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Direito Ambiental

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permissão escrita da Universidade Paulista.
APRESENTAÇÃO

Caro aluno,

Seja bem-vindo ao sistema EAD.

INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

Promover a compreensão e a importância do Direito Ambiental, assim como apresentar e discutir


o significado dos institutos fundamentais do Direito Ambiental; de forma a estimular a capacidade de
análise, domínio de conceitos e terminologia jurídica, argumentação, interpretação e valorização dos
fenômenos jurídicos e sociais envolvidos.

Preparar para utilização de elementos de doutrina, jurisprudência e legislação componentes da


técnica jurídica do Direito Ambiental, com uma visão crítica e consciência sociopolítica.

Lembrando que sempre haverá, ao final de cada módulo, exercícios para fixação do conteúdo
aprendido e teste de seus conhecimentos.

CONTEÚDOS/LEITURAS SUGERIDAS

Conteúdos de estudo Bibliografia básica Bibliografia complementar Videoaula


FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Nota: Há
Módulo 1 de direito ambiental brasileiro. 9. ed. ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: disciplinas com
São Paulo: Saraiva, 2008. Lumem Júris, 2008. videoaulas...
FREITAS, Gilberto Passos de;
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
Módulo 2 ambiental brasileiro. 16. ed. São FREITAS, Vladimir Passos de. Crimes
Paulo: Malheiros, 2008. contra a natureza: de acordo com a lei
9.605/1998. 8. ed. São Paulo: RT, 2006.
LEMOS, Patrícia Fraga Iglecias. Direito
MUKAI, Toshio. Direito ambiental
Módulo 3 ambiental: responsabilidade civil e
sistematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: proteção ao meio ambiente. 2. ed. São
Forense Universitária, 2007. Paulo: RT, 2008.
MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: a
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso
Módulo 4 gestão ambiental em foco: doutrina,
de direito ambiental brasileiro. 9. ed. jurisprudência, glossário. 5. ed. São
São Paulo: Saraiva, 2008. Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito MORAES, Luis Carlos Silva de. Curso de
Módulo 5 ambiental brasileiro. 16. ed. São direito ambiental. 2. ed. São Paulo:
Paulo: Malheiros, 2008. Atlas, 2004.
MUKAI, Toshio. Direito ambiental SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de
Módulo 6 sistematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: direito ambiental. 6. ed. São Paulo:
Forense Universitária, 2007. Saraiva, 2008.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito MORAES, Luis Carlos Silva de. Curso de
Módulo 7 ambiental brasileiro. 16. ed. São direito ambiental. 2. ed. São Paulo:
Paulo: Malheiros, 2008. Atlas, 2004.
MUKAI, Toshio. Direito ambiental SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de
Módulo 8 sistematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: direito ambiental. 6. ed. São Paulo:
Forense Universitária, 2007. Saraiva, 2008.

Nota: ver abaixo as referências bibliográficas para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas.

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AVALIAÇÕES

Como é de seu conhecimento, você estará obrigado a realizar uma série de avaliações (NP1, NP2,
SUB* e EXAME), cabendo a você tomar conhecimento do Calendário Escolar dessas avaliações divulgado
no campus e do agendamento das datas das suas provas por meio desse sistema Online, dentro dos
períodos especificados. Na data e nos horários agendados para a sua avaliação dirigir-se ao Laboratório
de Informática ou outro setor designado pela Instituição para a realização da prova em sistema Online.

Por outro lado, é importante destacar que uma das formas de você se preparar para as avaliações é
realizando os exercícios de autoavaliação, disponibilizados para você neste sistema de disciplinas Online.
O que tem de ficar claro, entretanto, é que os exercícios que são requeridos em cada avaliação não são
a mera repetição dos exercícios da autoavaliação.

Para sua orientação, informamos na tabela a seguir os conteúdos e os exercícios que serão requeridos
em cada uma das avaliações às quais você estará sujeito:

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Básica

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2008.

MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

Complementar

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 11. ed. Rio de Janeiro: Lumem Júris, 2008.

FREITAS, Gilberto Passos de; FREITAS, Vladimir Passos de. Crimes contra a natureza: de acordo com a
Lei 9.605/1998. 8. ed. São Paulo: RT, 2006.

LEMOS, Patrícia Fraga Iglecias. Direito ambiental: responsabilidade civil e proteção ao meio ambiente.
2. ed. São Paulo: RT, 2008.

MILARÉ, Edis. Direito do ambiente: a gestão ambiental em foco: doutrina, jurisprudência, glossário. 5.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

MORAES, Luis Carlos Silva de. Curso de direito ambiental. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2004.

SIRVINSKAS, Luis Paulo. Manual de direito ambiental. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

Dúvidas

Dúvidas deverão ser sanadas na Coordenação do Curso de Direito no horário de atendimento ao aluno.

Bons estudos!
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DIREITO AMBIENTAL

Unidade I
1. PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

1.1 Considerações gerais

O Direito Ambiental, como ciência autônoma, está escorado nos seus próprios princípios, que irão
informar as suas normas jurídicas e vincular o legislador, os operadores do Direito, como de resto toda
a sociedade. Os princípios constitucionais do Direto Ambiental estão traçados no art. 225, da Carta
Magna. Em face da norma constitucional, é possível enumerar alguns dos seus principais princípios
como veremos a seguir.

1.2 Princípio do desenvolvimento sustentável

Estabelecido no caput, do art. 225, da Constituição Federal, o princípio do desenvolvimento sustentável


busca conciliar a proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico para a melhoria
da qualidade de vida do homem. O desenvolvimento econômico de uma nação passa necessariamente
pela utilização de bens ambientais, seja como matéria-prima na produção industrial (insumo), ou como
destinatário dos dejetos dessa produção (poluição). O Direito Ambiental não pretende proibir pura e
simplesmente o desenvolvimento econômico e nem poderia ser diferente, na medida em que ordem
econômica nacional é fundada na livre iniciativa (art. 170, da Constituição Federal). Entretanto, esse
desenvolvimento deve observar alguns fatores de limitação. A livre iniciativa propagada pela Lei Maior
não é aquela de outras épocas, em que vigorava o modelo de liberalismo econômico e estatal. A livre
iniciativa em que se funda a ordem econômica nacional está condicionada à observação de alguns limites,
tais como a valorização do trabalho (caput), a defesa do consumidor (inciso V) e o meio ambiente (inciso
VI). A Constituição Federal estabelece, no seu art. 255, a obrigação de todos em defender e preservar o
meio ambiente para as presentes e as futuras gerações, considerando o meio ambiente como um bem
de uso comum do povo. Pretendeu, com isso, o legislador constituinte, adotar o seguinte princípio: o
bem ambiental pode e deve ser usado por todos, e por isso mesmo todos têm o dever de defendê-lo e
preservá-lo para que as futuras gerações também possam dele se utilizar. A Comissão Mundial sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO/92) definiu o desenvolvimento sustentável como aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem
a suas próprias necessidades.

