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Instrumentos de avaliação.

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Carmensita Matos Braga Passos

As orientações e sugestões que se seguem devem ser inseridas nas reflexões sobre
avaliação já realizadas durante o curso. Ou seja, avaliação entendida como acompanhamento
do processo de ensino aprendizagem, no sentido de verificar se os objetivos pretendidos estão
sendo alcançados. Em outras palavras os dados obtidos pela avaliação informam se as
aprendizagens estão sendo desenvolvidas e/ou as dificuldades de aprendizagem que se
apresentam. E para quê saber se as aprendizagens estão ocorrendo e/ou quais as dificuldades
de aprendizagem enfrentadas? Certamente não apenas para atribuir uma nota, mas para tomar
decisões diante desses dados: continuar o processo ou fazer uma parada para rever
conhecimentos, explicitar conteúdos que tenham apresentado dificuldades de compreensão,
tirar dúvidas, enfim, encontrar formas de superar os erros e obstáculos apontados na
avaliação.
Para que a avaliação possa coletar as evidências de aprendizagem do aluno são
necessários instrumentos. Dentre os instrumentos mais utilizados estão os testes e provas.
Sem deixar de ressaltar que estes são apenas mais uma possibilidade e que não são os únicos e
nem os melhores instrumentos de avaliação, serão apresentados a seguir algumas reflexões e
sugestões para uma melhor elaboração destes instrumentos.
Questões / Provas Dissertativas ou de Resposta Aberta

Vantagens:
− Permite que o aluno utilize sua própria linguagem, e manifeste sua capacidade de
expressão e criatividade e nível de compreensão;
− Menor probabilidade de acerto casual;
− Apropriado para avaliar aprendizagens que envolvam capacidade de organizar
informações e dispô-las sob a forma escrita;
− Requer menos tempo para elaboração.

Desvantagens:
− Interferência do aspecto subjetivo. Estudos mostram que diferentes professores
atribuem diferentes escores a uma mesma resposta. Essa discordância também ocorre
quando o mesmo professor corrige a mesma questão em momentos distintos;
− Exigem muito tempo para correção;
− Oferecem uma amostra pequena dos conhecimentos trabalhados.

Sugestões para uma boa elaboração de itens dissertativos:


− Clareza e precisão de linguagem na formulação das questões, orientando claramente o
aluno sobre o que necessita realizar;
− Evitar expressões de muita abrangência como “fale sobre” ou equivalentes. Ao
contrário deve-se especificar com clareza que aspectos devem ser abordados;
− Adequar a quantidade perguntas ao tempo disponível de forma que o estudante possa
rever suas respostas.

Procedimentos que tendem a reduzir a interferência da subjetividade na atribuição de


escores:
− Especificar para cada item os fatores que serão considerados na avaliação da resposta;

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Notas de aula.
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Doutora em Educação pela Universidade Federal do Ceará. Professora adjunta da UFC. carmensita@baydenet.com.br
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− Não identificar nominalmente os testes / provas na hora da correção para evitar juízos
pré-concebidos influenciados por desempenhos anteriores;
− Corrigir um só item por vez. A atenção do professor volta-se para o item corrigido,
permitindo uma visão geral do desempenho da turma naquela questão;
− Se possível completar toda a correão dos itens sem interrupções, evitando
interferências de fatores circunstanciais.

Questões / Provas Objetivas

Vantagens:
− Apresentam opções de respostas para um exame crítico; não se cobrando apenas
memorização, uma vez que exigem análise, e comparação;
− Abrangem um maior âmbito do conteúdo, uma amostra maior dos conhecimentos
trabalhados;
− Julgamento simples e objetivo;
− Correção rápida.

Desvantagens:
- Requerem mais tempo para preparação;
- Maior probabilidade de acerto casual;
- Não possibilitam a expressão do aluno que faz interpretações e análises de idéias alheias.

Tipos de Questões Objetivas

Questões de completar
− Evitar suprimir palavras que comprometam o sentido da questão
− É preferível colocar o espaço em branco perto do fim da questão e não no início da
frase;
− Evitar incluir frases textuais de livros didáticos, pois estimula a memorização.

Questões de Certo ou Errado ou Falso / Verdadeiro


É um tipo de item impróprio para verificar objetivos mais complexos como: aplicação,
análise, síntese, além disto favorece muito a interferência do fator sorte.
Na sua elaboração deve-se cuidar para usar apenas declarações que sejam
incondicionalmente falsas ou verdadeiras.

Questões de Múltipla Escolha


Prestam-se para verificar habilidades como compreensão, aplicação, análise, no entanto
não é satisfatória para testar a capacidade de organizar informação, expressão escrita (clareza,
criatividade, criticidade).

