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Gabrielle Teixeira2
Joice Lechinski3
RESUMO
A escolha do tema que envolve a associação do Direito com a Religião Católica, foi
feita com o intuito de fazer um estudo sobre as colaborações e influências dogmáticas, tanto
as considerações positivas como negativas, para o Direito. O desenvolvimento deste trabalho
procura embasar-se nas características da parte histórica, englobando os assuntos acerca do
sistema inquisitório e o poder da igreja, até a descentralização da religião católica e o
fortalecimento da busca da justiça pelo Direito, até chegarmos ao Estado Laico.
Não é de forma alguma nossa intenção, provar a existência de Deus ou sua
inexistência, mas sim fazer uma retomada das ações da igreja cristã e seus dogmas religiosos
e questionar quais foram os fundamentos que levaram a se pensar sobre uma separação do
estado e religião. Tendo em vista as colocações acima, não há dúvidas de que este tema é
polêmico e nos traz certas indagações, as quais buscaremos esclarecer ao longo do trabalho,
através da metodologia dedutivo de cunho bibliográfico.
ABSTRACT
The choice of topic that involves the association of law with the Catholic Religion,
was made in order to make a study about the collaborations and dogmatic influences, the
positive and negative considerations for the law. The development of this work seeks to base
1
Acadêmica do segundo Semestre do Curso de Direito – Universidade de Cruz Alta - Unicruz.
E-mail: anninhageschwind@gmail.com
2
Acadêmica do segundo Semestre do Curso de Direito – Universidade de Cruz Alta - Unicruz.
E-mail: gabrielleteixeira@hotmail.com
3
Acadêmica do segundo Semestre do Curso de Direito – Universidade de Cruz Alta - Unicruz.
E-mail: joyce-lechinski@hotmail.com
4
Docente Universidade de Cruz alta – Unicruz , Doutoranda em Filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos - Unisinos, Bolsista CAPES.
E-mail: borbova@gmail.com
on the characteristics of the historical part, encompassing the issues about the inquisitorial
system and the power of the church, to the decentralization of the Catholic religion and the
strengthening of the search for justice by law, until we get to the Secular State.
It is not at all our intention to prove the existence of God or does not exist, but to make
a return of the shares of the Christian church and its religious dogmas and question what were
the reasons which led to think about a separation of state and religion. In view of the above
settings, there is no doubt that this issue is controversial and brings certain questions, which
seek to clarify throughout the work, through deductive methodology of bibliographic nature.
INTRODUÇÃO
As religiões e seus dogmas sempre estiveram presentes nas civilizações, desde a pré-
história aos dias atuais, e é irrefutável dizer que, de uma forma ou de outra, indireta ou
diretamente, a religião ou seus representantes sempre exerceram influências nas principais
decisões na história. Um exemplo disso seriam os reis, faraós, soberanos de todo um povo.
Este tinha o poder de decretar leis, de prestar justiça, de arrecadar impostos, de comandar
exércitos, etc.; tudo isso sustentado com a ideia de que tudo o que era dito por eles, era a
vontade expressa da Divindade.
Como citou Le Bret, um jurista francês em seu livro Tratado da Soberania do Rei
(1932), ao referir-se ao Catolicismo Medieval: “[...]o Rei recebeu seus poderes diretamente de
Deus e por isso eles devem ser ilimitados, suas ordens acatadas, mesmo quando forem
injustas” (LE BRET, 1980. História das Sociedades p. 33). Não só Le Bret, mas também
Jacques Bossuet faz uma citação em referência ao poder soberano aliado ao poder divino na
sua obra “Política Segundo a Sagrada Escritura”:
“[...] como não há poder público sem a vontade de Deus, todo o governo,
seja qual for sua origem, justo ou injusto, pacífico ou violento, é legítimo;
todo depositário da autoridade, seja qual for, é sagrado; revoltar-se contra ele
é cometer um sacrilégio” (BOSSUET, 1980. História das Sociedades p. 33).