O meio ambiente não é intocável. Pelo contrário, a maioria das empresas utiliza-se de recursos
naturais como insumo na sua produção. São bens retirados da natureza, os chamados bens ambientais.
Não pretende a lei proibir que nós nos utilizemos desses bens (até porque se trata de bem de uso comum
do povo). O que se pretende, sim, é que as mesmas pessoas que usam esses bens criem mecanismos de
preservação e recuperação do meio ambiente. O conceito de desenvolvimento sustentável apresenta,
assim, uma feição conciliatória, propondo que pode ocorrer o progresso técnico, o desenvolvimento,
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Unidade I

dentro de parâmetros que respeitam os limites ambientais ao mesmo tempo em que reafirma a
necessidade do crescimento econômico como condição necessária para a gestão de problemas sociais.
Os recursos naturais, os bens ambientais, são finitos. Isso significa que a sua utilização indiscriminada,
sem a preocupação com a sua preservação, irá conduzir à sua extinção. Não se pode admitir que as
atividades empresariais fiquem alheias a essa realidade. Quem se propõe a desenvolver uma atividade
econômica tem, como obrigação legal, a responsabilidade com a preservação do meio ambiente.

1.3 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR

Encontramos as bases do princípio do poluidor-pagador no parágrafo 3o, do art. 225, da Constituição


Federal. Uma vez que todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, citado,
caput), as atividades e as atitudes que causam lesão ao meio ambiente não podem ficar impunes. Por isso
que aquele que polui tem o dever legal de pagar por isso. Essa é a ideia central do princípio em comento.

A definição jurídica de “poluidor” é encontrada no art. 3o, inciso IV, da Lei n. 6.938/81: poluidor
é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente, por
atividade causadora de degradação ambiental. Dessa forma, toda pessoa, seja ela física ou jurídica, que
causar um dano ambiental deverá repará-lo. Devemos observar, entretanto, que o princípio do poluidor-
pagador não se traduz apenas na responsabilidade pela reparação do dano ambiental. Ele vai mais
além, contendo o princípio em comento uma natureza primeiramente cautelar e preventiva. O princípio
do poluidor-pagador importa na transferência dos custos, normalmente suportados pela sociedade,
referentes à poluição, para que seja pago primeiramente pelo poluidor, não apenas como forma de
reparação do dano, mas com a implementação de medidas preventivas.

1.4 Princípio da prevenção

Previsto no caput, do art. 225, da Constituição, o princípio da prevenção revela a preocupação com
a segurança do meio ambiente, sua manutenção e preservação para que as próximas gerações possam
dele usufruir. Prevenção vem de prevenir, evitar que aconteça. O princípio da prevenção determina a
todos que se preocupem com a preservação ambiental, evitando que ocorra o dano ambiental. Trata-se
de um princípio de importância ímpar para o Direito Ambiental, na medida em que os danos ambientais
ocorridos, na grande maioria das vezes, não têm reparação, são irreversíveis, de forma que se torna
impossível retornar ao status quo ante. O objetivo precípuo é evitar que o dano ocorra – que é preferível
a ter que repará-lo após a sua eclosão –, eis que o dano ambiental dificilmente é corrigível e, muitas
vezes, não indenizável. A prevenção busca minimizar os riscos aos quais o meio ambiente está exposto.
Como já tivemos a oportunidade de afirmar, o Direito Ambiental deve se harmonizar com a livre iniciativa
e vice-versa. O princípio da prevenção não busca impedir as atividades econômicas e humanas. Muito
pelo contrário. O princípio da prevenção objetiva exatamente possibilitar o desenvolvimento humano,
controlando os riscos ambientais.

1.5 PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO

Previsto no caput, do art. 225, da Constituição Federal, o princípio da participação implica no


reconhecimento de que a defesa do meio ambiente incumbe a toda a sociedade, ou seja, ao Estado
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DIREITO AMBIENTAL

e à sociedade civil organizada. Dessa forma, observa-se o dever de “uma atuação conjunta entre
organizações ambientalistas, sindicatos, indústrias, comércio, agricultura e tantos outros organismos
sociais comprometidos nessa defesa de preservação”. A ideia central é de que, se o bem ambiental é
um bem de uso comum do povo, é o povo, em todas as suas formas de organização, que deve cuidar e
decidir acerca do seu uso. Toda a sociedade deve estar engajada, juntamente com o Poder Público, na
defesa e na preservação do meio ambiente.

2. O MEIO AMBIENTE E O BEM AMBIENTAL

2.1 Meio ambiente – conceituação

Meio ambiente é tudo aquilo que está à nossa volta. A preocupação do ser humano com o meio
ambiente é relativamente recente, ganhando espaço principalmente após a Revolução Industrial
ocorrida no final do século XIX, quando o desenvolvimento econômico desordenado acarretou uma
maior deterioração da qualidade ambiental, revelando, ainda, a limitação dos recursos ambientais.
Tal situação acabou por despertar a consciência de diversos segmentos da população mundial para a
necessidade da preservação ambiental. O conceito de meio ambiente deve englobar obrigatoriamente
o homem e a natureza, com todos os seus elementos. É que, para o homem, a natureza apresenta-
se de duas formas: como fonte de recursos econômicos e como fonte de bem-estar. Da natureza, o
homem tanto pode extrair recursos e insumos necessários à produção de riquezas, como usufruir
momentos de lazer.

2.2 Meio ambiente – definição jurídica

Juridicamente, a definição de meio ambiente encontra-se no art. 3o, inciso I, da Lei da Política
Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/81):

Art. 3o Para os fins previstos nesta lei, entende-se:

I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.

