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Relato Financeiro
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Normativo Contabilístico para Pequenas e Microentidades: implicações ao nível do
Relato Financeiro
Resumo
Este trabalho tem como objetivo conhecer o nível de preparação dos Técnicos Oficiais de
Contas (TOC) aquando da adoção destes normativos, analisando o seu impacto ao nível do
processo contabilístico e do relato financeiro.
Para o efeito foi utilizada a técnica do questionário, cujas respostas indicam que a maioria
dos TOC concorda com a existência destes normativos, considerando estar razoavelmente
preparado aquando da sua aplicação. O nível de preparação destes profissionais é tanto
maior quanto maior o nível de habilitações académicas dos TOC bem como a antiguidade
na profissão.
2
Introdução
É um modelo no qual se atende às diferentes necessidades de relato financeiro, pelo que foi
criada uma Norma Contabilística e Relato Financeiro para Pequenas Entidades (NCRF-
PE), (que constituem a maioria do tecido empresarial português), com necessidades de
relato mais reduzidas, onde são tratadas, com as devidas adaptações, matérias algumas das
NCRF.
Face ao exposto, é objetivo deste trabalho, por um lado, analisar o atual Normativo
Contabilístico para Pequenas Entidades e Micro Entidades e, por outro lado, analisar a
perceção dos Técnicos Oficiais de Contas relativamente ao impacto do novo normativo
contabilístico no relato financeiro das pequenas e microentidades. Neste sentido, foram
inquiridos os Técnicos Oficiais de Contas a fim de entender qual o seu grau de
concordância e preparação em relação ao normativo das pequenas e microentidades, bem
3
como as principais implicações destes normativos a nível das Demonstrações Financeiras,
e respetivas rubricas.
Até 2009, por força da 4ª directiva comunitária, quer o artigo 262º do CSC, quer o POC-89
estabeleciam obrigações contabilísticas simplificadas para entidades de menor dimensão.
Este tipo de entidades, ainda que sujeitas a todas as regras previstas no POC, tinha a
facilidade de optar por modelos sintéticos de demonstrações financeira (Balanço,
Demonstração dos Resultados e Anexo).
Com a revogação do POC pelo SNC, houve o cuidado de manter a simplificação ao nível
do relato financeiro, para entidades de menor dimensão. De facto, SNC é um modelo em
que se atende às diferentes necessidades de relato financeiro, prevendo uma norma mais
simples para as pequenas entidades- a NCRF-PE-, dado o tecido empresarial a que o SNC
é aplicável, e em que se permite uma intercomunicabilidade quer horizontal quer vertical.
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A NCRF-PE tendo como objetivo facilitar a interpretação e aplicação das normas num
único documento, tornando mais fácil aplicação das exigências contabilísticas mais
comuns ao universo das pequenas entidades, que constitui a generalidade das empresas
portuguesas (Rodrigues, 2009). Esta norma pode ser aplicada por entidades que não
ultrapassem dos limites previstos no n.º 1 do art.º 9º do DL 158/2009, alterado pela Lei n.º
20/2010:
Entendeu-se, no entanto, que este normativo era, ainda assim, demasiado exigente para
entidades de reduzida dimensão. Deste modo, a Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro veio
criar um regime especial simplificado de normas e informações contabilísticas para
microentidades. Este tipo de entidades são as que não ultrapassem dois dos 3 limites
seguintes:
1
Desde que não integrem o perímetro de consolidação de uma entidade que apresente demonstrações
financeiras consolidadas; e cujas contas não estejam, legal ou estatutariamente, sujeitas a Certificação Legal
de Contas.
2
E desde que não integrem o perímetro de consolidação de uma entidade que apresente demonstrações
financeiras consolidadas ou as contas não estejam, legal ou estatutariamente, sujeitas a certificação legal de
contas.
5
Importa ainda realçar que o regime de normalização para microentidades opera de forma
autónoma, mas baseia-se na Estrutura conceptual e procedimentos contabilísticos
enunciados no SNC e recorre a conceitos e definições constantes do glossário da NCRF-
PE.
