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Série Alpha Ops

Lançamento

Próximos Lançamentos
Staff

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Revisão Inicial – Bunny

Revisão Final – Monex

Leitura Final – Kára Wings

Formatação – Jewel Designs

Janeiro 2022
THE SEAL’S SECRET LOVER

de

Anne Calhoun
SINOPSE

A diretora de logística Rose Powell concordou em acompanhar sua avó em


uma visita guiada às ruínas romanas com uma condição: seu irmão Jack
iria com ela.

Mas quando Jack desiste, seu melhor amigo e companheiro SEAL Keenan
Parker toma seu lugar.

Sem um telefone celular funcionando, o mundo ordeiro de Rose se


transforma em dias de sonho e noites quentes e secretas na cama de
Keenan.

Keenan deixou a Marinha, mas nunca foi além de Istambul, muito menos
em direção a um futuro viável.

Até que faça isso, ele vai mostrar a Rose coisas que ela não sabia sobre si
mesma.

Ele pode dar seu coração e seu futuro para a mulher que prometeu a seu
melhor amigo que nunca tocaria?
Dedicatória

Para Eileen Rothschild, e sempre, para Mark.


CAPÍTULO UM

Rose Powell iria matar seu irmão mais novo. Se pudesse. Como se
tivesse uma chance contra um SEAL da Marinha endurecido pela
batalha com três implantações atrás dele. Mas ela conhecia um truque ou
dois que poderia usar em Jack, que fugiu de levar sua avó e suas melhores
amigas em um tour turbulento pela Turquia.

— Todo mundo tem tudo? — Rose perguntou pelo que parecia ser
a ducentésima vez desde que ela se encontrou com a Bucket List Babes1
no aeroporto de Lancaster.

— Temos, querida, — disse vovó. Florence e Marian concordaram


com a cabeça também, embora Rose pudesse ver claramente o guia de
Florence para a Turquia espreitando do bolso do assento à sua frente.

— Florence, — disse ela. — Seu guia.

— Oh! — Florence enfiou a mão manchada no bolso do assento e


pegou o guia e um par de fones de ouvido.

Por mais estressada que estivesse, Rose teve que sorrir com a
imagem que as três apresentavam enquanto as seguia pelo corredor até à
ponte. Sua avó e suas duas melhores amigas estavam vestidas com roupas

1
Livro de Dannie Foutain, que relata histórias de vida de algumas pessoas e compartilham suas lista de
desejos( bucket list).
Mas no livro e como se fosse um grupo de amigas cujo nome se inspirou no livro.
de viagem quase idênticas, com bolsos com zíper nas costas, quadris e
coxas, sapatos preferidos de caminhada resistentes para viajantes do
mundo todo, e pulôveres de lã de meio zíper bordados com
BUCKET LIST BABES na gola. Conduzindo Miss Daisy na Turquia, em LL
Bean.

Pela terceira vez, Rose verificou sua própria bolsa, uma bolsa de
couro resistente, garantindo que tinha seu laptop, fones de ouvido
com isolamento de ruído Bose, telefone celular, tablet, adaptadores e
tudo o mais que não poderia perder se a bagagem delas fosse deixada
para trás em Munique, ou pior, Lancaster. Com o telefone na mão, ligou e
observou-o procurar uma conexão. Embora estivesse aparentemente de
férias, sua promoção a Diretora Sênior de Operações e Logística da Field
Energy Company significava que não podia se dar ao luxo de desistir no
momento. Não era um bom momento para voltar aos anos 1990,
tecnologicamente falando. Ergueu os olhos de seu telefone teimosamente
silencioso para ver três rostos enrugados de olhos brilhantes olhando para
ela com expectativa.

Puxou sua mente para longe de seu telefone. — Precisamos de


passaportes e moeda dos EUA para os guiches de visto e imigração, —
disse, inscrevendo mentalmente Jack para escudeiro de Vovó em cada
função do Garden Club pelo resto de suas vidas.

O terminal internacional do aeroporto de Esenboğa em Ancara,


fervilhava de pessoas chegando de todo o mundo, em uma grande
variedade de trajes, desde roupas ocidentais modernas para homens e
mulheres até aos tradicionais lenços de cabeça e saias longas. O fluxo da
linguagem não era compreensível para Rose, até que a agradável voz
feminina no alto-falante mudou para o inglês para uma série de anúncios
sobre partidas, chegadas, tabagismo e estacionamento. Ela guiou as Babes
pela imigração até à esteira de bagagens, onde seu guia deveria encontrá-
las com o Land Rover.

— Rose, querida, podemos apenas...? — Marian disse, apontando


para o banheiro feminino.

— Vá em frente, — disse Rose. Ela aproveitaria para reiniciar o


telefone. Talvez só precisasse reconfigurar para algum equipamento
diferente ou sinal na Turquia.

— Estamos velhas, — disse vovó enquanto se afastava. —


Precisamos de muitos intervalos para o banheiro. Espero que o guia que
Jack encontrou para nós entenda isso.

— Tenho certeza que ele vai entender, — disse Rose


distraidamente, observando a roda girar em seu telefone. E gira. E
gira. Até a vovó voltar.

— É uma pena que Jack esteja muito ocupado com o curso para vir
junto, — disse vovó.

A declaração acionou o termômetro emocional de Rose para seu


irmão mais novo: amor protetor, irritação profunda e preocupação. Jack
havia contado a vovó a verdade parcial. Ex-Navy SEAL, seu irmão estava
tendo aulas no Lancaster College, mas ele deixou de
fora detalhes importantes – batimentos cardíacos acelerados,
hipersensibilidade nos nervos e tremor na mão direita - quando disse a
Vovó que estava recuando. Ele não estava preparado para a viagem, disse
a Rose, mas combinou com um amigo para encontrá-las em Ancara e
assumir como motorista e guia.

O telefone tinha ligado novamente, mas ainda não tinha sinal. —


Não consigo me conectar. Mas tenho WiFi. — Começou a verificar o e-mail
e assistir enquanto suas conversas de texto saltavam, classificando as
mensagens recebidas na conversa certa. A falta de sinal da operadora não
era um bom sinal. Nada bom.

Na esteira de bagagens, as Babes enfiaram cuidadosamente seus


passaportes em um dos dois bolsos com zíper que decoravam suas
sofisticadas bolsas de viagem. Rose fez o mesmo enquanto se dirigia para
as esteiras de bagagem, procurando o número do voo.

A esteira nem estava girando ainda, então ela caminhou até


às janelas que iam do chão ao teto com vista para o saguão e, de lá, para a
rua, alternando sua primeira boa olhada na Turquia e verificando seu e-
mail, pendurada no que parecia um arquivo monstro do departamento de
RH. Estava na equipe de liderança com a tarefa de entrevistar novos
contratados e eliminar as combinações ruins antes que a equipe de
liderança sênior se reunisse com os três principais candidatos - e eles
estavam sempre contratando. No momento, as maiores prioridades eram
um diretor de TI para o escritório recém-adquirido em Tulsa, um
especialista em operações para seu próprio departamento e um cargo de
segurança sênior que ela ainda não tive a chance de examinar.

Do lado de fora da janela, cenas de reunião se desenrolaram,


famílias se cumprimentando com abraços e beijos para homens e
mulheres. Os letreiros de neon nas lojas em frente à entrada principal do
aeroporto estavam no alfabeto cirílico, ilegíveis para ela. Seu cérebro
estava tão frito que levou um momento para entender uma palavra em
inglês, ordenadamente escrita em uma pequena placa bem na frente dela.

Powell.

Esse era o nome dela! O homem que segurava a placa parecia


ocidental, até mesmo americano, com suas botas de combate do
deserto manchadas de poeira, um par de calças cargo e um pulôver de lã
igual ao de sua avó, mas em preto, sem bordado. Seus olhos se
encontraram e Rose sentiu uma onda de calor percorrer seus nervos. Seu
coração começou a bater forte.

Ele parecia familiar. O sol estava se pondo, inundando o caminho


coberto do aeroporto de sombras, e havia algo sedutor em seu
rosto. Apesar das sombras, ela poderia dizer que seu cabelo era loiro
arenoso com um toque de cachos, a barba cobrindo sua mandíbula um
pouco mais escura. As alças da mochila se curvavam ao redor de seus
ombros e seus óculos de sol pendiam do V criado por seu casaco de lã
aberto. Não era apenas o rosto dele, percebeu. Era a maneira como ele se
mantinha, totalmente imóvel em uma cena giratória de caos no
aeroporto, os pés plantados, imóveis, como se pudesse ficar ali para
sempre. Jack tinha a mesma postura.

— Oh, — disse ela, sentindo-se um tanto estúpida. Sem olhar para


o telefone, caminhou até ele.

— Keenan? — ela arriscou.

Ele assentiu. De perto, seus olhos eram de um azul jeans e


pestanas com cílios louros pontiagudos. Seu bronzeado profundo
estendia-se pelo pescoço e no decote da camiseta cinza sob o casaco de lã
preto, e ela estava encarando.

— Estou com um jet lag como o inferno, — começou, com a


intenção de explicar por que estava com os olhos arregalados.

— Prazer em conhecê-la, com jet lag como o inferno, — disse


ele. — Jack sempre te chamou de Rose.

Ela riu, sentindo -se desequilibrada e ridícula, duas emoções que


não experimentava com frequência. Keenan provavelmente estava
acostumado com as mulheres ficando com a língua presa em torno
dele. — Sim, sou a Rose.

Com aquele sorriso divertido no rosto, ele estendeu a mão que


não segurava o cartaz. Preparando-se para o aperto esmagador tão
frequentemente usado por homens, desleixado ou não, Rose apertou de
volta. Mas o aperto de Jack era firme, quente, e quando ela começou a se
soltar depois de alguns segundos habituais, o aperto de mão durou,
persistindo com o mesmo calor com que seu olhar permanecia em seu
rosto.

Não era bom. Nada bom, porque ela tinha uma regra sobre os
militares. Não saía com eles. Era filha de um oficial de carreira do Exército
e irmã de um SEAL da Marinha. Eles eram homens extraordinários, e
homens extraordinários não se encaixavam em seu plano estratégico para
sua vida muito comum. Não adiantava seguir por aquele caminho quando
estava muito familiarizada com o beco sem saída.

Keenan segurou a mão dela por um momento muito longo, então


a soltou. — Bem-vindas à Turquia, — disse ele.

— Obrigada, — disse ela. Endireitou os ombros, ergueu o queixo e


procurou manter a compostura. — Os voos foram pontuais e tranquilos, o
que é bom quando você está viajando com passageiros nervosos.

— Onde está o resto do grupo? — perguntou enquanto enrolava a


placa e a colocava na bolsa de água vazia no lado esquerdo de sua
mochila.

Rose olhou através do vidro para a área de retirada de bagagem,


então apontou. — Vovó é aquela de lã roxa. Sua prima Marian é a que
está com o chapéu. Florence, sua amiga desde a terceira série, tem o nariz
enterrado em seu guia. Devemos apresentá-lo?
— Pode apostar, Jetlag, — disse ele.

A caminhada pela área de retirada de bagagem deixou Rose com a


sensação de ter um lobo em seus calcanhares.

— É muito gentil de sua parte usar sua licença para ser nosso guia,
— disse vovó quando todos apertaram as mãos.

— Eu não estou de licença, senhora, — ele disse, seus ombros se


contraindo levemente. — Deixei a Marinha na mesma época que Jack.

— Você voou para Ancara no mesmo vôo que nós?

— Não, senhora, — disse ele. — Estou morando em


Istambul. Peguei o Land Rover lá e dirigi até aqui hoje.

— Vive em Istambul? — Disse Florence. — Mas você é americano.

— Sim, senhora, — disse ele. — Aqui está mais perto do trabalho


para mim.

A essa altura, a esteira de bagagens finalmente começou a girar, e


as malas começaram a deslizar pela rampa para bater na parede de metal
antes de serem carregadas suavemente na curva. — Keenan, você me
ajudaria com as malas? — Rose perguntou.

— Claro, — disse ele.

Eles abriram caminho no meio da multidão até um local limpo


perto da esteira. — Só para constar, — disse Rose, — não preciso de ajuda
com as malas. Achei que você precisasse de uma folga da Equipe da
Inquisição.

Ele lançou-lhe outro daqueles olhares disfarçados e divertidos.

— Você pode culpar Jack por isso, — ela disse, propositalmente


sem olhar para ele. — Ele costumava inventar as histórias mais ridículas
sobre o que fazia, onde tinha estado. Pouco antes de começar o BUD/S2,
ele convenceu a vovó que havia saído da Marinha e estava trabalhando na
máquina de shake no Mickey D's em Virginia Beach.

Um sorriso verdadeiro se abriu. — Como ele está?

O fato de Keenan fazer essa pergunta não era um bom sinal. Jack e
Keenan costumavam ser melhores amigos, da maneira estranha como os
homens eram melhores amigos - apelidos, cerveja, horas de Call of Duty e
assistir esportes. Mas Keenan estava na Turquia e Jack estava de volta em
Lancaster, e Rose não tinha ideia do que tudo isso significava. — Bem, —
disse ela com cuidado, — ele não está aqui e não vai falar sobre por que
deixou a Marinha. Tudo o que sabemos é que uma missão correu mal e
outro SEAL morreu.

O rosto de Keenan se fechou. — Alguma destas é sua?

— Todas que têm alças arco-íris em volta delas, — disse ela. —


Essas duas estão vindo e outra acabou de sair da rampa.

2
O BUD / S é um curso de treinamento que consiste em uma orientação de três semanas seguida por
três fases, cobrindo condicionamento físico, mergulho de combate e guerra terrestre,
respectivamente. Oficial e pessoal alistado passam pelo mesmo programa de treinamento. Ele é
projetado para desenvolver e testar sua resistência, liderança e capacidade de trabalhar em equipe .
— Eu cuido disso, — disse Keenan quando alcançou a primeira
mala. — Quantas malas cada?

— Uma, — disse Rose, distraída pelo atraso no download do e-


mail. Estava com a bateria reduzida a trinta por cento. — Elas são
viajantes muito experientes.

Mais e mais malas escorregavam e eram reivindicadas. O número


de pessoas esperando diminuiu. Rose ficou na ponta dos pés e olhou ao
redor da sala.

— O que você está procurando?

— A sala de bagagem perdida, — disse ela.

— Você não sabe se sua mala não vai sair, — ele apontou
razoavelmente.

— É melhor estar preparada, — disse ela, seu cérebro girando


em atrasos de horas enquanto ela tentava preencher uma papelada que
provavelmente estava no alfabeto cirílico. — Você fala turco?

Keenan a cutucou com o cotovelo, então apontou. Uma mala rolou


na direção deles, preta, amarrada com uma alça de arco-íris. — Essa é
minha, — disse ela.

Ele a puxou para fora da esteira. — Não se preocupe, Jetlag.

Ela esperou com a bagagem e seus carrinhos enquanto Keenan


trazia o Land Rover da garagem. Ele o deixou parado enquanto carregava
o compartimento traseiro. Vovó e suas amigas subiram no banco de trás e
colocaram o cinto de segurança. Rose usou o estribo para sentar no banco
do passageiro e olhou para o painel. Um dispositivo GPS estava afixado no
para-brisa, mostrando uma rota para o hotel, enquanto um telefone
celular carregava no console. Quando a bagagem bateu no
compartimento traseiro, ela retirou o cabo de carregamento e o
adaptador. Quando a porta do motorista se abriu, se virou para encará-lo
com expectativa, o telefone em uma mão, o cabo e o adaptador na outra.

Keenan deslizou para o assento, e ela percebeu. Iria passar as


próximas duas semanas em um veículo que parecia enorme quando o
alugou, mas com um SEAL da Marinha sentado ao lado dela agora parecia
pequeno. Íntimo.

Vovó, Florence e Marian estavam conscienciosamente afiveladas


no banco de trás, os joelhos bem juntos, os pés calçados com botas
alinhados em uma fileira, mochilas de viagem no colo. O olhar azul escuro
de Keenan continha uma diversão cúmplice.

Todos estavam olhando para ela, esperando que ela saísse de


seu torpor de olhos estrelados. Pigarreou. — Existe uma tomada
disponível para manter meu telefone carregado?

— Claro, — disse ele, e desligou o telefone. — Nós apenas teremos


que compartilhar. — Keenan entrou no trânsito enquanto conectava o
carregador na tomada e conectava em seu telefone. O sinal WiFi
desapareceu, deixando-a sem conexão. — Droga, — ela murmurou.

— Você reiniciou? — ele perguntou.


— Sim. Deveria ter acesso internacional, mas não parece estar
funcionando. Vou apenas esperar pelo WiFi no hotel, — disse
alegremente, e voltou sua atenção para a paisagem que passava.

O silêncio educadamente descrente saudou esta declaração


otimista.

— Você sabe que estamos indo direto para a Capadócia, — disse


Keenan.

— Eu fiz o itinerário, — respondeu ela.

— Sim, e precisamos conversar sobre isso quando estivermos no


hotel, — disse Keenan, e virou para a rodovia.

A viagem teria sido agradável o suficiente se Rose não tivesse se


sentido obrigada a verificar se havia sinal em seu telefone a cada trinta
minutos. Keenan dirigia com um silêncio resoluto e atenção ao tráfego e
estradas que diziam que esta não era sua primeira vez transportando a
bunda através de um país em um veículo off-road lotado, um sistema de
navegação GPS encaixado no pára-brisa. Eles pararam no caminho para
um jantar leve e chegaram à Capadócia exatamente quando o sol estava
se pondo. Eras de vento e chuva esculpiram fluxos de lava antigos em
vales inclinados, deixando para trás formações irregulares e protuberantes
conhecidas como chaminés de fada. Quando Rose colocou a vovó na
cama, lendo, com Florence e Marian em um quarto do outro lado do
corredor, ela estava quase vibrando de tensão.
Keenan viveu neste país. Ele era um SEAL e, se ela se lembrava
bem, Jack disse que era especialista em comunicações. Certamente
poderia ajudar a fazer seu telefone funcionar.

— Vou trabalhar um pouco, — disse ela à vovó.

— Você está sendo ridícula, mas sei por experiência própria que
isso não vai impedi-la, — disse vovó sem tirar os olhos de seu guia de
botânica.

O quarto de Keenan ficava dois abaixo do dela. Bateu suavemente


na porta e ouviu. Sem sons dentro, sem TV, sem respiração, sem
nada. Talvez ele tenha saído para correr. Ela pegou o elevador para o
saguão, onde o funcionário noturno que administrava a recepção tinha
inglês suficiente para apontar para a placa que informava a rede WiFi e a
senha do hotel.

Ela agradeceu e se virou, e viu Keenan sentado no bar do hotel, um


copo em sua mão direita. Seu rosto e o livro em sua mão eram iluminados
pela lâmpada em seu ombro. A luz lavou sua barba, transformou sua boca
em uma linha fina, quase cruel. O calor cresceu dentro dela, lentamente
penetrando nos nervos e na carne, embora se alguém tivesse pedido que
explicasse o porquê, não poderia ter colocado em palavras. A resposta
dela veio de dentro, poderosa, certa e um pouco assustadora.

— Você é uma mulher profissional tendo sucesso em


uma indústria dominada por homens. Pode ter uma conversa com um
homem em um bar, — disse ela, afastando os nervos. Endireitou os
ombros e marchou para o bar. A mobília era de um charmoso chique
surrado: veludo vermelho esfregado gasto, mesas escuras, lâmpadas
envoltas em cortinas com franjas vermelhas.

— Você sempre fala assim consigo mesma, Jetlag? — perguntou


sem olhar para cima.

Porra! — Você ouviu?

— Não, — disse ele. — Mas acho que você está se convencendo de


alguma coisa.

Fora de alguma coisa, na verdade. — Ainda não consigo obter


serviço de celular, — disse ela.

Ele olhou para o telefone dela, na mão, depois para o rosto. —


Você conseguiu um plano internacional antes de sair de casa?

— Sim, — ela disse.

— Fale com a sua operadora.

— Eu faria isso, — disse ela com o que considerou uma paciência


admirável, — exceto que meu telefone não funciona.

Ele se recostou e cruzou os braços atrás da cabeça. — Wi-fi?

— Sim, exceto que tentar fazer uma VPN na rede e no trabalho é


como nadar no mel.
Ele estendeu a mão para o telefone dela. — Sente-se, — disse. Ela
olhou por cima do ombro enquanto ele examinava metodicamente suas
configurações. — Está desbloqueado?

— Não. O departamento de TI me garantiu que funcionaria.

Isso lhe rendeu uma bufada. — Você reiniciou?

— Sim, — ela disse. — Duas vezes. Uma vez no aeroporto e uma


vez no jantar.

— Estou sem ideias, — disse ele. — Se você tem um plano


internacional, deve funcionar. Se estiver desbloqueado, basta trocar os
cartões SIM e comprar minutos. É a primeira vez que você o leva para o
exterior?

— Esta é a primeira vez que me levo para o exterior, muito menos


meu telefone.

— Envie um e-mail ao seu departamento de TI esta noite e talvez


eles consertem enquanto estamos na estrada amanhã.

— Você não conhece nosso departamento de TI, — disse ela. — É


uma resposta de solicitação de dez dias úteis. Estarei em casa antes que
cheguem a isso.

— Dez dias é para civis fracos. Experimente alguns meses.

Com os cotovelos na mesa, ela soltou o fôlego e apoiou a cabeça


na ponta dos dedos. — Estou tão fodida, — disse para a superfície polida.
Seu copo, visível em sua visão periférica, desapareceu por um
momento. Ela o ouviu engolir, então ele colocou o copo vazio na mesa. —
Você estava planejando trabalhar nesta viagem?

— Sim. — Ela viu seu telefone pousado virado para baixo na mesa
ao lado do vidro. — Posso usar o seu?

— Não. Sinto muito, — ele acrescentou, suavizando a recusa


direta. — Está bem fechado. Segurança.

Com a cabeça ainda nas mãos, ela olhou para ele. — Achei que não
tivesse se realistado.

— Eu não o fiz. Estou trabalhando para a Gray Wolfe Security.

A mesma empresa para a qual Jack planejara trabalhar ao receber


alta. Significa fazer um trabalho igualmente perigoso sob uma mortalha
semelhante de sigilo com níveis semelhantes de autorização de segurança,
por cerca de cinco vezes o salário. Jack planejou trabalhar como consultor
com Keenan, até que voltou para casa com os tremores. Queria consertar
isso para Jack, como consertou o divórcio dos pais, a partida abrupta do
pai, o hábito de beber da mãe. Mas isso era algo que uma irmã não
conseguia consertar. O que quer que tenha vivido na Marinha estava
muito além de sua compreensão, tudo o que podia fazer era apenas
sentar-se com ele enquanto tremia.

Ele ainda não falou sobre isso. Ela mal sabia sobre Keenan, mas ele
parecia ainda menos provável falar sobre seus sentimentos do que Jack.
Ele confundiu o silêncio dela com petulância. — Se houver uma
emergência, é claro que você pode usá-lo, — disse ele com relutância. —
Uma verdadeira emergência. Como se alguém morresse ou algo
queimasse até ao chão.

— Isso realmente não me faria muito bem, — ela admitiu. —


Preciso de acesso à rede para fazer quase tudo, e o departamento de TI
me esfolaria viva se tentasse fazer uma VPN pelo seu telefone. Eles estão
além da crítica sobre o roubo de dados.

— Podemos comprar um telefone para você amanhã?

— O mesmo problema com a VPN, — disse ela. — Preciso dos


meus dados, do meu acesso de segurança e a viagem foi reservada em
cima da hora. Não pedirei a vovó para esfriar os calcanhares enquanto
tento lidar com isso, quando sei que eles vão pegar minha bunda se usar
um telefone desprotegido para trabalhar. Estou tão fodida.

— Você não disse ao seu chefe que ia ficar fora do país por duas
semanas?

Respirou fundo, mas imediatamente se arrependeu. O ar cheirava


levemente a lustra-móveis e fortemente ao cheiro da pele do antebraço
de Keenan, descoberto por suas mangas empurradas até aos cotovelos. O
cabelo que cobria a pele era castanho dourado, iluminado pelo sol à
medida que bronzeava a pele, e não fazia nada para obscurecer a
mudança de músculos e veias enquanto acariciava o resumo em seu copo
de cerveja. Ela sempre teve uma queda por mãos. Mãos de trabalhador,
mãos elegantes de violoncelista, dedos curtos e atarracados ou longos,
hábeis e calejados, não importava. O que importava era a maneira como a
delicada estrutura de ossos e músculos trabalhava em conjunto para
transmitir competência. Melhor ainda era a sensação de que podiam
entrelaçar fios delicadamente ou cerrar os punhos com força suficiente
para quebrar uma mandíbula.

As mãos de Keenan pareciam com sua boca. Delicadas e brutal ao


mesmo tempo. O pensamento disparou uma queimadura lenta em seu
estômago.

Eu não sabia disso sobre mim.

Dizem que viajar abre para novos lugares, rostos, culturas,


ideias. Estava na Turquia há menos de doze horas e todo o seu sistema
nervoso estava sendo religado.

— Disse a ele, — disse ela. — Mas também disse que estaria


disponível.

Ele apenas soltou uma risada suave que disse a ela que sabia tudo
sobre fazer promessas e quebrá-las. — Você quer uma bebida?

