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Será que realmente necessitamos de um

iPad 3 quando a sensação é a de que o iPad 2 foi


lançado há apenas alguns meses? Era realmente
necessário que o Google nos desse o Google+? Os
celulares realmente precisam ser "smart", dado
que os convencionais funcionam perfeitamente?
Aproveitando o ensejo, é realmente necessário
que qualquer pessoa no planeta seja
instantaneamente alcançável por meio de um
videofone que funciona com internet sem fio?
A resposta para cada um destas perguntas é
não. Nenhuma inovação é absolutamente
necessária. Com efeito, o telefone, o avião, o
motor de combustão interna, a eletricidade, as
ferrovias — nada disso é absolutamente
necessário. Poderíamos livremente ter optado
por viver em um estado natural no qual a maioria
das crianças morre durante o parto — aquelas
que não morrem, vivem apenas poucas décadas
— e a "medicina" consiste apenas na amputação
de membros. E isto se você for sortudo o
bastante para encontrar uma ferramenta capaz de
efetuar a façanha.
É verdade que aquelas pessoas que
deploram o ritmo da inovação tecnológica não
estão realmente ávidas para voltar à idade da
pedra. Elas estão apenas cansadas de ser
constantemente pressionadas, impelidas,
intimidadas, atormentadas, atazanadas — ao
menos, é assim que elas se sentem — a aprender
coisas novas, a adquirir novas engenhocas, a se
manter atualizadas sobre tudo e a estar sempre
comprando os últimos lançamentos.
Ano passado, uma pesquisa da Underwriters
Laboratories [organização privada americana que
faz a certificação de produtos] revelou que a
metade dos consumidores "sente que os
fabricantes de alta tecnologia criam novos
produtos mais rapidamente do que as pessoas
precisam deles". Há várias preocupações, como
privacidade, segurança, finanças e afins, mas,
acima de tudo, creio que o que está por trás de tal
relato é um tipo mais rudimentar de desconforto.
Ter de aprender coisas novas pode ser um
incômodo. As pessoas têm a sensação de que
estavam lidando muito bem com a tecnologia dos
últimos, logo por que se dar ao trabalho de se
atualizar e começar tudo de novo? Elas
imaginam que essa contínua busca pelo novo
implicitamente significa estar atacando o estilo
de vida atual ou o antigo.
Percebo isso sempre que converso com as
pessoas sobre as mais recentes tecnologias. A
primeira reação delas é sempre a mesma: "Não,
obrigado. Já estou farto de todos estes modismos
técnicos e de todo este fanatismo da era digital.
O que foi que aconteceu com aquele mundo em
que as pessoas praticavam um autêntico contato
humano, admiravam a beleza das criações de
Deus e desenvolviam relações genuínas em vez de
virtuais?"
Todos nós já ouvimos, de um jeito ou de
outro, alguma versão desta mesma reclamação.
Portanto, sejamos claros aqui: não há nada de
moralmente errado em não se adotar os últimos
lançamentos tecnológicos. Ninguém obriga
ninguém a comprar um smartphone, um
computador mais rápido, um leitor de livros
digitais mais pomposo ou qualquer outra
engenhoca. Não há nenhuma arma apontada
para a cabeça de ninguém. Atualizações
tecnológicas são uma extensão da escolha
humana — podemos abraçá-las ou rejeitá-las.
E cada indivíduo possui um temperamento
específico. Algumas pessoas adoram a última
novidade ao passo que outras resistem ao
máximo em sequer se inteirar a respeito. Há os
primeiros a adotar o último lançamento, há os
adotantes tardios e há os dissidentes que
resolutamente preferem se manter
desatualizados.
Recentemente, conversei com uma pessoa
cuja irmã já mais velha se recusa a ter um
computador, um endereço de email e até mesmo
um celular. Sim, tais pessoas existem. Quando
as outras irmãs querem entrar em contato com
ela, ou elas telefonam para uma linha fixa ou
escrevem uma carta, colam um selo e enviam
pelos correios. Não há nenhum
compartilhamento de fotos, nenhum vídeo pelo
Skype e nenhuma atualização sobre eventos
recentes. Todas as outras pessoas da família são
extremamente próximas umas das outras daquela
maneira que apenas a tecnologia digital permite,
mas esta pessoa específica é a forasteira, a
discrepante, alheia a todas as experiências diárias
de seus familiares.
Perguntei então se esta pessoa se sente
isolada. A resposta: sim, e ela se sente muito
infeliz em relação a isso. Ele reclama que as
pessoas não viajam longas distâncias para ir
visitá-la frequentemente. Elas não telefonem
rotineiramente. E ela não está podendo
acompanhar o crescimento dos netos. Ela tem a
constante sensação de que está por fora de tudo,
e isso a deprime.
Exatamente. Esta pessoa não está nada feliz
com sua própria escolha. A questão é que, para
ela, fazer esta escolha parecia ser mais fácil do
que ter de aprender coisas novas e comprar coisas
novas. Sendo assim, ela dá a desculpa de que sua
decisão foi na verdade uma postura íntegra
contra a digitalização do mundo.
Minha experiência me diz que estas pessoas
não têm a mínima ideia do inconveniente que
elas representam para os outros. Com efeito,
diria que elas estão próximas de serem rudes.
Não é nada imoral, enfatizo, mas certamente é
algo irritante e importuno. Em vez de enviarem
um email, ou escreverem no Facebook ou
clicarem em um botão do Skype, os membros da
família têm de escrever por extenso em um papel,
colocá-lo dentro de um envelope, ir até uma
agência dos correios, comprar um selo e esperar
uma semana, ou duas ou três até terem notícias
de volta.