De salientar que a adopção da NCRF-PE não é uma imposição, mas uma opção, podendo
sempre as entidades, qualquer que seja a sua dimensão, aplicar o conjunto completo de
NCRF, isto é, o “regime geral” do SNC. Por sua vez, o normativo das Microentidades é de
aplicação automática (desde que cumpridos os requisitos acima mencionados). No entanto,
as microentidades podem optar pelas normas dos patamares superiores, previstas no DL
n.º 158/2009, isto é, podem optar pela NCRF-PE ou pelo SNC- “regime geral”.
− No que respeita à imparidade de ativos, é feita uma remissão para NCRF 12,
quando uma entidade pretende analisar se um ativo tangível ou intangível está em
imparidade (§7.22 e 8.22, respetivamente).
− Relativamente a matérias ambientais, ainda que a NCRF-PE não desenvolva esta
temática de uma forma autónoma, nem haja uma remissão para a NCRF 26 (como
ocorre com a temática da imparidade), o reconhecimento de dispêndios ambientais
6
(como gasto ou como ativo) e das provisões de carácter ambiental são tratados,
respetivamente nos capítulos destinados a ativos intangíveis (§ 8.8) e a provisões
(§13.29)
A NCRF-PE tem uma estrutura bastante semelhante à das restantes normas previstas no
“normativo geral” do SNC, isto é, para cada um dos capítulos ou pontos, segue regra geral
as mesmas linhas de orientação das NCRF: reconhecimento, mensuração, apresentação e
divulgação, embora redigidos com menor desenvolvimento, sendo em menor número os
requisitos de divulgação (a extensão do anexo foi reduzido). Deste modo, embora seja uma
“NCRF resumo” (que exclui certas matérias), não constitui, em si mesma, um referencial
contabilístico autónomo (ao contrário do normativo para microentidades, que opera de
forma autónoma); pelo contrário, a fim de garantir a coerência do modelo de normalização,
os conceitos e critérios de reconhecimento baseiam-se na Estrutura Conceptual do SNC.
7
Quadro n.º 1: Correspondência vertical entre normativos
Deste modo, o atual normativo permite uma fácil comunicabilidade vertical sempre que
alterações na dimensão das entidades impliquem diferentes exigências de relato financeiro
ou as mesmas optem pela alteração das normas contabilísticas gerais.
Regra geral, o conteúdo dos vários capítulos da NCRF-PE não se afasta significativamente
da respectiva NCRF, sendo contudo de destacar algumas diferenças (para além das
menores exigências de divulgação), nomeadamente a simplificação de alguns critérios de
reconhecimento e mensuração. Por exemplo, relativamente aos activos intangíveis, a
NCRF-PE apenas permite a utilização do modelo do custo. Também, se verifica, nos
8
instrumentos financeiros, a ausência da previsão de aplicação do custo amortizado pelo
método do juro efectivo.
9
empréstimos ocorrem (§10.2), independentemente de se encontrarem relacionados com a
obtidos aquisição ou construção de ativos que se qualificam para capitalização (isto é, , que
levam um período substancial de tempo para ficarem prontos para venda ou uso). A
NCRF-PE, nesta situação, permite a capitalização dos custos de empréstimos
obtidos, isto é, o reconhecimento como ativo (critério alternativo previsto na NCRF
10).
A NC-ME prediz que os ativos biológicos consumíveis e os produtos agrícolas são
reconhecidos como inventários (§11.2). Por sua vez, a NCRF-PE refere que os
produtos agrícolas só são reconhecidos como inventários após a sua colheita. E,
ainda, os ativos biológicos consumíveis apenas têm tratamento ao abrigo da norma
da Agricultura (NCRF 17).
Inventários Ao contrário da NCRF-PE, A NC-ME não aborda as orientações da NCRF 18 no
que respeita ao conceito de custo de conversão, assim como não desenvolve o
critério de imputação dos gastos gerais de fabrico fixos. Não contempla orientações
sobre outros custos a incluir e a excluir. Não aborda outras técnicas para a
mensuração do custo, tais como o método do custo padrão ou o método do retalho
(Pires, 2011)
A NCRF-PE estabelece que o rédito deve ser mensurado pelo justo valor da
retribuição recebida ou a receber enquanto nas NC-ME o rédito deve ser mensurado
pela quantia da contraprestação acordada (§11.2).