Não foi uma boa ideia. — Você está tendo outra? — ela se
equivocou. A risada se suavizou em um sorriso, esperando pacientemente
se recompor com sua mente própria.

— Vinho tinto, — disse ela.


Ele se levantou e foi até ao bar, voltando com uma garrafa de
cerveja para si e uma pequena garrafa de vinho tinto para ela. — Jack me
disse que você seria assim, — ele disse enquanto torcia a tampa da
garrafa.

Ela nem mesmo fingiu não saber o que quis dizer. Ela assumiu o
trabalho de sua mãe alcoólatra para garantir que Jack tivesse uma infância
razoavelmente normal. Se ele achou divertido, e não uma razao de culpa
porque se tornou o irmão mais novo despreocupado, então ela se saiu
bem. Mas a verdade era que Jack estava diferente agora, e não tinha ideia
de como ajudá-lo. Na verdade, planejou usar esta viagem para passar um
tempo com vovó e com seu irmão mais novo radicalmente alterado.

— Jack me contou todo tipo de coisa sobre você, — ela disse,


olhando para ele por cima da taça.

— O que ele disse?

Que Keenan era o melhor fodão em um time de fodões. Rose


sorriu. — Ele disse que você cuidaria bem de nós.

O sorriso de Keenan apertou imperceptivelmente. — E cuidarei, —


ele disse. — Então, qual é a obsessão pelo trabalho?

Ninguém nunca perguntou isso a um homem. Ninguém. Mas ela


terá que passar os próximos dez dias em um Land Rover com este
homem. Ela já estava atraída por ele, já pensando em quanto tempo fazia
desde que fez sexo, muito menos o tipo de sexo que sua química com
Keenan prometia. A única maneira de piorar era entrar em uma disputa
verbal cada vez mais acalorada. — Tenho trinta anos, — ela disse
suavemente, — em uma equipe de liderança composta por homens que
são pelo menos dez anos mais velhos do que eu. Sou uma mulher em
uma indústria dominada por homens. Não posso falhar. Não posso nem
cometer um erro. Se algo der errado enquanto estiver fora, tudo o que
ouvirei pelo resto da eternidade é 'lembra daquela vez que Rose levou sua
avó para a Turquia e o sistema de preços caiu?'

Ele riu novamente, uma risada baixa e suave que teceu com o
vinho aquecendo suas veias. — Qualquer coisa é engraçada quando
envolve a palavra ‘Turquia’. Vamos descobrir algo, Jetlag, — ele disse. —
Amanhã.

Ela automaticamente pegou seu telefone para verificar o


itinerário. — Temos o passeio de balão de ar quente ao amanhecer,
depois Goreme e Derinkuyu.

— Nós descobriremos algo, — ele disse novamente.

— Tudo ficará bem. Estamos oito horas à frente deles. Vou fazer o
check-in antes de sairmos e ver o que aconteceu no final do dia, então
novamente quando chegarmos ao próximo hotel, será de manhã cedo
para eles. Ou algo assim, — ela disse, porque estava se confundindo. Ela
engoliu o resto de seu vinho e estendeu a mão para a garrafa. — Vai ficar
tudo bem.
A mão de Keenan se fechou em torno da dela. — Você
provavelmente sabe disso, mas beber tanto vinho tinto depois de vinte e
quatro horas de viagem não é a melhor ideia.

Arrepios subiram pelo braço até à nuca. — Garantir que meu


telefone funcionasse antes de deixar a América do Norte era a melhor
ideia, — disse ela. Ela inclinou o pulso, ainda em seu aperto. O vinho
espirrou no gargalo quando o segurou logo abaixo do nível, sobre a
taça. — Este é o segundo melhor, — disse ela, e começou a servir.

Seus dedos se apertaram ao redor de seu pulso, calor e pressão,


força e ameaça. Ela desviou o olhar da taça para os olhos dele, quentes e
escuros com promessa. — Não consigo fazer o seu telefone funcionar,
mas posso fazer melhor do que o segundo lugar.
CAPÍTULO DOIS

Keenan iria matar Jack.

Ou Jack iria matá-lo. Qualquer uma das coisas era possível, neste
exato momento, Rose olhando para ele, a garrafa suspensa sobre sua taça
de vinho, vazia o suficiente para que apenas uma lasca de líquido
espirrasse pelo gargalo em direção à abertura. Ainda segurando o pulso
dela, olhou de volta, usando o tique-taque dos segundos para memorizar
seu rosto, em parte por hábito, em parte porque estava cativado. Seu
cabelo e seus olhos eram do mesmo tom de rico castanho escuro, uma cor
que nunca tinha visto nos olhos de ninguém antes. Sua pele pálida
testemunhava uma vida dentro de casa, dedos delgados pousados sobre
um teclado, afiadas como navalhas cortando problemas em tiras
organizadas. Se ela tivesse começado o dia em Lancaster com qualquer
maquiagem no rosto, já teria passado há muito tempo, deixando-a com
uma boca rosa pálida. A cor em suas bochechas atribuiu ao vinho, ou
talvez ao fato de que tinha acabado de fazer uma proposta sem rodeios à
irmã de Jack Powell.

Jack, o bastardo mentiroso.

Com sua mistura peculiar de meias-verdades, meias-mentiras, Jack


conseguiu manter o fato de que sua irmã era um nocaute para a equipe de
SEALs da Marinha. Raramente falava sobre Rose e, quando falava, fazia
com que ela soasse como uma destruidora de bolas. Se gabou de
sua rápida promoção para a equipe de liderança, destacando a maneira
como ela arrasava e pegava nomes, totalmente focada em sua
carreira. Provavelmente escolheu as fotos que mostravam Rose da
maneira menos lisonjeira possível. Olhos fechados. Cabelo preso em um
rabo de cavalo. Paletó obscurecendo suas curvas. Boca cheia de
comida. Jack, o contador de histórias mais ultrajante de um grupo
conhecido por contos fantásticos, havia enganado todos fazendo-os
pensar que sua irmã era um cruzamento entre um sargento e uma tia
solteira.

Rose Powell era um nocaute. Usava leggings pretas e botas cinza


até ao joelho, uma camiseta cinza de mangas compridas que envolvia seu
peito e quadris, e um suéter preto largo que chamava sua atenção cada
vez que se movia. Ela obviamente ignorou qualquer conselho que Jack lhe
deu sobre andar em torno de ruínas desmoronadas e ruas pavimentadas
de forma irregular com blocos de mármore esculpidos milhares de anos
atrás, e estava obviamente amarrada como cabos de paraquedas após um
salto de abertura em altitude baixa.

Ele precisava esquecer Jack. Jack estava a meio mundo de


distância, incapaz de socar Keenan na terra pelo que tinha acabado de
dizer, mas era perfeitamente possível que Rose fizesse o seu melhor para
acabar com ele, agora. Ela também podia fazer isso. Cada vez que olhava
para ele, sentava-se um pouco mais reto, mas provavelmente era porque
quando fizeram contato visual foi como levar um soco no plexo solar.

Ela tinha estado um pouco fora de foco no final, mas agora seus
olhos se aguçaram. Por um longo momento ficaram congelados, Rose com
a garrafa na mão, Keenan encontrando seu olhar. A única coisa que se
moveu foi o vinho, fluindo suavemente para a frente e para trás ao longo
do gargalo.

Se ela derramou a taça, ela estava fora. De jeito nenhum ficaria


bêbada para dormir com um homem. Espere. Se servisse a taça, estava
dentro, porque o vinho era sexy, inibições reduzidas, esse tipo de
coisa. Cristo. Ele não era o único com jet lag. Deveria estar pensando com
mais clareza do que isso. Ele pousou em Istambul meses antes e, de
alguma forma, nunca pegou um vôo para os Estados Unidos, de alguma
forma nunca foi para casa. Era um especialista em navegar do ponto A ao
ponto B usando apenas o sol, mas não tinha o mapa que lhe mostrava
como chegar em casa.

— Você pode fazer melhor, — ela disse, repetindo suas


palavras. — Você deve gostar de viver perigosamente.

Não tanto quanto gostou da luz em seus olhos. — Estou bem com
isso, sim, — disse ele.

— Acho que quero ficar sóbria para isso, — disse ela, e puxou o
pulso dele para colocar a garrafa na mesa. Mas não disse mais nada. Ela
não trouxe Jack para a conversa, ou sua avó, ou estabeleceu quaisquer
outros parâmetros, muito menos limites. Em vez disso, o olhou bem nos
olhos e deixou o silêncio fluir entre eles como o vinho na garrafa, algo no
nível físico sendo perguntado e respondido.

— Devemos?

Ele empurrou a cadeira para trás e ficou atrás dela, em seguida,


colocou a mão nas costas dela para acompanhá-la do bar, através do
saguão com um funcionário noturno sonolento, apenas deixou a mão
pairar em sua cintura enquanto esperavam pelo elevador, perto o
suficiente para sentir o calor irradiando pelo cardigã fino e pela
camiseta. Mas o calor não era a única coisa que irradiava dela. Tensão,
músculos tensos e nervos a deixaram nervosa.

— Eu deveria tomar um banho, — disse ela em tom de conversa


quando as portas do elevador se abriram.

— Não, — disse ele. Ele preparou os pés e cruzou os braços sobre


o peito. O cheiro de seu corpo, forte e almiscarado, subiu dela, duas vezes
mais estonteante no confinamento do minúsculo elevador. — Eu gosto
disso.

Encostada na parede em frente a ele, ela tinha uma mão no


corrimão, a outra segurando seu telefone frouxamente. Quando as portas
se abriram em seu andar, ela olhou para o corredor e depois para ele. —
Eu realmente deveria... apenas... verificar a vovó, — disse ela, se
desculpando.
E esse foi o fim de tudo.

— Claro, — disse ele, tentando não se sentir desapontado por não


estar recebendo algo que não deveria ter pedido em primeiro lugar, algo
que não era para ele.

Entrando em seu quarto. Por hábito, ele examinou os cantos, chão


e teto, em seguida, acendeu a luz no banheiro do tamanho de um
armário. Vazio. Seu kit de higiene pessoal estava no balcão, sua mochila
na cômoda. Poderia sair desta sala em segundos. Não era como seu
apartamento em Istambul. Isso levaria minutos para evacuar. Dois
minutos. Pode ser.

O quarto nem cheirava a ele. Ele se tornou o tipo de pessoa que


nem mesmo deixa para trás moléculas suficientes para registrar no ar?

Enfiou a mão entre as omoplatas e puxou a camisa pela cabeça,


em seguida, jogou-a aos pés da cama para facilitar o acesso na manhã
seguinte. Estava com as mãos na fivela do cinto quando uma batida suave
veio à sua porta.

Talvez não seja o fim disso.

Ele espiou pelo olho mágico. Rose estava do outro lado, a cabeça
inclinada para o lado, a queda suave de seu cabelo atrás da orelha. Abriu a
porta e viu o olhar dela passar rapidamente sobre ele, ombros, abdômen,
o cós do short visível logo acima do cós da calça cargo. — Achei que
verificar a vovó fosse um código para mudar de ideia, — disse ele.
Uma sobrancelha se ergueu. — Vou te dizer se eu mudar de
ideia. Enfim, por que iria? Ambos somos adultos consentidos. Você tem
preservativos?

Jack disse claramente a ela sobre a vida nos SEALs. Como se fosse a
qualquer lugar sem camisinha. — Eu tenho preservativos, — ele disse
sério.

— Vamos fazer isso, — disse ela, e passou por ele.

Quando fechou e trancou a porta, ela tirou os sapatos e jogou o


suéter na cômoda. — Ei, ei, — ele disse, alcançando as mãos na bainha
da camiseta dela.

— Você realmente não precisa, sabe, ser romântico comigo, — ela


disse.

Ele sorriu. — Não vou namorar você, — disse ele. — Vamos


desacelerar um pouco as coisas.

O hotel estava estranhamente silencioso ao redor deles, a única


coisa audível no quarto era a respiração dele, profunda e regular, e a dela,
um pouco mais rasa, mais leve, ficando cada vez mais rasa quando ele
entrou direto em seu espaço e usou o peito e os quadris para apoiá-la na
parede. Ela se ergueu, ele não percebeu quão pequena era até que
chegou perto o suficiente para sentir seu estômago roçar o dele a cada
respiração. Ele olhou para o rosto dela, então a observou se endireitar e
olhar de volta para ele.
As mãos dela se levantaram e pousaram no quadril, visível acima
da cintura. Seus dedos se apertaram, tentando puxá-lo para mais
perto. Ele a parou pelo simples fato de não deixar que o movesse. Embora
estivesse quase desesperado para sentir sua pele contra a dele, queria
esticar isso, fazer durar.

Linhas gêmeas apareceram entre suas sobrancelhas finas e


arqueadas. De perto, podia ver como os músculos de seu rosto estavam
tensos. Essa foi uma maneira tão boa quanto qualquer outra de
começar. Ele se inclinou para a frente e pressionou os lábios no ponto
enrugado e ficou lá por um momento, até que os músculos relaxaram. Ela
deu um suspiro suave e engatado, e seus dedos se apertaram em seu
quadril novamente, mas ele ainda não diminuiu a distância entre
eles. Lentamente, inclinou a cabeça e beijou a pele macia de seu olho
esquerdo, permanecendo lá até que os músculos delicados estremeceram
e cederam. A seguir foi a dobra de sua mandíbula, o músculo ali tão tenso
como se ela estivesse cerrando os dentes, lutando contra ele. Joelhos
dobrados, um sussurro de som quando a pele raspou contra as calças
cargo. Então ele abriu a boca e fechou os dentes delicadamente em torno
de músculos e ossos.

Um som mais suave e profundo, e o músculo relaxou, sua


respiração deixando-a na primeira exalação profunda que a ouviu
fazer. Encorajando ainda mais a rendição, ele roçou os lábios ao longo de
sua mandíbula até ao canto dos lábios. A tentação de beijá-la era forte,
crescendo mais forte quando sua boca se abriu e ela se virou para juntar
suas bocas.

Uma mão em seu quadril, a outra no antebraço apoiado contra a


parede, ele aproveitou seu leve peso e impulso para virá-la de frente para
a parede. O som que soltou quando o fez, uma respiração suave e
indefesa, foi direto para seu pênis. Ele puxou o cabelo dela para o lado e
se curvou para colocar a boca no músculo tenso que unia o pescoço e o
ombro. Usou implacavelmente os dentes, a língua e os lábios até que os
nós cederam e a cabeça dela caiu para o lado.

Rose cedeu como uma ponte sobre um desfiladeiro. Como seria


quando a tivesse sob ele, agarrando-se com toda a sua força enquanto
dirigia dentro dela, observando o rubor espalhar-se por suas bochechas e
garganta até que ele a soltasse?

Uma mão subiu para segurar sua nuca enquanto a outra deslizou
ao longo de seu antebraço. Então ela virou o rosto para ele, procurando
sua boca. Ele deu a ela, o contato irritantemente incompleto com seu
rosto torcido sobre o ombro. Ela girou mais cento e oitenta graus, de volta
ao ponto de partida, mas desta vez suas mãos seguraram seu rosto para
mantê-lo perto.

Desta vez foi ele, pressionando-os juntos das coxas ao peito, como
se o contato de corpo inteiro fluísse do beijo. Seus lábios se abriram sob
os dele, sua língua cintilando contra o céu de sua boca, sua língua. Ela
tinha gosto de vinho tinto e desejo, e por um momento foi imobilizado
pelo contato elétrico das mãos dela em sua mandíbula, seus lábios contra
os dele. Seu coração saltou e gaguejou quando ela alisou as palmas das
mãos por seus ombros e peito, até ao botão de sua calça.

Sorrir durante o sexo era novo para ele, mas sorria, a configuração
de lábios e dentes contra sua boca aberta e faminta quebrando um pouco
a tensão. — Espere, — ele murmurou. — Espere por isso.

Ela deu um pequeno gemido. — Por quê?

O calor irradiava de sua pele através do algodão macio de


sua camiseta, mas manteve a barreira entre eles, segurando seu seio
através da blusa e do sutiã, escovando o polegar para a frente e para trás
até que seu mamilo atingisse o pico, então continuou até que ela se
arqueou contra ele. Ele se inclinou, esfregando sua ereção contra sua
barriga macia até que ela levantou uma perna e a enganchou na parte de
trás de seu joelho. Quando estavam numa dança fabulosa pra caralho,
quando ele podia sentir o calor do sexo dela contra sua coxa, quando seu
corpo estava ondulando contra o dele enquanto beliscava seu mamilo
através da camiseta e sutiã, quando ela choramingava, porra, ele colocou
a boca em seu ouvido, deslizou a mão por baixo da blusa para puxar o
sutiã e apalpar a pele macia e quente de seu seio na palma da mão. Então
beliscou seu mamilo novamente, as pontas dos dedos ásperos contra a
pele macia.

Sua cabeça bateu na parede com um baque e suas unhas cravaram


em seu ombro nu com força suficiente para arder.
— É por isso, — disse ele.

Ela deu uma risadinha aguda e assustada que se transformou em


uma série de gemidos suaves quando ele começou a descobrir
exatamente do que ela gostava. A pele dela aquecida, umedecida sob seu
toque até que a fricção a fez morder o lábio com força suficiente para
deixar uma marca. Então olhou para ele através de seus cílios, segurando
seu olhar enquanto suas unhas deixavam fogo em seu rastro. Ela não foi
para o botão ou zíper. Em vez disso, virou a mão e segurou suas bolas,
pressionando a palma da mão contra a base de seu eixo.

— Posso fazer isso?

Ele queria dizer sim, ou melhor, inferno, sim, mas o que saiu foi um
estrondo profundo, um som que nunca tinha se ouvido fazer antes. Um
calor repentino e espesso percorreu seus nervos, mais como estar
mergulhado em lava do que chocado. Ele empurrou em sua mão, amou o
jeito que ela empurrou de volta, lidando com ele quase tão rudemente
como ele se controlaria. Se espremeu contra ela, usando seu corpo para
protegê-la, pressionando além do limite e se tornando possessivo,
territorial, dominante, meio que esperando que ela fugisse, colocasse um
espaço entre eles, restabelecesse algumas regras malditas.

Em vez disso, ela levou a boca aberta ao pulso batendo na base de


seu pescoço e o lambeu. Então se aninhou no espaço de sua garganta, e
pela vida dele, não conseguia tirar a imagem de uma leoa de sua
mente. Rendendo-se, mas com apenas presas e garras suficientes para
lembrar ao leão de respeitar onde era devido.

— Eu realmente quero colocar minha mão em volta do seu pau, —


ela disse.

Ele estava perto demais para isso. Algum dia ele a deixaria
trabalhar duro com as mãos e a boca, mas não esta noite. Isso era muito
cru, muito quente, muito inesperado para desperdiçar com qualquer coisa
menos do que sexo de contato total.

— Cama. Agora, — ele disse, e deu um passo para trás, fora de seu
alcance.

— Não, não, — disse ela.

— O quê? — disse ele, instantaneamente alerta. ‘Não’ significa


todo o tipo de coisas. Significava Pare neste maldito instante; significava
Não pare, porra; significava parar de fazer isso e fazer isso em vez
disso. Ela estava olhando para ele, de costas para a parede, os olhos
arregalados e chocados e tão vulneráveis que fizeram seu coração
parar. — Não o quê, Rose?

Ela ergueu as mãos na frente do peito, os dedos bem abertos. —


Eu preciso, — começou, então parou. Deu um tapinha na parte superior
do peito, os tendões em suas mãos se destacando pelo esforço de
alcançar algo. — Eu preciso de você... contra mim.
Oh, porra Cristo. Ela estava vibrando de tensão, tremendo de
necessidade, um tremor peculiar que parou quando usou a força em suas
pernas e quadris para prendê-la contra a parede. Os olhos dela se
fecharam e o som que saiu de sua boca foi direto para o cérebro dele.

Ele a beijou novamente, enfiando a língua em sua boca com o


mesmo ritmo duro quando seus quadris se apertaram contra os dela. As
mãos dela bateram em seus ombros uma, duas vezes, até que agarrou
seus pulsos e os prendeu atrás das costas com uma mão, então prendeu o
outro braço em volta de sua cintura e a ergueu do chão.

Mantendo-a imobilizada, se ajoelhou na cama e a empurrou para


trás, um movimento cinematográfico que não teria feito se tivesse parado
para pensar primeiro. Mas então eles estavam na cama, seus quadris
entre suas coxas, sua mão segurando frouxamente seus pulsos. Mas ela
estava completamente presa, suas pernas abertas, seu corpo arqueado
contra o dele.

Ele transferiu a mão não ocupada em prendê-la ao cabelo, os


dedos deslizando profundamente nas mechas brilhantes para segurar sua
boca para seu beijo, descansou todo o peso de seu corpo no dela e a
beijou até que ela estivesse ofegante, implorando, moendo contra seu
pênis ereto. Quando ele não aguentou mais, se inclinou na beira da cama
para remexer em sua mochila e pegar um pacote de preservativos. Em
seguida, puxou para baixo a legging elástica da cintura dela, empurrou a
blusa e o sutiã até a clavícula e colocou as mãos no zíper.
Ele não se preocupou em tirar as calças, apenas as abriu o
suficiente para que seu pênis caísse grosso e pesado em sua mão. Ele
espalmou uma vez, apenas para tirar o nervosismo, e então rolou o
preservativo por seu eixo. Rose estava deitada na cama, nua e estendida
para ele, um olhar quente e atordoado em seus olhos enquanto olhava
para as mãos dele. Então, quando recolheu seus pulsos sem resistência e
os prendeu ao lado de sua cabeça, alinhou seu eixo com sua entrada. Ela
estava tão escorregadia, tão quente, que a cabeça escorregou antes
mesmo que pensasse em fazer aquele movimento. Os músculos se
contraíram até aos ossos enquanto ela engasgava e se contraía, e sibilava
de dor.

— Desculpe, desculpe, — ele disse, mas não se retirou, não


levantou seu corpo do dela. Em alguma parte distante e civilizada de seu
cérebro, sabia que deveria fazer exatamente isso, mas seus mamilos
quentes e tensos perfuraram seu peito, e cada nervo de seu corpo soou
como um alarme de incêndio. — Jesus, Rose. Porra. Você é apertada.

— Você é grande, — ela engasgou de volta. — Deus. Só... espere


um segundo, ok?

— OK. Claro, — disse ele, pronto para prometer tudo o que tinha
que prometer para ficar exatamente onde estava. Ele fechou os olhos e se
concentrou no calor enlouquecedor, na deliciosa pressão envolvendo
apenas a cabeça de seu pênis. Nenhuma coisa mais. Podia sentir os
músculos delicados de sua vagina tremendo, então cedendo, dando boas-
vindas em vez de resistir. Ele deslizou mais um centímetro, e ela ficou
tensa novamente, mais, adivinhou, em antecipação à dor do que pela
própria dor. Então continuou indo, deslizando mais fundo, até que ela
pegou tudo o que tinha.

Seus olhos se abriram, olhando para ele.

— É isso? — ela perguntou trêmula.

— É isso, — ele prometeu, e ficou surpreso ao ouvir um forte


tremor em seu própria voz. Havia um milhão de perguntas para fazer a
ela, nenhuma delas era da sua conta, de qualquer maneira, formato ou
forma. Como por que ela era quase selvagem em seu desejo, e tão rígida
quanto uma virgem. Ou por que ela…

Ela se contorceu embaixo dele. A pele lisa de suas barrigas,


pressionadas juntas, ou a parte interna de suas coxas onde eles estavam
enrolados em torno de seus quadris, o lembrava da pressão lisa em torno
de seu pênis. Então ela torceu os pulsos em seu aperto, e ele
entendeu. Ele soltou seus pulsos, apenas para encontrá-la ajustando os
braços para que pudesse enrolar os dedos nos dele e segurá-la com força.

— Eu acho que, se você apenas... — ela disse, um olhar distante e


calculista em seus olhos enquanto circulava seus quadris embaixo dele.

Ele havia passado muito tempo nos SEALs para desperdiçar


palavras quando as ações gritavam. Ele se curvou sobre ela, puxou para
fora e enterrou-se ao máximo dentro dela, uma carícia quente e
deslizante que o iluminou de dentro para fora. Suas palavras se
fragmentaram em um suspiro suave que se aprofundou em um gemido
quando fez isso de novo, o ângulo de seus quadris inclinados para
encontrar o ponto quente dentro dela.

— Se eu apenas o quê? — ele sussurrou. — Só fiz isso?

Ele fez isso de novo, encontrando o ritmo e a profundidade


perfeita para deixá-la selvagem sem mover as coisas muito
rapidamente. Os dedos dos pés dela enrolaram contra os flancos dele, e
em pouco tempo, um rubor profundo e rosado floresceu em seu rosto e
se espalhou por sua garganta. Ele usou todos os truques que conhecia
para se conter, os músculos apertando ao redor de seu pênis, contando
para trás em Pashtun3, porque não queria apenas fazê-la gozar. Queria
fazê-la desmoronar. Então deu a ela o que sabia que ela precisava, um
ritmo constante deslizando sobre seu ponto quente repetidas vezes, lento,
enlouquecedor, a promessa de fazer sua mente explodir se ela apenas
pegasse, tomasse.

