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Considerando que vivemos hoje numa ditabranda – para alguns a palavra certa é democratura – um regime

que conserva alguma aparência de democracia por ainda haver eleições, mas restringe fortemente as liberdades
democráticas, em especial a participação da grande maioria da população nas grandes decisões de governo – já
referido como um Estado de exceção permanente. Já há muito tempo a burguesia descobriu que esse regime hibrido
de democracia burguesa clássica e Estado de exceção é o melhor para os negócios. Embora haja ainda legalmente
liberdade de expressão e reunião, os aparelhos de repressão fazem já algum monitoramento constante, chegando a
tomar algumas medidas de intimidação quando excedido algum limite na organização das massas exploradas. Limite
esse que não chega a ser explicitamente definido, por vezes chega a ser considerado subjetivo, existindo apenas na
mente das cabeças da repressão. À medida que o sistema vai perdendo a capacidade de conter a mobilização das
classes exploradas, vai adquirindo importância na dominação os métodos repressivos, e com isso a frequência em que
teremos infiltrações dos aparatos de repressão nos espaços democráticos, dificultando a capacidade de articulação
dos movimentos sociais.
Num país que durante a maior parte de sua história sempre teve muito pouca participação popular – afinal a
república já foi criada pelos militares – o que chamamos de “democracia” sempre foi algo muito restrito e
compartimentado. Com a queda do regime soviético e do muro de Berlim, e o consequente descrédito do sonho
socialista, a burguesia internacional se viu livre para tirar a máscara, e descartar o que era conhecido como regime de
bem estar social. A moda agora serão os regimes “democracia de faz de conta”: os governantes podem prometer o que
quiserem, mas na prática seguem um caminho estreito - “podes fazer o que quiser, desde que seja o que eu quero” –
sempre subordinados ao capital. O diagnóstico da realidade atual é curto e grosso: como a direita tradicional não
consegue criar um regime político estável, a extrema direita aproveitou a instabilidade como uma brecha para
alavancar seu projeto político.
Segundo meus estudos de sociologia – confesso que é muito pouco, mas dá pro gasto - é preciso entender a
gênese social e cultural de um povo, para traçar o caminho de sua libertação. Ora, o Brasil nasceu a partir de um
cadinho de nacionalidades, sendo sua elite inicial de origem portuguesa, com alguma participação inglesa (afinal na
independência, o país já nasceu devendo num acerto financeiro entre a coroa portuguesa e a inglesa), francesa, alemã,
etc; e a maior parte de sua força de trabalho sendo trazida à força da África; e dependendo da região do país, uma
forte participação indígena. Ora, naquele acordo inicial constava a prioridade inglesa nas importações brasileiras, o
que trouxe junto toda uma série de produtos e serviços cujo uso e manutenção demandava algum conhecimento da
língua inglesa. Por aí temos ideia de onde vem aquele sentimento arraigado de que tudo que vem do exterior é bom,
o famoso “complexo de vira-latas”. Mais tarde, após a segunda guerra, este posto foi assumido pelos estados unidos,
aproveitando-se justamente do idioma e da indústria do cinema, que introjeta não só no Brasil uma hegemonia cultural
vinda do norte que se associa a um corte de classe fortemente excludente, mercantilista e concentrador. Mas essa
submissão introjetada não acontece sem luta: o brasileiro aprendeu a dar volta por cima, criando soluções em sua vida
cotidiana que demonstram extrema criatividade. Tendo destrinchado rapidamente o nó dessa submissão introjetada,
cumpre então traçar o caminho de sua superação, começando por atribuir ao brasileiro de todas origens o direito e o
dever de lançar-se ao desafio de alcançar níveis internacionais de excelência, partindo de sua conhecida capacidade
de criação, e descartando qualquer ideia de inferioridade a priori. Justamente entre as comunidades de periferia,
encontram-se variados exemplos de como aproveitar os parcos recursos para superar adversidades. Se essa explicação
não é exatamente a mesma dos historiadores mais experientes, creio que possam contestar de forma fundamentada;
ademais, creio que sejam explicações complementares.
Dentre os muitos sinais da decadência do capitalismo, destaco apenas quatro: a pesca predatória, que chega
a explorar de forma destrutiva e irresponsável até ameaçar de extinção algumas espécies, rapinando até o fundo dos
oceanos; a terceirização, que insere um intermediário entre o trabalhador e sua fonte de renda; a mal disfarçada
incapacidade de combater a produção e comércio de drogas prejudiciais à saúde, já que faz parte do metabolismo real
da economia; e a resoluta negativa em adotar significativa redução no consumo de combustíveis fósseis, baseada em
estudos patrocinados pelas próprias petroleiras –este último nos dá até uma data aproximada, depois da qual não se
pode dar garantias de evitar o descalabro social. Nesse avançado estado de crise, estes sinais recentes mostram que o
capitalismo se assemelha a um monstro da FC, que em troca da imortalidade se metamorfoseia em formas cada vez
mais grotescas e pavorosas. Não encontrando novas fronteiras de exploração, o sistema passa, de forma autofágica a
devorar suas próprias forças produtivas. Tudo isso me leva a concluir: cabe a essa geração da esquerda superar sua
própria crise, porque a próxima enfrentará condições ainda mais adversas. A recente decisão dos donos do mundo, de
tomar medidas globais para reduzir o valor do trabalho é outro motivo para botar na ordem do dia – pra ontem – a
necessidade urgente e inapelável de recuperar o perfil de luta da esquerda, reconstruir seus partidos, e voltar a lutar
(porque a impressão que tenho, é que não estamos nos esforçando o suficiente).
Uma vez eu cheguei a avaliar a História sob um ângulo que misturava determinismo com teleologia: imaginem
que a História tenha armado duas guerras mundiais e uma violenta revolução social (que seria revertida 72 anos
depois) pra obrigar o capitalismo a implementar (pelo menos numa parte do mundo) o Estado de bem estar social e a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, (que décadas depois também sofreriam novo ataque, despejando sobre
uma geração -a nossa- a responsabilidade de reagir a esse retrocesso global), chegando a uma situação em que um
país se arvora sobre os outros em vários sentidos, significando que as lutas de libertação nacional agora são válidas
inclusive no que antes era o Velho Mundo, levando o curso dos eventos a uma nova encruzilhada histórica. Olhando
essa evolução de longe, não se consegue imaginar que possa piorar. Já se disse que a História não segue uma linha
reta, nem mesmo uma curva harmônica: lembra mais a rota de um animal em fuga, que muda de direção
constantemente, e a cada vez as opções se estreitam. Sem dúvida que não há nenhuma inteligência superior
governando os destinos da humanidade, mas o curso dos eventos tem desafiado, era após era, a capacidade do ser
humano em antecipar as características dos processos em nosso futuro. Nesse (talvez pouco) modesto trabalho, estou
tentando fazer a minha parte, tentando enxergar um pouco mais longe, a partir dos ensinamentos das experiências
anteriores, na esperança de melhorar as chances de uma solução positiva para o inevitável conflito que virá.
