872.
Nos Embargos de Terceiro cujo pedido foi acolhido para

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desconstituir a constrição judicial, os honorários advocatícios


serão arbitrados com base no princípio da causalidade,
responsabilizando-se o atual proprietário (embargante), se este
não atualizou os dados cadastrais; os encargos de sucumbência
serão suportados pela parte embargada, porém, na hipótese em
que esta, depois de tomar ciência da transmissão do bem,
apresentar ou insistir na impugnação ou recurso para manter a
penhora sobre o bem cujo domínio foi transferido para
terceiro. Em relação ao tema, a sucumbência deve ter por norte a
aplicação do princípio da causalidade. Nesse sentido, a Súmula n.
303 do STJ dispôs especificamente: "Em embargos de terceiro,
quem deu causa à constrição indevida deve arcar com os honorários
advocatícios." Na hipótese em análise, os Embargos de Terceiro
visavam à desconstituição de penhora efetuada sobre imóvel não
mais integrante do patrimônio da parte executada. Nesse contexto, o
adquirente do imóvel, ao não providenciar a transcrição do título na
repartição competente, expõe o bem à indevida constrição judicial
em demandas ajuizadas contra o antigo proprietário. Isso porque as
diligências realizadas pelo oficial de Justiça ou pela parte credora em
face do antigo proprietário do imóvel, destinadas à localização de
bens, no caso específico daqueles sujeitos a registro (imóveis,
veículos), são feitas mediante consulta aos Cartórios de Imóveis
(Detran, no caso de veículos), razão pela qual a desatualização dos
dados cadastrais fatalmente acarretará a efetivação da indevida
penhora sobre o bem. Nessas condições, não é lícito que a omissão
do atual proprietário do imóvel no cumprimento de um dever legal
implique, em favor da parte negligente, que esta deva ser
considerada vencedora na demanda, para efeito de atribuição dos
encargos de sucumbência. Assim, em regra, não haverá condenação
da parte embargada - a qual promovia execução contra o antigo
proprietário - quando verificado que o imóvel não teve devidamente
registrada a alteração na titularidade dominial. Excetua-se a hipótese
em que a parte credora, mesmo ciente da transmissão da
propriedade, opuser resistência e defender a manutenção da
penhora - o que evidencia o conflito de interesses na demanda, apto
a ensejar a aplicação do princípio da sucumbência. (REsp 1.452.840-
SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, julgado em
14/9/2016, DJe 5/10/2016).

Destarte, a responsabilidade pelo pagamento das verbas sucumbenciais será


de quem houver dado causa à constrição, ainda que se trate do próprio embargante,
salvo quando houver resistência por parte do embargado, após este ter tomado
ciência dos embargos.

Em nossa próxima aula, analisaremos o procedimento da ações de oposição


e das ações de família.

Bons estudos!

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