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NEUROCIÊNCIA EDUCACIONAL
CONTEXTUALIZANDO
A motricidade pode ser entendida como uma ciência que tem como objeto
de estudo o ser humano por meio de seu corpo em movimento e em relação aos
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seus meios interno e externo. A motricidade está diretamente relacionada aos
processos de maturação; corpo e movimento dão origem às aquisições cognitivas,
afetivas e orgânicas. A motricidade é sustentada por, basicamente, três áreas: do
movimento, do intelecto e da afetividade.
Podemos empregar o termo “psicomotricidade” em uma concepção de
movimento organizado e integrado, em função das experiências vivenciadas pelo
ser humano, cuja ação é resultante de sua linguagem, individualidade e
socialização.
Em 1993, o então Ministério da Educação e do Desporto e a Secretaria de
Educação Especial definiram psicomotricidade como a integração das funções
motrizes e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do sistema nervoso,
destacando as relações existentes entre motricidade, mente e afetividade do
indivíduo. Vejam, portanto, que não podemos dissociar o desenvolvimento motor
das experiências vividas nos campos biológicos – considerando as neurociências
–, tampouco no meio social.
Devemos ressaltar que a habilidade de perceber é um conjunto de
processos que dependem primeiramente das experiências sensoriais. Dessa
forma, essas experiências deverão ser organizadas e posteriormente
interpretadas, produzindo as memórias evocadas na interpretação das
informações, o que chamaremos de “percepção”. Para tanto, todas as estruturas
nervosas deverão ser funcionais, isto é, íntegras, para que os estímulos externos
e internos sejam aferidos por meio dos órgãos sensoriais, sendo processados
para que possamos interpretar os referidos estímulos. Podemos entender que, em
uma criança, para que haja o desenvolvimento de um repertório perceptivo, tanto
os receptores nervosos quanto os órgãos dos sentidos e as estruturas superiores
do sistema nervoso deverão estar anatômica e funcionalmente íntegros para que
não haja um prejuízo no desenvolvimento neuropsicomotor.
Ao nascer, o ser humano está biologicamente preparado para receber os
estímulos do meio ambiente por meio dos órgãos dos sentidos; ao passo em que
experimenta novos estímulos, desenvolve novas interpretações e respostas
ambientais.
Ainda que o recém-nascido não tenha a capacidade de interpretar
determinadas informações, como diferenciar seu próprio corpo do meio que o
cerca, sua programação biológica permite que reconheça a voz da mãe, perceba
luz e sombra, além de estar programado para uma série de respostas motoras
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reflexas, isto é, que não dependem de experiências anteriores ou de
aprendizagem. Essas respostas são denominadas “reflexos hereditários”,
conhecimento genético que permite a sobrevivência dos seres vivos ao nascer,
como, por exemplo, o reflexo de sucção, tão importante para os mamíferos. Para
ilustrar essa questão, imagine que, num passado distante, precisássemos
aprender a sugar. Seguramente não teríamos sobrevivido.
Dentre uma variedade significativa de reflexos hereditários, vamos
descrever apenas os que de alguma forma têm uma relação direta com os
propósitos desta aula. Assim, vamos destacar o reflexo de sucção, de preensão
palmar e de marcha reflexa, ou andar automático.
O reflexo de sucção refere-se a quando tocamos levemente na boca de um
recém-nascido, momento em que ele começa a sugar e a chupar. Esse reflexo
tem, obviamente, fundamental importância para a sobrevivência. Devemos
lembrar que, por ser um reflexo, o bebê sugará qualquer objeto colocado em sua
boca, sejam os seios da mãe para mamar ou seus próprios dedos.
O reflexo de preensão palmar é desencadeado por pressão da palma da
mão, resultando na flexão dos dedos. Podemos observar essa mesma resposta
nos pés do bebê.
A marcha reflexa, ou andar automático, ocorre quando oferecemos apoio
plantar – apoio na planta dos pés – ao recém-nascido. Haverá inclinação do tronco
e um cruzamento das pernas, uma à frente da outra. Quanto a esse reflexo, é
curioso mencionar que, de tempos em tempos, podemos ver, sobretudo nas redes
sociais, filmagens de recém-nascidos “andando” precocemente. Agora que você
conhece os reflexos primitivos, já pode entender quão falsas são essas notícias;
não há nada de extraordinário em um recém-nascido “imitar” o andar.