Ele podia sentir isso chegando. Suas costas arquearam, seu rosto
se contraiu, um gemido baixo vibrando em sua garganta. Quando a cabeça
desabou, puxou sua mão livre da dela e colocou a mão sobre sua boca,
dirigiu nela duas vezes mais, e deixou a explosão levar os dois.

3
Também conhecido como afegão ou afegane é uma das línguas nacionais do Afeganistão e um dos
idiomas oficiais das províncias ocidentais do Paquistão.
A próxima coisa que ouviu foi um som indistinto de Rose. — Huh?
— ele disse, não a declaração mais coerente que ele já tinha feito.

— Fora, — disse Rose, e acrescentou um empurrão em suas


costelas. — Sem endorfinas. Muito pesado. Não consigo respirar.

Ele se moveu para o lado, desengatando seus corpos, mas


mantendo a mão em seu quadril. Ela respirou fundo, a expiração
estremeceu ao deixar seu corpo, então desajeitadamente empurrou
a camiseta e o sutiã para baixo. Ele ajudou, examinando-a suavemente
enquanto o fazia. Ela parecia bem, respirando devagar, olhos fechados,
quando se levantou para tirar a camisinha. Quando ele terminou e puxou
as calças para cima, ela estava de pé, puxando a legging. — Eu deveria ir,
— ela disse quando se encostou no batente da porta do banheiro. — Se
ficar mais um pouco, adormecerei. Não quero que vovó acorde sozinha
em um lugar estranho.

— Claro, — disse ele, dizendo a si mesmo que deveria se sentir


aliviado por sua atitude prática. Dois adultos consentidos, um caso de
férias. Vê-la puxar a camisa pela cabeça, então prender o cabelo em um
rabo de cavalo frouxo, pensaria que ela fazia isso o tempo todo, exceto
que ela estava tão apertada, quente e selvagem sob ele, como se ela
nunca se deixasse levar.

Ela olhou para o relógio e suspirou. — A que horas partimos


amanhã?

— Cinco e meia, — disse ele, ajustando-se ao horário civil.


— Eu deveria acordar mais cedo, checar as coisas antes de
sairmos.

— Rose, — ele disse com firmeza, — durma um pouco. Eu cuido


disso.

— Cuida do quê?

— O que quer que possa surgir. Eu cuido disso. Confie em mim.

Agarrando o suéter contra o peito, ela olhou para ele como se


nunca tivesse contado com outra pessoa em toda a sua vida. Suas pupilas
estavam dilatadas, sua pele avermelhada e brilhante.

— Tudo bem, — disse ela fracamente. — Eu só vou... ok. Obrigada


por... obrigada. Isso foi muito melhor do que o segundo melhor.

Quando ela saiu, ele inalou profundamente. O quarto cheirava


levemente a ela, não a perfume, não a spray de cabelo, mas ao cheiro rico
e almiscarado de sua pele, de sexo. Pela primeira vez em muito tempo,
adormeceu com o cheiro de uma mulher no nariz.
CAPÍTULO TRÊS

— O banheiro é todo seu, Rose, — disse vovó.

Rose tirou os olhos do e-mail que estava enviando para Hua Li, sua
funcionária de maior confiança. Se alguém podia falar doce com o TI para
acelerar seu pedido para obter seu serviço internacional o mais rápido
possível, esse alguém era Hua. Eles foram avisados de que passeios de
balão de ar quente no início da temporada podiam ser muito frios, então
vovó estava enrolada em calças de passeio leves, uma camisa de botão e
um suéter grosso.

— Você está usando meia calça? — Rose perguntou.

— Sim, e meias de lã, — disse vovó, fechando o zíper de sua bolsa


de produtos de higiene pessoal em sua mala. Ela estudou Rose por tempo
suficiente para um rubor rastejar em suas bochechas.

— O quê? — Ela disse com um sorriso. — Só preciso de alguns


minutos e estarei pronta...

Uma batida rápida e forte na porta fez as duas pularem. Vovó


abriu. Keenan deu um passo para dentro, controlando o corredor e o
quarto, seu olhar varrendo a janela, a cama, Rose. Ele não se demorou em
Rose, o que provavelmente foi o melhor. Mesmo o menor contato visual
enviou faíscas ao longo dos nervos formigando em sua boca, seus seios,
seu sexo. Ele olhou para o laptop dela, então deu a ela um aceno rápido
que ela entendeu que significava que eles lidariam com a situação do
telefone dela hoje, se possível. — Dez minutos, senhoras, — disse ele. —
Mantenha sua bolsa ou mochila com você, mas deixe sua mala do lado de
fora da porta. O concierge irá trazê-los para você.

Quando a porta se fechou, vovó abriu as cortinas pesadas que


cobriam a janela. O sol apareceu na borda das colinas da Capadócia. —
Dez minutos, Rose! — ela disse, quase pulando.

— Eu só preciso enviar este e-mail, — disse Rose, aliviada pela


maneira profissional de Keenan. Não ia pagar por dizer que ele era melhor
do que o segundo melhor. Não costumava enfiar o pé na garganta, no
estômago, mas quando o fazia, o fazia com gosto e autoconfiança. Além
disso, o que aconteceu na noite anterior não aconteceria novamente. Foi
um caso de férias para ela, e sabe-se lá o quê para ele. Keenan manteve as
coisas profissionais, do jeito que ela gostava. Afinal, os SEALs não eram
chamados de profissionais silenciosos? Perfeito. — Temos problemas com
um terminal na Califórnia, e o presidente do comitê de contratação acaba
de enviar outra rodada de empregos para verificar antes de publicá-los.

— Rose, — disse sua avó, enxotando-a em direção ao banheiro, —


vá, vá, vá!

Rose foi e emergiu nove minutos depois, com os dentes escovados,


o cabelo preso em um rabo de cavalo e uma touca de lã na cabeça. Ela fez
isso em nove minutos apenas porque um olhar para seu rosto lhe disse
que, além de um corretivo para as bolsas sob os olhos, a maquiagem era
desnecessária. A cor em suas bochechas e sua boca ainda inchada deram-
lhe todo o brilho que ela precisava. Não foram cinco horas de sono tão
profundo que poderia muito bem estar inconsciente.

Não, devia a cor de seu rosto ao sexo francamente incrível. Ela


enfiou a bolsa de maquiagem na mala, fechou o zíper e empurrou-a porta
afora, onde um carregador que esperava a ergueu e se dirigiu para as
escadas. Seu telefone, laptop, adaptadores e cabos de carga foram
colocados em sua bolsa de ombro. Conduzindo a vovó à sua frente, ela
rodeou Marian e Florence e as conduziu escada abaixo até ao saguão,
onde Keenan estava esperando.

— Nosso ônibus é aquele, — disse ele, apontando para o pequeno


ônibus estacionado em frente às portas de correr do hotel. — Eles nos
levarão para o café da manhã e depois para os locais de passeio com
balões.

— Nosso ônibus? — Rose disse, surpresa. — Você vem com a


gente?

Ele acenou com a cabeça e baixou a voz. — Jack me disse para


cuidar de você. Estou cuidando de você.

O calor vibrava por ela, muito cedo em um dia muito longo para
ser qualquer coisa além de uma provocação. Deveria bloqueá-lo. Em vez
disso, ela se inclinou. — É assim que você chama?
— Minhas definições são bastantes flexíveis, — ele admitiu, com
um sorriso irônico na boca.

— Claro que ele está vindo. Você tem que vir, — disse vovó. — Ver
a Capadócia do ar está na lista de desejos de todos.

Para seu crédito, Keenan fechou a boca e disse a única coisa que
poderia dizer. — Sim, senhora.

Todos embarcaram no pequeno ônibus que os levou por estradas


estreitas. As casas pareciam se erguer diretamente da pedra macia, dando
às pequenas aldeias uma aparência desordenada e confusa. Os quintais
continham cabras e galinhas, e antenas parabólicas projetavam-se dos
telhados. Em seu destino, um edifício moderno emoldurado de forma
incongruente como um chalé suíço, eles se acotovelaram entre outros
convidados para servir-se a uma mesa de buffet quente fumegante
carregada com alimentos de café da manhã turco. Rose pegou frutas,
bolinhos e uma xícara de café, então descobriu que vovó e suas amigas
haviam se juntado a uma mesa com outras pessoas de sua idade. Keenan
se sentou em uma mesa para dois, sua mochila claramente reivindicando
a outra cadeira.

— Sente-se, — disse ele, levantando-se.

Ele voltou um minuto depois com um prato cheio de torradas,


ovos, uma sopa com um cheiro fantástico, frutas e uma xícara de
chocolate quente.
— Quem me dera, — disse ela, olhando para o chocolate.

— Corri esta manhã, — disse ele.

— Adoraria correr, mas dormi durante o alarme, — disse ela, e


tomou um gole de café.

— Vovó me acordou quando estava se vestindo. Ainda bem que


tomei banho antes de adormecer na noite passada.

Não foi fácil olhá-lo nos olhos, algo que ela achava simples ao lidar
com os homens com quem trabalhava. Não era porque ela estava com
vergonha, ou mesmo intimidada por ele. Foi porque ele a viu vulnerável e
fora de controle, agora ele viu dentro dela, talvez até mesmo viu atraves
dela.

— Avise-me se for correr, — disse ele. — Eu irei com você.

— Você não tem que fazer isso. Eu não sou rápida, — disse ela. —
Não posso correr dez minutos, estou indo bem, mas isso é na esteira.

Ele terminou de mastigar uma massa folhada inteira com recheio


de damasco e engoliu. — Não é uma questão de velocidade. É uma
questão de segurança. Com base em sua agenda insana, a única vez que
você terá que correr é antes do amanhecer ou depois de escurecer. Você
não vai sozinha.

Ela ergueu uma sobrancelha para ele.

— Jack deixaria você correr sozinha em um país estranho e sem


telefone celular?
Droga. —A princípio, ele não teria uma palavra a dizer sobre o
assunto. Mas na realidade, não, não deixaria, — ela admitiu quando
começou a descascar a laranja.

— Sobre Jack, — ele disse.

— Sim, sobre Jack, — ela disse, sacudindo a polpa laranja branca


de seus dedos. Mencionar Jack a fez lembrar que estava ansiosa para
passar um tempo com ele nesta viagem. Esteve tão ocupada no trabalho
que não notou seu padrão de adiar o jantar, ou bebidas, ou uma tarde de
sábado jogando videogame. Só quando ele desistiu da viagem que ligou os
pontos.

— Ele não ficará feliz com isso, — disse Keenan.

— Sobre o quê? — Rose perguntou.

Keenan apenas olhou para ela, e o calor derretido em seus olhos a


parou com uma seção laranja a meio caminho de sua boca. — Você não
pode me olhar assim em público, — ela sussurrou.

Ele piscou, e Keenan era apenas Keenan, modesto, quieto, normal


Keenan.

— Não tinha planejado contar a Jack sobre isso, — ela disse,


satisfeita em ouvir que sua voz estava bem modulada, de fato. — Quer
dizer, normalmente não digo ao meu irmão que estou fazendo sexo com
alguém, SEAL ou outro, porque é: (a) nojento e (b) não é da conta
dele. Porquê? Ele avisou você sobre mim ou algo assim?
— Ou algo assim, — disse Keenan.

Ela pensou em perguntar sobre ‘ou algo assim’, mas mudou de


ideia.

— Sinto muito pelo que disse quando estava saindo.

Suas sobrancelhas baixaram. — O que você disse?

— Sobre ser melhor do que o segundo melhor?

Ele riu, brilhante, real, cabeça para trás. — Meu ego pode suportar
vir em segundo lugar para um telefone celular funcional.

— Oh, Deus, — disse ela, e colocou a cabeça entre as mãos. — Não


é o mesmo. São coisas boas totalmente diferentes.

— Coisas boas? — disse ele, sorrindo.

— Por que o chão não está me engolindo agora?

Ele se inclinou para frente e baixou a voz. — Não se preocupe com


isso, Jetlag. Gosto de desafios.

— Powell, grupo de cinco, — chamou um homem com uma


prancheta antes que Rose pudesse piorar as coisas. Ela enfiou a laranja no
bolso, pegou sua bolsa e seguiu vovó, Florence e Marian para fora da
porta, Keenan em seus calcanhares.

Eles resolveram evitar o contato visual no caminho para o local do


passeio. Estavam bem, contanto que não fizessem contato visual. Assim
que o fizessem, com base na maneira como se olhavam, todos
saberiam. O calor entre eles iria queimar um prédio de escritórios em uma
casca escura.

O balonista avaliou todos com olhos experientes, então apontou as


senhoras mais velhas para uma cesta de balões e Rose e Keenan para
outra. — Espere, — disse ela. — Eu quero ir com a vovó.

— Nós também, — disse Florence.

Rose estreitou os olhos. Florence deu a ela um movimento de


acenar / enxotar o dedo mindinho, e Rose se virou para encontrar Keenan
educadamente segurando a porta da cesta aberta para ela.

— Não gosto de altura, — disse ela ao entrar no compartimento.

— Nem eu, — disse ele.

— Você pula de aviões, — disse ela, lembrando das descrições de


Jack sobre o treinamento HALO.

— Com um paraquedas que eu mesmo embalei, — explicou ele.

A cesta foi dividida em compartimentos. Ela e Keenan estavam em


um, enquanto um homem mais velho e corpulento com uma barba
grisalha ocupava o outro. A equipe desenganchou a cesta das estacas e,
com um assobio profundo, o balão subiu no ar. O solo e a grama seca ao
redor do local de lançamento se turvaram em um marrom pálido
indistinto conforme eles ganhavam altitude, flutuando nas correntes atrás
dos outros balões. Ela se virou no recinto, procurando o balão da vovó,
mas rapidamente a perdeu no bando de balões que agora pairava sobre o
vale.

— Quantos balões sobem a cada dia? — ela perguntou ao


balonista.

— Centenas, — ele disse alegremente. — Mas não se


preocupe! Houve apenas um acidente nos últimos 12 anos. Muito seguro.

Ela olhou para Keenan. — Com o equipamento certo, posso


desafiar as leis da física, — disse ele.

Seu olhar se voltou para sua mochila.

— Às vezes, uma mochila é apenas uma mochila, não um


paraquedas.

Sabichão. Rose ficou na ponta dos pés, olhando para o céu sem
nuvens, um azul nítido e frio que parecia durar para sempre. O passeio de
balão era diferente de estar em um avião; Além do barulho ocasional
quando o balonista aumentava a chama acima de suas cabeças, o passeio
foi tão silencioso que Rose ouviu zumbido em seus ouvidos. — Não
consigo vê-la, — disse ela, sua voz desaparecendo no vasto céu pálido.

— Ela está bem, — disse Keenan calmamente. — Você é quem


está prestes a quebrar uma unha, — disse ele, ainda naquele tom
baixo. — Não que eu me importe.

Ela olhou para ele.

— Os arranhões doeram esta manhã, — disse ele.


O balonista estava conversando com o outro passageiro,
apontando a paisagem abaixo. O sol nascente destacava dobras
ondulantes das encostas, em tons sépia de marrom, cinza e creme, e as
aldeias esculpidas na rocha, as portas em arco irregulares, misteriosas,
antigas. — Sinto muito, — disse ela.

— Não sinta, — respondeu ele. — Você foi incrível.

Ela olhou para ele novamente, procurando a provocação, a


piada. Sem quebrar o contato visual, ele tirou os dedos dela da beirada da
cesta, então pegou o pulso dela em um toque tão delicado, tão cuidadoso,
tão profundamente possessivo, que ela parou de respirar. Empurrou a
manga de seu suéter e a camiseta térmica de seda abaixo, então virou a
parte de baixo do pulso dela para dar um beijo suave em seu pulso. O
contraste entre seus lábios macios e sua barba áspera enviou uma
emoção quente pra ela.

Ela parou de procurar o balão da vovó. Respirando. O ar aqui era


muito rarefeito, escorrendo em seus pulmões, passando por sua garganta
travada. O céu aparentemente infinito ao seu redor, a paisagem antiga
abaixo dela e os olhos azuis de Keenan conspiraram para puxá-la para este
momento, em um balão de ar quente, do outro lado do mundo de sua
vida diária. Seu cérebro, normalmente tagarelando como um macaco no
crack, de repente estava possuído por dois pensamentos. A noite passada
foi única e ela queria fazer de novo.
Ele sabia. Ele sabia antes dela, isso estava claro em seus olhos
astutos. Um falcão voou na mesma corrente ascendente que os ergueu,
depois girou para mergulhar em um campo e aparecer com o café da
manhã, um rato, pelo que parece. Ela engoliu em seco e voltou sua
atenção para a tagarelice do balonista sobre as chaminés de fadas da
Capadócia, apagando o fogo, mas as brasas ainda ardiam, esperando pela
noite.

— Os rebeldes costumavam se esconder aqui, — disse Keenan


durante uma calmaria.

— Quais rebeldes?

— Todos eles, — disse ele, em seguida, acenou com a cabeça para


o terreno suavemente dobrado. — Vê como as estradas se enrolam e se
elevam com o terreno? Não era possível colocar tropas montadas ou
carros na área e, se o fizesse, os insurgentes se esconderiam em uma das
milhares de cavernas.

— Isso te lembra do Afeganistão?

— O terreno é mais montanhoso no Afeganistão, mas os


problemas que os exércitos enfrentam são semelhantes.

Ela examinou o território novamente, mas com um olhar diferente,


um olho para o custo humano. — Você vê o mundo em termos de guerra
agora?
O aquecedor assobiou novamente, enviando ar quente para o céu,
mantendo-os no ar. Keenan apoiou os cotovelos na borda tecida da cesta
do balão e não olhou nos olhos dela. — Sim, — ele disse finalmente.

Os balões caíram gentilmente até que ficassem a alguns metros


acima do local de aterrissagem e foram rebocados para os leitos dos
caminhões de espera por funcionários que habilmente seguraram os
cestos e arrumaram o tecido do balão. O balonista destrancou o portão da
cesta e deixou sair o outro passageiro, então Keenan, que estendeu a mão
para Rose para ajudá-la a descer.

Uma mesa forrada de linho com morangos e champanhe os


esperava. Vovó, Florence e Marian tinham cada uma um copo nas mãos e
triunfantemente se curvaram para a frente para que o dono da empresa
de balões pudesse pendurar medalhas em seus pescoços. Por um
momento, ela pensou que Keenan recusaria a homenagem pretendida
alegremente, mas ele ficou ao lado dela e aceitou sua medalha com
apenas uma pitada de ridículo em seus lábios.

***

Eles subiram no ônibus que os aguardava para o trajeto de volta ao


hotel. As Babes passaram a viagem comparando fotos, inclinando-se sobre
o encosto do assento de Rose para atraí-la para a conversa. Quando eles
chegaram de volta ao hotel, Keenan reuniu todos em torno de uma das
seções confortáveis no saguão. — Eu dei uma olhada em sua lista de
desejos e em seu itinerário, — disse ele enquanto segurava um mapa
nitidamente destacado e marcado com setas, e entregou a cada uma delas
uma folha de papel impressa. Rose deu uma olhada e viu que ele
reformulou a viagem. — Seu plano original a levaria a vários sítios
arqueológicos ao longo do Vale do Meandro, mas não lhe deixa muito
tempo para se ficar em Istambul. Se cortarmos alguns dos locais menores,
que não são escavados de qualquer maneira, podemos visitar Konya,
Éfeso e Tróia, o que dá a você mais tempo em cada local, mais dias extras
em Istambul. Dessa forma, você passa as horas do dia em locais
importantes e as noites dirigindo para o próximo local. Você acorda lá,
pronto para ir.

Ele olhou para Vovó, que já estava assentindo, então para Rose. —
Montei o itinerário depois que Jack saiu, mas antes que soubesse que
você iria substituí-lo. Eu estava isegura de dirigir à noite em um país
estranho, onde poderia ter dificuldade em ler os sinais de trânsito.

Com uma carga preciosa no banco de trás, seu olhar leu. — Eu


cuido disso, — disse ele.

— Rose? — Vovó perguntou.

Ela estava comparando seu itinerário com a lista de desejos de


vovó. — Se você está bem com isso, estou bem com isso.

Vovó olhou para Keenan.


— Senhora, — disse ele respeitosamente, — Éfeso é o sítio mais
bem escavado da Turquia. A menos que você tenha um profundo
interesse na difusão do Cristianismo, Ruínas romanas ou a história do
Império Otomano, você não está perdendo nada nos outros locais.

— Feito, — disse ela. — Vamos.

***

Eles entraram no Land Rover e partiram para Derinkuyu. —


Contratei um guia, — disse Keenan, olhando para seu telefone quando
eles pararam no estacionamento. — Ele está me encontrando no
mercado.

— Só precisamos usar o banheiro feminino, — disse vovó.

Divertida, Rose observou Keenan controlar o levantar de sua


sobrancelha. — Esteja preparado para parar em cada posto de gasolina,
parada de descanso e pousada entre aqui e Istambul.

— Onde você estará? — ele disse.

— Bem aqui, — disse ela, e sentou-se em uma pedra fora da


entrada.

Dez minutos depois, teve tempo suficiente para pensar sobre quão
pouco poderia fazer sem acesso ao telefone celular ou a capacidade de ler
ou compreender a linguagem que flui ao seu redor. Ela vagou pelas
barracas montadas fora da entrada, examinando os lenços coloridos,
cerâmicas, estátuas e símbolos de mau-olhado disponíveis para
compra. De forma mais prática, pegou um livro em inglês no site. No
momento em que voltou ao seu lugar, Keenan estava de volta com o guia,
mas nenhuma Bucket List Babes.

— Onde elas estão?

— Você não passou muito tempo com velhinhas, não é? — Rose


disse suavemente, folheando o livro.

Vovó e sua comitiva reapareceram momentos depois. — Você não


acreditaria nos banheiros, — ela disse alegremente. — Marian
praticamente teve que desmontar um para fazê-lo funcionar.

Marian estava secando as mãos nas calças de viagem


que absorviam a água. Os olhos de Rose se arregalaram. — Sabonete, mas
sem toalhas, — explicou Marian.

— Talvez pudéssemos guardar as histórias para a viagem até


Konya? — Keenan disse, olhando para um ônibus enorme que estava
entrando no estacionamento. — Este é o nosso guia, Recip.

— Olá, — disse Recip.

— Olá, — todos responderam.

Com apenas um olhar, Keenan indicou que iria primeiro e ajudaria


as mulheres a subir ou descer conforme necessário, enquanto Rose
deveria fechar a retaguarda e se certificar de que ninguém se perdesse no
labirinto de corredores e cavernas. As cavernas eram um Patrimônio
Mundial das Nações Unidas, e absolutamente fascinante. Rose se viu
atraída pelos contos de Recip sobre bandidos e soldados romanos, sobre
os túneis que se abriam nas colinas, sobre os grupos que sobreviveram
por meses com grãos armazenados. Eles caminharam agachados por
pequenas passagens esculpidas na rocha, desviaram-se de escadas
estreitas e examinaram depósitos de grãos, cozinhas, dormitórios e
espaços de adoração completos com chancelarias e altares. No final da
turnê, a vovó encurralou Recip, que claramente amava um público
entusiasmado e engajado.

— Quanto damos de gorjeta a ele? — Rose perguntou baixinho. —


Seja o que for, ele valeu a pena.

— Eu cuidei disso, — disse Keenan tão baixinho.

— Você conseguiu tempo para elas fazerem compras?

— Noventa minutos, — disse ele, com uma expressão que dizia


que seria melhor ela não dizer que precisavam de mais de noventa
minutos para fazer compras.

— Vovó não vai durar tanto, — disse Rose. — Poderia tomar um


pouco de chá, no entanto. — Uma loja com um pequeno pátio foi
montada do outro lado do caminho das barracas. Rose comprou para si
uma xicara de chá de maçã, fumegante e servido em uma xícara de vidro
com uma alça e uma pequena colher de prata. O cheiro era perfumado,
doce e calmante. Encontrou um local ainda aquecido pelo sol poente,
sentou-se, tomou um gole e fechou os olhos. Ela sonhou que estava de
volta para casa, discutindo com a equipe de gestão e Jack sobre os
banheiros inoperantes do trigésimo andar.

Uma cotovelada não muito sutil na sola de sua bota a fez


pular. Keenan estava ao lado da mesa dela, secando as mãos nas calças. —
Acorde. Eu perdi sua avó.

— O quê?

— Me distraí, — disse ele, as mãos agora na cintura. — Quando


voltei, elas tinham ido embora. Olhei para baixo em todos os corredores
do mercado, mas sem sorte. — Rose esfregou os olhos e olhou em
volta. Ainda na Turquia. Não era um sonho, e nem era Keenan.

— Se elas voltaram para as cavernas, nossa programação está


ferrada, — acrescentou Keenan.

Rose se levantou e olhou em volta, depois subiu em sua cadeira


para ver melhor. — Eu sei onde estão, — disse ela.

Ela levou Keenan até a parte de trás da casa de chá, então subiu
uma ligeira elevação coberta por grama alta que se curvava com a
brisa. Acima no alto, apontou para a meia distância, onde três jaquetas de
lã brilhantes amontoadas.
— Vovó, Marian e Florence são todas membros vitalícios do
Lancaster Garden Club, — disse ela. — Sanitários primeiro, depois o
espaço verde mais próximo.

