Você está na página 1de 17

Operações Bancárias e Interbancárias 5

4. Fundamentação teórica
4.1. Operações Bancárias e Interbancárias

4.1.1. Banco

Bancos, numa abordagem mais explícita, para MARTINS (1990, p. 497), por sua
vez, são “empresas comerciais que têm por finalidade realizar a mobilização do crédito,
principalmente mediante o recebimento, em depósito, de capitais de terceiro, e o
empréstimo de importâncias, em seu próprio nome, aos que necessitam de capital”.
Em uma contrapartida, também lógica, ABRÃO, (2010, p. 51), refere que bancos
são “empresas comerciais, cujo objectivo principal consiste na intromissão entre os que
dispõem de capitais e os que precisam obtê-los, isto é, em receber e concentrar capitais
para, sistematicamente, distribuí-los por meio de operações de crédito”.
Porém, ainda segundo o ABRÃO (2010, p. 51), “o banco é o estabelecimento
comercial que recolhe os capitais para distribuí-los sistematicamente com operações de
crédito”.

4.1.1.1. Actuação dos bancos

Os bancos captam recursos financeiros para distribuí-los sistematicamente com


operações de crédito, porém, sobre a sua actuação, RIZZARDO (2003, p. 16-17) refere que
“O banco promove a industrialização do crédito, o favorecimento da circulação de riquezas
e enseja as condições de consolidação das poupanças individuais. [...] No tocante à
actividade creditícia, age com recursos próprios e de terceiros, corporificados os últimos
através de depósitos e conseguidos em função da confiança do público. Promove, ainda, o
banco, a colecta das poupanças individuais e transforma-as em recursos de giro”.
Portanto, os bancos devem oferecer muita confiança aos seus clientes de modo a
garantir a prossecução da sua tarefa com sucesso, pois, não é fácil recolher fundos
monetários das pessoas de forma a guardá-los, sem que espelhe alguma garantia e
confiança, dum lado e, uma segurança e algum tipo de poder sobre as pessoas que são
concedidas financiamentos bancários.
Operações Bancárias e Interbancárias 6

Para MARTINS (1990, p. 485), os bancos praticam actos de intermediação, todavia


não servem de meros intermediadores entre aqueles que têm e aqueles que necessitam do
crédito, uma vez que agem em seu próprio nome, tomando recursos de terceiros ou os
disponibilizando a quem necessita na condição de devedores ou credores e, portanto, como
mobilizadores do crédito.
O objecto da actividade bancária, nestas condições, é o crédito, fazendo dos bancos
empresários do crédito, na medida em que actuam na colecta, intermediação/mobilização e
aplicação de recursos financeiros, sua principal actividade.
Além desta actividade, os bancos realizam uma série de operações consideradas
acessórias, almejando sempre viabilizar a principal, antes mencionada.

4.1.1.2. Classificação dos bancos

A classificação mais ajustada aos bancos levada em consideração ate aos tempos
actuais leva em conta o objecto, a actividade desempenhada, as operações praticadas pelos
bancos, muito embora ABRÃO (2010, p. 55) alerte que tal distinção está desaparecendo a
partir da configuração do banco universal, que realiza todas as espécies de operações
bancárias, sem especialização.
Segundo tal critério, os bancos se dividem em bancos de emissão, bancos
comerciais ou de depósito, bancos de investimento, bancos de crédito real, bancos de
crédito industrial e bancos de crédito agrícola.

⇒Bancos de Emissão – São os chamados bancos dos bancos. Entre nós assume tal con-
dição o Banco de Moçambique, que, segundo visto, pratica operações bancárias
exclusivamente com instituições financeiras, tendo como tarefa privativa emitir moeda-
papel e moeda-metálica.

