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O CTN tem um pouco mais de 200 artigos. Mas os artigos que tem que ser lidos são os
seguintes: A partir do artigo 96 do CTN, porque os anteriores, quase todos estão revogados.
Ex: arbitramento está no artigo 148, denúncia espontânea está no 138, sujeito ativo
está no 119. Decadência está no 173, prescrição no 174, e etc.
Ex: Auferir renda; circular mercadorias; transmitir bens, e etc. Observe que o
fenômeno vem previsto em um verbo no infinitivo, além de demonstrar situações que se
abrem ao fenômeno tributário, uma vez indicadoras de signos presuntivos de riqueza do
contribuinte.
O fenômeno da incidência nasce com uma previsão em abstrato que foi escolhida no
mundo dos valores, sendo essa previsão algo hipotético, dotada de hipoteticidade portanto, e
uma previsão dotada de tributabilidade, e essa tributabilidade está ligada à indicação de signos
presuntivos de riqueza do contribuinte.
E as hipóteses de incidência habitam o texto legal, a lei que tem que estipular as
hipóteses de incidência, é necessária a tipicidade.
É importante destacar que a hipótese de incidência é demarcada pelo legislador,
constando inevitavelmente da lei tributária, ao lado de outros elementos configuradores da
reserva legal, ou tipicidade fechada: alíquota, base de cálculo, sujeito passivo e multa.
E quando isso acontecer, isso não será mais uma hipótese de incidência, e virará o
famoso “fato gerador”.
Vale dizer que a obrigação tributária depende do encontro do plano fático com o plano
abstrato, fazendo unir o fato à norma (esta norma se chama “paradigma”, “arquétipo”, ou
“standart” legal). A norma é o paradigma legal, o arquétipo legal, standart legal.
Aquele fato que materializa a hipótese, sem a qual não se fala em obrigação
tributária, recebe o nome de “FATO GERADOR”. Geraldo Ataliba chama o fato gerador de
“fato imponível”, e os concursos públicos ainda cobram “fato jurígeno”, ou “fato jurídico-
tributário”.
Existem no CTN vários dispositivos sobre fato gerador, mas não há diversos
dispositivos sobre a H.I (mesmo que a H.I deve sempre provir do legislador). O legislador
trabalha comumente com a expressão “fato gerador”, e o intérprete que tem que verificar se
“fato gerador” na lei quer dizer o fato gerador mesmo, ou se quer dizer hipótese de incidência.
Ou seja, dentro da expressão “fato gerador” estaria o sentido da H.I.
A definição do fato gerador neste caso é legal e abstrata, e assim, quer indicar, na
verdade, a própria hipótese de incidência. Esta que é abstrata, o fato gerador, em realidade, é
concreto e dinâmico. A lei quis dizer, em verdade, “a definição da hipótese de incidência”.
A natureza jurídica do tributo é dada pela hipótese de incidência, e não pelo fato
gerador, novamente o artigo 4º deu nome de fato gerador quando na verdade é hipótese de
incidência. A hipótese de incidência que diz qual a natureza do tributo, se imposto, taxa e etc.
O legislador não trabalha com a materialização, e sim com a hipótese de materialização.
Publicada uma lei com hipótese de incidência de ser proprietário de imóvel urbano na
cidade X, este é um imposto, o IPTU. Onde se lê fato gerador, temos que ler hipótese de
incidência.
A natureza jurídica do tributo, portanto, estará definida na hipótese de incidência
deste tributo, sendo irrelevantes a denominação e as demais características formais adotadas
pela lei, como a destinação legal do produto da sua arrecadação (inciso I e II do artigo 4º, CTN).
Só a expressão “definição legal” já mostra que isso ai na verdade não é fato gerador, e
sim hipótese de incidência.
Trata-se de um dispositivo segundo o qual a definição legal do fato gerador (ou com
maior rigor técnico, da hipótese de incidência), será interpretada abstraindo-se da validade
jurídica dos atos e dos efeitos dos fatos. Aqui (Art.118) se prevê normativamente a máxima
latina “pecunia non olet”, segundo a qual prevalecerá no fenômeno da incidência a
interpretação economicamente objetiva do fato gerador. Vale dizer que a capacidade
tributária passiva é plena (126, caput), desconsiderando-se quaisquer aspectos externos à
hipótese de incidência e, verdadeiramente, típicos do mundo dos fatos: ilicitude do ato,
incapacidade civil, irregularidade na constituição formal da pessoa jurídica, etc. Se uma
pessoa jurídica está irregular, mas auferiu renda, mesmo assim terá que pagar IRPJ.
Capacidade tributária passiva não tem nada a ver com capacidade civil, porque
capacidade civil é problema de fato, e não de norma. A norma tributária diz: ser proprietário
de imóvel, e se o proprietário for uma criança, ela terá que pagar o tributo (pecunia non
olet). Se o criminoso auferiu renda por meio de tráfico de entorpecentes, terá que pagar
imposto de renda. Uma coisa é norma, e outra é fato, e a capacidade tributária passiva é
plena. A norma nunca virá carregada de vícios. O que pode ter vícios são os fatos, mas isso é
irrelevante para a incidência da obrigação tributária.
Questão de concurso -> Tributar as atividades ilícitas, como o criminoso ter que pagar
um imposto sobre a renda. Quando se tributa a renda do criminoso o direito tributário não
estaria indo de encontro ao direito penal? Não. Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra
coisa. O direito tributário não tem nada a ver com o ato ilícito. Alias, não existe hipótese de
incidência ilícita. Todas as H.I são lícitas. O que existe é um fato que, carregado de ilicitude,
irá se acoplar àquela hipótese de incidência. Mas como a ilicitude não é capaz de viciar o
fenômeno da subsunção, não há problema nenhum. Cabe ao direito penal perseguir esse
criminoso. Aliás, haveria uma ferida no princípio da isonomia, uma vez que se trataria 2
pessoas iguais de forma desigual. É que sob os olhos do direito tributário, e sob os olhos da
hipótese de incidência, o criminoso auferiu renda, e o trabalhador honesto também auferiu
renda, pouco importando qual sua origem. Assim, ambos são iguais para o direito tributário, e
por isso ambos tem que pagar. Já para o direito penal, são diferentes. Auferir renda sempre
será lícito. Será ilícito, contudo, a forma como essa renda foi auferida.
Hugo de Brito Machado trabalha muito bem com isso. Claro que tem que tributar o
criminoso. Daí aplicar-se a máxima latina chamada “pecunia non olet”, que significa que o
DINHEIRO NÃO TEM CHEIRO.
Como explicita Hugo de Brito Machado, “a lei não pode incluir na hipótese de
incidência tributária o elemento ilicitude. Todavia, um fato gerador de tributo pode ocorrer
em circunstâncias ilícitas”.
Neste ponto, é necessário trabalhar com a divisão proposta pelo professor Geraldo
Ataliba, segundo a qual a hipótese de incidência corresponde à previsão genérica e abstrata de
situações lícitas passíveis de tributação, ao passo que o fato imponível corresponde à
concretização, no mundo dos fatos, de uma determinada situação que se enquadra na
definição legal. A lei não descreve situações ilícitas, como hipóteses de incidência de tributos,
mas é possível a tributação ainda que o fato imponível decorra de situações ilegais.
O STF teve a oportunidade de se manifestar duas vezes sobre o tema, tendo invocado o
princípio do non olet / pecunia non olet. A primeira delas no HC 77.530-4/RS, em caso de
sonegação fiscal perpetrada por narcotraficantes, e no Informativo 637, em caso relacionado
ao jogo do bicho.
Quanto aos aspectos do fato gerador, a doutrina assim os distribui: material, temporal,
espacial, pessoal e quantitativo.
a) Aspecto Material -> Matéria diz respeito ao conteúdo de algo. O fato gerador é a
materialização de algo, e esse algo é exatamente a matéria, o objeto. Então o aspecto material
é a própria hipótese de incidência, como a situação abstratamente legal que pode deflagrar o
fenômeno da incidência tributária.
b) Aspecto Temporal ->É o momento em que o fato gerador considera-se realizado, ou
seja, a pessoa pratica aquele ato abstratamente previsto na lei como sendo a hipótese de
incidência.
Aqui tem relação com o princípio da irretroatividade tributária. Segundo este princípio,
a lei antecede os fatos geradores aos quais ela se refere. Assim, a lei que vai incidir deve
sempre ser anterior ao momento em que ocorre o fato gerador, ou seja, ela será sempre
anterior ao aspecto temporal do fato gerador. E isso tem uma implicação gigante no princípio
da irretroatividade tributária.
A propriedade do imóvel está localizada em qual zona urbana? Aqui tem tudo a ver
com a capacidade tributária ativa e com a competência tributária. Tal aspecto é extremamente
relevante para se determinar qual será a entidade política detentora do poder de exigir o
tributo, à luz das normas de competência tributária. Ex: paga-se IPTU para um município e não
para outro, quando se mostram limítrofes.
d) Aspecto Pessoal ->Este aspecto se liga aos entes credor e devedor da obrigação
tributária, respectivamente, o sujeito ativo e o sujeito passivo.
IV - produtos industrializados;
No §1º há uma mitigação da legalidade, pois nos impostos extrafiscais (IPI, II, IE, IOF),
pode a União, por meio de decreto, tendo por finalidade o estímulo ou desestímulo de uma
política econômica, alterar a alíquota de um desses impostos extrafiscais, (ao invés de usar a
lei), e todos eles terão efeitos imediatos, não tendo de se submeter à anterioridade, salvo o
IPI, que tem que respeitar a noventena, ou seja, só a partir de 90 dias entrará em vigor.
II – Fato gerador Continuado (ou contínuo) -> É aquele cuja realização leva um
período para se completar, ou seja, não se dá em uma unidade determinada de tempo, mas
se protrai em certo espaço de tempo. Daí haver a necessidade de se fazer um “corte
temporal”, para estabilizar o aspecto temporal do fato gerador (momento em que o fato
gerador considera-se realizado, ou seja, a pessoa pratica aquele ato abstratamente previsto
na lei como sendo a hipótese de incidência).
Ex: os 3 impostos que recaem sobre a propriedade, porque a propriedade não é algo
instantâneo, a propriedade dura 20 anos, 30 anos nas mãos de uma pessoa. A propriedade
dura o ano inteiro, mas se faz um corte temporal, por exemplo, em 1º de janeiro, e quem for
o proprietário neste momento pagará o IPTU. Daí o corte, para estabilizar o aspecto
temporal. Você é proprietário o ano inteiro, mas se no 1º de janeiro for outro, ele que
pagará o tributo. São 3 impostos sobre a propriedade: IPTU, IPVA e ITR.
III – Fato gerador periódico ou complexivo -> O fato gerador complexivo também
ocorre ao longo de um espaço de tempo, como o fato gerador continuado. Entretanto, ele
irá se aperfeiçoar com a consideração globalmente agregada de “ene” (n) fatos isolados
durante aquele período, ou seja, aqui não há corte temporal. Ele se aperfeiçoará com a soma
do fato f1+ f2+ f3+ f4 +....= fgerador.
Questões de Concurso:
1) 2010 prova da ESAF para agente da fazenda -> O fato gerador da obrigação
tributária é um negócio jurídico? Evidente que não, porque o negócio jurídico é fruto da
autonomia da vontade, decorre do ajuste entre as vontades das partes. Por sua vez, o fato
gerador decorre do ajuste de um fato à norma. E neste caso, a hipótese de incidência incidirá
de maneira cogente, sem que se perquira a respeito do elemento volitivo do contribuinte.
A condição é uma cláusula que subordina os efeitos jurídicos do ato (em sentido
amplo) a um evento futuro e incerto. Diante das duas condições doutrinariamente
conhecidas, teremos:
a) condição suspensiva: O fato gerador ocorrerá com o implemento da condição. Ou
seja, até ocorrer a condição o fato gerador fica suspenso, e quando sobrevier a condição, o
fato gerador nascerá. A condição suspensiva protrai os efeitos jurídicos do ato, e enquanto
ela não advier, não há efeitos jurídicos para esse ato.
Ex: Uma menina e um rapaz e os 2 são noivos há 18 anos, e o pai fica desesperado. O
pai faz o seguinte: ele vai doar um apartamento a eles, se eles se casarem. Temos um
negócio jurídico subordinado a algo, e com implicação tributária. Quando se dá algo a
alguém, se faz uma doação de imóvel, incide o ITCMD. Assim, a incidência tributária do
ITCMD, o fato gerador do ITCDM ocorrerá com o implemento da condição, qual seja o
casamento. A partir daí surgirá o tributo, porque a condição é suspensiva (enquanto não
implementada a condição, o negócio fica suspenso), e o CTN diz que sendo suspensiva a
condição, o imposto incide desde o seu implemento.
O ato de resolver implica o desfazimento dos efeitos jurídicos que eram plenamente
válidos. A condição neste caso desfaz os efeitos que já eram plenamente válidos, então o fato
gerador irá desde a prática do ato, até o implemento da condição.
Ex: Se o casamento acabar, ele quer o imóvel de volta. E se eles continuarem a brigar
o pai vai pegar o imóvel de volta. Isso é uma condição resolutiva, porque o apartamento será
deles, mas voltará para o pai caso a condição se implemente. O fato gerador acontece desde
o momento da prática do ato, qual seja, o casamento. O fato gerador já aconteceu, que é o
fato gerador do ITCMD.
Quando acontece a condição resolutiva, existe um novo fato gerador? Não, o fato
gerador já ocorreu, que foi a doação do imóvel. E além disso, tem direito à restituição?
Obvio que não, porque o fato gerador realmente aconteceu.
Temos que memorizar que o fato gerador submetido a essa condição provocará 2
consequências: 1ª: não há novo Fato Gerador; 2º: Não há direito à restituição.
O fato gerador constitui a obrigação tributária, ou seja, com o seu advento a obrigação
tributária nasce, operando efeitos ex nunc, ou seja, não retroagem. Aqui se tem a criação de
direitos e deveres, só gerando efeitos para o futuro. Daí a sua inequívoca natureza de ato
constitutivo.
1) CESPE 2006, UNB -> Hipótese de incidência tributária não se confunde com o fato
gerador da obrigação tributária. A primeira corresponde à previsão legal e abstrata da situação
que implica a incidência da norma tributária. Já a segunda é a concretização da H.I no mundo
dos fatos e dá origem à obrigação tributária. Verdadeiro ou Falso? Verdadeiríssimo.
2) ESAF – Gestor Fazendário MG -> A obrigação tributária nasce com o lançamento.
Certo ou Errado? Errado, a obrigação tributária nasce com o fato gerador. O lançamento
apenas constitui definitivamente o crédito tributário.
3) ESAF – Segundo o CTN, a renda obtida com a prática do crime de contrabando não
pode ser tributada. Verdadeiro ou Falso? Falso, em razão do princípio do pecunia non olet.
4) ESAF – Gestor Fazendário MG, 2005 -> A hipótese de incidência é o fato da vida que
gera, diante do que dispõe a lei tributária, o dever de pagar o tributo. V ou F? Falso, o fato da
vida é o fato gerador. O fato que gera o dever de pagar é o fato gerador, a H.I não gera nada.
5) AGU 2002, CESPE -> “Sendo o direito uma realidade abstrata, não pode ter por
objeto coisas concretas. Assim, o dinheiro, como as coisas em geral, jamais pode ser objeto do
direito. Nenhuma coisa concreta pode ser objeto do direito, das normas jurídicas, das
obrigações jurídicas (porque o direito e suas realidades são abstratos). O objeto das normas
jurídicas é o comportamento humano. Assim, o objeto da obrigação tributária é o
comportamento do sujeito passivo (Geraldo Ataliba)”.
7) MPRO -> “Uma criança recém-nascida já tem capacidade tributária para ser
devedora de IPTU?”. Sim, já que a capacidade tributária não se confunde com a civil.
I - O texto acima traduz a regra do CTN de que a definição legal do fato gerador é
interpretada abstraindo-se a validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos
contribuintes, responsáveis ou terceiros, bem como a natureza do seu objeto ou dos seus
efeitos. C ou E? Certíssimo (artigo 118).
Hugo de Brito Machado (2010): Alíquota zero é uma forma encontrada pelas
autoridades da Administração Tributária para fugir ao principio da legalidade, segundo o
qual a isenção somente por lei pode ser concedida. Na verdade, sendo a alíquota uma
expressão matemática que indica o número de vezes que a parte está contida no todo, a
expressão “alíquota zero” encerra uma contradição em seus próprios termos, porque zero,
certamente, não indica o número de vezes que a parte está contida no todo. Zero não é
expressão de parte. Não indica relação alguma. Ocorre que a Constituição Federal faculta ao
Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as
alíquotas de alguns impostos federais. Assim, a autoridade administrativa tem adotado a
prática de fixar em zero a alíquota de um imposto federal quando pretende conceder isenção
desse imposto. Com isto, além de não depender de lei para isentar, também não dependerá
de lei quando pretender abolir tal isenção. Por isto é que afirmamos ser a alíquota zero uma
forma de burlar o principio da legalidade tributária.
OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA
E o ato que cria este liame entre credor e devedor é chamado de ato constitutivo,
porque cria (constitui) direitos e deveres na relação jurídica tributária.
O fato gerador opera efeitos ex tunc ou ex nunc? Efeitos ex nunc, mas o lançamento
opera efeitos ex tunc.
Se o fato gerador cria esse liame, o que vai acontecer quando da sua ocorrência?
Teremos identificado um dever. Veremos mais na frente que há um momento de
exigibilidade, e ainda mais para o fim da relação, teremos um contexto de exequibilidade.
Existe uma linha do tempo tradutora de como o Estado se apropria do Tributo.
OBS: Essa linha do tempo é para Tributo e para Multa, e multa cai bastante em
concurso.
1) Sujeito Ativo -> Artigo 119, CTN -> É o credor do tributo e da multa, competente
para exigir seu cumprimento. E a definição do artigo 119 é perfeita.
O sujeito ativo pode ser a União, Estados, Municípios e Distrito Federal (entidades
tributantes).
Mas existe também uma aptidão constitucional para a instituição do tributo, que é a
competência tributária. Competência Tributária é o poder político e indelegável de instituição
do tributo. É um nome mais afim do direito tributário. Político, porque está previsto na
Constituição, ou seja, não é o legislador que outorga esse poder às entidades tributantes. E
indelegável, porque não se pode delegar.
Ex: Imposto Sobre Grandes Fortunas é um imposto federal, e quem deverá criá-lo é a
União. Ele já foi criado no Brasil? Não. Então, como ele não foi criado, e é de competência da
União, o Estado de São Paulo, onde se concentra as maiores riquezas, está interessado em
atingir seus milionários, e criou o IGF. Isso pode? Não, porque a competência tributária da
União é indelegável.
b) Competência Tributária Residual -> É o poder político da União (só a União tem
competência residual no Brasil) para criar dois tributos: Contribuição social Previdenciária
residual (artigo 195,§4º, CF) e imposto residual (artigo 154, I, CF). E a competência residual
no Brasil é exercida por meio de Lei Complementar.
Questão de concurso – TCE\Alagoas -> “Pode ser sujeito ativo o ente competente
para instituir tributo ou outra pessoa jurídica, em razão de delegação”. V ou F? Correto.
Sujeição ativa não se confunde com o detentor da competência tributária. A questão falou
“sujeito ativo”.
a) Contribuinte (artigo 121, parágrafo único, I, CTN) -> Contribuinte é aquele que
possui uma relação pessoal e direta com o fato gerador. E esse conceito tem que ser
decorado, porque cai muito em prova.
Contribuinte é aquele que possui uma relação pessoal e direta com o fato gerador.
b) Responsável -> Artigo 121, parágrafo único, II, CTN -> É a terceira pessoa escolhida
por lei para pagar o tributo, sem ter realizado o fato gerador. E falamos em terceira pessoa,
porque havia duas: contribuinte e sujeito ativo. Agora entrará em cena uma terceira pessoa, o
responsável tributário.
Solidariedade tributária -> Já vimos que não se pode pagar o tributo para mais de um
ente credor. Não se admite no direito tributário a solidariedade ativa (bitributação).
Invertendo os papéis, ao invés de termos vários entes credores, teríamos vários entes
devedores. Quando existem vários codevedores de tributos, vários coobrigados no polo
passivo, teremos o fenômeno da solidariedade, e no campo do tributo, poderia se chamar de
solidariedade tributária passiva. Existe apenas uma solidariedade tributária possível, que é a
solidariedade tributária passiva.
Outro exemplo: o legislador vem e indica as pessoas como solidárias. Esta é a chamada
solidariedade legal, que está no artigo 124, II, CTN.
Quando temos uma hipótese de solidariedade tributária (que só pode ser passiva), e
aqueles codevedores não pagam o tributo, o fisco cobrará o tributo de quem? De qualquer um
dos coobrigados integralmente. Na solidariedade tributária, não existe benefício de ordem, e
essa frase cai bastante.
Se há uma isenção ou uma remissão para um, a todos aproveita, salvo se for a isenção
ou a remissão outorgada pessoalmente a um dos devedores. Neste caso, subsistirá o débito
em solidariedade pelos demais.
3) Objeto da obrigação tributária -> Artigo 113, CTN. Objeto é a prestação que recai
sobre o sujeito passivo (contribuinte ou responsável) com o surgimento da obrigação tributária
pelo fato gerador. A prestação pode ter índole pecuniária ou não pecuniária.
Na obrigação tributária principal há uma pegadinha: quando se paga uma multa, isso
é obrigação tributária principal ou acessória? Principal. Todo ato de pagar só pode ser
obrigação tributária principal. Isso é muito importante e confunde muito os candidatos.
Qualquer ato de pagar dinheiro, pouco importa se é multa ou tributo propriamente dito,
resolve uma obrigação tributária principal.
3.2) Obrigação Tributária Acessória -> Tendo índole não pecuniária, indica todos os
atos diversos do pagamento de tributo\multa, quer indiquem prestações positivas, quer
indiquem prestações negativas. Tudo o que for diferente de pagar tributo ou multa é
obrigação acessória.
Ex: Emitir nota fiscal, escriturar livros fiscais, não impedir o acesso da fiscalização no
estabelecimento, não circular com mercadoria desacompanhada de nota fiscal (obrigação
tributária acessória negativa, impõe um não fazer), dentre outras.
Questão de concurso -> Fiscal -> “Considere que Tenório tenha sido compelido ao
pagamento de multa por não ter entregado a declaração do imposto de renda no tempo
devido. Nesse caso, Tenório não pode ser considerado sujeito passivo de obrigação tributária,
pois penalidade pecuniária não é tributo”. V ou F? Falso. A penalidade pecuniária realmente
não é tributo, mas nem por isso ele deixará de ser sujeito passivo. Também é sujeito passivo
aquele que deve multa.
A entidade é imune. Então sabemos que ela não paga tributo, conforme
mandamento constitucional. Se não paga tributo, a imunidade atinge um tipo de obrigação
tributária, qual seja, a obrigação tributária principal. E sobre a obrigação tributária
acessória? O acessório segue o principal neste caso? Não. Em tributário não. A imunidade
não extingue a obrigação acessória. Há total independência entre obrigação principal e
obrigação acessória. Se não cumprir o dever instrumental, aplicar-se-á um auto de infração
de multa, ainda que a entidade não seja obrigada a pagar tributo (porque imune).
Isso está no artigo 14, III, CTN -> É a obrigação de escrituração fiscal de receitas e
despesas em livros (contabilidade em dia) para as entidades imunes, para aqueles imunes de
impostos: entidades filantrópicas, partidos políticos, sindicatos dos trabalhadores, instituições
de educação.
Questão de concurso -> “A obrigação acessória pode existir sem que exista a
obrigação tributária principal, em virtude de isenção ou imunidade, por exemplo, e que deve
vir sempre prevista em lei, com natureza jurídica de obrigação de fazer ou não fazer”.
Corretíssima.
A propósito, para a isenção vale a mesma regra, e isso está no artigo 175, parágrafo
único do CTN.
Veja que não existe relação de acessoriedade, mas de total independência entre uma e
outra. Aqui não se aplica a regra de que o acessório segue o principal.
Descumprimento da obrigação acessória -> Uma empresa deixou de emitir nota fiscal.
O fiscal autuará a empresa, e exigirá o pagamento de multa. Isso está no artigo 113, §3º do
CTN: o descumprimento de uma obrigação tributária acessória, sempre dotada de
instrumentalidade (enquanto que a principal é dotada de patrimonialidade), gerará a
imposição de uma multa, ou seja, o inadimplemento da obrigação tributária acessória
deflagra uma obrigação principal, qual seja, a multa. É por isso que o descumprimento da
obrigação acessória converte-se em obrigação principal.
4) Causa -> É o último elemento da obrigação tributária. Artigos 114 e 115 do CTN.
Por que se paga um tributo? Emite-se uma nota por quê? É o vínculo jurídico
JUSTIFICADOR da obrigação principal e acessória. Sendo assim, teremos:
b) Causa da obrigação acessória -> O que impele o sujeito passivo a emitir uma nota
fiscal? Pode ser a lei, mas geralmente não o é. É a legislação tributária, que se difere da lei
tributária. Legislação está associada aos atos infralegais (portarias, circulares, instruções
normativas, dentre outros). Ex: RIR – Regulamento do Imposto sobre a Renda. Pra que serve o
RIR? É um regulamento, e como tal, faz parte da legislação tributária. E nessa medida, mesmo
sem conhecer o RIR, já sei o que está lá, porque segundo o artigo 115 do CTN, a legislação
tributária é causa de obrigação tributária acessória. Ou seja, no RIR, só podemos ter
tratamento de obrigações tributárias acessórias. É possível que o RIR preveja obrigação
tributária principal? Não, sob pena de vício de legalidade. Se falar que tem que pagar tributo
em uma portaria, esta é inconstitucional, por violação ao princípio da legalidade.
Bitributação X Bis in Idem -> Bis in idem ocorre quando há um ente tributante (o
mesmo município) apenas, que cobra mais de um tributo sobre o mesmo fato gerador.
Bitributação ocorre quando mais de um ente cobram 2 ou mais tributos sobre o mesmo fato
gerador. Ex: Foi criada uma taxa, que veio com a mesma base de cálculo do IPTU. Só que isso
não pode, é um IPTU travestido, e eu já paguei o IPTU para esse município. Como é a mesma
entidade, ocorreu um bis in idem, porque é o mesmo ente que está cobrando o IPTU e a
taxa. Para a bitributação, há um remédio, que é a consignação em pagamento. No Bis in
idem, pode-se valer de MS, de ação anulatória, dentre outras ações.
Essa figura do responsável é detalhada no artigo 128 do CTN. Este artigo estabelece os
tipos de responsabilidade tributária que podem surgir.
Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir
de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a
terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação,
excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este
em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida
obrigação.
Este artigo possui alguns pontos importantes, que estão grifados.
Mas que tipo de lei? Basta ser uma lei ordinária ou tem que ser uma lei
complementar? A responsabilidade tributária é criada, em regra, por lei ordinária. Porém,
mesmo que a lei tributária crie a responsabilidade, as normas gerais relativas à
responsabilidade tributária estarão definidas em lei complementar. Teremos alguns
regramentos gerais que se aplicam a todos os tributos em matéria de responsabilidade
tributária, e estas vem disciplinadas em lei complementar. E este regramento geral está no
próprio CTN, que possui status lei complementar.
Em suma: A responsabilidade tributária é criada por lei ordinária, mas existem normas
gerais no CTN (lei complementar), aplicáveis a todos os tributos. Podemos ter algumas regras
específicas no imposto de renda, por exemplo, e por lei ordinária. Mas as regras gerais (que se
aplicam ao IR e a outros impostos) estão no CTN.
Terceira pessoa -> Não é ela que pratica o fato gerador, logo, não é contribuinte (não
tem relação pessoal e direta com o fato gerador). Mas mesmo assim, esta terceira pessoa deve
estar vinculada ao fato gerador. Este terceiro deve estar vinculado ao fato gerador, ou seja,
deve possuir alguma relação com o fato gerador, apesar de não praticá-lo.
Ex: Imagine uma empresa transportadora. Ela pode ser responsável tributário pelas
mercadorias que ela transporta, apesar de não ter produzido as mercadorias.
Para Vanessa Siqueira, a responsabilidade pode ser: Por substituição (para trás ou
para frente) ou por sucessão (transferência).
Na responsabilidade por sucessão, a pessoa torna-se responsável tributário em virtude
do devedor original ter morrido ou em razão de ter transferido seus bens ou direitos. Desse
modo, a responsabilidade por sucessão ocorre em casos de sucessão causa mortis
(transmissão dos bens do devedor em virtude de seu falecimento) ou sucessão inter vivos. As
hipóteses de responsabilidade por sucessão podem ser assim organizadas:
Um exemplo deixará mais clara a nossa posição. Admitamos que uma empresa
pagou honorários a um profissional liberal e fez o desconto do imposto de renda
correspondente. Entretanto, mesmo sendo responsável pelo recolhimento do imposto aos
cofres públicos, não o fez. O profissional que auferiu o rendimento e o incluiu em sua
declaração anual tem indiscutível direito de considerar o imposto que lhe foi descontado.