O quarto poder – a imprensa – faz parte do regime, manobrando e cultivando a opinião pública segundo os
interesses da classe dominante. Quero acrescentar algo pouco considerado: o efeito mistificador da propaganda sobre
a classe trabalhadora. Ao assistir ao merchandising dessa impressionante variedade de produtos, poucos percebem
que a maior parte do que é oferecido destina-se a uma pequena parte da população, favorecida pela sorte ao nascer
em uma família mais endinheirada: isso poderia ser muito melhor explorado pela esquerda. Também esclarecer que,
ao ser gratuita, a difusão da imprensa aberta tem como clientes não a população, mas os anunciantes; e, é claro,
favorecendo uma determinada narrativa, explorando a notícia sempre segundo ângulos que favoreçam os planos dos
governos e das elites.
Enquanto isso, nos subterrâneos da economia, a lógica abstrusa da distribuição da renda no capitalismo
continua socavando e cobrando seu preço. À medida que a tecnologia cria novas formas de substituir trabalho humano
por alguma nova máquina, a concorrência obriga cada empresa a seguir esta tendência, para acelerar o giro do capital,
mas a desigualdade entre a concorrência determina que nem todas consigam fazer esta substituição – algumas ficam
pelo caminho, rumo à falência – e assim se aprofunda a concentração dentro de cada setor da economia (que me
perdoem os economistas marxistas, por resumir tanto o que levaram dezenas de páginas para explicar). Como
consequência ainda mais perversa, o fechamento de um percentual crescente de postos de trabalho. Um olhar mais
atento demonstra também uma diminuição relativa e continuada da proporção do mercado interno em relação ao
conjunto da sociedade, e até um indicador muito singular e creio pouco estudado: a partir de uma análise estatística,
percebe-se haver uma sobreoferta relativa nas camadas mais privilegiadas, em contraste com a suboferta no outro
extremo, o que contribui para travar a economia. Confirmando esta tendência, um percentual expressivo já fora do
mercado consumidor – os moradores de rua – e uma camada intermediaria parcialmente fora, por comprar por fora
do mercado legalizado. Comparando a geração de valor por pessoa física, descobre-se também que uma parte
crescente da população gera valor para alguém situado numa faixa de renda acima – alguns descobrem estar até
mesmo fora da faixa de renda para a qual geram valor, o que contradiz diretamente aqueles manuais da economia
clássica (que por isso eu digo: não ensinam uma ciência, mas uma doutrina). Além disso, neste malfadado país, há mais
de um século alguma grande corporação estrangeira decidiu que, ao contrário da maior parte do mundo civilizado,
todo transporte de carga ou passageiros teria de ser rodoviário, encarecendo toda cadeia produtiva para melhor escoar
a produção das grandes montadoras – mais uma prova da absoluta subserviência das elites nacionais aos gringos. A
tributação fortemente regressiva, por incidir principalmente sobre o consumo, põe à mostra um viés que privilegia
fortemente grandes investidores.
Mais um sinal dos tempos: o agigantamento do que chamamos de capital fictício. Quantidades monstruosas
de capital sendo negociadas eletronicamente, através da internet, buscando valorização. Apurou-se por exemplo, que
em 2015 o total negociado entre instituições financeiras internacionais representava aproximadamente 88 vezes tudo
que foi produzido no planeta inteiro. Ou seja, esta turma ensandecida negocia uma riqueza que não existe! E quando
esse cassino financeiro sofre um engasgo, induz uma crise no sistema produtivo, vindo diretamente da ganancia e da
falta de planejamento que é própria do capitalismo. O capital financeiro, ao relacionar-se com seu congênere industrial,
concedendo empréstimos, personifica nesse momento a própria essência do capitalismo, exigindo a máxima
rentabilidade sem expressar a mínima consideração pelas pessoas que fazem o trabalho real.
Um dos indícios do relativo despreparo em que nos encontramos – e que muitos encaram como um toque de
modernidade – é essa tendência muito recente, pandêmica entre a juventude e a pequena-burguesia, de
encontrarmos pessoas em cada momento de pausa grudados num smartphone – a tal nomofobia: a necessidade
psicológica de permanecer online o tempo todo. Em cada parada de ônibus, sala de espera, refeitório, sala de aula, e
até andando pela rua encontramos pessoas que em outra época estariam conversando, ou refletindo sobre sua
realidade, agora dedicam seus poucos momentos livres a assistir e replicar banalidades e boatos. Não se trata de
saudosismo, mas de uma constatação mais que realista: evidentemente que estarmos conectados de forma prática e
barata deveria facilitar nossas vidas, mas precisamos lembrar que o sistema usa toda informação sobre nossas
mensagens e contatos para nos dominar de forma mais completa e abrangente, invadindo nossa privacidade... e até
bloqueando de alguma forma as tentativas de organização da classe, afinal mesmo dizendo o contrário, cada rede
social é uma empresa privada, onde o cliente não é o usuário, mas o anunciante... Pois vou me dar ao luxo de ser
paranoico: em caso de convulsão social, seria inteligente a esquerda contar com outras formas de contato... porque
acreditem ou não, com certeza existe algum departamento nas entranhas do poder criado especificamente para
monitorar a esquerda, e que certamente vai inchar numa escala inédita quando conseguirmos atrapalhar de forma
mais efetiva os planos das elites.
Outro sinal dos tempos insanos é aquilo que chamam de esporte: duas dúzias de jovens semianalfabetos, a
tourear uma bola de um lado pro outro, e legiões de imbecis grudados na tevê como se fosse a coisa mais importante
do mundo (a lavagem cerebral é tão poderosa que tem até militante de esquerda nessa roubada). Provavelmente pros
atletas seja a oportunidade de uma vida - ganhando pequenas fortunas pra se divertir - mas pro público é apenas uma
válvula de escape, uma forma que o sistema encontrou pra domesticar e imbecilizar multidões, de fazê-los esquecer
seus problemas, além de gerar grandes lucros pros anunciantes. Porém, ficar no sofá enchendo as guampas de cerveja
torcendo pra alguém que nem conhece pessoalmente, eu não chamo de esporte: é apenas mais uma forma sofisticada
de lavagem cerebral, pra tirar das pessoas o ânimo de lutar (se fosse esporte, não haveria tantas barrigas pronunciadas,
a denunciar falta de exercício). Mesma coisa para as redes sociais, cinema, carnaval, corrida de carros, novelas, etc.
Antigamente havia apenas a religião a cumprir esse papel, porém a emergência da revolução russa demonstrou que
não tinha suficiente abrangência social, então a burguesia tratou de variar e modernizar seus esquemas de dominação
– alguns preferem chamar de aparatos de hegemonia, talvez seja mais apropriado - que estão dando muito certo: veja-
se a apatia da classe trabalhadora frente à queda no nível de vida.
O sistema político brasileiro, sem destoar muito do que existe no restante do mundo, é uma mescla bem
costurada de balcão de negócios com um teatro bem montado, onde marionetes engravatados da classe dominante,
em tom monocórdio e propositalmente maçante de doer, encenam uma pantomina grotesca de troca de favores
disfarçada de “interesse público”. Os parlamentos, prostituídos pelo poder econômico, se historicamente nunca
representaram a população, continuam escancarando sua absurda falta de representatividade. Quando algum
parlamentar tenta alguma medida mais popular, quase sempre resulta de simples interesse eleitoreiro, sem ameaçar
a lógica capitalista. Os partidos, verdadeiras quadrilhas, são constituídos por aqueles que se especializaram na arte da
enganação – muitas vezes, são chamados para a tarefa celebridades sem qualquer compromisso social. Mesmo entre
os partidos da esquerda, é forte a pressão para adaptação ao sistema. Os impressionantes índices de votos nulos e
abstenções nos processos eleitorais demonstram a qualquer um com mínimo de raciocínio que a tal democracia
representativa não emociona mais ninguém.