Keenan grunhiu, então enfiou dois dedos na boca e deu um


assobio agudo. As senhoras e um border collie na encosta oposta se
animaram. — Partimos em dez minutos, — ele berrou.

Vovó acenou de volta com uma mão segurando um pequeno


buque de flores colhidas do campo.

— Ela vai querer identificar essas flores. O que você sabe sobre a
flora da Turquia? — Rose perguntou, os olhos ainda no grupo.

— Não sei nada, — disse Keenan. — E você?

— Eu mato cactos, — disse Rose.

Ele olhou para ela, incrédulo. — Você mata a única planta que não
precisa regar?

— Sim.

— Bem, merda, — disse Keenan.

***

O disco de ouro derretido tinha acabado de mergulhar abaixo do


horizonte quando Keenan entrou no trânsito em uma rodovia de duas
pistas e começou a se dirigir para o oeste. No banco de trás, vovó e suas
amigas examinavam as folhas e pétalas de várias flores que não
conseguiram identificar. O perfil de Keenan, iluminado pelas luzes do
painel do Land Rover, era afiado,seus olhos fixos na estrada, sua boca em
uma linha firme. As mangas estavam enroladas até aos cotovelos no
espaço, curvas precisas que Jack adotou depois de entrar para a
Marinha. O acampamento de treinamento e o BUD/S não o haviam
domesticado, mas sim uma estrutura para seu lado selvagem; a
possibilidade de caos fervilhava sob tudo o que ele fazia. Mas ela usaria
uma palavra diferente para descrever Keenan. Um guerreiro. Ao contrário
de Jack, Keenan não iria à procura de problemas, mas com certeza
administraria se o encontrasse.

A memória da noite anterior floresceu em suas veias. Tentou


conduzir as coisas, gerenciá-las, realmente. Ela gostava muito de
orgasmos, e queria desesperadamente outro, talvez até dois ou três, com
Keenan, que habitava seu corpo tão completamente que podia assumir o
controle dela também.

Não era tanto o lado físico quanto a obstinação mental. Ele não
desistiu. Desistentes não passaram pelo BUD/S. Se decidisse levá-la a um
lugar escuro e delicioso que um dia atrás ela não tinha ideia que queria
explorar, ele a levaria lá. De novo e de novo e de novo …

Ele lançou-lhe um rápido olhar. — O quê?


Rezando para que o interior escuro escondesse a onda aquecida de
cor em suas bochechas, ela pegou sua bolsa e puxou o novo itinerário de
Keenan. — Nada. A que distância estamos de Konya?

— Cerca de três horas, — disse ele. — O trânsito deve ser


relativamente leve a esta hora do dia.

— Bom, — disse ela, folheando o plano otimista original. — O


único local da lista é o museu Rumi, que funciona bem. É uma viagem
de sete horas de carro até Éfeso. Podemos parar em Isparta no caminho?

— Se deixarmos Konya por volta do meio-dia, com certeza.

— OK. Bom. Obrigada. — Ela fez uma anotação e puxou o mapa


para calcular a quilometragem do desvio.

— Você sempre se preocupa tanto?

— Eu não me preocupo, — ela disse, mordida. — Eu planejo. Então


faço um plano de contingência. Então executo o primeiro plano, a menos
que tenha que mudar para a contingência. Você não pode ter certeza de
que as coisas vão dar certo, a menos que preveja as maneiras como as
coisas podem dar errado.

Ele assentiu. — Entendido, — ele disse facilmente. — Mas você


também precisa saber quando desligar.

— Nunca desliguei, — disse ela. — Papai foi embora quando tinha


sete anos e Jack, quatro. Mamãe não seguiu um plano. Ela começaria um
novo emprego em um novo lugar com grandes expectativas para o futuro,
então abandonaria o emprego, e geralmente a cidade, ao primeiro sinal
de problema. Adquiri o hábito de planejar tudo o que pudesse acontecer
porque tudo poderia acontecer, e acontecia com frequência. Agora é meu
trabalho. As operações apóiam os profissionais de marketing, as pessoas
que ganham dinheiro para a empresa. Se não fizermos bem o nosso
trabalho, eles não o farão bem. Crescemos rápido, adquirindo empresas
em todo o mundo. Existem tantas redundâncias e ineficiências que
desperdiçam tempo e dinheiro. Isto é o que eu faço. As encontro e as
conserto.

Com os olhos fixos na estrada, ele dirigiu em silêncio por um


tempo. Ela construiu sua vida em torno de uma habilidade que
desenvolveu cedo na vida, e se tornou diretora sênior aos trinta em
virtude dessas habilidades. Se tudo corresse bem, ela seria vice-presidente
aos trinta e cinco. Francamente, isso funcionou para ela e não viu
nenhuma razão para mudar isso.

Mas Keenan não era seu chefe, ou um par. — Deve ter sido difícil,
— disse ele.

— É uma habilidade útil de se ter, — ela disse com um encolher de


ombros.

— Você se sentiria melhor se eu a mantivesse informada sobre


nosso progresso?

Disse isso tão seriamente que ela quase pensou que poderia estar
brincando com ela. Então ele virou a cabeça para olhar para ela, lançando
seu perfil em sombras e luz. Ou ele tinha a melhor cara de pôquer do
mundo ou estava falando sério. No final, não se importou se Keenan
Parker pensasse que era a vadia mais rígida do mundo.

— Eu agradeceria, sim, — ela disse.

Olhos de volta na estrada, sua bochecha franzida levemente. —


Estamos a exatamente duas horas e dezenove minutos do nosso hotel.

Provocando. Definitivamente brincando com ela. Ela descobriu que


não se importava nem um pouco.
CAPÍTULO QUATRO

Depois de se certificar de que Marian e Florence estavam


acomodadas em seu quarto, Rose fechou a porta e caminhou pelo
corredor até ao quarto que dividia com a vovó. Ela encontrou sua avó na
cama, seu cabelo macio e longo prateado solto sobre os ombros, seu
tablet ao lado dela e seu laptop em seu colo.

— O que você está fazendo? — Rose perguntou enquanto


vasculhava sua bolsa em busca de seu laptop. Por favor, Deus, permita que
o WiFi do hotel seja mais rápido do que o da Capadócia.

— Enviando as fotos que tirei hoje, — disse vovó


distraidamente. — Quero marcá-las à medida que vamos, ou esquecerei o
que vi.

Com o laptop na mão, Rose olhou por cima do ombro. Vovó não
era uma fotógrafa amadora ruim. O álbum foi rotulado como ‘Bucket List
Turquia’, e ela estava organizando as fotos por data e depois por local.

— Legal, — disse Rose enquanto Vovó folheava as fotos que tinha


tirado. Havia vários nas cavernas e dois de Marian desmontando um
tanque de banheiro. — Ela é tão útil.

— Ela trabalhava na garagem do pai antes de se casar com Tom, —


disse vovó.
— Não sabia disso, — disse Rose, surpresa. — Pergunte a ela sobre
isso alguma hora.

— Adoraria ter cópias delas.

— Vou fazer uma apresentação de slides e enviá-la para a nuvem…

— Não neste WiFi.

Uma mensagem de texto pingou no computador da


vovó. Florence, no final do corredor, com uma mensagem de texto
dizendo que eu estava certa! É um parente do não-me-esqueças!

— Vocês três são tão ruins quanto adolescentes, — disse Rose com
ternura.

— É muito divertido, — disse vovó.

— Vou descer ao bar para trabalhar um pouco. Não espere por


mim. E vá com calma nesse tempo de tela. A pesquisa mostra que a luz
impede o seu corpo de entrar no sono.

Assim que as palavras deixaram a boca de Rose, desejou poder


retirá-las. Vovó olhou para ela, uma familiar exasperação afetuosa em seu
olhos azuis centáurea.

— Rose. Querida. Vá para o bar. Vou dormir ou se não dormir esta


noite eu dormirei no carro amanhã.

— Desculpe, vovó, — disse ela, e saiu.


Hábitos forjados em um caldeirão de incertezas infantis são difíceis
de morrer, ela refletiu enquanto esperava no corredor que o elevador a
levasse ao saguão. A garotinha rotulada de mandona e sabe-tudo cresceu
e se tornou uma mulher responsável pelas operações de uma empresa
global de energia... que vivia com seu gato em sua cidade
natal. Sozinha. Exceto por Rufus, o gato. Até conhecer o homem certo,
que também queria uma cerca branca e um par de filhos, e uma casa
estável e vida familiar.

Alguém diferente de Keenan.

Satisfeita com aquele pouco de eficiência organizacional, entrou


no saguão do hotel já examinando o bar em busca de sinais do barman e
uma parede com uma tomada que ela pudesse conectar seu laptop. Mas
quando viu Keenan parado na recepção, ela parou bruscamente. Não era
a maneira relaxada e consciente com que conversava com o recepcionista,
em turco fluente, nada menos. Não era a maneira como seus ombros
esticavam a camisa, ou a visão de seus antebraços, polvilhados com
cabelos dourados, tão tentadores no Land Rover.

Era o livro que ele segurava na mão esquerda, os dedos enrolados


na borda, escondendo o título. Ela reconheceu o desenho da capa, preta
com uma faixa laranja, usada para edições modernas de livros clássicos,
mas seu cérebro arquivou aquele pequeno detalhe em favor de se lembrar
de como aqueles dedos apertaram seu cabelo, seguraram seus pulsos,
taparam sua boca enquanto ela chegava ao clímax.
Seu corpo despertou, as pequenas marcas ao longo de sua
mandíbula e as faixas ao redor de seus pulsos latejando de volta em sua
consciência. Ele não pareceu notá-la, então ela se permitiu olhar e sentir,
espalhando por seu corpo até às pontas dos dedos das mãos e dos pés,
até aos mamilos e clitóris.

Sem interromper a conversa ou olhar em sua direção, Keenan


ergueu a mão que segurava o livro e ergueu o dedo indicador, indicando
que ela deveria esperar por ele. Ele terminou a conversa com um sorriso,
um aceno de cabeça e um inshallah, depois cruzou o saguão, com as
juntas soltas e como uma pantera.

Controle-se, Rose. Ela ergueu o queixo. — Eu não achei que você


pudesse me ver, — ela disse quando ele estava bem na frente dela.

— Espelhos, — disse ele brevemente.

Rose olhou por cima do ombro e se viu refletida no espelho na


parede atrás da mesa. — Droga, — ela disse.

— Trabalho?

— Sim. The Bucket List Babes estão prontas para passar a


noite. Estão trocando mensagens de texto de seus quartos.

Ele riu, suave e genuinamente divertido, e estendeu a mão para


indicar que ela deveria acompanhar até ao bar. — Elas são um grupo
divertido.
— Aparentemente, a habilidade de Marian com banheiros vem de
trabalhar em uma garagem antes de se casar, — disse ela. — Não fazia
ideia. Vovó acabou de me contar.

Ele riu novamente quando eles se sentaram um em frente ao


outro. A sala estava escura, assentos íntimos dispostos em torno de
pequenas mesas. O barman aproximou-se da mesa.

— Um Efes, — disse Keenan, em seguida, olhou para Rose. —


Vinho tinto de novo?

— Não, — disse ela com fervor, concentrada em abrir o laptop e


observá-lo em busca de uma conexão wi-fi. — Eu terei o mesmo. E um
copo d'água. Obrigada.

O barman desapareceu, reaparecendo com garrafas de cerveja e


água na hora em que Rose se conectou ao WiFi. Ela se conectou por meio
do site seguro e se conectou ao seu e-mail.

— Oh, ótimo, — ela gemeu.

— O quê?

— Quinhentos e trinta e seis e-mails, todos baixando do servidor


seguro através do firewall, e então neste WiFi completamente
inadequado. Levará a noite toda apenas para receber o e-mail. — Ela
soltou a respiração de frustração. — Então, o que exatamente Jack disse
para te alertar para longe de mim?
— Nada específico. Ele nos mostrou fotos nada lisonjeiras de você
e fez você parecer uma mulher de carreira muito inteligente para namorar
um bando de perdedores como nós.

— Quem? Seus companheiros de equipe? — Ela sorriu. — Vocês


não são perdedores, mas ele não precisava fazer esse tipo de
trabalho. Não costumo ficar louca por causa de um uniforme. Estou no
mercado para um cara comum.

No segundo em que as palavras saíram de sua boca, ela desejou


poder retirá-las. Costumava ser direta, mas raramente rude. Mas dizer
algo banal como a exclusão da empresa atual era uma mentira. Ambos
sabiam o que era.

Ele sorriu de novo, preguiçoso e confiante. — Não fique tão


preocupada, Jetlag. Você não vai machucar meus sentimentos. SEALs são
tudo menos comuns. Somos namorados de merda, muito menos como
maridos. Nós estamos fora o tempo todo e, mesmo quando estamos em
casa, nossas mentes estão em outro lugar.

Ela apreciou sua honestidade.

— Há alguém?

— Não por muito tempo, — disse ele.

— Amigas?

— Depende de até onde você está disposta a esticar a palavra, —


disse ele.
— Nenhum dinheiro mudou de mãos?

Outra risada. — Isso é certo.

Ela poderia aprender a gostar disso. Ela olhou para a barra de


progresso para seu e-mail. Seis por cento feito.

— Lancaster parece bom, — disse Keenan finalmente.

— Mesmo? — ela disse, incrédula. — Jack sempre odiou. Ele mal


podia esperar para se alistar. Mas é uma bela cidade pequena, com partes
boas e partes ruins. Vovó mora em um bairro muito legal, casas antigas de
tijolos e grandes jardins. O East Side está uma bagunça. A escola que
frequentamos era entre ambos os bairros.

— Jack sempre fez soar fantasioso. Cercas brancas e o Garden


Club.

Ela bufou. — Parece exatamente o tipo de lugar que um SEAL da


Marinha em serviço ativo evitaria. — Os olhos de Keenan se arregalaram
um pouco, então bufou enquanto ela batia no nariz.

— Eu conheço meu irmão. Ele estava no colégio quando eu estava


na faculdade, e sabia que se eu fosse embora, ele ficaria completamente
louco. Por um tempo, ele enganou a vovó a fazendo pensar que ele era o
presidente do grupo de jovens da igreja e considerando seriamente o
ministério, que era, pelo que eu poderia dizer, um disfarce para seduzir a
filha do pastor.
A risada totalmente involuntária de Keenan permaneceu como um
sorriso em sua boca fina. — Nunca ouvi essa história.

— Ele sempre teve uma queda pelo tipo doce e sério. De qualquer
forma, eu fiquei, fiz um estágio na Field Energy e entrei em seu programa
de treinamento de gestão depois de me formar.

— Muito impressionante, — disse ele.

Ela encolheu os ombros e então assumiu o próprio risco.

— E você? Você e Jack deixaram as equipes na mesma época.

Ele encolheu os ombros. — O plano era que nós dois


trabalhássemos para Gray Wolfe. Ele mudou de ideia. Eu não.

— Onde fica sua casa?

— Um apartamento em Galata, — disse ele, depois esclareceu, —


um bairro em Istambul.

— Eu quis dizer, onde é sua casa de verdade?

Desta vez, ele nem deu de ombros.

— Essa é a casa, Jetlag. Papai era um Ranger do Exército. Cresci


em bases, me juntei assim que pude.

— Mas... a Marinha?

— O programa SEAL é mais difícil de completar do que o programa


Ranger. Eu não estou batendo neles. Estou apenas afirmando um fato.
Seus olhos se arregalaram levemente. — E você ia se sair melhor
do que seu pai?

— Sim, senhora.

— O que ele esta fazendo agora?

— Seis pés abaixo em um cemitério perto de Fort Hood. Ele era KIA
logo depois que me formei no BUD/S. Estava ficando um pouco velho para
missões na ativa, mas achava que tinha mais uma nele. Seu sonho de vida
era morrer com seus amigos. — Ele encolheu os ombros. — Acho que ele
fez isso.

— Sinto muito, — disse Rose. — E quanto à sua mãe? Você está


perto dela?

— Ela fugiu quando eu tinha sete anos. — Ele olhou para ela. —
Parece pior do que foi. Facilitou minha vida. Me deu foco.

— Por que você deixou a Marinha?

Ele não respondeu por um longo tempo, deu um grande show


checando o GPS. Ela não mudou de assunto, no entanto. A experiência
com Jack a ensinou a esperá-lo.

— Você sabe a última missão em que ambos estivemos?

— Aquele que abalou tanto Jack?


— É essa mesmo. Eu vi nosso amigo sangrar diante de nossos
olhos. Ambos vimos. Isso abalou muito Jack. Eu... tudo que conseguia
pensar era que não queria morrer como meu pai.

Ele claramente não queria falar sobre isso. As janelas foram


abertas para o final da noite de primavera, a brisa fresca acariciando a
bochecha de Rose um lembrete constante de como sua pele estava
corada. Ela deveria estar gelada, mas seu sangue parecia bater na
superfície de sua pele, selvagem e exigente. O olhar de Keenan se aguçou,
então se suavizou no aquecido e intenso olhar de um gato selvagem.

Rose pigarreou. — O que você está lendo?

Ele entregou o livro para ela, os dedos roçando os dela, seu joelho
pressionando contra o dela e não se movendo quando ele se sentou. O
simples contato, aquecido através de duas camadas de roupa, sutilmente
a lembrou de que ele sabia algo sobre ela, algo que não sabia que queria
ou gostava. Ela podia, percebeu, confiar nele porque não tinha sido
explicitamente todo fodão macho alfa com ela. Se ele viesse para ela,
dissesse Você sabe que gostou, baby, eu tenho o que você precisa bem
aqui, ela não teria pensado duas vezes nele.

O que o tornava muito mais perigoso.

A coisa certa a fazer era devolver o livro a ele e voltar para o andar
de cima para realmente trabalhar. Essa foi a coisa prática, prática e
sensata a fazer. Em vez disso, ela virou o livro para ver o título.
— A Ilíada, — disse ela. — Preparação para esta viagem? — Eles
estavam visitando Tróia depois de Éfeso, mas mesmo enquanto ela
folheava a contracapa e folheava o livro, sabia que ele carregava aquilo
por muito mais tempo do que nas últimas semanas. Os cantos da capa e
das páginas estavam embotados, empoeirados e manchados com o que
parecia ser café. Cheirava aos pertences de Jack quando ele voltou para
casa, uma combinação distinta de suor, sujeira e esforço sobre-humano.

Ele balançou sua cabeça. — Você conhece a história?

— Eu tenho um diploma em administração, — disse ela. — Aprendi


história da arte para satisfazer meus requisitos de humanidades, então
prontamente substituí tudo o que aprendi pela teoria organizacional. Eu
vi Tróia, no entanto. E 300.

— Essa é a Grécia, — disse ele. — Esparta, para ser exato. A


Ilíada é a história definitiva da guerra. Quando entrei para as equipes, li
para a glória.

— E agora? — ela perguntou, observando-o de perto.

Houve um breve silêncio durante o qual ele formulou sua


resposta. — Agora leio de forma diferente.

Sua resposta despertou sua curiosidade sobre o livro e sobre


ele. — Trouxe meu e-reader, — disse ela.

— Pena que você não pode trabalhar com isso, — ele brincou.
— Se eu achasse que poderia improvisar, eu o faria, — disse ela. —
Mas vou baixar o livro e ler.

— Você não precisa fazer isso, — disse ele.

— Eu quero, — disse ela, surpreendendo os dois. — Estamos


visitando o local. Li os poemas de Rumi na preparação.

— Todos eles?

— Eu li alguns deles, — disse ela. — Um pouco. Esse vovó me


enviou. Mas gostaria de ler A Ilíada.

Ela ofereceu-lhe o exemplar, mas ele ergueu a mão. — Fique.

— Obrigada, — disse ela, alisando a mão sobre a capa. — Vou


cuidar bem disso.

— Não se preocupe com isso, Jetlag. Já passou por mais missões


do que posso contar.

Com cuidado, ela o colocou ao lado de seu laptop, longe das


garrafas de cerveja suadas, então verificou o processo de download do e-
mail. Trinta e dois por cento completo. — Isso é uma completa perda de
tempo, não é?

Ela meio que esperava que ele repetisse sua fala da noite anterior,
que pudesse tirar sua mente disso. Ele não fez isso. Em vez disso, ele a
observou por um longo momento, até que ela desviou o olhar.

— Você está com medo, — disse ele.


— Não, não estou, — disse ela rapidamente. Admitir medo era o
mesmo que ser a gazela mais lenta do rebanho. — Eu estou... em um
terreno completamente novo. Sem mapa. Nenhum plano de projeto, —
ela disse calmamente. — Esse tipo de... perda de controle... não gosto
disso.

Ele relaxou, sinais que ela só conseguia ler porque os estava


observando. Ela estava estudando o corpo de Keenan com o foco que
normalmente reservava para as coisas realmente importantes. Reuniões
do comitê de gestão. Negociações com fornecedores. Esse tipo de coisas.

— Portanto, não se trata de ameaça de violência. É sobre a perda


de controle.

— Sempre, — ela disse. — Sempre.

Ele pensou sobre isso por um momento. — Se ajudar, não é tanto


uma perda quanto uma rendição.

Ela riu. — Qual é a diferença?

— Quando você perde o controle, é tirado de você. Quando você


se entrega, você está entregando. Ainda é seu, de certa forma. — Quando
ela balançou a cabeça, ele continuou. — O BUD/S parece uma perda de
controle. Os instrutores têm controle total sobre seu corpo e mente, e
batem em você de todas as maneiras possíveis. Mas na verdade é uma
rendição. Dei tudo a eles, sabendo que no final do curso, eu o receberia de
volta, mais afiado, mais forte, afiado como uma lâmina.
Suas sobrancelhas estavam perto da linha do cabelo. Ela os
manteve sob controle, mas não havia nada que ela pudesse fazer sobre
seu coração, alternadamente pulando em seu peito e batendo uma lenta
batida de desejo.

— Eu não sabia que poderia querer assim, — disse ela.

— Você pode saber melhor, — disse ele.

O joelho dele ainda estava apoiado no dela, a mão apoiada nos


braços da cadeira, os dedos relaxados. Mas não havia como negar a
demanda masculina fortemente controlada fervendo sob a superfície de
sua pele.

Ela olhou para o laptop. Quarenta e dois por cento. Isso era um
fato, o lugar onde ela se sentia segura. Durante uma conversa, ela
baixou quarenta e dois por cento de seu e-mail, e esses e-mails conteriam
situações que ela poderia controlar, emoções que ela poderia controlar.

Não havia nada real ou controlável sobre a maneira como ela se


sentia com Keenan. A situação toda, o bar, o ar noturno, a linguagem e o
terreno desconhecidos também não eram fantasia. Era mais real do que
fato ou fantasia, fervendo profundamente em seu núcleo, intensificando
seus sentidos. Iluminando-a.

Sua mão estava firme quando estendeu a mão e fechou seu


laptop, cortando a conexão com sua vida, a meio mundo de distância. Ela
empilhou a Ilíada ordenadamente em cima do laptop. Keenan sustentou
seu olhar enquanto estendia a mão. Intrigada, ela entregou o laptop e o
livro, o gesto estranhamente fora do lugar, um cavalheiro se oferecendo
para carregar seus livros, mas concordou. No elevador, ele estendeu a
mão livre e acariciou o braço dela até a mão dela, entrelaçando os dedos
nos dela. Mais uma vez, gentil, o movimento acompanhado por um passo
lento no corredor. Ele largou a mão dela para deslizar o cartão-chave pela
porta e abri-la para ela.

Tudo estava completamente fora do normal, até que a porta se


fechou com um baque ao mesmo tempo que os dedos de Keenan se
fecharam em torno de seu pulso, músculos e ossos que eram, para todos
os fins práticos, tão fortes quanto aço quando interrompeu seu progresso
no quarto.

Então ele puxou, fazendo com que ela tropeçasse de volta para
ele. Em algum lugar no fundo de sua mente, ela sabia que ele estava
usando uma fração de sua força, mas tudo que seu corpo animal conhecia
era o raio de luxúria louca e quente que a atravessou quando se deparou
com seu corpo rígido.

O impacto nem mesmo o balançou sobre os calcanhares. Ela olhou


para o rosto dele, viu a linha fina de seus lábios em sua barba, o verniz de
calma sobre seus olhos totalmente em desacordo com seu pênis duro,
atualmente pressionado contra seu quadril.

Usando seu corpo, a manobrou para a cama. A fricção incompleta


de seu corpo contra ela acendeu faíscas enquanto se movia, até que sua
respiração estava irregular, superficial. Então puxou seu pulso entre seu
torso e ao redor, girando-a para que ela ficasse de frente para a cama. Ela
teve tempo de respirar assustada antes que ele a guiasse para baixo para
o colchão, seus braços entrelaçados presos em sua cintura parcialmente
amortecendo sua queda, então usou alguma combinação de mãos e
quadris e pernas até que ela estivesse deitada de bruços, as pernas dele
entre as dela, o peso de seu torso pressionando-a contra a cama.

Ela virou o rosto para o lado, observou a mão dele estender a mão
vagarosamente e colocar o laptop e o livro na mesinha de cabeceira,
bloqueando a tela vermelha do relógio. Ele tinha feito tudo isso enquanto
segurava o laptop dela e a Ilíada. Oh meu Deus, sim.