⇒Bancos Comerciais ou de Depósito – São instituições de crédito caracterizadas pela


captação de recursos por meio de depósitos pecuniários, e pela concessão de crédito
mediante operações activas de curto, médio e longo prazos, podendo estas ser de carácter
Operações Bancárias e Interbancárias 7

comercial (letras) ou financeiro (relação cliente/banco); realizam ainda a prestação de


serviços auxiliares, como as garantias bancárias, a venda de moeda, pagamentos periódicos,
guarda de valores e custódia de títulos.
Tais bancos precisam se constituir sob a forma de sociedade anónima e ter na sua
denominação a expressão “banco”.

⇒Bancos de Investimento – Segundo definição do Banco de Moçambique, os bancos de


investimento são instituições financeiras privadas, especializadas em operações de
participação societária de carácter temporário, de financiamento da actividade produtiva
para suprimento de capital fixo e de giro e de administração de recursos de terceiros.

Devem ser constituídos sob a forma de sociedade anónima e adoptar,


obrigatoriamente, em sua denominação social, a expressão “Banco de Investimento”. Não
possuem contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos
externos, internos e venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. As
principais operações activas são financiamento de capital de giro e capital fixo, subscrição
ou aquisição de títulos e valores mobiliários, depósitos interfinanceiros e repasses de
empréstimos externos.

⇒Bancos de Crédito Real – São os bancos hipotecários que realizam a concessão de


crédito a prazo, mediante garantia real incidente sobre bens imóveis.

⇒Bancos de Crédito Industrial – Bancos que tem por escopo auxiliar a indústria nacional
por meio da concessão de empréstimos a longo prazo para a respectiva actividade.

⇒Bancos Agrícolas – Se identificam pela concessão de crédito para a actividade agrícola,


financiando o produtor, seja na lavoura, seja na pecuária, com fins à aquisição de insumos
ou mesmo máquinas agrícolas e utensílios, mediante garantia real hipotecária ou
pignoratícia.
Operações Bancárias e Interbancárias 8

4.1.2. Operações bancárias

As operações bancárias são as actividades negociais desempenhadas pelos bancos em


relação a seus clientes.
Em função deste pensamento, ABRÃO (2010, p. 84) comenta que, “Colimando a
realização de seu objecto, os bancos desempenham, em relação a seus clientes, uma série de
actividades negociais, que tomam o nome técnico de operações bancárias”.
As operações bancárias, se enquadram como actividade profissional económica
organizada para a prestação de serviços às pessoas singulares e/ou colectivas, por parte dos
bancos.
Assim, nas operações bancárias dois aspectos podem ser mencionados: o económico
(economicamente as operações bancárias envolvem uma prestação de serviços no sector
creditício que redunda em proveito tanto do banco quanto do cliente) e o jurídico
(juridicamente, o aperfeiçoamento das operações bancárias depende de um acordo de
vontades entre cliente e banco, contrato – acordo de vontades para criar, regular ou
extinguir uma relação jurídica que tenha por objecto a intermediação/mobilização do
crédito –, pelo que se inserem no campo contratual).

4.1.2.1. Características de operações bancárias

Tomando como base, o conceito de operação bancária trabalhado, podem ser


extraídas várias características que a seguir são apontadas RIZZARDO (2003, p. 16-18).

⇒A primeira das características verificada é a peculiaridade. Considerando que o objecto


da operação bancária é o crédito, nela sempre está envolvido dinheiro, servindo elas para a
promoção da circulação da riqueza.

⇒As operações bancárias são realizadas em grande escala, de maneira homogénea e não
isolada. Mediante isso é que os bancos têm a possibilidade de lucro, objectivo perseguido
por todo empresário.
Operações Bancárias e Interbancárias 9

⇒É actividade em série, de massa, com número indeterminado de pessoas, segundo tipos


negociais padronizados, obedecendo às normas bancárias uniformes.

⇒Nelas a complexidade é inerente, com novas relações jurídicas entre bancos e clientes
surgindo a todo instante, até para acompanhar o ritmo do mundo dos negócios.

⇒A profissionalidade é outra das características observadas com relação às operações


bancárias, sobressaindo-se a organização e a habitualidade como elementos fundamentais,
no sentido da prática reiterada de actos e negócios. O banco actua na
intermediação/mobilização do crédito como profissão.