Não pode ser obrigado a pagar o imposto cujo ônus já suportou quando sofreu o desconto
do valor correspondente em seus honorários. E, ainda, mesmo que a fonte pagadora do
rendimento não tenha recolhido aos cofres públicos o valor correspondente, o contribuinte
tem o direito de haver a restituição que porventura a ele seja devida, por ocasião de sua
declaração anual de ajuste.
José é proprietário de um imóvel, e realiza o fato gerador do IPTU, que acontece todo
ano, no dia 1º de Janeiro. No dia 1º de Janeiro de 2011, José estava na propriedade do imóvel,
mas não pagou o IPTU. Em agosto de 2011, José resolve vender o imóvel para Maria, com o
débito que estava pendente. O comprador não se importou muito e comprou o imóvel. Maria
vai realizar o fato gerador do IPTU, em 1º de janeiro de 2012. Maria percebe que quando
recebe a cobrança do IPTU de 2012, também recebe uma notificação para pagar o IPTU de
2011. Maria tem que pagar o IPTU de 2011? Ela não praticou o fato gerador em 2011. Mas
mesmo assim, o CTN, no artigo 130, vai dizer que Maria tem que pagar esse imposto, porque
nos casos de aquisição de imóveis, a responsabilidade do IPTU é do Adquirente. Quem
adquire imóvel com débitos tributários responde por eles (até porque se trata de uma
obrigação propter rem).
Falamos do IPTU, mas poderia ser taxa de lixo, contribuição de melhoria, e qualquer
tributo relativo ao imóvel.
Mas digamos que Maria pagou muito pouco pelo imóvel, e recebe uma cobrança de R$
50 mil reais de ITPU e demais tributos acumulados, sendo que ela pagou R$ 30 mil reais pelo
imóvel. Ela pagou 30 mil, mas recebe uma cobrança de 50 mil. Neste caso, Maria terá que
responder pela totalidade dos 50 mil, inclusive com outros bens dela, já que a dívida extrapola
o valor pago pelo imóvel?
O CTN diz que sim, Maria terá que responder por essa dívida, porque neste caso de
aquisição de imóvel, a responsabilidade é pessoal. Quando falamos de responsabilidade na
aquisição de imóveis, temos sub-rogação pessoal na dívida. Ou seja, não fica limitado ao valor
do imóvel.
No momento em que a obrigação tributária surgiu, quem devia pagar o tributo era
apenas o contribuinte. Quando o fato gerador surgiu, não havia responsável tributário. No
entanto, ocorreu alguma situação posterior que fez com que aparecesse a figura do
responsável e houvesse uma transferência da obrigação para ele.
Dica mnemônica:
a) Sub-rogação real (e não pessoal) -> A regra é que Maria responda por tudo, mas há
um caso em que a sub-rogação é real, que é a aquisição do imóvel em hasta pública. Neste
caso, Maria só responde até o limite do valor pago pelo imóvel em hasta pública. Os débitos
eventualmente existentes devem ser quitados como preço pago pelo imóvel. Não existe
transferência da responsabilidade para o adquirente, pois todos aqueles débitos sub-rogam-se
no próprio preço pago pelo imóvel. Isso está no CTN, e também é essa a postura do STJ (2010 –
1.246.665). Há sub-rogação no preço. O adquirente não responde, recebendo o imóvel livre e
desembaraçado.
Questão TJRS (2016): Em 2013, F.S. adquiriu um imóvel em hasta pública. O imóvel
está localizado no município X, em área definida como urbana pela legislação municipal. No
local, há rede de abastecimento de água, iluminação pública e posto de saúde. Em 2015, em
face de execução fiscal movida pelo município, F.S. foi citado para pagar o IPTU dos
exercícios de 2010, 2011 e 2012. Neste caso, com relação à responsabilidade tributária,
pode-se afirmar que F.S:
(A) é responsável pelo imposto relativo aos exercícios de 2010, 2011 e 2012 –
ERRADA.
(D) não é responsável pelo débito, em face de sub-rogação sobre o preço – CORRETA.
b) Situação em que há, no título aquisitivo, prova da quitação dos tributos ->
Imaginem que Maria compra um imóvel, e quer ver a certidão negativa dos tributos. E a
certidão sai positiva, saindo um débito de IPTU, e o devedor vai pagar essa dívida, e
apresentará a guia paga. Isso realmente acontece, e o vendedor chega com a guia paga, a
transação é feita e o tabelião faz constar da escritura a prova dessa quitação. Mas 6 meses
depois Maria recebe uma notificação da prefeitura falando que aquele débito está em
aberto. Na prefeitura, Maria apresenta a guia, e o fiscal da prefeitura fala que é falsa aquela
quitação. Aquele débito está em aberto ainda. Neste caso, como há prova no título
aquisitivo (na escritura) de que o débito está pago (prova da quitação), o adquirente não fica
com a responsabilidade. Neste caso, a responsabilidade continua sendo do alienante
falsário. E isso é tranquilo no STJ. A responsabilidade permanece com o alienante.
Estas duas exceções estão no final do artigo 130, caput, e no seu parágrafo primeiro.
A tese de João foi acolhida pelo STJ? NÃO. O alienante possui legitimidade passiva
para figurar em ação de execução fiscal de débitos constituídos em momento anterior à
alienação voluntária de imóvel. STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 942.940-RJ, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 15/8/2017 (Info 610).
O fato gerador do IPTU ocorreu em 01/01/2015 e, nesta data, João ainda era o
proprietário da casa. Assim, o fato gerador do imposto se deu antes da alienação do imóvel.
O STJ tem entendido que os arts. 132 e 133 do CTN consagram responsabilidade
tributária solidária, por sucessão, e o art. 135 ventila hipótese de responsabilidade de
caráter solidário, por transferência. Assim, a interpretação sistemática do art. 130 com os
demais dispositivos que tratam da responsabilidade tributária no CTN corrobora a conclusão
de que a sub-rogação ali prevista tem caráter solidário, aditivo, cumulativo, reforçativo e não
excludente da responsabilidade do alienante, cabendo ao credor escolher o acervo
patrimonial que melhor satisfaça o débito cobrado a partir dos vínculos distintos.
O locatário não possui legitimidade ativa para pedir a repetição de indébito do IPTU
e das taxas referentes ao imóvel alugado (2ª parte da súmula)
O locatário não possui legitimidade ativa para pedir a repetição de indébito do IPTU
e das taxas referentes ao imóvel alugado (2ª parte da súmula)
Mas, nos dois casos, o contrato de locação diz que a responsabilidade pelo
pagamento do IPTU e das taxas é do locatário... O locatário é quem está pagando os
tributos...
Isso não importa. O Fisco não tem nada a ver com isso, ele não participou desse
ajuste. Um contrato entre particulares não tem a força de interferir na relação jurídico-
tributária com o Fisco. É o que prevê o art. 123 do CTN:
Art. 123. Salvo disposições de lei em contrário, as convenções
particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de
tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar
a definição legal do sujeito passivo das obrigações tributárias
correspondentes.
Em outras palavras, não se pode invocar contra o ente público o contrato firmado
entre locador e locatário, sendo o proprietário do imóvel o sujeito passivo da obrigação
tributária.
Diante disso, alguns leitores podem estar pensando: o locatário detém a posse do
imóvel. Logo, ele também poderia ser considerado contribuinte do IPTU. Sendo contribuinte
do imposto, teria legitimidade para ajuizar ações questionando esse tributo.
• o proprietário do imóvel;
Seria possível que o locatário pedisse a repetição de indébito do IPTU com base no
art. 166 do CTN, alegando que foi ele quem sofreu o encargo econômico do tributo? NÃO. O
art. 166 do CTN prevê o seguinte:
Ocorre que este art. 166 do CTN é aplicado apenas para tributos indiretos, não sendo
regra válida para os tributos diretos, como é o caso do IPTU e das taxas que incidem sobre o
imóvel. Nesse sentido:
O art. 166, CTN, responde: cabe a repetição de indébito pelo contribuinte de direito
desde que não tenha repassado o ônus financeiro ou, caso passado, tenha autorização do
consumidor final. Assim, em regra é o contribuinte de direito, quem tem relação com o FISCO
(súmula 546 do STF: "cabe restituição do tributo pago indevidamente, quando reconhecido
por decisão, que o contribuinte de jure não recuperou do contribuinte de facto o quantum
respectivo").
Quem entende que é o contribuinte de fato o faz para evitar o enriquecimento sem
causa do contribuinte de direito. O STJ entende que, em regra, a legitimidade é do
contribuinte de direito com autorização do de fato, pois a relação jurídica do fisco é com o
contribuinte de direito (inadimplência é cobrada do de direito); a autorização é exigida para
evitar o enriquecimento sem causa.
_____________________________________________________________________________
Digamos que João devia imposto de renda, mas Morre. Neste caso, quem é o
responsável por estes débitos tributários? A responsabilidade tributária após a abertura da
sucessão (que ocorre com a morte) é do espólio, e será dele até a partilha. Por ocasião da
partilha, teremos responsabilidade do cônjuge meeiro e dos sucessores a qualquer título.
É possível que haja um débito no imposto de renda que, até a abertura da sucessão
(morte), já tenha sido lançado. Neste caso, a responsabilidade será do espólio. A partir da
morte e até a partilha, a responsabilidade será do cônjuge-meeiro e dos sucessores.
Digamos que um destes atos tenha ocorrido no dia 20 de maio de 2010. No dia 30 de
Setembro de 2010, aparecem alguns débitos tributários não conhecidos. No caso da fusão,
aparece um débito da empresa B relativo a um fato gerador de 2008.
No caso da incorporação, aparece um débito da empresa B, também de 2008.
E isso é muito fácil, mas pode ter uma sucessão de atos societários, e a resposta é fácil.
É só ir no final da cadeia, e quem sobrar (o resultado da operação societária) é o responsável
tributário.
Ao lado do caput, temos o parágrafo único do artigo 132. O parágrafo único trata da
hipótese de extinção de pessoa jurídica.
Ex: Temos a empresa “AB”, que possui objeto social de industrialização de sacolas
retornáveis. Esta empresa não está indo bem, e é extinta. Só que um sócio desta empresa
(sócio remanescente) acredita muito neste negócio, e acha que as coisas podem melhorar.
Este sócio remanescente constitui uma nova pessoa jurídica, chamada “CD”. Surge, entretanto,
um débito da empresa que foi extinta (“AB”). De quem é a responsabilidade por este débito? A
responsabilidade vai ser da nova empresa, “CD”, formada pelo sócio remanescente, desde que
o objeto social seja o mesmo, e que “CD” explore industrialização de sacolas retornáveis.
Isso é para evitar fraude, porque senão era só fechar as portas de uma empresa e criar
outra com o mesmo objeto social.
Mas e a cisão (total ou parcial)? Esta pergunta caiu na 2ª fase da magistratura -> Na
cisão, a empresa AB se dividem em empresa A e empresa B. Uma só empresa dá origem a duas
novas, extinguindo a antiga (Cisão total), ou permanecendo ela (cisão parcial). Digamos que
esta cisão aconteça no dia 20 de maio de 2010. No dia 30 de setembro de 2010, aparecem
débitos de “A”, com fato gerador de 2008. De quem é a responsabilidade por esses débitos?
O STJ já entende tranquilamente que, nestes casos, devemos aplicar a regra do artigo
132. Ou seja, temos que nos perguntar “quem sobrou”? Sobrou “A” e “B”, então elas que
respondem solidariamente.
Mas surge uma questão: esta hipótese de responsabilidade não está prevista na lei, e
já vimos que só pode existir responsabilidade se decorrente de lei. Esta operação societária
(cisão) veio ao mundo jurídico com a Lei da S\A, que é posterior ao CTN, então não dava para
vir previsto no CTN. Se é assim, o STJ diz que é injusto que nas operações de cisão não haja
responsabilidade tributária.
A cisão é modalidade de mutação empresarial, é a mesma coisa. E por isso, onde está a
mesma razão deve estar o mesmo direito. Assim já decidiu o STJ.
Temos a multa devida pela demora, porque não pago no prazo (geralmente de 20%
por mês), e outra multa que não pune a demora, mas outra coisa que o sujeito passivo fez de
errado e a Fazenda não gostou (por exemplo, uma fraude). Estas multas punitivas também
serão de responsabilidade do sucessor, e da empresa que sobra.
Mas isso não é justo, porque quem praticou a fraude foi a outra empresa, mas mesmo
assim o STJ decidiu que quem responde é a empresa que sobrou (RESP 923.012, STJ). A
responsabilidade nesse caso é a mais ampla possível.
A sucessora terá que pagar apenas os tributos ou também as multas tributárias que a
sucedida tivesse contra si? As empresas argumentavam que a sucessora deveria pagar
apenas os tributos, estando dispensadas de arcar com o pagamento das multas. Isso porque
os arts. 132 e 133, que tratam sobre a responsabilidade tributária na sucessão empresarial,
falam expressamente apenas em tributos. Veja:
Outro argumento dos responsáveis era o de que a multa, por possuir caráter de
sanção, seria pessoal e, por isso, não se transmitiria a terceiros.
A tese das empresas foi acolhida pela jurisprudência? NÃO. O STJ decidiu que, na
hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas os
tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a
fatos geradores ocorridos até a data da sucessão.
Abrange multas moratórias e punitivas: Vale chamar a atenção para o fato de que a
multa será devida pelo sucessor, não importando se ela é de caráter moratório ou punitivo.
Havia divergência quanto a isso e agora está pacificado.
Por fim, uma última observação: multa não é tributo. A multa é uma sanção por ato
ilícito e, portanto, está fora da definição de tributo. Apesar de multa não ser tributo, ela
também é transmitida para o sucessor em caso de sucessão empresarial. Essa transmissão
ocorre porque a multa é uma dívida de valor que faz parte do patrimônio passivo do
sucedido e, como tal, transfere-se ao sucessor.
E no caso de cisão? Por que o art. 132 do CTN não fala em cisão? A cisão ocorre
quando uma sociedade transfere todo ou parte de seu patrimônio para uma ou mais
sociedades.
Ex: sociedade "A" transfere todo o seu patrimônio para as sociedades "B" e "C"; neste
caso, dizemos que houve a cisão total, sendo extinta a sociedade que transferiu o patrimônio
(sociedade "A").
Ex2: sociedade "A" transfere apenas parte do seu patrimônio para as sociedades "B" e
"C"; nesta hipótese, houve cisão parcial e a sociedade "A" continua existindo.
O art. 132 do CTN realmente não menciona a "cisão". O motivo da omissão está no
fato de que o CTN é de 1966 e o instituto da "cisão" só foi previsto no ordenamento jurídico
brasileiro 10 anos mais tarde, com a edição da Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas).
Segundo a jurisprudência, apesar de o art. 132 do CTN não falar expressamente, ele é
aplicável também nos casos de cisão. Veja:
____________________________________________________________________________
João adquire uma padaria. Esta padaria possui débitos tributários. De quem é a
responsabilidade por estes débitos, no caso de aquisição de estabelecimento comercial
(trespasse)? A pessoa jurídica que adquiriu este estabelecimento responde pelos débitos
tributários?
OBS: Locação não transfere a responsabilidade tributária. Tem que ser a aquisição, não
bastando a locação.
Mas como é a responsabilidade de João? Ele responde por tudo? Qual a extensão?
Responde integralmente, subsidiariamente?
Este dispositivo acaba impedindo a realização de negócios jurídicos com relação aos
estabelecimentos comerciais, industriais, empresariais e fundos de comércio.
Tatiane Piscitelli foi consultada uma vez sobre a aquisição de uma marca que tinha
um nome muito forte no mercado (marca de queijos), mas estava muito mal
financeiramente, cheia de débitos, e o concorrente, que fabricava leites, queria entrar no
mercado de queijos e já entraria com uma marca forte. A empresa de leite consultou
Tatiane, e queria saber se teria a responsabilidade tributária pelos débitos fiscais da marca
de queijos. A questão é a seguinte: não há aquisição de um estabelecimento comercial,
industrial ou comercial, mas sim a aquisição da marca. Mas em muitos casos a marca pode
significar todo o fundo de comércio da empresa, e este era o caso. Se a empresa de laticínios
comprasse, ia resultar sim na responsabilidade. Haveria sucessão tributária, e poderia
responder por estes débitos tributários. Resultado: a empresa de leite não comprou, e seria
melhor se tivesse comprado, porque aproveitaria os funcionários, propagaria aquela marca
já consolidada, e etc.
Pensando em situações como essas (o artigo 133 é ruim), o legislador, em 2005, fez
algumas alterações nos parágrafos do artigo 133, alterações feitas pela LC118\05.
Basicamente, a LC118\05 estabeleceu situações em que a regra do artigo 133, caput
e incisos não se aplica. Estabeleceu casos em que não ocorrerá a sucessão tributária,
justamente para fins de facilitar estes negócios empresariais.
Mas há casos em que o benefício do §1º (estas exceções acima) não se aplica, ou
seja, haverá alienação judicial em processo de falência ou alienação judicial de filial ou
unidade produtiva isolada em recuperação judicial, mas mesmo assim o adquirente terá
responsabilidade tributária. São os casos de tentativa de fraude à sucessão tributária.
Há ainda uma questão a ser resolvida: Onde aplicar os recursos no caso de processo
de falência? Nos casos de recuperação judicial, para que esta seja requerida, não pode haver
débitos tributários, e aí o débito tributário aparecerá depois, não havendo sucessão de
responsabilidade tributária. Já no processo de falência, geralmente a empresa também
possui débitos tributários, por isso a pergunta foi só para processo de falência.
O §3º diz que os valores ficarão depositados em juízo pelo prazo de 1 ano. Após este
prazo, os valores serão empregados no pagamento de créditos que preferem ao crédito
tributário. Ou seja, o dinheiro não será aplicado no pagamento de tributos. Ele será aplicado
para pagar créditos que estão acima do crédito tributário na ordem do processo de falência
(primeiro os créditos extraconcursais e importâncias passíveis de restituição, depois créditos
trabalhistas e de acidente de trabalho, depois créditos com garantia real, e depois créditos
tributários – as multas tributárias não se incluem aqui, ficam no final, junto com as outras
multas – N.A – Do ponto de vista empresarial faz muito sentido).
Comecemos com o artigo 134 -> Se o pai agir de forma culposa com relação aos
tributos dos filhos será responsável, no caso de impossibilidade de cumprimento da
obrigação principal pelo menor (contribuinte) (por isso é subsidiária – só responde no caso
de o filho não conseguir pagar). Se o filho não puder pagar, aí o pai paga.
Mas há uma dúvida: No artigo 134, caput, está escrito que o pai responde de forma
solidária, mas na tabela colocamos que a responsabilidade é subsidiária. É que, do ponto de
vista técnico, não temos solidariedade, porque existe um evidente benefício de ordem, já
que o pai responde somente “nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da
obrigação principal pelo contribuinte”. Se há benefício de ordem, há responsabilidade
subsidiária, e não solidária. E isso é aceito por toda a doutrina, mas se cair a literalidade do
artigo na prova, teremos que marcar “solidária”.
6) Responsabilidade do sócio pelos débitos da pessoa jurídica nos artigos 134 e 135
-> Esta é importantíssima, há muita discussão na jurisprudência. A responsabilidade dos sócios
está no artigo 134, mas merece um destaque, razão pela qual o veremos separadamente, aqui.
A regra está no artigo 135, III, que trata dos sócios responsáveis pela PJ quando
tivermos um sócio gerente, um sócio administrador ou um sócio com poder de gestão. Este
sócio praticou atos dolosos (excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatuto social), e por isso, deve pagar os tributos da pessoa jurídica. Esta é a regra da
responsabilidade dos sócios, que traz uma responsabilidade pessoal.
Aqui existem muitos debates jurisprudenciais no STJ, e isso cai demais em concurso:
6.1 – Debate sobre a caracterização dos atos dolosos (caracterização dos atos
previstos no caput do artigo 135) -> Diz o STJ que para que haja prática de atos dolosos, é
necessário provar o dolo. Não basta o simples inadimplemento do tributo.
Mas isso é uma discussão antiga, porque o caput do 135 fala que é a prática de atos
com excesso de poderes, com infração social ou estatuto social e INFRAÇÃO À LEI. E o simples
inadimplemento do tributo já é uma desobediência à lei. E se já está descumprindo a lei, o
simples fato de não pagar tributo já consubstanciaria uma das condutas do artigo 135. Esta é a
alegação da Fazenda, mas não é esse o entendimento do STJ. O STJ por muito tempo debateu
essa tese, mas hoje o entendimento é consolidado no sentido de que quando o artigo 135 fala
em infração de lei, deve ser uma infração de lei vinculada com dolo.
Evidente, este ato doloso deve ser praticado por um sócio gerente ou um sócio com
poder de gestão. Senão ele não pode ser responsabilizado.
6.2 – A presunção da prática de atos dolosos -> Para que tenha a responsabilidade do
artigo 135, III do CTN, tem que existir atos dolosos praticados por sócio gerente ou com
poder de gestão, com consequente não pagamento de tributos. Mas existe uma situação em
que a prática destes atos dolosos é presumida.
Aí o fiscal vai até o local antigo, vê que a empresa antiga não mais funciona naquele
local, e presume que houve a dissolução irregular da sociedade. Mas em verdade, esta
sociedade continua funcionando em outro lugar, deixando apenas de cumprir uma obrigação
acessória (avisar a Fazenda quando da mudança de endereço). Neste caso, temos a
responsabilidade pela prática de atos dolosos (135, CTN), por conta de uma presunção de
dissolução irregular da sociedade (pela mudança de endereço sem comunicação).
Andreia Veloso (MPRJ – 2018): o simples pedido de falência não é violação a lei, logo
não pode justificar o redirecionamento.
O STJ e o STF entendem que a fazenda só pode inscrever o gerente em dívida ativa se
houver um procedimento administrativo prévio em que seja comprovada a violação à lei ou
excesso de poderes.
Quando a Fazenda Pública ajuíza uma execução fiscal contra a “empresa” e não
consegue localizar bens penhoráveis, o CTN prevê a possibilidade de o Fisco redirecionar a
execução para algumas pessoas físicas que tenham relação com a “empresa” e hajam atuado
com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos, nos termos do art.
135 do CTN.
Se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos (art. 135, III), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica de forma fraudulenta
ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos débitos.
Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com
o Fisco não autoriza que o sócio pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário
que tenha praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos (art. 135, III) (súmula 430, STJ).
Se a empresa deixa de funcionar no seu domicílio fiscal, presume-se que ela deixou
de existir (foi dissolvida). E o pior: foi dissolvida de forma irregular, o que caracteriza
infração à lei e permite o redirecionamento da execução.
Assim, por exemplo, em uma execução fiscal, caso não se consiga fazer a citação da
empresa porque ela não mais está funcionando no endereço indicado como seu domicílio
fiscal, será possível concluir que ela foi dissolvida irregularmente, ensejando o
redirecionamento da execução, conforme entendimento sumulado do STJ (súmula 435).
Segundo explica o Min. Mauro Campbell Marques ao comentar a origem da súmula, “o
sócio-gerente tem o dever de manter atualizados os registros empresariais e comerciais, em
especial quanto à localização da empresa e a sua dissolução. Ocorre aí uma presunção da
ocorrência de ilícito. Este ilícito é justamente a não obediência ao rito próprio para a
dissolução empresarial (...)” (REsp 1.371.128-RS).
Agora vamos enfrentar uma grande polêmica que existia sobre o tema: o
redirecionamento é permitido apenas nas execuções fiscais que cobrem débitos
TRIBUTÁRIOS ou também pode ser aplicado a dívidas NÃO-TRIBUTÁRIAS? O STJ decidiu que,
quando a sociedade empresária for dissolvida irregularmente, é possível o redirecionamento
da execução fiscal para o sócio-gerente da pessoa jurídica executada mesmo que se trate de
dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA. Vale ressaltar que, para que seja autorizado esse
redirecionamento, não é preciso provar a existência de dolo por parte do sócio. Assim, por
exemplo, a Súmula 435 do STJ pode ser aplicada tanto para execução fiscal de dívida ativa
tributária como também na cobrança de dívida ativa NÃO-TRIBUTÁRIA.
Segundo apontou o STJ, o suporte dado pelo art. 135, III, do CTN, na esfera tributária
é dado pelo art. 10, do Decreto 3.708⁄19 e art. 158, da Lei 6.404⁄76 - LSA no âmbito não-
tributário, não havendo, em nenhum dos casos, a exigência de dolo. Confira:
Como bem pontua o Min. Mauro Campbell, não há como compreender que o mesmo
fato jurídico “dissolução irregular” seja considerado ilícito suficiente ao redirecionamento da
execução fiscal de débito tributário e não o seja para a execução fiscal de débito não-
tributário.
(Juiz TJSP 2014 VUNESP) É de se presumir que determinada empresa foi dissolvida
irregularmente quando deixa de funcionar naquele que é o seu domicílio fiscal conhecido,
omitindo-se no dever de efetuar a comunicação da mudança aos órgãos competentes, o que
pode ocasionar o redirecionamento da ação de execução fiscal. ( CERTO )
1ª corrente: NÃO. É a posição tradicional do STJ, ainda adotada pela 1ª Turma. AgRg
no AREsp 729.285/SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 06/08/2015.
2ª corrente: SIM. É a nova posição da 2ª Turma do STJ. REsp 1.520.257-SP, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 16/6/2015 (Info 564). O que desencadeia a responsabilidade
tributária é a infração de lei evidenciada na existência ou presunção de ocorrência de
referido fato. Por essas razões, é irrelevante para a definição da responsabilidade por
dissolução irregular (ou sua presunção) a data da ocorrência do fato gerador da obrigação
tributária, bem como o momento em que vencido o prazo para pagamento do respectivo
débito. É a nova posição da 2ª Turma do STJ.
Os sócios, como regra geral, não respondem pessoalmente (com seu patrimônio
pessoal) pelas dívidas da sociedade empresária. Isso porque vigora o princípio da autonomia
jurídica da pessoa jurídica em relação aos seus sócios. A pessoa jurídica possui personalidade e
patrimônio autônomos, que não se confundem com a personalidade e patrimônio de seus
sócios. No entanto, se o sócio praticou atos com excesso de poderes ou infração de lei,
contrato social ou estatutos (art. 135, III, CTN), ele utilizou o instituto da personalidade jurídica
de forma fraudulenta ou abusiva, podendo, portanto, ser responsabilizado pessoalmente pelos
débitos.
Vale ressaltar, no entanto, que o simples fato de a pessoa jurídica estar em débito com
o Fisco não autoriza que o sócio pague pela dívida com seu patrimônio pessoal. É necessário
que ele tenha praticado atos com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos (art. 135, III).
De acordo com o relator, juiz federal convocado Clodomir Sebastião Reis, a empresa
foi citada em novembro de 1995, o que interrompeu a prescrição da certidão. O problema é
que apenas em dezembro de 2005 a autarquia pediu o redirecionamento da execução fiscal.
Citando precedentes do STJ, o relator votou pela prescrição. “Tendo em vista que o
redirecionamento da execução fiscal pelo INSS ocorreu 10 anos após a citação, conclui-se
que ocorreu a prescrição da pretensão da cobrança pela União”, afirmou o relator. A decisão
foi unânime. (0018245-96.2007.4.01.3800).
____________________________________________________________________________
6.3) Condições -> Em regra, temos que ter atos dolosos (que não se confundem com o
simples inadimplemento, e os presumidamente equiparados à dissolução irregular pela
mudança de endereço sem comunicação à Fazenda) que gerem o não pagamento de tributos e
que, por isso, surge a responsabilidade do sócio com gerente ou com poder de gestão.
6.4) Ônus da prova -> Já vimos que o ato doloso deve ser provado para que haja a
responsabilidade do sócio. E quem tem que realizar esta prova? Pode haver inversão do ônus
da prova neste caso?
A regra é que o ônus da prova tem que ser da Fazenda, já que ela que alegará que o
sócio agiu dolosamente, de forma a gerar sua responsabilidade. O problema é que o STJ
reconhece que existem casos de inversão do ônus da prova, ou seja, casos em que o sócio é
quem precisará provar que não agiu com dolo. O STJ reconhece 2 casos de inversão do ônus
da prova:
b) Inclusão do nome do sócio na dívida ativa -> Este caso ainda não está pacificado,
mas por enquanto a jurisprudência é bem desfavorável ao sócio (até porque a CDA goza de
presunção de liquidez e certeza, além de ser um ato administrativo, possuindo presunção de
veracidade).