Os reflexos hereditários são nada mais que movimentos primitivos que
asseguram ao recém-nascido formas de sobreviver no meio externo,
posteriormente dando lugar aos movimentos voluntários, refinados e complexos,
que permitirão o desenvolvimento de habilidades executivas em nosso meio
ambiente.
Pouco a pouco, o bebê toma consciência de seu poder de agir e de
influenciar o meio que o rodeia. Quando em estado de desconforto, como fome,
sede e dor, ele começará a chorar e a gritar.
O desenvolvimento motor se relaciona com a coordenação de movimentos
amplos e finos. As habilidades motoras amplas são aquelas que envolvem os
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músculos grandes do corpo, como arrastar, engatinhar, andar, saltar, correr,
chutar e arremessar bola. Já as atividades motoras finas envolvem o uso das
mãos e dedos, movimentos e ações mais sofisticados, como encaixar, empilhar,
atividades que utilizem ferramentas como tesoura, lápis e cola.
À medida que a criança cresce, suas habilidades motoras vão se
aprimorando, e a capacidade de controlar seus músculos e mover-se com
desenvoltura aumenta consideravelmente. Nesse estágio, os estímulos são
importantes, mas é necessário tomar cuidado e não forçar esse processo, pois,
como já vimos, há uma hierarquia temporal para a maturação neuropsicomotor; o
excesso de estímulos poderá causar prejuízos. Devemos oferecer uma variedade
de experiências à criança, mas compatíveis com sua idade e ambientes que
percorre. É necessário que músculos, ossos e sistema nervoso tenham atingido
determinado estágio de desenvolvimento para que, naturalmente, a criança possa
desempenhar atividades específicas.
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Essa estruturação permitirá que a criança desenvolva um repertório estruturado
de ações perceptivas e motoras.
O Estágio Pré-Operatório está significativamente relacionado com o
desenvolvimento da linguagem, dos dois aos sete anos; nele, a fantasia se mescla
com as realidades, compondo a base da compreensão cognitiva do universo que
a cerca; nesse estágio há o desenvolvimento de significados para os estímulos
externos.
As habilidades relacionadas ao desenvolvimento do lobo frontal, como
consciência, antecipação e julgamentos, são características do Estágio
Operacional Concreto, que vai dos sete aos doze anos, havendo um aumento na
capacidade de solucionar problemas e maior preocupação com o social.
A partir dos 12 anos, no Estágio Operacional Formal, já com vasto
repertório sensorial, corporal e de linguagem, serão promovidas a identidade, a
individualidade e a capacidade de argumentação.
1.2.1 Tonicidade
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de hipertonicidade, em que a tensão é superior, impedindo a harmonia dos
movimentos. Na próxima aula abordaremos novamente esses termos no estudo
das deficiências neuromotoras.
1.2.2 Equilíbrio
1.2.3 Lateralidade
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1.2.4 Esquema corporal
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1.2.7 Praxia fina
PARTE DO
CORPO/ MOVIMENTO/HABILIDADE
POSIÇÃO
CRIANÇA DE ZERO A 1 ANO
Cabeça Levantar ligeiramente quando deitado de costas ou de bruços; se deitada de
bruços, sustentar cabeça e peito, apoiada nos antebraços; manter a cabeça ereta e
firme quando carregada em pé; manter a cabeça levantada quando em decúbito
ventral, durante alguns segundos; mexer quando deitada em decúbito ventral, para
cima, de um lado para o outro; virar a cabeça livremente quando o corpo está
apoiado.
Braços + pernas Estender para os lados, sem direção; inclinar tanto os braços como as pernas para
a frente, de forma que, quando de bruços pareça arrastar-se; dar pontapés com
força quando deitada em decúbito dorsal.
Cabeça + ombro Controlar a cabeça e ombros, sentada, apoiada em almofada ou travesseiro; tenta
pegar objetos acerca de 20 cm à sua frente.
Mãos Agarrar objetos mantidos 10 cm à sua frente; reter objetos, usando preensão
palmar durante alguns segundos, soltando involuntariamente; tentar alcançar e
agarrar com preensão objetos à sua frente; alcançar objeto predileto; colocar
objetos na boca; largar um objeto para pegar outro; pegar e deixar cair objetos;
atirar objetos para todos os lados; sentada, transferir objetos de uma mão para
outra; reter dois cubos de 3 cm em uma das mãos; usar preensão radial para pegar
objetos; tentar alcançar coisas com uma das mãos; ficar de pé com o mínimo de
apoio; virar vasilha despejando objetos; fazer movimento de enfiar ou tirar com
colher ou pá; colocar objetos grandes em um recipiente; bater palmas.