Com a mão livre, agarrou o cabelo dela e puxou-o para o lado, em


seguida, inclinou a cabeça para a frente, expondo sua nuca para ele. Por
longos minutos usou sua boca nos nervos sensíveis, começando com a
respiração e os lábios, então adicionando a língua e os dentes quando ela
amoleceu e aqueceu sob ele. Sensações de prazer escorreram ao longo de
seus nervos, o calor e a pressão de seu pênis contra sua bunda uma
presença constante em comparação com as texturas alternadas de lábios
macios, barba eriçada e a mordida ocasional de dentes.

No momento em que ele terminou, ela estava flexível sob ele, seu
corpo quente e solto em torno de uma espiral apertada de necessidade
em seu estômago. — Vamos ver se você gosta do jogo tanto quanto eu, —
ele sussurrou.
Com uma mão, ele desabotoou o cinto e o botão, em seguida,
enrolou os dedos em sua cintura e calcinha, depois, puxou sua calça jeans,
calcinha e sapatos e os jogou no chão. Ele puxou a blusa dela para expor a
maior parte de sua barriga. Deveria parecer estranho, descoberta da
cintura para baixo, espalhada para ele. Deveria ter parecido estranho,
quando Keenan, ainda completamente vestido e com total controle de seu
corpo, se inclinou para dar um beijo em sua barriga, logo abaixo de seu
umbigo.

Seu primeiro pensamento foi que era surpreendentemente


flexível. As saliências de sua coluna se esticaram contra sua camisa
enquanto ele lentamente beijava uma linha até ao tapete macio de cabelo
que cobria seu sexo. Então ele fez uma pausa, seu hálito quente tão perto
da carne sensibilizada que ela sabia que estava escorregadia e pronta para
ele. Ele esperou, a carícia quente de sua respiração irritantemente perto
de seu clitóris, até que seu corpo, tenso de desejo, se ergueu em direção a
ele em um movimento suplicante.

Ele se moveu para baixo, usando os ombros para mantê-la aberta


para ele. Ela não podia olhar, não podia suportar a intimidade de sua boca
entre suas pernas. A escuridão intensificou seus outros sentidos. Suor e o
cheiro de seu almíscar. O silêncio do hotel. Ela até pensou que podia sentir
o gosto do calor fervendo logo abaixo do ponto de fervura enquanto
ansiava pelo toque de sua língua em seu clitóris.
Quando veio, o golpe confiante foi um contraste suave e elétrico
com o aperto feroz e contundente em torno de seus pulsos. Ela se
arqueou com o toque, murmurando sim, sim, sim enquanto lutava e se
contorcia. Ele ignorou tanto seu pedido quanto sua luta, acariciando seu
clitóris com a língua em círculos que se apertavam ou alargavam de
acordo com algum ritmo que ela não conseguia acompanhar. Com
uma expiração suave e profunda, ela se rendeu, abrindo bem as pernas e
entregando-se ao ritmo dele.

Seu gemido, profundo e áspero no peito, formou redemoinhos


sobre sua pele para infiltrar-se em seus nervos. Ele estava tão envolvido
nisso quanto ela, preparado no fio da navalha para ela se render. Mas
absolutamente nada mudou. Ele continuou a descer sobre ela com o
mesmo impulso implacável até que todos os músculos de seu corpo
estavam tensos, apertados com a necessidade de liberação.

Ele a entregou com uma chupada generosa e chocante em seu


clitóris. Sua liberação pulsou através dela, uma explosão estelar após a
outra, parando o ar em seus pulmões até que pontos dançassem na
escuridão diante de seus olhos.

Quando ela voltou à superfície, ouviu o som de um pano


contra a pele áspera pelo cabelo. Ela abriu os olhos para encontrá-lo
ajoelhado nu entre suas pernas, estudando seu corpo enquanto se
embainhava. Essa visão era tão chocantemente erótica que ela teve que
fechar os olhos novamente, então sentiu, mas não o viu se mover mais
para baixo, alinhar seu pênis com sua abertura sensível e trêmula e
deslizar para dentro.

O alongamento convincente, não menos poderoso depois de uma


noite, apertou todos os músculos até aos ossos com um fio de ouro fino,
até que ela foi puxada firmemente ao redor dele, por dentro e por
fora. Ele não perguntou se ela ainda estava com ele. Ela era sua para
reivindicar, então ele tomou seu corpo conquistado porque ela o entregou
a ele. Tremendo, incapaz de processar o que estava acontecendo, ela
pressionou a testa em seu ombro e olhou entre seus corpos.

Grande erro. Ele puxou para fora e fez uma pausa, seu pênis grosso
e corado e brilhando com seus sucos, aumentando sua consciência do
delicioso alongamento enquanto ele deslizava de volta para dentro. O
fogo ondulou pelas terminações nervosas, redando em seus mamilos, a
pele sensibilizada de sua garganta, fazendo seus lábios formigarem. Ela
sentiu como se seu cabelo estivesse em pé, umedecida pelo suor e
grudada em suas bochechas e ombros.

Seu ritmo era tão lento, e ela percebeu que ele estava totalmente
imerso em como seu corpo se agarrava ao dele, quente, apertado e
úmido. Mas ele não era como outros homens que entravam nela depois
que ela gozou, usando seu corpo para gozar. Keenan estava totalmente
imerso em como seu corpo o fazia se sentir, e era a coisa mais quente que
ela já tinha visto.
Os músculos de seu pescoço tremiam. Sua cabeça caiu de volta no
travesseiro. Ele estava assistindo ela vê-lo transar com ela. Quando seus
olhos se encontraram, seu pênis pulsou dentro dela, forçando-o a
desacelerar, então parar totalmente para fechar os olhos e respirar.

— Você está pegando o que quer de mim? — ela sussurrou.

Outra pulsação dentro dela. Ele estava bem no limite, lutando


contra isso. — Sim, — ele vociferou, esfregando a testa contra o ombro
dela. — Porra. Sim.

Ela esperou até que ele erguesse a cabeça e olhasse para ela. O
suor escorria de sua têmpora até ao queixo. Ela ergueu os dedos e juntou
a umidade nas pontas, em seguida, levou-os aos lábios. A língua dele
estalou para fora, e ela rapidamente ergueu a cabeça, tocando a ponta de
sua língua na dele, em seguida, lambendo o suor de sua boca.

— Porra. Rose. Porra.

Por um longo e quente momento, suas línguas se misturaram, se


chocaram. Ele estava tremendo enquanto o desejo de empurrar guerreava
com o desejo de se conter.

— Por favor, — ela sussurrou. — Keenan. Por favor.

Ele fechou a mão em seu cabelo. Boca pairando sobre a dela para
que cada respiração e contato visual fizessem seus lábios formigarem, ele
entrou nela. Cada golpe atingiu seu clitóris com tanta força que ela se
arqueou e gritou. Então se enterrou dentro dela. A pressão cortante
desencadeou outra onda de choque que a enviou em uma longa queda no
vazio.
CAPÍTULO CINCO

Jack teria que entrar na fila para matá-lo. Rose ia causar-lhe um


ataque cardíaco.

Keenan sabia que deveria se recompor. Rolar para o lado. Mas


seus músculos estavam frouxos e trêmulos, suas juntas tão frouxas que se
tornavam inúteis. Tudo o que conseguia no momento era mudar seu peso
parcialmente para os cotovelos e esperar que sua frequência cardíaca
saísse da zona vermelha.

As coxas de Rose tremeram contra seus quadris, então


relaxaram. — OK? — ele perguntou.

Ela fez um zumbido suave que não pareceu sinalizar angústia


imediata, então ficou onde estava. Dentro dela. A conexão ainda vibrava
entre eles, e ele estava relutante em esticá-la, muito menos cortá-
la. Conexões não deveriam acontecer. Prazer, sim. Divertido,
absolutamente. Mas as conexões não estavam no manual, especialmente
uma conexão com o não-realmente-um-estúpido-manipulador Jack. A
conversa abriu portas que não queria abrir, memórias de dias na floresta,
horas gastas tentando descobrir o que precisava fazer para ganhar a
aprovação de seu pai. As ondas de adrenalina e testosterona estavam
cheias de emoção, tão perigosas quanto um terreno desconhecido. Ele
limpou o rosto com os ombros, manteve o olhar fixo no lençol enrugado
sob o ombro nu de Rose, tentando se controlar.

Ele estava amolecendo o suficiente para tornar a situação do


preservativo perigoso. Beliscou a ponta e puxou, por um breve momento
lamentando a necessidade de um. Mas isso era pura loucura. Sem
preservativo significava testes de sangue e compromissos, e os
compromissos eram um salto no desfiladeiro do passado e conexões que
não se estenderia a outro lado do mundo. Ele forçou seus membros a
começarem a funcionar e foi para o banheiro, onde lidou com os aspectos
práticos, e passou uma toalha molhada para Rose.

— Obrigada, — ela disse quando ele saiu.

Ele vestiu o short e a calça cargo enquanto ela se limpava e se


vestia. Ela pegou seu exemplar de A Ilíada, o exemplar que carregava
desde o momento em que terminou o BUD/S. A cópia anterior havia se
rasgado durante seu primeiro alistamento, e agora estava em uma caixa
em uma unidade de armazenamento que ele mantinha em Virginia
Beach. — Você tem certeza de que não se importa se eu pegar isso
emprestado?

— Pegue, — disse ele.

— Você não precisa dormir?

Ele sorriu para ela. — Não. Posso adormecer em qualquer lugar, a


qualquer hora.
— Obrigada, — disse ela. — Vejo você pela manhã.

Ele quase pediu que ela ficasse. Quase. Mas se sua avó acordasse e
encontrasse a cama de Rose vazia, ela se preocuparia. Ou não. Vovó
parecia muito esperta, mesmo que todos estivessem fingindo ser cegos
como morcegos.

A porta se fechou atrás dela, deixando Keenan em uma sala


cheirando levemente com o cheiro único da pele aquecida de Rose, e o
desconcertante conhecimento de que o leve estalo da trava não havia
cortado a conexão em tudo.

***

A manhã seguinte amanheceu cinza e tempestuosa, rajadas de


ventos seco batendo nas grandes janelas da sala de jantar do hotel. A essa
altura, as Bucket List Babes sabiam o que fazer, tendo deixado suas
grandes malas do lado de fora de suas portas para que os funcionários do
hotel as recolhessem e carregassem no Land Rover. Ignorando os ovos e
salsichas que a cozinha fazia para os turistas, Keenan encheu um prato
com comida turca para o café da manhã e se sentou ao lado de Marian.

— Bom dia, — disse ele.

— Bom dia, — todas responderam em coro.


Vovó estava com o iPad aberto sobre a mesa, digitando e
folheando um site de botânica e os poemas de Rumi enquanto Florence e
Marian espiavam por cima dela de ambos os lados.

Keenan olhou para o relógio, então ao redor da sala. — Onde está


Rose?

— Dormindo, — disse vovó. — Quando saí, ela estava se vestindo.

— Ela precisa dormir, — disse Marian.

— Não acho que ela dormiu no vôo. Ela comprou WiFi no


avião. Quando adormeci, estava em seu laptop e quando acordei, ela
ainda estava em seu laptop!

— Ela é o membro mais jovem da equipe de gestão da Field


Energy, — disse vovó com firmeza. — Tem muita responsabilidade.

— Ela sempre teve muitas responsabilidades, — disse Florence. —


Correndo não a ajudará a lidar com isso.

— Ela sempre foi capaz de lidar com isso, — disse vovó. — Olha, aí
está ela.

Todos olharam para cima quando Rose entrou na sala de


jantar. Por cinco segundos Keenan se permitiu apreciar a maneira como
ela se movia. Usava suas leggings e botas básicas, com uma camisa
cremosa decorada com flores no decote e outro cardigã de malha, este
em um tom de marrom que realçava seu cabelo.
Ela os viu olhando para ela, levantou a mão e deu um pequeno
aceno. — Bom dia, — ela disse enquanto colocava sua bolsa de ombro em
uma cadeira vazia. — Posso pegar alguma coisa do buffet para alguém?

As Babes mudaram para Rumi e balançaram a cabeça. — Vou


pegar um café, — disse Keenan.

Ela ergueu uma sobrancelha para o prato cheio, lembrando-se de


seus músculos nitidamente delineados. — Deve ser muito bom.

— Fui correr esta manhã, — respondeu ele.

— Eu nem consigo, — disse ela.

Ele pegou café para ela enquanto ela servia uma tigela de sopa de
lentilha tradicional, borrifou limão e acrescentou um lado de tâmaras e
doces. — Obrigada, — disse ela quando se sentou e viu o café esperando
por ela.

— Então, Konya.

— A casa de Rumi e o local de nascimento do Sufismo, — disse


Keenan. — Devemos ir ao museu quando ele abrir. Quanto mais tarde
ficar, mais lotado ficará.

— Será que temos um guia conosco?

— Não aqui, — disse Keenan. — De acordo com minha pesquisa, o


museu é bem organizado. Eu posso cuidar da arquitetura.

— Quanto tempo nós temos?


— São sete horas para Éfeso, — disse Keenan. — Eu gostaria de
estar na estrada no início da tarde.

Rose delicadamente tomou um gole de sua sopa, então olhou para


sua avó. — Não quero apressá-la. Rumi é sua poetisa favorita. Esta parada
em particular significa muito para ela.

— Entendido, — disse ele.

— Você viu o museu?

— Não, — disse ele. — Estou morando fora de Istambul há alguns


meses, mas não fiz muitos passeios turísticos.

— Estou feliz por você ter vindo, — ela disse. — Parece uma pena
viver tão perto de tanta história e não visitá-la.

Ele terminou sua boca de su böreği. — Conheci Istambul muito


bem, — disse ele. — Há muita história lá.

Ela engoliu o último gole de sopa. — Realmente preciso conseguir


a receita dessa sopa, — disse ela. — Mas você não foi a Tróia?

— Não.

— Fica a apenas algumas horas de Istambul, — disse ela, seu tom


tornando a declaração interrogativa.

O antigo local de Tróia era perto o suficiente para uma viagem de


um dia, tão perto quanto seus medos. — Já li A Ilíada tantas vezes que não
tenho certeza se quero substituir isso pela realidade de uma escavação
arqueológica, — admitiu.

Seu olhar se aguçou. Por um momento, pensou que ela iria


reclamar de suas besteiras, mas em vez disso ela disse: — Vovó realmente
quer ir para Tróia. Isso será um problema? Porque posso contratar outro
motorista ou guia.

— Não, — disse ele com firmeza. — Estou bem.

— Comecei o livro ontem à noite, — disse ela. — Foi por isso que
cheguei tarde.

Sua sobrancelha subiu apenas um ou dois milímetros.

Ela puxou o livro da bolsa de ombro e mostrou a ele a folha de


papel de carta do hotel que estava usando como marcador. — 'Agora é a
hora de matar! Mais tarde, à vontade, tire os cadáveres para cima e para
baixo na planície!' Eu assisti Jack jogar Call of Duty, mas isso é algo
totalmente diferente.

— É pessoal, — disse ele. — É intensamente pessoal. Começa com


uma mulher e termina com um melhor amigo.

— Não consegui parar, — ela disse calmamente.

Ele não tinha certeza do que fazer com a expressão nos olhos
dela. A única coisa que sabia com certeza era que, com base nas sombras
sob eles, ela adormeceria no Land Rover, provavelmente a dez minutos de
Konya.
— Preparada? — disse ele olhando para o relógio. As Babes já
estavam fazendo as malas.

Rose bebeu o resto de seu café. — Vamos.

O GPS os conduziu direto ao museu, onde alguns carros e ônibus


de turismo menores estavam enfileirados no estacionamento. O vento
atingiu a porta de Rose quando a abriu, balançando o Land Rover. Keenan
ajudou as Babes do banco de trás, então fechou e trancou o carro. Eles
pararam no meio do estacionamento para se recostar e olhar para a torre
turquesa brilhante contra o céu cinza escuro e os blocos talhados que
formavam o paredes. Uma mesquita menor empoleirava-se
delicadamente entre as cúpulas do edifício principal. Árvores duradouras
resistiam ao vento do deserto.

Vovó olhou por cima do ombro para Rose, então apontou para
cima. O vento carregou suas palavras, mas sua linguagem corporal e seu
sorriso animado soaram alto e claro.

— Estou tão feliz por estar aqui para ver isso, — disse Rose. Seu
elástico não conseguia manter seu cabelo confinado, e fios dele voaram
por sua bochecha e grudaram em sua boca. Ela puxou-os para fora, então
deu a Keenan um sorriso doce. — Tão feliz.

— Eu também. É melhor alcançá-las.

Eles passaram pelo portão principal e entraram no complexo


murado. Usando a pesquisa que ele reuniu antes de dirigir para Ancara,
deu uma rápida palestra sobre a história e a arquitetura do prédio. Ele
olhou para o relógio. — Duas horas serão suficientes?

Vovó apontou para a loja de presentes. — Vamos nos encontrar lá


em noventa minutos, — disse ela. — Se precisarmos de mais tempo,
decidiremos.

Keenan ajustou o cronômetro em seu relógio, e o grupo se


separou. Rose caminhou pelo pátio pavimentado de mármore ao lado de
sua avó até a entrada do museu, um arco colocado na madeira escura
ornamentada que decorava o piso principal do mausoléu e o telhado
projetando-se sobre a entrada. Uma pequena multidão circulava
enquanto cobria seus sapatos com botas cirúrgicas azuis convenientes
para proteger os tapetes finos do interior e mostrar respeito pelo local de
descanso final do poeta. Rose puxou as botas por cima das suas, em
seguida, lançou um sorriso a Keenan enquanto Vovó usava seu ombro
para se equilibrar para cobrir seus tênis Converse. Elas desapareceram na
multidão. Keenan as seguiu a uma distância discreta para dar-lhes
privacidade, mas também ficar de olho nelas.

Para Jack. Ele disse a si mesmo que estava fazendo isso porque
Jack pediu, não porque ele não conseguia parar de observar Rose. Seu
cabelo estava descoberto. Algumas mulheres turcas usavam
o hijab; Cobrir o cabelo ou não era um tema quente entre as mulheres na
Turquia, com as mulheres modernas frequentemente optando por não
cobrir o cabelo na vida diária, enquanto os muçulmanos mais fervorosos e
mulheres mais velhas optavam por usar o hijab.

Mas mesmo se Rose tivesse coberto seu cabelo, mesmo que seu
cabelo não tivesse um tom distinto de castanho avermelhado, ele saberia
onde ela estava por alguma bússola interior que estava lentamente se
realinhando para ela como o verdadeiro norte.

O interior ornamentado do mausoléu continha sarcófagos para


Rumi e sua família imediata, com Rumi descansando sob a cúpula verde. A
sala ainda não estava muito cheia. Ele ainda não se sentia à vontade em
espaços apertados cheios de gente, mas ficou atrás de Rose e as Babes
enquanto elas examinavam o conteúdo das caixas de vidro, roupas
atribuídas a Rumi ou sua família, mechas de cabelo e Alcorões lindamente
iluminados. Quando elas estavam na última pequena sala, ele voltou para
fora e ficou perto da fonte no pátio para esperar por elas, observando os
peregrinos inclinarem-se sobre a cerca baixa pintada de branco para
encher garrafas da fonte ou lavar as mãos e os pés em uma das pontas
que se estendem de blocos de mármore em intervalos regulares na cerca
de ferro forjado.

As Babes e a gerente de Rotas das Babes emergiram do


museu. Houve um breve momento de conferência enquanto elas tiravam
as botas, então elas se separaram, indo em direções diferentes, Florence e
Marian em direção à loja de presentes, provavelmente em busca de chá e
lembranças, vovó cobrindo a cabeça enquanto entrava no uma pequena
mesquita na extremidade do pátio, e Rose estudando os peregrinos e a
arquitetura do pátio.

— O que você acha? — ele perguntou.

Ela parou por um segundo, os braços cruzados sobre o torso


enquanto olhava ao redor. — Isso vai soar muito estúpido, mas é tão
estranho. A arquitetura, a escrita, a linguagem, a cultura. Cada sentido é
bombardeado com algo novo. A comida tem um tempero diferente, o ar
não cheira a Lancaster ou a um prédio de escritórios. Música diferente,
idioma diferente, buzinas diferentes, — acrescentou ela quando alguém
buzinou no estacionamento. — As sirenes são diferentes das sirenes de
emergência em casa. As chamadas para a oração. Olhe para isso, — disse
ela, caminhando em direção às pequenas salas que revestiam a quarta
parede do pátio. Ela olhou para dentro, observando cada elemento das
pequenas salas onde um Dervixe Sufista4 teria estudado e treinado para
sua vocação. — Tapetes, móveis, quadros. Eles são como nada que eu já vi
antes. Eu quero tocar em tudo, simplesmente porque não me sinto como
em minha mesa, ou meu controle, ou em minhas roupas.

Com lábios separados, ela arrastou os dedos sobre os blocos


talhados que compunham as paredes do pátio, e por uma fração de
segundo ele se perguntou se ela queria tocá-lo assim - suave, exploratório,
lento e curioso, e tão focado que nada mais existia.

4
Um dervixe é um praticante aderente ao islamismo sufista, que segue o caminho ascético da "Tariqah",
conhecidos pela sua extrema pobreza e austeridade. Neste aspecto, os dervixes são similares às ordens
mendicantes dos monges cristãos e dos sadhus hindus, budistas e jainistas.
— Minha casa parece muito distante agora, — ela concluiu. — Isso
é o que eu acho.

Ele deu uma risada baixa, então deu as costas para a parede e
esperou enquanto ela olhava mais de perto.

— O que você acha? — ela perguntou.

— Não é tão estranho para mim, — disse ele. — Passei anos no


Afeganistão e no Iraque.

— Você se sente em casa agora? — ela perguntou, genuína


curiosidade em sua voz.

Mentalmente, ele parou. sim. Não. Ele poderia sobreviver


na maioria dos lugares com nada além de suas mãos e com o
equipamento certo, em qualquer lugar da Terra. Mas onde morava, onde
chamava de lar, era uma coisa completamente diferente. — Só estou aqui
há alguns meses, — ele se esquivou.

Ela fez aquele zumbido evasivo de novo, depois olhou para o


relógio. — Você tem tempo, — disse ele.

— Como está a loja de presentes?

— Lotada, — disse Marian a alguns passos de distância. — Quase


não há espaço para se mover e apenas um funcionário trabalhando.

Ela e Florence abriram as sacolas para mostrar a Rose seus


souvenirs. — Vamos tomar um chá, — disse Florence. — Quer se juntar a
nós?
— Eu ia conseguir uma cópia dos poemas de Rumi, mas acho que
darei uma olhada na mesquita em vez disso, — disse Rose.

Vovó estava saindo quando ela entrou. Rose fez uma pausa para
mostrar a vovó a direção de Florence e Marian, então sacudiu um lenço
brilhante para cobrir seu cabelo e entrou. Keenan recusou a oferta de chá
e mudou de posição para que pudesse ficar de olho nas Babes tomando
chá do lado de fora da loja de presentes. Ele tinha que dar crédito às
senhoras mais velhas. O vento soprava forte o suficiente para fazer as
cadeiras deslizarem ao longo das grandes lajes de granito que
pavimentavam a casa de chá, mas elas apenas se sentaram em suas bolsas
e pacotes, fecharam os zíperes e beberam o chá.

Quando a loja de presentes se esvaziou momentaneamente, ele


entrou, foi direto para os livros e pegou uma antologia da tradução de
Coleman Barks dos poemas de Rumi, alguns marcadores de página e um
ímã. Ele pagou e estava agachado na cadeira de Florence quando Rose
saiu do pátio.

— Faltam três minutos, — disse ela, olhando para o relógio.

Ele sentiu sua bochecha enrugar com um sorriso. Eles voltaram


para o Land Rover através da multidão que se dirigia para a entrada, as
Babes amontoadas na frente deles. Rose caiu ao lado dele, e entregou a
ela o saco de papel pardo da loja de presentes.

— O que é isso? — ela perguntou, enquanto abria a bolsa, então,


— Oh! Obrigada.
— De nada, — disse ele. — Alguém tem que usar o banheiro antes
de sairmos?

O consenso geral foi não. Ele se preparou mentalmente para parar


em cada parada de descanso e pousada entre Konya e Éfeso.

***

Como a maioria dos grupos ou equipes, o Bucket List Babes tinha


uma rotina: refazer o local, discutir a vegetação, então um silêncio
realmente agradável caía sobre o Land Rover enquanto as pessoas liam ou
ouviam música e observavam o campo passar. Uma garotinha
com cabelos emaranhados pelo vento e um vestido rosa cuidava de
ovelhas em um prado que começava a esverdear na primavera; um pouco
depois, eles viram um menino empinar uma pipa. Keenan esperava uma
conversa constante, mas descobriu para seu alívio que todos sabiam como
fazer sua própria companhia.