A população, ainda acreditando no sistema que chama isso de Política, prefere manter-se à margem, somente
prestando alguma atenção em período eleitoral, por ser obrigatório o voto – e mesmo assim, logo esquece em quem
votou. A reputação do sistema político permanece em níveis folcloricamente baixos. A esquerda radical – ou seja,
aqueles que mantém algum referencial de derrubada do sistema capitalista – no momento presente ainda dividida em
pequenos grupos, consegue episodicamente mobilizar alguns setores sociais, mas muito longe do que tínhamos logo
após a redemocratização. Seus líderes esmeram-se em prognósticos econômicos, caracterizações políticas e avaliações
conjunturais, aparentemente sem conseguir perceber a origem de suas debilidades.
O aparelho de Estado, além de ser um instrumento de dominação de classe, tornou-se também fonte de lucros
privilegiada para as grandes corporações, em especial os bancos (que além de lucrarem sem risco sobre a poupança
da população, agora engendraram um esquema criminoso e perfeitamente legal de extorquir um naco generoso das
receitas do Estado), que sem produzir absolutamente nada, ainda estendem seus tentáculos sobre os serviços públicos.
Ao longo das últimas décadas, gestou-se dentro dos Estados modernos uma separação entre o governo propriamente
dito, e as várias instituições subordinadas, na qual em nome da eficiência a maior parte das decisões ficam a cargo de
burocratas de carreira, e por cargos de confiança não eleitos. Em decorrência da fraquíssima participação popular, além
da prioridade do atendimento ser a quem tem mais dinheiro, há uma epidêmica e invencível tendência ao desvio de
recursos públicos, que faz parte da administração desde o início da História do país, cuja denúncia costuma ser cavalo
de batalha entre as facções em disputa, sendo verdadeira ou não...
A economia brasileira, há tempos anda de lado: em poucas palavras, lembra um elefante vesgo e capenga, que
sucessivos planos econômicos não conseguem acelerar. A redução dos rendimentos da parcela mais pobre leva ao
descalabro boa parcela dos varejistas, que sem ter escolha nem consciência, fecham o coro em torno das elites,
movidos pelo ódio de classe e pela mídia. Uma minoria de grandes corporações, bancos principalmente, disputam
incansavelmente uma fatia maior nos recursos públicos – via incentivos, sobrefaturamento ou privatização - usando
desde lobbies junto aos parlamentares e a burocracia estatal, concorrência desleal, abuso do poder econômico,
fraudes, até as várias modalidades de corrupção. A burguesia intermediaria, sem ter escolha, não consegue ter planos
próprios. Sem ter planos de desenvolvimento coerentes, nem qualquer compromisso real com causas populares, os
sucessivos governantes, em conluio abjeto com seus financiadores, conseguem se eleger e reeleger à custa de
campanhas milionárias e uma asquerosa cumplicidade da imprensa. Serviços públicos sucateados e mal geridos
(intencionalmente, visando privatizar), principalmente quando tem como alvo a maioria da população, a qual
entorpecida por um quadro social pouco animador, não vislumbra saídas. Obedecendo aos ditames dos países centrais,
as elites empreendem há algum tempo uma gradual e pouco comentada desindustrialização do país, ao mesmo tempo
entregando ao controle estrangeiro suas reservas mais valiosas. Nesse ritmo, logo teremos um grande fazendão, feio
e violento, com um povo ainda mais pobre e ignorante...
Fechando o quadro em primeiro plano, um judiciário com forte corte de classe – juízes e promotores,
geralmente vindos das camadas médias, se esmeram num dialeto propositalmente incompreensível para as massas,
que bem ou mal disfarça seu inabalável compromisso com a classe dominante, cultivando uma falsa imagem de
sapiência e imparcialidade – as quais frequentemente se mostram mais curtas que o nariz do juiz... A concepção de
justiça que perpassa tal sociedade que se diz civilizada é uma dupla escala de valores, onde a classe social determina
o que as pessoas podem fazer. Por trás de tudo, as forças armadas servem de último recurso, a garantir silenciosa e
ostensivamente o predomínio da burguesia – e poucos percebem, uma fidelidade maior ao imperialismo que às
autoridades eleitas. Como em outros lugares, nem sempre conseguem disfarçar seu sórdido papel de exército de
ocupação contra seu próprio povo. Dividida entre forças federais e estaduais, cabe às segundas o enfrentamento
imediato aos eventuais levantamentos populares; mesmo subordinadas formalmente aos governadores, são
dominadas pela mesma ideologia reacionária e excludente que as federais. Frequentemente, ficamos sabendo de casos
em que pessoas inocentes são agredidas ou mortas por suas violentas incursões, caracterizando claramente um
compromisso mais forte com o ódio de classe que à justiça, em alguns casos pura incompetência.
Eu costumo usar uma alegoria pra representar esse quadro: um velho decrépito representa o aparato político-
jurídico, que já não consegue se sustentar sozinho, escorado num poste (fora de foco) que seria o poder econômico.
Atrás do poste, bem disfarçado mas rosnando, um buldogue, que seria o aparato policial-militar. Dando evidencia ao
primeiro, uma lâmpada seria a imprensa. Essa imagem serve pra colocar em evidência a conclusão de que, ao contrário
do passado, a perda das funções do primeiro não leva à derrocada do terceiro.
Isso pode ser resumido da seguinte forma: antes costumávamos considerar o aparelho policial-militar como
um braço armado do Estado, porque dependia de sua iniciativa para atuar; era um apêndice mas na prática deixou de
sê-lo, autonomizou-se; hoje devemos considerá-lo como um guardião do mesmo. Se antigamente precisava da
iniciativa do executivo para agir, agora não precisa mais; e pior: hoje sabemos que há uma relação de subordinação
com as forças armadas do imperialismo. À medida que o aparato político-legal deixa de cumprir sua função política, o
aparato policial-militar assume gradualmente o papel do primeiro – e sua interação com a sociedade, como sabemos
não é política. Isso tem vital importância no raciocínio a seguir.

Incompetência relativa
Há alguns poucos anos, fiz uma rápida pesquisa na internet, descobri que existem nesse conturbado planeta
138 organizações – a maioria grupinhos nacionais sem alinhamento internacional; outras conseguiram encontrar
congêneres na vizinhança imediata, reunindo algumas poucas organizações nacionais; e até algumas que pretendem
ser internacionais – que se reivindicam da tradição do trotskysmo revolucionário (a turma que quer derrubar o sistema,
não se adaptar a ele), pretendem a longo prazo derrubar o sistema capitalista e instaurar regimes genuinamente
socialistas, superando o estigma do stalinismo, até mesmo com um programa atualizado que contempla a pauta
feminista, antirracista, ambiental, LGBT, indígena, etc, articulando com a questão nacional – o que comparado ao
tamanho do inimigo e das tarefas históricas, me parece um bom ponto de partida pra iniciar uma discussão e encarar
algumas ações comuns nos países onde as lutas as coloquem na mesma trincheira. Da minha condição de
independente (ainda que muito longe de ser capaz de me aprofundar nisso), consegui fazer a minha avaliação
programática, e cheguei à conclusão que, no geral, existe uma convergência programática suficiente e que, em alguns
lugares é possível ao menos uma atuação conjunta.
