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Planejamento Ambiental
no Brasil

Introdução

Os efeitos da intensa degradação ambiental gerada pelo modelo desenvolvimen-


tista adotado pelos seres humanos já são possíveis de serem notados. São claras as
evidências das mudanças climáticas, desertificação, crise hídrica, extinção de espé-
cies entre outros resultados de degradação, gerando grandes impactos ambientais
nos recursos naturais. O planejamento ambiental no Brasil surge em um momento
de escassez de recursos naturais, que são a base da população e, ao mesmo tempo,
em um período de aumento da competitividade das empresas por novos negócios.
Para abordar estas questões, neste capítulo iremos apresentar os aspectos da crise
ambiental, do planejamento ambiental e dos tipos de zoneamento como instrumen-
tos de planejamento.

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5 Planejamento Ambiental no Brasil

5.1 Crise ambiental

O planejamento ambiental no Brasil e no mundo vem sendo alicerçado pela tomada


de consciência da importância dos recursos naturais, sejam eles bióticos ou abióticos, pela
manutenção da vida no planeta e também pela manutenção da lógica desenvolvimentis-
ta. A humanidade está passando por um momento de crise ambiental que, diferentemente
de outras crises, como, por exemplo, políticas e econômicas, leva ao comprometimento da
vida, pois dinâmicas e fenômenos complexos como os climáticos, hídricos, interações da
biodiversidade, fluxo gênico etc. quando afetados de maneira significativa, geram danos
irreversíveis.
A crise ambiental provocada por ações humanas teve seu início a partir da Revolução
Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, quando os sistemas produtivos adotados pro-
vocaram alterações no modo de vida das pessoas, dando início a um período que terminava
o feudalismo e iniciava o mercantilismo. Uma das mudanças bem evidentes foi o aumento da
exploração dos recursos naturais, sobretudo os combustíveis fósseis e da queima da madeira em
indústrias, e nas recentes criadas ferrovias (PÁDUA, 2002).
No meio rural, não foi diferente neste período do século XVIII, pois as colônias dos paí-
ses europeus já estabelecidos por diversas partes do mundo foram verdadeiros celeiros de
produção agrícola. No Brasil, podemos destacar os cultivos de cana de açúcar no Nordeste,
café no Sudeste, erva mate e pecuária no Sul. O problema que devemos destacar aqui não é
a produção agrícola que, aliás, traz muitos benefícios para as pessoas e para um país, mas os
modos de produção adotados que eram e são até hoje agressivos, desrespeitando os ciclos
naturais como, por exemplo, a conservação do solo e o ciclo da água (HOLANDA, 1995;
CANDIDO, 1967).
Dentre tantas consequências dessas formas de desenvolvimento, que inclusive são pra-
ticados até hoje como uma forma de herança cultural do Brasil colonial, tanto nas cidades
como no meio rural, podemos destacar:
• Destruição das florestas de uma maneira muito rápida e com métodos dizimado-
res como campanhas de corte de madeiras e o fogo (HOLANDA, 1995).
• Poluição dos rios com esgotos lançados no meio ambiente sem tratamento prévio.
• Poluição do ar atmosférico pelas emissões de poluentes industriais e o fogo das
queimadas.
• Destinação do lixo de maneira inadequada poluindo inúmeros mananciais de água.
A partir do século XX, mais especialmente no pós Segunda Guerra Mundial, signifi-
cativas mudanças ocorrem na sociedade ocidental. A globalização rompe as barreiras dos
mercados mundiais, estimulando a competitividade e pressionando a produção. As infor-
mações, antes limitadas a pequenos grupos, tornaram-se acessíveis e amplamente disse-
minadas, com o espaço e o tempo deixando de serem obstáculos (SANTOS, 1997) e com
isso oportunidades se abriram para novos negócios e novos mercados. Ao mesmo tempo, a