Rose folheou os poemas de Rumi e tirou A Ilíada de sua bolsa de


ombro. Enquanto os quilômetros passavam, ele observou as pálpebras
dela se fecharem, depois se fecharem brevemente, abrirem novamente e
finalmente se fecharem para sempre. Ficou de olho nela, esperando o
momento certo para tirar os livros de seu colo. Vovó colocou seu
travesseiro de viagem entre o assento de Rose e a porta, segurando-o lá
enquanto Keenan pegava os livros de suas mãos sem resistência, então
gentilmente empurrou sua cabeça para o lado para que descansasse no
travesseiro. Uma rápida olhada por cima do ombro encontrou Vovó
sorrindo conspiratoriamente para ele.

Uma hora depois, todas as mulheres estavam dormindo, Marian e


Vovó encostadas nas portas traseiras do passageiro, Florence com a
cabeça apoiada no ombro da Vovó. Ele coçou a orelha e tentou não
rir. Keenan Parker, ex-US Navy SEAL, conduzindo três idosas e uma jet-
lag Diretora Sênior de Operações e Logística pela Turquia. Era quase
ridículo.

Exceto que era muito bom. Como se fosse responsável por seres
humanos comuns fazendo coisas cotidianas. Quase normal.

Acordaram a tempo de jantar em um restaurante à beira da


estrada, uma refeição consumida em um silêncio amistoso e
sociável. Rose tinha a aparência turva e atordoada que ele via com
frequência no espelho, caindo depois de dias e dias de pouco ou nenhum
sono, então não ficou surpreso quando ela adormeceu novamente no
carro. Quando eles estacionaram em frente à entrada do hotel, ela nem
acordou. Vovó cuidou dos preparativos do quarto enquanto ele
descarregava a bagagem e, em seguida, abriu a porta do passageiro.

Rose olhou para ele. — Chegamos, querida, — disse ele. O termo


carinhoso saiu antes que ele pudesse pensar sobre isso, muito menos
detê-lo. — Éfeso, — ele esclareceu, porque ela estava olhando em volta
como se não tivesse ideia de onde estava.

— Tudo bem, — disse ela, grogue, gutural.

— Vamos, Rose, — disse vovó, estendendo a mão. Keenan ficou


impressionado com a ternura no gesto. Vovó provavelmente tinha feito
isso por Rose desde que Rose conseguia engatinhar. Com base na maneira
como Rose saiu da caminhonete e foi até a avó, era tão familiar quanto
uma camiseta velha e macia.

— Boa noite, — disse ela por cima do ombro, seu olhar sonolento,
suave.

E foi isso. Nenhuma conversa tarde da noite no bar. Nada de sexo


quente e escorregadio. No lado positivo, sem perguntas difíceis, sem
olhares que abriam aquele espaço cada vez mais vulnerável dentro dele,
aquele que ele não sabia que existia até que Rose caminhou até ele no
aeroporto de Ancara.

Ele deveria ter ficado desapontado. Em vez disso, tudo o que


sentiu foi um lampejo da mesma ternura por sua garota com fuso horário.
CAPÍTULO SEIS

Um galo disparou ao romper da madrugada da manhã


seguinte. Rose sentou-se ereta na cama, agitando a mão para o telefone
desligar o alarme, mas só conseguiu derrubar o pequeno relógio digital no
chão. — O que diabos está acontecendo?

Sem resposta. A cama da vovó estava vazia e o chuveiro estava


ligado no banheiro. Rose puxou as cobertas e caminhou até às portas
deslizantes que se abriam para uma pequena varanda. Grande fã de ar
fresco e noites frias, vovó deixou a porta parcialmente aberta. Uma vez do
lado de fora, no pátio, ela viu seu despertador empoleirado em um muro
alto de gesso ao redor de um minúsculo jardim, o galo arrancando seu
orgulhoso coração.

Com os pés curvando-se para longe do cimento frio, Rose apoiou


as palmas das mãos no corrimão e se esticou na ponta dos pés enquanto
fazia o balanço. Antecipando os acontecimentos do dia, se sentiu quase
delirantemente feliz, o corpo descansado, a mente clara e calma, como o
céu azul se estendendo até ao horizonte. Eles teriam um delicioso café da
manhã, depois iriam para o principal sítio arqueológico na Turquia, o
destaque da lista de desejos da vovó, e passariam o dia vagando entre as
ruínas. Em seguida, eles iriam para os arredores de Tróia. A viagem estava
um pouco menos da metade concluída, e cada momento que restava era
repleto de promessas.

Um movimento na rua chamou sua atenção, um homem de shorts,


tênis e sem camisa correndo pela beira da estrada. Ao se aproximar do
hotel, diminuiu o passo para uma corrida e depois uma caminhada. Seu
cabelo estava úmido de suor e ele entrelaçou as mãos atrás da cabeça
enquanto subia o semicírculo em frente ao hotel.

Keenan.

Rose acenou para chamar sua atenção. Ele acenou de volta e


parou sob a varanda do segundo andar. — Bom dia, — disse ele.

— É verdade, — ela disse.

Ele sorriu, seu olhar demorando em sua camisola de algodão. — Se


sentindo melhor?

— Quanto tempo dormi?

— Você adormeceu por volta das três da tarde de ontem. Agora


são sete e quarenta e cinco da manhã seguinte. Um pouco menos de
dezesseis horas, subtraindo o jantar.

— Eu mal me lembro do jantar, — ela disse maravilhada. — Eu


comi? Estou morrendo de fome.

— Você escolheu um adana kebap realmente bom, — disse ele.

— A que horas partimos?


— Em uma hora, se você conseguir, — disse ele. — A mesma coisa
se aplica aqui como em Konya. Quanto mais cedo chegarmos lá, menos
lotado ficará, e você realmente quer um dia inteiro em Éfeso.

— Vovó está no chuveiro agora. Só preciso limpar e reembalar


minha bolsa, — disse ela.

— Estou fora do banho agora, — disse vovó, afofando o cabelo


úmido enquanto se juntava a Rose no parapeito da varanda. Ela usava
outro par de calças de viagem e lã, fechadas contra o ar frio da manhã. —
Bom dia, Keenan.

— Senhora, — disse ele formalmente. — Vejo vocês duas no café


da manhã.

— Hmmmm, — disse vovó, olhando para a camisola de algodão


fino de Rose. — Parece que me lembro de algo sobre varandas em uma
peça sobre jovens amantes...

— Não somos jovens, — disse Rose, então repensou sua


declaração automática. Ela abriu a boca para se corrigir, mas desistiu
quando viu o brilho nos olhos de vovó. — Está congelando aqui fora. Vou
tomar um banho, — disse Rose, e fugiu para o banheiro aquecido a vapor.

Quinze minutos depois, empurrou sua mala pesada para o


corredor, colocou a bolsa um pouco mais alto no ombro e seguiu vovó
pelo corredor. Seu laptop, equilibrado na palma da mão, estava conectado
a um WiFi de última geração e baixava seu e-mail rapidamente. Ela evitou
um grupo de turistas japoneses que saíam da sala de jantar no momento
em que o último e-mail foi baixado, então percorreu os primeiros
quarenta um e-mail até de Mindy Hong, outro membro do comitê de
gestão, marcado como importante com um assunto LEIA-ME PRIMEIRO.

Está tudo bem. Hua Li está lidando com as situações do dia-a-


dia com os profissionais de marketing. Houve uma pequena crise com os
auditores, mas Jensen ligou para Travis, prometeu-lhe uma partida de
golfe e uma garrafa de Macallan, e está tudo sob controle. Em anexo está
o último lote de currículos para os cargos de liderança em aberto. Algo
para ler no vôo para casa.

Mindy

Os anexos acenaram, os documentos etiquetados pelo eficiente


diretor de RH com nomes e cargos. Ela quase os abriu. Então olhou para
cima para ver as Babes e Keenan na mesa, e o mar na distância, céu e
horizonte se misturando ao azul. Vovó acenou. O olhar de Keenan passou
rapidamente sobre ela, da cabeça aos pés.

Ela fechou o laptop, enfiou-o na bolsa e deixou o trabalho e


Lancaster para trás.

— Ouça, — Keenan disse quando Rose se sentou com sua sopa do


café da manhã. Ele puxou o mapa no iPad da vovó e apontou. — Temos
um dia inteiro em Éfeso. Peguei alguns lanches que podemos levar para o
local, para não termos que sair para o almoço. Você queria visitar uma loja
de tapetes. Recebi uma recomendação de um amigo. É aqui -
ele apontou - no caminho para Tróia. Sugiro que almoçamos tarde, depois
de terminarmos com o lugar, vamos de carro até Tróia e comemos um
jantar leve quando estivermos lá. Comentários?

— Perfeito, — disse vovó.

Estavam acomodados no Land Rover quinze minutos depois, e no


estacionamento com os primeiros ônibus de turismo pouco depois
disso. Todos se amontoaram e se reuniram em torno de Keenan. — Os
únicos banheiros ficam nas entradas.

— Keenan, não tenho ideia de por que você acha que estamos tão
preocupados com banheiros, — disse Marian.

— Provavelmente é minha imaginação hiperativa, senhora, —


disse ele formalmente, e distribuiu barras energéticas, maçãs e uma
garrafa de água para cada uma delas. — Vou dar a volta com o carro até a
outra entrada, porque é por aí que vocês vao sair, pelo Grande
Teatro. Pego você lá dentro.

Elas pagaram a entrada, compraram ingressos para as casas com


terraço, pegaram seus mapas e depois entraram. As Babes agruparam-se
em torno de Marian, segurando o livro de turismo. Por um tempo, Rose as
acompanhou, mas depois de um tempo ela simplesmente desceu a
avenida principal, pavimentada com mármore, sulcos desgastados na
pedra por rodas antigas. O que restava da impressionante biblioteca
pairava à distância. Colunas lascadas e paredes de pedra e argamassa
intercaladas com estátuas sem cabeça e sem membros cobriam o
caminho, e seções de tubulação de argila usadas para transportar água
quente e fria para as vilas agora estavam empilhadas em espaços
vazios. Elas eram lojas? Casas?

Era fácil simplesmente ficar à deriva, muito mais fácil do que


pensava que seria. Normalmente precisava aprender tudo o que pudesse
sobre um lugar ou situação, mas com quase três mil anos de história
humana se espalhando à sua frente, a tentativa foi inútil.

Ela fez uma pausa nos banheiros romanos para coçar atrás das
orelhas de um dos dezenas de gatos vadios do local quando Keenan
apareceu, correndo facilmente ao longo do mármore irregular. Ele parou
ao lado dela, nem mesmo respirando com dificuldade, mas seu corpo bem
treinado começou a suar. O cheiro, tão familiar agora, a fez tremer por
dentro.

— Eu deveria ter adivinhado que você encontraria os banheiros, —


ele brincou.

Uma caixa de mármore da altura do joelho ocupava o


comprimento de três paredes. Dez aberturas em forma de vaso
sanitário foram esculpidas em cada seção do mármore. O gato a
abandonou para se enroscar nos tornozelos de Keenan, então ela entrou
na sala, se inclinou e olhou para um deles. — Encanamento interno? — ela
perguntou.

— E um sistema de esgoto.

— Não fazia ideia.

Sem falar, eles se voltaram para as casas de terraço romanas


escavadas. Plástico translúcido protegia os quartos; em um grande espaço
que antes era um salão de banquetes, os trabalhadores reconstruíam
meticulosamente os mosaicos que antes decoravam pisos e paredes. -
Esse é um grande quebra-cabeça - Keenan comentou enquanto passavam
por estreitas portas de mármore colocadas em paredes de tijolos
desiguais.

Desenhos precisos de mármore formavam os pisos, enquanto


imagens pintadas de leões e flores, rostos e peixes decoravam as paredes
e pisos de outras salas. Saindo das vilas no último andar, caminharam pelo
caminho irregular e encontraram as Babes na frente da biblioteca.

— Foto de grupo? — Keenan perguntou.

— Ah, sim, — disse Florence. — Na frente da biblioteca!

Ele estava tirando fotos com o iPad da vovó e o telefone de Rose


quando um guia esperando por seu grupo perguntou a Keenan se ele
gostaria de uma foto de todo o grupo. Keenan tentou resistir, mas cedeu
quando vovó insistiu. Ele ficou perto o suficiente para Rose sentir o calor
irradiando de seu corpo, mas não exatamente a tocando, perto o
suficiente para sentir o cheiro de sua pele e suor agora marcado em sua
memória. O guia pegou a câmera de Florence e tirou várias fotos para
todos.

— Você viu as casas com terraço? — Vovó perguntou.

— Acabamos de visitar, — disse Rose.

— Oh, — vovó disse preocupada.

— Não tenha pressa, — disse Rose suavemente. — É um lindo


dia. Aproveite isso.

— Você não está entediada?

— Não estou entediada.

Os Babes foram até a entrada das casas com terraço. Sem dizer
uma palavra, Rose e Keenan caminharam ao longo da Harbor Street,
parando no teatro ao ar livre. — Sentava vinte e quatro mil pessoas, —
disse Rose, olhando para o guia. — Concursos de teatro e gladiador.

Eles ficaram em silêncio no palco, olhando para as filas


semicirculares de assentos. Tufos de grama cresciam entre as pedras de
mármore e três caminhos estreitos de mármore cruzavam um canal
esculpido ao redor do palco. — Para levar a água e o sangue depois dos
jogos de gladiadores, — Rose leu no guia.

— Esta costumava ser uma cidade portuária, — disse Keenan. — O


rio assoreou e mudou a paisagem. Li que Éfeso era a segunda cidade mais
importante do Império Romano.
— E agora está em ruínas, — disse Rose distraidamente. Tudo
parecia tão distante, o intervalo de tempo de repente a coisa mais pesada
em seu mundo.

Depois de mais alguns momentos, se viraram e seguiram pela


ampla Harbor Street. Antes repleta de lojas que acomodavam o porto,
esta estrada agora carecia de edifícios impressionantes e os turistas
diminuíam à medida que caminhavam. Arbustos grossos e altos cresciam
desenfreadamente nas paredes, sombreando o interior e quase
bloqueando as portas. Perto do final do caminho, Keenan pegou a mão de
Rose, puxou-a para um dos pequenos edifícios e a empurrou contra
uma parede na altura do peito.

A sala estava manchada como algo saído de um conto de fadas, o


tipo em que a princesa entra em uma muralha encharcada de magia e
desaparece por cem anos. Céu azul, folhas em uma dúzia de formas e tons
de verde, tijolo vermelho esfarelando-se contra suas costas, grama
aparecendo no chão de ladrilhos quebrados. Pequenas rosas se
espalharam pelas paredes, exalando um perfume delicado, tingindo o ar
de rosa. Ela se sentia suspensa entre a realidade e o tempo fora do tempo,
quando tudo podia acontecer e a única coisa que importava estava bem
na sua frente. Perto o suficiente para tocar, mas sem tocar. Seu guerreiro,
seu gladiador, esperando por ela.

Ela estendeu a mão e colocou a mão em seu peito. Ele se livrou de


sua lã, deixando apenas uma fina camada de tecido entre sua pele e a
dela. Seu coração bateu forte sob o músculo e osso duro, acelerando o
ritmo quando ele girou a palma da mão e inclinou o polegar para roçar em
seu mamilo. A pequena protuberância endureceu com seu toque,
puxando uma exalação suave de seus lábios entreabertos.

Ele se aproximou, seu peito a poucos centímetros de seus seios, o


calor irradiando de seu torso, coxas e pélvis, e deslizou a mão sob seu
rabo de cavalo para agarrar sua nuca. Faíscas dançaram entre suas coxas e
em seus mamilos, fazendo seus lábios formigarem. Seu corpo inteiro
parecia vivo com um desejo tão antigo quanto a paisagem que os rodeava.

Seus olhos estavam escuros, sua respiração lenta e moderada. Ele


estava se contendo, ela percebeu, seu corpo comunicando sem palavras a
linguagem do desejo e da contenção. Como ele sabia que queria isso antes
que ela soubesse, ainda era um mistério, mas este momento não era
sobre perguntas e respostas, desmontar coisas e colocá-las em uma lista
de tarefas em um plano de projeto. Era sobre o arco de sua boca, fino e
elegante, escondido em uma barba cada vez mais espessa.

Ela ficou na ponta dos pés e patinou os dedos pela junção,


deleitando-se com o lábio inferior macio. Dedos pararam no canto de sua
boca, ela o beijou, suave e doce, lábios fechados, sentindo sua boca com
seus lábios e dedos ao mesmo tempo, roçando sua boca contra a dele em
movimentos quase imperceptíveis. Quando os lábios dele não se
separaram, ela aplicou uma pitada de pressão com os dedos, puxando a
carne macia para baixo e lambendo por dentro. Dentes, o interior sensível
de seu lábio inferior, um toque que finalmente separou seus dentes em
um suspiro. Com a ponta do dedo indicador, ela acariciou a língua dele,
depois a ponta dos dentes. Seus olhos estavam com as pálpebras
pesadas e saturados com uma promessa sombria quando ele mordeu o
dedo dela, lambeu a ponta, então usou o aperto firme na nuca dela para
puxá-la de volta na ponta dos pés.

Ela nunca se sentiu tão viva. Impressões bombardearam seus


sentidos, cores e cheiros, a conversa tênue de turistas correndo para a
saída, alemães, japoneses, franceses. Entre suas coxas, o calor derreteu.

Ele inclinou a cabeça apenas o suficiente para beijá-la, mantendo a


pressão leve, tentadora, reconhecendo o feitiço que eles teciam sem
quebrá-lo. Se alguém olhasse, eles estavam se beijando. Nada mais. Uma
mão descansou em seu quadril. Ele tinha um polegar enfiado na alça de
ombro de sua mochila. Ninguém podia ver as partículas carregadas de
desejo vibrando no ar entre eles. Eles não podiam ver seus mamilos duros,
ou sua ereção empurrando contra seu zíper e apenas roçando sua barriga.

Seus lábios ficaram quentes e suaves, persuadindo-a a se abrir


para ele, a tomar o impulso de sua língua acariciando a dela. Ela exalou
suavemente e se abriu mais, suspensa no tempo, no ar carregado de
magia. Parecia uma eternidade.

— Rose, — ele sussurrou. Seu nome soava como uma oração ou


um apelo. — Rose.

— ...depois de encontrarmos Rose. — Ela ouviu a voz de sua avó.


Ela deu um passo para trás, prendeu os cabelos nas folhas e nos
espinhos das rosas, depois o encarou com os olhos arregalados. Em seu
mundo, não havia ‘para sempre’, apenas pequenas caixas de tempo
divididas em horas, dias, semanas. ‘Para sempre’ foi um conceito sem
sentido. — Bem aqui, vovó, — ela chamou, puxando o cabelo para fora.

Keenan se abaixou, encontrou seu elástico de cabelo na grama e o


entregou a ela. — Saia primeiro, — ele disse, e colocou as mãos nos
quadris. — Eu preciso de um minuto.

Com base na protuberância em suas calças cargo, ele certamente


precisava. Seu corpo estremeceu, lembrando-se do estiramento quente
que deslizou tão deliciosamente perto da dor e voltou. Ela o queria dentro
dela, agora, não horas a partir de agora.

— O que está fazendo aí? — Vovó perguntou quando ela saiu.

— Essas eram todas lojas, eu acho, — Rose disse vagamente. Ela se


sentiu atordoada, quente, corada, piscando à luz do sol de repente em
desacordo com a tensão latejante dentro dela. Seus pensamentos
giraram, sacudiram. Não era para ser assim. Não deveria gostar disso,
querer isso, muito menos de um homem que vivia do outro lado do
mundo, um homem que era perfeitamente possível que seu irmão
desmembrasse e dissolvesse em lixívia se descobrisse o que tinha
acontecido entre eles.

O pensamento a fez rir. Como se algum dia tivesse motivos para


contar a Jack o que aconteceu. Esta não era a vida real. Não fazia parte de
seu plano. Keenan não tinha interesse em ser comum, em voltar para
casa, muito menos em cercas de brancas. Jack nunca precisaria saber o
que aconteceu.

***

No momento em que sua ereção diminuiu, Rose e Vovó estavam


duzentos metros à frente, indo para as fileiras de baias do lado de fora da
saída do local. Ele mudou sua mochila mais para cima em seu ombro e
seguiu em um ritmo medido projetado para manter seus passos,
respiração e pensamentos sob controle.

Nunca se sentiu mais selvagem. Perigoso. No limite. Deus o ajude


se Jack descobrisse. Tinha feito missões de longo prazo atrás das linhas
inimigas, rastejou em complexos e cavernas, matou e partiu, tudo sem
acordar uma casa adormecida. Mas nem uma única missão, nem mesmo
aquela que deu errado no final, parecia tão perigosa quanto o que estava
fazendo com Rose. Havia um perigo óbvio, e então havia esse território
desconhecido, fora do mapa, fora do tempo e do espaço.

Ignorando as barracas do vendedor, ele destrancou o Land Rover e


abriu as janelas para arejar o interior quente. Com o quadril apoiado no
banco do motorista, ele inseriu o endereço do museu e da fábrica de
tapetes no GPS. Um pequeno restaurante ao lado foi altamente
recomendado. Almoço, apresentação na fábrica e ida a Tróia.

Tróia.

Ele voltou seus pensamentos para o momento presente. Tanque


de gasolina três quartos cheio. Um rápido olhar para o sol, então seu
relógio, disse a ele que eles estavam bem dentro do cronograma. Vovó e
Rose estavam saindo dos banheiros quando Marian e Florence dobraram a
esquina de uma das barracas, sacolas de souvenirs nas mãos.

— Preparadas?

Eles chegaram ao restaurante após uma curta viagem. Se sentaram


em uma das mesas redondas no quintal, tirando os chapéus e dizendo olá
para o gato que tomava sol no pátio. A refeição de peixe, pão, queijo,
azeitonas e salada foi uma das melhores que Keenan já teve. Quando as
Babes se levantaram para explorar a loja de tapetes, ele educadamente
recusou a oferta de se juntar a elas. Em vez disso, deslizou para baixo em
sua cadeira, inclinou a cabeça para trás, fechou os olhos e tentou
descobrir o que diabos estava acontecendo dentro dele.

— Não está interessado em tapetes turcos?

Rose. Ele não abriu os olhos, apenas inalou o cheiro dela. Sua pele,
a tênue aura de rosas daquela sala fora do tempo. — Não tenho onde
colocar um.
— Você tem um apartamento em Galata, — ela disse
razoavelmente.

O planejamento necessário para mover um tapete turco de um


lugar para outro definitivamente adicionaria mais do que minutos ao
tempo que ele precisava para ir embora. — E você?

— Pedi um pequeno para meu escritório em casa, — disse ela, e


colocou A Ilíada na mesa ao lado de seu prato. Ela fez um barulho de ch-
ch-ch com a língua e entortou os dedos sob a mesa. A gata, uma tartaruga
de pêlo comprido muito bem cuidada para ser uma vira-lata, a ignorou.

— Ela gosta de você, — disse ela.

— Ou minhas meias cheiram a peixe, — disse Keenan, e levou o


chá à boca.

Rose sorriu com sua piadinha. O glorioso dia de primavera em


Éfeso dançava ao seu redor: a luz do sol filtrada destacando o tom
avermelhado do cabelo de Rose; a sombra das árvores salpicando os
restos de seu almoço; o gato ronronando enrolando-se em seu tornozelo,
procurando por peixes que sobraram. Rose sorriu para ele, um pequeno
sorriso, sutil, provocador, como a mulher que ele beijou em uma
ruína. Como uma mulher que tinha esquecido que tinha um celular, muito
menos tinha quase mil e-mails esperando em seu laptop.
Ele não falou, porque não precisava. Esta... coisa... caso... o que
quer que fosse, pertencia à categoria de férias, o one-shot5 na categoria
de realização de fantasia. Ele pertencia à cesta de um balão de ar quente,
à poesia lírica de Rumi, ao sol mágico e misterioso e ao calor de uma
primavera turca encharcando ruínas antigas, não à luz artificial de uma
tela de retina em um laptop. Ela não vivia neste mundo e ele não voltaria
para o dela.

Tudo o que precisava fazer era dividir. Feche o mundo para a


missão. Bom. Óimo. Poderia fazer isso. Ele era um SEAL, o melhor do
mundo em tudo que escolhia fazer. Deixe entrar o que precisa, afastar o
que não precisa. Então deixou o desejo escuro fervilhando baixo em sua
barriga inundar seus olhos, e observou os lábios de Rose se separarem em
uma exalação suave. Os pássaros cantavam na árvore acima dele, sua
canção vibrante adicionando ao elenco ligeiramente irreal da
conversa. Rose colocou seu prato no chão a seus pés. O gato
imediatamente abandonou o tornozelo de Keenan pelo peixe meio
acabado de Rose.

— Quão longe está Tróia?

— Quatro horas, mais ou menos, — disse ele. — Parte da viagem é


ao longo da costa. Deve ser bonito.

5
Caso passageiro
Ela fez aquele zumbido suave, coçando atrás das orelhas do
gato. Ele sabia que estava ouvindo coisas, mas teria jurado que ela e o
gato estavam ronronando.

***

As Babes saíram da loja de tapetes discutindo o processo de


fabricação e segurando os recibos dos tapetes que estavam sendo
enviados de volta para Lancaster. Eles dirigiram sob o sol do fim da tarde e
no início da noite. Quando a conversa se transformou naquele silêncio
amigável, Rose abriu A Ilíada, alternadamente lendo e observando o fluxo
da paisagem. Ele olhou para o livro aberto em seu colo. Aquiles estava se
armando para a batalha, uma descrição que se estendeu por várias
páginas. A maior parte foi gravada na memória, o escudo como a luz
piscando para guiar os marinheiros em mar aberto, a lança que seria a
morte dos heróis.