Rédito
A NCRF-PE prevê um conjunto de situações que é permitido à entidade reter risco
significativo de propriedade, não devendo reconhecer logo o rédito da venda. Isto
não está previsto na NC-ME.
A NC-ME não tratar os passivos e ativos contingentes. A NCRF-PE, no âmbito das
provisões, dá a conhecer os acontecimentos que estão na sua origem e, ainda prevê
Provisões
que se crie uma provisão sempre que o efeito do valor temporal do dinheiro seja
significativo.
Ambas normas tratam os subsídios de igual forma. Todavia a NC-ME é omissa
quanto a dois aspetos previstos na NCRF-PE, os quais se prendem com o facto de
Subsídios do após o subsídio do Governo ser reconhecido qualquer ocorrência relacionada com
Governo ele deverá ser tratada de acordo com o previsto para as Provisões e, ainda, após o
reconhecimento do subsídio, este deverá ser divulgado para garantir que o efeito
seja claramente compreendido.
A NCRF-PE (§15.2).prevê que uma transação em moeda estrangeira seja
"registada, no momento do reconhecimento inicial na moeda funcional, pela
aplicação à quantia de moeda estrangeira da taxa de câmbio entre a moeda
Os efeitos de funcional e a moeda estrangeira à data da transação". Ao NC-ME não faz alusão à
alterações moeda funcional, refere apenas que quando ocorre uma transação em moeda
em taxas de estrangeira deverá ser registada no momento de reconhecimento em euros.
câmbio
A NC-ME contempla um aspeto novo quando comparado com a NCRF-PE: para
efeitos de relato em datas de balanço subsequentes prevê o facto de a taxa de
câmbio estar contratualmente fixada (§15.3).
Ambas normas preconizam o método do imposto a pagar. A NCRF-PE estabelece
um conjunto de preceitos no sentido de compensar ativos por impostos correntes e
Impostos passivos por impostos correntes nas demonstrações financeiras, bem como a altura
sobre o em que a empresa o poderá fazer; e, ainda, detalha um conjunto de divulgações a
rendimento constar no anexo. Ao passo que NC-ME nada prevê sobre o reconhecimento de
qualquer efeito fiscal que possa decorrer de transações diretamente reconhecidas no
capital próprio.
Ativos e A NC-ME detalha todos os ativos e passivos financeiros. Pelo contrário, a NCRF-
10
passivos PE aponta a sua extensibilidade todos os instrumentos financeiros, denominando as
financeiros exclusões.
A NCRF-PE prevê a aplicação do justo valor mensuração dos ativos e passivos
financeiros; a NC-ME prevê a aplicação do custo de aquisição.
No que respeita aos benefícios a curto prazo na NC-ME, está previsto que “quando
um empregado tenha prestado serviço a uma entidade durante um período
contabilístico, a entidade deve reconhecer a quantia nominal de benefícios a curto
Benefícios
prazo que espera ser paga em troca desse serviço, incluindo a retribuição relativa
dos
aos direitos adquiridos referentes a férias” (§18.4). NCRF-PE por sua vez prevê
Empregados
“quando um empregado tenha prestado serviço a uma entidade durante um período
contabilístico, a entidade deve reconhecer a quantia descontada de benefícios a
curto prazo a curto prazo que espera ser paga em troca desse serviço” (§18.6).
Fonte: Elaboração própria
2. Desenho da Investigação
11
se à proliferação de estudos sobre o impacto da transição para o normativo IASB, em
diferentes países, tais como Espanha (Perramon e Amat 2006); Itália (Cordazzo, 2008);
Polónia (Jaruga et al., 2007) e Grécia (Tsalavoutas e Evans 2007; Bellas et al., 2007) que
apresentam como resultado comum o impacto nos resultados líquidos e nos capitais
próprios.
Se por um lado, existe a nível internacional vários estudos que se debruçam sobre o
impacto da adoção das IAS/IFRS nas empresas cotadas, são mais escassos os que versam
sobre a adoção de normativos nacionais baseados nas IAS/IFRS, como é o caso do SNC.