Ex: temos um tributo lançado em face da PJ. A PJ recebe esse lançamento, não tem
dinheiro para pagar e não paga. Mas até aqui não temos responsabilidade do sócio, porque
não há sua responsabilidade com o tão só não pagamento do tributo (súmula 430, STJ).
Então a Fazenda incluirá o débito em dívida ativa, emitirá a CDA e ajuizará a cobrança
judicial daquela dívida tributária. Mas no momento em que a Fazenda inscreve em dívida
ativa, ela consolida o débito (em termo de valores, com a inclusão de multas e penalidades,
e consolidação relacionada ao sujeito passivo, já que deve identificar quem é o sujeito
passivo). O próximo passo é a emissão da CDA. E nessa identificação, pode colocar o
contribuinte e o responsável.
CDA é o título executivo com base no qual a execução será ajuizada. A CDA é um
espelho da dívida ativa (tudo o que está na dívida ativa está na CDA). Pode acontecer de a
Fazenda, no momento em que indicar o sujeito passivo, indicar o sócio como responsável
tributário. Ao colocar o nome do sócio, diz o STJ que temos inversão do ônus da prova, pois
deverá o sócio demonstrar que não é ele o responsável tributário (não agiu com dolo).
A dívida ativa tem efeito de prova pré-constituída, e, portanto, é o sócio que terá
que desconstituir essa prova, dizendo que a inscrição em dívida ativa está errada. Além
disso, a CDA goza de presunção de liquidez e certeza, e é o sócio que terá que afastar essa
presunção.
O STJ também tem entendimento tranquilo neste aspecto, e é muito importante saber
isso para prova da AGU. O fundamento para esta inversão é a presunção de liquidez e certeza
da inscrição em dívida ativa, e o fato de que esta inscrição tem efeito de prova pré-
constituída.
E se o sócio quiser afastar esta presunção, terá que oferecer embargos à execução
fiscal, que é o instrumento em que ele pode fazer prova para afastar esta presunção de
veracidade. Mas para oferecer embargos à execução fiscal, é necessária a garantia do juízo.
Neste caso, sustenta a Fazenda que não há que se falar em exceção de pré-executividade, já
que neste instrumento não se admite dilação probatória (mas evidentemente, seria possível
apresentar provas documentais, processualmente falando, mas isso é ignorado pela
Fazenda). E nesta linha é a súmula 393 do STJ.
Ex: Imaginem que a Fazenda fez o lançamento de um tributo contra uma empresa em
um valor altíssimo (300 milhões). Neste caso, a PJ muito provavelmente lançará mão de uma
impugnação, dando início a um processo administrativo. Só que pode durar um longo tempo
no processo administrativo. Como entre o lançamento e a execução fiscal pode-se ter um
tempo muito grande (7, 8 anos), a empresa pode dar sinais de que começará a se desfazer de
seus bens, pretendendo frustrar a execução fiscal. Para evitar isso, há a possibilidade do
oferecimento da medida cautelar fiscal.
Mas mesmo que a lei não fale nada, o artigo 4º tem que ser lido à luz do artigo 135, III
do CTN, segundo o STJ. De nada adianta a indisponibilidade dos bens do sócio se depois ele
não irá responder (ser responsável). E ele só é responsável quando pratica atos dolosos (ou
quando presumidamente dolosos). Logo, se para a ação principal é necessária a prática de atos
dolosos, para a ação acessória (medida cautelar), também seria necessário. Logo, o STJ possui
entendimento de que para a decretação da indisponibilidade dos bens do sócio por medida
cautelar fiscal é necessária a prática de atos dolosos.
AULA 04 – 03\04\2014
DENÚNCIA ESPONTÂNEA
Imaginemos uma linha do tempo: O Fato gerador ocorreu em Maio de 2010. Com
relação a ele, não houve pagamento. Esse débito fica em aberto. No mês de Novembro de
2010, a empresa resolve fazer o pagamento do tributo. Ela pode fazer a denúncia
espontânea, porque não há fiscalização deste fato gerador, nem ciência da administração de
que ele devia aquele tributo (ele não contou à ADM). A empresa encaminhará à ADM a
denúncia, e na sequência faz o pagamento do tributo. Primeiro ele comunica à
administração espontaneamente (denúncia espontânea), depois faz o pagamento. Mas
como ele está pagando sem a ADM cobrar, ele terá um benefício, qual seja, pagará o tributo
unicamente acrescido dos juros de mora. O benefício, assim, é a exclusão da multa.
Diz o STJ que o pagamento tem que ser integral, e, portanto, à vista. O argumento é
que a denúncia espontânea é diferente de parcelamento. São dois institutos que não se
confundem. Denúncia espontânea pressupõe o pagamento à vista, sem multa. O
Parcelamento pressupõe o pagamento em parcelas (como o próprio nome diz), e pode
incluir multas. E quem define se a multa será ou não incluída é a lei que cria o parcelamento
(155-A do CTN).
A denúncia espontânea gera a extinção do crédito tributário. O parcelamento é
hipótese de suspensão da exigibilidade deste crédito tributário. São dois institutos distintos.
O Contribuinte diz ao Fisco que realizou o fato, e que por isso tem que pagar, nas suas
contas, R$ 1000,00. Ele pagará antecipadamente o tributo, e declarará que o valor devido é
este.
Diz o STJ que se estivermos diante de um tributo lançado por homologação, em que
o contribuinte declara que deve, mas não efetua o pagamento, neste caso a denúncia
espontânea não é cabível.
E porque não? Imaginemos um tributo cujo fato gerador ocorreu em Maio de 2010.
Com a ocorrência do fato gerador, nasce a obrigação acessória (declarar) e principal (pagar).
O sujeito passivo não tem dinheiro para pagar, mas mesmo assim, entregará a declaração
dizendo que realizou o fato e deve R$ 1000,00. E entrega a declaração, porque se não
entregar, pratica crime contra a ordem tributária (sonegação). Ele declara, mas não paga. Em
Novembro de 2010, o sujeito passivo consegue levantar o dinheiro para o tributo, e quer
fazer o pagamento. É possível fazer o pagamento só com os juros, excluídas as multas? O STJ
diz que não, porque esta declaração do contribuinte deu ciência ao fisco quanto à existência
do débito. E então está excluído um dos requisitos para a denúncia espontânea, que só é
possível quando não há fiscalização quanto ao fato gerador, ou seja, que a ADM não saiba da
ocorrência do fato gerador. E neste caso, a fazenda já sabe. Não é possível denúncia
espontânea, portanto. Tem que ser uma grata surpresa. Logo, quando o sujeito passivo for
efetuar o pagamento, pagará juros e todas as multas.
Isso é meio absurdo, porque premia o contribuinte que comete crime contra a ordem
tributária, pois quem declara (age de boa fé) não se beneficia da denúncia espontânea, mas
quem esconde (age de má fé e pratica crime contra a ordem tributária) se beneficia.
Esfera Federal -> Para fechar, insta salientar que na esfera federal há uma minimização
deste entendimento. Nesta esfera, há um benefício para o contribuinte que declarou e
cumpriu com seu dever.
Artigo 47 da Lei 9.430\96 -> O contribuinte realiza o fato gerador e faz a declaração,
mas não efetua o pagamento. A Fazenda percebe isso, e dá início a uma fiscalização. Diz este
artigo que o contribuinte que fez a declaração (agiu corretamente) terá o prazo de 20 dias a
contar do início da fiscalização para fazer o pagamento segundo o procedimento da denúncia
espontânea, ou seja, sem as multas e só com juros. E a condição é que o tributo tenha sido
declarado pelo contribuinte.
Por conta disso, o STJ, apoiado nas lições de Christiano Mendes Wolney Valennte,
entende que somente deve ser admitida a denúncia espontânea quando o Fisco é
preservado dos custos administrativos de lançamento. Daí ter surgido a Súmula 360, tendo
em vista que, nesse caso, já se parte do pressuposto de que não haverá custo administrativo
porque o tributo já se encontra em condições de cobrança, haja vista ter sido constituído
pelo contribuinte via declaração.
Termo final para que haja a denúncia espontânea: Como visto acima, um dos
requisitos para que haja denúncia espontânea está no fato de que o devedor deverá
confessar e pagar o débito ANTES que o Fisco instaure contra ele "qualquer procedimento
administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração". Tem que confessar
antes de ser "descoberto". Se for depois, não adiantará nada. Segundo a doutrina (SABBAG,
p. 668), o documento que demonstra que o Fisco instaurou procedimento administrativo
para apurar a infração é o "Termo de Início de Fiscalização", previsto no art. 196 do CTN:
Este dever do sujeito passivo, que nasce quando da ocorrência do fato gerador, deve
ter um direito correspondente, e neste caso, um direito do sujeito ativo (a Fazenda lato sensu).
E este direito é representado pelo crédito tributário.
Só que o crédito tributário, diferente da obrigação tributária (que nasce, ex lege, com a
simples ocorrência do fato gerador), para que seja constituído, precisa de uma linguagem. Ele
não é constituído automaticamente. Para isso, precisa de um instrumento que constitua o
crédito tributário.
Este direito não é propriamente um direito subjetivo. Ele é melhor representado como
um poder-dever. A ADM não tem a faculdade ou prerrogativa de cobrar o tributo, mas sim o
dever de cobrar o tributo devido, porque os tributos são as principais fontes de receita do
Estado (senão as contas do ente não serão aprovadas pelo Tribunal de Contas).
Só que este poder-dever, para ser exercido, depende de constituição, ou seja, depende
de formalização. E esta formalização pode ocorrer tanto pela Administração quanto pelo
Sujeito Passivo (contribuinte\responsável). Se o crédito tributário for constituído pela ADM, a
única possibilidade é fazer isso por meio do lançamento tributário. Se for constituído pelo
sujeito passivo, a hipótese mais comum é declaração.
Ouse Saber (2018): Caso o pagamento de tributo seja realizado mediante cheque
sem fundos, a Fazenda Pública pode promover a execução do cheque para receber o crédito
tributário? NÃO. A Fazenda não pode promover a execução do cheque por ausência de
interesse de agir, uma vez que a cobrança dos créditos fiscais goza de procedimento
específico, com lastro na LEF. O art. 162, §2º do CTN dispõe que “o crédito pago por cheque
somente se considera extinto com o resgate deste pelo sacado”. Assim, caso o cheque não
tenha fundos, deve haver a inscrição do valor correspondente em dívida ativa e posterior
execução mediante rito próprio. Segundo Antônio Augusto Jr., “a execução do crédito
tributário por outro rito processual, diverso do previsto na lei de execuções fiscais, implica
uma indevida renúncia às garantias dessa lei, violando, por conseguinte, o princípio da
indisponibilidade do interesse público. O título extrajudicial a ser executado não será o
cheque, e sim a CDA”.
LANÇAMENTO
4) Poder-dever da ADM -> O parágrafo único do artigo 142 do CTN diz que o
lançamento é obrigatório, sob pena de responsabilidade funcional.
Artigo 144 e 148 do CTN -> O artigo 144 é muito relevante. Analisaremos primeiro o
caput, depois o §1º, e depois o §2º.
A) Caput do 144 -> Este dispositivo traz uma regra aplicável na elaboração do
lançamento.
Ex: Uma lei de 2009 indica que a alíquota do IR em determinada operação é de 15%.
Esta mesma lei diz que a multa para a hipótese de não pagamento é de 20%. Uma empresa
não faz o pagamento do imposto. Em 2011, vem outra lei, que revoga a Lei de 2009, dizendo
que, a partir de agora, o IR terá alíquota de 10% e a multa exigida será de 17%. Em 2012 vem
o lançamento tributário. A pergunta é: Qual a alíquota aplicável ao IR e qual o percentual
aplicável para a multa? Esta resposta nos é dada pelo caput do artigo 144.
Ao lançamento, aplica-se a lei vigente à época do fato gerador, mesmo que esta lei
tenha sido revogada ou modificada. Ou seja, aplica-se a lei de 2009, com alíquota de 15%.
Mas isso não acontece com relação à multa. Neste caso, a penalidade mais benéfica
retroage, e isso está previsto no artigo 106, II, “c” do CTN. Logo, neste caso, aplica-se a
alíquota da Lei de 2009, mas a multa da Lei de 2011. Tributo nunca retroage, mesmo que
mais benéfico. Tributo só se aplica para o futuro. Mas multa mais benéfica pode retroagir.
Ultratividade da lei tributária -> É exatamente isso. A lei se aplica mesmo já tendo sido
revogada, para disciplinar a tributação ao tempo da ocorrência do fato gerador.
B) §1º do artigo 144, CTN -> Exceção à regra do caput ->Para explicar a exceção,
utilizaremos o tema da quebra de sigilo bancário pela ADM.
Essa discussão começa em 1964, com a publicação da Lei 4595\64. Esta lei regula o
Sistema Financeiro Nacional, e estabelece, em seu artigo 38, §5º, que a quebra de sigilo
bancário pela administração só seria possível diante de autorização judicial. Se a ADM quiser
ter acesso aos dados bancários do contribuinte (para fiscalizar), precisará de permissão do juiz.
O Artigo 6º diz que pode acontecer de a ADM olhar para o contribuinte e tenha uma
dúvida fundada com relação ao cumprimento das obrigações tributárias. E esta dúvida pode
aparecer no contexto de uma fiscalização ou de um processo administrativo. Surgindo esta
dúvida, qualquer entidade da ADM pode ter acesso às informações bancárias, requerendo ao
banco. Esta segunda possibilidade é mais ampla: pode ser em qualquer esfera, e basta um
processo administrativo ou uma fiscalização.
Tudo isso gerou duas discussões: uma relativa à constitucionalidade da quebra, e outra
relativa à retroatividade da quebra.
Este princípio está no artigo 145, §1º da CF. Segundo ele, os impostos, sempre que
possível, terão caráter pessoal e serão mensurados segundo a capacidade econômica dos
contribuintes. Serão graduados de acordo com manifestação de riqueza de cada um. Quem
tem mais paga mais, pois possui maior capacidade contributiva. E para que a ADM possa
tributar de acordo com a manifestação de riqueza, a Fazenda pode identificar o patrimônio e a
riqueza dos contribuintes. A quebra de sigilo seria um instrumento de efetivação da
capacidade contributiva, porque através dela sabe-se o quanto cada um gastou, mas não se
sabe com o quê gastou. Não há especificação, mas mera identificação.
O último argumento é que não haveria propriamente uma quebra de sigilo, mas sim
transferência de sigilo. A ADM não pode contar para todo mundo aquelas informações que
recebeu das instituições financeiras. As informações saem do banco, vão para o Fisco, mas
termina aí a cadeia, não havendo transferência dessas informações para outras pessoas. E isso
é garantia de sigilo fiscal. Este argumento foi levantado pela Ministra Ellen Gracie.
De posse dos extratos, o Fisco constatou que realmente houve sonegação de tributos
e, por conta disso, autuou a pessoa jurídica e fez a constituição definitiva do crédito
tributário.
Para que haja acesso aos dados bancários (quebra do sigilo bancário), é necessária
autorização judicial? Em regra, sim. Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha
acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário prévia autorização judicial por se
tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.
Para o STF, o simples fato de o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte
não viola a garantia do sigilo bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para
pessoas estranhas ao órgão fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido
exposta a intimidade do contribuinte para terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/2001
prevê punições ao responsável, que estará sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais
multa, além de responsabilização civil, culminando com a perda do cargo (art. 10).
1) O sigilo bancário não é absoluto e deve ceder espaço ao princípio da moralidade nas
hipóteses em que transações bancárias indiquem ilicitudes.
Na imprensa falou-se muito na “Receita Federal”, ou seja, que o STF autorizou que a
“Receita Federal” obtenha os dados bancários sem autorização judicial. No entanto, indaga-
se: as Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações
sobre movimentações bancárias? SIM. Se você ler novamente o art. 6º da LC 105/2001, irá
observar que o dispositivo fala que estão autorizados a requisitar as informações bancárias
as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas da União, mas também dos Estados,
do DF e dos Municípios. Assim, as Receitas estadual e municipal também poderão requisitar
dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre movimentações bancárias sem que
isso configure quebra do sigilo bancário.
Vale ressaltar, no entanto, que, para que os Estados, DF e Municípios possam fazer
uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da LC 105/2001, eles precisarão, antes, editar um
ato normativo que regulamente e traga, com detalhes, todas as regras operacionais para
aplicação do dispositivo legal. Neste regulamento deverão ser previstos sistemas adequados
de segurança e registros de acesso para evitar a manipulação indevida dos dados,
garantindo-se ao contribuinte a transparência do processo.
O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que possui,
inclusive, um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na ocasião, o STJ
firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das instituições financeiras,
ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações realizadas pelo contribuinte,
requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias.
É possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial
sejam utilizadas em processos criminais? Vamos entender melhor este tema voltando ao
nosso exemplo. Samuel era sócio administrador de uma empresa. A Receita Federal instaurou
procedimento fiscal contra a sociedade empresária sob a suspeita de que estaria havendo
sonegação de tributos. No curso do procedimento, a Receita, sem autorização judicial,
requisitou diretamente do banco os extratos com as movimentações bancárias da empresa
(art. 6º da LC 105/2001). De posse dos extratos, o Fisco constatou que realmente houve
sonegação de tributos e, por conta disso, autuou a pessoa jurídica e fez a constituição
definitiva do crédito tributário. Até aqui temos apenas um processo administrativo-
tributário (cobrança de tributos e multas).
O STJ, antes da decisão do Supremo, entendia que os dados obtidos pela Receita
Federal com fundamento no art. 6º da LC 105/2001, mediante requisição direta às
instituições bancárias no âmbito de processo administrativo fiscal sem prévia autorização
judicial, não poderiam ser utilizados no processo penal. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. REsp
1.361.174-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 3/6/2014 (Info 543). Assim, para
o STJ, o Fisco pode requisitar, sem autorização judicial, informações bancárias das
instituições financeiras para fins de constituição de créditos tributários. Contudo, tais
informações obtidas pelo Fisco não poderiam ser enviadas ao MP para servirem de base para
a propositura de uma ação penal, salvo quando houver autorização judicial, sob pena de
configurar quebra de sigilo bancário.
Acima falamos bastante sobre o art. 6º da LC 105/2001, mas vale ressaltar que o art.
5º da mesma Lei também foi impugnado.
V – contratos de mútuo;
Este art. 5º da LC 105/2001 permite que o Poder Executivo edite um ato normativo
obrigando as instituições financeiras informem a Receita Federal sempre que houver uma
operação financeira acima de determinado valor. Atualmente, o ato normativo que
regulamenta o art. 5º da LC 105/2001 é a Instrução Normativa RFB nº 1571, de 02 de julho de
2015. Segundo esta IN, as instituições financeiras são obrigadas a informar para a Receita
Federal sempre que houver uma movimentação financeira acima de:
Assim, se você faz a transferência de R$ 5 mil reais de sua conta bancária para a de seu
pai, por exemplo, esta informação será repassada pelo banco à Receita Federal. Caso a Receita
Federal considere que você efetuou movimentações bancárias muito superiores à renda que
declarou, para fins de imposto de renda, ela poderá instaurar uma ação fiscal para que você
justifique tais operações (art. 5º, § 4º da LC 105/2001), sob pena de ela considerar que você
omitiu receitas.
Desse modo, estes dados são utilizados pelo Fisco para cruzar informações e assim
verificar se há compatibilidade entre os valores movimentados e os dados apresentados na
declaração do IR.
Vale ressaltar que os gastos com cartão de crédito também estão abrangidos por este
dever de informar. Assim, se o valor da fatura paga é comunicado à Receita.
OBS: Vale ressaltar que as pessoas jurídicas também gozam da proteção do sigilo
bancário.
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje
19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de
MP informações bancárias de contas de titularidade de órgãos e
entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio público,
não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ.
5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/2015).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe
de 9/5/2012).
TCU Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações
de crédito originárias de recursos públicos não é coberto pelo
sigilo bancário (STF. MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações
Receita Federal dos bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de
sigilo bancário".
SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de
Fisco estadual,
competência, o art. 6º da LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto
distrital, municipal
Federal 3.724/2001.
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC
CPI 105/2001).
Prevalece que CPI municipal não pode.
_____________________________________________________________________________
2) Retroatividade da quebra – CPMF ->A CPMF foi criada em 1996, pela Lei 9.311\96.
Era um tributo que incidia sobre movimentação financeira. Quem movimentava recursos
pagava este tributo. Pela própria natureza da contribuição, a Fazenda tinha que ter
conhecimento do quanto o contribuinte movimentava, mas naquele momento não havia
possibilidade de quebra de sigilo bancário sem decisão judicial (que só veio com a LC105\01).
Então o legislador, no artigo 11, §3º da lei 9.311\96, diz que as informações adquiridas para a
CPMF só podem ser utilizadas para a CPMF, e não para outros tributos (porque se não, estar-
se-ia quebrando sigilo bancário).
Em 2001 veio a LC105\01, que possibilitou a quebra de sigilo bancário sem decisão
judicial. E em 2001 também veio uma Lei 10.174\01, permitindo o cruzamento de dados da
CPMF com o IR.
Pode acontecer de uma pessoa realizar o fato gerador do imposto de renda no ano de
2000, quando não havia a possibilidade de cruzamento de dados. Mas apenas em 2002
ocorreu a fiscalização e o lançamento deste IR do ano de 2000. Em 2002, é possível utilizar da
técnica de cruzamento de dados com a CPMF? Se utilizarmos o caput do artigo 144, não seria
possível, pois aplicar-se-ia a lei da época do fato gerador, e esta possibilidade veio somente em
2001. Pela regra do caput, não seria possível.
Mas o §1º permite a aplicação. Diz o §1º que a regra do caput não se aplica quando
estiverem em jogo normas procedimentais que, por exemplo, aumentem os poderes de
investigação da Administração. Portanto, o §1º estabelece uma hipótese de retroatividade,
porque a Lei 10.174\01 irá retroagir para atingir fato gerador praticado anteriormente. Se
fosse tributo não poderia retroagir, mas como é uma norma procedimental, não há problema
algum.
E neste sentido já existe manifestação do STJ, com este mesmo argumento (é possível
a retroatividade, pois no caso do CPMF, trata-se de norma procedimental).
No STF ainda não houve o julgamento da questão, mas foi reconhecida repercussão
geral ao RE 601.314.
C) §2º do Artigo 144 -> Impostos lançados por período certo de tempo.
IPTU -> Seu fato gerador é ser proprietário de imóvel na área urbana do município.
Mas isso acontece toda hora, e quem é proprietário é e ponto, é continuativo. Não há uma
data e hora em que se pratica o fato gerador. Daí que a lei estabelece uma ficção, pois é um
fato gerador que acontece a todo momento. Daí a Lei estabelece que o fato gerador do IPTU
acontece todo dia 1º de Janeiro do ano. Se João é proprietário daquele imóvel no dia 1º de
Janeiro de 2011, ele terá realizado o fato gerador do IPTU, e será devedor do IPTU pelo ano
todo, mesmo que venda o imóvel no dia seguinte.
Digamos que em Outubro, apareça uma lei que estabeleça uma isenção. Significa que
dali pra frente ele seria isento, pela regra do 144, mas neste caso não se aplica a regra, porque
por ficção jurídica, o fato gerador já aconteceu em janeiro. Então o contribuinte não terá
isenção no IPTU e no IPVA, neste caso.
Art. 144, §2º O disposto neste artigo não se aplica aos impostos
lançados por períodos certos de tempo, desde que a respectiva lei fixe
expressamente a data em que o fato gerador se considera ocorrido.
Ex: Um amante de Rugby comprou camisas pela internet, sabia que ia ser tributado,
mas mesmo assim comprou. A importação dessas camisetas era feita pela FEDEX, por
aproximadamente 60% do valor. Ele teria que ir retirar as camisetas e pagar o imposto
devido. O valor do imposto era próximo de 500 reais, e isso é uma situação concreta. Ele não
concordou com um imposto na monta de 500 reais quando na verdade, ele pagou 120 reais
pelas camisetas. A moça da FEDEX informou que o fiscal aduaneiro achou que aquelas
camisas estavam muito abaixo do valor de mercado, fez um arbitramento da base de cálculo,
e cobrou com base no valor arbitrado. Este cara ligou para Tatiane, e ela disse para a Fedex
pegar a autuação do fiscal, e a FEDEX disse que não tinha como mandar a autuação, porque
já tinha pagado o tributo. E ela pagou o tributo porque era responsável solidária por ser
transportadora na importação (como já vimos – quem transporta produtos também é
responsável por sua tributação). Ele acabou pagando o tributo e as camisas para não dar
trabalho, mas nunca mais comprou nada importado.
O fiscal pode desconsiderar a declaração do sujeito passivo e arbitrar uma nova. Mas
para isso, deve haver um processo regular de apuração da nova base de cálculo e, além
disso, deve ser garantida ao contribuinte a possibilidade de contraditório e ampla defesa.
A cervejaria adianta o pagamento do ICMS que seria pago pela distribuidora pela
venda futura da cerveja ao bar, por exemplo. Este ICMS é pago pela cervejaria, e por isso há
uma antecipação do ICMS. Isso é melhor para a Fazenda, porque a produção é oligopolizada,
mas a distribuição é pulverizada. É muito mais fácil fiscalizar alguns poucos do que fiscalizar
todos os distribuidores de cerveja, e todo mundo que compra cerveja. Por isso o pagamento
é adiantado.
E isso existe para facilitar a fiscalização da Fazenda. É muito mais fácil fiscalizar
somente 4 cervejarias na cidade, do que fiscalizar todos os bares, todos os restaurantes, e etc.
Essa substituição é feita com base em critérios legais, mais especificamente, no artigo
8º da LC87\96. Com estes critérios fixaremos o fato gerador futuro presumido. Alguns destes
critérios: preço do produto no mercado, margem de lucro, gastos com frete e outros custos, e
etc. É uma estimativa do que seria a base de cálculo.
Ou seja, o ICMS que será pago pela venda da distribuidora ao consumidor final será
antecipado, porque quem pagará é a cervejaria, que é anterior na cadeia de produção. Será
antecipado porque considerará um fato gerador futuro e, logo, presumido (não se sabe se a
cerveja será mesmo vendida ou não, e a que preço será vendida). A cervejaria recolhe o seu
ICMS e o da distribuidora, repassando ambos embutidos no preço da cerveja vendida à
distribuidora.
E a cervejaria que terá que recolher tudo por uma razão de praticidade e facilidade. É
muito mais fácil fiscalizar uma ou duas indústrias de cerveja do que fiscalizar todos os
estabelecimentos que vendem cerveja (bares, restaurantes, e etc). A produção é oligopolizada
e a distribuição é pulverizada.
Mas como calcular essa base de cálculo futura? Faz-se uma estimativa com base em
critérios legais. São os artigos 8º e 13 da LC87\96. E que critérios são esses? O preço da
mercadoria no mercado, o frete, margem de lucro, e etc. E o mais importante, essa
estimativa é feita com a participação de todos os interessados, e não só da Fazenda. Há a
participação dos distribuidores, da cervejaria, da Fazenda, e etc. Por isso é legal.
Pauta Fiscal -> Pauta fiscal é ilegal e inconstitucional. É uma tabela que contém a
base de cálculo mínima para certas mercadorias. A não observância desta tabela resulta em
uma presunção de fraude e desconsideração da base de cálculo eleita.
Ex: Queijo Prato – O valor mínimo de tributação é de 5 reais o quilo. Se circular por
menos que isso, a Fazenda desconsiderará a base de cálculo eleita pelo industrial a menor
que 5 reais, e imporá a base de cálculo sobre 5 reais. Evidentemente isso é ilegal, porque não
há contraditório, não há processo regular, nem participação dos envolvidos. Isso está na
súmula 431 do STJ. Se vendeu por menos de 5 reais o Kg, presume-se a fraude pela ADM.
A pauta fiscal é uma tabela que fixa uma base de cálculo mínima para determinado
produto. O descumprimento da pauta fiscal resulta numa presunção de fraude e imposição da
base de cálculo segundo a tabela da pauta fiscal.
E qual o critério para fixar esta base de cálculo mínima? É absolutamente arbitrário.
Não há um critério legal. A Administração escolhe e ponto final, sem nenhuma discussão. Pela
não observância de um processo legal para o estabelecimento da pauta fiscal é que a mesma é
ilegal. Não há a participação de todos os envolvidos, e por isso é ilegal e inconstitucional.
Art. 150 (...) § 7º, CF\88 A lei poderá atribuir a sujeito passivo de
obrigação tributária a condição de responsável pelo pagamento de
imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer
posteriormente, assegurada a imediata e preferencial restituição da
quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.