Sugestões
− Incluir no enunciado da questão toda palavra que poderia se repetir nas alternativas.
Deixando o máximo de explicações para o enunciado diminui o tempo gasto com
leitura e torna a questão mais clara;
− Evitar que as alternativas contenham alguma palavra do enunciado. A repetição pode
fornecer um indício da resposta correta, embora o estudante não tenha o conhecimento
requerido pela questão;
− Procurar não dar indícios gramaticais da resposta correta;

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− Todas as questões devem conter o mesmo número de alternativas, portanto se o


enunciado da questão não comporta o número de alternativas pretendido recorra a
outro tipo de questão;
− Para reduzir acertos casuais, elaborar de quatro a cinco opções;
− As opções devem ter aproximadamente a mesma extensão. Os cuidados que cercam a
opção correta, tornam-na mais evidente;
− A resposta certa não deve ter mais termos técnicos que as outras, ou expressões com
às vezes, é possível, geralmente, pois mostram a preocupação do examinador
assegurar a resposta certa;
− Devem-se evitar afirmações taxativas como nunca, sempre, somente,, todos, pois
sugerem escolhas improváveis;
− Tornar todas as opções plausíveis, mas tentando incluir pontos que se tentou esclarecer
nas aulas. Assim será possível avaliar assuntos que apresentam dificuldades;
− As ciladas não se constituem elemento avaliador. Incluir erros nas opões que possam
passar despercebidos ou que possam confundir quem sabe o assunto, pode
comprometer a questão enquanto instrumento de avaliação de um determinado aspecto
do rendimento escolar;
− Cuidar para que a opção correta não apareça com mais freqüência numa determinada
posição ou nunca apareça em outra. Evitar também que se estabeleça uma seqüência
(abcd; abcd; ...).

Sugestões Gerais para a construção de bons itens objetivos


− Redigir com clareza e linguagem acessível ao nível dos alunos;
− Evitar reproduzir literalmente frases e ou textos de livros, pois incentiva a
memorização;
− Cuidar para que uma questão não forneça subsídios de outras questões;
− Evitar interdependência de itens. O erro de um pode acarretar erros subseqüentes;
− Sempre que possível formular questões sob a forma afirmativa, pois as formulações
negativas acarretam dificuldades de interpretação. Se for inevitável, sublinhar a
palavra ou frase negativa.

Quanto à disposição dos itens:


− Agrupar as questões de modo que as que têm a mesma forma (múltipla escolha, certo-
errado, etc.) apareçam juntas;
− É preferível ir progressivamente dos itens mais fáceis aos mais complexos. Além de
ser mais motivante, no caso de alguns alunos não disporem de tempo para concluírem,
terão assegurado as questões de resolução mais fácil;
− É aconselhável que cada questão aborde apenas um conteúdo. Da mesma forma, as
questões sobre um mesmo tema devem vir agrupadas.

Embora nem sempre seja possível atender integralmente a todas essas orientações, elas
permitem uma melhoria na qualidade dos instrumentos de avaliação sempre entendidos numa
perspectiva de coleta das evidências da aprendizagem do aluno para subsidiar o melhor
desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem.
Esteban (1999) propõe que a avaliação se transforme de uma prática de classificação
para um processo de investigação. Esta perspectiva ajuda a transformar a leitura dos
resultados alcançados na avaliação, convertendo o não-saber, estático, negativo, definitivo em
ainda não-saber, provisório, relativo e potencial. A autora esclarece:

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Investigando o processo de ensino/aprendizagem o professor redefine o sentido da


prática avaliativa. A avaliação como um processo de reflexão sobre e para a ação
contribui para que o professor se torne cada vez mais capaz de recolher indícios, de
atingir níveis de complexidade na interpretação de seus significados, e de incorporá-
los como eventos relevantes para a dinâmica ensino/aprendizagem. Investigando,
refina seus sentidos e exercita/desenvolve diversos conhecimentos com o objetivo de
agir conforme as necessidades de seus alunos, individual e coletivamente
considerados. (Esteban, 1999, p. 24)

Não é fácil praticar uma avaliação inclusiva numa realidade social como a nossa
excludente e seletiva. A superação dessa concepção pressupõe entender que
A avaliação se destina ao diagnóstico e por isso mesmo à inclusão, destina-se a
melhoria do ciclo de vida. Deste modo por si é um ato amoroso. Infelizmente por
nossas experiências histórico-sociais e pessoais temos dificuldades de assim
compreendê-la a praticá-la. Mas fica um convite a todos nós. É uma meta a ser
trabalhada, que com o tempo se transformará em realidade, por meio de nossa ação.
Somos responsáveis por esse processo. (Luckesi, 1995, p. 180.)

O desafio é: o que é preciso fazer para que a avaliação na realidade escolar vá superando
o seu caráter seletivo, excludente e meramente classificatório e, adquirindo um caráter
acolhedor, inclusivo e interessado na aprendizagem do aluno.