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população tomou conhecimento de uma iminente crise ambiental e dos efeitos que ela pode
provocar na sustentação da espécie humana na Terra.
Os transtornos na natureza vão além das mudanças climáticas; elas possuem efeitos
econômicos locais, como, por exemplo, pesqueiros que perdem seu meio de sobrevivência
e deixam de distribuir o seu produto para a população; terras agrícolas que deixam de ser
férteis; e florestas repletas de matéria-prima que desaparecem. Catástrofes naturais como
enchentes, secas, terremotos e incêndios florestais aumentam a cada dia sob o efeito da ati-
vidade humana (BROWN, 2003), sendo diariamente relatadas nos jornais por todo o Brasil.
Somado a isto, temos que os problemas ambientais não são apenas de ordem biológica
ou física, eles também são sociais, como o crescimento da população mundial ocasionan-
do mais pressões nos recursos naturais, o lucro como objetivo da produção, produção em
massa e alienação do trabalho, grande desemprego, e significativa distribuição desigual da
riqueza pelo mundo, gerando exclusão social.
Desta forma, podemos afirmar, conforme Cavalcanti (2012) aborda, que vivemos atual-
mente uma crise ambiental e este é um assunto que envolve todos os setores sociais, não
havendo como negar que esta crise representa um somatório das ações humanas, sendo,
portanto, um produto das formas de cultura que o ser humano criou ao longo do processo
civilizatório pela desenfreada busca do desenvolvimento.
São tantos os problemas ambientais que se torna difícil definir qual é o mais grave,
sendo que um interfere no outro de forma direta e indireta. E é no seio dessa crise ambien-
tal mundial que repousa outra crise: a crise existencial, em que os indivíduos perdem seus
referenciais e suas identidades com suas origens e princípios; e a crise social, também sem
precedentes na história da humanidade.
Segundo comenta Adams (2014), está emergindo em todas as classes sociais sequelas
consequentes do modo de vida praticado como, por exemplo, a violência presente no coti-
diano, a falta de escrúpulos, as diferenças sociais que revelam verdadeiros abismos entre
classes, a educação e a saúde precárias, o desperdício de um lado e a fome do outro, os altos
índices de stress e doenças associadas com a depressão, como a síndrome do pânico.
O primeiro encontro internacional para discutir a crise ambiental e as necessidades
de outro modelo de desenvolvimento foi a Conferência sobre Mudanças Climáticas, em
Estocolmo, no ano de 1972. A partir dessa conferência iniciou-se a uma intensa discussão
global, com destaque para a Rio 92 (1992), o Protocolo de Kyoto (1997), a Rio+10 (2002) e,
mais recentemente, a Rio+20 (2012), além de inúmeras convenções da ONU que debateram
sobre os temas-chave da crise socioambiental como, por exemplo, mudanças climáticas, bio-
diversidade, energias etc.
Neste contexto de definições de conceitos e debates, vale ressaltar o que aborda
Cavalcanti (2012), apontando que desenvolvimento significa mudança, evolução, progres-
so, e não crescimento no sentido de expansão ou aumento. Citando Daly (1990), Cavalcanti
(2012) aborda que crescimento é “aumento quantitativo de escala física, enquanto desenvol-
vimento significa melhoria da qualidade de vida ou afloramento de oportunidades”.

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Segundo Pierri (2001), o conceito sobre sustentabilidade mais difundido enfoca apenas
a manutenção dos “recursos” através do tempo. Historicamente, em relação à natureza ou
seus recursos, este conceito teve diferentes níveis de abordagem, com fins e critérios dife-
rentes. Primeiramente, este conceito esteve associado aos recursos naturais renováveis com
sustentabilidade ecológica em função do atendimento das demandas de produção e econô-
micas. Em um segundo momento, como um conjunto de recursos ou ecossistemas a serem
conservados visando a sustentabilidade ecológica. Por fim, o terceiro nível inclui a socie-
dade e o conjunto de seus recursos apontando para uma sustentabilidade socioambiental,
enfocando o equilíbrio ecológico e social em função da economia.
Para Guimarães (2007), a presente crise de sustentabilidade se dá abundantemente pelo
debate ambiental que tem se caracterizado pela disputa entre diferentes interpretações de
desenvolvimento sustentável. Aqui vale destacar que o conceito de desenvolvimento sus-
tentável é diverso e que depende do ponto de vista do ator social que esteja analisando ou
simplesmente vivenciado situações do dia a dia. O conceito mais difundido é o da ONU que,
desde o início da discussão ambiental, ganhou hegemonia no cenário mundial, a partir de
Brundtland (1987).
Claramente, a ordem dominante é do capital neoliberal, que privilegia as questões
econômicas com finalidade de alcançar propósitos de progresso material ilimitado e
simplificam o debate que formas sustentáveis praticadas não comprometem a base dos
recursos naturais. Sabe-se que isto não é verdade e que apenas soluções generalistas de
conservação e recuperação ambiental que atendam às dimensões biofísicas dos ecossis-
temas podem gerar redução na qualidade de vida. E como bem diz Leonardo Boff (2011)
“é de bom tom falar de sustentabilidade” numa sociedade dominada pelos pensamen-
tos neoliberais em que estes discursos ganham mercado e prestígio. Boff (2011) ainda
pondera que “a sustentabilidade como substantivo exige uma mudança de relação com
a natureza, a vida e a Terra”, numa forte alusão que o conceito estabelecido pela ONU a
partir de Brundtland (1987) deve ser ampliado.

