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Noções de criminalística

Aula 01: Traumatologia forense – agentes lesivos físicos


1. Calor
 Pode lesar o corpo humano difusa ou diretamente;
 O calor difuso poder ser dividido em: insolação e intermação.
 Insolação: proveniente do calor ambiental. Resultado da temperatura, raios solares,
ausência de renovação do ar, fadiga e excesso de vapor d’água.
 Intermação: o calor age sobre o corpo em espaços confinados, sem arejamento. Decorre
do excesso de calor ambiental e lugares mal arejados. O alcoolismo, vestes inadequadas
e fala de ambientação climática são elementos agravadores.
1.1. Doenças do calor
1.1.1. Edemas:
 Causado pela permanência em ambiente não aclimatizado por longo período de
tempo em posição ortostática (de pé ou sentado);
 Retenção de sódio e água;
 Vasodilatação intensa da pele, inchaço;
 Mais comum em mulheres.
1.1.2. Milária
 Resulta da obstrução do fluxo de suor ao longo dos dutos excretores das glândulas
sudoríparas;
 Comum em crianças pequenas;
 Brotoeja ou milária rubra: obstrução na camada espinhosa da epiderme;
 Sudamina ou milária cristalina: obstrução na camada córnea da epiderme.
Vesículas sem reação inflamatória.
1.1.3. Síncope
 Tonteira, zumbido auditivo, visão escura, palidez, suor e desmaio;
 Acontece quando pessoas não aclimatizadas são deixadas em posição ortostática por
tempo prolongado sob altas temperaturas ou quando estão deitadas e se levantam
rapidamente;
 Brusca queda da pressão arterial.
1.1.4. Câimbras
 Contrações espasmódicas;
 Ocorre após esforços musculares intensos realizados sob temperatura ambiente
elevada.
1.1.5. Exaustão térmica
 Também conhecida como intermação. Pode evoluir para insolação ou para a morte;
 Sintomas: cansaço, sudorese intensa, palidez, fraqueza muscular, mialgias, dor de
cabeça, tonteiras, náuseas, vômito, taquicardia e hipotensão arterial.
1.1.6. Termonoses: são danos orgânicos e a morte provocada pelo calor por meio de
insolação ou intermação.
 Aumento da temperatura corpórea (43 a 44°C), taquicardia, aumento da pressão
sistólica e aumento da pressão diferencial por diminuição da diastólica;
 Formas clínicas das termonoses:
 Fulminante: queda abrupta da pressão arterial, coma e morte;
 Sincopal: precedida de distúrbios neurovegetativos e de colapso;
 Hiperpirética: aumento da temperatura corporal além dos 45° C;
 Asfíctica: cianose, dispneia e esfriamento das extremidades;
 Congestiva: vermelhidão cutânea, congestão polivisceral e edema pulmonar;
 Urêmica: sudorese, insuficiência renal, parestesias (são sensações cutâneas
subjetivas que são vivenciadas espontaneamente na ausência de estimulação),
distúrbios sensoriais, convulsão e morte.

1.2. Queimaduras: ação direta do calor


1.2.1. Classificação quanto à profundidade/intensidade
 1° grau (sinal de Christinson): pele avermelhada – vasodilatação dos vasos
sanguíneos da derme;
 2° grau (sinal de Chambert): formação de bolhas (flictenas) contendo líquido
seroso (plasma);
 3° grau: morte celular da pele e tecidos moles, por coagulação, com formação de
placas chamadas “escaras”. Os tecidos são substituídos por tecidos de granulação,
resultando em cicatrizes retráteis e queloides;
 4° grau: destruição dos tecidos moles e até dos ossos por ação direta do calor através
da carbonização que pode ser local ou generalizada.
1.2.2. Classificação quanto à extensão:

"Regra do nove" – Wallace


1.2.3. Perícia nas mortes causadas pela ação direta do fogo
 Carbonização total: primeiro deve-se identificar o morto;
 Para esclarecer o motivo de morte durante incêndio:
 Procurar lesões distintas das causadas por queimadura;
 Presença de fuligem ao longo das vias respiratórias (sinal de Montalti);
 Presença de óxido de carbono no sangue.