Com base na definição de meio ambiente acima mencionada e nas disposições constitucionais,
podemos classificar o meio ambiente, a ser protegido juridicamente, da seguinte forma:

a) Meio ambiente natural: é constituído por solo, água, ar atmosférico, flora e fauna. Encontramos
sua previsão constitucional nos incisos I e VII, do art. 225:

I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das


espécies e ecossistemas;

VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

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Unidade I

b) Meio ambiente artificial: é o espaço urbano construído, constituído pelo conjunto de edificações
e pelos equipamentos públicos. Encontramos previsão constitucional principalmente no art.
182, que trata da Política Urbana. No plano infraconstitucional, temos o Estatuto da Cidade
(Lei n. 10.257/2001).

c) Meio ambiente do trabalho: é o local onde as pessoas executam suas atividades laborais, cujo
equilíbrio baseia-se na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometem a saúde
dos trabalhadores. Está previsto na Constituição Federal, no art. 200, VIII:

Art. 200 Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei:

VIII – colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

d) Meio ambiente cultural: é integrado pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico,
turístico de um povo. Encontramos previsão constitucional no art. 216, que trata do Patrimônio
Cultural Brasileiro.

2.3 O bem ambiental

2.3.1 Um novo tipo de bem jurídico

A exata compreensão do Direito Ambiental passa necessariamente pela conceituação do que seja
bem ambiental. É que, com a Constituição Federal de 1988, um novo tipo de bem jurídico foi introduzido
no nosso ordenamento jurídico, que veio afastar aquela tradicional dicotomia até então existente entre
bens públicos x bens privados. Esse novo tipo de bem é o bem ambiental, previsto expressamente no art.
225, da Constituição Federal, verbis:

Art. 225 Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (g.n.).

O bem ambiental é, portanto, um novo tipo de bem jurídico, inserido no ordenamento jurídico pela
Constituição de 1988, que deve ser considerado de forma autônoma, não se confundindo com os bens
públicos nem com os privados.

2.3.2 Bem de uso comum do povo

Afirmando a Constituição Federal que o bem ambiental é de uso comum do povo e que todos têm
o direito de usá-lo, resta claro estar-se diante de um bem que não é público, muito menos particular,
eis que não se refere a uma pessoa (física ou jurídica, de direito privado ou público) individualmente
considerada, mas sim a uma coletividade de pessoas, configurando um direito coletivo (lato sensu).
Estabelecendo que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem de uso comum do povo
a que todos têm direito, o legislador constitucional traçou as diretrizes que permitem a identificação
da natureza jurídica desse direito. Ora, se o uso do bem é garantido a todas as pessoas, não resta
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DIREITO AMBIENTAL

dúvida que estamos diante de um bem metaindividual, que supera o indivíduo. Sua titularidade é
indefinida, representada pelo pronome indefinido todos, que dá maior amplitude e abrangência à
norma jurídica, “pois, não particularizando quem tem direito ao meio ambiente, evita que se exclua
quem quer que seja”. Ao determinar o uso comum, estabeleceu-se a natureza indivisível desse direito
ao meio ambiente equilibrado.

2.3.3 Direitos e interesses difusos

Os direitos coletivos lato sensu, referidos na Carta Magna, ganharam definição legal infraconstitucional
com o advento da Lei n. 8078/90, que estabeleceu em seu art. 81, parágrafo único, inciso I, o que são
interesses difusos:

I – interesses ou direito difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, o transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

Assim sendo, fazendo a conexão do dispositivo constitucional em conformidade com o disposto no


art. 81, do Código de Defesa do Consumidor, o bem ambiental configura um direito difuso, metaindividual,
não limitado aos interesses privados ou públicos, e não subordinado ao direito de propriedade, não
guardando “qualquer compatibilidade com institutos outros que não estejam adstritos ao direito de
usar aludido bem”. O titular do bem ambiental é a coletividade, assim entendida como os brasileiros e
os estrangeiros residentes no país (CF, art. 5o, caput). Trata-se, pois, de um direito transindividual, de
natureza indivisível, cujos titulares são pessoas indeterminadas, ligadas por uma circunstância de fato.

2.3.4 Bem essencial à sadia qualidade de vida

Como o bem ambiental se trata de um bem essencial à sadia qualidade de vida, deveremos enfrentá-
lo à luz do que dispõem o art. 1o, III combinado com o art. 6o, ambos da Constituição Federal. Para se
ter uma vida saudável, necessária a satisfação dos fundamentos democráticos previstos na Constituição
Federal, em especial o da dignidade da pessoa humana (art. 1o, III), além de valores fundamentais
mínimos como a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados (art. 6o). Tais valores constituem
um piso vital mínimo de direitos que devem ser assegurados pelo Estado, para o desfrute da sadia
qualidade de vida. Uma vida digna e saudável é aquela em que se tem garantidos e efetivados os
direitos componentes desse piso, de forma que a definição jurídica de bem ambiental “está vinculada
não só à tutela da vida da pessoa humana, mas particularmente à tutela da vida da pessoa humana com
dignidade, remetendo o intérprete ao conceito doutrinário de piso vital mínimo”.

2.3.5 Bem ambiental – conclusão

É da somatória desses dois aspectos, ser de uso comum do povo e ser essencial à sadia qualidade de
vida, que se estrutura constitucionalmente o bem ambiental criado pela Constituição Federal de 1988. O
bem ambiental, assim, constitui um terceiro tipo de bem jurídico, que não é particular e tampouco público.
É um bem de interesse difuso, de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida da coletividade.

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Unidade I

3. DANO AMBIENTAL

3.1 Qualidade ambiental

Qualidade ambiental pode ser conceituada como o “estado do meio ambiente ecologicamente
equilibrado que proporciona uma sadia qualidade de vida”. Dessa forma, todos têm direito a viver com
qualidade ambiental, situação que se relaciona com a atividade contínua e ininterrupta das funções
essenciais do meio ambiente, adequada para as presentes e as futuras gerações.