5.2 Planejamento ambiental

O planejamento ambiental que vem surgindo com uma prática cotidiana de empresas
e governo se consolidou após a Rio 92, Conferência Internacional das Nações Unidas para o
Desenvolvimento e Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro em 1992. Ele busca organi-
zar as ações com o objetivo de recuperar, preservar, controlar e conservar o meio ambiente
natural de determinada região e também reduzir os impactos negativos advindos de ativi-
dades produtivas.
Este tipo de planejamento pode e deve ser aplicado para inúmeras situações como,
por exemplo, para a exploração madeireira e não madeireira, qualquer atividade industrial,
gestão de unidades de conservação, comitês de bacias hidrográficas, espaços públicos como
parques, praças, escolas, centros de saúde etc.

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Para se fazer um planejamento ambiental é necessário a utilização de inúmeras ferra-
mentas de geração de dados que irão subsidiar as tomadas de decisões. Conforme a escala
do planejamento, as informações a serem geradas para a análise são locais ou regionais e
envolvem estudos detalhados dos meios físico, biótico e socioeconômico.
As tomadas de decisões para os gestores, sejam eles do setor público ou privado, terão
sua origem no planejamento ambiental e terão informações integradas vindas de diagnós-
ticos que subsidiarão a previsão de ações, organização e normatização de regras, e procedi-
mentos fomentando o desenvolvimento sustentável do objeto de planejamento.
É importante ressaltar que um planejamento ambiental deve conter um conjunto
de metas, estudos analíticos, correlações e interdisciplinaridade dos meios físico, biótico
e socioeconômico, além do envolvimento dos atores sociais na elaboração e execução do
planejamento.
Segundo Silva (2003), os envolvidos na elaboração de um planejamento ambiental de-
vem atentar para a complexidade e diversidade de temas que se apresentam nas situações
de implantação de um sistema de planejamento ambiental e que se apresentam de maneira
transversal dentro de três eixos, descritos no quadro 1.

Quadro 1 – Eixos temáticos de um planejamento ambiental.

Eixos temáticos de um planejamento ambiental


1) Planos direcionados à prevenção e/ou correção de problemas
ambientais de caráter setorial como, por exemplo, contami-
nação do ar ou da água, erosão do solo, desmatamento etc.
2) Planos direcionados à gestão de recursos ambien-
tais como, por exemplo, água, solo, ecossistemas.
3) Prevenção e/ou conservação ambiental em seu conjunto.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um dos principais instrumentos de análise visando ao planejamento ambiental são os


estudos multicritérios, que observam e analisam diversas variáveis envolvidas dentro do
universo do objeto a ser verificado. A análise multicritério é uma técnica que pode ser con-
siderada quali-quantitativa, pois considera abordagens puramente exploratórias e pouco
estruturadas de tomada de decisão, como audiências públicas e grupos de trabalho, jun-
tamente com informações geradas por modelos matemáticos quantitativos da pesquisa
operacional.
Segundo o mesmo autor, a análise multicritério tem como meta alcançar o consenso dos
participantes envolvidos neste processo que, através de matrizes correlacionais, mapas e
gráficos que são gerados, facilita e auxilia de maneira eficaz e prática as tomadas de decisões
que são pautadas por critérios relevantes e prioritários.
Em um estudo de análise multicritério, inúmeras variáveis são observadas, sendo que
cada uma, conforme a sua prioridade nas ações de gestão ambiental do objeto de estudo e
planejamento, recebem pesos de relevância com o auxílio de programas computacionais es-
pecíficos que fazem esta análise, aplicando-se as regras de decisão que vão da ação ou tema
mais relevante ao menos relevante.