BIBLIOGRAFIA
ESTEBAN, Maria Teresa (org.) Avaliação: uma prática em busca de novos sentidos. Rio de
Janeiro: DP&A, 1999.
HAIDT, R. C. C. Curso de Didática Geral. São Paulo: Editora Ática, 1994.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1992.
LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
MEDEIROS, E. B. Provas Objetivas, Dissertativas, Orais e Práticas Técnicas de
Construção. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1989.
SANT´ANNA, I. M. Por Que Avaliar? Como Avaliar? Critérios e Instrumentos.
Petrópolis: Vozes, 1995.

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TIPOS DE QUESTÕES DISSERTATIVAS


Relacionar ou É uma exposição que exige apenas recordação, sendo uma
enumerar forma simples de resposta livre.
Também exige a lembrança de fatos, mas de acordo com
determinado critério (cronológico, importância crescente, causa e
Organizar efeito etc.), sendo mais complexo que o anterior. Neste caso, os
elementos devem ser dispostos de forma a assumir uma
estrutura.
Supõe uma escolha fundamentada em normas de julgamento ou
Selecionar apreciação. A resposta exige avaliação, mas de natureza simples
de acordo com um critério preestabelecido.
Solicita a exposição das características de um objeto, fato,
Descrever processo ou fenômeno.
É mais que uma simples descrição, porque supõe uma análise m
que o aluno expõe idéias, questiona, apresenta argumentos a
Analisar favor e contra e estabelece o relacionamento entre fatos ou
idéias. A resposta requer estruturação cuidadosa e propicia
diferentes abordagens do problema.
Consiste em enunciar os atributos essenciais e específicos de
Definir um objeto, fato, processo ou fenômeno, indicando as categorias
a que estaria associado. O aluno não deve repetir as definições
contidas nos livros-textos, mas usar as próprias palavras.
Consiste em confirmar uma regra ou demonstrar uma verdade. A
questão exige aplicação do conhecimento aprendido. O aluno
Exemplificar deve não apenas apresentar definições e enunciar leis e
princípios, mas aplicar o conhecimento, dando uma contribuição
pessoal.
Consiste em elucidar a relação entre fatos ou idéias. A ênfase da
Explicar questão deve recair na relação de causa e efeito.
Consiste numa análise simultânea de objetos, fatos, processos
ou fenômenos, para determinar semelhanças e diferenças e
indicar relações. A resposta exige planificação e organização de
Comparar idéias. O item pode ser enunciado de várias formas, sem
necessariamente usar o termo comparar, solicitando a
apresentação de vantagens ou desvantagens, semelhanças ou
diferenças.
Consiste em fazer um resumo, isto é, expor de forma concisa e
Sintetizar abreviada uma idéia ou assunto, apresentando seus aspectos
essenciais.
O esquema em fazer um resumo, isto é, expor de forma concisa
Esquematizar e abreviada uma idéia ou assunto, apresentando seus aspectos
essenciais.
Consiste em analisar o significado de palavras, textos e idéias ou
Interpretar compreender as intenções de um autor. A influência da memória
é praticamente nula, pois a resposta exige basicamente
capacidade de compreender e realizar inferências.
Consiste em julgar e supõe análise critica. O aluno deve avaliar
Criticar idéias, textos, livros tendo por base padrões ou critérios para
proceder a uma análise crítica.

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APRENDIZAGENS QUE REQUEREM PROCEDIMENTOS


DE AVALIAÇÃO QUE VÃO ALÉM DA TÍPICA PROVA ESCRITA

PRODUTO COMPORTAMENTOS REPRESENTATIVOS


Falar, escrever, escutar, leitura oral, realizar
experimentos no laboratório, desenhar, tocar um
Habilidades
instrumento musical, habilidade de trabalhar, de estudo e
habilidades sociais.
Uso do tempo, uso do equipamento, uso de recursos;
Hábitos de trabalho
demonstra iniciativa, capacidade criadora, persistência.
Preocupação com o bem-estar dos outros, respeito às
leis, sensibilidade ante as questões sociais, preocupação
Atitudes sociais
com as instituições sociais, desejo de trabalhar em prol
da melhoria social.
Mente aberta, sensibilidade para as relações de causa e
Atitudes científicas
efeito, atitude indagadora.
Sentimentos expressos com respeito a várias atividades
Interesses educacionais, mecânicas, estéticas, científicas, sociais,
recreativas, vocacionais.
Sensação de satisfação e prazer que se expressa com o
Apreciação respeito pela natureza, música, arte, literatura,
habilidades físicas,
Relação com os iguais, reação ante o que se pensa e a
Relacionamento crítica; Reação ante a autoridade, estabilidade
emocional, adaptabilidade social.

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