3.2 Degradação ambiental

A degradação da qualidade ambiental está definida no art. 3o, II, da Lei n. 6.938/81: degradação da
qualidade ambiental é a alteração adversa das características do meio ambiente. Dessa forma, haverá
degradação da qualidade ambiental toda vez que houver alteração adversa das características dos recursos
ambientais (ar atmosférico, águas superficiais e subterrâneas, estuários, mar, solo, subsolo, elementos da
biosfera, fauna e flora – art. 3o, V, da Lei n. 6.938/81). Na forma do que dispõe o Decreto 97.632, de 10 de
abril de 1989, que regulamentou o art. 2o, VIII, da Lei 6938/81, “[...] são considerados como degradação os
processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas
propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais”.

3.3 Poluição

Primeiramente, é preciso deixar claro que poluição não se confunde com degradação da qualidade
ambiental. Embora ambos os termos possuam uma correspondência direta, eles definem situações
diferentes, eis que a poluição exige a atuação humana, o que não ocorre com a degradação. A definição
legal de poluição está no inciso III, do art. 3o, da Lei n. 6.938/81:

III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;

c) afetem desfavoravelmente a biota;

d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;

e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

Poluição tem correspondência direta com a degradação da qualidade ambiental, posto que a
lei “vincula, de modo indissociável, poluição e degradação ambiental, pois, conforme visto, salienta
expressamente que a poluição resulta da degradação”. Anotamos, no entanto, que poluição não é a
simples degradação ambiental, mas uma degradação ambiental qualificada por uma atividade humana.
Destarte, verificamos que o termo degradação tem um sentido mais amplo do que poluição: o conceito
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DIREITO AMBIENTAL

de poluição está contido no conceito de degradação. Toda poluição contém uma degradação ambiental,
mas nem toda degradação ambiental será considerada poluição. Poluição, assim, é a degradação
ambiental intolerável causada de uma atividade humana.

3.4 Dano ambiental

Dano ambiental é a lesão a um bem ambiental. Ele decorre de uma atividade humana que causa uma
degradação da qualidade ambiental, acima do limite do tolerável. O dano ambiental é fator indispensável
para que surja a responsabilidade ambiental. Não haverá obrigação de indenizar se não houver dano. Por
isso mesmo é necessário indagar-se se qualquer dano ambiental será passível de indenização.

Toda atividade humana, de uma forma ou de outra, causa um dano ao meio ambiente. A interação
do homem com a natureza, por meio dos tempos, sempre ocasionou algum tipo de dano ambiental.
Desde as mais remotas eras, o ser humano subjugou a natureza, utilizando-a em seu benefício próprio
e isso, de uma forma ou de outra, implicava em uma alteração da qualidade ambiental. Tolerada pela
sociedade, dentro daquele determinando contexto histórico, social e econômico, aquela alteração não
se constituía em um dano indenizável. É certo que com a Revolução Industrial essa interação homem-
natureza intensificou-se, tornando-se assustadoramente danosa ao meio ambiente, o que despertou
na sociedade a preocupação com a situação ambiental no planeta, exigindo preservação, proteção e,
especialmente, reparação do dano. Mas não menos certo é que isso também decorre de um contexto
social, cultural, econômico e histórico. Assim colocado, veremos que a reparação do dano ambiental
decorrerá da valoração desse dano e do grau de intolerabilidade que ele irá gerar. O dano tolerado não
será indenizado. Dano ambiental indenizável é aquele que desborda do limite da tolerabilidade aceitável.

3.5 Dano ambiental x crime ambiental

Necessário, então, estabelecer a diferença entre dano ambiental e crime ambiental. Já vimos que
poluição é a alteração da qualidade ambiental decorrente de uma atividade humana. Em sentido lato, a
poluição abrange a poluição strictu sensu, o dano ambiental e o crime ambiental.

A poluição em sentido estrito é a alteração da qualidade ambiental que não é capaz de alterar a
ordem ambiental vigente, eis que “suas repercussões sobre a normalidade do ambiente são desprezíveis
e, por isso, não são capazes de transtorná-las”. É que, embora haja uma alteração da qualidade ambiental
qualificada por uma ação humana, essa alteração não é intolerável, conforme o paradigma se esteja
adotando, de modo que “a poluição, em sentido estrito, é, portanto, um acontecimento irrelevante”.
Logo, ela não será punível. Quando essa alteração ultrapassa os limites do desprezível e causa alterações
adversas no ambiente, teremos o dano ambiental, que será objeto da responsabilidade civil, conforme
vimos acima. Quando o dano ambiental for de tal monta que dele resulte ou possa resultar danos à
saúde humana, ou provoque a mortandade de animais ou a destruição da flora, estaremos diante de um
crime ambiental, cuja previsão legal encontra-se no art. 54, da Lei n. 9605/98:

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos
à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

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Unidade I

Por isso mesmo que não é qualquer atividade poluidora que será punível como crime ambiental, mas
apenas aquela que, produzida em níveis tais, resulte ou possa resultar em danos à saúde humana ou
provoque a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. A criminalização de condutas
lesivas ao meio ambiente demonstra a intenção do legislador de considerar o meio ambiente como um
bem jurídico próprio e relevante.

4. A RESPONSABILIDADE PELO DANO AMBIENTAL

4.1 Responsabilidade total: administrativa, criminal e civil

O meio ambiente foi alçado à condição de bem jurídico pela Carta Constitucional de 1988. O bem
ambiental passou a ser tutelado expressamente pelo art. 225 da Constituição Federal em todas as suas
facetas jurídicas, consagrando a responsabilidade total do poluidor pelas condutas e pelas atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente. Destarte, em se tratando de dano causado ao meio ambiente
natural, é preciso observar que a responsabilidade é total, ou seja, o poluidor responderá pelo dano causado
nas esferas administrativas, criminal e civil. É o que dispõe o § 3o, do art. 225, da Constituição Federal:

§ 3o As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas


físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

A defesa do meio ambiente deve ser a mais ampla possível e isso se revela ao comando do caput, do art.
225, que coloca o meio ambiente equilibrado como um direito de todos ao mesmo tempo em que atribui a
todos (o Poder Público e a coletividade) o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras
gerações. Dessa forma, a tutela jurídica do meio ambiente se faz de forma ampla, nas esferas administrativa,
penal e civil. Isso significa que, para um mesmo fato, um único fato, o poluidor poderá ser responsabilizado
administrativa, civil e criminalmente, concomitantemente, sem que uma exclua a outra. A importância de se
possibilitar a responsabilização total do agente poluidor é garantir que o dano ambiental seja efetivamente
reparado e/ou punido. A impunidade conduz à reincidência e não gera o desestímulo necessário a evitar que
outros danos ambientais ocorram. Em razão disso, a responsabilização do infrator deve ocorrer da forma
mais ampla possível, de sorte a incutir nele o receio de praticar alguma atividade nociva ao meio ambiente.
Muitas vezes, a simples imposição de multa administrativa não resolve o problema causado, sendo necessário
restituir o ambiente, reparando-o. Outras vezes, a simples reparação não é suficiente para desestimular o
poluidor, sendo necessário partir-se para a esfera penal. O Direito Penal, aliás, vem se tornando a grande
arma jurídica para reprimir o dano ambiental. É de se mencionar, ainda, que a empresa, como pessoa jurídica,
poderá ser responsabilizada criminalmente pelos danos causados ao meio ambiente, como veremos a seguir.

4.2 A responsabilidade penal da empresa pelo dano ambiental

4.2.1 Responsabilidade penal ambiental

A importância e a relevância do meio ambiente para a dignidade da vida humana, como bem jurídico
autônomo, se mostram de tal maneira fundamental que o legislador constituinte cuidou, inclusive, de
estabelecer a responsabilização penal do poluidor. É o que se vê expressamente no parágrafo 3o, do
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DIREITO AMBIENTAL

art. 225, da Constituição Federal. Um determinado fato somente será considerado uma infração penal
(crime ou contravenção penal) quando houver expressa previsão legal. Isso decorre do princípio de
que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, expresso no
art. 5o, XXXIX, da Constituição Federal. Com os crimes ambientais não é – nem poderia ser – diferente.
No plano infraconstitucional, até 1998, encontrávamos a definição de crimes ambientais em vários
diplomas legais, como o próprio Código Penal (art. 271), o Código Florestal (Lei n. 4771/65 – arts. 26
e 45), a Lei de Proteção à Fauna (Lei n. 5197/67 – arts. 27 e 34), entre outros. No entanto, todas essas
leis foram revogadas pela Lei n. 9605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispôs sobre as sanções penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, separando os crimes
segundo o objeto de tutela, da seguinte forma: crimes contra a fauna (arts. 29 a 37), crimes contra a
flora (arts. 38 a 53), poluição e outros crimes (arts. 54 a 61) e crimes contra a administração ambiental
(arts. 66 a 69), revogando expressamente as disposições em contrário (art. 82). As infrações penais
contra o meio ambiente são de ação pública incondicionada, cabendo ao Ministério Público propor a
ação penal cabível, conforme previsto no Código de Processo Penal. No entanto, aplicam-se aos crimes
de menor potencial ofensivo os dispositivos do art. 89, da Lei n. 9099/95 (Lei do Juizado Especial), na
forma do disposto nos arts. 27 e 28, da citada Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9605/98).

4.2.2 A responsabilidade penal da pessoa jurídica

Um tema que sempre desperta algum tipo de discussão mais acalorada, especialmente por
parte dos tradicionalistas do Direito, diz respeito à responsabilidade penal da empresa. A evolução
do mundo, especialmente nos séculos XIX e XX, viu florescer uma era de tecnologia nunca antes
imaginada. A industrialização da produção, a informatização e a biotecnologia mudaram a forma
de ser do próprio homem, na sua relação com a natureza. Com isso, grandes corporações surgiram
para explorar o nicho aberto por essa nova ordem. A partir da Revolução Industrial, as relações sociais
se modificaram profundamente. Antes, apenas o indivíduo, pessoa física, que praticasse o ato ilícito
poderia ser responsabilizado criminalmente. Com a Revolução Industrial, a empresa passa a ser vista
como elemento potencializador de riscos e, “como polo agregacional de interesses, passa a ser, em
algumas circunstâncias e dentro de determinados contextos, o centro de atenção da cena criminal”, eis
que “nas últimas décadas, a poluição, o desmatamento intensivo, a caça e a pesca predatória não são
mais praticados só em pequena escala. O crime ambiental é principalmente corporativo”. O assunto ora
ventilado constitui verdadeiro dogma do Direito Penal. Os tradicionalistas não admitem, em hipótese
alguma, que a pessoa jurídica possa ser sujeita ativo de um delito penal. Mas o fato é que, desde o
advento da Constituição Federal de 1988, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é uma realidade
com a qual todos os operadores do Direito têm de conviver, concordem ou não.

No mundo moderno, globalizado e massificado, as grandes atividades econômicas são exploradas


por grandes corporações, que se organizam de maneira empresarial em sociedades. Tais sociedades,
legalmente constituídas para esse fim, adquirem personalidade jurídica própria. Os princípios da atividade
econômica encontram-se no art. 170, da Constituição Federal: livre iniciativa, livre concorrência e
livre exercício de qualquer atividade econômica. Mas ao lado desses princípios liberais, encontramos
outros limitadores dessa liberdade, como a defesa do meio ambiente. Isso faz nascer uma obrigação
legal para a empresa, que é a responsabilidade socioambiental. As sociedades constituídas para o
desenvolvimento de uma atividade econômica denominam-se sociedades empresárias. Essas sociedades
13
Unidade I

são, na maioria das vezes, as causadoras dos danos ambientais de grande proporção. Responsabilizá-
las civil e administrativamente pelos danos causados é simples. O problema surge quando a questão é
atribuir-lhes responsabilidade penal.

4.2.2.1 O dogma societas delinquere non potest e o crime ambiental corporativo

Durante anos, o Direito vedou a possibilidade de responsabilizar criminalmente a pessoa jurídica,


opondo obstáculos legais e forte oposição doutrinária e jurisprudencial, observando, como regra, a máxima
societas delinquere non potest (a sociedade não pode delinquir). Entrementes, se a responsabilidade
penal da pessoa jurídica antes era discutível, hoje é reconhecida constitucionalmente. A Constituição
de 1988, rompendo com a tradição da doutrina penal, considera a pessoa jurídica – sem distinguir
se pública ou privada – como ente capaz de cometer delitos. A doutrina contemporânea reconhece
que o princípio do Direito Penal tradicional de que a sociedade não pode delinquir encontra-se hoje
mitigado. Para Sérgio Salomão Shecaira, “a tendência do Direito Penal moderno é romper com o clássico
princípio societas delinquere non potest. Isso porque a pessoa jurídica não pode ser vista com os olhos
conceituais da doutrina clássica”.

