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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO

PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC


AULA 04

CURSO DE PROCESSO CIVIL


COMEÇANDO DO ZERO

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ISOLADA COMEÇANDO DO ZERO
PROCESSO CIVIL DE ACORDO COM O NOVO CPC
AULA 04

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS

As partes são os sujeitos que primitivamente se assentaram num dos polos


da relação jurídica. Após este momento, o ingresso póstumo de qualquer sujeito lhe
dará a condição de terceiro.
Em regra, aqueles que se assentaram primitivamente permanecerão na
qualidade de parte até o final. Entretanto, algumas relações jurídicas se estabelecem
como que em “teias” ou “cadeias”, a ponto da relação processual poder surtir efeitos
sobre a esfera jurídica de quem, a princípio, nada tinha a ver com a relação. É
exatamente nestes casos que a ordem jurídica autorizou o ingresso de sujeitos, os
quais ostentam a condição de terceiros.
Destarte, terceiro pode ser definido, por exclusão, como aquele que, não
revestindo a qualidade de parte, ingressa no feito em virtude de vínculo jurídico
estreito que mantém com a relação processual deduzida em juízo.
Aludida intervenção poderá se operar de forma voluntária (ex: assistência) ou
provocada (ex: chamamento ao processo e desconsideração da personalidade
jurídica).
Passemos a analisar as principais modalidades de intervenção.

A) Assistência

 Aplicação: caberá a assistência todas as vezes que um terceiro tiver


interesse jurídico de que a sentença seja favorável a uma das partes. Nela, o ingresso
do terceiro objetiva a vitória de uma das partes, haja vista que o resultado do
julgamento poderá afetar a sua esfera jurídica (e não meramente econômica!).
Imagine, por exemplo, que “A” ingresse com ação em face de “B” para reaver um
imóvel que fora dado em locação. Ocorre que “B” já havia sublocado esse imóvel para
“C”. Perceba que, sendo o pedido julgado procedente, “C” terá sua esfera jurídica
afetada, na medida em que verá extinta a relação jurídica (contrato de sublocação)
que mantém com “B”. Por isso, estará o mesmo autorizado a ingressar no feito, na

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qualidade de assistente, a fim de que possa atuar auxiliando e proporcionando a vitória


de “B”.
 Modalidades: a assistência será simples quando o resultado da sentença
puder afetar a relação jurídica entre assistente e assistido, conforme fora vista no
exemplo acima.
Outrossim, será litisconsorcial quando o julgamento puder afetar a relação
jurídica entre o assistente e o adversário do assistido. Na verdade, o assistente
poderia ter, primitivamente, sido parte na relação processual (“litisconsórcio” vem de
“consórcio” ou “agrupamento” de litigantes), não o sendo por circunstância meramente
eventual.
Pense, como exemplo, a ação reivindicatória movida por apenas um dos
condôminos e o ingresso posterior de outro condômino. Outro exemplo seria a ação
proposta por um dos sócios visando anular deliberação adotada pela sociedade,
ingressando, posteriormente, sócio que não figurava como parte. Observe que, em
todos esses exemplos, o assistente possui pretensão a ser defendida em juízo (por
isso, poderia ter sido parte desde o início, só não o sendo, pelo fato de ter ingressado
no processo posteriormente), diferentemente da modalidade simples, a qual, apesar
do mesmo poder ser prejudicado pelo resultado da decisão, o seu direito não está “em
jogo”.
 Regime jurídico: na modalidade simples, o assistente vincula-se às
declarações do assistido. É que, apesar de figurar na demanda, o interesse
controvertido é do assistido. Assim, poderá o assistido reconhecer a procedência do
pedido, desistir da ação, efetuar transação, etc. Fato é que a atuação é de mero
auxiliar ou coadjuvante da parte principal.
Como o direito discutido pertence ao assistido, caso este seja revel, o
assistente será considerado seu substituto processual, já que estará, em nome
próprio, defendendo interesse alheio.
Vale ressaltar que o assistente não poderá, em outro processo, questionar a
justiça da decisão (art. 123, CPC). O termo “justiça da decisão” se refere aos
fundamentos da decisão e não ao dispositivo (até mesmo porque, não sendo parte,
não poderia ser o mesmo atingido pela coisa julgada). Gonçalves (2011:213)