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As principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental estão dis-


tribuídas pelos meios físico, biótico e socioeconômico e podem variar conforme o estudo
quanto a sua relevância (peso) ou mesmo a sua presença na análise. No quadro 2 estão apre-
sentadas as principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental.

Quadro 2 – Principais variáveis que são analisadas em um planejamento ambiental.

Variáveis Característica e aplicabilidade


Verifica o tipo de solo e identifica caracte-
Solos rísticas para recompor florestas ciliares em
áreas com menor potencial agrícola.
Declividade Verifica encostas e áreas não mecanizáveis.
Susceptibilidade à erosão Verifica a necessidade da conservação do solo e da água.
Verifica os tipos fitofisionômicos visando à re-
Vegetação remanescente
cuperação de paisagens degradadas.
Verifica a existência de unidades de conservação e suas
Unidades de conservação
zonas de amortecimento e corredores ecológicos
Mananciais públicos Verifica a conservação e produção de
de abastecimento água para consumo humano.
Verifica as bacias hidrográficas com suas ma-
Bacias hidrográficas
lhas hídricas e características.
Verifica a diversidade biológica da fauna e flora iden-
Biodiversidade da área tificando se há espécies ameaçadas de extinção e/
ou importantes para o equilíbrio ecológico.
Verifica os usos do solo e suas caracte-
Uso e ocupação do solo
rísticas urbanas e rurais.
Dinâmicas populacionais Verifica as dinâmicas populações da zona urbana e rural.
Coleta e destino do Verifica a coleta e destino do resíduo sóli-
resíduo sólido do identificando problemas e soluções.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Todas essas variáveis de análise vão ter seus pesos (medida de valor da variável) a fim
de determinar as prioridades de ações a serem incorporadas pelo planejamento ambiental.
Um dos resultados que será gerado é o zoneamento, que servirá de instrumento de gestão
ambiental para uma empresa tanto pública como privada e também para a elaboração de
políticas públicas ambientais, ou mesmo somar com outras políticas públicas como os pla-
nos diretores das cidades, programas de saúde, prevenção e combate à doenças, programas
de educação e cultura etc.
O zoneamento é o resultado de um grande diagnóstico socioambiental e contribuirá
de maneira significativa para o planejamento ambiental ser mais eficaz e eficiente, uma vez
que estabelece quais os usos mais adequados para cada localidade, de acordo com suas ca-
racterísticas e capacidade de suporte, assim deixando os processos de gestão mais claros e
controláveis. Podendo, assim, uma empresa aumentar sua eficiência e, consequentemente,

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sua produtividade e lucratividade; e para o serviço público, otimizar os recursos públicos
gerando melhores serviços oferecidos para a população.
O planejamento ambiental possui algumas etapas que podem variar, mas de forma ge-
ral um processo deve conter os seguintes momentos, apresentados na figura 1.

Figura 1 – Etapas de um processo de planejamento ambiental.

Fonte: SILVA, 2004. Adaptado.

Como mencionado, os estudos envolvem os meios físico, biótico e socioeconômico e


as análises devem ser integradas de maneira interdisciplinar, sabendo que a realidade é a
inter-relação de diferentes áreas. Desta forma, o conhecimento do funcionamento dos sis-
temas naturais e sociais é fundamental para o processo de um planejamento ambiental e
todos os profissionais envolvidos devem fazer um esforço de interação com os colegas de
outras áreas do conhecimento, a fim de trocar saberes, aprendendo e ensinado os membros
da equipe.
Ressalta-se para os planejadores ambientais que a interdisciplinaridade se caracteriza
pelo grau mais avançado de relação entre disciplinas, se considerarmos o critério de real
entrosamento entre elas. São estabelecidas relações menos verticais entre diferentes discipli-
nas, que passariam, também, a operar sob conceitos em comum.
Deve-se perceber que, aqui, não há simples justaposição ou complementaridade entre
os elementos disciplinares, mas uma nova combinação de elementos internos e o estabele-
cimento de canais de trocas entre os campos em torno de uma tarefa a ser desempenhada
conjuntamente.
As ações de um planejamento ambiental devem atuar não somente como integradora e
mediadora da circulação dos discursos disciplinares, mas principalmente como coordena-
dora do campo disciplinar. Assim, os moderadores/condutores deste processo devem per-
mitir o constante diálogo e potencializar o surgimento de novos conhecimentos e posturas
dos atores envolvidos para a elaboração e implementação do planejamento ambiental.
A organização das ações entre os membros da equipe envolvida na elaboração do pla-
nejamento ambiental deve estar pautada pela circulação das informações de todas as áreas
do conhecimento de forma cooperativa, evitando as barreiras intelectuais e de poder que são
comumente observadas nas instituições, sejam elas públicas ou privadas.