Não precisei de muita experiência para perceber que, dentro desse quadro, o Brasil tem uma posição singular:
justamente por seu tamanho, encontramos aqui representantes dessas diferentes correntes, que compartilham não
só algumas frentes de luta como alguns princípios básicos, até participando do mesmo partido, mas que divergem em
avaliações conjunturais e estratégias de lutas. Compreende-se sua extrema cautela, tendo em vista alguns erros
monumentais cometidos por quem se enxergava herdeiros de uma longa tradição histórica. Tal desacerto, a meu ver,
certamente se deve menos a deficiências de um ou outro que à falta de discussão entre elas, que permitiria não só
encontrar uma linha mais correta, como propiciar uma atuação conjunta, que vejo ser o caminho de superação da crise
da esquerda. Vejam bem, não proponho nada como unificação (ainda), mas tão somente que aceitem que seus
militantes de base se reúnam regularmente, a confrontar argumentos e atuar como um partido de verdade: unido.
Ora, se realmente está em seu horizonte a criação de uma verdadeira Internacional, seria de se esperar que
tentem iniciar um diálogo inicial entre si (algo como um fórum), para encontrar pontos de convergência e talvez num
futuro próximo estabelecer um realinhamento programático para talvez, quem sabe, um dia construir uma
Internacional digna do nome. Talvez haja em algum canto do mundo muitos outro(a)s a sonhar com uma recomposição
de nossas fileiras, ainda que lenta e muito criteriosa – e que, por não serem independentes, não perceba que erros
todos cometem, mas nem todos percebem o caminho da superação. Evidentemente que se estão separadas, deve-se
a terem programas realmente distintos; mas se pretendem ser revolucionárias, saberão que sua tarefa é demasiado
grandiosa para ser empreendida por punhados de militantes espalhados. Talvez alimentem a concepção de que
possam crescer, e ver prosperar seu programa específico; mas tal atitude algumas vezes tende a ser na prática simples
birra política. O ataque aos direitos sociais que o capitalismo empreende na ordem do dia é global, a resposta também
precisa ser global. O tempo urge, a hora de lutar é agora. Se essa geração não conseguir retomar a ofensiva, a próxima
estará em condições ainda mais desfavoráveis.
Todos nós, na esquerda, acostumamos a avaliar os potenciais parceiros políticos quanto ao grau de
compromisso com a revolução, segundo a clareza de seu raciocínio e os efeitos imediatos de suas políticas. Não
podemos nos guiar cegamente pelos clássicos, nem deixar de aprender com as experiências do passado. Ingrata tarefa
que nos lega a História: tentar enfrentar os desafios do presente e do futuro insuficientemente armados de lógica e
ousadia, paciência e empatia, criatividade e planejamento... Pois descobri recentemente que, entre os revolucionários
de verdade e os reformistas, existe uma heterogênea franja indecisa, que até topa entrar nessa aventura de revolução,
desde que não seja muito difícil... (não me peçam nomes, alguém vai querer me lançar pela janela...!)
Existe uma expressão corrente – barril de pólvora – que empregamos quando queremos referir a uma situação
explosiva em potencial; mas creio estar desatualizada. Se nos dirigirmos ao trabalhador comum, oprimido pela
sufocante conjuntura, e explicarmos que ele precisa lutar por seus direitos, o mais provável resultado será uma tácita
concordância, sem um efetivo engajamento. Pelas experiências que tive, posso dizer que somente teremos um
crescimento efetivo da participação nos movimentos sociais, se partirmos das realidades concretas das massas
exploradas, conhecer suas demandas imediatas, e daí começar a estruturar experiências de organização. O grau de
apatia é tal que a maior parte da classe trabalhadora somente vai entrar no movimento de massas a partir de
experiências organizativas em andamento. Aqui vou abrir uma pequena digressão: eu vi uma pessoa colocar um pouco
de querosene numa latinha pra esquentar uma refeição, jogar um fósforo, não acendeu; e então? Ao que eu tive de
explicar: o querosene não acende à temperatura ambiente, por questão de segurança. Mas como acender? pergunta
ele. Simples, faça uma bolinha de papel, acenda com o fósforo, e jogue na latinha, aí acende.
Voltando: a situação atual não é um barril de pólvora, é um tonel de querosene. As pessoas precisam tomar
contato com um movimento já organizado, ou então alguém com mais paciência precisa tomar a iniciativa de convocar,
a partir de algumas demandas já conhecidas. Esse know-how o PT já tinha até três décadas atrás (mesmo sendo um
amalgama informe de correntes onde a direção do partido oscilava em torno de uma dúbia e genérica plataforma de
defesa dos direitos trabalhistas e sociais, mas com alguns setores mais à esquerda que conseguiam alavancar em várias
partes do país uma atuação mais combativa); mas acabou abandonando com a sua integração ao poder da burguesia,
ao decidir pelo caminho da conciliação de classes. Temos de recuperar esse aprendizado de organização, não descartar
como talvez imaginem aqueles que falam em “superar a experiência do PT”. Se não voltarmos a essas práticas,
estaremos simplesmente “jogando a criança fora junto com a agua do banho”. O movimento de massas tem um
potencial enorme de mobilização; mas os trabalhadores que estão fora dos movimentos sociais somente irão se
integrar à luta se perceberem alguma chance de sucesso.
Um dos sinais da crescente crise política está no realinhamento das forças políticas: a recente ascensão da
ultradireita trouxe o perverso efeito de trazer ao primeiro plano, na defesa de um governo decididamente antipopular,
algumas forças que até então pouco ou nada influíam, realmente o que havia de pior no quadro político brasileiro.
Como uma sequela, a cada vez que uma parcela mais esclarecida se rebela, o governo resolve conceder mais benefícios
a esses sinistros aliados, a garantir apoio nas esferas de poder. Isso aumenta a distância entre o poder estabelecido e
a maioria da população. Diagnostico: essa gente não sabe o tamanho da fogueira que está se armando, porque conta
com a estabilidade do sistema, que é cada dia mais duvidosa...
Um dos motivos porque a direita está nadando de braçada no momento atual, é a relativa incompetência da
esquerda em conseguir desenvolver uma tática política devidamente adaptada ao momento atual, que realmente
consiga organizar os explorados de forma duradoura. Tanto no Brasil quanto no exterior, governos de corte
socialdemocrata são descartados facilmente quando a situação econômica não seja favorável. Especificamente,
devemos ter em conta que, tendo como objetivo arregimentar a grande maioria da classe trabalhadora para a tomada
do poder, ao mesmo tempo conseguindo isolar aquele minúsculo segmento social que consegue manipular a classe
média como massa de manobra das classes dominantes, boa parte dessa classe trabalhadora vive em condição social
em que passa toda a vida fugindo da fome. Outro motivo seria, no caso brasileiro, depois da adesão do PT ao regime
burguês, com a política de conciliação e convivência com o fisiologismo e a corrupção, o abandono da dinâmica de
funcionamento interno do partido nos núcleos de base. Considerando que durante a maior parte daquele período
antes de chegar ao poder, quase toda esquerda brasileira estava dentro do mesmo partido, foi possível criar um muito
saudável ambiente de debate onde grande número de militantes experimentaram expressiva evolução política,
permitindo colocar em movimento vastas camadas da classe trabalhadora, o que deu margem a expressivos avanços
em direitos sociais. Abandonando essa experiência política, jogou-se fora todo um período histórico de uma geração.