Alguns estudos debruçam-se sobre o processo preparatório da transição o SNC (Bianchi,
2009; Duarte, 2010), enquanto que outros procuram analisar o impacto utilização das
NCRF na informação financeira produzida pelas empresas portuguesas (Bianchi, 2009;
Machado, 2012) e respectivos rácios económico-financeiros (Correia , 2010; Matos, 2011),
havendo ainda estudos avaliam a perceção dos profissionais da contabilidade relativamente
ao normativo SNC (Ribeiro, 2010; Matos, 2011).
12
informação financeira de empresas não cotadas, em particular de pequena ou reduzida
dimensão, podem ser algumas das razões para a inexistência de estudos nesta área.
Assim sendo, e perante esta lacuna na literatura, torna-se interessante e premente estudar
os impactos nas demonstrações financeiras decorrentes desta alteração normativa ao nível
das pequenas e microentidades, oscultando os profissionais de contabilidade no que
respeita ao seu nível de preparação e de concordância com os normativos actualmente em
vigor, bem como seu impacto no relato financeiro.
2.2 Metodologia
Para cumprir com os objetivos definidos, optamos como metodologia de investigação pelo
uso de um questionário, à semelhança do estudo de Ribeiro (2010). Isto porque os TOC
lidam diariamente com o normativo contabilístico para pequenas e microentidades, pelo
que podem dar conhecer os verdadeiros impactos que se fizeram sentir em diferentes áreas
que compõem as Demonstrações Financeiras, bem como as suas próprias
facilidades/dificuldades na sua adoção. Numa primeira fase, o questionário foi remetido
via email, utilizando a ferramenta Google Docs, para os ex-alunos TOC e docentes da área
da contabilidade/fiscalidade do Instituto Politécnico Cávado e Ave (IPCA). Para além
disso, pesquisamos através das páginas amarelas gabinetes de contabilidade e Técnicos
Oficiais de Contas para os quais também enviamos o questionário. Em todas as situações
referidas foi pedido que o reencaminhassem para outros colegas TOC. Esta forma de
distribuição do inquérito ocorreu entre o mês de Agosto e Setembro de 2012.
Numa segunda fase, e para conseguir obter um maior número de respostas efetuamos um
pedido à Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas (OTOC) no sentido de obter autorização
para que o questionário fosse respondido nas formações que versavam sobre a Lei dos
Compromissos e as alterações no Código de trabalho. Obtida resposta favorável do Sr.
Bastonário da OTOC inquirimos os TOC nas formações que ocorreram nas primeiras
semanas de Outubro de 2012, essencialmente na zona Norte.
13
− Norma Contabilística e de Relato Financeiro para as Pequenas Entidades: avaliar
em que medida os TOC se sentiram preparados no momento de transição, bem
como reconhecer quais as áreas onde se registaram maiores impactos.
− Norma Contabilística para as Micro Entidades: avaliar em que medida os TOC se
sentiram preparados no momento de transição, bem como reconhecer quais as
áreas onde se registaram maiores impactos.
De modo a caraterizar os TOC o questionário foi elaborado com perguntas fechadas e
múltiplas. Para aferir a sensibilidade dos TOC relativamente à adoção dos novos
normativos e quais as áreas de maior impacto ao nível do relato financeiro optou-se por
avaliar as respostas com base numa escala de Likert. Quanto à modalidade das questões, de
forma similar a Hill e Hill (2009) e Saunders et al. (2007), foi diversa a natureza das
variáveis e escalas de atitudes utilizadas (questões abertas, fechadas dicotómicas, questões
múltiplas em leque fechado, etc.).
Após a recolha de dados procedeu-se à sua análise e tratamento com o recurso ao programa
Statistical Package for the Social Science (SPSS) com a versão 20.0 e ao STASTICA.
Importante referir desde já que antes do tratamento de dados definiu-se como missing
values as "não respostas".
Um outro aspeto importante a realçar prende-se com o facto, face à inexistência de estudos
prévios similares ao nosso sobre pequenas e microentidades, para efeitos comparativos
tivemos como referencia o estudo realizado por Ribeiro (2010), o qual se debruçou sobre o
impacto das NCRF nas empresas portuguesas de acordo com a perceção dos TOC. Assim
sendo, sempre que pertinente analisaremos se há similitudes nos resultados, ao nível das
dificuldades e dos impactos no relato financeiro.