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5.3 Zoneamento ambiental:


instrumento de planejamento

Um dos principais instrumentos para o planejamento ambiental é o zoneamento, que


está inclusive instituído como um ordenamento jurídico na legislação brasileira pela Lei
Federal 6.938, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente e cria o zoneamen-
to ambiental como instrumento desta lei. Através do Decreto n. 4.297 de julho de 2002, o
zoneamento ambiental é regulamentado como zoneamento ecológico-econômico, com os
seguintes objetivos e princípios:
Art. 2. O ZEE, instrumento de organização do território a ser obrigatoriamen-
te seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas,
estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a
qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodi-
versidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condi-
ções de vida da população.
Art. 3. O ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões
dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades
que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena ma-
nutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas . (BRASIL, 2002)
Nas esferas do poder público, o zoneamento ambiental visa subsidiar os governos mu-
nicipais, estaduais e federal em processos de planejamento e de ordenação do uso do solo e
da ocupação do território, bem como da utilização dos recursos ambientais. Esse instrumen-
to normalmente está presente nos planos diretores municipais, planos de desenvolvimento
regional e também nos planos de manejo das unidades de conservação.
Para o setor privado, o zoneamento ambiental é um importante instrumento de gestão
ambiental, tanto dentro dos pátios industriais, organizando zonas, rotas e logísticas de pro-
dução, como também no campo onde são extraídas as matérias-primas para os processos
industriais como, por exemplo, em cultivos agrícolas, ações de mineração, extração de recur-
sos naturais como produtos madeireiros e não madeireiros e também pesqueiros.
No quadro 3, estão apresentadas algumas aplicabilidades do zoneamento ambiental
com instrumento de planejamento no setor produtivo.

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Quadro 3 – Aplicabilidades do zoneamento ambiental com instrumento de planejamento no setor
produtivo.

Setor produtivo Característica Aplicabilidade


Produção Por meio de um mapa de zoneamento é Indústrias de ali-
agrícola feita a delimitação para a adequação am- mentos, ração animal
biental da produção agrícola, cumprindo e farmacêuticas.
os ordenamentos legais quanto ao uso
de agroquímicos, proteção de nascentes
e cursos d’água e conservação do solo.
Extrativismo Por meio de planos de manejo que devem ser Indústrias de mó-
madeireiro aprovados pelo Ibama é feito o zoneamento veis, construção
da retirada da madeira, em que é determi- civil e naval.
nado o volume de madeira a ser retirado
por /ha, rotas de escoamento, proteção de
nascentes e cursos d’água e conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Extrativismo Por meio de planos de manejo que devem Indústrias farmacêu-
não madeireiro ser aprovados pelo Ibama, é feito o zonea- ticas, cosméticos, arte-
mento da retirada dos produtos não ma- sanato e paisagismo.
deireiros, como por exemplo, sementes,
cipós, folhagens etc., em que é determina-
do o volume de exploração a ser retirado
por /ha, rotas de escoamento, proteção de
nascentes e cursos d’água, conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Mineração Por meio dos planos de mineração que devem Indústrias de produ-
ser aprovados por órgão regulatórios do ção de ferro, minerais
setor, é feito o zoneamento das jazidas de preciosos, construção
exploração, determinando a quantidade e civil, paisagismo.
tipo de minério a ser explorado, bem como a
elaboração de rotas de escoamento, proteção
de nascentes e cursos d’água, conservação
do solo e ações de recuperação da área.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um dos resultados do zoneamento ambiental é a divisão da área explorada, nas quais