⇒Por fim, importa mencionar a empresariedade como característica inerente às operações


bancárias, uma vez que o banqueiro é considerado empresário do crédito, intermediando,
com habitualidade e na persecução do lucro, caracteres típicos de empresa, qual seja, o
crédito a quem dele necessita.

4.1.2.2. Classificação de operações bancárias

Uma classificação mais exaustiva a ser considerada parte da importância do acto


praticado. Segundo tal critério, as operações bancárias podem ser classificadas em
essenciais, fundamentais e acessórias ABRÃO (2010, p. 91-94).

⇒Operações essenciais ou fundamentais – Compreendem a intermediação/mobilização do


crédito, ou seja, recolhimento de dinheiro de uns e concessão a outros – principal actividade
dos bancos.
Estas operações dividem-se em passivas e activas. Nas primeiras, o banco se torna
devedor do cliente enquanto que nas segundas, o banco se torna credor.

Pelas operações essenciais passivas o banco realiza a captação de recursos


financeiros, a exemplo do que ocorre nas operações de depósito, conta corrente e o
redesconto.
Operações Bancárias e Interbancárias 10

Nas operações essenciais activas, de outra feita, o banco se torna credor do cliente,
uma vez que distribui e emprega a favor deste, os recursos que obteve nas operações
passivas, concedendo empréstimos, financiamentos, abertura de crédito, realizando
desconto, antecipação de valores, etc.

⇒Operações acessórias – São aquelas que não implicam nem na concessão de crédito, nem
no recebimento de dinheiro. Têm carácter de prestação de serviços secundários, disponibi-
lizados a fim de chamar a clientela.

Os exemplos mais comuns de operações acessórias que podem ser mencionados são
a custódia de valores, cofres de segurança, cobrança de títulos, etc.

4.1.2.3. Tipos ou espécies de operações bancárias

As operações bancárias são das mais variadas espécies, segundo o objecto almejado,
conforme será visto a seguir.

4.1.2.3.1. Depósito bancário

O depósito bancário consiste em operação passiva dos bancos, quando o banco


aparece como depositário e o cliente como depositante.
Trata-se de operação passiva porque nela o banco depositário, que recebe valores
em depósito efectuado pelo cliente depositante, se obriga a restituí-los quando solicitado
por este.
O COELHO (2007, p. 128), referindo que a operação de depósito bancário é o mais
comum dos contratos bancários, o conceitua como “contrato pelo qual uma pessoa
(depositante) entrega valores monetários ao banco, que se obriga a restituí-los quando
solicitados.”
O objectivo do depósito bancário, sob a óptica do cliente, é a guarda ou custódia de
seu dinheiro, o investimento, com a percepção de frutos como juros e correcção monetária,
Operações Bancárias e Interbancárias 11

e a disponibilidade pela criação da moeda escritural ou bancária (lançamento que o banco


faz a crédito e o saldo credor).

⇒Características
É contrato real, unilateral, oneroso ou gratuito, ABRÃO (2010, p. 150-151).

Real, porque só se aperfeiçoa com a entrega do dinheiro ao banco, a partir do que se


iniciam os efeitos do contrato, quais sejam, a transferência da propriedade do dinheiro ao
banco e a obrigação dele de restituir.
Unilateral, na medida em que gera obrigações apenas para o banco, depositário dos
valores. O banco deve restituir o dinheiro quando solicitado, observadas as condições
estabelecidas.
É operação que pode se revestir de onerosidade ou não, conforme haja ou não
pagamento de juros e outros benefícios para o depositante.

⇒Modalidades
As diferentes modalidades de depósito bancário se estabelecem conforme o objectivo, a
forma e a titularidade da operação.