De bruços Virar de bruços para o lado; estando de bruços, tenta se movimentar para frente;
rolar de bruços para de costas; rolar de costas para o lado; virar de costas para de
bruços; quando agarrada nos dedos do adulto, tenta se sentar; passar de bruços
para posição sentada.
Sentada Manter posição sentada durante alguns minutos; manter-se sentada com apoio das
mãos para a frente; arrastar-se para a frente para pegar objetos; da posição
sentada, passar para a posição de gatinho; sentar-se sem apoio das mãos
Em pé Ficar em pé com apoio; se apoiada, pular para cima e para baixo quando em
posição de pé; dar alguns passos sem apoio
Mãos + joelhos Balançar para trás e para a frente apoiada sobre mãos e joelhos; engatinhar.
CRIANÇA ENTRE 1 E 2 ANOS
Mãos + joelhos Engatinhar escada acima; engatinhar escadas abaixo com os pés em primeiro
lugar.
Sentada Passar da posição sentada para em pé; se sentar em cadeira pequena.
Em pé Subir em cadeira de adulto, virar-se e se sentar; caminhar de forma independente;
curvar-se na altura da cintura para apanhar objetos sem cair; empurrar e puxar
brinquedos enquanto anda; usar cavalo de balanço; subir escada com ajuda, ficar
de cócoras e volta a ficar em pé.
Mãos Colocar aros em um pino; tirar e colocar pinos grandes de uma prancha; construir
torre com 3 cubos; fazer rabisco com lápis de cera ou lápis; virar páginas de um
livro – várias folhas por vez; segurar o lápis em preensão radial; imitar movimento
circular.
(continua)
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(continuação do Quadro 1)
CRIANÇA ENTRE 2 E 3 ANOS
Mãos Virar trincos e maçanetas de portas; atirar bola para o adulto a um metro e meio
sem o adulto mover os pés; construir torre de cinco ou seis cubos; virar páginas
uma por vez; desembrulhar objetos pequeno; dobrar papel; separar e juntar
brinquedos que se completam de formas simples; desparafusar brinquedos de
encaixe.
Em pé Saltar sobre dois pés; saltar o último degrau da escada com um pé na frente do
outro; caminhar para trás; descer escadas com ajuda; dar pontapés em bolas
grandes.
CRIANÇA ENTRE 3 E 4 ANOS
Mãos Martelar pinos; juntar quebra-cabeças de três peças ou prancha de formas; cortar
com tesoura; agarrar bola com as duas mãos; usar moldes.
Em pé Pular de uma altura de 24 cm com os dois pés unidos; dar pontapé em bola grande
quando rolam para ela; andar na ponta dos pés; dar cambalhota para frente; subir
escada alternando os pés; andar de forma independente.
Sentada Pedalar triciclo; balançar no balanço quando este é posto em movimento; trepar e
escorregar para baixo em escorregador pequeno.
CRIANÇA ENTRE 4 E 5 ANOS
Em pé Ficar apoiada num pé só, sem ajuda por quatro ou cinco segundos; correr mudando
a direção; caminhar sobre tábua de equilíbrio; pular para a frente 10 vezes sem
cair; pular sobre fio a um palmo acima do chão; pular para trás; descer escadas
com pés alternados; pular sobre um dos pés cinco vezes.
Mãos Bater e agarrar bola grande; fazer formas de argila compostas por duas a três
partes; recortar curva; parafusar objeto rosqueado.
Sentada Pedalar triciclo virando esquina.
CRIANÇA ENTRE 5 E 6 ANOS
Em pé Caminhar sobre barra de equilíbrio para a frente, para trás e para o lado; saltar
rapidamente; subir degraus de escada íngreme; driblar bola com direção; pular
corda sozinha; patinar para a frente cerca de dois metros; caminhar ou brincar na
água até a cintura; pular e cair sobre a ponta dos pés; permanecer num pé só, sem
apoio, com olhos fechados, durante 10 segundos.
Sentada Balançar em balanço começando e sustentando movimento; andar de bicicleta.