(Incluído pela EC 3/93)
Vale ressaltar que, mesmo antes da EC 3/93, que incluiu esta previsão na CF/88, os
Estados já adotavam a técnica da substituição tributária progressiva e o STF considerava
legítima. Assim, mesmo antes da EC 3/93 era possível a substituição tributária para a frente.
Assim, todo o tributo é pago de uma só vez pela refinaria ("A"), sendo o imposto
calculado sobre o valor pelo qual se presume que a mercadoria será vendida ao consumidor
(ALEXANDRE, Ricardo, p. 319).
E se o fato gerador presumido ocorrer, mas com um valor diverso do que foi
presumido e calculado? Ex: a refinaria pagou o imposto relacionado com as vendas futuras
na qualidade de responsável tributário; suponhamos que o imposto foi calculado
presumindo que o distribuidor venderia o combustível por R$ 1,00 o litro, mas, na realidade,
diante de uma crise no mercado, ele só conseguiu vender por R$ 0,70; logo, a base de cálculo
do imposto (valor da mercadoria efetivamente vendida) foi inferior àquela que havia sido
presumida; diante disso, na prática, pagou-se um valor de imposto maior do que o que seria
realmente devido. O que fazer neste caso? Haverá direito à restituição do valor pago a mais
de imposto? SIM.
A substituição tributária, prevista no art. 150, § 7º, da CF/88, tem como fundamento
o princípio da praticidade. Por meio desta técnica, o Estado consegue comodidade,
economicidade e eficiência na execução administrativa das leis tributárias. No entanto, a
praticidade tributária encontra freio nos princípios da igualdade, capacidade contributiva e
vedação do confisco, bem como na arquitetura de neutralidade fiscal do ICMS.
Desse modo, é papel do Poder Judiciário tutelar situações que extrapolem o limite da
razoabilidade, como é o caso em tela, no qual o contribuinte paga um valor maior do que
efetivamente devido, tendo, portanto, direito de ser restituído.
Para o Min. Edson Fachin, a tributação não pode se transformar em uma ficção
jurídica, em uma presunção absoluta, na qual o fato gerador presumido assuma um caráter
definitivo e sejam desprezadas as variações decorrentes do processo econômico.
Este Convênio foi impugnado por meio de uma ADI, tendo o STF, em 2002, julgado
improcedente a ação, declarando que essa previsão de não-restituição do imposto não
violava a Constituição Federal.
Em outras palavras, naquela ocasião, o STF, ao contrário de agora, decidiu que não
deveria haver a restituição do imposto caso a base de cálculo efetiva fosse menor do que
aquela presumidamente calculada. Veja trecho da ementa:
(...) O fato gerador presumido, por isso mesmo, não é provisório,
mas definitivo, não dando ensejo a restituição ou complementação
do imposto pago, senão, no primeiro caso, na hipótese de sua não-
realização final. Admitir o contrário valeria por despojar-se o
instituto das vantagens que determinaram a sua concepção e
adoção, como a redução, a um só tempo, da máquina-fiscal e da
evasão fiscal a dimensões mínimas, propiciando, portanto, maior
comodidade, economia, eficiência e celeridade às atividades de
tributação e arrecadação. (...) STF. Plenário. ADI 1851, Rel. Min.
Ilmar Galvão, julgado em 08/05/2002.
Este entendimento manifestado na ADI 1851 está superado pela nova decisão do STF
no RE 593849/MG. Todos os Ministros que votaram pela rejeição da ADI 1851 já saíram do
Supremo e houve, no caso, um overriding, que ocorre quando o Tribunal supera
parcialmente um entendimento anterior da própria Corte, modificando o âmbito de
incidência do precedente.
E por que se diz que houve uma superação parcial? Porque o caso julgado na ADI
1851 não é idêntico ao que foi apreciado novamente pela Corte. Na ADI 1851 estava sendo
analisada uma espécie de substituição tributária facultativa, na qual a empresa poderia
aderir ou não e, se aderisse, teria direito a alguns incentivos fiscais, tendo, por outro lado,
que seguir as regras do Convênio, que não previa a restituição.
Vale ressaltar que Pernambuco e São Paulo, que não aderiram ao Convênio,
possuem leis estaduais que determinam a restituição caso a base de cálculo da operação seja
menor. Desse modo, tais leis estaduais, ao contrário do Convênio, asseguram o direito aos
contribuintes. Referidas leis estaduais também foram questionadas no STF e a Corte decidiu
que tais atos normativos estão corretos ao assegurar a restituição caso haja um pagamento
antecipado do ICMS a maior. Por isso, as ADI 2675/PE e ADI 2777/SP propostas contra as leis
foram julgadas improcedentes.
STF não está vinculado aos efeitos de suas decisões anteriores: Vale lembrar que as
decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em ADI produzem eficácia contra todos e
efeito vinculante. Tais efeitos, contudo, não vinculam o próprio STF. Assim, se o STF decidiu,
em uma ADI, que determinado ato normativo é constitucional, a Corte poderá, mais tarde,
mudar seu entendimento e decidir que este mesmo ato é inconstitucional. Isso para evitar a
petrificação da interpretação constitucional. Em suma, o efeito vinculante conferido à
decisão proferida na ADI está limitado aos demais órgãos do Poder Judiciário e ao Poder
Executivo, mas não à Suprema Corte.
Pois bem. Vimos acima que a decisão do STF no RE 593849/MG representou uma
superação parcial do entendimento anterior da Corte. Como houve essa mudança, o STF
decidiu modular os efeitos do novo julgamento. Ficou definido o seguinte:
A) para todos os processos judiciais que já haviam sido ajuizados e que estavam
aguardando o posicionamento do STF na repercussão ora decidida; e
A) para situações ocorridas antes da decisão e que não tenham sido judicializadas; e
B) para situações que foram judicializadas, mas o contribuinte perdeu (não teve
direito à restituição) e houve trânsito em julgado.
(Advogado da União AGU 2015 CESPE) Por dispositivo legal expresso, a obrigação de
recolhimento de determinado imposto foi atribuída a pessoa diversa da do contribuinte,
devendo esse pagamento ser feito antecipadamente, em momento prévio à ocorrência do
fato gerador, previsto para ocorrer no futuro. Na situação considerada, trata-se do instituto
denominado substituição tributária progressiva, que tem previsão expressa relativa ao ICMS.
( CORRETA )
MODALIDADES DE LANÇAMENTO
TRIBUTÁRIO
No lançamento de ofício, o sujeito passivo em nada participa (ele só paga). Tudo fica
a cargo da administração.
No Lançamento por declaração, ele participa um pouco, por isso esta modalidade de
lançamento é chamada de lançamento misto.
Nesta modalidade, o sujeito passivo pratica o fato gerador. Assim, tem nascimento
uma obrigação tributária acessória, que se refere ao dever de o sujeito passivo entregar uma
declaração (daí o nome do lançamento).
O sujeito passivo entrega a declaração e nada mais faz. Apenas espera, pois na
sequência ocorre o lançamento, realizado com base na declaração entregue pelo sujeito
passivo. E só depois do lançamento por declaração haverá o pagamento do tributo.
E qual o conteúdo dessa declaração? Essa declaração deve conter alguma informação
essencial ao lançamento, e geralmente é uma informação fática que o sujeito passivo detém, e
que a ADM teria grandes dificuldades em obter.
Hoje é muito difícil acharmos um tributo lançado por declaração. Mas há um exemplo:
Ex: Em São Paulo foi instituída a taxa do lixo, que é cobrada considerando a utilização
daquele serviço de coleta de lixo. E como mensurar a utilização desse serviço? Depende da
quantidade de lixo que cada um produz. Mas é difícil saber o quanto de lixo cada um produzia.
Daí a prefeitura mandou uma carta a todos, para dizer quanto de lixo cada um produz (até 10
Kg, de 10 a 20 Kg, ou acima de 20 Kg). Evidente que ninguém se preocupou com isso e
declarou o mínimo. Mandou a declaração para a prefeitura e não fez mais nada. Tempos
depois, vem o lançamento da prefeitura, com base nesta informação, e cobra o tributo. Já que
você produz até 10 Kg, então você tem que pagar X. Assim é feito o lançamento por
declaração.
Esta declaração pode ser objeto de retificação (correção) pelo sujeito passivo (eu
declarei que produzo 20 Kg, mas na verdade eu produzo 10Kg). Se essa correção resultar em
correção do tributo, deve haver por parte do sujeito passivo, comprovação do erro.
De outro lado, a declaração pode ser modificada pela ADM, por ocasião da revisão
da declaração. Se a ADM encontra um erro, ela pode corrigir a declaração e substituí-la.
Fazendo isso, a ADM lança com base na declaração corrigida por ela mesma. Estas são as
duas possibilidades de mudança da declaração. Estas possibilidades de retificação estão nos
§§1º e 2º do artigo 147 do CTN.
Nesta modalidade de lançamento, o sujeito passivo realiza o fato gerador e, por isso,
tem o dever de fazer o pagamento antecipado do tributo. O pagamento antecipado do
tributo é a grande nota característica dessa hipótese de lançamento.
O sujeito passivo realiza o fato gerador, faz o pagamento antecipado, e a ADM tem o
prazo de 5 anos a contar do fato gerador para fiscalizar o pagamento. Se ela chega à
conclusão de que o pagamento está certo, o resultado disso será a concordância do
pagamento e a homologação. Com a homologação (que pode acontecer em até 5 anos a
contar do fato gerador), ocorre a extinção do crédito tributário (artigo 156, VII, CTN).
Mas pode acontecer de esse pagamento não ser realizado da forma correta. Pode
acontecer que o sujeito passivo falhe, e, portanto, não faça o recolhimento de forma
adequada.
A questão aqui é saber como essa cobrança é feita, e diante de qual prazo ela será
feita, já que não há homologação.
Na prática do direito tributário, o sujeito passivo realiza o fato gerador, e por isso
surgem duas obrigações tributárias: uma principal (pagar) e uma acessória (declarar
corretamente). Na declaração, o sujeito passivo dirá que realizou o fato gerador, e chegou à
conclusão de que deve “X”. Em sequência, deverá efetuar o pagamento deste valor “X”, mas
que não extinguirá o crédito tributário até a homologação. Esta concordância deve ser feita
até 5 anos a contar do fato gerador, na forma do artigo 150, §4º, CTN.
O problema é que quando o pagamento não é feito, ou é feito em valor menor que o
devido, não haverá homologação. Neste caso, haverá a cobrança do tributo. A questão é
saber como é feita a cobrança, e em qual prazo.
Isso não ofende o art. 142 do CTN, já que a constituição do crédito não estaria sendo
feita pela ADM (o lançamento é ato privativo da ADM)? Não ofende porque o lançamento é
ato privativo da ADM, e essa declaração não é lançamento, mas sim outra modalidade de
constituição do crédito tributário.
Esta situação gerará a cobrança. Agora poderemos responder, pois já sabemos que o
lançamento por homologação pressupõe essa declaração.
Pior que isso é o sujeito passivo declarar, mas declarar a menor. Ele deveria pagar
100, mas só pode pagar 40, então declara que só deve 40, fazendo o posterior pagamento de
40. É uma hipótese de fraude, já que ele sabe que deveria pagar 100.
Esta declaração errônea não constitui o crédito tributário (ou porque não existe ou
porque está errada – fraudulenta). Para a declaração constituir o crédito tributário (súmula
436, STJ), ela tem que estar correta. Estando certa e o pagamento não sendo realizado, ou o
seja, mas em valor insuficiente, a Fazenda poderá ingressar direto com execução fiscal (após
inserir o nome do devedor na dívida ativa), pois o débito já está constituído pela declaração.
Neste caso, já que o sujeito passivo não constituiu o crédito, ele tem que ser
constituído pela Administração. Logo, neste caso, deve haver o lançamento tributário, e,
portanto, estamos falando de prazo decadencial. Como a declaração ainda não constituiu o
crédito tributário (porque estava equivocada, ou porque nem foi feita), será necessário um
ato para constituí-lo.
O prazo decadencial, como regra, vem disciplinado no artigo 173, I do CTN. O prazo
decadencial (em regra) é de 5 anos, contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele
em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Trata-se, aliás, e um lançamento
suplementar de ofício.
Ex: O sujeito passivo realiza o fato gerador do ISS em maio de 2008, e não fez a
declaração, nem o pagamento. Diante disso, teremos o lançamento tributário (ausência de
declaração), que terá, como regra, o prazo do artigo 173, I, CTN, que será de 5 anos contados
do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado.
Houve muita discussão no STJ relacionado a este prazo de 5 anos, e essa controvérsia
é importantíssima. No STJ, havia a tese dos “5+5”, que hoje já está revogada, mas é
importante saber.
Dizia o STJ que em uma situação que ocorra um fato gerador do tributo (em Maio de
2000), sem que tenha ocorrido qualquer pagamento (ausência total de pagamento), o
resultado disso seria um prazo de decadência de até 10 anos. E seria de 10 anos porque a
ADM tem 5 anos a contar do fato gerador para homologar o lançamento (artigo 150, §4º do
CTN). E apenas depois de transcorrido este prazo para homologar teria início um novo prazo
de 5 anos para lançar (artigo 173, I do CTN). Por conta da cumulação destes dois prazos,
criou-se a tese dos 5+5.
Hoje o STJ diz que ou aplica um prazo ou outro. Cumulação não pode.
Esta é a regra. Entretanto, o STJ vai dizer que, no caso de fraude, mesmo que haja
pagamento, o prazo será o do artigo 173, I do CTN, ou seja, 5 anos a contar do 1º dia do
exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter se realizado. Antigamente, dizia o STJ
que, em caso de fraude, o prazo seria de 10 anos.
Em resumo: se o pagamento for feito a menor, aplica-se o prazo do art. 150, §4º: 5
anos a contar do fato gerador.
Se o pagamento não for feito, aplica-se o prazo do art. 173, I: 5 anos contados do 1º
dia do exercício seguinte ao que o lançamento poderia ter sido realizado.
LANÇAMENTO DE OFÍCIO
I –> Lançamento de ofício ou revisão nos casos de lei que assim determine -> Existem
alguns tributos que, por força da lei, são lançados de ofício. E são lançados de ofício
originalmente, e não porque o contribuinte não cumpriu com o lançamento por
homologação. São eles: IPTU e IPVA. São lançados considerando informações detidas pela
ADM. Nesse caso, a ADM já possui todas as informações para efetuar a cobrança, e por isso o
grau de participação do contribuinte é mínimo.
Incisos VIII e IX -> Revisão do lançamento anterior. Um lançamento pode ser realizado
com falta funcional (um fiscal fechou os olhos propositadamente para um aspecto, e por isso o
lançamento foi equivocado. Pode a ADM revisar).
EVASÃO X ELISÃO.
Isso está no inciso VII. Veremos aqui, portanto, os casos de dolo, fraude ou simulação.
Nos casos em que temos evasão (ilícita), a ADM pode desconsiderar os atos ilícitos, e
por conta disso, tributar da forma mais gravosa. O fundamento está no artigo 149, VII do
CTN, que trata exatamente do lançamento de ofício nos casos de dolo, fraude ou simulação.
A discussão está nos casos de planejamento tributário, ou seja, nos casos em que a
economia de tributos é lícita. Ele fez uma estrutura diferente no seu negócio, que resultou
em uma economia de tributos. Diante disso, pode a ADM desconsiderar estes atos de
planejamento tributário, para então tributar de forma mais gravosa?
A resposta poderia ser dada pelo artigo 116, parágrafo único do CTN, ou por meio da
teoria do propósito negocial.
Se a ADM tributária percebe que o sujeito passivo quer dissimular a ocorrência do fato
gerador, a ADM pode desconsiderar estes atos e negócios jurídicos. Se está tentando fazer
uma economia lícita, mesmo assim a ADM poderia desconsiderar estes atos e tributar de
forma mais gravosa. E os requisitos para isso estão em lei ordinária.
O Objetivo da ADM foi exatamente evitar o planejamento tributário. Não pode fazer
economia de tributos, tem que pagar sempre pela forma mais gravosa, o que é um absurdo,
mas está aí (alguns a consideram inconstitucional – Ver caderno de Andreioulo).
Só que a norma geral antielisiva possui um inconveniente: É necessária uma lei
ordinária que estabeleça os requisitos para a desconsideração dos atos ou negócios jurídicos.
E essa lei ainda não foi editada. Há uma lacuna com relação à esfera federal, pelo menos. De
acordo com o art. 116, parágrafo único, pode o contribuinte continuar fazendo planejamento
tributário. Mas a teoria do propósito negocial atrapalha tudo.
Segundo a teoria do propósito negocial, em alguns casos, a elisão pode ser equivalente
a um ato ilícito. O planejamento tributário pode se dar de forma ilícita. Uma empresa contrata
um escritório de advocacia tributária para fazer um planejamento tributário para ela. E há
casos em que o planejamento tributário implica na prática de atos ilícitos. Essa teoria se funda
no abuso de direito.
Ex: eu escolhi uma determinada estrutura para a minha empresa. Esta escolha vai
além da simples economia de tributo. Eu fiz o planejamento não só para diminuir a
tributação, e sim porque será melhor para o meu negócio. Ou seja, tem um propósito
negocial, e, além disso, há a diminuição da carga tributária incidente. Mas se o planejamento
é feito só para diminuir o tributo, estaria a empresa abusando do direito de economizar, e aí
o planejamento tributário se transforma em um ato ilícito. Existe o direito de se organizar,
mas desde que o objeto central desse planejamento seja o melhor funcionamento do
negócio. Se o núcleo do planejamento for apenas diminuir a tributação, aí incidirá esta
teoria, e os atos assim praticados podem ser desconsiderados, já que houve um abuso de
direito (ato ilícito).
E esses atos serão desconsiderados com base no próprio artigo 149, inciso VII do CTN,
porque se está diante de um ato ilícito resultante de abuso de direito. Não precisa utilizar o
artigo 116, parágrafo único. Ou seja, a elisão se transforma em um ato ilícito, devido à prática
de um ato ilícito ante a ausência da prova do propósito negocial.
Quem criou a teoria do propósito negocial foi Marco Aurélio Greco. E essa teoria tem
sido amplamente aceita na esfera administrativa, o que é muito bom para a Fazenda, e por
isso é importante para a prova de todas as procuradorias também.
Questão PGE\MS (2015) – Oral: Qual a diferença entre evasão e elisão fiscal?
Questão 07: Faça a distinção entre sonegação, evasão, elisão e elusão, dando
exemplos (exercícios FESUDEPERJ – 2014).
Essa questão está muito relacionada ao direito tributário penal e ao direito penal
tributário. A sonegação é uma denominação de lege ferenda (como deveria ter sido escrito),
que não encontra base na lei que tipifica os crimes contra a ordem tributária. A Lei 8.137\90,
de lege lata (está escrito) usa outras expressões, como por exemplo “omitir ou suprimir”. Daí
se dizer que a sonegação, expressão genérica, sintetiza os crimes relacionados à tributação,
isto é, o direito penal tributário.
Evasão caracteriza sempre um ilícito fiscal, porque é um ato ofensivo à lei que visa a
esquivar o contribuinte da tributação. A evasão é um exemplo do direito tributário penal,
podendo eventualmente vir a ser um exemplo do direito penal tributário (ex: mudança
fictícia de domicílio fiscal\indicação fictícia de domicílio fiscal. João declara que sua empresa
fica em Três Rios, porque lá não se paga ISSQN, mas, em verdade, ele presta serviços no Rio
de Janeiro – a priori, isso não é um ilícito penal, mas é um ilícito fiscal. Há uma evasão,
porque ele registrou um domicílio fiscal fictício para não pagar tributos. Só que essa evasão
pode virar um crime contra a ordem tributária, a depender do dolo, da estrutura e da
atividade, como acontece com emplacar carro em outro estado).
A elisão lícita é aquela que exterioriza uma atividade realizada pelo sujeito passivo
com o objetivo de economizar tributo, à luz do direito posto em consonância com os
princípios da tributação. Na elisão lícita, resta ao fisco tolerar a medida praticada pelo
contribuinte.
Ex: 2 pessoas físicas decidem comprar e vender um imóvel. Sabedoras que o ativo
imobilizado da PJ não paga imposto, acordam em criar uma PJ na qual o comprador
integraliza o seu capital em pecúnia, enquanto o vendedor integraliza seu capital em imóvel.
Ato contínuo, decidem desfazer a PJ, ficando o comprador com o imóvel e o vendedor com a
pecúnia. Trata-se de medida segundo a lei, mas que constitui um abuso de direito, suscetível
de desconsideração pelo fisco. É um grande exemplo de elusão. Um exemplo de ferramenta
para detectar a elusão é o “business purpose test” (colocar essa expressão na prova é
fundamental – significa “teste da finalidade negocial”). Nesse caso, é evidente que não era a
finalidade negocial a abertura de uma empresa.
Pergunta-se para que a empresa foi constituída, e o que ela faz. Quando não há uma
coincidência entre o objeto social e a atividade executada, há uma presunção de fraude.
Esse dispositivo outorga poderes abertos à ADM tributária, cabendo-lhe, por opção
política, dizer se sua elisão é ilícita ou lícita.
Para os autores que defendem a tipicidade tributária aberta (Ricardo Lobo Torres), o
dispositivo é constitucional, porque pondera o primado da lei face ao primado da justiça,
efetivando a perseguição da riqueza tributável. Segundo tal posicionamento, não há
nenhuma ofensa à figura do sujeito passivo, na medida em que a busca da verdade real, isto
é, a busca da riqueza tributável exsurgirá do devido processo legal, ou seja, do processo
tributário qualificado pelo contraditório e pela ampla defesa. Se o contribuinte não gostar da
autuação imputada ao contribuinte, ele teria que se defender em um processo
administrativo.
Indira Shiva Reis Muricy: Diante disto, caracteriza-se verdadeira afronta ao princípio
da legalidade estrita a tributação de um determinado negócio jurídico cujo fato gerador não
está previsto em lei, apenas para assegurar a igualdade de tributação e alcançar a
capacidade contributiva do sujeito, como quer a interpretação econômica. Não se trata,
contudo, como poderia transparecer, de desrespeito aos princípios da igualdade e
capacidade contributiva em detrimento ao princípio da legalidade. Pelo contrário, não há
violação àqueles princípios quando se veda a tributação por analogia. Trata-se de questão
onde não se justifica a tributação, por meio de hermenêutica, ainda que haja razão legítima
para tanto. Não cabe ao Estado se utilizar de construção exegética para invocar o princípio
da igualdade e tributar situação não prevista em lei.
DECADÊNCIA
Ex: Uma empresa de comunicação visual (painel eletrônico, outdoor), e existe uma
discussão sobre a incidência do ICMS nas operações desta empresa, porque significa saber se
estamos ou não diante de um serviço de comunicação. E a tese da defesa é que não é serviço
de comunicação, porque não há troca de comunicação (interlocutor), e no outdoor não há
essa troca de mensagens. Só há um receptor. E como sabia a empresa que provavelmente
não daria certo, já foram preparando a impugnação. Ela já estava realizada, e aí veio o
lançamento no valor de 60 milhões de reais, porque a empresa nunca pagou ICMS. E no auto
de infração, não havia a indicação do dispositivo legal. Este lançamento é nulo, porque o
contribuinte não sabe do que se defenderá. Há um vício formal, que gera nulidade.
Nestes casos de nulidade, é comum que a ADM reconheça seu erro. Se há nulidade
no lançamento, haverá uma decisão administrativa que anulará o lançamento. Desta decisão
que anulou o lançamento tem o fisco mais 5 anos para lançar de novo. E tem mais 5 anos
para lançar sem que haja causa de nulidade.
OBS: Não precisa ser uma decisão administrativa. Pode ser uma decisão judicial
também, desde que seja definitiva.
OBS:2: Tem que ser vício formal, não pode ser vício material para interromper a
decadência.
Imagine uma situação em que o sujeito passivo realiza o fato gerador do ICMS em
abril de 2005, mas não pagou. Quando tem início o prazo de decadência para a cobrança
deste tributo? Pela regra que vimos, tem início no dia 1º de Janeiro de 2006. A esta data,
soma-se 5 anos, e o resultado é 1º de janeiro de 2011. Neste momento decai o direito de
constituição do crédito tributário pela Fazenda.
Mas pode acontecer de, em outubro de 2005 (mesmo exercício do fato gerador), a
administração iniciar uma fiscalização referente a este fato gerador. O prazo de decadência
começaria a contar em 1º de Janeiro de 2006, mas mesmo assim a ADM já começou a
fiscalizar aquele tributo. Neste caso, diz o parágrafo único que se a Fazenda já está
fiscalizando, já tem condições de lançar. Assim, o início da fiscalização antes do início do
prazo de decadência resulta na antecipação do prazo para a contagem da decadência,
porque o prazo começará a correr a partir da fiscalização. O prazo é antecipado. Esse prazo,
que começaria no dia 1º de janeiro, é antecipado para outubro de 2005, porque a ADM já
está fiscalizando. Isso é o que diz a doutrina.
Contudo, o STJ (Resp 766.050) entende que o início da fiscalização inicia o prazo da
decadência, tenha ele ocorrido antes ou depois do 1º dia ao exercício seguinte em que
poderia ter sido cobrado. Isso não faz nenhum sentido, porque o STJ estabelece uma nova
hipótese de interrupção do prazo de decadência, qual seja, a fiscalização. Se já estava
rolando e a ADM fiscaliza, zera de novo o prazo. E isso é estranho, porque para o lançamento
de ofício a regra é a fiscalização, e aí lá no finalzinho do prazo a ADM começa a fiscalizar, e aí
começa a correr o prazo de novo.
OBS: Este foi um único julgado, não se repetiu, e na prática não acontece. Mas é uma
tese importante para a Fazenda e para as provas de AGU e procuradorias, porque é muito
favorável ao fisco.
O que acontece se o sujeito passivo antecipa o pagamento no prazo fixado pela lei,
mas o Fisco constata que o contribuinte pagou menos do que seria devido? Em caso de
pagamento menor do que o devido, o Fisco possui um prazo de 5 anos para apurar eventual
diferença nos valores recolhidos e efetuar, de ofício, o lançamento suplementar daquilo que
faltar.
Esse prazo de 5 anos é contado do dia em que ocorreu o fato gerador, na forma do §
4º do art. 150. Conforme explica Ricardo Alexandre, "o prazo decadencial é contado
exatamente da data da ocorrência do fato gerador. Entende-se que não se justificaria
esperar um prazo razoável para o início da contagem de prazo (conforme ocorre na regra
geral) porque a antecipação do pagamento provoca imediatamente o Estado a verificar sua
correção, de forma que a inércia inicial já configura cochilo." (Direito Tributário
esquematizado. São Paulo: Método, 2012).
Passados os 5 anos, se o Fisco não realizou o lançamento das diferenças, ele perderá
o direito de fazê-lo porque terá havido decadência e homologação tácita e a Fazenda Pública
terá que se contentar com o valor que foi pago pelo contribuinte.
Vale ressaltar que, se ficar comprovado que o contribuinte pagou apenas parte do
valor, mas agiu com dolo, fraude ou simulação, ficará afastada a regra do § 4º do art. 150
(mais benéfica ao contribuinte), devendo ser aplicado o art. 173, I, do CTN (um pouco mais
favorável ao Fisco, que ganhará um tempo maior para lançar).
E se o sujeito passivo não antecipar o pagamento no prazo fixado pela lei? Se ele não
pagar nada, o que acontece? Aqui o Fisco também deverá fazer o lançamento de ofício.
Assim, se a lei prevê que o contribuinte deveria ter feito o pagamento antecipado do
imposto e, mesmo assim, o sujeito passivo não o realiza, não fazendo a declaração prévia do
débito, então, neste caso, a Administração Tributária deverá fazer o lançamento direto
substitutivo (art. 149, V, do CTN). O Auditor Fiscal irá identificar quem é o sujeito passivo,
calcular o quanto do tributo é devido e o valor da multa aplicável.
Dessa forma, o lançamento era inicialmente por homologação, mas como o sujeito
passivo não fez o pagamento, o Fisco passa a ter o poder-dever de agir e cobrar o imposto
diretamente, por meio do lançamento de ofício.
Vimos acima que, no caso de pagamento PARCIAL, o termo inicial do prazo para a
realização do lançamento de ofício é a data da ocorrência do fato gerador (§ 4º do art. 150).
Na hipótese de ausência de pagamento, aplica-se esta mesma regra? Qual é o termo inicial
do prazo decadencial para lançamento de ofício no caso de AUSÊNCIA DE PAGAMENTO
antecipado? NÃO. O termo inicial no caso de pagamento parcial é diferente da hipótese de
ausência de pagamento.