as atividades são controladas, ou seja, algumas atividades são permitidas enquanto outras
não. Assim, o principal objetivo do zoneamento ambiental é organizar e delimitar geografi-
camente as áreas a serem utilizadas e protegidas/conservadas, com a finalidade de estabele-
cer ordenamentos de uso da propriedade e dos recursos naturais.
Os profissionais que atuam com o zoneamento, utilizam-no como um instrumento de
manejo e controle das características físicas, biológicas e socioeconômicas de zonas urbanas,
rurais e também de áreas naturais como unidades de conservação, por meio da imposição
de restrições a variáveis. Por exemplo, em zonas urbanas em desenvolvimento deverão ser
definidas a altura máxima e a densidade das edificações, o percentual de área do terreno
que deve permanecer impermeável ou livre de construções, e os tipos de uso do solo e

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5 Planejamento Ambiental no Brasil

atividades; em áreas naturais, por sua vez, serão necessárias a permissão do acesso de uso
público em algumas áreas como mirantes e cachoeiras e a restrição a outras como em áreas
de refúgio de fauna, susceptibilidade à erosão etc.
O Decreto n. 4.297 de julho de 2002, define que o zoneamento ambiental é regulamen-
tado como zoneamento ecológico-econômico e tem como objetivo viabilizar o desenvolvi-
mento sustentável a partir da compatibilização do desenvolvimento socioeconômico com
a conservação ambiental. Este mecanismo de gestão ambiental consiste na delimitação de
zonas ambientais e atribuição de usos e atividades compatíveis segundo as características
(potencialidades e restrições) de cada uma delas. O objetivo é o uso sustentável dos recursos
naturais e o equilíbrio dos ecossistemas existentes.
Desta forma, o zoneamento ecológico-econômico tem como atribuição desenvolver análises
técnicas dos meios físico, biótico e socioeconômico de forma integradora para a região objeto do
planejamento, apontando, por exemplo, os impactos advindos da ação humana e a capacidade
de suporte do meio ambiente em relação ao padrão de desenvolvimento em curso.
Uma vez detalhadas essas informações e análises, é possível a proposição de ações direcionadas
para cada zona geográfica estabelecida no zoneamento, estabelecendo, inclusive, ações voltadas à
compensação, mitigação e recuperação ambiental dos impactos ambientais identificados.
Sabendo que as zonas estabelecidas no planejamento ambiental possuem caracterís-
ticas específicas ambientais, sociais, econômicas e vulnerabilidades e potencialidades por
si só, consequentemente ao analisar o território do zoneamento como um todo, observa-se
que existe uma heterogeneidade das zonas e que servirá para apontar para a administra-
ção da área alternativas de uso e gestão que potencializem e fomentem o desenvolvimento
sustentável.
O tema do zoneamento ambiental inserido no planejamento territorial ganhou força e
relevância recentemente como o novo Código Florestal (Lei Federal n. 12.651/2012) que esta-
beleceu um prazo de cinco anos (Art. 13, §2.) para que todos os estados elaborem e aprovem
seus zoneamentos ecológicos econômicos, seguindo metodologia unificada estabelecida em
norma federal.
Além do zoneamento ecológico-econômico, segundo Soares (2015), existem outros que
também são importantes para o planejamento ambiental rumo ao desenvolvimento sus-
tentável e que devem ser utilizados tanto pelo poder público na elaboração e aplicação de
políticas públicas como pelo setor privado em suas atividades produtivas.
No quadro 4 estão apresentados os principais zoneamentos utilizados no Brasil e suas
aplicabilidades.

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Planejamento Ambiental no Brasil 5
Quadro 4 – Principais zoneamentos utilizados no Brasil e suas aplicabilidades.