Quanto ao objectivo (escopo económico visado pelo depositante), o depósito


bancário é considerado à vista, a prazo e de poupança.
No depósito à vista o depositante pode efectuar o saque dos valores depositados a
qualquer tempo. No depósito a prazo, o depositante só saca depois de um determinado
prazo, levando ele ao direito de receber uma remuneração em juros e correcção monetária
e, no depósito de poupança, sistema de captação de recursos populares, a cada 30 dias são
creditados juros e correcção monetária.
Considerada a forma do depósito bancário, tem-se que ele pode ser simples, quando
representado por uma única operação de ingresso e retirada, cabível somente no “a prazo”,
ou de movimento, que permite o fluxo contínuo de ingresso e retirada mediante ordens de
pagamento emitidas ou cheques.
Operações Bancárias e Interbancárias 12

Finalmente, quanto à titularidade, o depósito pode ser individual e conjunto,


podendo neste ser simples, quando cada titular tem sua cota, ou solidário, quando os
titulares podem fazer retiradas sozinhos de todo o valor.

4.1.2.3.2. Conta corrente bancária

A conta corrente bancária é a operação pela qual o banco, assumindo o serviço de


caixa do cliente, se obriga, numa espécie de mandato de conteúdo indeterminado, ao
cumprimento de actos e negócios jurídicos solicitados pelo correntista.
Para tanto o cliente, correntista, deve prestar os fundos necessários por meio de
depósitos dele ou de terceiros em seu favor, ou pelas operações activas que o banco realiza
em seu benefício, como cobrança de valores.
A movimentação da conta ocorre mediante o serviço de caixa colocado pelo banco à
disposição do cliente, podendo este movimentar a conta de várias formas, alimentando-a,
conforme mencionado, ou realizando o seu desfrute pelo pagamento de cheques emitidos
ou por saque com cartão em caixas electrónicos ou autorizados.
Comenta RIZZARDO (2003, p. 28-29) que a conta corrente bancária se presta a
confusões com o depósito bancário, antes estudado, e esclarece que:

Acontece, no entanto, que depósito envolve custódia, guarda, protecção, enquanto


a conta corrente nada mais representa que os lançamentos de todas as
movimentações, ou extractos das movimentações, desde as retiradas até as novas
entradas, ordens de pagamento, transferências etc. Através desta, executa o banco
o mero papel de registador dos lançamentos, recebendo dinheiro ou pagando
dentro das disponibilidades da conta.

A conta corrente bancária também não se confunde com a conta corrente comum,
ordinária, ante a ausência de reciprocidade das remessas verificada naquela. A faculdade de
dar impulso à relação é do correntista e não do banco, o qual se limita a cumprir ordens
dele recebida; nem os creditamentos que o banco faz na conta podem ser considerados
remessas dele, uma vez que resultam do cumprimento das obrigações por ele assumidas.
Operações Bancárias e Interbancárias 13

Outra diferença entre a conta corrente bancária e a comum, que pode ser
mencionada, decorre da disponibilidade que o cliente tem sobre a base do saldo apurado
diariamente – crédito resultante da conta –, saldo provisório sobre o qual o cliente pode
emitir cheques, sendo, inclusive, admitida sua penhora. Na ordinária os créditos anotados
na conta se tornam inexigíveis e indisponíveis até o encerramento da própria conta, sendo
destinados à compensação com eventuais créditos da contraparte.

⇒Características
A conta corrente bancária é operação consensual, informal, normativa porque regula as
relações futuras entre as partes, de duração ou execução continuada porque se estendem no
tempo, bilateral porque o banco deve prestar serviços ao cliente correntista que, por sua
vez, deve prestar os fundos necessários, onerosa porque o banco tem benefícios com a
percepção de comissões e o cliente tem vantagens com a prestação de serviços e
disponibilidade de caixa.

⇒Modalidades
As modalidades de conta corrente bancária aqui apresentadas levam em consideração a
titularidade da conta, podendo ser unipessoal, por possuir um único titular, ou colectiva, em
nome de duas ou mais pessoas.