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esclarece bem a situação, ao trazer exemplo ilustrativo do qual ora nos valemos:
Imagine que, num acidente automobilístico, o sujeito é demandado e, como não houve
denunciação da lide, o seguro decide entrar na lide para auxiliar a parte, visto que
poderá sofrer os efeitos da sentença. Pois bem, encerrada a demanda, não poderá o
seguro questionar em outra ação a justiça da decisão (existência de acidente, autoria
do réu, culpa da vítima, etc.), podendo, tão somente, questionar outros fatos que não
serviram de base ao decisório primitivo (ausência de vínculo contratual, pois o
segurado teria deixado de pagar o seguro, ou que o contrato não contemplaria aquela
espécie de sinistro, etc.).
Por outro lado, na modalidade litisconsorcial, ambos (assistente e assistido)
têm direito a defender em juízo, motivo pelo qual o assistente não se vincula às
declarações emitidas pelo assistido, de modo que se forma um verdadeiro
litisconsórcio. Lembre-se: Os litisconsortes serão considerados, em suas relações
com a parte adversa, como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso
em que os atos e as omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão
beneficiar (art. 117, CPC).
 Ingresso do assistente: não havendo impugnação no prazo de 15
(quinze) dias, o pedido do assistente será deferido, salvo se for caso de rejeição
liminar. Se, no entanto, qualquer parte alegar que falta ao requerente interesse jurídico
para intervir, o juiz decidirá o incidente, sem suspensão do processo.

B) Chamamento ao processo

 Aplicação: modalidade de intervenção provocada. O chamamento ao


processo ocasiona o alargamento processual, na medida em que se inclui na
demanda sujeito que partilha responsabilidades com o réu da demanda originária.
O CPC contempla o chamamento do afiançado pelo fiador; dos demais
fiadores pelo fiador demandado; ou, finalmente, dos demais devedores solidários
quando demandado apenas um ou alguns deles (art. 130, CPC).
Das hipóteses de cabimento acima listadas, colhe-se um aspecto
interessante: perceba que se pode chamar ao processo sujeitos que sejam tão

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responsáveis quanto ou mais responsáveis do que aquele que efetua o chamamento.


Assim, é possível que o fiador chame ao processo o devedor principal, mas o inverso
não é admissível.
Observe que, enquanto na denunciação da lide o cumprimento da obrigação
é de responsabilidade do denunciante da demanda originária (o qual denuncia com o
escopo de valer-se do direito regressivo), no chamamento ao processo a obrigação
seria tanto do réu primitivo quando do terceiro, o qual não fora demandado, por isso
que chamado posteriormente.
 Regime jurídico: a citação daqueles que devam figurar em litisconsórcio
passivo será requerida pelo réu na contestação.
Ingressando o terceiro e havendo o alargamento da relação processual, a
sentença que julgar procedente o pedido servirá de título executivo em favor do que
satisfizer a dívida para que execute o coobrigado nos autos do mesmo processo.

C) Incidente de desconsideração da personalidade jurídica

 Considerações gerais: Já sabemos que a lei conferiu proteção à formação


de entidades abstratas, denominadas de “pessoas jurídicas”. Elas são constituídas
com vistas a fomentar diversas atividades de interesse social e, como forma de gerar
vínculos próprios, adota-se o princípio da autonomia patrimonial, de modo que a sua
personalidade não se confunde com a personalidade das pessoas naturais que as
integram.

Noutros termos, como tais atividades guardam em si riscos inerentes, foi


necessário que o legislador criasse um “manto”, um “véu” protetivo, apto a separar o
patrimônio da pessoa jurídica do patrimônio das pessoas naturais que a constituem.

Ocorre que, muitas vezes, dita proteção acaba por servir de “escudo” para o
desvio de finalidade e outras práticas escusas.

Neste diapasão, foi necessário criar um instrumento efetivo para combate a estes
abusos, de modo que o mesmo servisse para atingir os bens de seus sócios
integrantes: é a desconsideração da personalidade jurídica, prevista no artigo 50 do
Código Civil bem como pela Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor).

O CPC de 2015, em seus artigos 133 a 137 trata dos aspectos processuais do
referido instituto. Vejamos:

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 Cabimento: O incidente de desconsideração, que obedecerá aos


pressupostos previstos em lei, será cabível em todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução fundada em título
executivo extrajudicial.

 Legitimidade: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será


instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no
processo.

 Formalidades: A instauração do incidente suspenderá o processo e será


imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas.

Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade


jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a
pessoa jurídica.

O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais


específicos para desconsideração da personalidade jurídica.

Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para


manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias. Concluída
a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. Se a
decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.

Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens,


havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.

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