Diante destas duas citações, fica claro que na monarquia absolutista, como nas
diversas monarquias, qualquer ação da igreja era considerada divina. Ninguém procurava
explicações acerca do porquê de estarem sendo condenadas ou por estarem sofrendo, a única
resposta que sempre obtinham era de que tudo era resultado da vontade de Deus. A religião e
seus dogmas foram responsáveis pelas primeiras impressões de moral e ética, porém, ela
construía uma moral baseada nos sagrados escritos, tudo o que estivesse fora dos escritos da
bíblia era tido como impróprio e de que a pessoa seria punida por Deus por seus atos
impróprios ou condenáveis. Algo interessante acerta deste ponto, sobre os Sagrados Escritos
era de que antigamente por volta do século XIV, nos monastérios poucas pessoas sabiam ler e
a bíblia não era disponibilizada a todos, os únicos que tinham acesso a ela eram poucos
monges.
Durante as missas e sermões eram contadas passagens da bíblia porém, da visão e
interpretação daquele que a contava, ou seja, eram seguidos passos de escritos que nem sequer
tinham contato, e na verdade muita das vezes, as palavras de Deus eram bem mais brandas em
relação ao que era dito ao povo. Por outro lado, para além dos dogmas haviam as relíquias,
que tinham como promessa a garantia de entrada no céu. Quem não pagasse taxas ou
penitências ficaria no purgatório eternamente. Também era possível pagar por entes já
falecidos, sendo que nada disso estava escrito na bíblia mas era repassado pelos padres como
se o fosse.
As civilizações antigas acreditavam que os legisladores não eram os autores das leis,
afirmando que as leis eram oriundas dos Deuses. Atendo-se ao fato de que legislador é quem
escreve a lei através de sua competência intelectual e a impõe aos outros. Tampouco a lei veio
do povo diretamente, ela vem de algo muito mais antigo e estável, das Crenças Antigas,
experiências positivas e negativas e da tradição. Como Edmond Faral observou:
Neste trecho, Faral deixa explícito a relação da religião cristã com a moral como algo
indissolúvel, portanto é difícil pensarmos em uma igreja dissociada do poder estatal, mas
ainda mais dos costumes sociais. A força e poder da religião e da fé (principalmente da igreja
Católica), vai ser realmente apresentada e provada por meio da inquisição. A primeira
inquisição de que se tem notícias, a que deu origem a todas as outras foi a Inquisição no
período medieval, fundada em 1184 no Languedoc, sul da França, para combater a heresia dos
cátaros ou albigenses. A Inquisição romana ou “Congregação da Sacra, Romana e Universal
Inquisição do Santo Ofício” existiu entre 1542 e 1965, e neste meio tempo de 400 anos,
houveram várias outras inquisições que lutavam por motivos diferentes.
É horrível pensar que por um motivo que deveria ser orgulho, tornava-se a sentença de
morte para alguns, sua própria religião. Não se podia professar sua fé, a não ser que ela fosse
de origem católica, sem ser condenado; não podia-se praticar seus ritos dentro de sua própria
casa, sem ser perseguido e queimado vivo (na melhor das hipóteses); e assim era o Tribunal
do Santo Ofício. Isso nos leva a pensar sobre todas as guerras e os milhares de pessoas que já
morreram por causa de uma religião, algo que supostamente deveria lhes trazer paz e
teoricamente a salvação eterna. Então porque não pensar em um estado Laico? Um estado
onde todos fossem livres para acreditar e orar para quem fosse, sem ser discriminados e ainda
sim pudessem ser amparados juridicamente de forma justa sem maiores classificações. Para a
época isso era uma loucura, algo que nem em sonhos era real, mas agora podemos ver que
isso foi possível graças a lutas de muitos.