Mãos Abrir bem os dedos tocando o polegar em cada dedo; bater com martelo em prego;
usar apontador de lápis; segurar bola macia ou saco com areia com uma das mãos;
bater na bola com bastão ou vareta; pegar objeto do chão enquanto corre; segurar-
se por alguns segundos a uma barra horizontal, sustentando o próprio peso nos
braços.
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TEMA 2 – DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM
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2.1 Produção da fala
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Quadro 2 – Principais aquisições de linguagem de acordo com a idade da criança
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Lobo Occipital (grafemas) Giro angular (fonemas) Área de Wernicke
(compreensão) Células Piramidais (Via córtico-nucleares) Motoneurônios
Musculatura da escrita (resposta).
Sabemos que a leitura não se inicia na sala de aula. Esse processo tem
início desde que a criança nasce, quando começa a ouvir os sons da língua falada
do meio em que vive; dependendo do repertório, terá maior ou menor facilidade
para o aprendizado da leitura e da escrita.
O pleno desenvolvimento motor e cognitivo é muito importante para que se
dê início ao trabalho com a alfabetização. Portanto, é preciso levar em conta que
a primeira infância é uma fase lúdica; a criança precisa brincar e desenvolver a
criatividade por meio de atividades livres e de descobertas.
Quando a criança ainda está na idade de educação infantil, é comum que
faça questionamentos e demonstre interesse pela leitura e pela escrita; no
entanto, cabe a nós lidar com essas situações, porque, afinal de contas, estamos
falando de crianças que devem e precisam viver suas infâncias.
Perceberemos que a criança estará pronta para aprender a ler e a escrever
quando alguns importantes pré-requisitos forem bem desenvolvidos, ou seja,
percepções que a criança aprende antes de ir para a escola, e que consegue
realizar enquanto ainda é bem pequena; são atividades que não dependem
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apenas da maturidade, mas também dos estímulos que receber do convívio com
outras pessoas; atividades que desenvolvam percepção do esquema corporal,
coordenação motora global e fina, orientação espacial e temporal, lateralidade e
discriminação auditiva e visual.
De acordo com Piaget (1975), essas são atividades sensório-motoras, que
acontecem até os dois anos de idade da criança, formando a base de todas as
outras aprendizagens que virão.
Devemos respeitar o fato de que cada criança tem seu tempo de aprender,
e não é diferente com a alfabetização. O importante é não “forçar a barra”, nem
tentar fazer o papel da escola. Não devemos esquecer que o mais importante
nessa fase é desenvolver a linguagem oral e, depois, a escrita.
A alfabetização da criança terá início a partir do momento em que lhe forem
apresentadas outras linguagens importantes para seu desenvolvimento motor, ou
seja, linguagens artísticas, como dança, canto, músicas, representações de
papéis, mímicas, jogo, atividades que estimulem o contato com o mundo social, a
capacidade de interação com o meio, e não somente a apresentação de palavras
e textos como objeto principal para alfabetizar. Diferentes expressões farão com
que a criança possa se sensibilizar com o que há ao seu redor, dando
oportunidades de formar diferentes visões de seu meio.
É importante salientar que a escola deve proporcionar às crianças um
ambiente com espaços que ajustem a manutenção dos relacionamentos
interpessoais, sem se preocupar em apresentar meras salas de aulas; os
ambientes devem ser alfabetizadores, sendo as crianças as protagonistas que os
compõem; assim, a escola será uma referência para leitura e escrita, promovendo
atividades que facilitarão, pelas mediações e intervenções, o manuseio de
recursos físicos para que a criança possa descobrir códigos da escrita, oralidade,
consciência crítica e capacidade de criar.
Antecipar o processo de alfabetização das crianças priorizando a aquisição
do código escrito pode se tornar um trabalho desestimulante para elas ao longo
da sua trajetória escolar. Em nosso estudo sobre a memória, compreendemos que
atividades lúdicas, o prazer e as emoções são facilitadores para a aprendizagem.
A família e a escola devem desejar crianças que saibam muito mais do que
ler e escrever. Portanto, cabe aos educadores a valorização de outras práticas
que possibilitem o protagonismo infantil, permitindo à criança um repertório rico
em imaginar e experimentar, respeitando seu ritmo de aprendizagem.
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A efetiva participação da família e da escola, com comprometimento e
atitudes maduras e responsáveis, com respeito e compreensão do tempo de
aprendizagem da criança, é indispensável para desenvolvê-la de maneira integral.
FINALIZANDO
LEITURA OBRIGATÓRIA
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Saiba mais
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REFERÊNCIAS
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