Se o contribuinte não antecipa o pagamento, ou seja, se ele não paga nada, o prazo
decadencial para que o Fisco faça o lançamento de ofício não será calculado com base no §
4º do art. 150, mas sim de acordo com o inciso I do art. 173 do CTN. Quando o inciso I fala
em "primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido
efetuado" ele quer dizer primeiro dia do exercício seguinte à ocorrência do fato gerador
(REsp 973.733-SC). Assim, se o fato gerador ocorreu em 15 de março de 2015 e o contribuinte
não apresentou a declaração do débito e não fez a antecipação do pagamento, o Fisco terá 5
anos para realizar o lançamento de ofício, sendo que este prazo se iniciou em 01 de janeiro de
2016.
O que foi explicado acima é suficiente para entender a súmula. Vamos agora
aprofundar um pouco para responder uma dúvida que alguns leitores ainda podem ter em
mente.
A questão da modulação de efeitos era mesmo necessária. Só que quando ele suscitou
essa questão, não havia mais quorum para fazer a modulação naquele dia, e deixaram para o
dia seguinte. E no dia seguinte, decidiram a modulação dos efeitos. O STF teve que se
posicionar com relação a 2 pontos:
AULA 06 – 06.01.2015
Antes de adentrarmos nesse assunto, temos que falar brevemente sobre o instituto da
compensação.
Só que para que a compensação seja possível, não basta a previsão no CTN. É preciso
que um ente edite uma lei específica, regulamentando essa compensação e em quais
condições ela será realizada.
Seja como for, quando a compensação ocorre, há o que se chama encontro de contas
entre a ADM e o contribuinte.
Ex: A empresa “A” recolheu imposto de renda em valor superior ao devido. Pagou mais
do que devia. Podemos dizer que esta empresa tem um crédito de imposto de renda. Só que
essa empresa também tem o dever de pagar o COFINS, e possui um débito com relação a esse
tributo. Nesse caso, essa empresa pode compensar esse crédito com o débito que ela mesma
possui. E é nesse sentido que há um encontro de contas.
Por isso que se exige uma lei específica, porque é ela que irá estabelecer as condições
específicas.
A empresa “A”, na análise de seus livros fiscais, percebe que tem um crédito de
imposto de renda, e quer compensar com um débito futuro que essa empresa terá de COFINS.
Nesse caso, o contribuinte, apurando o crédito e o débito, irá entregar uma declaração de
compensação (“DECOMP”), e nessa declaração irá dizer que tem um crédito e que quer
compensar com um débito que ele irá ter.
Quando um contribuinte diz que tem um crédito e que quer compensar com um
débito, o contribuinte está dizendo que vai pagar a COFINS com um crédito que ele tem com
relação ao IR. Ao dizer isso, há uma confissão de dívida relativa à COFINS. O próximo passo
será a compensação em si: compensa o crédito com o débito que acabou de assumir.
Essa compensação precária terá que ser averiguada pela ADM. E nesse ponto, diz o
artigo 74 da Lei 9.430 que a ADM terá que concordar com a compensação (homologar a
compensação), e terá o prazo de 5 anos, contados da data da declaração, para efetuar essa
homologação. É muito parecido com o lançamento por homologação.
Imaginemos que nesse prazo de 5 anos, a ADM discorda da DECOMP apresentada pelo
contribuinte. Após essa discordância da ADM, ela enviará uma notificação para o contribuinte,
e ato contínuo irá exigir o tributo, porque, afinal, o contribuinte confessou que devia a COFINS.
A ADM considera o crédito do contribuinte indevido, e que esse crédito não é idôneo para o
fim de pagamento da COFINS.
Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular,
ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade
administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários
com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito
passivo contra a Fazenda pública. (Vide Decreto nº 7.212, de 2010)
DEPÓSITO JUDICIAL.
Já vimos que o depósito judicial de tributo lançado por homologação pode constituir
o crédito tributário. Mas para entendermos isso, temos que considerar que esse depósito
deve ser um depósito realizado em uma ação preventiva, e, portanto, deve ser realizado
antes do lançamento, evidentemente (para que o depósito constitua o crédito, ele não
poderia estar constituído).
Depois de feito o depósito o processo anda. Imaginemos que o fato gerador tenha
ocorrido em setembro de 2003, o MS foi impetrado em 10 de outubro de 2003, e o depósito
foi realizado no dia 13 de outubro de 2003. A sentença foi proferida no dia 10 de maio de
2010, ou seja, quase 7 anos depois do fato gerador, e essa sentença denegou a segurança.
Entendeu que o tributo era sim devido, não existindo qualquer inconstitucionalidade.
Ao fazer isso, o juiz decide que o valor depositado deve ser transferido para a ADM.
Afinal, no fundo, a sentença está reconhecendo que o tributo é devido, e enviando o valor
recolhido para a ADM e o tributo considera-se pago.
Ocorre que no caso específico do depósito judicial, a sua tese geral (a suspensão da
exigibilidade não afasta o dever de lançar) não se aplica, porque o depósito judicial,
isoladamente considerado, é modalidade de constituição do crédito tributário. Logo, não há
que se falar em decadência, e o crédito está constituído pelo próprio sujeito passivo. Para o
STJ, então, somente para as outras formas de suspensão da exigibilidade do crédito que se
aplica essa tese.
Depois de o crédito tributário ser constituído, ainda assim poderá haver algum
“problema” com ele? SIM. Existem três opções para o crédito tributário constituído. Assim, ele
poderá ser: a) inscrito em dívida ativa e cobrado do devedor mediante execução fiscal; b)
suspenso (art. 151 do CTN); c) extinto (art. 156 do CTN).
I - moratória;
VI – o parcelamento.
Ocorre que a empresa acabou atrasando as prestações e, por isso, foi excluída do
programa de parcelamento. Estando fora do parcelamento, o crédito tributário, que estava
suspenso, volta a ter exigibilidade, ou seja, poderá ser novamente cobrado pelo Fisco.
Inconformada, a empresa apresentou reclamação administrativa perante o Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais contra ato de exclusão do parcelamento.
Vimos que o crédito tributário pode ser constituído pela ADM, e diante da
constituição desse crédito, haverá uma exigência administrativa (uma notificação). Se o
contribuinte não paga, o Fisco deverá promover a cobrança judicial, por meio de uma
execução fiscal.
Essa lei específica deve ser editada por cada ente da Federação. Assim, por exemplo,
a União deve editar uma lei para tratar sobre os débitos tributários federais, o Estado de São
Paulo uma para dispor sobre o parcelamento dos tributos estaduais, o Município de Vitória
(ES) para os tributos municipais e assim por diante.
Cada ente político deve editar a sua própria lei, devendo, obviamente, respeitar as
normas gerais que são previstas no CTN.
Essa lei deverá estabelecer as regras do parcelamento: Vale ressaltar que a lei de que
trata o caput do art. 155-A deverá estabelecer os requisitos para que o contribuinte possa
aderir ao parcelamento, prevendo ainda o número máximo de parcelas em que a dívida
pode ser dividida e os prazos para pagamento.
O art. 153 do CTN, que é aplicado subsidiariamente ao parcelamento, prevê que a lei
deverá estabelecer os seguintes requisitos:
b) as condições de concessão;
PRESCRIÇÃO.
O artigo 174 do CTN diz que o prazo de prescrição é de 5 anos, contados da data da
constituição definitiva do crédito tributário. A constituição definitiva é o termo a quo do prazo
prescricional que o Fisco tem para ajuizar a execução fiscal.
No caso de constituição pela ADM, ele ocorre através do lançamento. Nesse caso, em
que situação se verifica a constituição definitiva? Equivale à imutabilidade do crédito
tributário na esfera administrativa.
Imaginemos um lançamento de ofício realizado pela ADM, na forma do artigo 149, V
do CTN, que é aquela hipótese no caso de não realização correta da atividade do sujeito
passivo no lançamento por homologação (lançamento por arbitramento). Ao fazer o
lançamento de oficio, o contribuinte tem o prazo de 30 dias para decidir o que fará diante
desse lançamento.
Nesse prazo, ele pode fazer 3 coisas: pagar o tributo tal como descrito no
lançamento de ofício (já que o lançamento de ofício vem junto com uma cobrança
administrativa); ofertar impugnação; ou então pode simplesmente ficar inerte.
Outra situação peculiar diz respeito ao crédito tributário constituído pelo próprio
sujeito passivo, e aqui estudaremos a hipótese de declaração. Por exemplo, o sujeito passivo
realiza o fato gerador e apresenta a GIA (Declaração do ICMS), dizendo que realizou o fato
gerador e deve o tributo. Em sequência, ele teria que efetuar o pagamento, só que ele não
tem dinheiro para pagar. Ele só declarou porque era seu dever.
O crédito já está constituído e o sujeito passivo não pagou. Nesse caso, já será possível
a inscrição em dívida ativa, emissão da CDA e ajuizamento da execução fiscal.
Mas a questão é saber quando começa o prazo de prescrição nesse caso. A esse
respeito o STJ diz que o prazo de prescrição, de regra, tem início na data do vencimento do
tributo, porque só a partir do vencimento é que o tributo pode ser exigido judicialmente, pois
só nesse momento ele passa a estar em mora.
Acontece que no STJ houve uma discussão sobre quando começa a fluir o prazo
prescricional: se era no momento da entrega da declaração ou na data do vencimento. Hoje já
está pacificado que é o momento do vencimento.
Só que o STJ estabelece, contudo, um caso específico em que o dies a quo é a entrega
da declaração: o caso de declaração de tributo já vencido. O sujeito passivo realiza o fato
gerador e deveria ter entregue a declaração. Só que o sujeito passivo não entrega a declaração
e não faz o pagamento. E depois, ele então entrega a declaração (porque não quer cometer
crime contra a ordem tributária), mas ao mesmo tempo não faz o pagamento. Só que o tributo
já estava vencido no dia da declaração. Será a partir desse momento que se deve cogitar de
prazo de prescrição, ou seja, na data da declaração. Mas porque é assim?
É assim porque até o momento em que o sujeito passivo entrega a declaração, não
havia crédito constituído porque não havia declaração, e também não houve lançamento. Por
isso que até esse momento, o prazo que a Fazenda teria que se preocupar era o de
decadência. Ao entregar a declaração, contudo, o sujeito passivo constituiu o crédito
tributário, e então não se deve mais cogitar de decadência, mas sim de prescrição. Não faz
sentido contar do vencimento, porque não houve declaração antes do vencimento. A regra
geral do STJ é que o prazo começa a contar a partir do vencimento, porque o vencimento
geralmente vem depois da declaração. A simples entrega da declaração também não acarreta
o início do prazo prescricional, porque só há direito de ação de execução fiscal quando há
mora, e a mora só ocorre com o contribuinte não executa o pagamento no prazo.
Em resumo:
b) Declaração do sujeito passivo -> Regra geral, de acordo com o STJ, o termo inicial
será o vencimento do tributo com a prévia declaração. Todavia, se a declaração teve por
objeto tributo já vencido, o termo inicial será a declaração.
Agora precisamos entender como que a Fazenda chega até a execução fiscal. Já vimos
que com a constituição definitiva inicia-se a contagem do prazo de prescrição para a cobrança
judicial. Antes de ajuizar a execução fiscal, a ADM deve inscrever o débito em dívida ativa e
emitir a CDA. Tratam-se de medidas preparatórias e necessárias ao ajuizamento da execução
fiscal. Comecemos com a inscrição em dívida ativa.
Determinada empresa devia R$ 500 mil de tributos federais. A União editou a Lei nº
9.964/2000 prevendo a possibilidade de que o devedor de tributos federais pudesse parcelar
seus débitos. Esse parcelamento foi chamado de REFIS (“Programa de Recuperação Fiscal”). A
empresa aderiu ao parcelamento. Para isso, teve que assinar um termo de confissão de dívida,
reconhecendo o débito e comprometendo-se a pagá-lo em 120 prestações mensais (10 anos).
Durante o período em que a empresa está no REFIS, a União poderá ingressar com
uma execução fiscal cobrando a dívida? NÃO. Se o débito está parcelado e o devedor está
pagando regularmente as prestações, a Fazenda Pública não pode executar o devedor
cobrando a dívida toda. Isso porque o parcelamento é causa de suspensão da exigibilidade
do crédito tributário (art. 151, VI, do CTN).
Durante o período em que a empresa está no REFIS, o prazo prescricional de 5 anos
que a União possui para ingressar com execução fiscal cobrando o débito está correndo?
NÃO. Como vimos na resposta acima, durante o parcelamento, a exigibilidade está suspensa.
Logo, a Fazenda Pública não pode cobrar a dívida. Se ela não pode cobrar a dívida, não se pode
dizer que o prazo prescricional esteja correndo. Quando o devedor adere ao parcelamento, ele
assina uma confissão de dívida, de forma que reconhece o débito. Isso faz com que o prazo
prescricional se interrompa (art. 174, parágrafo único, IV, do CTN) e fique suspenso enquanto
perdurar o parcelamento.
Após pagar as prestações por alguns meses, a empresa tornou-se inadimplente e foi
formalmente excluída do REFIS. Depois que foi cientificada de sua exclusão do REFIS, a
empresa voltou a pagar as prestações mensais como se nada tivesse acontecido. Ocorre que
ela não foi reintegrada no REFIS porque não existe essa possibilidade na lei. Uma vez excluída
pelo inadimplemento, o fato de ter voltado a pagar não faz com que o contribuinte seja
reintegrado ao programa de parcelamento. Quando a empresa foi excluída do REFIS, o crédito
tributário voltou a ser exigível? A União poderá ajuizar execução fiscal cobrando a dívida? SIM.
Veja o que diz o art. 5º, § 1º da Lei nº 9.964/2000:
Eduardo Sabbag (2015): É importante mencionar, desde já, que entendemos estar
garantido o direito à restituição de tributo pago a maior ou indevidamente já atingido pela
decadência. Havendo o pagamento de um tributo atingido pela caducidade, desponta o
direito à restituição, uma vez que se pagou o que não mais de devia. Tal entendimento pode
ser corroborado no art. 156, V, CTN, segundo o qual a decadência e a prescrição extinguem o
CRÉDITO tributário. Daí se afirmar, nesse passo, que a prescrição, de igual modo, gera o
direito à restituição, embora haja vozes no sentido de que, na prescrição, extinto estaria
apenas o direito de ação, sobrevivendo o direito material de que era titular o sujeito
pretensor. Parece-nos que a melhor solução está na garantia da restituição tanto para
aquele que paga crédito decaído quanto para aquele que procede ao pagamento de crédito
prescrito.
Ocorre que, durante o curso da ação, o STJ promoveu revisão abrupta de sua
jurisprudência para considerar que, nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, o
transcurso do prazo prescricional ocorre a partir do recolhimento indevido,
independentemente da data da decisão do STF ou da Resolução do SF (REsp 435.835/SC).
Toda inflexão jurisprudencial que importe restrição a direitos dos cidadãos deve
observar certa regra de transição para produção de seus efeitos, levando em consideração os
comportamentos então tidos como legítimos, porquanto praticados em conformidade com a
orientação prevalecente, em homenagem aos valores e princípios constitucionais. STF. 2ª
Turma. ARE 951533/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. acórdão o Min. Dias Toffoli,
julgado em 12/6/2018 (Info 906).
1) Artigo 204 do CTN -> O valor inscrito é presumido como certo e líquido. Além disso,
a inscrição em dívida ativa possui força de prova pré constituída em favor da ADM. Essa
presunção, contudo, é relativa. Se houver discussão sobre o valor, o ônus de provar que o
tributo não é devido, ou o é, mas em valor menor, é do contribuinte. Isso decorre da
presunção de veracidade e legalidade dos atos administrativos.
Isso tem aplicação direta no caso da responsabilidade dos sócios pelo débito da pessoa
jurídica. O STJ entende existir a inversão do ônus da prova no caso do sócio ter seu nome
indicado no ato de inscrição em dívida ativa. E agora já sabemos por quê: quem tem que
desconstituir a presunção é o sujeito passivo, dada a presunção de certeza que goza a inscrição
em dívida ativa. Quem tem que provar que não deve é o sócio.
2) Artigo 185 do CTN -> O artigo 185 instaura em face do sujeito passivo uma
presunção de fraude em alguns casos.
E existe ainda uma outra medida para garantir a efetividade da execução, que é a
medida cautelar fiscal. Trata-se de uma ação ajuizada pela Fazenda que se soma ao artigo 185
do CTN como forma de garantir a execução. Em provas de procuradoria, vale a pena ler a lei de
medida cautelar fiscal.
OBS: A presunção de fraude ocorre ainda que a alienação dos bens se dê quando não
ajuizada a execução fiscal. Isso às vezes cai em concurso (provas de 1ª fase objetivas).
3) Artigo 2º, §3º da LEF -> A inscrição em dívida ativa resulta na suspensão do prazo
de prescrição na execução de créditos não tributários.
Já vimos seus efeitos. Agora precisamos saber o que deve conter a anotação da
dívida ativa. Isso está no artigo 202, que diz que ele terá alguns elementos materiais e alguns
elementos formais relativos ao débito.
A execução fiscal começa com a petição inicial, proposta pela Fazenda Pública, que é
uma peça processual muito simples, normalmente de uma ou duas páginas, indicando apenas:
II - o pedido; e
A petição inicial deverá ser instruída com a Certidão da Dívida Ativa (CDA), que dela
fará parte integrante, como se estivesse transcrita. A petição inicial e a CDA poderão constituir
um único documento, preparado inclusive por processo eletrônico.
O art. 6º da Lei 6.830/80, que trata sobre os requisitos da petição inicial na execução
fiscal, não exige que o exequente faça a indicação de RG, CPF ou CNPJ do executado.
O CPC 2015 exige que a qualificação das partes venha acompanhada da indicação do
CPF/CNPJ, mas há a ressalva de que a petição inicial pode ser recebida apesar da ausência de
algumas informações. Veja:
Desse modo, mesmo com o novo CPC, o entendimento exposto na Súmula 558 do STJ
continua válido, seja porque a LEF é especial, seja porque o CPC não faz a exigência do CPF e
CNPJ de forma absoluta e peremptória.
O tema tratado na súmula já havia sido objeto de recurso especial repetitivo: "Em
ações de execução fiscal, descabe indeferir a petição inicial sob o argumento da falta de
indicação do CPF e/ou RG da parte executada (pessoa física), visto tratar-se de requisito não
previsto no art. 6º da Lei nº 6.830/80 (LEF), cujo diploma, por sua especialidade, ostenta
primazia sobre a legislação de cunho geral, como ocorre frente à exigência contida no art. 15
da Lei nº 11.419/06". (STJ. 1ª Seção. REsp 1450819/AM, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em
12/11/2014).
Determinado Município ajuizou execução fiscal contra João, devedor de IPTU. O juiz
indeferiu a petição inicial da execução alegando que a Fazenda Pública não juntou o
demonstrativo de cálculo do débito, conforme exige o art. 798, I, "b", do CPC 2015.
II - o pedido; e
Além disso, a própria Certidão da Dívida Ativa que embasa a execução já discrimina a
composição do débito, considerando que todos os elementos que compõem a dívida estão
arrolados no título executivo (que goza de presunção de liquidez e certeza).
CONTEÚDO E DEFINIÇÃO
Certidão de dívida ativa é o título executivo extrajudicial com base no qual a execução
fiscal será ajuizada. Esse título executivo terá o mesmo conteúdo da inscrição em dívida ativa.
Vale dizer, a CDA reflete a inscrição em dívida ativa, e possuirá todos os elementos do artigo
202 do CTN. É que depois da inscrição em dívida ativa será emitida uma certidão de dívida
ativa, refletindo todas as informações nela constantes.
Só que além de a CDA refletir as informações da dívida ativa, ela deverá conter um
elemento adicional, que está no parágrafo único do artigo 202. Deverá fornecer a indicação do
livro e da folha da inscrição (hoje há um livro eletrônico, e o fato de ser eletrônico não
dispensa esse requisito – isso já foi questão de prova).
E o STJ entendeu que nesse caso não é possível substituir a CDA, porque essa
hipótese de substituição deve se limitar a erros formais. Por exemplo, se o fato gerador foi
em janeiro de 2004, ele indicou em março de 2004. Ou então indicou a lei errada. Quando se
trata de uma questão material do próprio sujeito passivo, não pode haver a substituição.
Isso porque nesse caso, haveria uma alteração do lançamento e do próprio crédito tributário
que já está constituído (Resp 829455, julgado em 2006). Isso está sumulado pelo STJ (súmula
de 2009).
Então até agora temos: a constituição definitiva do crédito tributário (geralmente com
o lançamento), depois disso tem início o prazo prescricional para o ajuizamento da execução
fiscal. Mas antes de ajuizá-la, a ADM tem que fazer uma inscrição em dívida ativa, e depois
emitir a CDA. Depois disso já pode haver o ajuizamento da execução fiscal.
Ocorre que o STF, ao julgar a ADI 5127/DF, decidiu modular os efeitos da decisão.
Assim, a Corte afirmou que esse entendimento só deverá valer para as medidas provisórias
que forem convertidas em lei depois da decisão da ADI 5127/DF. As medidas provisórias que
foram aprovadas antes da ADI 5127/DF, mesmo que nelas tenha havido contrabando
legislativo, não serão julgadas inconstitucionais (por razões de segurança jurídica).
Justamente por isso, a jurisprudência entende que a Administração Pública não pode
proceder à cobrança do tributo por "meios indiretos", impedindo, cerceando ou dificultando
a atividade econômica desenvolvida pelo contribuinte devedor. Quando isso ocorre, os
Tribunais afirmam que o Poder Público aplicou “sanções políticas”, ou seja, formas
“enviesadas de constranger o contribuinte, por vias oblíquas, ao recolhimento do crédito
tributário” (STF ADI 173). Exs.: apreensão de mercadorias, não liberação de documentos,
interdição de estabelecimentos.
O STF, contudo, não concordou com o argumento. Segundo explicou o Min. Roberto
Barroso, o simples fato de o Poder Público adotar medidas coercitivas ou que restrinjam
direitos dos contribuintes como forma de cobrar o tributo não significa que isso seja
considerado como uma sanção política. Exige-se, além disso, que tais restrições sejam
desproporcionais, irrazoáveis.
Ademais, não configura uma “sanção política”, já que não constitui medida coercitiva
indireta que restrinja, de modo irrazoável ou desproporcional, direitos fundamentais dos
contribuintes, com o objetivo de forçá-los a quitar seus débitos tributários.
(Juiz TJ/SE 2015 FCC) De acordo com a redação atual da Lei 9.492/1997, que regula o
protesto de títulos e documentos, não se sujeitam a protesto as certidões de dívida ativa da
União, dos Estados, do DF, nem das respectivas fundações e autarquias. ( ERRADA )
Essa conduta do Estado-membro foi lícita? NÃO. Cobrança do tributo por vias
oblíquas (sanções políticas): A Fazenda Pública deverá cobrar os tributos em débito
mediante os meios judiciais (execução fiscal) ou extrajudiciais (lançamento tributário,
protesto de CDA) legalmente previstos. O Fisco possui, portanto, instrumentos legais para
satisfazer seus créditos.
Em segundo lugar, a Lei 13.606/2018 colide frontalmente com o artigo 185-A do CTN,
que somente autoriza a indisponibilidade de bens do devedor mediante decisão judicial no
curso de execução fiscal e somente se ele, devidamente citado, “não pagar nem apresentar
bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados bens penhoráveis”. A Lei
13.606/2018 abrevia ilegitimamente esse rito, antecipando a indisponibilidade para uma
fase pré-judicial e usurpando do Judiciário essa função que lhe foi reservada pela
Constituição (artigo 5º, LIV), contrariando, ademais, entendimento firmado pelo STJ no REsp
repetitivo 1.377.507/SP (Tema 714) e na Súmula 560.
EXECUÇÃO FISCAL
A primeira coisa que precisamos ter em mente é o prazo para ajuizá-la: trata-se de um
prazo prescricional de 5 anos, como já visto. Esse prazo vem disciplinado no artigo 174 do CTN,
e vimos que ele se conta da constituição definitiva do crédito tributário (lembrando que a
inscrição em dívida ativa, nas execuções fiscais de débitos tributários não suspende o prazo
prescricional por até 180 dias).
O ajuizamento da execução fiscal faz com que o prazo de prescrição pare de correr?
Curiosamente não. O prazo continua correndo, e só parará de correr por ocasião do
despacho que determina a citação. Isso está no artigo 174, parágrafo único, I, CTN.
Essa foi a razão de ser da LC118\05: harmonizar o CTN com a LEF. Agora nos dois
diplomas é o despacho do juiz que interrompe a prescrição.
Só que essa alteração gerou uma dúvida que é cobrada em concurso: precisamos saber
a partir de quando essa nova redação se aplica. Ou seja, a partir de quando o despacho do juiz
interrompe a prescrição.
Uma resposta inicial seria negativa, porque, afinal de contas, é o despacho que
interrompe a prescrição. Antes disso não há interrupção alguma. Contudo, em maio de 2010,
o STJ decidiu o tema: se a execução fiscal foi ajuizada no prazo, então há uma retroação da
interrupção, e a execução poderá seguir. Então o que realmente importa é a data do
ajuizamento da execução fiscal, o que é razoável, porque a Fazenda não pode ficar a mercê
da mora do Poder Judiciário (RESP 1.120.295).
O CDC estabelece o prazo de cinco anos para a prescrição da pretensão que tem por
objeto a reparação de danos causados pelo fato do produto ou serviço, consoante as
relações de consumo.
Temos então que a súmula vem pacificar um entendimento há muito aplicado pela
Corte Superior, que após a Lei de Recurso Repetitivos vêm fazendo uso de um processo
paradigma com vistas a valorizar celeridade e justiça, suspendendo-se processos de discussão
semelhante e submentendo-se ao STJ um ou alguns como Leading Case.
Entendeu o ministro relator Teori Albino Zavascki que nas hipóteses que versem sobre
a questão em comento, os casos pretendem a restituição de tarifa de serviço paga
indevidamente, e não de reparação de danos causados por defeitos na prestação de serviços.
Daí a distinção clara quanto à implicação de um ou outro sistema de regras. O CDC, portanto
não seria aplicável já que a discussão não consiste em reparação por defeito de serviço, mas
de restituição de tarifa paga indevidamente, regendo-se consequentemente pelo CC/02.
Outro questionamento possível seria a aplicabilidade do CTN. Ocorre que tarifa não
tem natureza tributária, mas de preço público, sendo assim, também não poderia ser
aplicado o quê estabelecido no CTN, para restituição de créditos tributários.
Para se estabelecer qual das leis civis aplica-se ao caso, deve-se considerar a regra de
direito intertemporal estabelecida no artigo 2.028 do Código Civil de 2002: “Serão os da lei
anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já
houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada".
É INCONSTITUCIONAL a lei que exija que a empresa em débito com a Fazenda Pública
tenha que oferecer uma garantia (ex: fiança) para que possa emitir notas fiscais. Tal previsão
configura “sanção política” (cobrança do tributo por vias oblíquas), o que viola as garantias
do livre exercício do trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, XIII), da atividade econômica (art.
170, parágrafo único) e do devido processo legal (art. 5º, LIV). (STF. Plenário. RE 565048/RS,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2014).
Para que o empresário ou sociedade empresária possa emitir nota fiscal, ele precisa se
credenciar junto à Secretaria de Fazenda do Estado (para negócios que envolvam pagamento
de ICMS, como a compra e venda de mercadorias) ou Secretaria de Fazenda do Município
(para pagamento de ISS).
A Lei 8.820/89, do Rio Grande do Sul, previu que, se a empresa que pediu
autorização para emitir notas fiscais estiver em débito com a Fazenda Pública, a SEFAZ
poderá exigir, como condição para autorizar a emissão, que ela forneça alguma garantia (ex:
fiança) de que irá pagar as dívidas tributárias.
Essa exigência é compatível com a CF/88? NÃO. O STF decidiu que a exigência, pela
Fazenda Pública, de prestação de fiança, garantia real ou fidejussória para a impressão de
notas fiscais de contribuintes em débito com o Fisco viola: a) as garantias do livre exercício
do trabalho, ofício ou profissão (art. 5º, XIII, da CF/88); b) da atividade econômica (art. 170,
parágrafo único, da CF/88); c) e do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF/88).
Justamente por isso, a Administração Pública não pode fazer a cobrança do tributo
por meios indiretos, impedindo, cerceando ou dificultando a atividade econômica
desenvolvida pelo contribuinte devedor (afinal, estaria obrigando a empresa a estar em dia
com o Fisco, sob pena de, não o fazendo, ter de constituir garantia para continuar a exercer
sua atividade econômica). Quando isso ocorre, a jurisprudência afirma que o Poder Público
aplicou “sanções políticas”, ou seja, formas “enviesadas de constranger o contribuinte, por
vias oblíquas, ao recolhimento do crédito tributário” (STF ADI 173). Exs: apreensão de
mercadorias, não liberação de documentos, interdição de estabelecimentos.