Tipo de Zoneamento Aplicabilidade


Zoneamento ambiental Instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei Federal n. 6.938/1981) que visa à implementação
dos zoneamentos ecológicos-econômicos pelo Brasil.
Zoneamento agroecológico Estabelece critérios para o ordenamento da ocupação es-
pacial pelas diversas atividades produtivas agropecuária,
estando condicionada para a aprovação de crédito rural.
Zoneamento agríco- É um instrumento da Política Agrícola Nacional e é
la de risco climático elaborado com o objetivo de minimizar os riscos re-
lacionados aos fenômenos climáticos, permitindo a
identificação da melhor época de plantio das culturas,
nos diferentes tipos de solo e ciclos de cultivares.
Zoneamento industrial Instrumento da Lei Federal n. 6.803/1980, tem como
objetivo zonear áreas críticas de poluição, com a identi-
ficação das zonas destinadas à instalação de indústrias.
Zoneamento urbano Instrumento utilizado nos planos diretores dos mu-
nicípios, dividindo a cidade em áreas sobre as quais
incidem diretrizes diferenciadas para o uso e a ocupa-
ção do solo, especialmente os índices urbanísticos.
Etnozoneamento Instrumento da Política Nacional de Gestão Territorial
e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI), des-
tinado ao planejamento participativo e à catego-
rização de áreas de relevância ambiental, socio-
cultural e produtiva para os povos indígenas.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Ampliando seus conhecimentos

Planejamento ambiental
(SOARES, 2015)

O final do século XVIII foi um período no qual muito contribuiu a escola


francesa, com suas propostas de planejamento de recursos hídricos e
saneamento, que enfatizavam a relação entre disponibilidade de água e
preservação de mananciais. Já no final do século passado, foram traba-
lhados vários tipos de planejamento setorial, cuja discussão central ainda
estava voltada aos terrenos urbanos e às múltiplas funções de uma cidade,
porém, com maior desenvolvimento teórico de planejamentos setoriais da
área econômica e de recursos hídricos (SANTOS, 2004).

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 79


5 Planejamento Ambiental no Brasil

Assim, ainda de acordo com a autora, o planejamento pode ser visto como
teoria, processo, sistema ou como instrumento aplicável a vários tipos e
níveis de atividade humana, com objetivos variados que vão desde a alte-
ração estrutural da sociedade até a simples composição de programas.
Pode, também, ser considerado como uma ação contínua que serve de ins-
trumento dirigido para racionalizar a tomada de decisões individuais ou
coletivas em relação à evolução de um determinado objeto: pode-se afirmar
que o planejamento é a aplicação racional do conhecimento do homem ao
processo e tomada de decisões para conseguir uma ótima utilização dos
recursos, a fim de se obter o máximo de benefícios para a sociedade.

Almeida et al. (1999) consideram a definição de planejamento ambiental


imprecisa, pois ora se confunde com o próprio planejamento territorial,
ora é uma extensão de outros planejamentos setoriais mais conhecidos
(urbano, institucional e administrativo), que foram acrescidos da conside-
ração ambiental. Portanto, para os autores, o planejamento ambiental não
pode ser desvinculado das políticas de desenvolvimento e da distribuição
dos benefícios sociais por ele gerados. Tampouco essas políticas podem
continuar orientadas pelos tradicionais modelos normativos e técnico-
-econômicos de planejamento, estratégia compreensiva racional que não
reconhecem as especificidades das inter-relações dos fatores naturais e
culturais de uma dada realidade planejada.

O alcance desse reconhecimento requer o fortalecimento de metodologias


interdisciplinares de planejamento, capazes de articular as especificida-
des das relações entre os ambientes naturais e humanos em dada reali-
dade, como também de ter a capacidade de responder às exigências de
viabilização política dos planos, programas e projetos ambientais.

De qualquer modo, as definições que tentam ser mais abrangentes con-


sideram: planejamento ambiental consiste em um grupo de metodolo-
gias e procedimentos para avaliar as consequências ambientais de uma
ação proposta e identificar possíveis alternativas a esta ação (linha de
demanda); ou um conjunto de metodologias e procedimentos que avalia
as contraposições entre as aptidões e usos dos territórios a serem planeja-
dos (linha de oferta) (ALMEIDA, 1993, p. 14).

Para Ross (1997) as informações e os métodos de análise fornecidos pela


geografia têm o papel de permitir a adoção das práticas de planejamento e
gestão ambiental de base territorial com elevado grau de eficiência, o que
se torna possível pela condução com qualidade técnica e bases conceituais
sólidas. O processo de planejamento e gestão ambiental aplicável para

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Planejamento Ambiental no Brasil 5
o País, Estados, municípios, bacias hidrográficas, assentamentos rurais,
grandes fazendas, cidades, distritos industriais ou rede viária, deve
apoiar-se participação social e no binômio: base teórico-metodológica e
nas tecnologias da informação e comunicação.