Algumas peculiaridades devem ser mencionadas quanto à conta corrente colectiva:


se houver emissão de cheques sem fundos, só o emitente responde; a morte de um não
extingue a conta, podendo os herdeiros entrar no lugar; diante dela tem sido admitida a
penhora pelo credor individual de um dos titulares, de todos os valores nela encontrados,
cabendo aos demais titulares a defesa de sua parte.
A conta corrente colectiva, ademais, pode ser indivisível quando movimentável só
por todos os titulares, que pode ocorrer mediante procuração, havendo solidariedade
passiva de todos para com o banco, ou conjunta, quando pode ser movimentada por
qualquer dos titulares, havendo solidariedade activa e passiva entre eles.
Operações Bancárias e Interbancárias 14

⇒Extinção
A conta corrente bancária, de regra, é contrato por prazo indeterminado, assistindo ao
banco ou ao correntista o direito de interromper ou extinguir o contrato a qualquer tempo,
sem necessidade de pré-aviso.

Havendo saldo positivo, o correntista pode efectuar o saque em caixa ou


equiparado, ou utilizar o valor mediante a emissão de cheque contra o banco. Já eventual
saldo negativo, apurado na extinção ou pelos lançamentos efectuados, é exigível pelo banco
a título de mútuo vencido, RIZZARDO (2003, p. 72).

4.1.2.3.3. Antecipação bancária

É operação bancária pela qual o banco entrega ao cliente uma determinada soma em
dinheiro (adiantamento/antecipação), mediante prévia constituição de uma garantia real,
incidente em títulos, mercadorias, documentos representativos destas, cujo valor está em
relação constante com dita soma.

Nesta operação o banco é designado antecipante, e o cliente bancário antecipado.


Segundo RIZZARDO (2003, p. 87), “Na prática, em várias actividades é praticável a
antecipação. Na produção agrária, o banco adianta ou antecipa um determinado valor,
recebendo como garantia a própria produção, o que se formaliza através do penhor. Quanto
à garantia por meio de títulos, é suficiente a entrega dos mesmos ao banco”.
A operação em estudo se aproxima, em certa parte, do mútuo com garantia
pignoratícia, da abertura de crédito e do desconto bancário. Ocorre, todavia, que o penhor
na antecipação bancária, diferente do que ocorre nos dois primeiros, é elemento essencial.
No desconto, por sua vez, os títulos são cedidos pelo cliente ao banco que se torna
proprietário, titular dos créditos nele representado. Já na antecipação, a propriedade dos
títulos permanece com o cliente, tendo-os o banco somente em garantia.
Todas estas operações, em última análise, no entanto, se tratam de empréstimos.
Operações Bancárias e Interbancárias 15

⇒Características
São características da operação de antecipação bancária, segundo ABRAO (2010, p. 162):

Real: Só se aperfeiçoa com a entrega da soma de dinheiro pelo banco ao cliente,


mediante o penhor de mercadorias ou títulos deste.
A tradição (inerente ao penhor) das garantias pode ser real ou simbólica, sendo
possível que o cliente antecipado permaneça na posse directa do bem, transferindo somente
a posse indirecta. O banco, para sua garantia, deve realizar uma constatação e avaliação do
bem, para fins de evitar que seja pego de surpresa em caso de inadimplemento do cliente e
necessidade de execução das garantias.
Porém, nada impede a substituição da coisa ou complementação da garantia, uma
vez presentes os pressupostos legais para tanto.
Bilateral: Gera obrigações para ambas as partes envolvidas. O banco antecipante se
obriga à guarda e conservação da garantia, fazendo as vezes de depositário, bem como à
devolução da garantia após cumprida a obrigação de pagamento do cliente antecipado. Este,
por sua vez, deve efectuar a devolução do principal que lhe fora antecipado acrescido de
juros, comissões e despesas de custódia das coisas, inclusive seguro.
Oneroso: Traz vantagens para ambas as partes contratantes: o banco, que percebe
juros e comissões pela antecipação; o cliente, que consegue dinheiro sem precisar alienar
seus bens.

c) Modalidades
As modalidades da operação de antecipação levam em consideração o objecto sobre os
quais recaem as garantias contratuais. Tem-se, assim, Antecipação sobre Mercadorias;
Antecipação sobre Títulos de Crédito em Geral; Antecipação sobre Títulos Representativos
de Mercadorias (warrant e conhecimento de depósito).