2.3. Amostra
Os Técnicos Oficiais de Contas portugueses foi o universo sobre o qual versou o presente
estudo, uma vez que estes profissionais são os que verdadeiramente sentiram os impactos
da NCRF-PE e da NC-ME. Através de informação da OTOC encontram-se no exercício
pleno de funções 31.263 TOC. Neste sentido, tendo obtido um total de 957 questionários
validos, no que diz respeito à amostra esta corresponde a 3,06% do universo; com esta
condicionante consideramos os dados recolhidos como uma coleção (Murteira, 1993), e
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tendo em conta a resposta de cerca de um milhar de inquiridos, julgamos que os resultados
da análise estatística, que a seguir se apresenta, proporcionarão pistas importantes, de
carácter exploratório, para o estudo em causa.
A amostra deste estudo é constituída por 957 sujeitos, Técnicos Oficiais de Contas, com
distribuição geográfica nacional, sendo 47,9% do sexo feminino e 52,1% do sexo
masculino.
No que diz respeito, às habilitações através do quadro que se segue verificámos que a maioria
dos inquiridos possui formação académica superior.
Pós- Sem
2.º 3.º Doutorament
Secundário Bacharelato Licenciatura Graduaçã Mestrado respost Total
Ciclo Ciclo o
o a
No que diz respeito ao local onde exerce funções verificámos que os inquiridos desempenham
funções em mais do que um local, sendo que a maioria dos inquiridos exerce as suas funções
em Gabinetes de Contabilidade.
Quadro n.º 5: Local onde Exerce Funções
Gabinete de
Empresa Ensino
Contabilidade
437 546 41
No que concerne à área geográfica, verificamos que os distritos onde os inquiridos exercem as
suas funções nas zonas do Porto (38%), Aveiro (30%) e Braga (23%). No que respeita à
antiguidade de exercícios de funções, a maioria dos TOC situam-se entre os 11 e os 15 anos de
profissão (conforme quadro abaixo).
15
Quadro n.º 6: Antiguidade no exercicio de funções de TOC
Mais de 25
1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos 16-20 anos 21-25 anos Total
anos
176 162 200 148 98 173 957
18,4% 16,9% 20,9% 15,5% 10,2% 18,1% 100%
Um aspeto a salientar prende-se com o facto de a percentagem até aos cinco anos de profissão
ser exatamente igual àqueles que têm mais de vinte e cinco anos de carreira profissional.
3.1.Estatísticas descritivas
Para compreender a perceção dos TOC quanto ao impacto da NCRF-PE avaliamos, numa
primeira fase, o grau de concordância com a mesma, pois tal poderia influenciar as respostas
dos TOC inquiridos. Nesse sentido, verificamos que mais de metade dos inquiridos (cerca de
63,2%) concorda com a NCRF-PE, contra 11,4% que discorda da sua utilização. Perante estes
valores, depreende-se que a maioria dos inquiridos considera útil este normativo contabilístico
para as pequenas entidades. Conclusão idêntica foi obtida por Ribeiro (2010) relativamente às
NCRF, referindo que "a maioria dos inquiridos (...) acreditam que aproximam o normativo
nacional ao internacional, transportando inúmeras vantagens, como o aumento da
comparabilidade e incremento na qualidade das DF's das empresas."
Quanto ao nível de preparação dos TOC para o uso deste normativo, mais de metade dos
inquiridos consideram-se "razoavelmente preparados" (65,6%), no entanto há a salientar que
cerca de 18% referem não se sentirem preparados aquando da aplicação da NCRF-PE.
16
Ao avaliarmos o grau de dificuldade sentida pelos inquiridos no momento da transição
verificamos que 54% consideram que não tiveram grande dificuldade, no entanto é de realçar
que uma percentagem elevada (34%) apontou como difícil a passagem para o novo normativo.
Quadro n.º 2: Grau de dificuldade sentida pelos inquiridos na transição para a NCRF-PE
Sem
Muito Difícil Difícil Fácil Muito Fácil Total
Dificuldade
11 317 513 109 7 957
1,1% 33,1% 53,6% 11,4% 0,7% 100%
Este resultado vai, de algum modo, de encontro ao estudo de Ribeiro (2010), onde,
relativamente às fases do processo contabilístico apontava a mensuração e a divulgação como
as fases que sofreram maior impacto com adoção do SNC (regime geral).