A cobrança do tributo por vias oblíquas (sanções políticas) é rechaçada por quatro
súmulas do STF e STJ.
A referida Lei gaúcha prevê uma forma de sanção política. Isso porque o aludido
dispositivo legal vincula a continuidade da atividade econômica do contribuinte em mora ao
oferecimento de garantias ou ao pagamento prévio do valor devido a título de tributo. Sem
poder imprimir notas fiscais, a não ser oferecendo garantias, o contribuinte encontra-se
coagido a quitar a pendência sem poder questionar o passivo, o que pode levar ao
encerramento de suas atividades.
Algumas vezes a pessoa (física ou jurídica), para exercer certos direitos, precisa
comprovar que não está devendo nenhum tributo.
Ex2: a empresa que vai participar de uma licitação (art. 29, III, da Lei n 8.666/93).
O documento que prova que a pessoa não está devendo tributos é chamado de
“certidão negativa de tributos”.
Pode acontecer de a pessoa possuir um tributo contra si, mas este não poder ser
cobrado (suspenso pelo parcelamento, por exemplo) ou se encontrar garantido por uma
penhora. Nesses casos, não seria justo que a pessoa ficasse sem poder exercer seus direitos
por causa desse tributo. Por outro lado, não se poderia expedir uma certidão negativa já que
o tributo existe.
Pensando nisso, o legislador criou a seguinte solução: será expedida uma certidão
positiva (ou seja, dizendo que existe o tributo contra aquela pessoa), mas essa certidão
produzirá os mesmos efeitos de uma certidão negativa (a pessoa poderá participar da
licitação, p. ex.). A isso, denominamos de “certidão positiva com efeito de negativa.
Desse modo, a certidão positiva com efeito de negativa poderá ser exarada quando
houver créditos tributários:
a) ainda não vencidos (o crédito já foi constituído, mas ainda não terminou o prazo
para que o contribuinte o pague);
Agiu corretamente o Fisco? SIM. Não é possível a expedição de certidão positiva com
efeito de negativa em favor de sócio que tenha figurado como fiador em Termo de Confissão
de Dívida Tributária na hipótese em que o parcelamento dele decorrente não tenha sido
adimplido. O art. 4º, II, da Lei 6.830/80 dispõe que a execução fiscal poderá ser promovida
contra o fiador. Assim sendo, a responsabilidade do sócio fiador, na hipótese, decorre da sua
presença como fiador do parcelamento não adimplido.
Por outro lado, vale esclarecer que, mesmo tendo sido a penhora insuficiente, o
devedor poderá apresentar embargos à execução. Segundo o STJ, uma vez efetuada a
penhora, ainda que insuficiente, encontra-se presente a condição de admissibilidade dos
embargos à execução, haja vista a possibilidade posterior da integral garantia do juízo,
mediante reforço da penhora. STJ. 2ª Turma. REsp 1.479.276-MG, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 16/10/2014 (Info 550).
Assim, se a empresa foi recusada por ter débitos estaduais, mas não concordar com o
indeferimento, caso deseje impetrar um mandado de segurança deverá fazê-lo contra a
autoridade fiscal do Estado-membro.
Desse modo, as empresas com débitos junto à Fazenda Pública (federal, estadual,
distrital ou municipal) não podem aderir ou permanecer no Simples.
Diante desse fato, imagine a seguinte situação concreta: Determinada pessoa jurídica
requereu sua inclusão no Simples Nacional, tendo sido negada em virtude de ela possuir
débitos tributários na Secretaria Estadual de Fazenda. A empresa deseja, então, impetrar um
mandado de segurança contra o indeferimento de seu ingresso no Simples. A impetrante
sustenta a inconstitucionalidade da exigência prevista no art. 17, V, da LC 123⁄2006 e que o
indeferimento por esse motivo configura via inadequada para satisfação do crédito tributário.
Dessa feita, em nosso exemplo, a empresa foi recusada no Simples porque possuía
débitos com a Fazenda Estadual. Logo, que irá expedir o termo de indeferimento será uma
autoridade fiscal do Estado-membro. Se os débitos fossem municipais, quem expediria seria a
autoridade fiscal do Município e assim por diante. Constata-se, portanto, que o ato de
indeferimento de ingresso no Simples Nacional pela existência de débitos para com os fiscos
federal, estaduais, municipais ou distrital, é de responsabilidade da Administração Tributária
do respectivo ente federado.
Caso existam débitos com duas ou mais Fazendas Públicas, serão expedidos dois ou
mais Termos de Indeferimento pelas administrações tributárias dos entes federativos que
identificaram as pendências.
Afirmou-se que não seria razoável favorecer aqueles em débito com o Fisco, que
participariam do mercado com vantagem competitiva em relação aos adimplentes.
Ponderou-se que admitir o ingresso no programa daquele que não possui regularidade
fiscal, e nem que sequer pretende parcelar o débito ou suspender seu pagamento, significaria
comunicar ao adimplente que o dever de pagar seus tributos seria inconveniente, pois
receberia o mesmo tratamento dado ao inadimplente.
Assim, o art. 17, V não viola o princípio da isonomia, mas ao contrário, confirma-o, pois
o adimplente e o inadimplente não estão na mesma situação jurídica. (STF. Plenário. RE
627543/RS, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2013 (Info 726)).
No âmbito tributário, o contribuinte que pagar tributo indevido (exs: pagou duas
vezes, pagou imposto que era inconstitucional, houve erro na alíquota etc.) terá direito à
repetição de indébito, ou seja, poderá ajuizar ação cobrando a devolução daquilo que foi pago.
As hipóteses em que o contribuinte terá direito à repetição de indébito, no âmbito
tributário, estão previstas no art. 165 do CTN:
O mencionado art. 165 afirma que o sujeito passivo tem direito à restituição,
independentemente de prévio protesto (isto é, mesmo que na hora de pagar não tenha
“reclamado” do tributo indevido ou tenha feito qualquer ressalva; não interessa o estado de
espírito do sujeito passivo no momento do pagamento, ou seja, se sabia ou não que o
pagamento era indevido). Pagou indevidamente, tem direito de receber de volta a fim de
evitar o enriquecimento sem causa da outra parte (no caso, o Fisco).
O valor que será devolvido ao sujeito passivo deverá ser acrescido de juros
moratórios e correção monetária? SIM. Na repetição de indébito, o contribuinte deverá
receber de volta o valor principal que foi pago, acrescido de juros moratórios e correção
monetária pelo tempo que ficou sem o dinheiro. Não são devidos juros remuneratórios.
Os juros moratórios seguem o mesmo raciocínio? Eles também serão contados desde
a data em que o contribuinte pagou o tributo indevido? NÃO. Aqui a regra é diferente. De
forma prejudicial ao contribuinte, o CTN previu que os juros serão devidos não do dia em
que houve o pagamento, mas sim a partir da data em que houve o trânsito em julgado da
decisão que determinou a devolução. Veja:
Desse modo, imagine que o contribuinte pagou, em 02/02/2012, R$ 100 mil de ICMS
indevidamente. Posteriormente, ele ajuizou ação de repetição de indébito e foi prolatada
sentença determinando a devolução da quantia. Essa sentença transitou em julgado em
04/04/2014. A Fazenda Pública só pagou o valor em 06/06/2016. O contribuinte terá direito de
receber os R$ 100 mil mais os juros moratórios que serão contados a partir de 04/04/2014
(data do trânsito em julgado).
Apesar de esse dispositivo ser classificado como injusto pela doutrina, existe até
mesmo um enunciado do STJ que reforça sua conclusão:
Decisão do TJDF entendeu pela legalidade da cobrança sob o fundamento de que “os
ocupantes de terrenos localizados em condomínio irregular, que exercem alguns dos
atributos inerentes à posse dos imóveis, devem ser considerados sujeitos passivos da
obrigação tributária referente ao IPTU”.
“Em que pese no caso o poder fático que exerce sobre os bens públicos não seja
qualificado no plano jurídico como posse suficientemente capaz para gerar a aquisição da
propriedade por usucapião ou a garantir a proteção possessória em face dos entes públicos,
os detentores de bens públicos se caracterizam como possuidores a qualquer título, para
efeito de incidência do IPTU, devendo ser considerados sujeitos passivos, já que patente o
seu inequívoco ânimo de se apossar definitivamente dos imóveis ou deles dispor mediante
contrato oneroso”, concluiu o relator.
“A alegação do município de Petrópolis de que essa ‘renúncia fiscal aqui tratada (que
não é!) fere uma situação normal de estimativa de receita e há sério risco de se paralisar
atividades essenciais no município em razão da não arrecadação’ não passa de retórica, pois
não é crível que o IPTU que se pretende cobrar pago de carentes com renda de até dois
salários mínimos (e daí já se imagina a localização e precariedade dos imóveis que se
pretende tributar) tenha impacto na receita do município”, escreveu.
O recurso foi interposto ao STF pelo Município do Rio de Janeiro contra decisão do
TJ-RJ que garantiu a imunidade tributária recíproca, prevista no artigo 150, inciso VI, alínea
‘a’, da Constituição Federal, à concessionária Barrafor Veículos Ltda., que ocupava um
terreno de propriedade da União cedido em contrato de concessão ao lado do Aeroporto de
Jacarepaguá, na capital do estado. O TJ-RJ entendeu que a imunidade tributária recíproca ––
que veda aos entes da Federação (União, estados, municípios e Distrito Federal) cobrar
impostos uns dos outros – alcança imóvel de propriedade da União cedido a empresa
privada para exploração de atividade econômica.
1. Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana
do Município, desde que comprovadamente utilizado em
exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial
(art. 15 do DL 57/1966). (STJ, REsp 1112646 / SP, Tema 174 de
recursos repetitivos, PRIMEIRA SEÇÃO Data do Julgamento:
26/08/2009).
IPI
Vale ressaltar, no entanto, que essa isenção somente poderá ser utilizada uma vez a
cada 2 anos, conforme determina o art. 2º.
A isenção de IPI para aquisição de automóvel por pessoa com necessidades especiais
(art. 1º, IV, da Lei 8.989/1995) poderá ser novamente concedida antes do término do prazo de
2 anos contado da aquisição (art. 2º) se o veículo vier a ser roubado durante esse período.
A orientação do STJ é que a Lei 8.989/95 não pode ser interpretada em óbice à
implementação de ação afirmativa para inclusão de pessoas com necessidades especiais (REsp
567.873-MG, DJ 25/2/2004). Assim, cabe, na situação em análise, afastar a limitação temporal
do art. 2º da Lei 8.989/95, com base no princípio da dignidade da pessoa humana e em razão
de motivo de força maior.
N.A – Para ver como é furado o argumento de que sempre as normas relativas a
isenções tributárias devem ser interpretadas restritivamente...
A importação de veículo para uso próprio não requer o pagamento de Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI). De acordo com decisões recentes do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), a cobrança de IPI é exigida quando há a existência de operação mercantil – o que
não se caracteriza quando a importação é feita por pessoa física e para uso próprio do
consumidor.
Imagine que João, rico advogado, decide importar da Itália, por conta própria, uma
Ferrari para utilizar durante os finais de semana de lazer. Quando o veículo chegar ao Brasil e
for ser realizado o desembaraço aduaneiro, João será obrigado a pagar o IPI, nos termos do
art. 46, I, do CTN? NÃO. Não incide IPI no desembaraço aduaneiro de veículo importado por
consumidor para uso próprio. Isso porque o fato gerador da incidência do tributo é o exercício
de atividade mercantil ou assemelhada, quadro no qual não se encaixa o consumidor final que
importa o veículo para uso próprio e não para fins comerciais.
Ademais, ainda que assim não fosse, a aplicação do princípio da não cumulatividade
afasta a incidência do IPI. Com efeito, segundo o art. 49 do CTN, o valor pago na operação
imediatamente anterior deve ser abatido do mesmo imposto em operação posterior. Ocorre
que, no caso, por se tratar de importação feita por consumidor final, esse abatimento não
poderia ser realizado. STJ. 1ª Seção. REsp 1.396.488-SC, Rel. Min. Humberto Martins, julgado
em 25/2/2015 (recurso repetitivo) (Info 557).
João terá que pagar ICMS? SIM, considerando que existe previsão expressa na CF/88:
No caso, um contribuinte que importou carro para uso pessoal recorreu de decisão
do Tribunal Regional Federal da 2ª Região que concluiu pela incidência do IPI na operação.
De acordo com ele, a decisão ofendeu o artigo 153, parágrafo 3º, da Constituição Federal:
"Sendo o IPI um tributo submetido ao postulado da não cumulatividade, é inconstitucional a
sua exigência de pessoa que não faça parte do ciclo produtivo, mas sim seja consumidor
final". A União, por sua vez, defendeu a manutenção do acórdão e a incidência do tributo.
Em 2014, o relator do caso, Marco Aurélio, votou por indeferir o RE, mas o
julgamento foi interrompido pelo pedido de vista de Luís Roberto Barroso. Ao apresentar
seu voto nesta quarta, o ministro divergiu da jurisprudência consolidada do STF sobre o
assunto, que considerava que impostos como o ICMS e o IPI não incidiam em importações
quando a transação fosse feita por quem não fosse contribuinte regular de tal tributo, de
forma a respeitar o princípio da não cumulatividade.
O julgamento foi retomado nesta quarta-feira (3) com voto-vista do ministro Luís
Roberto Barroso, que acompanhou o entendimento do relator quanto à incidência do IPI,
mas propôs uma tese com maior abrangência, aplicando-se também à importação de
qualquer produto industrializado por não contribuinte do imposto. Nesse ponto, ficou
vencido.
Porém, Barroso afirmou que essa garantia só se aplica a operações plurifásicas, que
tenham hipóteses de incidência em cadeia. “Ausente essa premissa, não é legitimo limitar o
espaço do legislador. Se a operação é única, não existe risco de múltipla tributação sobre
mesma base econômica. Logo, não há utilidade para não cumulatividade em operações
monofásicas”, analisou.
Apesar de concordar com Marco Aurélio, Luís Roberto Barroso votou pelo
provimento do recurso, uma vez que sua tese é pela incidência do IPI em todas as
importações por consumidores finais, ao contrário da ideia do relator concentrada em
veículos automotores.
A visão de Marco Aurélio, porém, teve o apoio dos ministros Rosa Weber, Carmen
Lúcia, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Teori Zavascki e Ricardo Lewandowski, e
prevaleceu.
O ministro Celso de Mello observou que alguns ministros da Corte ainda não se
manifestaram a respeito do caso. Mas a rediscussão da modulação foi encerrada em razão da
alteração de posição dos ministros Luiz Fux e Ricardo Lewandowski no caso concreto, que
levou a posição contrária à modulação a ultrapassar o quórum da maioria absoluta. A questão,
portanto, deve ser analisada pelo Plenário em outra oportunidade.
O ministro Luís Roberto Barroso, que não integrava o Tribunal quando a matéria foi
discutida anteriormente pelo Plenário, deixou registrada sua posição favorável à aplicação
do quórum de maioria absoluta para modulação de efeitos nos casos de mudança de
jurisprudência da Corte. Para ele, a exigência da maioria de dois terços apenas se aplica aos
casos de declaração de inconstitucionalidade. Também quanto a esse ponto, os ministros
Celso de Mello e Gilmar Mendes reafirmaram entendimento favorável à maioria absoluta,
conforme votos proferidos na sessão de 2013.
João, rico advogado, decide importar da Itália, por conta própria, uma Ferrari para
utilizar durante os finais de semana. A Receita Federal cobrou dele o pagamento do IPI, com
base no art. 46, I, do CTN. O advogado ajuizou ação contestando a cobrança sob o argumento
de que não incidiria IPI no desembaraço aduaneiro de veículo importado por consumidor para
uso próprio. Segundo argumentou João, o fato gerador do IPI é o exercício de atividade
mercantil ou assemelhada, quadro no qual não se encaixa o consumidor final que importa o
veículo para uso próprio e não para fins comerciais.
Argumentou, ainda, que o IPI é um imposto não cumulativo (art. 153, § 3º, II, da
CF/88), o que significa que é possível compensar o que for devido em cada operação com o
montante cobrado nas anteriores, ou seja, o valor pago na operação imediatamente anterior
pode ser abatido do mesmo imposto em operação posterior (art. 49 do CTN). João
argumentou que o IPI só pode incidir nos casos em que a pessoa que importou ainda irá
“repassar” esse custo do imposto para a pessoa que comprar depois. No caso dele, como
ninguém irá comprar depois, ele não tem que pagar o IPI.
O que decidiu a Corte? Incide IPI no caso de importação de veículos para uso próprio?
SIM. A CF/88 estabelece a imunidade do IPI para produtos exportados. Isso não ocorre,
contudo, para produtos importados. Assim, não existe imunidade no caso de importação de
veículos. E não importa se quem importou é pessoa física ou jurídica, assim como também não
interessa o fato de o importador não exercer o comércio e adquirir o bem para uso próprio.
Não há que se falar em não exigência do imposto por conta do princípio da não
cumulatividade. Isso porque o fato de não haver uma operação posterior na qual o importador
pudesse fazer o abatimento do valor pago na importação não conduz à conclusão de que o
tributo, nesta hipótese, será indevido, pois tal conclusão equivaleria a conceder uma isenção
de tributo, ao arrepio da lei.
Os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI quando de sua
saída do estabelecimento importador na operação de revenda, mesmo que não tenham
sofrido industrialização no Brasil. STJ. Corte Especial. EREsp 1.403.532-SC, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, Rel. para o acórdão Min. Mauro Campbell Marques, Corte Especial, julgado
em 14/10/2015 (recurso repetitivo) (Info 574).
A tributação feita foi correta? É possível a nova incidência do IPI no momento da saída
do produto? SIM. Quando houve a importação, incidiu o IPI com base no art. 46, I, do CTN. Ao
revender os produtos, depois de terem sido objeto de industrialização, houve novo fato
gerador do IPI, com fulcro no art. 46, II, do CTN.
Além da Lei nº 4.502/64, existem duas outras leis que também equiparam o
importador a estabelecimento industrial: art. 79 da MP 2.158-35/2001 e art. 13 da Lei nº
11.281/2006.
Dessa forma, seja pela combinação dos arts. 46, II, e 51, parágrafo único, do CTN, seja
pela combinação dos arts. 51, II, do CTN, 4º, I, da Lei nº 4.502/1964, 79 da MP n. 2.158-
35/2001 e 13 da Lei n. 11.281/2006 - nenhum deles até então afastados por
inconstitucionalidade -, os produtos importados estão sujeitos a uma nova incidência do IPI
quando de sua saída do estabelecimento importador na operação de revenda.
Mas esse entendimento não fará com que a cadeia produtiva seja muito onerada?
Não haverá uma sobrecarga sobre o importador/revendedor? NÃO. Esse entendimento não
onera a cadeia produtiva além do razoável. O importador, na primeira operação
(importação) acumula os papeis de contribuinte de fato e de direito em razão da
territorialidade, já que o estabelecimento industrial produtor estrangeiro não pode ser eleito
pela lei nacional brasileira como contribuinte de direito do IPI. Em outras palavras, o Brasil
não pode tributar o vendedor estrangeiro (porque está fora do país), então ele cobra o
imposto do importador. Ocorre que essa empresa brasileira que fez a importação acumulará
o crédito do imposto pago no desembaraço aduaneiro para ser utilizado como abatimento
do imposto a ser pago na saída do produto como contribuinte de direito. Isso porque o IPI é
um imposto não-cumulativo, o que significa dizer que o valor pago a título de IPI na
operação imediatamente anterior (importação) pode ser abatido do mesmo imposto na
operação posterior (revenda), nos termos do art. 49 do CTN.
Neste caso, haverá bitributação de IPI e ICMS? SIM. Na revenda interna do produto
importado haverá tributação tanto de IPI como de ICMS. Ocorre que a Lei Kandir (LC 87/96)
admite hipóteses expressas de bitributação entre o IPI e o ICMS. O que a Lei faz é
"minimizar" os custos dessa bitributação. Isso porque o art. 13, § 2º da LC 87/96 estabelece
que o valor do IPI não integra a base de cálculo do ICMS toda vez que a operação configurar
fato gerador de ambos os impostos, ou seja, a lei permite a bitributação, mas minora seus
efeitos ao retirar o IPI da base de cálculo do ICMS. Não se pode dizer que a referida Lei é
inconstitucional porque ela é uma mera reprodução do disposto no art. 155, § 2º, XI, da
CF/88, que parte do pressuposto justamente da possibilidade de se bitributar pelo IPI e pelo
ICMS.
IMPOSTO DE RENDA – IR
O art. 12, ao fazer incidir a alíquota sobre o total dos rendimentos do contribuinte
naquele mês, adotou o chamado “regime de caixa”. O STF afirmou que o contribuinte tinha
direito ao recolhimento do IRPF pelo regime de competência (calculado mês a mês) e não
pelo de caixa (calculado de uma única vez, na data do recebimento).
Segundo o art. 950 do CC, se uma pessoa for vítima de dano físico que cause a
diminuição de sua capacidade de trabalho, ela deverá receber do causador do dano pensão
correspondente à importância do trabalho para que se inabilitou, ou da depreciação que ela
sofreu. Tais valores estão sujeitos ao pagamento de Imposto de Renda (IR).
Lucros cessantes: INCIDE IR. STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.786-RS, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 25/8/2015 (Info 568).
Ainda não entendi porque os danos emergentes não estão sujeitos ao IR e os lucros
cessantes sim... O critério é analisar se houve acréscimo patrimonial. No caso dos danos
emergentes, o indivíduo não recebe nada além do que já possuía e teve que gastar por causa
da lesão sofrida. Como ele apenas recebeu de volta o que gastou, não houve acréscimo
patrimonial, de forma que não há que se falar em pagamento de imposto de renda.
Nos lucros cessantes, o juiz diz o seguinte: como você deixou de lucrar X, receberá
esse valor em forma de indenização. Perceba, portanto, que o indivíduo recebe uma quantia
que não fazia parte de seu patrimônio. Além disso, a indenização por lucros cessantes
substitui o valor que a pessoa iria lucrar caso não tivesse havido o acidente. Ocorre que se
não tivesse havido o acidente e a pessoa lucrasse aquele valor, ela teria que pagar o imposto
de renda. Logo, nada mais justo que, ao receber a quantia substituta (lucros cessantes),
continue tendo o dever de pagar o imposto. Veja outro exemplo, desta vez conferido pelo
Min. Herman Benjamin:
Ex: João comprou seu apartamento por R$ 300 mil; dois anos depois, vendeu este
imóvel por R$ 400 mil, tendo “lucrado” R$ 100 mil com o negócio. Diz-se que seu ganho de
capital foi de R$ 100 mil. Em princípio, João teria que pagar imposto de renda sobre esse
ganho de capital. Ocorre que o art. 39 acima transcrito garante uma isenção do imposto caso
ele utilize este valor recebido para adquirir outro imóvel residencial.
Pedro, na declaração de imposto de renda, informou que os R$ 100 mil que recebeu
de ganho de capital com a venda da casa seriam isentos do IR. A Receita Federal, contudo, não
concordou e afirmou que, para ter direito à isenção do IR, a compra do imóvel residencial deve
ser posterior à data do ganho de capital. No caso de Pedro, foi o contrário, pois primeiro ele
comprou o apartamento (julho) e depois teve o ganho de capital com a venda casa (outubro).
Logo, não teria direito.
O Fisco sustentou que existe expressa vedação à pretensão de Pedro no art. 2º, § 11, I,
da Instrução Normativa-SRF n. 599/2005, que regulamentou a isenção legal. Veja o texto da IN
599/2005:
É válido o argumento utilizado pela Receita Federal para negar a isenção? NÃO. Pedro
tem, sim, direito à isenção. Segundo decidiu o STJ: A isenção do Imposto de Renda sobre o
ganho de capital nas operações de alienação de imóvel prevista no art. 39, da Lei nº
11.196/2005 se aplica à hipótese de venda de imóvel residencial com o objetivo de quitar,
total ou parcialmente, débito remanescente de aquisição a prazo ou à prestação de imóvel
residencial já possuído pelo alienante. STJ. 2ª Turma. REsp 1469478/SC, Rel. Min. Herman
Benjamin, Rel. p/ Acórdão Ministro Mauro Campbell Marques, julgado em 25/10/2016 (Info
594).
Ademais, se você observar a redação do art. 39, verá que ele exige apenas a aplicação
do "produto da venda na aquisição de imóveis residenciais localizados no País". Não existe
uma exigência do momento em que deve ocorrer esta aquisição. Não há qualquer registro na
Lei de que as aquisições de que ela fala sejam somente aquelas cujos contratos ocorreram
depois da venda do primeiro imóvel residencial.
Aliás, a lei nem poderia dizer isso, pois, como já descrevemos, destoaria da realidade
do mercado imobiliário para pessoas físicas que se faz com contratos a prazo, financiamentos,
e o início da aquisição do segundo imóvel antes mesmo da realização da venda do primeiro.
Incide imposto de renda sobre o adicional de 1/3 (um terço) de férias gozadas. Essa
verba tem natureza remuneratória (e não indenizatória) e configura acréscimo patrimonial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.459.779-MA, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em
22/04/2015 (recurso repetitivo) (Info 573).
Se a pessoa for mandada embora sem ter gozado as férias a que teria direito, o
empregador deverá pagar uma indenização ao trabalhador. A isso chamamos de “férias
indenizadas”. Incide imposto de renda sobre as férias indenizadas (vencidas ou proporcionais)
e sobre o respectivo adicional de 1/3? NÃO.
Por que incide imposto de renda sobre o 1/3 de férias gozadas, mas não incide
contribuição previdenciária? O adicional de 1/3 de férias gozadas possui natureza
remuneratória (salarial). Logo, é acréscimo patrimonial, devendo incidir imposto de renda.
Contudo, não incidirá contribuição previdenciária porque essa verba adicional (1/3)
não é incorporada para fins de aposentadoria. Em outras palavras, esse valor que o
trabalhador recebe a mais uma vez por ano (adicional de 1/3) não será computado na sua
aposentadoria. Logo, não há lógica em que ele pague contribuição previdenciária sobre uma
verba que não servirá para seus proventos no futuro. O fundamento adotado diz respeito,
portanto, ao caráter retributivo da contribuição previdenciária no cálculo do benefício. Esse
argumento não interessa para fins de imposto de renda. Daí a distinção.
Entendendo melhor: a empresa pagou R$ 700 mil à vista para João e este cedeu à
empresa o direito de ficar com o crédito do precatório quando ele for pago pela Administração
Pública. Alguns anos mais tarde, a empresa finalmente recebeu o valor previsto no precatório.
Aí surgiu, no entanto, um impasse com a Receita Federal. Ao receber o precatório, a empresa
recolheu o imposto de renda aplicando uma alíquota de 15% (alíquota válida para pessoas
jurídicas).
Ocorre que a Receita Federal não concordou e cobrou o imposto de renda com base
em uma alíquota de 27,5% de imposto de renda. Segundo argumentou o Fisco, se João (pessoa
física), titular originário do crédito, tivesse recebido o precatório, ele iria pagar uma alíquota
de 27,5% de imposto de renda (alíquota máxima das pessoas físicas). Logo, a empresa, como
cessionária do crédito, também deverá pagar esse mesmo percentual.
A tese da Receita Federal foi aceita pelo STJ? SIM. Se pessoa jurídica adquire, por meio
de cessão de direito, precatório cujo beneficiário seja pessoa física, o cálculo do imposto de
renda (IR) retido na fonte (art. 46 da Lei 8.541/92) na ocasião do pagamento da carta
precatória deverá ser realizado com base na alíquota que seria aplicável à pessoa física
cedente, ainda que a alíquota aplicável a pessoa física seja maior do que a imposta a pessoa
jurídica. STJ. 2ª Turma. RMS 42.409-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em
6/10/2015 (Info 571).
Em 2010, o STJ decidiu que incide Imposto de Renda sobre os rendimentos recebidos a
título de abono de permanência (1ª Seção. REsp 1192556/PE, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 25/08/2010. Recurso repetitivo). Ocorre que, antes deste julgamento, a
posição do STJ era no sentido oposto.
Diante disso, como houve radical mudança da jurisprudência, o STJ decidiu que o
entendimento adotado no REsp 1.192.556-PE não alcança fatos geradores pretéritos ao
referido julgado. Em outras palavras, incide o IRPF sobre o valor do abono de permanência,
mas somente a partir de 2010, data do julgamento do REsp. 1.192.556/PE, não valendo este
entendimento para fatos geradores anteriores a este acórdão. STJ. 1ª Turma. REsp 1.596.978-
RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 7/6/2016 (Info 589).