2. Frio
 A ação geral do frio leva à alteração do sistema nervoso, sonolência, convulsões, etc..
 Quando a ação do frio é continua, ocorre vasodilatação paralítica, culminando em hipóxia
periférica (ausência de oxigênio suficiente nos tecidos para manter as funções corporais) com
trombose vascular (trombo: coágulo que se forma nos vasos sanguíneos, veias ou artérias,
limitando o fluxo normal de sangue). A fase terminal do caso consiste em gangrena úmida
(oclusão vascular incompleta) ou em gangrena seca (trombose vascular completa).
 Principais elementos para se identificar morte pelo frio (diagnóstico difícil):
 Hipóstase vermelho-claro (mudança de coloração que surge na pele dos cadáveres,
decorrente do depósito de sangue estagnado);
 Rigidez cadavérica precoce;
 Sangue de tonalidade menos escura;
 Sinais de anemia cerebral;
 Congestão polivisceral;
 Espuma sanguinolenta nas vias respiratórias
 Infiltrado hemorrágico na mucosa gástrica (sinal de Wischnewski);
 Flictenas semelhantes às das queimaduras.

2.1. Classificação das geladuras


 1° Grau: eritema (rubor). Rubefação vermelho-escura entremeada de áreas lívidas na pele
tensa e luzidia (brilhante).
 2° Grau: flictenas ou bolhas (vesicação), semelhantes às das queimaduras.
 3° Grau: necrose ou gangrena (úmida ou seca).
 Alguns autores, como o França, consideram a classificação do 1º grau ao 4º grau, sendo a
de 1º grau: palidez ou rubefação local; 2º grau: eritema; 3º grau: necrose e 4º grau:
gangrena ou desarticulação.

2.2. Ação do frio difuso


 Hipotermia: queda da temperatura abaixo dos 35°C.
 Ação geral do frio: alteração do sistema nervoso, sonolência, convulsões, delírios,
perturbações dos movimentos, anestesias, congestão ou isquemia das vísceras, podendo
advir a morte quando tais alterações assumem maior gravidade.
 Hipotermia acidental: alguém fica exposto em ambiente de temperatura muito baixa por
tempo prolongado o suficiente para esgotar sua capacidade de produção de calor.
 O álcool deixa a pessoa mais suscetível ao frio.

3. Eletricidade
 É uma energia física capaz de se transformar em calor ao passar pelo corpo, produzindo
queimaduras que podem levar a morte.
 Pele molhada: oferece menor resistência à passagem da corrente elétrica: lesões externas de
menor gravidade e lesões internas mais graves, podendo levar à morte por parada cardíaca.

3.1. Eletricidade atmosférica (raios):


 Fulminação: age letalmente sobre o homem e animais
 Fulguração: danos corporais, sem morte.
 A morte pela eletricidade atmosférica se dá por inibição direta dos centros nervosos por
paralisia respiratória e asfixia. Em alguns casos, predominam os efeitos cardíacos com
fibrilação ventricular. Outras alterações são: queimadura, hemorragias musculares, ruptura
de vasos de grosso calibre e até mesmo do coração; fraturas ósseas, congestão e
hemorragia dos globos oculares; congestão polivisceral, fluidez do sangue, distensão dos
pulmões e equimoses subpleurais e subpericárdicas.
 Sinal de Lichtenberg: lesões externas de aspecto arboriforme. Pode desaparecer com a
sobrevivência.

 Arcos voltaicos: centelhas, ou faíscas, de intensa luminosidade, que pulam do condutor


com alta voltagem para qualquer corpo que permita o escoamento da energia para o solo.
 A pele e os tecidos subjacentes do local onde atua o arco voltaico são carbonizados.
Quando o contato é feito com a cabeça, pode haver explosão da caixa craniana devido à
ebulição instantânea do cérebro.
 Ceratite: inflamação da córnea por lesão do seu epitélio, causada pela luz dos arcos
voltaicos.
 Catarata tardia: pode ser desencadeada devido a passagem de corrente elétrica pela
cabeça. O calor produzido seria capaz de alterar a estrutura do cristalino.
 O coração é o órgão mais vulnerável à corrente elétrica.