A base teórico-metodológica deve estar calcada nos princípios da análise


sistêmica e no tratamento das informações referentes à natureza e à socie-
dade no contexto da integração de dados, combinados e inter-relaciona-
dos, de forma que possibilitem alcançar a concepção ambiental de um
determinado lugar, propiciando uma perspectiva holística da interação
sociedade-natureza. Segundo Ross (1997), é um tratamento de informa-
ções que contempla as relações da sociedade com a natureza, valorizando
os aspectos das fisionomias, arranjos estruturais e funcionalidades socio-
ambientais de uma determinada sociedade e como esta se apropria dos
bens naturais e cuida da natureza.

Diante da prática de planejamento, deve-se entender que o planejamento


não deve ser neutro e os profissionais (aqui entendemos que principal-
mente os geógrafos) das equipes interdisciplinares devem perceber que
“a possibilidade de um planejamento e de uma gestão que, mesmo ope-
rando dentro de uma sociedade injusta, contribua, para a superação das
injustiças sociais, por mais raro e difícil que isso possa ser” (SOUZA e
RODRIGUES, 2004, p. 52). O planejamento pode se tornar algo arriscado
se não trabalhado de acordo com as verdadeiras necessidades da socie-
dade e do ambiente.

É importante diferenciar planejamento e gestão, pois ambos não são sinô-


nimos, porém se complementam. Souza (2002) define os dois conceitos:

Planejar significa tentar prever a evolução de um fenômeno ou,


para dizê-lo de modo menos comprometido com o pensamento
convencional, tentar simular os desdobramentos de um processo,
com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas
ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis
benefícios. De sua parte, gestão remete ao presente: gerir significa
administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presen-
temente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas.

O planejamento é a preparação para a gestão futura, buscando


evitar ou amenizar problemas e ampliar margens de manobra; e
a gestão é a efetivação, ao menos em parte (pois o imprevisível e o
indeterminado estão sempre presentes, o que torna a capacidade de

Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental 81


5 Planejamento Ambiental no Brasil

improvisação e a flexibilidade sempre imprescindíveis), das condi-


ções que o planejamento feito no passado ajudou a construir. Longe
de serem concorrentes ou intercambiáveis, planejamento e gestão
são distintos e complementares (SOUZA, 2002, p. 46).

Os usos das práticas de planejamento se intensificaram no pós Segunda


Guerra Mundial e vieram carregadas de intenções de modernização das
instituições públicas (sejam elas administrativas, de planejamento, gestão,
saúde, educação, tecnologia, militar e outras), bem como da vida social (cul-
tura, urbanização, política, educação, trabalho, etc.). Porém, o que se viu nas
décadas de 1970 e 1980 no Brasil foram práticas de modernização conserva-
dora. “Planejar pode significar burocratizar [...], entretanto, planejamento
pode estimular resultados opostos aos descritos” (HISSA, 1998, p. 34).

No sentido de melhorar a qualidade ambiental e a qualidade de vida,


surge o planejamento ambiental, associado às questões sociais. A grande
mudança provocada pelo avanço urbano nas cidades causou problemas
ambientais e sociais das mais diversas ordens. A discussão entre o ambien-
tal e o social das áreas urbanas nos instiga a pensar em questões de melho-
ria e a se criar ações de progresso para a qualidade de vida nas cidades.
Surge a necessidade de se pensar em algo que contemple o ambiental e o
urbano, mesmo que a administração pública esteja preparada em apenas
direcionar ações aonde há grandes capitais vigentes ou nos casos mais
graves de degradação ambiental.

Atividades
1. As atividades das 3 partes serão feitas em conjunto, integrando os conceitos apresen-
tados. Primeiramente faça um diagnóstico dos principais problemas ambientais de
sua cidade e liste-os correlacionando com problemas ambientais globais que servem
de base para a crise ambiental.

Após relacionar os problemas, liste ações/projetos para cada item diagnosticado


para compor um planejamento ambiental.

Por fim, simule um zoneamento ambiental com as informações geradas e faça uma
proposta de intervenção utilizando o mapa da cidade diagnosticada que pode ser
acessada nos sites das prefeituras municipais.

82 Sistema de Gestão e Planejamento Ambiental

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