Desse modo, para Poder Público é interessante incentivar que o servidor permaneça
na ativa mesmo que já tenha "tempo" para se aposentar. Pensando nisso, a EC 41/2003
instituiu o chamado "abono de permanência". O abono de permanência é um incentivo
financeiro pago ao servidor que, mesmo já tendo preenchido os requisitos para se aposentar
com proventos integrais, decida adiar a jubilação e continuar trabalhando.
Art. 40, § 19, CRFB\88. O servidor de que trata este artigo que tenha
completado as exigências para aposentadoria voluntária
estabelecidas no § 1º, III, "a", e que opte por permanecer em
atividade fará jus a um abono de permanência equivalente ao valor
da sua contribuição previdenciária até completar as exigências para
aposentadoria compulsória contidas no § 1º, II. (Incluído pela EC
41/2003)
O servidor público deverá pagar imposto de renda sobre os valores recebidos a título
de abono de permanência? Incide IRPF sobre o abono de permanência? Ex: se o abono de
permanência é de R$ 1 mil, o servidor deverá pagar 15%, 27,5% etc sobre este valor? SIM.
Sujeitam-se à incidência do Imposto de Renda os rendimentos recebidos a título de abono de
permanência a que se referem o § 19 do art. 40 da Constituição Federal, o § 5º do art. 2º e o §
1º do art. 3º da Emenda Constitucional 41/2003, e o art. 7º da Lei 10.887/2004. Não há lei que
autorize considerar o abono de permanência como rendimento isento. STJ. 1ª Seção. REsp
1192556/PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/08/2010 (recurso repetitivo).
Ocorre que, até o STJ pacificar a questão, houve muita polêmica sobre o assunto e o
julgado acima representou uma mudança de entendimento. Isso porque de 2003 a 2010, o
entendimento majoritário na jurisprudência era o de que não incidia imposto de renda sobre o
abono de permanência
Desse modo, como houve uma radical alteração da posição, o STJ decidiu que, por
questões de segurança jurídica, o entendimento manifestado no REsp 1192556/PE deveria ter
efeitos ex nunc, não alcançando situações pretéritas.
O mais interessante é que esta "modulação dos efeitos" da decisão não foi proferida
no momento em que o REsp 1192556/PE foi julgado, mas somente em 2016.
(...) 1. A mutação jurisprudencial tributária de que resulta oneração
ou agravamento de oneração ao Contribuinte somente pode produzir
efeitos a partir da sua própria implantação, não alcançando,
portanto, fatos geradores pretéritos, consumados sob a égide da
diretriz judicante até então vigorante; essa orientação se apóia na
tradicional e sempre atual garantia individual de proibição da
retroatividade de atos oficiais (ou estatais) veiculadores de encargos
ou ônus: sem esse limite, a atividade estatal tributária ficaria à solta
para estabelecer exigências retrooperantes, desestabilizando o
planejamento e a segurança das pessoas. 2. Neste caso, a não
incidência do IRPF sobre o Abono de Permanência estava claramente
albergada na jurisprudência desta Corte Superior (AgRg no REsp.
1.021.817/MG, Rel. Min. FRANCISCO FALCÃO, DJe 1.9.2008), o que
somente veio a ser alterado com o julgamento do REsp.
1.192.556/PE, sob a sistemática do art. 543-C do CPC, relatado na 1a.
Seção pelo Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, DJe 6.9.2010;
Essa alteração jurisprudencial do STJ não pode surpreender os
Contribuintes que realizaram fatos geradores anteriores à ela, sendo
isso uma regra intransponível da ordem jurídica democrática, como
altesonantemente apregoava o Professor GERALDO ATALIBA, na sua
obra: República e Constituição, São Paulo, Malheiros, 2004. 3.
Recurso da FAZENDA PÚBLICA parcialmente provido, para afirmar
que incide o IRPF sobre o valor do Abono de Permanência, mas
somente a partir de 2010, data do julgamento do REsp.
1.192.556/PE, ressalvada a prescrição quinquenal, anotando-se que a
decisão repetitiva ainda não transitou em julgado. STJ. 1ª Turma.
REsp 1596978/RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
07/06/2016.
ICMS
Eduardo Sabbag afirma que, resumidamente, o ICMS pode ter os seguintes fatos
geradores (Manual de Direito Tributário. 4. ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 1061):
1) circulação de mercadorias;
Vale ressaltar que incide o ICMS mesmo que “as operações e as prestações se iniciem
no exterior” (art. 155, II da CF/88).
A CF/88 prevê que haverá cobrança de ICMS nos casos de mercadoria importada do
exterior ou nas hipóteses de serviço prestado no exterior. Ex: uma empresa que fabrica
roupas deverá pagar ICMS se importou da China uma máquina têxtil para utilizar em sua
linha de produção.
Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa física não contribuinte
habitual do imposto, haverá incidência de ICMS? SIM.
Se a pessoa que importou a mercadoria era uma pessoa jurídica não comerciante (não
contribuinte habitual do imposto), haverá incidência de ICMS? SIM.
Se a mercadoria foi importada pela empresa sem finalidade comercial (não seria
utilizada em sua cadeia produtiva), mesmo assim haverá incidência de ICMS? SIM.
Cuidado com a Súmula 577 do STF! O STF possui um enunciado antigo (de
15/12/1976), que dizia o seguinte: Súmula 577-STF: Na importação de mercadorias do
exterior, o fato gerador do imposto de circulação de mercadorias ocorre no momento de sua
entrada no estabelecimento do importador.
Esta súmula encontra-se SUPERADA porque era baseada na legislação anterior e não
mais subsiste, já que o art. 12, IX, da LC 87/96 afirma que o fato gerador do imposto é o
desembaraço aduaneiro, situação que ocorre ainda na alfândega, ou seja, antes de o bem ou a
mercadoria ser levada ao estabelecimento do importador.
Ex.1: João vai até o shopping e compra uma televisão. Houve a incidência de ICMS
sobre essa operação.
A CF/88 previu três regras que serão aplicáveis para cada uma das situações.
SITUAÇÃO 1: quando a pessoa tiver adquirido o produto/serviço como consumidor
final e for contribuinte do ICMS.
• Solução dada pela CF/88: neste caso, a redação originária da CF/88 optou por
dividir a arrecadação do ICMS entre o Estado de origem (SP) e o de destino da mercadoria
(PE).
Vale ressaltar, no entanto, que esta situação não é muito frequente na prática.
SITUAÇÃO 2:
O Estado onde mora o comprador não ganha nada (em nosso exemplo,
Pernambuco).
SITUAÇÃO 3:
• Solução dada pela CF/88: aplica-se a alíquota INTERESTADUAL, mas o valor ficará
todo com o Estado de origem (Estado onde se localiza o vendedor; no caso, SP).
Voltando ao nosso exemplo: quando esses computadores saírem de SP, deverá ser
aplicada a alíquota interestadual (7%) e todo esse valor fica com o Estado de origem.
APLICÁVEIS
produto/serviço como consumidor final e for 1º) alíquota O Estado de origem fica com o valor obtido com a alíquota
2º) diferença
interestadual. interestadual.
da mercadoria comprada e não for do Estado de Aplica-se a alíquota interna do Estado vendedor e o valor
final do produto adquirido. interestadual. Aplica-se a alíquota interestadual, mas o valor ficará todo
com o Estado de origem.
Crítica feita por muitos Estados: A maioria dos Estados (Paraíba, Piauí, Bahia, Mato
Grosso, Ceará, Sergipe, entre outros) critica a sistemática do ICMS acima explicada, taxando-
a de injusta e afirmando que ela contribui para o aumento das desigualdades regionais.
Os Estados situados nas demais regiões (em especial, Norte e Nordeste) aglutinam,
proporcionalmente, mais consumidores do que empresas.
Protocolo ICMS 21/2011: Por conta dessa realidade, os Estados do Norte e Nordeste
conseguiram aprovar, no Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), o Protocolo
ICMS 21/2011, permitindo que fosse cobrado ICMS sobre as operações interestaduais em
que o destinatário da mercadoria estiver localizado em seu território, independentemente
de se tratar de consumidor final (contribuinte do tributo) ou de mero intermediário. Em
outras palavras, de acordo com o referido Protocolo, se a pessoa residente no Estado “X”
adquirisse, de forma não presencial (ex.: pela internet), uma mercadoria oriunda de um
vendedor localizado no Estado “Y”, o Estado “X” poderia também cobrar ICMS sobre essa
operação interestadual.
Esse Protocolo ICMS 21/2011 da Confaz é compatível com a CF/88? NÃO. O STF
decidiu que é inconstitucional a cobrança de ICMS pelo Estado de destino, com fundamento
no Protocolo ICMS 21/2011 do Confaz, sobre as operações interestaduais de venda de
mercadoria a consumidor final realizadas de forma não presencial (internet, telemarketing
ou showroom).
• Solução dada pela CF/88 em sua redação originária: Aplicava apenas a alíquota
INTERNA do Estado vendedor. O valor ficava todo com o Estado de origem (Estado onde se
localiza o vendedor; no caso, SP). O Estado onde morava o comprador não ganhava nada
(em nosso exemplo, Pernambuco).
* Valor obtido com a aplicação da alíquota interestadual (ex: 7% x 500 mil reais):
ficará todo para o Estado de origem.
Essa divisão será feita com base em percentuais que foram acrescentados no art. 99
do ADCT e que são graduais ao longo dos anos, até que, em 2019, o Estado de destino ficará
com todo o valor da diferença entre a alíquota interestadual e a interna. Veja:
III - para o ano de 2017: 60% (sessenta por cento) para o Estado de
destino e 40% (quarenta por cento) para o Estado de origem;
seguinte: seguinte:
VII - em relação às operações e prestações que VII - nas operações e prestações que destinem bens e
destinem bens e serviços a consumidor final localizado serviços a consumidor final, contribuinte ou não do
a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for alíquota interestadual e caberá ao Estado de localização
alíquota interestadual;
2) b) (revogada);
VIII - na hipótese da alínea "a" do inciso anterior, caberá ao VIII - a responsabilidade pelo recolhimento do imposto
correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual de que trata o inciso VII será atribuída:
interestadual;
do imposto;
PRODUÇÃO DE EFEITOS: Segundo o art. 3º, a EC 87/2015 entra em vigor na data de sua
publicação, mas só começa a produzir efeitos em 2016. Com isso, o inciso I do art. 99 do ADCT,
acrescentado pela EC 87/2015, é inócuo porque fala em 2015, mas neste ano as novas regras
acima explicadas ainda não estão produzindo efeitos.
O Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei nº 11.743/2002 prevendo que empresas
privadas poderiam patrocinar bolsas de estudos para professores em faculdades
particulares. Em contrapartida, o art. 3º da Lei autoriza que a empresa patrocinadora deduza
do ICMS que ela paga 50% do valor gasto com a bolsa de estudos. Em outras palavras, a
empresa recebe um incentivo fiscal de ICMS por estar patrocinando a bolsa.
Essa previsão do art. 3º desta Lei é constitucional? O Estado poderia ter concedido
este incentivo de ICMS? NÃO. O Estado-membro só pode conceder isenção de ICMS se isso
tiver sido combinado com os demais Estados-membros/DF por meio de um convênio. É o
que prevê o art. 155, § 2º, XII, “g”, da CF/88 e o art. 1º da LC 24/75:
Dessa forma, quando a empresa presta o serviço de forma onerosa (ou seja, impondo
um preço por isso), ela pratica o fato gerador do imposto. O fato de o consumidor não ter pago
o preço não muda nada o fato gerador, que já aconteceu.
INFORMATIVO 585, STJ – ICMS E SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA –
SISTEMÁTICA DO “CÁLCULO POR DENTRO”.
O art. 13, § 1º, I, da LC 87/96 determina que o valor pago a título de ICMS integra a
base de cálculo do próprio ICMS. Assim, a base de cálculo do ICMS, definida como o valor da
operação de circulação de mercadoria, inclui o próprio montante do ICMS incidente, pois ele
faz parte da importância paga pelo comprador e recebida pelo vendedor na operação.
Utilizando-se a técnica de cálculo 'por dentro', no entanto, também o ICMS pago pela
indústria vendedora passa a integrar o preço da operação (R$ 100,00). Dessa forma, a
alíquota de 17% incidirá não apenas sobre as demais despesas, mas sobre as despesas mais
R$ 17,00. Em outras palavras, no exemplo citado, teremos um montante de R$ 19,89 (17% X
R$ 117,00) pago a título de ICMS. Conforme visto, é como se a base de cálculo efetiva fosse
R$ 117,00 (R$ 100,00 + 17% sobre este valor), o que implica clara majoração do imposto, daí
porque tantas críticas por parte da doutrina." (CASTRO, Eduardo Moreira Lima Rodrigues de.
Tributos em espécie. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 575-576).
Mesmo antes da inclusão dessa alínea "i" realizada pela EC 33/2001, o STF já havia
dito que a sistemática do "cálculo por dentro" no ICMS era constitucional. Nesse sentido: RE
212.209-RS, Tribunal Pleno, DJ 14/2/2003; RE 582.461 RG-SP, Tribunal Pleno, DJe
18/8/2011).
Questão TJRS (2016): Havendo apenas bens móveis, o ITCD é devido ao Estado em
que o inventário será processado, apurando-se o imposto pela alíquota vigente por ocasião
da abertura da sucessão – CORRETA.
Questão TJRS (2016): Havendo bens móveis e imóveis, o ITCD é devido ao Estado de
residência do de cujus, apurando-se o imposto pela alíquota vigente por ocasião da data de
avaliação dos bens – ERRADA.
Na substituição tributária progressiva, a lei prevê que o tributo deverá ser recolhido
antes mesmo que ocorra o fato gerador. Desse modo, primeiro há um recolhimento do
imposto e o fato gerador se dará em um momento posterior.
Diz-se, então, que o fato gerador é presumido porque haverá o pagamento do
tributo sem ter certeza que ele irá acontecer. A técnica de ICMS 'por dentro' pode ser
aplicada também nos casos de substituição tributária? SIM. Ainda que se adote a
substituição tributária como forma de arrecadação de ICMS, é legal a sistemática do "cálculo
por dentro". STJ. 2ª Turma. REsp 1.454.184-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado
em 5/5/2016 (Info 585).
Em outras palavras, não há motivo para não se aplicar a técnica do ICMS 'por dentro'
nos casos de ICMS cobrado por meio de substituição tributária.
Resumindo: O ICMS integra a sua própria base de cálculo, sendo isso chamado de
ICMS "por dentro" ou "cálculo por dentro". O ICMS por dentro está previsto no art. 13, § 1º,
I, da LC 87/96, sendo considerado constitucional pelo STF. Essa mesma regra aplica-se para o
ICMS substituição tributária, considerando que se trata do mesmo tributo. Assim, ainda que
se adote a substituição tributária como forma de arrecadação de ICMS, é legal aplicar-se a
sistemática do "cálculo por dentro". STJ. 2ª Turma. REsp 1.454.184-MG, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, julgado em 5/5/2016 (Info 585).
Exceção: O § 6º do referido artigo traz uma exceção para os casos de serviços não
medidos e cujo preço seja cobrado por períodos definidos. Veja:
"Serviço medido" é aquele no qual o usuário paga pelo serviço efetivamente utilizado,
como por exemplo, os serviços de água, telefonia, luz etc. Os serviços de TV por assinatura são
classificados como "serviços não medidos". Isso porque o pagamento não varia segundo o
tempo de utilização. O assinante opta por um pacote de canais e por ele pagará um valor fixo
mensalmente. Não importa a quantidade de horas que assista. Aquele que passa o dia inteiro
com a TV ligada pagará o mesmo valor daquele que só assiste os programas no fim de semana,
por exemplo. Desse modo, aplica-se ao caso o disposto no art. 11, § 6º, da LC 87/96, segundo o
qual se deve recolher o ICMS em partes iguais para as unidades da Federação em que
estiverem localizados o prestador e o tomador.
O ICMS incide sobre a tarifa de assinatura básica mensal cobrada pelas prestadoras
de serviço de telefonia, independentemente da franquia de minutos concedida ou não ao
usuário. STF. Plenário. RE 912888/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 13/10/2016
(repercussão geral) (Info 843).
Cuidado. Não confundir com o RE 572020/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o
acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 6/2/2014 (Info 734).
Um dos fatos geradores do ICMS são os serviços de comunicação. Veja o que afirma a
LC 87/96 sobre esse fato gerador:
Existem alguns serviços prestados pelas empresas que são acessórios aos serviços de
comunicação. Exs.: troca de titularidade de aparelho celular, conta detalhada, troca de
aparelho, troca de número, mudança de endereço de cobrança de conta telefônica, troca de
área de registro, troca de plano de serviço, bloqueio de DDD e DDI, habilitação e religação
etc.
Poderá haver cobrança de ICMS quando a empresa de telefonia cobrar um valor para
realizar a habilitação do telefone celular para o cliente? NÃO. O serviço de habilitação de
celular configura atividade preparatória ao serviço de comunicação e, portanto, não sujeita à
incidência do ICMS. Vale ressaltar que a própria Lei Geral de Telecomunicações prevê que o
serviço de habilitação de telefonia móvel não é atividade-fim, mas sim atividade-meio para o
serviço de comunicação.
ICMS INCIDE SOBRE A TARIFA DE ASSINATURA BÁSICA MENSAL COBRADA PELAS EMPRESAS
DE TELEFONIA
Tarifa de assinatura básica mensal com franquia de minutos: Na maioria das vezes,
essa tarifa de assinatura básica mensal dá direito ao usuário de utilizar alguns minutos para
ligação. Ex: o usuário paga R$ 50,00 de tarifa básica (valor mínimo) e tem direito a 100 minutos
de fixo para fixo. Neste caso, diz-se que a tarifa básica dá direito à "franquia de minutos". Aqui,
nunca houve dúvidas, incide ICMS.
Tarifa de assinatura básica mensal sem franquia de minutos: Outras vezes, no entanto,
existem alguns planos alternativos homologados pela ANATEL no qual a tarifa de assinatura
não dá direito de o usuário utilizar minutos de ligação. A pessoa é obrigada a pagar mesmo
que não faça nenhuma ligação e, se fizer qualquer uma, terá que pagar a mais por isso. Ex: o
usuário paga R$ 30,00 de tarifa básica e se fizer qualquer ligação, terá que pagar um valor a
mais.
c) Total: R$ 70,00
No exemplo acima, segundo a tese das empresas de telefonia, elas deveriam pagar o
ICMS apenas sobre os R$ 40,00 e o valor recebido a título de assinatura básica mensal não
seria tributado.
Esta tese das operadoras foi aceita pelo STF? NÃO. Segundo decidiu o STF: O Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incide sobre a tarifa de assinatura básica
mensal cobrada pelas prestadoras de serviço de telefonia, independentemente da franquia
de minutos concedida ou não ao usuário. STF. Plenário. RE 912888/SP, Rel. Min. Teori
Zavascki, julgado em 13/10/2016 (repercussão geral) (Info 843).
Tarifa de assinatura básica mensal é o preço pago pelo serviço: Segundo o Min. Teori
Zavascki, a assinatura básica mensal é o preço pago como contraprestação para um serviço.
Qual serviço? O oferecimento de condições para que haja a comunicação entre os usuários e
terceiros. Assim, mesmo que a tarifa mensal básica não pague a ligação em si, ela remunera o
oferecimento das condições para que haja a comunicação.
Assim, presta esse serviço aquele que fornece a terceiros, mediante pagamento, os
meios indispensáveis à transmissão de mensagens. Meios, aqui, tem o sentido de aparato
físico e lógico necessário ao resultado comunicação. Logo, presta o serviço de comunicação
quem fornece os meios para que a comunicação ocorra.
Vale ressaltar ainda que, há alguns anos, os órgãos de defesa do consumidor tentaram
obter na Justiça a declaração de que a cobrança da tarifa de assinatura básica seria ilegal,
considerando que o cliente estaria pagando mesmo sem usar o serviço. Na época, as empresas
de telefonia defenderam justamente que a cobrança da tarifa mensal remunerava um serviço
por elas prestado, qual seja, o fornecimento da conexão do usuário com a rede de
comunicações. Desse modo, as operadoras sustentaram naquele momento: "como nós
oferecemos este serviço mensalmente, é devido que o usuário pague por ele".
O STJ decidiu que a cobrança da tarifa básica é legítima justamente por concluir que
ela é a remuneração (contraprestação) do serviço de telefonia. Foi editado, inclusive, um
enunciado sobre o tema:
(Juiz TJ/SP 2015) Não vulnera o Código de Defesa do Consumidor a cobrança de tarifa
básica de assinatura mensal pelo uso dos serviços de telefonia fixa. (CORRETA)
(Juiz TJ/PR 2012) É legítima a cobrança de tarifa básica pelo uso dos serviços de
telefonia fixa. ( CORRETA )
Exemplo dado por Ricardo Alexandre: “A” é uma refinaria de combustíveis que
vende a gasolina para os distribuidores (“B”), que revendem para os postos de gasolina
(“C”), que, por fim, vendem ao consumidor final (“D”). Para o Estado é mais fácil cobrar de
“A” todo o tributo que irá incidir sobre a cadeia produtiva. Assim, “A” pagará o imposto por
ele devido como contribuinte e também os impostos que irão incidir sobre as vendas futuras
(nesse caso, pagará como substituto tributário/responsável tributário). (ALEXANDRE,
Ricardo. Direito tributário esquematizado. 10ª ed. São Paulo: Método, 2016, p. 317-319).
1) “A” vende para “B” (“A” paga o tributo como contribuinte e também já paga,
como responsável tributário, o imposto relacionado com as vendas futuras).
2) “B” vende para “C” (“B” não pagará mais o imposto, uma vez que este já foi pago
por “A”, como substituto tributário).
3) “C” vende para os consumidores (“C” não pagará o imposto, uma vez que este já
foi pago por “A”, como substituto).
Assim, todo o tributo é pago de uma só vez por “A”, sendo calculado sobre o valor
pelo qual se presume que a mercadoria será vendida ao consumidor. (ALEXANDRE, Ricardo,
p. 319). Esse cálculo do valor que se supõe que a mercadoria será vendida é feito mediante
a aplicação do regime de valor agregado estabelecido no art. 8º da LC 87/96:
Ocorre que o Fisco estadual não concordou e afirmou que a empresa, na condição de
substituto tributário, deveria ter recolhido o imposto sobre R$ 500,00 por cada remédio, já
este é o Preço Máximo de venda a Consumidor (PCM) sugerido pelo fabricante. Para o Fisco, a
empresa violou a Cláusula Segunda do Convênio 76/94 e o art. 8º, § 2º da LC 87/96, que
preconiza:
A questão chegou até o STJ. A posição defendida pelo Fisco foi acolhida pelo Tribunal?
NÃO. Mostra-se legítima a estipulação da base de cálculo do ICMS, com fundamento no Preço
Máximo ao Consumidor (chamado de PMC) sugerido pelo fabricante de medicamentos e
divulgado por revista especializada de grande circulação. No entanto, a fixação do PMC dirige-
se ao comércio varejista, ou seja, farmácias e drogarias, hipótese diversa da presente situação,
na qual os medicamentos destinavam-se exclusivamente ao uso hospitalar restrito,
endereçados a clínicas, casas de saúde, hospitais e assemelhados, acondicionados em
embalagens especiais, para atendimento dos pacientes, sem possibilidade de comercialização
no comércio varejista, dirigido aos consumidores finais, em balcão.
Os critérios para compensar os Estados por conta das desonerações de ICMS sobre as
exportações estão previstos no art. 91 do ADCT. O caput do art. 91 exige que seja editada uma
nova lei complementar para regulamentar os critérios de compensação dos Estados. No
entanto, o § 3º prevê que, até a edição da nova lei complementar, devem ser adotados para o
repasse os critérios estabelecidos no Anexo da LC 87/96, com a redação da LC 115/2002.
Portanto, o próprio texto constitucional transitório já previu a solução a ser adotada até a
vinda da nova lei complementar.
Dessa forma, o Poder Judiciário não pode alterar os índices de repasse da União aos
Estados previstos no art. 91 do ADCT e na LC 87/96, criando novos critérios. Tal atitude
equivaleria a uma inovação no ordenamento jurídico contra o direito posto, violando a
cláusula da separação dos Poderes. STF. Plenário. ACO 1044/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
30/11/2016 (Info 849).
Autorização conferida pelo art. 155, XII, "e": O art. 155, XII, "e", por sua vez, autorizou
que o legislador infraconstitucional previsse, além dos produtos industrializados, outros casos
de exclusão do ICMS para produtos e serviços destinados ao exterior. Confira:
Sistema atual de compensação dos Estados: A lei complementar de que trata o art. 91
do ADCT ainda não foi editada. Diante disso, deve-se continuar adotando o Fundo de
compensação previsto no anexo da Lei Kandir. É o que prescreve o § 3º do art. 91 do ADCT
acima transcrito.
Vale ressaltar que a redação atual do anexo da Lei Kandir (LC 87/96) foi dada pela LC
115/2002.
Assim, pode-se dizer que o regime de compensação dos Estados é regido pela LC
87/96, com as alterações implementadas pela LC 115/2002. Esta compensação trazida pela LC
115/2002 é baseada em critérios eminentemente políticos, sendo o montante destinado aos
Estados definido na lei orçamentária anual da União.
Dessa forma, pelo sistema atual os coeficientes de partilha são fixos e não têm relação
com as operações de exportação empreendidas por cada Estado, o que, na prática, torna a
compensação de cada Estado-membro em uma quantia fixada de forma política.
Ação proposta pelo Estado do Mato Grosso: O Estado do Mato Grosso ajuizou ação
contra a União alegando que a compensação efetuada pela União é insuficiente e pediu que
houvesse a ampliação dos valores por ele recebidos.
O STF concordou com o pedido? NÃO. O STF julgou improcedente o pedido formulado
pelo Estado do Mato Grosso. A desoneração tributária das operações de exportação foi
inicialmente compensada por um fundo previsto na redação original da LC 87/96.
Posteriormente, esta Lei foi alterada pela LC 102/2000 e pela LC 115/2002. Como já explicado,
a LC 115/2002 inaugurou novo sistema, segundo o qual o montante a ser repassado pela União
aos Estados-Membros passou a ser determinado com base em fatores políticos, definidos na
Lei Orçamentária da União, após aprovação pelo Congresso Nacional.
Dessa forma, não há qualquer espaço para o Poder Judiciário alterar disposição
constitucional já existente sobre o tema. Conclui-se, assim, que o STF não pode atuar “contra
legem”, não podendo alterar o índice de repasse da União aos Estados, criando novos critérios
que não são previstos na lei ou na Constituição. Tal atitude equivaleria a uma inovação no
ordenamento jurídico contra o direito posto, violando a cláusula da separação dos Poderes.
STF. Plenário. ACO 1044/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/11/2016 (Info 849).
A CF/88 e a LC 87/96 determinaram que não deveria incidir ICMS nas operações e
prestações destinadas ao exterior. Como isso causou uma perda de arrecadação, foi prevista
uma forma de compensação por meio da qual a União deveria transferir recursos aos Estados.
Os critérios para compensar os Estados por conta das desonerações de ICMS sobre as
exportações estão previstos no art. 91 do ADCT.
O caput do art. 91 exige que seja editada uma nova lei complementar para
regulamentar os critérios de compensação dos Estados. No entanto, o § 3º prevê que, até a
edição da nova lei complementar, devem ser adotados para o repasse os critérios
estabelecidos no Anexo da LC 87/96, com a redação da LC 115/2002. Como já se passaram
muitos anos sem que o Congresso Nacional tenha editado a lei complementar de que trata o
art. 91 do ADCT, foi proposta uma ADI por omissão por conta desta lacuna.
O STF julgou procedente a ação e declarou haver mora, por parte do Congresso
Nacional, em editar a aludida lei complementar. Diante disso, o STF fixou um prazo de 12
meses para que o Legislativo faça a lei. Na decisão, o STF consignou que, se for ultrapassado o
prazo de 12 meses sem que a lei seja editada, o Tribunal de Contas da União (TCU) deverá:
b) calcular o valor das quotas a que cada um fará jus, levando em conta os
entendimentos entre os Estados-Membros e o Distrito Federal realizados no âmbito do
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). STF. Plenário. ADO 25/DF, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 30/11/2016 (Info 849).
(Juiz TJPA 2014) Incidirá ICMS sobre operações que destinem mercadorias para o
exterior e sobre serviços prestados a destinatários no exterior, assegurada a manutenção e o
aproveitamento do montante do imposto cobrado nas operações e prestações anteriores.
( ERRADA )
O ISS incide sobre todo e qualquer serviço, desde que cumpridas duas condições:
a) A relação dos serviços sobre as quais incide o imposto deve estar prevista em lei
complementar nacional (atualmente a Lei Complementar 116/03).