3.2. Eletricidade industrial ou artificial


 Eletroplessão: descarga elétrica podendo ou não haver morte.
 Eletrocussão: há morte.
 Marca de Jellinek: lesão da pele, tem forma circular, elítica ou estrelada, de consistência
endurecida, bordas altas, leito deprimido, tonalidade branco-amarelada, fixa, indolor,
asséptica e de fácil cicatrização.

 Queimadura elétrica: pode ser cutânea, muscular, óssea ou visceral. Apresentam-se na


forma de escaras negras, de bordas relativamente regulares, podendo ou não apresentarem
as marcas do condutor.
 Metalização elétrica: destacamento da pele, com o fundo da lesão impregnado de
partículas da fusão e vaporização dos condutores elétricos.

4. Baropatias
 A pressão atmosférica é o peso do ar. O ar atmosférico é composto majoritariamente por
oxigênio (21%) e nitrogênio (79%) e em menores proporções por argônio, hélio, neônio,
criptônio e xenônio.
 Baropatias (Hygino) ou barotrauma (França): alterações provocadas no corpo humano pela
permanência em ambientes de pressão atmosférica muito alta ou muito baixa ou decorrente de
variações bruscas da pressão.

4.1.
Hiperbarismo
 Aumento acentuado da pressão;
 Também conhecido como “mal dos caixões” ou “doença do escafandro”;
 Intoxicação pelo oxigênio, nitrogênio e gás carbônico;
 Barotraumas: perfuração do tímpano, rompimento dos alvéolos, embolia gasosa e fratura
nos dentes;
 Pode ocorrer a doença da descompressão:
 Doença da descompressão tipo I: afeta principalmente as articulações, a pele e os vasos
linfáticos. É a forma mais leve da doença de descompressão, provoca dor e também
conhecida como doença dos mergulhadores. Sintomas comuns: coceira, pele mosqueada,
linfonodos inchados, erupção cutânea e fadiga aguda.
 Doença da descompressão tipo II: pode trazer risco à vida. Afeta os sistemas dos
órgãos vitais, incluindo o cérebro e a medula espinhal, o sistema respiratório e o
sistema circulatório. O tipo mais grave de doença de descompressão tem como
consequência mais frequente o aparecimento de sintomas neurológicos, que vão desde
um entorpecimento até paralisia e morte.
 Alguns barotraumas sofridos pelos mergulhadores:
 Barotrauma auditivo: quando o individuo mergulha, a pressão da água empurra o
tímpano pra dentro;
 Barotrauma sinusal: A impossibilidade de equalização das pressões dentro dos seios e
na cavidade nasal cria condições para a instalação do barotrauma;
 Barotrauma dental: dor intensa quando há presença de tratamento malfeito do canal
pulpar;
 Barotrauma torácico: a massa de ar contida nos pulmões não varia, mas vai reduzindo
seu volume à medida que aumenta a profundidade. Isso provoca grande aumento da
curvatura costal, com possibilidade de fratura;
 Barotrauma digestivo: distensão aguda de uma víscera oca pela diminuição da pressão
ambiental.
 Aspectos periciais dos acidentes de mergulho
 Casos fatais: a vítima deve ser removida junto com o equipamento de mergulho para uma
câmara hiperbárica com a mesma pressão do ambiente do acidente;
 Devem ser anotados dados de profundidade, visibilidade, temperatura da água,
correntezas, presença de animais potencialmente agressivos, presença de algas e
alterações em materiais de suporte como gaiolas, sinos;
 A necropsia deve ser feita o mais rápido possível a fim de evitar doença de
descompressão post mortem e formação de bolhas de putrefação;
 A medida de temperatura retal deve ser feita o mais rápido possível para diagnosticar
possível hipotermia.
4.2. Hipobarismo
 Também conhecido como “mal das montanhas” e doença de Monge
 Causado pela menor densidade do ar em grandes altitudes;
 Altura aumenta, diminui o nível o oxigênio;
 O organismo, para compensar a falta de oxigênio, produz mais glóbulos vermelhos
(poliglobulia);
 Por decorrência da rarefação do ar o corpo pode sofrer hipoxemia (baixa concentração de
O2 no sangue) e pode ocorrer vazamento de líquido para os pulmões, causando morte por
asfixia.
 Sintomas: náuseas, dispneia, escotomas, vertigens, desmaios, epistaxe, otorragia (soroche
andino), podendo a morte sobrevir por hemorragia cerebral.
 Para evitar o mal das altitudes deve haver adaptação progressiva ou, nos casos de aviões
Boeing e viagens espaciais, pressurização.
 A natureza jurídica da morte é frequentemente acidental.