17
Quadro n.º11: Impacto da NCRF-PE nas diferentes fases do processo contabilístico
Muito Muito
Negativo Sem Impacto Positivo Total
Negativo Positivo
5 118 449 379 6 957
0,5% 12,3% 46,9% 39,6% 0,6% 100%
No que respeita ao Balanço, procuramos conhecer quais as rubricas mais afetadas com a
adoção das NCRF-PE.
18
53 230 442 111 83 39 957
Locações
5,5% 24,0% 46,1% 11,6% 8,7% 4,1% 100%
48 184 412 174 100 39 957
Subsídios
5,0% 19,2% 43,1% 18,2% 10,4% 4,1% 100%
Nas rubricas Ativos Intangíveis, Capital Próprio e Subsídios os inquiridos referem ter havido
muito impacto na sequência da adoção da NCRF-PE. Estes resultados vão de encontro ao de
outros estudos sobre o impacto do SNC (Ribeiro, 2010; Machado, 2012).
Centrados agora no normativo para microentidades, procuramos fazer idêntico estudo relativo
ao impacto da NC-ME. Começamos por inquirir os TOC sobre o seu grau de concordância
com este normativo, sendo que cerca de 57% concorda com a NC-ME contra cerca de 20%
que discorda da sua utilização.
Perante estes valores, depreende-se que existe um menor grau de concordância com esta
norma, comparativamente com a NCRF-PE, eventualmente pelo facto de a sua publicação ter
sido feita tardiamente e com efeitos retroativos o que gerou, na altura, alguma polémica e
contestação por parte dos profissionais de contabilidade.
Um aspeto a salientar prende-se com a percentagem dos inquiridos que se dizem pouco
preparados para a aplicação desta norma, pois é exatamente igual à percentagem dos
19
inquiridos que se dizem pouco preparados para a aplicação da NCRF-PE anteriormente
analisada.
Quadro n.º 16: Grau de dificuldade sentida pelos inquiridos na transição para a NC-ME
Sem
Muito Difícil Difícil Fácil Muito Fácil Total
Dificuldade
20
Custos 31 203 419 201 76 27 957
Envolvidos
3,2% 21,2% 43,8% 21,2% 7,9% 2,8% 100%
Fonte: Elaboração Própria
Muito Muito
Negativo Sem Impacto Positivo Total
Negativo Positivo
21
Quadro n.º 7: Impacto da NC-ME nas rubricas do Balanço
Como um dos objetivos do presente estudo versava em analisar e avaliar o preparação dos
TOC aquando da adoção da NCRF-PE e as NC-ME analisou-se a relação existente entre
algumas variáveis que poderiam influenciar as conclusões retiradas, nomeadamente as
habilitações académicas e tempo de exercício de funções dos TOC.
22
Quadro n.º 8: Nível de preparação dos TOC vs Habilitações Literárias
Nada ou Bastante ou
Razoavelmente
Pouco Totalmente
Preparado
Preparado Preparado
Procuramos, assim, ver se existe alguma associação entre o nível de preparação dos TOC para
aplicação dos novos normativos e as habilitações académicas que detêm.
Fonte: STATISTICA
O plano da Análise Factorial de Correspondências (Hair et al., 2009), da tabela anterior, sugere
uma proximidade entre:
- “Pós-Graduação_Mestrado_Doutoramento” e “Bastante_ou_Totalmente_preparado”;
- “Licenciatura” e “Razoavelmente_preparado”;
23
- 2ºCico_3ºCiclo_Secundário” e “Nada_ou_Pouco_preparado”
Fonte: STATISTICA
Este resultado permite pois concluir que quanto maior é o nível de habilitações dos inquiridos,
maior a o seu grau de preparação para aplicação dos novos normativos, sendo pois, na nossa
opinião, a aposta na formação como um fator decisivo para o sucesso da “reforma”
contabilística vivida em Portugal.
De igual forma, acreditamos que o nível de preparação dos TOC aquando da aplicação dos
atuais normativos pode estar relacionado com o tempo de exercício das funções de TOC.