Ela entendeu? Mesmo quando a esperança chamejou, sabia que


era ridículo. Ninguém sabia, a menos que estivessem lá, em uma zona de
guerra. Mesmo as pessoas que ficaram em grandes bases não sabiam
realmente o que era rastrear alguém em um silêncio rochoso e
empoeirado até que você cortasse sua garganta e desaparecesse na
paisagem. Você poderia ler todos os livros, assistir a todos os filmes e
ainda assim não saberia.
Ele olhava distante pelo para-brisa quando o sol poente batia no
mar, ou quando a estrada serpenteava por penhascos rochosos, e se
perguntava como seria ler A Ilíada pela primeira vez cercado pela
paisagem que a inspirou. Ficaria animado em ver as escavações em Tróia,
para conectar as descrições com o lugar real.

Ele estava temendo isso.

***

Eles pararam para pernoitar em um hotel resort de luxo na costa, a


alguns quilômetros de Tróia. Todos se lavaram e se reuniram novamente
na sala, Rose carregando seu laptop e a Ilíada. A sala de jantar estava
fechada, mas o bar servia um cardápio leve até meia-noite. Pediram vinho
e dividiram travessas de pão, homus, queijo, azeitonas e frutos do
mar. Vovó bocejou e se espreguiçou. — Vou para a cama, — disse ela.

— Eu também, — disse Florence, pegando seu guia.

Marian colocou as mãos nos braços da cadeira e se levantou. —


Assim como eu.

— Vou checar o trabalho, — disse Rose, erguendo o rosto para


beijar a bochecha da avó. — Ficarei quieta quando entrar.

— Não ouvirei você, — disse vovó. — Tenho dormido como um


tronco. Fique acordada até tarde, querida.
— Boa noite, senhora, — Keenan disse formalmente. Quando
saíram, o salão estava tão silencioso que podia ouvir as estrelas vibrando
no céu escuro. Mais magia. Rose o girou com a ponta dos dedos, traçando
os buracos para os olhos no capacete coríntio na capa da Ilíada.

Ele pigarreou. — Você realmente vai trabalhar? — Seus lábios se


curvaram em um sorriso.

— Não, — ela disse.

Magia. Pura magia. Não pense em se sentir como se estivesse no


limite. Não fale. Apenas aja.

Ele se inclinou para a frente e estendeu a mão. Sem vacilar, sem


hesitar, ela colocou a mão na dele. Ele esfregou o polegar para a frente e
para trás sobre os nós dos dedos, sensibilizando a pele antes de levar a
mão dela aos lábios. Seu sorriso se suavizou e suas pálpebras se fecharam.

Ainda segurando a mão dela, se levantou, dando-lhe apoio para se


endireitar. Ele pegou o laptop e o livro. Ao cruzarem o saguão juntos, se
viu no espelho e quase tropeçou no tapete.

Ela com um sorriso confiante no rosto, segurando a mão dele,


carregando seus livros como se estivessem no colégio nos anos cinquenta
ou algo assim.

O elevador apitou e a porta se abriu. Eles entraram com outro


casal, saindo trotando do estacionamento, conversando. Rose deu um
breve puxão fracassado para se libertar, mas ele a segurou com mais
força.

Um tremor a percorreu, invisível nas paredes espelhadas, mas


rodopiando por ele como se ela tivesse deixado cair uma pedra em sua
alma. As portas se abriram no oitavo andar.

— Com licença, por favor, — disse ele, educadamente, em turco.

Conversas fracas e sons de televisão aumentavam e diminuíam


enquanto caminhavam pelo corredor, de mãos dadas. Foi complicado
equilibrar o laptop e o livro entre o quadril e a porta e inserir o cartão-
chave. O laptop quase caiu no chão quando Rose se inclinou para o lado
dele e ficou na ponta dos pés para dar um beijo suave logo abaixo de sua
orelha. Ele praguejou baixinho e resolveu o problema de mãos
insuficientes movendo o laptop e o livro para a esquerda e puxando Rose
com força contra seu corpo, em seguida, envolvendo o braço em sua
cintura. Livro, computador, mulher, tudo contido enquanto ele abria a
porta. Eles tropeçaram para dentro, Keenan terminando de costas para a
parede e Rose colada contra ele dos ombros às coxas. Ele jogou o laptop e
o livro na cômoda baixa que continha a televisão, pegou um punhado de
quadril e coxa e a beijou.

Dez segundos. Estavam no quarto há dez segundos. A coisa toda


estava acontecendo há menos de um minuto, se incluísse o tempo no
elevador. Mas isso também não estava certo, porque o fogo entre eles
estava tão quente desde sua primeira vez na Capadócia. Foi imediato,
potente e inegável. Rose estava ofegante contra ele, sua respiração presa
em sua garganta quebrada, e o som foi direto para seu pênis. Esteve semi-
duro o dia todo, pensando sobre isso, observando-a morder o lábio
enquanto lia um livro sobre as causas e os despojos da guerra. Ela
entendia que ele sempre seria um guerreiro? Pode ser. Afinal, ela
conhecia Jack.

Desesperado por uma conexão, enredou os dedos em seus cabelos


e a beijou. Quando isso não foi suficiente, ele os virou para que ela ficasse
presa entre seu corpo e a parede, colocando tudo o que queria, tudo o
que sentia no próximo beijo voraz. As raízes de seu cabelo estavam
ligeiramente úmidas, o ar na sala era quente. Ele podia sentir o cheiro do
suor subindo da nuca dela, tingido de excitação, e fez tudo o que pôde
para não cerrar os dentes em sua nuca e marcá-la. Ele queria tocá-la,
foder, e não contra a parede.

É hora de mudar de local. Em um movimento suave, empurrou


para trás, colocando centímetros entre seus corpos. Então se agachou e a
ergueu do chão.
CAPÍTULO SETE

O mundo girou, um vislumbre estonteante da luz da lua


derramando-se pelas cortinas transparentes, os lençóis brancos sobre a
cama. Ela saltou sobre os travesseiros, então o corpo de Keenan pousou
no dela novamente, tão duro, tão implacável, tão perigoso.

Ele não estava sendo legal. Ou domesticado. Graças a deus. Em vez


de mimá-la, esperava que ela o acompanhasse. Agora estava tão excitada
como nunca esteve em sua vida. Ela se arqueou, desejando o doce roçar
de seus quadris contra os dela. Ele empurrou de volta, obviamente tão
desesperado por atrito e pressão, a mão em seu cabelo, quadris nos dela,
o peso de seu corpo carregando os nervos em sua pele. Quando a mão
dele foi para o botão de sua calça jeans, ela o ajudou, amando a forma
como seus dedos fortes roçaram os dela e, em seguida, contra sua barriga.

— Oh, porra, isso será bom, — ele murmurou em seu cabelo


enquanto seus dedos hábeis abriam o botão. Ele colocou a mão na
pequena abertura. Sua consciência se estreitou quando seus dedos se
moveram para baixo, roçando seu monte, então o topo de suas
dobras. Com um grunhido, ele abriu as pernas, abrindo as dela. Ela
ofegou, os nervos em seu clitóris e sexo estremecendo em antecipação.

Em seguida, dois dedos deslizaram para cada lado de seu clitóris e


no calor escorregadio desenhado de seu corpo pela luta. Ele não parou,
mas deslizou para dentro, o mais fundo que podia nesta posição,
acariciando o tecido sensível dentro de sua abertura. Ela gemeu,
involuntária e indefesa.

Impossivelmente, seu corpo ficou mais quente, mais pesado. —


Foda-se, foda-se, — disse ele, meio riso, meio gemido. Empurrando contra
seu quadril, moendo rápida e oportunista, seus dedos provocativamente
circulando sua abertura, estimulando a carne úmida até uma pulsação em
resposta em seus mamilos enquanto ela ondulava sob ele.

Então ele puxou a mão livre, usando o choque do corpo dela por
ter sido abandonada no pico para sentar e tirar o resto de suas roupas. O
ar frio roçou sua pele aquecida. De olhos fechados, ela absorveu os sons
de um homem se preparando para o sexo, seu zíper raspando, então o
som característico de um pacote de preservativo se abrindo. Ela
simplesmente ficou lá e deixou as ondas de excitação lavarem sobre ela,
até que ele a montou e colocou a cabeça cega de seu pênis contra as
dobras de seu sexo, cutucando-a até que deslizou para dentro. Era tão
repentino, chocante e excitante como da primeira vez, forçando um
gemido de sua garganta para a escuridão.

Então ele começou a se mover, estocadas curtas e afiadas que


trabalharam a cabeça de seu pênis sobre aquele ponto quente e trêmulo
dentro dela. Ela estava no limite novamente, as pernas se esforçando para
abrir, pegando-o.
Ele fez uma pausa, deixando sua envoltura ondular ao redor dele, e
empurrou sua camisa para cima e sobre sua cabeça, prendendo seus
braços. O ar fresco foi mais uma vez um alívio, então seu peito pousou nas
costas dela, quente e liso, os músculos mudando quando ele começou a
empurrar novamente.

Isso iria separá-la. Iria despedaçá-la, em seu ritmo, em seu


tempo. Passou a ser sobre a experiência momento a momento, sua pele
contra a dela, seu cabelo agarrado a suas bochechas quentes enquanto ela
jogava a cabeça para trás e para a frente no travesseiro, seu pênis dentro
dela, lençóis de algodão úmidos sob suas costas, a tensão crescente nas
pernas e na maneira que alimentava o fogo por dentro.

Ele tomou seu tempo, seus bufos suaves e respiração áspera tão
eróticos quanto a maneira como seu pênis a esticava, estimulando os
nervos até que ela estava tensa, estremecendo, fortemente tensa. A
fricção deslizante e alongada a impulsionou para cima, para cima, até
explodir. A boca dele abafou seus gritos agudos, e então ela caiu na
escuridão.

***

O ar frio flutuou contra sua pele. Ela respirou fundo e registrou a


ausência de pele aquecida, a capacidade de inalar. A sensação voltou em
seguida, a pele sensível e crua de seu sexo, formigando e inchada. Ela se
espreguiçou luxuosamente, catalogando cada ponto sensível e dolorido
em seu corpo. — Aquelo foi, sem dúvida, o melhor sexo que já tive, —
disse ela quando ele saiu do banheiro.

Suas calças caíram soltas em seus quadris, expondo uma faixa


realmente linda de musculosa parede abdominal, um tufo de cabelo. Ele
cruzou os braços sobre o peito e sorriu. — Sim. Você está bem?

O sorriso não alcançou seus olhos. — Estou bem, — disse ela com
um suspiro. — Realmente, muito bem. Tão bem, na verdade que não
quero me mover.

— Então, não faça isso.

— Não posso, — ela disse com arrependimento genuíno. Seu


quarto ficava apenas duas portas abaixo e do outro lado do corredor, mas
com a adrenalina diminuindo e a apreciação repentina e entusiástica de
seu corpo pelo sono, poderia muito bem estar na Capadócia. Ou
Lancaster.

Onde isso não aconteceria. Nunca. De repente, o humor dela


combinou com o dele, distante, retraído.

O sutiã e a camisa estavam enrolados nas axilas. Ela puxou-os para


baixo, então se sentou para desembaraçar seu jeans e calcinha e se
contorcer para vesti-los. Completamente vestida, ela fez uma pausa
quando a sala se inclinou um pouco. Em dois passos ele estava ao lado
dela, estendendo a mão para ajudá-la a se levantar.

— Obrigada, — disse ela.

Ele a beijou então, um beijo doce que parecia tão roubado quanto
aqueles no muralha de rosas escondido em Éfeso. — Rose, — ele
começou.

— Não precisamos conversar sobre isso, — disse ela,


tranquilizando-se tanto quanto a ele. — Nós dois sabemos o que isso é.

Foi a vez dela beijá-lo então, absorvendo os momentos de ternura,


a ardência quente de sua boca. Ela queria ficar, queria isso mais do que
qualquer coisa em sua vida. — Preciso ir, — ela disse. Ele segurou a mão
dela até que se estendeu até ao limite de seu alcance e dela, então a
deixou ir. Ela pegou seu laptop e livro e saiu.

***

Todo o grupo tinha um ar bastante melancólico na manhã


seguinte, enquanto esperavam a bilheteria em Tróia abrir para
visitantes. Keenan atribuiu isso à partida iminente, a apenas alguns dias de
distância. O guia que ele contratou encontrou-os na hora certa e conduziu
todos os cinco contra as paredes de vários materiais e alturas, explicando
a história de três mil anos de destruição e renascimento de Tróia.
Construída, destruída pelo fogo, reconstruída, destruída pelo terremoto,
ampliada e reconstruída novamente, destruída pela guerra, reconstruída,
destruída pela guerra novamente, reconstruída novamente, antes de
finalmente ser abandonada para sempre durante o período otomano para
desaparecer sob a terra.

Com o polegar preso na alça da mochila, Keenan olhou ao


redor. As partes não escavadas do local estavam cobertas por uma grama
tão verde que doía olhar para ela. O céu era de um azul rico e sem
nuvens. Ele achou incrível estar sob o mesmo céu sob o qual Heitor e
Aquiles lutaram, ver as paredes que eles defenderam, rompidas. Ou foi a
evidência de que o tempo passou, todas as guerras acabam, os motivos de
sua luta desaparecendo na história junto com os ossos dos guerreiros? As
facções desapareceram, as emoções se dissiparam, deixando para trás, na
melhor das hipóteses, um poema épico que falava tanto sobre o horror da
guerra quanto sobre sua glória. Na pior das hipóteses, o tempo não deixou
absolutamente nada para trás.

— Estamos muito longe da costa, — disse Florence ao guia


enquanto eles estavam em uma rampa escavada na rocha, provavelmente
usada para transportar mercadorias para a cidade.

— Assim como Éfeso, Tróia estava na foz de um rio, — disse o


guia. — Com o tempo, o lodo se acumulou, empurrando a costa para
fora. A verdadeira causa da guerra de Tróia não foi uma mulher
bonita. Era o controle sobre os Dardanelos6 e as rotas comerciais para o
Mar Negro. Provavelmente também é por isso que o local foi finalmente
abandonado. Nenhum valor estratégico real, exceto boas terras agrícolas.
— Ele terminou com um encolher de ombros pragmático.

— Ir para a guerra por causa de uma mulher é muito mais poético,


— observou vovó.

— Mas muito menos provável, — Marian disse secamente.

— Eu sou uma romântica, — disse vovó. — Vou ficar com a versão


ficcional. — Ainda discutindo, elas sumiram de vista virando uma esquina,
deixando-o sozinho com Rose.

— Então o Egeu provavelmente não rompeu as paredes com um


cavalo oco, também, — ela disse, olhando ao redor. — Estou um pouco
desapontada.

Ela estava de pé junto às altas muralhas que se dizia pertencer à


Tróia de Aquiles e Pátroclo, de Helena, Heitor e Paris. Frases do poema
surgiram na mente de Keenan, glorificando a guerra, a luta de um
guerreiro pela vitória, pela justiça, pelo patriotismo. — Ninguém quer
admitir que vamos à guerra por coisas como comércio. Então, nós o
vestimos com patriotismo e liberdade, tornando-o menos feio.

— Controlar as rotas comerciais para o Mar Negro é muito menos


memorável do que o amor e um caso ilícito entre Paris e Helena.

6
é um estreito no noroeste da Turquia ligando o mar Egeu ao mar de Mármara. Assim como o estreito
de Bósforo, ele separa a Europa (neste caso, a península de Galípoli) da Ásia
— É menor do que pensei que seria, — disse ele após um longo
silêncio. Expressar o pensamento foi mais fácil com Rose ao seu lado. —
Isso inspirou o poema épico mais poderoso de toda a história
humana? Achei que seria... maior.

Ela olhou em volta. As abelhas zumbiam dentro e fora da colmeia


em uma árvore que crescia na grama na terra acima delas. — O tamanho
torna isso muito mais atraente. Pense nessas pequenas passagens
abarrotadas de corpos de guerreiros, não importa como eles tenham
chegado aqui. Lutando. Morrendo. — Ela olhou para ele, a apenas alguns
centímetros de distância. — É extraordinariamente íntimo. A guerra soa
tão grande, em uma escala tão grande. Talvez tenha sido quando eles
lutaram nas praias. — Ela encolheu os ombros. — Talvez nunca tenha
acontecido. Talvez a abrangência apresentada no poema contribua para o
mito, que é uma metáfora para as batalhas que travamos
internamente. Amor. Honra. Respeito. Um lugar ou pessoas para chamar
de lar.

Ele não sabia o que dizer.

— O que você está pensando? — ela disse, um sorriso


interrogativo em seu rosto. — E não me alimente com nenhuma linha de
besteira, fiz a Jack essa pergunta. Eu sei de besteira.

— Você já ouviu falar da abordagem do homem morto


caminhando para o combate? — Ela balançou a cabeça.
— É um truque para lidar com o terror. Mesmo com o treinamento
que temos, ele ainda vem às vezes, então você simplesmente assume que
está morto. Que você nunca voltará para casa. Você não tem nada a
temer, porque já está morto. Você apenas... luta, segue em frente com a
missão, porque você não tem mais nada a perder.

Ela arrastou os dedos ao longo das paredes de terra enquanto eles


viravam uma esquina. — É eficaz?

— Ninguém nunca me disse o contrário, — disse ele, achando


graça da ênfase dela em aspectos práticos. Caminharam em silêncio por
um tempo, olhando entre as paredes e o céu azul acima. Ele tentou
imaginar ver apenas essas paredes, este céu, agachado em uma posição
defensiva com outros troianos, então tentou imaginar a vista do outro
lado, enormes faixas de mar, céu e praia. Tentou imaginar o que viria a
seguir, mas não conseguiu. — Estou pensando que tudo o que há de
errado comigo está errado com os homens desde que rastejamos para
fora dos oceanos, — disse ele finalmente. — Olhe para este lugar. Sitiada,
saqueada e reconstruída, depois saqueada novamente. Então
esquecido. O que resta são as histórias que as pessoas contaram sobre as
batalhas e algumas paredes. Tudo por uma mulher.

Um sorriso curvou seus lábios. — Você está dizendo que não iria
para a guerra por mim? Que meu rosto não vai lançar mil navios?

Ele não sabia o que dizer sobre isso. Foda-se as rotas


comerciais. Naquele momento, entendeu cada história de amante e do
ciúme, a paixão vulcânica, a raiva e a possessividade que levariam um
homem a lançar mil navios para recuperar uma mulher. De repente, ele
sentiu que poderia construir uma máquina de cerco com as próprias
mãos, enfurecer-se pelas paredes.

— Talvez não haja nada de errado com você, — disse ela,


estudando-o com uma consciência que o chamuscou. Uma abelha pousou
em seu cotovelo e gingou em seu braço. Ela observou, sem vacilar, até que
levantou vôo. — Talvez você seja do jeito que é e só precise encontrar o
caminho de casa.

***

Por insistência de Vovó, Rose corajosamente escalou até ao topo


da réplica do cavalo de Tróia de madeira para acenar para Keenan do
quarto andar. Ele ficou no chão para tirar fotos com várias câmeras e
telefones celulares, depois exibiu o Land Rover enquanto faziam compras.

Rose saiu da loja de presentes com uma sacola que enfiou na mala,
guardada no compartimento traseiro do Land Rover. — Quanto tempo
para Istambul? — ela perguntou.

Ele olhou para o relógio. — Se elas terminarem as compras


obrigatórias e as paradas no banheiro na próxima meia hora ou mais,
devemos estar em Istambul a tempo para o jantar.
— Elas estão ansiosas para cruzar o Dardanelos, — disse Rose. —
Obrigada por reorganizar o cronograma de forma tão eficiente.

— De nada.

— Você vai passear em Istambul com a gente? — ela perguntou


suavemente. Ele não tinha planejado. Rose e as Babes poderiam se cuidar
em uma cidade moderna; os ônibus e táxis eram fáceis de usar e a maioria
das pessoas falava inglês o suficiente para ajudar. Ele planejou deixá-las
em seu hotel no distrito de Beyoğlu, e dar a Rose suas informações de
contato caso algo acontecesse e voltar para sua vida.

— Sim, — disse ele. — Mas vale ir até ao fim.

***

O clima se animou durante a viagem para Istambul. Entre eles, as


Babes elaboraram um cronograma que incluía o Mercado de Especiarias, a
Mesquita Azul, a Hagia Sophia e um cruzeiro no Bósforo.

— Vamos ficar no centro da vida noturna de Istambul, — disse


vovó. O vento nos estreitos de Dardanelos agitou as páginas de seu
guia. — Bay-og-lu. É assim que você diz?

— Bey-o-lu, — disse Keenan, então se repetiu enquanto tirava o


chapéu de Florence da brisa antes que voasse para fora da balsa. — O g é
mudo. — Florence enfiou o chapéu na cabeça e apertou a alça do queixo,
então repetiu a palavra.

— Onde você vive? — Rose perguntou, inocente como uma


freira. Suas bochechas estavam ligeiramente queimadas de
sol. Encontrou-se querendo pressionar seus lábios neles, sentir o calor.

— Perto da Torre Galata, — disse ele.

— Fica a apenas alguns quarteirões do nosso hotel! — Grannie


exclamou, virando as páginas do guia. — Isso é conveniente.

— Sim, senhora, — disse ele, o rosto sério. — Muito conveniente.


— Rose simplesmente sorriu e virou o rosto para o sol.

***

De volta ao Land Rover, cruzaram a ponte Galata e, lentamente,


abriram caminho através do tráfego até a entrada do hotel. — Não posso
estacionar aqui, — disse Keenan. — Vou descarregar suas malas e
devolver a caminhonete.

O telefone de Rose começou a apitar. — Oh, graças a Deus, — ela


disse, colocando sua bolsa no ombro e pegando sua grande mala. — Eu
tenho serviço de celular!

As Babes gemeram. — Keenan, tire isso dela, — disse Marian.


Rose apertou-o contra o peito. — Você precisa me enviar uma
mensagem para saber para onde nos encontrar para jantar esta noite,
certo?

— Claro, — disse ele, sem graça como pudim de baunilha.

***

Ele tinha toda a intenção de encontrá-las para jantar, mas quando


voltou para seu apartamento, seu celular tocou. Quando a mensagem de
Rose chegou, estava ao telefone com o líder de sua equipe, repassando os
detalhes para extrair um negociador de reféns de uma situação
desagradável na Síria. Toda a equipe estava de prontidão, pronta para
voar em 30 minutos.

Não posso fazer isso. Desculpe.

Trabalho?

Trabalho.

Compreendo.

***
Quando Rose desceu os degraus do hotel às sete da manhã
seguinte, celular na mão e GPS fornecendo direções para um Starbucks a
poucos metros de distância, onde poderia obter seu primeiro macchiato
de caramelo grande em quase uma semana, a última pessoa que esperava
ver do outro lado da rua pavimentada era Keenan.

Mas lá estava ele. Vestido com jeans, uma camisa de botão e um


suéter de gola redonda. Com sua barba e cabelo loiro arenoso, ele quase
se misturou com a rua. Mas esse era o objetivo dos SEALs. Os profissionais
silenciosos. Agora Keenan parecia muito quieto e muito profissional. O
que quer que o tenha afastado de um jantar realmente excelente na noite
anterior ainda ocupava noventa por cento de sua mente.

— Você consegue ler mentes? — ela perguntou levemente


enquanto cruzava a calçada para ficar na frente dele.

— Achei que você estaria em busca de um café chique.

— Pensei em correr, — disse ela, sentindo-se um pouco


culpada. Eles estavam se movendo em um ritmo acelerado pela quase
vazia Avenida İstiklal, evitando um varredor de rua que limpava o lixo da
noite anterior.

Ele lançou-lhe um olhar malicioso, mas deixou passar. — Qual é o


plano para hoje?
— Ver tudo. Pacote. Obrigada, — ela disse, e passou pela porta
que ele segurou para ela. Só assim o ritmo de seus pés se tornou o ritmo
da conversa, igualmente vivo, superficial. Ela não gostou.

Seu telefone tocou, o número de um colega piscando na tela. Era


um fornecedor, alguém que provavelmente não sabia que estava de
férias. O instinto a obrigou a atender, mesmo que apenas para dizer que
estava de férias e que ele poderia ligar para Hua Li?

Keenan estava olhando furtivamente para seu telefone. — Pare


com isso, — disse ela.

— Desculpe. É o trabalho.

— Eu sei. Jack também faz isso, — disse ela.

— Você vai responder isso?

Ele estava lá, bem ao lado dela, um Navy SEAL em um Starbucks


em Istambul. Dela pelas próximas vinte e quatro horas. — Não, — disse
ela, e passou a chamada para o correio de voz.

— Mais um dia, — ele disse quando tomavam seus cafés.

— Mais um dia.

— E mais uma noite.

Sua voz era baixa, áspera, quase inaudível na barulhenta multidão


matinal da cafeteria, mas não havia como confundir seu tom, o desejo.
— Mais uma noite, — ela concordou. Ela descobriria uma maneira
de explicar para a vovó. — Então vou para casa.