No início O tribunal do Santo Ofício apenas perseguia aqueles que eram hereges
católicos que de alguma forma se corromperam ou negaram os dogmas, porém com o
aumento do poder, a inquisição tornou-se mais forte e essa perseguição estendeu-se para os
judeus, ateus, e todos aqueles que não aceitavam a religião católica, pois pelo fato de que não
havia uma constituição vigente na época, a lei era regulada com base na bíblia e seus dogmas
(Os chamados Regimentos inquisitoriais que eram a base do conjunto de normas que
orientava as práticas judiciárias da Igreja, e as poucas leis eram aquelas ditadas pelo Rei). A
partir do momento em que a igreja percebeu que seus fiéis estavam abandonando a mesma e
sua forma, ou continuando com suas crenças mesmo que isso os levasse a morte, a igreja
começou inclusive a intimidar os reis para que algo fosse feito em relação a isso.
A fim de cumprir os objetivos deste artigo, ele está subdividido em dois momentos: O
primeiro, As Influências Doutrinárias Históricas Para o Direito, onde objetivo do texto será
relatar as associações entre a Religião e o Direito, representando as Leis dos Homens e sua
importância, esclarecer quais foram as influências que a ação da igreja, no momento
inquisitório e de maior poder diante das civilizações antigas, para o Direito e formação do
Estado; e no segundo, a Separação entre Direito e Religião Para a Formação do Estado Laico,
Enfatizando os Termos de Laicidade na Constituição Federal de 1988, onde o principal
objetivo será estabelecer a separação do divino para com o Direito, permitindo assim a
existência de uma ordenação social não mais baseada em sua totalidade nos Sagrados Escritos
ou nos ideais religiosos, mas sim em critérios morais e éticos visando o bem comum,
indiferentemente das ordenações religiosas de cada indivíduo, mas deixando claro de que, em
momento algum, mesmo após a formação do Estado Laico, o Estado e a sociedade se
desvincula totalmente dos preceitos religiosos que cercam a história humana desde os
primórdios e nem força a perda dos costumes e rituais que a religião firmou. Portando a
conquista de uma constituição laica, seria uma vitória e celebração da maturidade do povo.
Voltaire não se refere especificamente ao Brasil, tanto que à época de seu pensamento
sobre laicidade nosso país nem trabalhava em cima de termos práticos, muito menos teóricos
para efetivação do Estado Laico. Atualmente o Brasil é um país em que o Estado é Laico, não
apenas no senso comum mas sim legalmente, pois é previsto por lei no Art. 5º incisos VI, VII
e VIII da Constituição Federal Brasileira de 1988, e por fim pode-se dar como exemplo a
citação do Advogado e escritor Alexandre de Moraes:
“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza
[...]
É importante frisar que, apesar de ter os direitos garantidos aos que praticam cultos religiosos,
os mesmos são garantidos a todos, aos ateus, etc. Mas mesmo com a teoricamente clara separação
da religião e Estado, há de se questionar sobre a questão simbólica predominantemente
presente de diversas formas em instituições e órgãos públicos. Um exemplo disso seria o uso
de crucifixos e outros assessórios religiosos em locais de acesso público, como ocorre no
Plenário do Nacional e do Supremo Tribunal Federal, onde crucifixos continuam expostos
mesmo após alguns questionamentos, algum dentre estes até mesmo judiciais.
Esta é uma questão cultural intrínseca a sociedade brasileira. Essa separação é prevista
de uma forma restrita, pois mantém de certa forma vedada à União, aos Estados e municípios
subvencionar, organizar ou tomar parte de parte religiosa, porém nada expressa sobre a
qualquer possibilidade (ou não) de relação, aliança e dependência com cultos e igrejas. Sendo
assim é natural que um país com miscigenação de povos e culturas possua a religião com
características presentes tão fortes e com isso é essencial garantir o direito de todos,
eliminando toda e qualquer forma de discriminação, tanto racial quanto religiosa. Um país que
é reconhecido mundialmente por sua ampla garantia de direitos ao povo, evidentemente
deveria adotar a laicidade a fim de diminuir as diferenças entre todos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Contudo fica claro que apesar de vivermos em um Estado amparado por uma
Constituição Federal, a qual garante como Direito Fundamental a liberdade religiosa e com
denominação de Estado Laico, existe amplamente difusa na cultura brasileira a prática
religiosa. Desde os primórdios a prática de cultos religiosos esteve presente nas sociedades, e
com o passar do tempo ela tornou-se uma forma de controle de disciplina entre seus
representantes. A cultura de enterrar seus semelhantes, respeitar os que faleceram e até na sua
organização é influenciado pela crença religiosa.