⇒Extinção
A extinção do contrato se verifica pelo pagamento, ainda que antecipado, por parte do
cliente.
Operações Bancárias e Interbancárias 16

De igual forma, verifica-se a extinção da antecipação bancária pelo perecimento ou


diminuição do valor da coisa empenhada sem a respectiva substituição oportuna.
A falta de pagamento de juros, comissões estipuladas para terem lugar na vigência
do contrato, assim como a falência do devedor ou do banco (idem para o caso de liquidação
deste), são causas de extinção da antecipação.

4.1.2.3.4. Desconto bancário

Operação pela qual o banco, com prévia dedução de juros, comissão e despesas,
antecipa ao cliente a importância de um crédito, não vencido, contra terceiro, mediante
cessão do próprio crédito ABRÃO (2010, p. 173).
Em tal operação o banco é designado descontante, e o cliente descontário.
Segundo tal conceito, em tese, pode ser objecto de desconto bancário qualquer
crédito que possa ser cedido em troca do adiantamento pecuniário que o banco faz ao
descontário. Na prática, todavia, o que se tem observado é a utilização em grande escala do
desconto bancário envolvendo títulos de crédito, em especial duplicatas e “cheques pré-
datados”, representativos do crédito do empresário derivado de venda a prazo realizada.
No desconto bancário envolvendo títulos de crédito a propriedade do título é
transferida por meio de endosso ao descontante, vinculando-se o descontário como
endossante e garantidor de seu pagamento.
A expressão utilizada para designar a operação objecto de estudo tem duplo
significado: a de operação bancária e a de dedução feita sobre o valor do título.

⇒Características
O desconto bancário é operação de carácter real porque sua perfeição decorre da
transferência do título de crédito do descontário ao banco descontante, mediante a entrega
do dinheiro correspondente deste àquele, com dedução de juros, comissão e despesas.
É bilateral em virtude de que origina obrigações para ambas as partes contratantes:
ao cliente descontário, a obrigação de garantir ao banco o pagamento do título, e ao banco
descontante, a obrigação de diligenciar pelo recebimento do crédito representado no título
juntamente ao devedor principal.
Operações Bancárias e Interbancárias 17

Identifica-se como operação de carácter oneroso, na medida em que apresenta


vantagens recíprocas: para o cliente, a antecipação em dinheiro do crédito titularizado, e
para o banco, o recebimento de juros e comissões pela antecipação.

⇒Inadimplência do devedor principal do título


Pelo desconto bancário de título de crédito, o banco torna-se credor do crédito
representado no título que lhe foi transferido mediante endosso do descontário.
Lecciona ABRÃO (2010, p. 181) que:

[...] consequentemente o banco se torna endossatário, legitima-se pelo protesto,


cuja disciplina vem dada pelo diploma normativo n. 9.492, de 10 de Setembro de
1997, com as alterações sobrevindas, ao exercício da acção cambial, que é a mais
conveniente na espécie, por estar dotada de força executória, contra o devedor
cedido, o cedente e qualquer outro coobrigado, para a formatação da relação dos
devedores solidários inadimplentes.

O banco, nestas condições, configurado o inadimplemento do devedor principal,


devidamente provado pelo protesto cambial, salvo cláusula sem protesto inserida no título,
pode, a sua escolha, cobrar o título de crédito de qualquer um dos obrigados cambiários
envolvidos, devedor principal, descontário endossante, avalistas, etc.
Interessante notar que, normalmente, o banco descontante, havendo fundos na conta
corrente que o cliente descontário mantém junto a ele, acaba efectuando, conforme lhe
autoriza o contrato, o débito em conta do valor do título acrescido das despesas do protesto
e outras despesas efectuadas para a sua cobrança, devolvendo ao descontário o respectivo
título para que este possa agir regressivamente contra o devedor principal, cobrando-lhe o
que precisou desembolsar a favor do banco.

