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Pessoas, animais ou objetos — grandes personagens fazem grandes histórias. Quem não
conhece D. Quixote, mesmo sem ter lido as aventuras do fidalgo arruinado, louco e idealista,
fruto da imaginação de Miguel de Cervantes? Quem nunca ouviu falar do Super-Homem, criado
por Jerry Siegel, ainda que não tenha folheado a banda desenhada ou visto o herói voando
através do ecrã? Estas figuras imaginárias são incontornáveis e fazem parte da cultura comum
(Mancelos 50).
Para construir o enredo do seu guião, pode partir das personagens. São elas que
praticam as ações ou que as sofrem; é com elas que simpatizamos ou criamos antagonismo; são
elas que imitamos, numa tentativa de nos tornarmos na pessoa que sonhamos ser (Frensham
86).
Tipologia
A ficha de personagem
Escrever é a arte de mentir bem. Para tanto, o guionista deve imaginar que o herói e o
antagonista são pessoas reais. Uma técnica simples, mas eficaz, para criar uma personagem
consiste em entrevistá-la, de forma a criar uma ficha. Registe os seguintes dados, no
computador ou num bloco de notas: a) Nome, alcunha, género, idade; b) Aspeto físico; c) Traços
psicológicos; d) Vida amorosa e familiar; e) Religião e/ou espiritualidade; f) Ideologia; g)
Emprego e ambições profissionais; h) Educação; i) Discurso (formal, informal, gíria); j)
Objetivo/missão no enredo (Marshall 34-35; Timbal-Duclaux 101-102).
Naturalmente que não irá plasmar todos estes dados na história, sobretudo tratando-se
de uma curta-metragem. No entanto, conhece agora as principais figuras do avesso. Ray
Frensham afirma: “Mesmo que não venha a empregar 80% da informação acerca da sua
personagem no argumento, precisa de a conhecer. Não apenas porque clarifica e define aspetos
para si, mas também porque, em determinada altura, alguém (um editor, produtor, realizador
ou ator) apontará para o guião e perguntará: por que motivo a personagem diz/faz isto?
Precisará de ter uma resposta plausível, e um trabalho atento sobre os actantes proporcionará
essa explicação” (Frensham 70).
Descrever a personagem
Não existe uma fórmula para descrever uma personagem num guião. Contudo, é
importante referir pormenores que ajudam o leitor do argumento a visualizá-la e, mais tarde, a
fazer o “casting”. Proponho este modelo: nome; idade (a menos que se trate de uma criança,
em que ter 2 ou 6 anos é completamente diferente, indique só a faixa etária); aspeto (altura,
peso, vestuário). Por exemplo: Ana é uma jovem na faixa dos vinte anos, alta, de peso médio,
vestida com uma camisola azul, calças de ganga, e sapatilhas pretas. (…)
Mancelos, João de. Como escrever um guião para curta-metragem. 2.ª ed. Lisboa: Colibri, 2021.
3
BIRGER
Bem, o verão está quase a chegar!
(sorri)
Maravilhoso.
BIRGER
É um livro em inglês?
BIRGER
(hesitante)
Então, vai para a escola?
BIRGER
Estou a caminho do trabalho.
Volvo... Trabalho na Volvo.
(acena)
É um bom emprego. Gosto
de trabalhar lá.
NIELSEN
Por favor, vá embora.
Birger afasta-se.
BIRGER
Ei!
FUNCIONÁRIA
(para o colega)
Ernst! Vem cá!
ERNST
Olá!
BIRGER
Cheguei demasiado cedo? São só
nove e meia, mas pensei…
ERNST
Não acha que devia ir para casa?
BIRGER
Não posso tomar um café? Trouxe
um termo.
ERNST
(saturado)
Não pode continuar a vir aqui
todos os dias. Já não trabalha
aqui.
Moodysson, Lukas, dir. Bara Prata Lite/Talk. Screenplay by Lukas Moodysson. Sweden: Memfis
Film, 1997. Transcrito e adaptado por J. Mancelos.
5
Idade
Aspeto físico
Traços psicológicos
Vida amorosa/familiar
Religião/espiritualidade/ideologia
Emprego/ambições profissionais
Educação
Objetivo/missão no enredo
Pense numa personagem de um filme conhecido. Preencha a ficha, mas sem dizer o nome. Os
colegas, tentarão adivinhar quem é, através das pistas que fornecer. Podem colocar perguntas.