4.2.2.2 A responsabilidade penal da pessoa jurídica na Constituição e na lei

A Constituição Federal prevê a responsabilização criminal da pessoa jurídica em duas oportunidades.


A primeira está situada no capítulo que trata dos princípios gerais da atividade econômica; a segunda,
no que disciplina o meio ambiente. No primeiro caso, diz o artigo 173, § 5o, da Constituição:

A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a
responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com a sua natureza nos atos praticados
contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.

Na segunda hipótese, o artigo 225, § 3o, da Constituição preceitua que

as condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas


físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

Seguindo a norma constitucional, no plano infraconstitucional, a Lei n. 9.605/98 (que trata dos
crimes ambientais), em seu art. 3o, estabelece que

as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme disposto


nessa lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual,
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Devemos lembrar que o Direito Penal inicia-se a partir da Constituição Federal, e não a partir do
Código Penal, que é apenas um subsistema do nosso sistema constitucional. Assim é que o art. 5o,
inciso XXXIX, da Carta Magna estabelece que “não há crime sem lei anterior que o definam, nem pena
sem prévia cominação legal”. O significado disso é que é a lei, em sentido lato, define o que é crime
14
DIREITO AMBIENTAL

e estabelece qual será a pena. Nada há de inconstitucional na Lei n. 9.605/98, muito menos no que
se refere ao disposto no mencionado art. 3o, eis que em perfeita sintonia com a Constituição Federal.
A mesma Constituição, ao tratar das penas, contempla cinco possibilidades, das quais apenas uma é
restritiva de liberdade. É o que dispõe o inciso XLVI, do mencionado art. 5o, verbis:

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição de liberdade;

b) perda de bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos.

Podemos observar que apenas 20% das penas previstas na Constituição Federal são privativas
ou restritivas de liberdade. As outras 80% referem-se à perda de bens e de direitos, perfeitamente
aplicáveis à pessoa jurídica. Isso se dá porque o Direito Penal moderno, inaugurado a partir da Carta
Magna de 1988, tem outras preocupações que não simplesmente o indivíduo, mas principalmente com
a coletividade. Os bens jurídicos que atualmente comportam proteção do Direito Penal são diferentes
daqueles de outrora. Afinal, é na própria natureza do bem, seja difuso ou coletivo, que reside o alcance
do Direito Penal na sociedade de risco. O sujeito passivo, nesses crimes, “não é um indivíduo, como no
estelionato ou nas lesões corporais. É toda a coletividade. O alcance é maior”. Enquanto o Direito Penal
tradicional ocupava-se apenas de bens individuais, tais como a vida, a saúde ou a honra, a realidade da
sociedade de massa, decorrente da revolução tecnológica, trouxe profundas alterações na concepção de
criminalidade, que se encontra mais e mais atrelada a atividades lícitas. São atos próprios dessa sociedade
surgida posteriormente à Revolução Industrial e que, geralmente, atingem interesses difusos. A função
do Direito Penal moderno é, pois, tutelar esses bens difusos. É, pois, interesse de toda a sociedade e não
de apenas um indivíduo ou de um pequeno grupo.

Em uma sociedade capitalista, cuja ordem econômica é fundada na livre iniciativa (art. 170, da
Constituição Federal), os potenciais agentes criminosos são as grandes empresas (pelos chamados crimes
corporativos), especialmente aqueles praticados contra o meio ambiente. Para tal situação, de nada
servem as penas privativas ou restritivas de liberdade: a efetividade da pena somente se dará pela perda
de bens (ou dinheiro) ou da suspensão ou interdição de direitos, como a suspensão total ou parcial das
atividades. Dessa forma, ao lado da tradicional pena da restrição da liberdade, o Direito Penal moderno
criou outras formas de penalização, como a multa, a dissolução, a interdição, a suspensão da atividade,
o confisco, a perda de benefícios fiscais, entre outros; plenamente em condições reais de serem aplicadas
à pessoa jurídica. O mais importante, no entanto, é haver a possibilidade jurídica legal (constitucional e
infraconstitucional) de se responsabilizar penalmente a pessoa jurídica.

15
Unidade I

4.3 A responsabilidade objetiva na reparação do dano ambiental

4.3.1 Responsabilidade civil

Responsabilidade, no seu sentido etimológico, revela a ideia de obrigação, encargo, contraprestação.


Em sentido jurídico, a ideia é praticamente a mesma. A responsabilidade decorre da violação de um
dever jurídico que acarreta um dano a outrem, que deve ser reparado, não apenas como forma de
justiça, mas para restaurar o equilíbrio antes existente. A responsabilidade civil nos moldes como
conhecemos no Direito moderno tem suas origens na Lex Aquilia do Direito romano. Embora se saiba
que tal lei não dispunha de uma regra de conjunto, ela tornou-se fonte direta da moderna concepção
da responsabilidade civil aquiliana, fundamentada na culpa do agente. Foi na França, no entanto, que se
esboçaram os contornos da responsabilidade civil moderna, estabelecendo-se alguns princípios básicos
como o direito à reparação sempre que houvesse culpa, ainda que leve, separando-se a responsabilidade
civil (perante a vítima) da responsabilidade penal (perante o Estado); a existência de uma culpa contratual
(de quem descumpre as obrigações) e que não se liga nem a crime nem a delito, mas que decorre da
negligência ou da imprudência.

No Brasil não foi diferente e, em 1916, o Código Civil brasileiro foi promulgado contemplando a
teoria da responsabilidade civil aquiliana, tal qual o Direito Civil francês. O art. 159, daquele Código,
estabelecia que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito,
ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”. Escorava-se, assim, a responsabilidade
civil, na culpa lato sensu, que abrange o dolo (que é o conhecimento do mal e intenção de praticá-lo)
e a culpa strictu sensu ou aquiliana (a violação de um dever que o agente podia conhecer e observar,
segundo os padrões de comportamento do homem médio).