4.1.2.3.5. Empréstimo bancário

É a operação pela qual o banco entrega certa quantia em dinheiro ao cliente, que,
por sua vez, assume a obrigação de restituí-la, no prazo ajustado, no mesmo género,
quantidade e qualidade, acrescida de juros e comissões, conforme previamente acordado.
O empréstimo bancário, de regra, envolve dinheiro, mas pode ter como objecto
títulos (empréstimo de títulos representativos de valores pecuniários) ou firma (empréstimo
de firma).
Operações Bancárias e Interbancárias 18

A finalidade dos empréstimos de títulos consiste, em geral, na constituição de uma


caução em favor do prestatário, normalmente perante algum órgão público, com o qual
contratou a execução de uma obra.
A devolução, no caso de empréstimo de títulos, não se dá nos mesmos títulos, mas
em outros equivalentes, ou à cifra monetária que representam.
No empréstimo bancário figuram o banco como mutuante, prestador, e o cliente
como mutuário, prestatário, tomador.
Se o empréstimo tem destinação específica, por exemplo, actividade rural,
industrial, comercial, diz-se financiamento e o crédito do banco pode ser representado por
cédula de crédito rural, industrial ou comercial, emitida pelo financiado a favor da
instituição financeira, considerada título de crédito com força executiva no caso de
inadimplemento.

⇒Características
O empréstimo bancário é operação de carácter real, unilateral, onerosa, nominativa e típica.

Real, porque pressupõe a entrega do dinheiro, da coisa objeto de empréstimo para


que se aperfeiçoe.
É unilateral porque após aperfeiçoado o contrato, as obrigações recaem somente na
pessoa do mutuário – ou seja, de restituir a coisa emprestada na época e nas condições
ajustadas, acrescido de juros, correcção ou comissão. O mutuante, por já ter cumprido sua
obrigação com a entrega do dinheiro ao mutuário, a nada se obriga ABRÃO (2010, p. 130).
Além dessas obrigações, poderá o mutuário ser obrigado a amortizar o valor devido
segundo os prazos estabelecidos (poderá ocorrer a amortização parcelada dos encargos ou
dos juros, ou a amortização do capital emprestado; os prazos de amortização podem ser,
ainda, mensais, bimestrais, trimestrais, semestrais e anuais); dar ao valor recebido o destino
consignado no pedido, como no caso dos financiamentos agrícolas, industriais ou
comerciais; e permitir ao banco a verificação ou comprovação das actividades atendidas
pelo valor emprestado.
É operação considerada onerosa porque apresenta vantagens para ambas as partes:
ao banco, no recebimento de juros e comissões; ao cliente, por ter a disponibilidade de
Operações Bancárias e Interbancárias 19

recursos necessários para a consecução de seus negócios ou satisfação de suas


necessidades.
Trata-se de operação nominativa, porque a legislação lhe concede denominação
específica, assim como é considerado típico porque possui regulamentação própria
RIZZARDO (2003, p. 35).

⇒Modalidades
As modalidades de empréstimo bancário são definidas de acordo com a sua
destinação, de acordo com o reembolso e de acordo com a garantia (Rizzardo, 2003, p. 43).
Segundo o critério da destinação, o contrato de empréstimo bancário pode ser
considerado pessoal ou comercial.
Os pessoais são concedidos levando-se em consideração a pessoa do tomador, tendo
como finalidade o consumo ou o atendimento de necessidades pessoais e familiares. Em
geral são concedidos a curto e médio prazos.
Os comerciais se destinam à actividade industrial ou comercial do cliente. A
duração, nestes, é de médio e longo prazos.
De acordo com o reembolso, o empréstimo bancário pode ser simples, com
devolução numa única vez, ou amortizável, quando a devolução se processa em prestações
sucessivas (mensal, trimestral ou semestral).
Por fim, de acordo com a garantia, o empréstimo pode ser sem garantia ou com
garantia, real, incidente sobre bens móveis ou imóveis, ou fidejussória, por intermédio de
fiança.