4.3. Explosões
 As lesões produzidas decorrem mais da ação térmica do que da onda explosiva;
 A força expansiva dos gases liberados em uma explosão é transmitida em todas as
direções;
 Além dos efeitos mecânicos e térmicos da explosão, podemos achar contaminação do
ambiente por substâncias químicas ou radioativas, como o fósforo branco;
 Blast injury: impacto da onda de choque gerado por explosões:
 Blast primário: onda de choque propriamente dita;
 Blast secundário: causado por fragmentos do artefato;
 Blast terciário: choque de pessoas lançadas ao ar contra objetos.
 Meios de propagação das ondas de choque
 Blast aéreo: órgãos mais afetados são os ouvidos, os pulmões e o tubo digestivo. O
barotrauma pulmonar é a principal causa de morte em consequência do blast primário;
 Blast líquido: lesões abdominais de maior intensidade que no blast aéreo, lesões
pulmonares são escassas;
 Blast sólido: a distribuição das lesões depende da postura da vitima. Se estiver em pé,
pode fraturar o calcâneo (maior osso do pé). Se estiver sentada, a pessoa recebe o impacto
sobre a região glútea e o transmite para cima através da coluna vertebral, podendo
resultar em traumatismo crânio encefálico.
 O coração é o órgão que melhor suporta as ondas de expansão da blast injury. Os ouvidos,
pulmões, estômago, intestinos, baço, rins e fígado são os mais afetados.
 Quando a explosão ocorre em recinto fechado, a onda de choque é refletida pelas paredes e
volta sobre as vítimas com potência ainda elevada.
 A propagação da onda de choque na água é mais rápida que no ar.
 A pesquisa de monóxido de carbono e de cianetos no sangue das vítimas deve ser feita. O
monóxido de carbono resulta da combustão incompleta de substâncias orgânicas e os
cianetos são liberados pela combustão de materiais plásticos, que também produzem óxidos
ácidos de enxofre e de nitrogênio capazes de se combinar com a água presente nas vias
aéreas, produzindo queimaduras químicas.
5. Radiações
 Causadas pela ação do raio-X (ondas eletromagnéticas), no rádio (partículas beta) e na
energia (aniquilação de partículas).
 Ações locais: radiodermites:
 Radiodermatite aguda: as de primeiro grau são temporárias (cerca de 60 dias) e
apresentam a forma depilatória e a eritematosa. As de 2° grau são úlceras dolorosas e
cobertas com crosta seropurulenta, com cicatrização difícil. As de 3° grau são
representadas por zonas de necrose, aspecto grosseiro e grave (úlceras de Roentgen).
 Radiodermatite crônica: podem ser locais e apresentar a forma ulcero-atrófica,
teleangiectásica ou neoplástica (também chamada de câncer cutâneo dos radiologistas).
 Efeitos da radiação no organismo: alterações genéticas, cânceres, alterações de células do
sangue, queimaduras que podem atingir o nível ósseo.

6. Luz e som
 Podem acarretar perturbações neurossensoriais ópticas ou auditivas;
 Incidência de luz de alta intencidade sobre os olhos pode provocar perturbações
neurossensoriais nos globos oculares, como defeitos de refração, dificuldade ou
impossibilidade de mudar a forma do cristalino para convergir na retina raios luminosos
provenientes de objetos que estão a uma distância grande ou pequena (inacomodação), ou na
própria retina e perda da irreparável da visão.

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