A imprevidência do agente, que pode resultar no ato lesivo, assenta-se sob a forma de imprudência,
negligência ou imperícia (esta, contida no conceito de negligência). A expressão “ação ou omissão
voluntária” está diretamente ligada à vontade de agir ou se omitir, que caracteriza o dolo, enquanto que
“negligência ou imprudência” está diretamente ligada à culpa. Para a reparação do dano, no entanto,
não há diferença entre dolo ou culpa (strictu sensu). O objetivo central da indenização é recompor
o patrimônio do lesado ao status quo ante, de modo que pouco importa se o fato ou ato ilícito é
proveniente de dolo ou culpa: o resultado é o mesmo em uma ou outra situação. Por isso que “havendo
culpa, a obrigação de reparar o dano é a mesma, haja dolo ou culpa em sentido estrito”. A responsabilidade
civil aquiliana, para gerar a obrigação de indenizar, ao lado da ação ou omissão do agente, tem que
conjugar outros três fatores indispensáveis: dano, nexo causal e culpa (lato sensu). É que o instituto
da responsabilidade civil, alicerçado no nexo causal entre o dano e o fato ou ato jurídico imputado
ao agente, desponta no ordenamento jurídico como o meio eficaz de atrelar a agentes identificados o
dever de promover a indenização dos danos acarretados injustamente às vítimas.

O novo Código Civil não mudou essa orientação. O art. 186 praticamente repete o teor do revogado
art. 159, dispondo que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, mantendo
o elemento subjetivo como requisito indispensável da responsabilidade civil. Podemos afirmar que a
responsabilidade civil subjetiva, ou seja, aquela baseada na culpa do agente, permanece como regra no
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DIREITO AMBIENTAL

Código Civil brasileiro. Mas se é certo que a responsabilidade civil subjetiva é a regra no Código Civil,
o mesmo não pode ser dito no que tange ao ordenamento jurídico pátrio como um todo. É que, em
uma sociedade de massa, de economia globalizada, a esmagadora maioria das relações privadas será
conceituada como relação de consumo, que consagra a responsabilidade objetiva como regra.

4.3.2 Responsabilidade civil objetiva

Diz-se objetiva a responsabilidade que prescinde do elemento subjetivo, ou seja, que não depende de
culpa para gerar a obrigação indenizatória, bastando que haja nexo causal e dano. A evolução tecnológica
decorrente da Revolução Industrial acelerou o processo de desenvolvimento industrial e fez surgir
atividades perigosas, que punham em risco a sociedade. Em razão disso, uma vez que a responsabilidade
subjetiva se mostrava insatisfatória, novas teorias foram surgindo, objetivando propiciar maior proteção
às vítimas, buscando fundamentos para a imputação da responsabilidade dos danos ensejados pelo risco
da atividade decorrentes do progresso. Foi na França que surgiu um movimento que buscava alternativas
à teoria clássica da culpa, iniciado por Saleilles e seguido por Josserand, considerando que, restrito ao
âmbito da culpa, não seria possível resolver todos os problemas decorrentes da responsabilidade civil.
Surgia a teoria do risco criado, segundo a qual aquele que exercesse uma atividade de risco, responderia
pelo dano causado objetivamente, ou seja, independentemente de culpa.

No Brasil, os contornos da responsabilidade objetiva começaram a ser desenhados com o Decreto n.


2.681, de 7 de dezembro de 1912 (a histórica Lei das Estradas de Ferros), que regulou a responsabilidade
civil das companhias ferroviárias com base na atividade desenvolvida. Mas o marco decisivo foi dado
pelo Código de Defesa do Consumidor, nos arts. 12 e 14 que, ao consagrar que a responsabilidade do
fornecedor pelo fato do produto ou do serviço se dá independentemente de culpa, acabou adotando a
teoria da responsabilidade objetiva fundada no risco da atividade para responsabilizar o fornecedor. No
mesmo sentido, o novo Código Civil adotou a teoria do risco, no parágrafo único do art. 927.

4.3.3 Teoria do risco

A teoria do risco foi a principal e a mais bem aceita teoria sobre responsabilidade objetiva. Ela
traduz-se no seguinte enunciado: todo aquele que desenvolve uma atividade que implique risco para
outrem fica obrigado a reparar o dano causado, independentemente de culpa. A teoria do risco deve
ser conjugada juntamente com os princípios constitucionais da ordem econômica, tendo relação direta
com a livre iniciativa. Tendo o empreendedor liberdade de ação, ele deve arcar com os riscos da sua
atividade, da mesma forma como ele absorve e aproveita os seus lucros. A liberdade de ação, garantida
pela Constituição Federal, acarreta como consequência a responsabilização de empresa pelo risco da
sua atividade. Trata-se da teoria do risco da atividade ou do risco proveito, segundo a qual “quem
desenvolve uma atividade com fins de lucro, tem que assumir as responsabilidades decorrentes da
própria atividade”. A responsabilidade objetiva prescinde da culpa para obrigar o ofensor à reparação,
bastando que se demonstre o nexo de causalidade e o dano. É possível nascer a obrigação de indenizar
independentemente da prática de qualquer ato ilícito. Havendo previsão legal de responsabilização, ou
sendo a atividade considerada de risco, o responsável pela reparação pode até não ter praticado nenhum
ilícito e mesmo assim haverá o dever de indenizar. Mais ainda, o dever da reparação poderá até mesmo
surgir de um ato lícito, como vai ocorrer nas hipóteses de danos ambientais, como veremos a seguir.
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Unidade I

4.3.4 A responsabilidade pelo dano ambiental

A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva. Com efeito, vivemos em uma sociedade de
risco, em que os perigos da ocorrência dos danos ambientais decorrentes da evolução tecnológica,
verificada especialmente no século passado, são eminentes e frequentes, o que força que a reparação se
dê independentemente de culpa do agente. De fato, esse desenvolvimento econômico e tecnológico vai
trazer como consequência um fator de risco, que poderá se manifestar nos processos de produção (na
exploração de energia nuclear, por exemplo), no aumento de substâncias perigosas (resíduos tóxicos),
e na forma com que se lida com elas (transporte, armazenamento, descarte). É evidente que, de uma
forma ou de outra, todas essas atividades afetarão o meio ambiente. Quando isso se der de maneira
negativa, ensejando uma degradação da qualidade ambiental que resulta na poluição, o responsável
deverá compensar o dano, pelo simples fato de se beneficiar diretamente do exercício daquelas atividades
perigosas, sem qualquer consideração acerca da sua culpa. Por conta disso tudo, a Lei. 6938/81, em seu
art. 14, § 1o, adotou a responsabilização objetiva do poluidor:

§ 1o Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente
e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade
para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Esse artigo 14 foi totalmente recepcionado pela Constituição Federal, que estabeleceu, no § 3o, do
art. 225:

§ 3o As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas


físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o
dano.