⇒Prazo e forma
O empréstimo bancário é convencionado, de regra, por prazo certo. Caso, todavia,
ocorra omissão relativamente ao termo do contrato, ABRÃO (2010, p. 132):

Destarte, na ausência de dispositivo expresso na legislação, forçoso aplicar-se o


comando, estabelecendo o prazo mínimo de 30 dias se o mútuo for em dinheiro,
não se concebendo prazo inferior. Portanto, decorrido esse lapso de tempo, o
credor “pode exigir o pagamento imediatamente”, mas, para constituir o devedor
em mora, deverá interpelá-lo.
Operações Bancárias e Interbancárias 20

Quanto à forma a ser observada na contratação da operação de empréstimo


bancário, tem-se que deve ser por documento escrito, público ou particular, sendo comum o
público nos casos de empréstimo garantido por hipoteca RIZZARDO (2003, p. 46).

4.1.2.3.6. Cartão de crédito bancário

É a operação bancária mediante a qual uma instituição financeira (emissora) se


obriga (no limite de crédito concedido) perante uma pessoa física ou jurídica (titular) a
pagar o crédito concedido a esta por um terceiro, empresário credenciado por aquela
(fornecedor), por decorrência de compras de bens e serviços.
O cartão de crédito, propriamente, como objecto é o documento comprobatório
perante o fornecedor de que seu titular goza de determinado crédito perante certa instituição
financeira, que o credencia a efectuar compras de bens e serviços a prazo e saques de
dinheiro ABRÃO (2010, p. 220).
Serve tal documento como instrumento para a confecção da nota de venda.
Os figurantes na operação de cartão de crédito são:
Emissor – instituição financeira que realiza um serviço de caixa ao cliente, sendo
intermediária entre os outros dois figurantes, titular e fornecedor. Pelo serviço que realiza, o
emissor recebe taxas do titular e comissão, percentual sobre as vendas, do fornecedor.
Titular do cartão ou aderente – tem a seu favor um crédito aberto pelo emissor.
Torna-se devedor do emissor pelo reembolso do preço das compras de bens e serviços
realizados junto a um fornecedor e autorizadas no cartão ou saques em dinheiro realizados.
Não pode opor ao emissor eventuais excepções que tenha contra o fornecedor, devendo
reembolsar o emissor que é quem efectua o pagamento ao fornecedor. Além do reembolso,
deve pagar ao emissor uma taxa, normalmente anual e parcelada em três vezes, pelo serviço
prestado.
Fornecedor/conveniado – não pode recusar um cartão, devendo conceder o mesmo
preço que aos demais compradores. Tem uma espécie de garantia do emissor, com quem é
conveniado, pelo recebimento do preço do produto ou serviço comercializado junto ao
titular do cartão. O fornecedor recebe o valor objecto da venda do emissor cedendo o seu
crédito a este.
Operações Bancárias e Interbancárias 21

O emissor, em caso de parcelamento do débito do cartão, tem o direito de cobrar


juros, que normalmente se mostram bastante elevados.
Na factura deverá constar a indicação do fornecedor, a data e o preço do produto ou
serviço adquiridos por meio do cartão, devendo o emissor remeter a factura com
antecedência suficiente para que o titular possa impugnar eventual lançamento equivocado.
No caso de extravio, furto ou roubo do cartão, o titular deve comunicar com a maior
brevidade possível o emissor. ABRÃO (2010, p. 229), comenta que, a partir do momento
em que o emissor recebe o aviso, o titular se exonera.

⇒Extinção
Tal operação é contratada por prazo determinado, admitindo-se sua renovação por
condução tácita.
Pode o emissor antecipadamente considerar extinto o contrato por descumprimento
de obrigações do titular, como não reembolso nas datas previstas. Pode também ocorrer a
perda antecipada da vigência do cartão no caso de morte, interdição ou falência do titular.
Nos casos de extinção mencionados, não há prejuízo ao fornecedor pelas vendas
autorizadas anteriores à resilição.
O titular, por sua vez, pode unilateralmente e a qualquer momento, resilir o
contrato, sem necessidade de manifestar justa causa.

Você também pode gostar