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Ciência,
Tecnologia
e Inovação:
PolíticaS & Leis
Fabiana de Menezes Soares
Thaís de Bessa Gontijo de Oliveira
Paula Carolina de Oliveira Azevedo da Mata
(Organizadoras)
Ciência,
Tecnologia
e Inovação:
PolíticaS & Leis
Florianópolis
2019
prefácio 2
Ciência, Tecnologia e Inovação: Políticas & Leis
1ª Edição 2019
prefácio 7
Fabiana de Menezes Soares
Thaís de Bessa Gontijo de Oliveira
Paula Carolina de Oliveira Azevedo da Mata
A PROTEÇÃO INTEGRAL DE
CRIANÇAS E ADOLESCENTES:
desafios jurídicos de uma
sociedade hiperconectada
1
Doutor em Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pro-
fessor Adjunto do Departamento de Direito Privado da Faculdade de Direito
da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e do Corpo Permanente do
Programa de Pós-Graduação Estrito Senso em Direito e Inovação da Faculda-
de de Direito da UFJF. E-mail: smcnegri@yahoo.com
2
Doutoranda em Direito Civil na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). E-mail: elorafernandes@live.com
3
Mestranda em Direito e Inovação da Faculdade de Direito da Universidade
Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: mariareginadcr@gmail.com
283
adolescentes e consequentes violações à sua proteção integral têm
sido tratadas no judiciário brasileiro, decidiu-se por empreender um
estudo empírico-qualitativo de caso único, a partir das técnicas de-
senvolvidas por Robert Yin e das regras de inferência para pesquisa
empírica, de Lee Epstein e Gary King. Como marco teórico, adota-se o
conceito de privacidade, de Stefano Rodotà, e, complementarmente, a
interpretação ontológica da privacidade informacional, formulada por
Luciano Floridi. Conclui-se a investigação ao se corroborar a hipótese
inicial de que os novos desafios jurídicos aventados pelas mudanças
na área de CT&I, relativamente à proteção de dados de crianças e ado-
lescentes e sua proteção integral, têm demonstrado o despreparo dos
atores institucionais para lidar com essas transformações, o que acaba
por possibilitar violações de direitos por parte de atores privados.
Palavras-chave: Privacidade. Princípio da Proteção Integral. Crianças e
Adolescentes. Novas Tecnologias. Judiciário.
3 METODOLOGIA
A metodologia adotada pelo presente trabalho é a metodologia empíri-
ca. Segundo Epstein e King (2013, p. 11), o que torna uma pesquisa empíri-
ca é o seu embasamento em observações sobre o mundo, que servirão como
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Segundo Epstein e King (2013, p. 36), mais do que um resumo dos dados coletados, utilizado
para traduzir ou sintetizar informações a fim de que os pesquisadores possam dar sentido a
elas, as inferências são o “processo de utilizar os fatos que conhecemos para aprender sobre os
fatos que desconhecemos”.
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Cabe mencionar que a tentativa de enfrentamento desses desafios através do judiciário não é
única. Destaque-se para o recente ajuizamento de Ação Civil Pública pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo em desfavor da Google, por provocação do Instituto Alana, para denunciar
práticas de publicidade velada voltada ao público infantil, em vista dos youtubers mirins que
promovem produtos recebidos por empresas, inclusive nas práticas de “unboxing”, na qual um
novo produto é desembalado. Interessante distinguir que os pedidos formulados nesta ação
são de exclusão dos vídeos denunciados e desmonetização das visualizações, na vertente pre-
ventiva (ORTEGA, MATOS, 2019).
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A Recomendação nº. 45/2018 do MPF determinou à Google que: a) suspendesse imediata-
mente a veiculação dos vídeos discriminados no despacho (URLs); b) disponibilizasse aviso na
página inicial do YouTube ou em todos os vídeos postados na citada plataforma ou em qualquer
plataforma de vídeos gerenciada pela Google no sentido de que é proibida/abusiva a veicula-
ção de promoção de produtos e/ou serviços com participação e crianças; c) incluísse um item
relativo à proibição/abusividade da veiculação de promoção de produtos e/ou serviços com
participação de crianças na página em que os usuários podem acessar a ferramenta de denúncia
de conteúdo impróprio no YouTube. O pedido disposto na alínea “a” não foi reiterado na Ação
Civil Pública.
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Da mesma forma, a empresa proíbe vídeos com conteúdo de violência sexual utilizando-se
de bloqueios do conteúdo e disponibilizando a ferramenta de denúncia, uma vez que isso é
proibido por lei. Apesar de a publicidade infantil também ser proibida no Brasil, o mesmo com-
portamento não é verificado pela Google, muito talvez devido aos lucros auferidos por essas
práticas, de maneira que pode ser verificado uma escolha daquilo que é proibido por lei versus
aquilo que é de interesse da empresa.
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Nesse sentido, CORREA (2016) apresenta um mapeamento dos 100 canais de maior audiência
do YouTube, em que 48 eram direcionados a crianças e adolescentes. Além disso, dos 230 canais
analisados pelo mapeamento, os 110 infantis somavam quase 50 bilhões de visualizações, con-
tra pouco mais de 2 bilhões dos 120 canais restantes.
4.3 A União
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De acordo com as Diretrizes da Comunidade do YouTube, são vídeos que apresentem nudez
ou conteúdo sexual, violento ou explícito, nocivo ou perigoso, de incitação ao ódio, ameaças,
spam, metadados enganosos ou golpes. Como se pode verificar neste rol, podem ser excluídos
sem ordem judicial vídeos que nem chegam a ser ilegais, como o spam.
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