Uma vez que a Constituição não adotou nem estabeleceu nenhum critério ou elemento vinculado
à culpa como fundamento da obrigação de reparar o dano ambiental, ela recepcionou e consagrou a
responsabilidade objetiva, que a norma infraconstitucional já havia estabelecido quase uma década
antes, pelo citado art. 14, § 1o, da Lei n. 6938/81. A responsabilidade civil pelo dano ambiental é, pois,
objetiva e se apoia na teoria do risco, de maneira que “não se aprecia subjetivamente a conduta do
poluidor, mas a ocorrência do resultado prejudicial ao homem e seu ambiente”. Devemos observar,
entrementes, que o Direito Ambiental assenta a responsabilidade civil objetiva na teoria do risco integral.
Ocorrido o dano ambiental, o poluidor estará obrigado à reparação, não podendo se valer de nenhum
tipo de excludente em sua defesa. Isso ocorre porque, em se tratando de dano ambiental, devemos
sempre conjugar a responsabilidade objetiva prevista o art. 14, § 1o, da Lei n. 6938/81, com os princípios
do poluidor-pagador e da prevenção. Destarte, a aplicação da responsabilidade objetiva pressupõe a
existência de uma atividade de risco, impondo à empresa o dever de segurança (princípio da prevenção),
internalizando-o no processo produtivo (princípio do poluidor-pagador), sob pena de ter de indenizar
todo dano que ocorrer.

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DIREITO AMBIENTAL

4.3.5 Reparação do dano ambiental: reparação integral e reparação específica

Reparação pressupõe a ideia de ressarcimento ou compensação do dano sofrido: aquele que causar
prejuízo a outrem fica obrigado à reparação. A reparação é o sucedâneo da responsabilidade civil. Partindo-
se dessa premissa, é necessário primeiramente observar, com base nos princípios que norteiam o Direito
Ambiental, que a reparação do dano deve ser integral (restitutio in integrum). Isso se dá, porque em se
tratando de meio ambiente, o dano é exatamente o que se quer evitar, razão pela qual toda lógica jurídica de
proteção e gestão ambiental fundamenta-se em uma dinâmica preventiva (desenvolvimento sustentável,
prevenção, poluidor-pagador etc.) e, uma vez que o dano ocorreu, ele deve ser reparado da forma mais
ampla possível, servindo como desestímulo para outros poluidores potenciais. A reparação integral do meio
ambiente lesado deriva do art. 225, § 3o, da Carta Constitucional, juntamente com o art. 14, § 1o, da Lei
n. 6938/81, que não restringiram a extensão da reparação. Não havendo restrição, a reparação deve ser
a mais ampla possível, para que não ocorra a indesejável impunidade. Somente com punição exemplar é
que se desestimulará os poluidores a continuar poluindo. É por isso que se pode afirmar, no que se refere
à responsabilidade civil por dano ambiental, que a “reparabilidade é integral, levando em conta o risco
criado pela conduta perigosa do agente, impondo-se ao mesmo um dever-agir preventivo, como meio
de se eximir da reparabilidade integral do eventual dano causado”. Sabe-se, entretanto, que a natureza,
quando danificada, dificilmente poderá ser restaurada, voltando ao seu estado anterior: a extinção de uma
espécie é um fator irreversível. A reparação integral vai compreender não apenas o prejuízo causado ao
bem ou recurso ambiental como também toda extensão dos danos produzidos em consequência do evento
danoso. Destarte, a reparação integral exige a reparação dos danos ambientais – casos sejam passíveis de
reparação – bem como o dever de indenizar aqueles danos irreparáveis.

Duas são as formas pelo qual o dano ambiental pode ser reparado: a primeira é a denominada
reparação natural ou específica, em que é feito o ressarcimento in natura; a segunda é a indenização,
que é feita pelo pagamento de quantia em dinheiro. Vamos encontrar no art. 4o, VII, da Lei n. 6938/81 a
obrigação do poluidor de restaurar e/ou indenizar os danos causados. Essa opção legislativa indica que,
primeiramente, deve-se tentar a restauração do bem ambiental lesionado e, somente se inviável esta,
partir-se para a indenização.

Como visto, essas duas formas de reparação do dano ambiental não são opcionais. A reparação não
pode ser feita de uma ou de outra forma indiferentemente. Como assinala Fiorillo, “primeiramente,
deve-se verificar se é possível o retorno ao status quo ante por via da específica reparação, e só depois
de infrutífera tal possibilidade é que deve recair a condenação sobre um quantum pecuniário [...]”. É
necessário que primeiro se busquem todos os meios possíveis para a restauração do bem ambiental
lesado, que é o objetivo precípuo do direito ambiental brasileiro. Pode-se até afirmar que a principal
opção da responsabilidade civil ambiental não é a justa compensação da vítima, mas a prevenção do
dano ecológico e a reintegração dos bens ambientais lesados. Desta forma, a reparação específica, in
natura, será sempre a prioridade, ao fundamento do disposto no art. 4o, inciso VI, da Lei n. 6938/81:

Art. 4o A Política Nacional do Meio Ambiente visará:

[...]

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Unidade I

VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais, com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida.

Nesse compasso, a ideia de recuperar o bem ambiental lesado como medida primeira a ser buscada
vem expressa no § 2o, do art. 225, da Constituição Federal:

§ 2o Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

Como se vê, tanto a Constituição Federal quanto a norma infraconstitucional se harmonizam no


sentido de indicar que o caminho primeiro a ser trilhado é o da reparação específica, com o objetivo de
retornar o meio ambiente lesado ao status quo ante, preservando-o, assim, para as futuras gerações.

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