Sem ter instâncias internas onde haja um debate partidário, onde as correntes coloquem suas posições e estratégias,
onde todos militantes possam interagir, a dinâmica partidária vai continuar pobre, porque sem que as correntes
enfrentem suas debilidades no debate, a evolução política do partido vai ser lenta e quase estagnada, a militância vai
continuar para alguns um passatempo, a esquerda vai continuar pequena e irrelevante, uma berruga na orelha.
Um sintoma dessa incompetência ocorreu nas jornadas de junho de 2013, que nasceram de anseios legítimos
das massas, mas que a esquerda deixou escapar entre os dedos: a direita, usando de uma combinação inédita de
algumas práticas de mobilização da esquerda com alguns recursos tecnológicos inovadores passou à frente. Ainda não
vi, dentre as muitas avaliações que a esquerda fez sobre esse período, alguma corrente fazer essa autocritica. E ter
esse reconhecimento será parte da longa retomada que precisamos fazer para retornar o bonde da esquerda ao
caminho do poder. Pode parecer falso que uma explicação tão curta consiga exprimir um diagnóstico realista por trás
da nossa indigência política (embora recentemente pareça haver alguma retomada); na verdade, assumir o fardo de
ter deixado passar a oportunidade de retomar a ofensiva demonstra que a verdade fica muito mais difícil de enxergar
quando pregada ao nariz... e a ousadia revolucionaria nem sempre vem acompanhada da humildade da autocritica!
Uma medida necessária seria criar eventos públicos que funcionem como aulas de formação política para a
militância: membros mais experientes de diferentes correntes do partido serão convidados a debater diferentes temas
relacionados com a luta revolucionaria. Nada melhor para a evolução política do partido e seus militantes que o
confronto de ideias. Eu tenho até um nome para esta iniciativa: sugiro chamar de Escola Socialista, a ser promovido
online ou presencialmente e itinerante. Sei que hoje algumas correntes promovem algo parecido, mas justamente por
isso são ponto apenas de propaganda, não de debate; se forem promovidas pelo partido poderão ter uma audiência
muito maior, justamente por haver um contraponto. Não deveremos esquecer de providenciar a devida segurança e
proteção contra as provocações da direita e o assédio da repressão. Oportuno destacar que neste debate, bem como
das demais mudanças apontadas como essenciais, a esquerda mais radical leva vantagem. Os debatedores deverão
ser avisados para deixar de lado o linguajar acadêmico, porque senão o pobre trabalhador que for assistir vai entender
nadica de nada...
Faz falta que a esquerda consiga recuperar seu perfil de luta, reaprendendo a falar claramente, em especial
quando reconhecer o inimigo. Por exemplo, a direita é constituída por três camadas distintas: os muito ricos, que
financiam as campanhas; os setores da classe média, mantidos na linha sendo garroteados pelo dinheiro ou fazendo
parte do Estado – mandatários, parlamentares e seus assessores, juízes, militares, policiais, economistas, jornalistas,
comentaristas, blogueiros, burocratas, etc. -; e uma enorme franja de desmiolados, teleguiados pela imprensa e por
algumas redes sociais, os pobres de direita. Estes últimos terão de ser disputados politicamente; já quanto a segunda
camada, podem ser neutralizados quando em virtude de seu histórico e da conjuntura divirjam da agenda principal da
burguesia. Outro exemplo: um banco é um ralo por onde escoa parte significativa da renda nacional, e uma grande
parte fica entesourada nos cofres, nunca retornando a economia porque na verdade a quantidade de papel-moeda se
torna muito maior que a riqueza efetivamente produzida. Tendo se apropriado da parte do leão, os banqueiros
conseguiram criar uma espécie de “trincheira econômica”, em que conseguem se manter separados dos demais
segmentos econômicos, a salvo das crises, lucrando como nenhum outro setor mesmo nas piores crises.
Como a burguesia internacional decidiu recentemente que, para tentar reverter a tendência de queda da taxa
de lucro, seria necessário reduzir o valor da força de trabalho, apareceu uma facção dentro da classe que corporificou
em termos políticos essa necessidade, aproveitando assim a instabilidade política crônica do sistema e a incompetência
relativa da esquerda para alavancar um projeto político distinto – aquilo que alguns chamam de onda conservadora,
na verdade a antiga ultradireita que estava escanteada – o qual emprega profissionais regiamente pagos, desde
marketing e psicologia, até alguns pouco conhecidos serviços de garimpagem de dados na web, para implementar seu
pacote de maldades: corte de direitos sociais e serviços públicos, entrega das riquezas nacionais aos estrangeiros,
liberação de agrotóxicos numa escala inédita, vista grossa ao desmatamento para expandir a fronteira agrícola...
Em face dessa enorme renovação nos esquemas de dominação da burguesia, é necessário atualizar a
compreensão da esquerda sobre as motivações das diferentes camadas sociais para aderir aos movimentos sociais:
entender que pessoas com diferentes graus de compromisso com justiça social ou com a verdade, tendem a aderir em
diferentes momentos à luta social. Todos que estudaram a história da revolução russa lembram de quando o czar
mandou suas forças armadas atirarem na população reunida em frente a seu palácio: foi naquele momento que muitos,
mesmo portando ícones religiosos, perderam a fé na evolução política do sistema. Se temos em conta que qualquer
revolução terá de ter esse momento de supremo desencanto, a apontada maior heterogeneidade da classe
trabalhadora moderna leva a concluir que teremos uma evolução política mais longa e complexa; temos de estudar
melhor o impacto da conjuntura em cada um desses segmentos. Se nos atentarmos que pessoas diferentes olham para
a mesma coisa e veem coisas diferentes, entenderemos que o que para alguns é inaceitável, verdadeiro motivo pra
abandonar a apatia e entrar em ação, talvez até violando a lei, para outros o extremo individualismo - que é o espirito
de nosso tempo - leva a encarar como irrelevante, mera notícia de jornal...
