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9ª CÂMARA CÍVEL
REMESSA NECESSÁRIA Nº 0002922-23.2016.8.19.0010
RELATOR: DES. ADOLPHO ANDRADE MELLO

DIREITO ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.

SERVIDOR PÚBLICO. DEMISSÃO. PROCESSO

ADMINISTRATIVO. NECESSIDADE. CONTRADITÓRIO E AMPLA

DEFESA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. MANUTENÇÃO.

1. Mandado de segurança impetrado por servidora pública do

Município de Bom Jesus do Itabapoana, com o qual pretende haver

ordem que reconheça a nulidade do ato praticado pelo Presidente

da Câmara Municipal, o qual determinou a sua demissão do cargo

de agente administrativo.

2. Patentemente comprovada a existência do direito líquido e certo

do impetrante, considerando que, para a demissão de servidor de

cargo público, se impõem a instauração de prévio processo

administrativo, em que lhe seja assegurado o exercício pleno do

direito de defesa.

3. Ato acoimado de nulo, que apenas se referiu ao processo

instaurado no âmbito do Tribunal de Contas do Estado, o qual teria

considerado irregular a permanência da impetrante no serviço, não

tendo a administração municipal oportunizado a impetrante o

exercício do contraditório e da ampla defesa.

4. Sentença mantida em reexame necessário.

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ADOLPHO CORREA DE ANDRADE MELLO JUNIOR:15386 Assinado em 17/05/2017 13:54:40


Local: GAB. DES ADOLPHO CORREIA DE ANDRADE MELLO JUNIOR
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VISTOS, relatados e discutidos estes autos de remessa necessária,

em que é autora WALMA SILVA E SOUZA e réu o MUNICIPIO DE BOM JESUS DO

ITABAPOANA.

ACORDAM, por unanimidade de votos, os Desembargadores que

integram a Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em

manter a sentença em reexame necessário, pelas razões que seguem.

A hipótese é de mandado de segurança impetrado por servidora

pública do Município de Bom Jesus do Itabapoana, com o qual pretende haver ordem que

reconheça a nulidade do ato praticado pelo Presidente da Câmara Municipal, o qual

determinou a sua demissão do cargo de agente administrativo da referida Casa Legislativa.

O ato recorrido, reconhecendo a nulidade do processo

administrativo disciplinar no qual foi aplicada a punição à impetrante, por não observadas

as garantias constitucionais da ampla defesa e do contraditório, concedeu a ordem

postulada.

Sem a interposição de recurso vieram os autos em remessa

necessária.

Parecer do Ministério Público às fls. 107/111, no qual a douta

Procuradora de Justiça oficia pela manutenção da sentença reexame necessário

É o RELATÓRIO.

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A hipótese é de mandado de segurança impetrado por servidora da

Câmara Municipal de Bom Jesus do Itabapoana, com o qual pretende a anulação do ato

administrativo praticado pelo Presidente da Casa Legislativa e que determinou a sua

demissão do cargo de agente administrativo, ao argumento de não ter sido respeitado o

devido processo legal.

Em se tratando de mandado de segurança há de se verificar logo

de início se se encontra patentemente comprovada a existência ou não do direito líquido e

certo do impetrante, e, no caso presente, este se vê evidente, considerando que, para a

demissão de servidor de cargo público, se impõem a instauração de prévio processo

administrativo, em que lhe seja assegurado o exercício pleno do direito de defesa.

O ato administrativo acoimado de nulo, apenas se referiu ao

processo instaurado no âmbito do Tribunal de Contas do Estado, o qual teria considerado

irregular a permanência da impetrante no serviço, não tendo a administração municipal

oportunizado a impetrante o exercício do contraditório e da ampla defesa.

Destarte, mesmo que se de fato a impetrante se encontrasse em

situação irregular, a ela não poderia ser negada a garantia do contraditório e da ampla

defesa, nos termos do artigo 5º, LV, da Constituição da República.

Veja-se neste sentido:

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ATO ADMINISTRATIVO - REPERCUSSÕES - PRESUNÇÃO DE

LEGITIMIDADE - SITUAÇÃO CONSTITUIDA - INTERESSES

CONTRAPOSTOS - ANULAÇÃO - CONTRADITORIO. Tratando-se

da anulação de ato administrativo cuja formalização haja

repercutido no campo de interesses individuais, a anulação não

prescinde da observância do contraditório, ou seja, da instauração

de processo administrativo que enseje a audição daqueles que

terão modificada situação já alcançada. Presunção de legitimidade

do ato administrativo praticado, que não pode ser afastada

unilateralmente, porque e comum a Administração e ao particular.

(RE 158543, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma,

julgado em 30/08/1994, DJ 06-10-1995 PP-33135 EMENT VOL-

01803-04 PP-00767 RTJ VOL-00156-03 PP-01042)

ADMINISTRATIVO. EX-SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL. ATO

DE DEMISSÃO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR.

AMPLA DEFESA. ILEGALIDADE. INEXISTÊNCIA.

- Para a demissão de servidor de cargo público, impõe sejam

observados requisitos formais e de conteúdo por parte da

Administração, como a instauração de prévio processo

administrativo em que lhe seja assegurado o exercício pleno do

direito de defesa.

- Tendo sido o impetrante demitido em razão de abandono de

cargo, falta comprovada através dos documentos juntados ao

processo administrativo regularmente instaurado e para o qual foi

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citado o impetrante, inexiste direito a ser amparado pela via do

mandamus.

- Recurso ordinário desprovido.

(RMS 12.807/RJ, Rel. Ministro VICENTE LEAL, SEXTA TURMA,

julgado em 20/02/2003, DJ 24/03/2003, p. 282)

À conta do acima, confirma-se a sentença em reexame necessário.

Rio de Janeiro, 16 de maio de 2017.

DES. ADOLPHO ANDRADE MELLO

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