Isso, com o passar dos séculos tomou proporções gigantescas que pode ser visto
quando ocorreu a instituição da Inquisição (Tribunal do Santo Ofício), que surgiu devida a
perda de fiés da igreja católica para outras práticas religiosas, caracterizando um excessivo
pensamento na fé e esquecendo da razão.
Foi debatida a questão da presença religiosa aliada a razão por São Tomás de Aquino,
originando na chamada Filosofia da Religião Tomista. Essa filosofia tratava da religião como
algo de princípios morais de virtude, na qual deveria ser aliada ao caráter celestial de justiça.
Para ele, nenhum ato humano bom ou mau praticado poucas vezes irá caracterizar uma pessoa
como boa ou má em sua essência, isso se dará pela repetição e constituição de um vício. A
virtude seria o Ato bom e puro. Sendo assim caracteriza a religião como uma virtude moral
anexa a virtude moral da justiça. (AQUINO, Summa Theologiae “Suma Teológica” II-II,
1235-1273)
A inquisição caracterizou-se pelo fato da Igreja ter total poder jurídico, de julgar,
absolver e condenar os hereges, era a injustiça que predominava. Aqueles que não se
convertiam eram condenados e isso fez com que a sociedade se questionasse acerca dos seus
direitos, pois na antiguidade a Igreja considerava que não cabia ao homem a investigação do
crime. Com a busca pelos Direitos, foi possível, apesar da forte influencia religiosa,
conquistar e garantir direitos baseados na racionalidade e priorizando o bem comum
indiferente das crenças e praticas de cada indivíduo.
A conquista da laicidade pela Constituição Federal de 1988, com garantias nos direitos
fundamentais foi um marco muito importante. A partir dai, todos seriam tratados iguais pelas
entidades nacionais sem serem discriminados, agora não só pela sua cor, raça ou cultura, mas
também pelas suas crenças e práticas religiosas e além disso teriam seus direitos garantidos.
Mesmo não sendo expresso na constituição com as palavras “este estado é laico”, possuímos
diversas cláusulas que garantem a livre expressão da religião.
A forte presença dos símbolos e praticas religiosas dentro da cultura e cotidiano dos
brasileiros não exclui ou diminui em momento algum a laicidade do país, sendo que é vedada
a adoção e pratica religiosa por parte dos órgãos e entidades públicas, a fim de não
constranger ou discriminar a ninguém, pois é dever do Estado assegurar direitos e proteção
jurídica a todos, independente de sua raça, crença e religião.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
GIORDANI, Mário Curtis. História do Mundo Feudal. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 1997.
AQUINO, Rubim Santos Leão de; REZENDE, Clymene Vieira de; FRANCO, Denize de
Azevedo; LOPES, Oscar Guilherme. História das Sociedades. Rio de Janeiro, RJ: Editora
Ao Livro Técnico, 1980.
CHAUNU, Pierre. A Civilização da Europa das Luzes. Lisboa, Portugal: Editorial Estampa,
1985.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 30ª Edição. São Paulo, SP: Editora Atlas,
2014.
VOLTAIRE. Traité Sur La Tolérance. Paris, França. Tradução por NEVES, Paulo. Tratado
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PECORARO, Rossano. Filosofia da História. Rio de Janeiro, RJ. Editora Zahar: 2009