Mesmo entre a dita esquerda radical, percebem-se diferentes graus de compreensão quanto aos desafios à
frente. Muitos militantes têm a vaga noção de que basta manter-se fiel aos princípios e seguir adiante, a vitória está lá
na frente. Uma parte da esquerda (que chamamos de exquerda porque abandonou seus princípios) acha que ser
moderno é aderir à democracia burguesa; outra parte sustenta o equívoco de confundir a “adaptação à situação atual”
com o reformismo; não sugiro abandonar nenhum princípio (talvez até acrescentar alguns), mas capacitar-se melhor
a enfrentar os desafios à frente, inclusive a onipresente (e nem sempre evidenciada) tutela do aparelho policial-militar
sobre a relativa democracia burguesa (que se caracteriza por ter sido sempre muito elitista e tutelada, embora nunca
tenha sido muito estável), bem como o uso crescente da tecnologia para cultivar um campo heterogêneo de apoio ao
regime do capital, criando entre as massas exploradas um ambiente paradoxalmente infértil à revolta. Não se trata de
menosprezar a importância da teoria revolucionaria, fundamental como sempre, mas de reconhecer que a causa da
nossa indigência política não reside no campo teórico: está no fato de estarmos relativamente desatualizados em
nossas táticas, de termos dado ultimamente dois passos para trás a cada passo para frente. Faz falta a capacidade de
dirigir-se claramente às camadas mais exploradas da sociedade e propor “esse partido é seu, tome-o para si; é o seu
instrumento para conquistar uma vida mais digna para si e sua família”. É relativamente fácil explicar isso para alguém
acostumado a lutar por seus direitos; mas é preciso conscientizar-se de que, para grande maioria da classe, sem o
costume da leitura e do debate político, essa proposta terá de ser feita não com palavras, mas com exemplos. Essa
pode ser, a meu ver, a principal falha da esquerda atual em se reposicionar a cumprir sua missão histórica.
É fato que o sistema político está podre; sua disfuncionalidade é mascarada pela venalidade da imprensa e a
sabujice de uma casta política pouco afeita a abrir mão de seus privilégios sociais; mas como a esquerda parece incapaz
de dizê-lo, apareceu um asno troglodita, um palhaço tosco e bufão fazendo pouco das virtudes da tal democracia, a
massa ignara captou a mensagem, e uma classe média ressentida e magoada respondeu entusiasticamente. Deveria
ser a esquerda a escancarar a podridão do sistema, mas abandonou a clareza, deu no que deu... Fato estranho: poucos
percebem, mas trata-se de um ego adolescente, tosco psicopata - um espantalho patrocinado pelo sinistro da
economia (que é quem pensa nessa quadrilha, foi quem armou o plano todo, até enfiou o boneco no poste, depois
chamou o gado pra seguir), brandido pela porção mais ensandecida das elites, usado pra ganhar eleição com um
programa oculto que nunca conseguiria popularidade... De sandices a agressões, entre bravatas e barganhas
escancaradas, vai forçando o sistema político numa agenda de retrocessos e ataques a quem o desafie diretamente
(que o digam as mulheres jornalistas que tiveram o azar de topar com a criatura). Se não estamos ainda em um regime
fascista, percebe-se que faz parte dos sonhos ainda de uma faixa bem delimitada do espectro político, que tomou da
esquerda algumas práticas, juntou com alguma tecnologia e técnicas psicológicas muito bem pagas, e agora segue
balançando o barco pra ver no que vai dar... A direita tradicional, alijada temporariamente do centro das decisões, faz
de conta que é do jogo, mas procura alguma forma de reconquistar a posição anterior, sem ameaçar o status quo; para
isso, tenta equilibrar-se entre as várias facções do capital e as muitas correntes políticas penduradas no parlamento, e
até pede ajuda a uma parte da esquerda que ainda sonha com avanços sociais... Acordem: os tempos são de
retrocesso... pero en toda la montaña subimos, hay una manera de descender... E quem quiser arriscar um prognóstico,
tome antes uma bebedeira...
Assim como não faz sentido disputar hegemonia com a burguesia em seus espaços privilegiados de dominação
(esse aprendizado é antigo), também é preciso superar o conceito de continuar limitado às velhas práticas de
antigamente. Vejam o dilema: nem adotar as recentes práticas altamente tecnológicas adotadas recentemente pela
burguesia, nem ficar atrelado somente às antigas. Nem um nem outro: devemos continuar as práticas já consagradas,
mas atualizadas para os tempos atuais. Dou um exemplo: o conhecido e inescapável costume de sair à rua
arrebanhando gente pra protestar contra alguma medida impopular do governo de plantão, pode ser muito mais
frutífero se forem promovidas em várias cidades simultaneamente, e compartilharmos em tempo real as imagens via
smartphone, tentando criar um evento distribuído, como se fosse uma mesma manifestação, afinal a causa é uma só.
Da mesma forma, tentar reforçar a ideia de que, mesmo separados por milhares de quilômetros, somos a mesma
classe, sofremos as mesmas mazelas. Imaginem ainda: ponha o telefone ao lado do megafone, o orador de uma cidade,
com sotaque de sua região, ler as faixas da multidão e dirigir-se aos manifestantes de outra região. Cada cidade
saudando as demais, reafirmando suas palavras de ordem e se reforçando em sua determinação: isso vai dar muito
mais ânimo à luta. Na mesma toada, pode-se imaginar que, em manifestações de caráter municipal, em vez de limitar-
se a atos somente no centro da cidade, possamos promover vários atos simultâneos a meio caminho entre o centro da
cidade e as periferias, tirando assim da polícia a capacidade de isolar as manifestações do público. Percebi que agora
as policias adotaram essa prática de isolar as manifestações, a pretexto de segurança: a maior parte da cidade nem
fica sabendo que tem gente protestando. Da mesma forma que os nacionais, esses atos podem enviar vídeos entre si,
aumentando assim a força do movimento de massas. Pelas minhas estimativas, talvez uns 4% da população passem
pelo centro da cidade; os eventos distribuídos podem aumentar a visibilidade para quem sabe uns 40 a 50%. Também
seria muito inteligente produzir em grandes quantidades aquelas mascaras caseiras contra gás lacrimogêneo, feitas
com garrafas PET, e distribuir livremente em cada ato público. Outra ideia: no movimento pelo transporte público, seria
conveniente se espalhar pelas paradas e passar a colar adesivos na lateral dos ônibus, denunciando o descaso do poder
público e seu compromisso com os transportadores privados; daria um resultado tremendo porque a maior parte da
população passaria a tomar contato com o movimento, e a repressão não tem como colocar um policial em cada parada
para impedir. Se o inimigo vai usar e abusar da tecnologia, devemos também aproveitar alguns desses novos recursos,
ainda que não possam ser nossa principal vantagem, afinal sempre terão muito mais tecnologia que nós. Nessa linha,
seria extremamente útil ter à disposição da mídia de esquerda alguns drones (pelo menos um em cada grande cidade)
que consiga de forma regular fotografar ou até filmar as manifestações de cima, rompendo assim a relativa
dependência em relação à mídia burguesa e à polícia para medir as nossas forças e romper o cerco midiático.
Também fundamental que a militância perceba que o trabalhador comum, quando se integra a uma luta de
qualquer natureza, o faz pelos seus próprios motivos, não pelos nossos. Ele não vai se juntar a nós porque precisamos
multiplicar nossa militância, mas quando perceber que é o único caminho pra conquistar uma vida mais digna pra si e
pra sua família. Assim, temos de primeiro conhecer sua realidade, ajuda-los a elaborar pautas de reinvindicações, para
motivá-los a se colocar em movimento e se organizar; somente então será propícia uma abordagem mais integradora.