Com a palavra casa, o arrependimento passou por seu rosto antes


que ela o desfizesse. Seu coração estava se contraindo e batendo em seu
peito enquanto as emoções romperam por ela. Mais um dia mágico de
férias, mais uma noite roubada com seu amante secreto, tudo junto com o
arrependimento crescente e a perda iminente. Por baixo de tudo isso,
havia uma pergunta que não podia mais ignorar.

Quando Keenan iria para casa?

***

O dia tinha uma sensação de magia urbana, onde os andares


literalmente se abriram para revelar antigas cisternas romanas e as ruas se
estreitaram em becos que haviam sido habitados por dois mil anos. Eles
começaram com a Hagia Sofia, maravilhando-se com a arquitetura
bizantina do prédio e suas ricas decorações, traçando os buracos
em cruzes de mármore de mil anos usadas por incontáveis dedos de
peregrinos. Foi uma curta caminhada, passando pelo Hipódromo, até às
mesquitas, cúpulas e arcos elevados da Mesquita Azul. Tiraram os sapatos
e cobriram os cabelos para entrar e olhar os mosaicos intrincados.
— Não consigo imaginar o planejamento que envolveu a
construção disso, - Rose murmurou para Keenan.

Um sorriso curvou os cantos de sua boca. — Você poderia


conseguir.

— Adoraria o desafio, — ela disse, então olhou em volta. —


Perdemos a vovó de novo.

Eles a encontraram do lado de fora, ajudando um grupo de


colegiais a praticar o inglês até que a professora as reuniu e as trouxe para
dentro. Rose reuniu seus próprios pintinhos e seguiu Keenan até um
restaurante. Keenan conhecia a família que administrava o lugar, e a
comida era deliciosa, apimentada e muito quente. Em seguida, partiram
novamente, vagando pelo Mercado de Especiarias antes de embarcar no
barco para um cruzeiro de uma hora pelo Bósforo. O sol da tarde refletia
nos prédios modernos e destacava os restos das muralhas da cidade,
escondidos nas ruas.

— Posso ver por que você mora aqui, — disse Rose. Eles
ficaram cotovelo a cotovelo na amurada do barco de cruzeiro, à deriva por
árvores repletas de flores de cerejeira rosa em meio a mansões
elaboradas e habitações lotadas. O céu estava em um tom irreal de azul, o
sol brilhava como spray espalhado pelas ondas. Keenan parecia em casa
com o vento em seu rosto e o movimento do barco.

Ele encolheu os ombros. — É conveniente.


— Você poderia morar em qualquer lugar? — ela perguntou,
testando, sondando. Curiosa.

Ele deixou de examinar a água para olhar para ela. — Este é um


bom local para trabalhar.

— Oh. — Ela observou um iate passar, os ocupantes ignorando


orgulhosamente todos os outros ao redor. — Mas você poderia fazer
outro trabalho.

— Tenho um conjunto de habilidades bastante limitado, — disse


Keenan. — É um bom conjunto de habilidades, não me entenda mal, mas
não há muito uso para ele no mundo civil.

— Eu não sei sobre isso, — disse ela, e se virou para apoiar os


cotovelos na grade. — Estamos contratando um Diretor de Segurança.

Ele fez a cortesia de manter o rosto sério. Jack riu abertamente


dela quando ela deu essa dica. — Como manter um parque de escritórios
seguro?

— É um pouco mais complexo do que isso. Temos instalações de


armazenamento e dutos em todo o país, — disse ela com naturalidade. —
Ativos no valor de centenas de milhões de dólares, protegidos da ameaça
do terrorismo doméstico em grande parte por estarem no meio do
nada. Não se trata apenas de proteger uma fazenda de cubos cheia de
drones de escritório, embora isso também fizesse parte do trabalho.

— Com sede em Lancaster?


— Muitas viagens, mas sim. Jack está lá, então você conhece
alguém, — ela disse um tanto falsamente.

— E você. Sua avó, Marian e Florence. Preciso de um patrocinador


para me associar ao Lancaster Garden Club?

— Oh, sim, — disse ela, seguindo sua linha de provocação. — É um


processo de candidatura rigorosa. Eles não deixam qualquer um entrar no
Lancaster Garden Club.

— O que diabos você está dizendo, Rose? — Vovó perguntou,


caminhando ao longo da grade para se juntar a eles. — Qualquer um pode
entrar no Garden Club. Adoraríamos deixar mais jovens entusiasmados
com a jardinagem. Você está pensando nisso?

— Estou, — disse ela, seu olhar no rosto de Keenan.

— Pensei que você matasse cactos.

— Eu posso aprender, — ela disse, segurando seu olhar. — Com a


pessoa certa ao meu lado, posso aprender qualquer coisa.
CAPÍTULO OITO

Ele a levou para jantar, um bom jantar em um bom restaurante à


sombra da Torre Galata, porque as Babes disseram que os ‘jovens’
deveriam se divertir na última noite de Rose em Istambul. Ele sentiu a
mão da vovó naquilo, ficou envergonhado por um momento, então
percebeu que qualquer um que assistisse Rose praticamente criar Jack
Powell não ficaria chocado com muita coisa.

Mesmo no final de um longo dia conduzindo as Babes pelo que


pensava ser a cidade mais legal do mundo, e tinha estado tempo
suficiente para ser capaz de fazer essa distinção com autoridade, Rose
parecia mais relaxada do que quando a viu pela primeira vez, segurando
seu celular como se fosse a única coisa entre ela e uma longa queda de um
penhasco íngreme. Ela traçou a borda de sua taça de vinho e sorriu para
ele. Segurou a mão dela quando ele se ofereceu para servir mais. Sorriu
para ele com uma emoção que simplesmente não reconheceu, que levou
séculos para identificar, até que algo primitivo, provavelmente
remanescente de um tempo antes da memória, quando era um bebê de
colo, veio à tona em sua consciência.

Foi ternura. Não murmúrio maternal, ou simpatia fingida e


agitação, mas a consciência única de Rose para ele como um homem, sua
força, sua vulnerabilidade, tudo se fundindo em um único olhar lançado
sobre a toalha de mesa de linho branco, iluminada pela luz de velas e o
pôr do sol da primavera. Simplesmente não sabia como responder a
isso. Nada nele era terno, suave, gentil. Nunca houve necessidade disso,
muito menos espaço para isso, em sua vida. Nunca teve. Não sabia como
responder a isso. Sua ignorância o frustrava, deixando-o de volta onde
havia começado, em Istambul, mas foi alem disso, para as escolhas que
fez aos dezessete anos, para um futuro que não poderia imaginar, muito
menos viver. Para quebrar o feitiço, ele olhou para o relógio.

— Você tem algum lugar para estar? — Rose perguntou, curiosa,


não irritada.

— Tenho que alimentar o gato da minha vizinha, — admitiu. — Ela


está trabalhando até tarde esta noite. O gato é basicamente um vira-lata
que ela adotou.

— Quão doméstico da sua parte, — ela disse com um sorriso. —


Qual o nome dele?

— Asra o chama de Edjer, que significa 'dragão'. Eu o chamo de


filho da puta, — disse. Então, acima da risada dela, ele acrescentou: — Ele
é um cara esperto que ganha todas as brigas com os outros gatos da
vizinhança e me arranha quando o alimento.

Seu sorriso se alargou. — Essa é a desculpa perfeita para me


convidar de volta para sua casa. Para conhecer o gato malvado da sua
vizinha.
Ele estava com problemas. Muitos problemas. Deveria apenas
acabar com isso agora, sair enquanto a intenção era boa, enquanto ainda
tinha sua incerteza. Eles não fizeram promessas, compartilharam nada
mais do que alguns dias e sua cama. Foi simples. Realmente deveria
dormir um pouco. Posso receber uma ligação. — Melhor do que perguntar
se você quer ver minhas gravuras?

— Muito melhor, visto que não sei o que são gravuras.

— Venha para a minha casa.

— Preciso estar de volta às cinco da manhã, — ela disse, agarrando


sua bolsa. — Isso me dará tempo para tomar banho e fazer as malas antes
que nosso táxi nos leve ao aeroporto.

O som que saiu de seu peito soou como uma risada, mas na
verdade era todo o ar deixando seus pulmões, porque foi nesse exato
momento que soube que estava se apaixonando por ela. Pela irmã de Jack
Powell, sexualmente pragmatica ou pragmaticamente sexy. No
comando. Vivendo em outro continente.

Com a mão dela na dele, a conduziu


por ruas pavimentadas com tijolos, alinhadas com casas vivas pintadas,
convertidas em apartamentos, subindo as escadas para sua unidade
no último andar. Uma cozinha alinhava-se na parede ao lado da porta e
uma cama, desfeita, estava perto da janela. Uma mesinha com duas
cadeiras ocupava o pouco espaço que restava entre a cozinha e a cama.
A cama.

Esta noite era diferente. Esta noite não era em um quarto de hotel
anônimo, mas no que passava por sua casa. A luz da lua cheia entrava pela
porta francesa que dava para sua varanda, caindo em uma faixa larga
sobre o piso de madeira marcado e a cama. Ele cruzou a sala, abriu a porta
e fez um som suave de ch-ch-ch. Com um mrowr áspero, Edjer, também
conhecido como filho da puta, quase todo negro com peito branco e uma
listra no nariz, saltou agilmente da prateleira de vime da varanda de Asra
para a grade da sua, e de lá para o chão. Ele jogou um pouco de comida
seca de gato em uma tigela e foi recompensado com um assobio e um
golpe. — De nada, filho da puta, — ele murmurou, a risada suave de Rose
mascarando as palavras.

Ele se virou para encontrá-la parada bem atrás dele. Ela agarrou
seu pulso e puxou-o para a cama, pedindo-lhe gentilmente que se
sentasse. Então ela montou nele. Suas mãos agarraram o quadris dela,
firmando-a no colchão enquanto o beijava, lento, quente e profundo, sua
língua acariciando a dele até que ficou duro, desesperado. Seus braços
envolveram suas costas esguias.

Ela puxou o suéter sobre a cabeça dele, então o empurrou de


costas para que pudesse desabotoar sua camisa, beijar seu peito e
abdômen até a calça. Ela deslizou de joelhos no chão e abriu o zíper de
sua calça, aliviando suavemente seu pau duro de sua cueca. Ele ergueu os
quadris para deixá-la puxar as calças até às coxas, então puxou o elástico
de seu rabo de cavalo e permaneceu apoiado nos cotovelos para assistir.

Golpes feitos de maneira errada pareciam superficiais, uma troca


por algo que ela queria mais tarde. Golpes bem feitos o faziam sentir-se
como um Deus que recebe o que lhe é devido. Eles acertaram cada um de
seus botões.

Estar, com Rose, era correto e muito mais.

Ela virou o jogo contra ele, desta vez forçando-o a desacelerar,


usando as mãos e a boca em movimentos fluidos, lisos e alternados até
que ele estivesse forte o suficiente para cravar os pregos e tremendo de
desejo.

— Venha aqui, — disse ele, com voz de uísque, brusca.

— Eu não t… — ela disse.

— Você terminou, — disse ele, interrompendo-a. Ele agarrou seu


braço e puxou-a de volta para a cama. Uma rápida agitação de mãos a
despiu até a cintura. Ela tirou a calcinha enquanto ele se embainhou.

Vê-la segurar a saia fora do caminho, sentar sobre seu pênis e


deslizar para baixo, para baixo até que estivesse tão profundamente
dentro dela quanto podia, enviou um calor derretido pulsando por suas
veias, eletrificando seus nervos. Sua cabeça caiu para trás, levantando
seus seios, pontilhados com mamilos em botão de rosa. Ele se sentou,
passou os braços em volta da cintura dela e se curvou, levantando os
quadris para dirigir mais fundo, lambendo os picos tensos.

Ela deu uma risada feroz e começou a montá-lo, movimentos lisos


e rítmicos que trabalharam a cabeça de seu pênis sobre aquele ponto
doce dentro dela. Ele teria jurado que o vapor estava subindo de sua pele,
cheirando a sexo e suor e seus sucos. Ele podia sentir o gosto em sua pele,
no ar.

Tudo era exatamente igual, exceto que era totalmente diferente. O


cabelo dela caiu ao redor de seus rostos, entrando em sua boca, colando
em sua bochecha, em sua barba. Ela o observou, fechando os olhos
ocasionalmente quando um ângulo específico a fazia estremecer, por
dentro e por fora, mas na maior parte do tempo, ela o observava. Seus
olhos tinham um calor terno que ele não reconheceu, mas que o chamou
bem no fundo, uma chamada de claridade, que o abriu quando ele se
desfez em seus braços.

Quando ele voltou para a cama, ela estava dormindo. Ajustou o


alarme para às quatro e meia e deitou-se ao lado dela para ver a lua cruzar
o céu e sumir de vista. Na varanda do outro lado do beco, Edjer / Filho da
puta, de olhos arregalados e curioso para um gato, olhou para dentro da
sala, claramente se perguntando o que diabos ele estava fazendo.

Ele se perguntou a mesma coisa.


***

— Rose. Rose, querida, acorde.

Era a hora de ir. Sabia antes de abrir os olhos que Keenan estava
ao lado dela, seus lábios contra sua orelha. — Estou acordada, — ela disse
grogue. — Estou indo.

Ele ficou em silêncio enquanto ela se levantava e se vestia, em


seguida, pegou a bolsa de ombro da cadeira. Dividida, olhou para ele por
um longo momento, então remexeu dentro e tirou a sacola de plástico
com o logotipo da loja de presentes em Tróia e a colocou sobre a mesa. —
Eu nunca li A Ilíada, mas li A Odisseia para a aula de Literatura
Mundial. Você já leu?

— Não. — Sua voz estava rouca de sono, talvez com outra coisa
também. Mas se aprendeu alguma coisa criando Jack e uma vida inteira
trabalhando com homens, era quando empurrar e quando recuar. Ela não
tinha nada a ganhar dando conselhos, oferecendo sugestões, interferindo
mais do que ela tinha. Apenas Keenan poderia decidir fazer aquela viagem
final, aquela que o traria para casa.

Ela deu um tapinha na bolsa. — Dê uma chance. Obrigada por


tudo, Keenan. Adeus, — disse ela, e saiu, trotando pelas ruas silenciosas
de Beyoğlu, vazias, exceto pelos garis e vans de entrega. Ela subiu as
escadas para o saguão, contendo apenas um funcionário noturno
bocejante. — Oh, — disse Rose quando entrou em seu quarto para
encontrar Vovó lutando com uma mala cheia. — Achei que você ainda
estaria dormindo.

— Esqueci de passar na floricultura e pegar alguns daqueles bulbos


de tulipa que vimos ontem. Ah bem. Não tenho espaço para eles de
qualquer maneira, — vovó disse distraidamente, puxando o zíper de
expansão. — Achei que seria mais fácil esta manhã, mas não é. Você teve
uma boa noite?

— Sim, — disse Rose enquanto cruzava a sala para se apoiar na


mala de vovó. Exceto pelo fim. O final doeu mais do que pensava, mais do
que deveria para uma aventura de férias. Mas assistiu Jack lutar com sua
mente, seus nervos, seu futuro. Os guerreiros tiveram que encontrar seu
próprio caminho para casa, lembrou a si mesma. A melhor coisa que
poderia fazer por ele era estar lá, se ele quisesse fazer aquela viagem. —
Não... mencione isso para Jack, ok?

— Mencionar o quê? — Vovó disse, mas a preocupação em seus


olhos desmentiu sua resposta alegre quando ela fechou o zíper.

— O que acontece em Istambul fica em Istambul. Não é como se


ele fosse se mudar para Lancaster. Posso colocar um pouco disso na sua
mala, querida? Fiquei um pouco louca no Mercado de Especiarias ontem.

Um táxi as levou com suas malas volumosas ao aeroporto com


tempo de sobra para o vôo. Uma vez a bordo, Rose comprou o WiFi a
bordo e passou o vôo de dez horas limpando sua caixa de entrada, lendo
todos os e-mails, arquivando o que a eficiente Hua Li havia feito,
respondendo o que precisava ser respondido. Em seguida, se acomodou
para ler os currículos da reunião do comitê de contratação do mês
seguinte e tentou não pensar em Penélope, a esposa de Odisseu, ou como
seria esperar semanas, meses, até anos, pelo homem por quem ela se
apaixonou para voltar para casa, para ela.

***

Um negociador do Departamento de Estado neutralizou a situação


dos reféns, deixando Keenan perdido em Istambul. Ele levou um minuto
para identificar como se sentiu quando recebeu a ligação. Se sentiu
aliviado. Então, pegou o exemplar de A Odisseia de Rose e se sentou em
cafés sob o sol da primavera, bebendo xícara após xícara de café turco e
lendo o outro épico homérico, sobre a viagem de Odisseu para
casa. Pensativo, finalmente fechou o livro e recostou-se na cadeira de
metal aquecida pelo sol para pensar nos exemplos que havia seguido
quando jovem. Mas em Tróia, ficou cara a cara com a realidade de que as
guerras vieram e se foram, cidades surgiram e caíram, e tudo em que
construiu sua vida seria enterrado sob as camadas da terra e do tempo. O
jeito de seu pai era um jeito de viver. Consumiu Heitor, Aquiles, Pátroclo,
Paris, Agamenon e os homens que lutaram com eles. Mas Odisseu, o
malandro astuto com uma mulher forte e inteligente esperando por ele,
encontrou o caminho de casa.

Se Odisseia podia fazer isso, ele também podia.

Ele verificou o site da Field Energy. O cargo de Diretor de


Segurança ainda estava aberto, as entrevistas acontecendo
continuamente. Passou o dia atualizando seu currículo e cartas de
recomendação, as que havia redigido quando se candidatou ao emprego
na Gray Wolfe Security. Talvez conseguisse o trabalho. Talvez não
quisesse. De qualquer forma, mostraria a Rose que estava pronto para
voltar para casa.
DUAS SEMANAS DEPOIS

Rose sentou-se na única cadeira vazia na extremidade da mesa da


sala de conferências, ao lado de Patrick Field, o fundador e CEO da
empresa. Antecipando uma longa tarde de entrevistas com os candidatos
finais, acenou com a cabeça para os outros membros do comitê de
contratação e tirou a tampa do café para adicionar alguns pacotes de
açúcar. Kelly, a VP de RH entregou a ela um pacote de papel em seu
caminho para pegar o primeiro candidato.

— Conseguimos um bom para o Diretor de Segurança, — disse


Patrick com uma piscadela. — Coisa de última hora, mas o melhor que
tivemos até agora.

Os candidatos precisavam ter experiência em segurança


cibernética ou experiência em aplicação da lei, e não havia como Rose
enfiar na cabeça quaisquer detalhes pertinentes do currículo, então nem
se incomodou. Café com açúcar adequadamente, colocou o papel de lado
e abriu seu laptop para fazer anotações. Como o membro mais novo, ela
atuava como secretária do grupo, registrando as respostas específicas dos
candidatos para comparar com as impressões dos outros membros. Teve
apenas um momento de sobra para olhar para o céu azul da
primavera. Estava começando a se perguntar se algum céu poderia se
comparar ao azul quase real dos dias em Éfeso e Tróia, ou se essa cor era
exclusiva daquele local específico na terra.

Kelly trouxe o primeiro candidato, encerrando seu devaneio. Ela


desviou sua atenção do céu para a porta no final da sala a tempo de ver
Keenan entrar.

Seu queixo caiu ao mesmo tempo que seu coração saltou várias
batidas. Ele estava vestido com um terno marinho, camisa branca
impecável e uma gravata listrada de azul e vermelho sutil, sua barba bem
aparada.

— Este é Keenan Parker, ex-membro dos SEALs da Marinha dos


Estados Unidos, — disse Kelly, depois enumerou os nomes e cargos de
todos na mesa.

Patrick a cutucou enquanto Keenan estava trocando apertos de


mão firmes com os outros membros do comitê. — Quero esse cara, —
disse ele. — Ele é esperto. É durão. Com certeza, nenhum depósito será
explodido sob sua supervisão. Eu quero esse cara.

Conheço a sensação, pensou Rose.

— Senhora, — disse Keenan. Sua mão apertou a dela.

— Olá, — Rose se ouviu dizendo, rezando para que suas bochechas


não estivessem tão vermelhas quanto pareciam.

Todos esperaram enquanto Keenan se sentava. — Antes de


começarmos, — disse Rose, — devo esclarecer que o Sr. Parker e eu nos
conhecemos. Ele e meu irmão serviram na mesma equipe nos SEALs e ele
serviu como nosso guia na recente viagem de minha avó à Turquia.

— Eu sei, — disse Patrick. — Ele disse que você mencionou o


trabalho para ele. Isso é bom. Vocês já sabem como trabalhar juntos.

Não vou corar. Não vou corar. Não cheguei aos trinta anos como
diretora sênior para ficar vermelha como uma colegial em uma reunião do
comitê de contratação.

— Keenan e eu trabalharemos muito bem juntos, — disse ela. A


política de nepotismo da empresa permite que colegas sem relação de
subordinação direta trabalhassem juntos? A Field Energy era uma
empresa privada. Isso ajudou. Keenan não se reportaria a ela, nem ela a
ele, e suas carreiras seguiram arcos separados. Além disso, talvez ele não
quisesse começar com ela novamente. Talvez só quisesse o emprego.

— Não a irrite, — Patrick disse a Keenan. — Ela é a melhor no


negócio.

Kelly pigarreou e pegou a caneta. — Keenan, por que você não nos
conta um pouco sobre você?

***

Quando ela saiu do prédio às cinco, Keenan estava encostado em


seu BMW série 3. Ele afrouxou a gravata apenas o suficiente para expor
sua garganta e estava olhando para longe, as mãos enfiadas nos bolsos da
calça. Ele se parecia com qualquer outro drone de escritório milenar
barbudo.

Ele parecia o homem que ela amava.

— Como me saí? — ele perguntou quando ela parou na frente


dele.

— Seu telefone ainda não tocou? — ela disse, surpresa. — Patrick


quer você, e o que Patrick quer, Patrick consegue.

— Ele parece um cara legal.

— Ele começou nos campos de petróleo e trabalha mais do que


qualquer outro na empresa. Ele é um atirador direto e aprecia o mesmo
em sua equipe. Ele valoriza a competência acima de tudo e a lealdade
acima de tudo. Você vai se dar muito bem. Mas, — disse ela, franzindo os
lábios, — suponho que você pesquisou antes de entrar pela porta da
frente.

— Pesquisei, — disse ele. — Conheço alguns caras do setor que


fornecem segurança para plataformas de petróleo. Fiz algumas ligações.

— Você poderia ter me contado, — ela disse.

Ele virou o rosto para ela, seus olhos eram ilegíveis por trás das
sombras de lâmina espelhada, o menor indício de hesitação na torção de
sua boca. — Pensei nisso, — disse ele, — mas queria ver seu rosto quando
me visse. Caso você tenha mudado de ideia.
— Não mudei de ideia, — disse ela. — Tenho pesquisado
empregos em Istambul, verdade seja dita. Mas algo dentro de mim disse
que você chegaria aqui, de uma forma ou de outra.

— Então você ainda me quer.

— É claro que ainda quero você, — disse ela. — Mas tenho mais
uma pergunta da entrevista para você.

— Manda.

— Não há resposta certa ou errada, mas se você pudesse estar em


qualquer lugar do mundo agora, onde estaria?

Ele considerou a pergunta por um momento. — Essa é boa. Já vivi


em todo o mundo, em todos os tipos de circunstâncias. Mas é aqui que
estaria.

— Não em Istambul ou em Virginia Beach. Em Lancaster, — ela


confirmou. — A cidade mais chata do mundo.

Ele apontou para o asfalto sob seus pés. — Tenho dirigido por aí a
tarde toda. Lancaster não é tão chato, mas quis dizer bem aqui. Neste
estacionamento, com você. — Seu rosto ficou sério. — Eu me apaixonei
por você no momento em que você se aproximou de mim e disse que
estava sofrendo de fuso horário como o inferno. Estou voltando para casa,
para você.

Ela sabia que não deveria ficar no estacionamento da empresa e


beijar o recém-contratado Diretor de Segurança com mãos e língua
gananciosas. Não deveria se deleitar com a mudança de lã fina contra suas
pernas nuas, com a força de tração de seus ombros e torso sob uma
camisa de algodão fino. Nada isso era sobre uma cerca branca comum,
média, e crianças perfeitamente espaçadas e talvez até mesmo um golden
retriever.

Keenan era tudo que não sabia que queria e muito mais.

— Eu contarei a Kelly sobre nós amanhã, — ela disse quando ele


voltou para respirar.

— Ok, — disse ele, roçando os lábios com o polegar, sua barba


raspada no queixo. — Jack vai me matar.

— Não, ele não vai, — disse Rose, completamente confiante. —


Quer saber por quê? — Ele sorriu para ela.

— Por quê?

— Até os Navy SEALs respondem às suas irmãs mais velhas.

Seu sorriso se alargou, então a empurrou para dentro do carro e a


beijou novamente.

FIM
Próximo Lançamento

A história de Jake, o irmão de Rose.

The SEAL’s Rebel Librarian.

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