Assim, procedemos ao mesmo teste para verificar a independência entre a preparação dos
TOC e o tempo de exercício de funções. Na tabela seguinte apresentam-se as frequências
absolutas, que resultam do cruzamento das referidas questões. Tendo em conta o reduzido
número de ocorrências nalgumas categorias (nada preparado, totalmente preparado) procedeu-
se à sua agregação, evitando células com frequências inferiores a 5 unidades. Procedeu-se,
também, à fusão das categorias “21 – 25 anos” e “mais de 25 anos”
Nada ou Bastante ou
Razoavelmente
Pouco Totalmente
Preparado
Preparado Preparado
1 - 5 anos 45 108 23
6 - 10 anos 28 105 29
11 - 15 anos 36 126 38
16- 20 anos 24 103 21
24
Mais de 20 anos 37 186 48
Fonte: STATISTICA
25
Fonte: STATISTICA
Os resultados permitem comprovar que a reduzida experiência de alguns TOC (com menos
de 5 anos de exercício de funções) se reflete na preparação para a aplicação do novo
normativo, sendo que pessoas com maior antiguidade de funções sentem-se mais
“confortáveis” neste processo, fruto da experiência adquirida.
Conclusão
26
Nesse sentido, o Decreto-Lei n.º 158/2009, de 13 de Julho responde simultaneamente pela
revogação do POC e pela criação do SNC, «(…) na linha da modernização contabilística
ocorrida na UE.» A CNC estabeleceu dois distintos níveis de normalização contabilística:
assim, e em conformidade com as diferentes necessidades de relato requeridas pelas entidades,
a CNC apresenta um novo conceito, o de pequenas entidades (ou de menor dimensão), para
de seguida as enquadrar num segundo grupo de entidades abrangidas pelo SNC.
Contudo este normativo era, ainda assim, entendido como demasiado exigente para entidades
de reduzida dimensão, as microentidades, que que representam a maioria do tecido
empresarial português. Deste modo, a Lei n.º 35/2010, de 2 de Setembro veio criar um regime
especial simplificado de normas e informações contabilísticas para microentidades, sendo de
aplicação automática, desde que cumpridos os limites previstos na Lei n.º 35/2010. O regime
das microentidades contempla a NC-ME. Tal como a NCRF-PE, aquela norma vem apontar
os aspetos de reconhecimento, mensuração e divulgação considerados como requisitos
contabilísticos aplicáveis às microentidades, embora de uma forma mais simplista.
É neste sentido que surge o cerne do presente estudo. Ou seja, com a adoção do normativo
para as pequenas empresas e microentidades houve necessariamente mudanças de
procedimentos e de paradigmas. É neste sentido que nos propusemos a atingir os seguintes
objetivos: avaliar o preparação dos TOC aquando da adoção da NCRF-PE e da NC-ME e
analisar o impacto que este normativos tiveram ao nível do processo contabilístico e no relato
financeiro.
No que diz respeito à concordância com estes normativos, a maioria dos TOC inquiridos é
unânime ao afirmar que concorda, no entanto quando avaliamos a sua preparação verificamos
que a maioria apenas se sente razoavelmente preparado.
27
Na opinião dos inquiridos o impacto destas normas faz-se sentir sobretudo ao nível da
divulgação da informação, embora as fases de reconhecimento e mensuração também tenham
sido referidas pelos TOC.
Estamos conscientes que este trabalho apresenta algumas limitações, em parte relacionadas
com obstáculos por nós enfrentados na prossecução do nosso estudo. A dificuldade de acesso
à informação financeira divulgada por empresas de pequena dimensão não permitiu a
comprovação dos impactos apontados pelos TOC, nomeadamente ao nível das
demonstrações financeiras. Deste modo, as nossas conclusões cingem-se às perceções dos
TOC inquiridos, sendo a subjetividade das respostas a questionários um dos pontos fracos a
apontar a esta técnica de investigação.
Face ao exposto, como pistas de investigação futura, seria interessante realizar um número
significativo de estudos de caso, com empresas de diferentes setores de atividade, que nos
permitisse estudar com maior profundidade as implicações dos novos normativos na prática
contabilística e no relato financeiro das pequenas e microentidades portugueses.
28
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