Relacionado com esse último, talvez até mais importante, abandonou-se também a experiência de reunir
militantes da periferia a estruturar táticas de luta por aqueles direitos. Justamente nas periferias onde vivem os setores
mais precarizados, que podem dar aos movimentos a motivação, número e força. A esquerda somente vai conseguir
sair da situação atual de isolamento e paralisia quando se aperceber que quem vai derrubar o regime é quem passa
fome, enfrentando até as forças armadas por não ter alternativa. Pode parecer bastante fatalista, mas o desespero é o
principal gatilho que dará à massa de despossuídos a coragem de superar o medo, desafiar as forças da repressão,
derrubar cercas e muros, e abrir caminho para tomada do poder. Sem agregar à luta essa massa que não tem tempo
nem disposição pra ler um livro, nem compreende ideologias ou estratégias, a luta política vai continuar dominada
pelas figuras do sistema e pela direita, a esquerda vai continuar um feudo ideológico sem conseguir sequer iniciar a
disputa pelo poder. Boa parte dos militantes da esquerda nunca visitou uma ocupação de terreno, nunca tentou
argumentar com um analfabeto funcional, nunca frequentou a periferia fora dos períodos eleitorais, nunca entrou
numa casa feita de papelão e lona, nunca conversou com um morador de rua, nunca visitou uma área sujeita a
enchente; talvez imaginem possível realizar a mítica “revolução sem povo”. Se fossem, perceberiam a distância que os
separa de realizar seus objetivos. Deveríamos ter táticas para disputar essas pessoas em situação de pobreza extrema,
afinal são depois da classe média, os mais fáceis de serem recrutados pela direita para agredir a esquerda nas
manifestações, com a possível ascensão do fascismo. Já ouvi argumentações de que dar tal importância ao desespero
é menosprezar a importância da luta revolucionária; credito tal avaliação à parcela da esquerda que menospreza a
importância das periferias dentro da luta revolucionária.
Outro aspecto pouco evidenciado: toda literatura marxista aponta que o protagonismo do proletariado vem
da sua capacidade potencial de paralisar a produção. Dado o grau crescente de automação industrial, e a contínua
redução percentual do operariado industrial, essa liderança torna-se (a meu ver) mais difícil, porque fora da produção
a alienação do trabalhador em relação aos frutos do seu trabalho torna-se ainda mais poderosa. Em consequência,
torna-se indispensável abrir novas frentes de luta, em especial onde desafiem diretamente a institucionalidade
burguesa. Destaco especial atenção às ocupações de terreno para fins de moradia, as quais incorporam uma massa
enorme de pessoas extremamente oprimidas porque a indústria imobiliária direciona a somente construir com
expectativa de lucro. É necessário reconhecer que essas camadas sociais tem sido muito negligenciadas pela atuação
da esquerda.
Outra imagem me vem à mente: a esquerda de hoje eu posso comparar com o cinturão de asteroides, que gira
na mesma trajetória mas não consegue se juntar pra formar um planeta. Ou ainda: um lutador de boxe que acaba de
levar uma pancada forte e acaba no chão. Ao lado, o treinador berra no ouvido: “Levante e volte a lutar!”, mas o lutador
está ainda longe de se reerguer. Estas alegorias eu considero úteis para manter o foco no objetivo, desde que não
levem a simplificações grosseiras.
Para todo marxista, deve ser claro o conceito de que toda exploração do trabalho alheio é um roubo. Logo,
segue-se que a divisão internacional do trabalho significa na prática um roubo associado, em que um irmão estrangeiro
usa o aparato legal das relações internacionais para assegurar para si a parte do leão na divisão dos frutos do roubo à
classe trabalhadora. Ora, em qualquer roubo, qualquer participante nunca vai pensar em trair seus parceiros: assim se
explica a absoluta covardia das burguesias locais em enfrentar essa divisão dos lucros. Claro que existem alguns
exemplos à regra; geralmente acabam mortos ou sofrem perseguição política: existirá sempre a ameaça onipresente
da denúncia por corrupção, verdadeira ou falsa...
Tenho convicção de que quando houver enfim a vitória do partido revolucionário, essa ocorrerá não sobre um
Estado aparentemente democrático, mas um Estado policial-militar, em que a burguesia recorrerá frequentemente a
iniciativas praticamente fascistas: processos judiciais sem os devidos direitos legais, perseguições, agressões em
ambientes públicos, etc. Atentem para o fato de que as elites só tem apreço pelo sistema legal enquanto lhe convém:
conforme vimos no filme argentino “O segredo dos seus olhos”: quando ameaçada em seus planos, a elite não hesita
em recorrer até mesmo a assassinos confessos para perseguir a esquerda. Mesmo entre aqueles que portam uma arma
por fazer parte do aparato de repressão, muitos adotaram a carreira não por se identificarem com a prestação de
serviço público, mas para poder manusear uma arma sem incorrer em penas. Se não estivessem ali, podemos ter
certeza de que provavelmente estariam do lado do crime; aliás, não é incomum que incorram em crimes mesmo
estando a serviço do Estado: frequentemente vemos notícias em que agentes armados incorrem em abusos de
autoridade, ou até compactuam com o crime organizado. Mesmo entre a magistratura, desvios de conduta tendem a
ser ignorados quando o corte de classe assim o determina.
Para retomar a iniciativa e superar o avanço da direita, será imprescindível retomar a organização em núcleos
de base (dica: começar a partir da lista de filiados do partido), e um decidido processo de capilarização entre as
periferias. Parece haver entre as correntes da esquerda o receio de perder militantes para as outras correntes... E se o
partido a que pertencemos, por falta de direção não consegue se estruturar pra seguir esse caminho, o jeito é passar
por cima: começando por procurar as correntes mais combativas, que tenham claro a necessidade de superar essa
maré de negativismo, propor alianças táticas em torno desses dois pontos, e implementar onde der algumas iniciativas
nesse sentido, mesmo que as correntes mais atrasadas do partido como organização prefiram manter a situação atual.
Lembremo-nos: a paralisia e a desorganização contam a favor da burguesia. Como resultado, prevejo que talvez em
dois anos possamos virar o jogo e começar a tecer em alguns lugares uma dinâmica partidária mais frutífera.
Quero lembrar aqui as diferenças entre três momentos históricos distintos: o primeiro, a onda de greves e
agitações operarias que tomou parte do mundo em 1917, inclusive aqui no Brasil espalhou-se por várias capitais. Pelos
relatos que tenho, em São Paulo chegou-se a paralisar a cidade por vários dias. Como se explica que uma classe que
não tinha na época nem sindicatos nem partidos operários, conseguisse tal demonstração de força? Considero que
nesse caso, houve uma vitória, porque arrancou algumas conquistas, devido principalmente a burguesia não estar
preparada para o momento. Um segundo momento: 35 anos atrás, tínhamos nesse país uma grande e heterogênea
massa de militantes, que empreendiam em vários movimentos suas lutas em prol de melhores condições de vida,
sendo responsável em parte pela derrocada de uma longa ditadura. Terceiro e inglório momento: não conseguimos
hoje construir nem sequer um partido que atue de forma unificada; mas sendo cada vez mais frequentes os ataques
aos direitos sociais, a conjuntura é propicia, para conseguirmos superar essa apatia teremos de retomar o perfil de
luta, inclusive superar a dita “militância de sofá”.