Qual será a base de cálculo do ISS nesse caso: apenas o valor da taxa de agenciamento
(R$ 20 mil)? Ou o valor da taxa de agenciamento mais a quantia paga a título de salários e
encargos sociais (R$ 120 mil)?
O enunciado 524 do STJ espelha a distinção acima exposta, podendo ser dividido em
duas partes. No tocante à base de cálculo, o ISSQN incide:
- devendo, entretanto, englobar também os valores dos salários e encargos sociais dos
trabalhadores por ela contratados nas hipóteses de fornecimento de mão de obra
(fornecedora de mão de obra).
Incide ISS (e não ICMS) sobre o serviço de montagem de pneus, ainda que a
sociedade empresária também forneça os pneus utilizados na montagem. STJ. 2ª Turma.
REsp 1.307.824-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/10/2015 (Info 573).
a) A relação dos serviços sobre as quais incide o imposto deve estar prevista em lei
complementar nacional (atualmente a Lei Complementar 116/03).
Operações puras e operações mistas: Podem existir três tipos de operações para fins
de incidência de ICMS ou ISS:
a) operação pura de circulação de mercadoria: ocorre quando o contribuinte apenas
realiza circulação de mercadorias, sem prestar qualquer tipo de serviço. Ex: uma loja de
brinquedos. Neste caso, ele só irá pagar ICMS.
EXCEÇÃO: Existem algumas operações mistas nas quais a LC 116/2003 prevê que
sobre elas deverão incidir tanto o ISS (sobre o serviço prestado) como também o ICMS (sobre
a circulação de mercadorias). É o que preconiza o art. 1º, § 2º da LC:
Existem determinados serviços que não podem ser objeto de ISSQN, seja por vedação
constitucional, seja porque foram excluídos pela LC 116/2003. Assim, não incide ISSQN sobre:
b) exportações de serviços para o exterior do País (art. 156, § 3º, II, da CF/88);
Serviço, para fins de ISS, não significa, necessariamente, obrigação de fazer: O STF
entende que a interpretação do conceito de "serviços", para fins de ISS (art. 156, III, da
CF/88), tem um sentido mais amplo do que o conceito de “obrigação de fazer”. Portanto,
“prestação de serviços” não tem por premissa a configuração dada pelo Direito Civil.
Prestação de serviços, para efeitos de ISS, é o "oferecimento de uma utilidade para outrem,
a partir de um conjunto de atividades imateriais, prestado com habitualidade e intuito de
lucro, podendo estar conjugado ou não à entrega de bens ao tomador" (Min. Luiz Fux).
A alíquota máxima do ISS é de 5% (art. 8º, II, da LC 116/2003). Com o objetivo de evitar
“guerra fiscal” entre os Municípios, o art. 88 do ADCT da CF estabeleceu uma alíquota mínima
de ISS no valor de 2%. Assim, nenhuma lei municipal, a pretexto de atrair empresas para ali se
instalarem, poderá prever alíquota inferior a 2%. Confira o texto do ADCT:
Base de cálculo: A base de cálculo do ISS é o PREÇO DO SERVIÇO, ou seja, o valor pago
pelo tomador do serviço ao prestador como contraprestação pela utilidade oferecida. Assim, o
valor que o contribuinte irá pagar é de 5% sobre o preço do serviço prestado (no caso de AL
máxima).
Preço do serviço = valor total da nota: Quando se fala em preço do serviço, isso
significa o valor total cobrado pelo serviço, ou seja, a “receita bruta” obtida pelo prestador,
sem descontar impostos e outros custos que ele tenha. Ex: se a consulta do médico é R$
1.000,00, o ISS a ser pago é de R$ 50,00, ou seja, 5% sobre o valor total da nota, não
importando que o médico ainda vá pagar impostos e que ele receberá ao final um valor líquido
menor.
Lei municipal que exclui valores da base de cálculo do ISSQN: Determinado Município
do interior de SP editou uma lei municipal excluindo da base de cálculo do ISSQN os seguintes
tributos federais: a) Imposto de Renda; b) CSLL; c) PIS/Pasep; e d) Cofins. Em outras palavras,
neste Município, a pessoa que prestasse serviços poderia abater do preço do serviço (base de
cálculo do ISS) os custos que teria com o pagamento desses tributos federais.
O Governador do DF ajuizou uma ADPF contra essa lei municipal argumentando que
ela representa medida de “guerra fiscal” e prejudica a arrecadação dos demais entes
federados. Não foi proposta ADI porque esta ação só cabe contra leis federais ou estaduais
(art. 102, I, “a”, da CF/88), não podendo ser ajuizada contra leis municipais.
ITBI
ITCMD
No Estado do Rio de Janeiro, a Lei nº 1.427/89 foi revogada pela Lei nº 7.174/15 que
prevê o seguinte:
Tais planos têm a mesma natureza dos seguros de vida, conforme previsto no artigo
73 do referido diploma, aplicando-se a eles a mesma legislação aplicável às sociedades
seguradores. Vejamos:
Em razão do exposto, deve ser aplicado ao caso concreto o disposto no artigo 794 do
Código Civil, que dispõe que no seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de
morte, o capital estipulado não está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera
herança para todos os efeitos de direito.
Por não serem considerados herança, nem o seguro de vida nem a previdência
privada, a incidência do ITCMD viola o ordenamento jurídico, ao passo que o direito
tributário não pode violar os conceitos e institutos do direito civil, conforme previsto no
artigo 110 do Código Tributário Nacional, que assim dispõe:
Como se pode ver, uma vez que o direito civil não reconhece a natureza de herança à
previdência privada, a incidência do ITCMD resta indevida. No Estado de São Paulo, em sede
de resposta de consulta, a Fazenda Paulista reconheceu a natureza de seguro aos planos de
previdência privada e, consequentemente, a não incidência do ITCMD. Vejamos:
(B) Relativamente aos bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado onde
se processar o inventário ou arrolamento ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal
– ERRADA. É o justo oposto da primeira assertiva;
(C) Terá a competência para sua instituição regulada por lei complementar se o de
cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve seu inventário processado no
exterior – CORRETA (Art. 155, III, CF).
(D) Terá suas alíquotas máximas fixadas por lei ordinária dos Estados ou do Distrito
Federal aos quais compete. ERRADA. As alíquotas máximas são fixadas pelo Senado Federal.
SÚMULA 47, TJRS: Sendo o usufruto direito real sobre coisa alheia,
no caso de extinção por morte, o prazo para a Fazenda Pública
constituir o crédito deve ser contado, nos termos do art.173, I, do
CTN, a partir do primeiro dia do exercício seguinte ao registro do
cancelamento do usufruto no ofício imobiliário.
IPVA
Por outro lado, o art. 134 do CTB determina que a pessoa que vendeu o veículo
deverá encaminhar ao DETRAN, também no prazo de 30 dias, cópia autenticada do
comprovante de transferência de propriedade, devidamente assinado e datado.
A tese defendida pelo Fisco estadual foi aceita pelo STJ? A responsabilidade solidária
de que trata o art. 134 do CTB engloba o IPVA relativo ao período posterior à alienação do
veículo? NÃO. A responsabilidade solidária do ex-proprietário, prevista no art. 134 do CTB,
não abrange o IPVA incidente sobre o veículo no que se refere ao período posterior à sua
alienação.
Propriedade não se transfere com a providência do art. 134: Vale ressaltar que a
propriedade do veículo automotor não se transfere com a comunicação de que trata o art.
134 do CTB. Assim, a exigência de encaminhamento do comprovante de transferência não se
caracteriza como condição nem como ato constitutivo da transferência da propriedade.
Logo, mesmo sem a comunicação do art. 134, o domínio do carro já é do novo proprietário e,
portanto, ele é o contribuinte do IPVA.
Gustavo Perez Tavares, tributarista do Peixoto & Cury, afirma que a fiscalização do
IPVA é exercício legítimo do poder de polícia do Estado, com o objetivo de resguardar o
pagamento de obrigações tributárias. Porém, o confisco do carro, configura abuso de
autoridade. O advogado ressalta que, em geral, os carros guinchados são os sem
licenciamento e explica que essa apreensão é legítima, "pois resguarda a segurança da
coletividade ao impedir que veículo não autorizado rode pelas vias públicas”.
O uso comercial do carro pelo proprietário também foi destacado pelo advogado
Guilherme Thompson. “Poderá pleitear a condenação do Estado em danos morais e
eventuais lucros cessantes, caso o veículo seja utilizado na execução de atividade comercial e
fique paralisado, além de danos materiais nas hipóteses em que for necessário o aluguel de
veículo temporário. Resguardadas, ainda, hipóteses em que surja a necessidade de
reparação material derivada de eventuais prejuízos suportados pelo proprietário”.
Por não exercer mais a posse sobre o bem, o contribuinte não deve responder por
débitos de IPVA após a apreensão do veículo. Esse foi o entendimento da juíza Luísa Helena
Carvalho Pita, do Juizado Especial da Fazenda Pública de Ribeirão Preto, ao suspender a
cobrança feita pela Fazenda do Estado de São Paulo para que um contribuinte pagasse o
IPVA de um carro apreendido em 2003 e leiloado em 2013.
No caso, a mulher descobriu ao tentar abrir crediário em uma loja que seu nome
havia sido inscrito Cadastro Informativo dos Créditos não Quitados de Órgãos e Entidades
Estaduais (Cadin Estadual) por não quitar o IPVA do veículo referente aos exercícios de 1997
e de 2001 até 2010. Além de 2012 e 2013.
QUESTÕ ES ESPARSAS
DIREITO FINANCEIRO
Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder
Executivo pode utilizar os valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados
com processos em que os Estados fossem parte, mas também oriundos de outros feitos em
que estivessem litigando somente particulares. Tais leis estão sendo questionadas por meio
de ADIs propostas pelo Procurador Geral da República. É o caso, por exemplo, da LC
42/2015, do Estado da Bahia. O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório,
que tais leis estaduais são inconstitucionais por violarem:
Como se sabe, o Brasil vem passando por uma crise econômica e os Estados e
Municípios têm enfrentado enormes dificuldades para pagar suas despesas, especialmente
com precatórios. Diante disso, uma das medidas encontradas pelo Governo para contornar
esse problema foi o de permitir que o Poder Executivo estadual utilize parte dos valores que
estão nos depósitos judiciais. Para tanto, foi editada a LC 151/2015, que prevê,
resumidamente, o seguinte:
1) Dos valores que estão na conta do Poder Judiciário como depósito judicial deve-se
identificar aqueles que sejam oriundos de processos nos quais os Estados, o DF e os
Municípios sejam parte.
2) Desses valores, 70% poderão ser transferidos para a conta única do Tesouro do
Estado, do Distrito Federal ou do Município.
3) Os 30% restantes ficarão como um fundo de reserva a fim de serem utilizados para
o pagamento dos valores devidos à outra parte, caso o Estado, o DF ou o Município perca a
causa.
III – despesas de capital, caso a lei orçamentária do ente federativo preveja dotações
suficientes para o pagamento da totalidade dos precatórios judiciais exigíveis no exercício,
não remanesçam precatórios não pagos referentes aos exercícios anteriores e o ente
federado não conte com compromissos classificados como dívida pública fundada;
Obs: poderá o Estado, o Distrito Federal ou o Município utilizar até 10% da parcela que
lhe for transferida para constituição de Fundo Garantidor de PPPs ou de outros mecanismos de
garantia previstos em lei, dedicados exclusivamente a investimentos de infraestrutura.
INDISPONIBILIDADE DE BENS
O art. 185-A do CTN é mais amplo e mais invasivo ao patrimônio do devedor do que
a mera penhora “on line” disciplinada pelo CPC. Isso porque o art. 185-A do CTN prevê a
indisponibilidade universal dos bens e direitos do executado. Como pontua o STJ:
Requisitos: Por ser uma medida muito grave, a indisponibilidade de que trata o art.
185-A do CTN só pode ser decretada pelo juiz se forem preenchidos três requisitos que
podem ser extraídos da própria redação do dispositivo. São eles:
Quais são as diligências que devem ser exigidas da exequente para que se considerem
esgotados os meios de busca de bens? Segundo o STJ, para que a Fazenda Pública prove que
esgotou (exauriu) todas as diligências na tentativa de achar bens do devedor, basta que ela
tenha adotado duas providências:
a) a exequente deve ter pedido e o juiz determinado a penhora “on line” (Bacen Jud);
Repare, na letra “b”, que basta que a Fazenda Pública tenha feito pesquisas de bens
nos registros públicos localizados no domicílio do executado (cartórios existentes na cidade
do devedor). Assim, não se exige que a Fazenda Pública realize busca em todos os registros
de imóveis do País, por exemplo. O STJ entende que exigir isso não seria razoável.
Se forem tentadas as duas providências acima e mesmo assim não forem localizados
bens penhoráveis, neste caso será possível que a Fazenda Pública requeira e o juiz determine a
indisponibilidade do art. 185-A do CTN.
O tema foi definido pelo STJ em sede de recurso especial repetitivo, tendo sido
firmadas as seguintes teses: A indisponibilidade de bens e direitos autorizada pelo art. 185-A
do CTN depende da observância dos seguintes requisitos:
(iii) a não localização de bens penhoráveis após esgotamento das diligências realizadas
pela Fazenda, caracterizado quando houver nos autos:
1) Para que seja decretada a penhora on-line, não é necessário que o credor tente
localizar outros bens penhoráveis em nome do devedor. Não se exige do exequente o
exaurimento das vias extrajudiciais na busca de bens a serem penhorados (STJ. Corte
Especial. REsp 1112943/MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/09/2010).
2) Para que seja decretada a indisponibilidade de bens de que trata o art. 185-A do
CTN, exige-se que a Fazenda Pública exequente prove que tentou localizar outros bens
penhoráveis em nome do devedor. Exige-se o exaurimento das diligências na busca por bens
penhoráveis (STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.507-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em
26/11/2014).
(C) não pago o valor devido nem indicados bens à penhora, o bloqueio de ativos
financeiros do devedor é medida que prescinde de outras diligências prévias por parte do
credor – CORRETA.
(D) indicados bens não poderá ser efetivada a denominada penhora on-line –
ERRADA.
Essa comunicação exigida pela lei deverá ser antes ou depois da alienação? Em
outras palavras, o sujeito passivo precisa notificar o Fisco antes de alienar os bens? NÃO.
Esta notificação é posterior. Segundo decidiu o STJ: A Lei 9.532/97 não exige que a
notificação ao órgão fazendário seja prévia à alienação, mas simplesmente que exista a
comunicação. Assim, a alienação de bens que foram objeto de arrolamento fiscal não
depende de prévia notificação ao órgão fazendário. STJ. 1ª Turma. REsp 1.217.129-SC, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/10/2016 (Info 594).
O que acontece caso o sujeito passivo aliene os bens que foram objeto de
arrolamento fiscal e não comunique este fato ao órgão fazendário? Se o contribuinte alienar,
onerar ou transferir os bens ou direitos arrolados sem fazer a comunicação ao órgão
fazendário, então, neste caso, a Fazenda Pública ficará autorizada a requerer ao juiz medida
cautelar fiscal contra o sujeito passivo (art. 64, § 4º). A medida cautelar fiscal é disciplinada
pela Lei nº 8.397/92.
6) Citação. Depois de tudo isso acima, o requerido será citado para, no prazo de 15
dias, contestar o pedido, indicando as provas que pretenda produzir.
7) Revelia. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido,
como verdadeiros, os fatos alegados pela Fazenda Pública, caso em que o Juiz decidirá em 10
dias.
10) Medida cautelar fiscal preparatória de execução. Quando a medida cautelar fiscal
for concedida em procedimento preparatório, deverá a Fazenda Pública propor a execução
judicial da Dívida Ativa no prazo de 60 dias, contados da data em que a exigência se tornar
irrecorrível na esfera administrativa.
12) Coisa julgada. A sentença proferida na medida cautelar fiscal, em regra, não faz
coisa julgada relativamente à execução judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública, salvo se o
juiz acolher alegação de pagamento, de compensação, de transação, de remissão, de
prescrição ou decadência, de conversão do depósito em renda, ou qualquer outra
modalidade de extinção da pretensão deduzida.
13) Recurso. Da sentença que decretar a medida cautelar fiscal caberá apelação, sem
efeito suspensivo, salvo se o requerido oferecer garantia.
REGRA: para que a pessoa envie dinheiro (nacional ou estrangeiro) para fora do
Brasil, ela deverá fazê-lo por meio de instituição autorizada a operar no mercado de câmbio
(art. 65 da Lei nº 9.069/95). Ex: o indivíduo tem uma filha que mora na Alemanha e deseja
enviar dinheiro a ela; para isso, será necessário que procure uma instituição autorizada para
remeter a quantia.
EXCEÇÃO A ESSA REGRA: O dinheiro poderá ser enviado para o exterior mesmo sem
a intervenção de instituição autorizada, desde que o indivíduo leve os valores consigo,
pessoalmente. Neste caso, é necessário distinguir duas situações:
I - se o valor que o viajante está levando é de até R$ 10 mil (não importa se é em real
ou o equivalente em moeda estrangeira): ele não precisará declarar nada. Pode viajar
tranquilo levando o dinheiro. É o que acontece com a maioria dos turistas que viaja para o
exterior.
COMO É ESTA DECLARAÇÃO: 1) se a pessoa possui no exterior menos que 100 mil
dólares no dia 31 de dezembro de cada ano: não precisa declarar ao Banco Central.
2) se a pessoa possui entre 100 mil e 100 milhões de dólares no dia 31 de dezembro de
cada ano: precisará preencher declaração, destinada ao Banco Central, uma vez por ano,
chamada "CBE Anual"
A Medida Provisória 2.224/2001 prevê o pagamento de uma multa para quem mantém
dinheiro no exterior sem ter declarado ao Banco Central:
Art. 1º O não-fornecimento de informações regulamentares exigidas
pelo Banco Central do Brasil relativas a capitais brasileiros no
exterior, bem como a prestação de informações falsas, incompletas,
incorretas ou fora dos prazos e das condições previstas na
regulamentação em vigor constituem infrações sujeitas à multa de
até R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).
• Falsificação de documento público (art. 297 do CP), particular (art. 298) ou falsidade
ideológica (art. 299).
Ocorre que muitas vezes esse descumprimento da legislação se deu por falta de
conhecimento e não pela tentativa de ludibriar as autoridades brasileiras.
Com o intuito de resolver a situação dessas pessoas, foi editada a Lei nº 13.254/2016,
que institui o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT) de recursos,
bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados incorretamente, remetidos,
mantidos no exterior ou repatriados por residentes ou domiciliados no País.
Para você entender melhor, é uma espécie de "anistia" para as pessoas que
remeteram ou mantiveram recursos no exterior sem respeitar a legislação em vigor.
- para as pessoas que remeteram ou mantiveram recursos, bens ou direitos no exterior (de
origem lícita)
- sendo necessário para isso que declarem quais foram os recursos, bens ou direitos omitidos
- e, recebendo, em troca, a dispensa dos demais tributos e multas que seriam devidos
A origem dos recursos deve ser lícita: Vale ressaltar que, para poder participar do
RERCT, os recursos, bens ou direitos devem ter origem lícita, ou seja, a pessoa os auferiu sem
cometer nenhum crime. Em linguagem vulgar, mas necessária à compreensão: o "dinheiro"
deve ser "limpo". A ilegalidade praticada pela pessoa foi no momento de enviar ou manter
tais bens no exterior.
Ex1: Maria, conhecida atriz brasileira, adora viajar a Paris, onde fica por meses
durante o ano. Para facilitar sua estadia na capital francesa, ela decidiu abrir uma conta
bancária em Champs-Élysées, onde depositou 200 mil euros que recebeu de forma lícita pela
sua participação em novelas. Ocorre que Maria não fez a declaração da existência desta
conta ao Banco Central brasileiro. Neste caso, em tese, Maria poderá aderir ao RERCT para
regularizar sua situação.
Ex2: João, servidor público, recebeu R$ 500 mil de propina em uma licitação
fraudulenta. Por meio de um doleiro enviou, de forma não oficial, tal quantia para as Ilhas
Cayman. Neste caso, João não poderá regularizar sua situação com o RERCT porque a origem
dos recursos é ilícita.
Assim, para os fins da Lei nº 13.254/2016, o dinheiro que seja produto de sonegação
fiscal (art. 5º, § 1º, incisos I e II) é considerado como sendo de "origem lícita".
Como a pessoa que quiser participar ao RERCT deverá provar que a origem é lícita? A
Lei não impõe qualquer prova. Exige apenas que a pessoa faça uma declaração "de que os
bens ou direitos de qualquer natureza declarados têm origem em atividade econômica lícita"
(art. 4º, § 1º, IV).
Obs: quanto aos valores que a pessoa tivesse em 31 de dezembro de 2015 (ano-base
2015), ela ainda poderá fazer a declaração regular ao Banco Central ("CBE Anual") até abril de
2016, de forma que, em relação a tais valores, não precisa se valer da RERCT. Além disso, terá
que declarar também à Receita para fins de pagamento do imposto de renda.
Para que impeça a participação no RERCT, a condenação criminal deve ter transitado
em julgado? Aqui existe uma polêmica. Isso porque o art. 1º, § 5º, I, da Lei afirmava que só
ficaria excluído do programa a pessoa que tivesse sido condenada com trânsito em julgado.
Esse dispositivo, contudo, foi vetado pela Presidente da República. Na mensagem presidencial,
foi afirmado que o objetivo do veto era impedir que pessoas penalmente condenadas pelos
crimes previstos na Lei possam aderir RERCT. Desse modo, a intenção foi aplicar a proibição
mesmo antes do trânsito em julgado.
Como reforço à tese dos advogados, mencione-se o fato de que o art. 5º, § 2º, II, da Lei
afirma que a extinção da punibilidade decorrente da Lei nº 13.254/2016 "somente ocorrerá se
o cumprimento das condições se der antes do trânsito em julgado da decisão criminal
condenatória". Ao se interpretar o dispositivo a contrario sensu, chega-se à conclusão de que é
possível a extinção da punibilidade mesmo que o agente já tenha sido condenado, desde que
ainda não tenha havido trânsito em julgado.
O que a pessoa deverá fazer para aderir ao RERCT? Para adesão ao RERCT, a pessoa
física ou jurídica deverá apresentar à Receita Federal e ao Banco Central declaração contendo
a descrição pormenorizada dos recursos, bens e direitos a serem regularizados. Além disso, os
recursos, bens e direitos que forem listados na declaração única para adesão ao RERCT
deverão ser também informados:
• do imposto de renda de 15% sobre o valor dos recursos, bens e direitos que
declarar e
Imposto de renda pago para a adesão ao RERCT: O valor dos ativos que forem
declarados para serem regularizados será considerado, para fins de imposto de renda, como
acréscimo patrimonial adquirido em 31/12/2014, ainda que nessa data não exista saldo ou
título de propriedade.
Desse modo, a pessoa (física ou jurídica) terá que pagar imposto de renda com
alíquota de 15% sobre o montante declarado, sendo isso classificado como a título de ganho
de capital.
• a redução de 100% das multas de mora, de ofício ou isoladas e dos encargos legais
diretamente relacionados a esses bens e direitos em relação a fatos geradores ocorridos até 31
de dezembro de 2014;
Extinção da punibilidade: Como vimos na introdução que fiz antes de explicar a Lei nº
13.254/2016, a pessoa que remete ou mantém recursos no exterior sem respeitar a
legislação própria comete o crime de evasão de divisas (art. 22, caput e parágrafo único, da
Lei nº 7.492/86) e, além dele, poderá também praticar outros delitos em concurso, como a
falsidade documental, ideológica etc.
I - crimes contra a ordem tributária (art. 1º, todos os incisos e art. 2º, incisos I, II e V,
da Lei nº 8.137/90);
V - evasão de divisas nas suas três modalidades (art. 22, caput e parágrafo único, 1ª e
2ª partes, da Lei nº 7.492/86).
Esses dois delitos estavam previstos no rol dos crimes que poderiam ter a punibilidade
extinta. No entanto, foram vetados pela Presidência da República. Logo, tais infrações serão
cobradas nas provas de concurso para confundir o candidato.
Início ou retomada das investigações criminais: Vimos acima que o primeiro passo para
a pessoa aderir ao RERCT é fazer uma declaração contendo a descrição pormenorizada dos
recursos, bens e direitos que ela havia escondido e que agora deseja regularizar. Pode
acontecer, no entanto, de a pessoa prestar essa declaração e, por motivos diversos (ex: falta
de pagamento), ela não conseguir participar do programa ou, ainda, ser excluída depois de
inicialmente aceita.
Nestes casos, repare que a pessoa terá feito a declaração de que cometeu evasão de
divisas e eventualmente outros delitos e, por não participar do RERCT, não terá direito à
extinção da punibilidade. Em outras palavras, a pessoa só declarou porque imaginou que não
teria consequências criminais, mas, ao final, não pode gozar do benefício.
A fim de tentar resolver essa situação e dar uma maior segurança às pessoas que quiserem
participar do RERCT, a Lei nº 13.254/2016 previu o seguinte:
Existe um prazo para aderir ao programa? SIM. A Lei nº 13.254/2016 determina que a
Receita Federal deverá editar e publicar uma regulamentação da lei. Depois que este ato da
Receita entrar em vigor, a pessoa terá o prazo de 210 dias para aderir ao RERCT fazendo a
declaração dos bens e o pagamento do tributo e da multa.
Sigilo fiscal: Os dados declaradas pelo contribuinte para fins de adesão ao programa
são protegidas pelo sigilo fiscal. Assim, a divulgação ou a publicidade das informações
presentes no RERCT significa quebra do sigilo fiscal, sujeitando o responsável às penas:
Maurício Pereira Faro (2012): Diante de uma exigência fiscal supostamente indevida,
o contribuinte tem diversas opções para a sua defesa, dentre as quais destaca-se o Mandado
de Segurança. O cabimento do Mandado de Segurança em matéria tributária tem guarida,
inclusive, no Código Tributário Nacional, que dispõe, no inciso IV do artigo 151, que a liminar
concedida em sede mandamental é causa suspensiva da exigibilidade do crédito tributário.
A opção pelo Mandado de Segurança torna-se vantajosa não somente pelo fato da
inexistência de condenação em honorários advocatícios para a parte vencida, mas
principalmente por ser um importante meio para impugnar um ato abusivo e ilegal já
praticado (forma repressiva), um lançamento tributário em desconformidade com a lei, ou
ainda a ser praticado (forma preventiva) pelo agente público, além de ser um procedimento
sumário e célere.
Isso porque as súmulas 269 e 271 do STF foram aprovadas há mais de 45 anos e os
precedentes nos quais se fundamentaram foram proferidos em Mandados de Segurança nos
quais funcionários públicos reivindicavam o pagamento de diferença de vencimentos ou
proventos em relação a períodos pretéritos. Entendeu o Supremo que a utilização do writ
como sucedâneo da ação de cobrança é inaceitável em qualquer hipótese.
Isso não significa que o Mandado de Segurança seja meio inidôneo para amparar
lesões de natureza pecuniária. A segurança pode prestar-se à remoção de obstáculos a
pagamentos em dinheiro, desde que a retenção desses pagamentos decorra de ato ilegal da
Administração. Neste caso, o juiz poderá ordenar o pagamento, afastando as exigências
ilegais. O que deve ser negada é a utilização da segurança para a reparação de danos
patrimoniais, dado que seu objeto próprio é a invalidação de atos de autoridades ofensivos
de direito individual líquido e certo.
Dessa forma, não caberia ao Judiciário convalidar a compensação tributária já
efetuada por iniciativa exclusiva do contribuinte na via do Mandado de Segurança, já que é
uma questão que demandaria dilação probatória. Por outro lado, o teor das súmulas
editadas pelo Supremo deve ser mitigado em relação à mera declaração do direito à
compensação, na medida em que cabe ao Judiciário a declaração do direito à compensação,
reservando-se a apuração dos créditos ao procedimento de fiscalização da própria
Administração, o que é bem diferente de uma ação pleiteando a cobrança de indébitos
pretéritos.
Muitos casos chegam ao STJ com decisões de primeira e segunda instâncias não
reconhecendo o direito do consumidor de ingressar com esse tipo de demanda, ou seja, a
ação é trancada antes mesmo do julgamento do mérito. Além de reconhecer o direito do
consumidor e da possibilidade de pleitear a repetição de indébito, o usuário pode questionar
“qualquer outro tipo de ação contra o Poder Público de cunho declaratório, constitutivo,
condenatório ou mandamental, objetivando tutela preventiva ou repressiva, que vise a
afastar a incidência ou repetir tributo que entenda indevido”.