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O que é a Literatura Fantástica?

O presente texto tem como objetivo apresentar alguns conceitos


iniciais no que diz respeito a Literatura Fantástica utilizando como base o
artigo A Literatura Fantástica: Gênero ou modo?, da autora Marisa Martins
Gama-Khalil. Neste artigo a autora apresenta as opiniões de vários
estudiosos em relação a que enquadramento teórico-crítico essa literatura
pertenceria, isto é, se ao gênero ou ao modo. Contudo, neste texto não
buscaremos entrar nesta contenda, e sim apresentar algumas informações
introdutórias.

Em primeira análise sobre os autores que buscam agrupar as variadas


formas da narrativa fantástica em gêneros, a autora nos revela que neste
caso ocorre a busca pelas diferenças, ou seja, precisa-se delimitar o território
em que o fantástico ficará situado ao lado de gêneros vizinhos. Estes gêneros
vizinhos segundo o Todorov seriam o estranho e o maravilhoso, estando o
fantástico no meio deles.

A narrativa do estranho se realizaria em geral pela presença do medo.


Um aspecto que o diferenciaria do fantástico é que no estranho, os fatos
relatados podem ser naturalmente elucidados pela lógica da razão, ao passo
que isso não seria possível no fantástico. Um exemplo deste tipo de narrativa
encontrada na cultura pop - ao leitor pouco familiarizado com textos literários
- trata-se da série animada Scooby-doo em que um evento sobrenatural
ocorre, encadeando a busca para resolvê-lo por Fred, Velma, Daphne,
Salsicha e Scooby que sempre acabam encontrando uma razão lógica para
tais eventos sobrenaturais.

Sobre as narrativas do maravilhoso, segundo a autora se valendo de


Todorov, os eventos sobrenaturais encontram-se naturalizados no mundo
diegético, (diegese é um nome técnico que pode ser compreendido como
sinônimo de história), neste caso os personagens e o leitor não se
surpreenderiam, uma vez que o sobrenatural é a realidade normal daquela
narrativa. Os contos de fadas são um exemplo deste tipo de gênero literário.
Por fim o fantástico estaria como disse no início deste texto, entre o
estranho e o maravilhoso, assim para uma narrativa ser considerada
fantástica é necessário que ela esteja inserida numa realidade natural e
ocorra um fenômeno insólito, ou seja, aquilo que não é habitual, algo
incomum, segundo Gama-Kalil:

“Somos transportados para o âmago do fantástico na situação em que,


pisando no solo de um mundo que conhecemos, um mundo prosaico às
nossas vivências, sem anjos, demônios ou monstros, vemo-nos diante de um
acontecimento impossível de esclarecer pelas leis desse mundo familiar”.

Logo o gênero fantástico acontece em função da incerteza do leitor ou


do protagonista de precisar se este fenômeno sobrenatural é fruto da
imaginação ou se de fato tal acontecimento integra a realidade, sendo esta
regida por leis que ainda não é conhecida ou uma vez conhecida é ignorada.
Todorov designa essa incerteza como hesitação.

Uma das compreensões mais modernas de o que seja o gênero


fantástico é a de Roas, que segunda a autora a sua definição “inclui tanto as
narrativas em que a evidência do fantástico não é posta em discussão, como
as narrativas em que a ambiguidade é indissolúvel, pois todas representam a
mesma possibilidade – a invasão do sobrenatural no mundo real e,
especialmente, a inabilidade de explicar tal invasão por meio da razão.”

Sobre o modo abordando este tópico brevemente, a autora apresenta


as ideias de alguns estudiosos, dois deles são a Irène Bessière e Remo
Cesarani que discordam da perspectiva do fantástico como um gênero
literário. Eles defendem o fantástico como modo, pois esse foco abrangeria
muitas outras obras, que teriam como filtro compartilharem formas e
temáticas, não necessariamente sendo todas, mas sim contando com a
combinação de alguns. A título de exemplo no caso da forma ter-se-ia: a
narração em primeira pessoa, as elipses, a teatralidade, a figuratividade, etc.
Enquanto que no caso dos temas: a noite, a vida dos mortos, a loucura, o
indivíduo moderno etc.
BIBLIOGRAFIA:

GAMA-KHALIL, Marisa M. A literatura fantástica: gênero ou modo?. Terra


roxa e outras terras- Revistas de Estudos Literários, volume 26, p. 18-31,
2013.

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