É uma enorme maluquice. As pessoas se
prestam a fazer isso durante algum tempo, mas
inevitavelmente chega o momento em que elas se
cansam dessa trabalheira toda e simplesmente
desistem. Ato contínuo, a pessoa do outro lado
fica irritada, lamuriosa e começa a se queixar de
que está sendo ignorada por todos. Mas esta foi
exatamente a escolha dela! Trata-se de uma
consequência direta de ter se recusado a aderir ao
mundo moderno.
E há também aqueles adotantes tardios que
se orgulham de não ter se entregado às mais
recentes engenhocas. Eles se imaginam acima de
todos os modismos, totalmente imunes, mais
espertos e mais prudentes que todo o resto. Mas
há um motivo de eles serem chamados de
"tardios". Com o tempo, eles finalmente se
rendem. Afinal, aqueles que resistem às novas
tecnologias estão simplesmente se isolando do
próprio curso da vida.
Uma confissão: eu também já estive entre os
adotantes tardios. Eu soberbamente desprezava
os entusiastas da tecnologia. Cheguei a escrever
uma crítica altamente negativa ao provocante
livro The Future and Its Enemies (1999), de
Virginia Postrel, que, no final, mostrou que havia
enxergado aquilo que eu não havia conseguido
ver. À medida que a revolução digital foi
avançando cada vez mais, comecei a observar o
óbvio: ser um adotante tardio não me trazia
absolutamente nenhum benefício. Ser um
adotante tardio significava apenas pagar um
preço mais alto na forma de oportunidades
abdicadas. Se algo será extremamente útil
amanhã, são enormes as chances de ele ser
altamente útil hoje, também. Demorei bastante
para aprender esta lição.
Mas quando finalmente aprendi, meus
temores, minhas desculpas, minhas rasas
argumentações e meu estranho esnobismo anti-
tecnológico desapareceram por completo.
Para realmente se aproveitar a vida, para se
retirar dela o máximo proveito, é necessário
abraçar o novo sem nenhum medo. Isso significa
entender que temos mais recursos mentais e
emocionais para aceitar novos desafios. Sempre
que conseguimos mobilizar estes recursos e
encarar estes desafios com coragem e convicção,
descobrimos que nossas vidas se tornam mais
gratificantes e jubilosas.
O maior dentre todos os mitos que ainda
perduram é este de que a era digital reduziu o
contato humano. Muito pelo contrário: ela o
expandiu enormemente. Hoje, podemos manter
contato com qualquer pessoa em qualquer lugar
do mundo. Fazemos novas amizades em uma
fração do tempo. Aquela sensação de isolamento
que muitos sentiam está se evaporando
diariamente. Apenas pense: podemos nos mudar
para uma nova região ou para um novo país e
rapidamente nos descobrirmos cercados por
pessoas que compartilham nossos mesmos
interesses e gostos, e tudo em uma ínfima fração
do tempo que levaríamos outrora.
Como resultado, as mídias digitais deixaram
o mundo mais social, mais cativante e mais
conectado com tudo e todos como jamais se viu
na história da humanidade. E não estamos
falando de um mundo tenebroso típico daquelas
histórias de ficção científica em que as máquinas
nos controlam; em nossa realidade, são as
máquinas que nos servem e são elas que nos
permitem viver de maneira melhor e mais
confortável do que jamais vivemos. Por meio da
tecnologia, bilhões foram libertados de um
estado de existência estático e passaram a
vislumbrar novas esperanças e possibilidades
mais promissoras.
No século XIX, as pessoas adoravam a
tecnologia. A Feira Mundial era o mais reluzente
e mais sensacional evento que ocorria ao longo
das décadas. Todos queriam celebrar os
empreendedores responsáveis por tudo aquilo.
Todos entendiam que a tecnologia só é bem
sucedida porque nós, como seres humanos,
optamos que assim o fosse, e fizemos isso por um
motivo: ela é o meio mais apropriado e mais
conveniente para auxiliar nossa constante busca
por uma vida melhor.
Talvez esta sensação de otimismo tenha
sido ofuscada, e até mesmo alterada, em
decorrência de os governos terem utilizado a
tecnologia para confeccionar a bomba nuclear.
Na Segunda Guerra Mundial, vimos a tecnologia
ser utilizada para homicídios em massa e para
apavorantes consumações de maldade humana
como nunca antes na história. Logo em seguida,
adentramos um período de quase 50 anos
durante o qual o mundo ficou congelado de
medo em relação aos possíveis novos usos da
tecnologia. Tal período não foi chamado de
Guerra Fria à toa. Quanto ele finalmente
terminou, o mundo se abriu e assim pudemos
voltar novamente nossas energias para a
tecnologia que serve às pessoas, e não para a
tecnologia que mata pessoas.
O genuíno "dividendo da paz" é este que
você está segurando em suas mãos. É o seu
smartphone. É o seu leitor de livros digitais. São
os filmes que você baixa, as músicas que você
descobriu, os livros que você pode ler, as novas
amizades que você fez, a incrível explosão de
prosperidade global que nos contemplou durante
estes últimos 10 anos. Tudo isto é a tecnologia a
serviço do bem-estar da humanidade.
Portanto, para concluir: não, nós não somos
oprimidos pela tecnologia. Podemos abraçá-la ou
rejeitá-la. Voluntariamente. Quando optamos
por abraçá-la, descobrimos que ela torna mais
brilhante não apenas todo mundo ao nosso redor,
mas também nossas vidas particulares. A
tecnologia não é algo a ser deplorado, jamais.
Somos incrivelmente afortunados por viver nesta
nossa época. Minha sugestão: experimente se
tornar um adotante primário e veja como a sua
vida irá melhorar.

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