Enquanto o inimigo se transmuta e evolui para garantir sua hegemonia, a esquerda ainda se mantém presa a
uma concepção estratégica incompleta, precária e atrasada, sem conseguir assimilar todas as lições das experiências
anteriores; faz falta uma concepção estratégica atualizada: em curtas palavras, a esquerda quer chegar ao poder, mas
não sabe direito o caminho... A julgar pelos fatos mais recentes, a maior parte da esquerda cultiva a impressão de que
as coisas irão se definir melhor conforme a aproximação de uma crise revolucionária. Parece existir um vago conceito
implícito de que será suficiente não ceder aos desvios reformistas que tudo se resolverá, como se a vanguarda não
conseguisse chegar a todas as conclusões de seu raciocínio, como se chegar ao poder fosse simples questão de
conseguir maioria numérica – um vestígio de reformismo, quem sabe?
Analisando sob um corte histórico, prevejo que, comparando a sociedade atual em diferentes países, e um
olhar especial sobre o modo de vida concreto das diferentes camadas sociais, o fator tempo será um diferencial maior
que as diferenças entre os países na determinação da dinâmica dos processos revolucionários. Dito de outra forma: o
capitalismo, em seu afã de criar um grande mercado mundial e globalizado, trouxe as realidades locais muito mais
próximas umas das outras do que havia quando ocorreram outros processos revolucionários. Assim, pode-se dizer que
também os processos revolucionários, quando ocorrerem, terão uma dinâmica menos desigual, já que as realidades
locais são muito mais similares.
Um dos fatores que certamente contribuíram para a vitória da revolução russa, seria a relativa desorganização
da burguesia, por estar fora do aparelho do poder e somente ter dominado por um curto período, sem tempo
suficiente para criar instituições de fomento à sua consciência de classe, como existem hoje os think tanks que
funcionam por trás dos partidos da burguesia. De criação relativamente recente, estes estranhos organismos
funcionam longe dos olhos da opinião pública, escondendo-se atrás de palavras vagas, tais como “defesa do ambiente
democrático”, “promoção da competitividade” e outros apanágios vazios. Também chamados de aparelhos de
produção de consenso, conseguem se manter relativamente alheios à investigação jornalística, lançando mão até
mesmo de perseguição contra curiosos. Afinal, até mesmo a imprensa está a serviço da burguesia.
Dessa constatação, segue-se a conclusão de que no estágio atual de desenvolvimento do capitalismo, a
resistência do regime político que serve ao capital revela-se muito menos propícia ao colapso tal como vimos em
situações anteriores. Uma classe burguesa muito mais integrada e consciente de seu papel na sociedade, resulta em
ter uma estratégia de predomínio mais eficiente a longo prazo. Lançando mão de várias estratégias de cooptação,
consegue recrutar os melhores cérebros entre a pequena burguesia, da pequena burguesia e até mesmo entre as
camadas menos privilegiadas do proletariado, criando uma franja reformista dentre os dominados, pessoas que se
vendem em troca de migalhas. O que de forma alguma afasta a necessidade de derrubá-lo, mas leva a concluir pela
necessidade de uma estratégia mais elaborada e consequente para que se realize.
Junte-se a isso uma redução significativa do peso do operariado industrial em relação ao conjunto do
proletariado (fruto não somente do aumento da produtividade, mas também de uma recente desindustrialização do
país) , e uma extensa franja de situações profissionais intermediárias, em que o trabalhador vê a condição de seu
trabalho colocá-lo em relativa oposição ao trabalhador comum: vendedores informais, ambulantes, autônomos,
pejotistas (em que juridicamente o trabalhador tem que se transformar em empresa individual para poder trabalhar),
corretores, uma grande variedade de profissionais liberais, etc. Uma estatística recente aponta que atualmente metade
da classe trabalhadora trabalha em atividades fora de alcance da atividade sindical; o que nos leva a concluir pela
necessidade de criar formas semilegais, ou até ilegais de abranger parcela expressiva desses contingentes sob a
solidariedade da classe – uma tarefa essencial se quisermos reagir ao relativo atraso da esquerda em sua atuação em
comparação à direita. Mais que isso: inventar uma vaquinha permanente pra ajudar aqueles companheiros militantes
que se afastam da luta por desemprego. Se a burguesia usa a penúria como arma pra solapar nossa classe, esse é um
dos caminhos para contra-atacar. Aquele antigo conceito de que a força do proletariado reside somente na capacidade
de paralisar a produção, resulta bastante desatualizado, porque a produção representa já uma pequena parte da
economia; o que deve nos remeter à conclusão de que teremos de estudar melhor os fatores que deverão propiciar o
gradual e irreversível colapso da dominação capitalista. Em particular, devemos atentar para o fato de que o capital
financeiro conseguiu criar para si uma trincheira virtual, separando-o das demais frações do capital, atrás da qual se
protege contra as crises econômicas... Teremos de demonstrar na prática que são muito mais vulneráveis do que se
pensa, e não me refiro às janelas de vidro....
Sou de opinião que, embora o legado teórico dos que nos precederam seja inestimável, em vista dessa relativa
atualização da direita, resulte na prática insuficiente para os resultados a que nos propomos. Calma, esta singular
argumentação não pretende abrir outra senda pro reformismo, mas justificar um raciocínio que talvez não encontre
amparo nos textos clássicos – embora a meu ver não haja incompatibilidade. Urge acrescentar mais alguns
ensinamentos (que pretensão!) que seriam uma extensão lógica de uma teoria que será sempre imperfeita e
inacabada, necessitando sempre de uma comprovação prática. Tenho lido alguns textos que, tentando justificar a
incapacidade de prever o desenvolvimento dos fatos, apelam para situações sui generis – a esse respeito, pondero que
a História não segue regras, ela as cria. Todo esse legado teórico, que tanto prezamos, vem a ser uma tentativa sempre
imperfeita de interpretar os fatos e deduzir leis históricas, algumas das quais podemos ainda vir a descobrir. Como
disse alguém, o caos é o nome que damos a uma ordem complexa demais que não conseguimos interpretar
inteiramente.
Bem que eu desejaria poder expressar esta soturna avaliação em palavras mais amigáveis, de forma menos
agressiva, mas confesso ser falta de prática: somente recentemente me forcei a abrir uma original linha de
interpretação, por não ver mais ninguém que perceba esse ângulo da questão; inclusive estou agora independente,
sem ligação com qualquer organização justamente por causa disso. Mas, talvez esse meu lado casca grossa seja minha
parte mais autêntica... Decerto esse destrinche soturno há de soar estranho aos afeitos a teses acadêmicas e
arrazoados filosóficos, mas é um chamado à luta que pretende superar essa mórbida realidade.
Mas somente após conseguir criar um partido que atue de forma unificada, retomando a mobilização das
massas inclusive das periferias onde vivem as camadas mais pauperizadas (tarefa na qual estamos já bastante
atrasados), será possível passar ao próximo nível de organização. Isso porque tal preparação não poderá ser
empreendida por um pequeno grupo isolado: além de exigir recursos humanos e materiais de que não dispomos, uma
iniciativa isolada certamente seria motivo para ainda maior fragmentação. Mas nada nos impede de ir já pensando nas
possibilidades...

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