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Faculdade de Estudos Culturais

Licenciatura em Cinema e Audiovisual


2º.Ano

Módulo de Teoria de Cinema

Tema:

O processo do ensino e aprendizagem na aldeia comunal do Vale do Incomate

Docente: Paulo Guambe

Discente:
Elisa Gadaga
O processo do ensino e aprendizagem na aldeia comunal do Vale do Incomate
Introdução
Este ensaio consiste em abordar acerca do “Ensino e aprendizagem na aldeia
comunal do Vale de Incomate” e faz parte do filme da realizadora Moira Forjaz (1981),
do cinema Moçambicano. Quando ao modo de produção, o filme é um documentário e é
intitulado “Um dia numa aldeia Comunal” que pressupunha a construção de uma cidade
nova na perspectiva do Sistema Socialista.
No entanto, dentre as diferentes áreas em que se pretendiam introduzir as reformas
a partir do projecto político na visão socialista, sob orientação do Ex-presidente da
República Popular de Moçambique Samora Moisés Machel, o meu foco é falar sobre a
Educação no período Pós-Colonial, depois do ano de 1975.
Como diz Francisco (2003), as políticas económicas introduzidas pelo governo de
Moçambique depois da independência (1975), visavam transformar as relações sociais de
produção e tornar Moçambique independente do sistema mundial capitalista, e a
Educação é uma das áreas que não ficou alheio face ao processo de transformação que
preconizava o projecto que eu fiz alusão.

Assim, a tese que eu apresento é “a falta de um ambiente escolar adequado para o


processo do ensino e aprendizagem”. E, o meu argumento é que esse facto justifica-se
pela crise económica, devido as calamidades naturais e a desestabilização provocada pela
guerra. Dizer que estes processos, acompanhados por várias transições políticas e
económicas acarretaram custos sociais com reflexos na qualidade de vida das populações,
realidade essa que visível no filme.
É nessa vertente que eu pretendo fazer uma análise de conteúdo não só mas
também uma análise Poética acerca de factos ligados ao processo do ensino e
aprendizagem que aconteceram na Aldeia comunal.

No que está ligado a metodologia, para analisar o filme irei me basear na análise
poética. Esta análise, é da autoria de Gomes (2004), que entende o filme como uma
programação ou criação de efeitos. Este tipo de análise pressupõe a seguinte metodologia:
 Enumerar os efeitos da experiência fílmica, ou seja, identificar as sensações,
sentimentos e sentidos que um filme é capaz de produzir no momento em que é visionado;
 A partir dos efeitos chegar à estratégia, ou seja, fazer o percurso inverso da criação
de determinada obra dando conta do modo como esse efeito foi construído.

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Por acaso diz a Penafria (2009), que ao considerarmos que um filme é composto
por um conjunto de meios visuais e sonoros, por exemplo, a profundidade de campo e a
banda sonora/musical) há que identificar como é que esses meios foram estrategicamente
agenciados/organizados de modo a produzirem determinado (s) efeito (s).

Um outro método que hei de usar é análise de conteúdo. Este tipo de análise
considera o filme como um relato e tem apenas em conta o tema do filme. A aplicação
deste tipo de análise implica, em primeiro lugar, identificar-se o tema do filme o melhor
modo para identificar o tema de um filme é completar a frase: Este filme é sobre...E, em
seguida, faz-se um resumo da história e a decomposição do filme tendo em conta o que o
filme diz a respeito do tema (Penafria, 2009).

O filme inicia na aldeia comunal, local em que um soldado marcha em direção ao


poste onde estava situada a bandeira, é perceptível o cantar dos pássaros. Em seguida ele
apita e iça a Bandeira. E nos é transmitida a mensagem sob a narração de uma poesia em
voz over que dizia:
“Década da Victória sobre o subdesenvolvimento
Veja o que nós somos, o que queremos
160km da Capital Moçambicana entre o rio Incomate
Haverás de partir da velha preta uma cidade nova
Aqui sonha-se com a construção de um Estado Novo”.
Na análise poética tendo em conta o sentimento e a emoção que nos é transmitida,
trata-se do objetivo de formar-se um homem novo, tendo em consideração o modelo
socialista de reconstrução do Estado Moçambicano no Período Pós-Colonial e educação
naquele período era meramente informal porque ainda não havia sido sistematizado. As
medidas que estavam a ser instauradas era para adequar-se aquela época de
desestabilização.
Aliás, noutra perspectiva, a mulheres que operam na cooperativa lamentam o
facto de na aldeia não existir uma cresh (escolinha), pela falta de fundos para que tal local
seja erguida de modo a satisfazer as necessidades de aprendizagem de suas as crianças.
Conforme é narrada no seguinte trecho:
“Falta-nos a cresh, porque ainda não temos
fundos para construir para as nossas crianças
Sofremos pelas nossas crianças.

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Elas são forçadas a ir a machamba”
A tese que procuro defender é “a falta de um ambiente escolar adequado para o
processo do ensino e aprendizagem”. Eu argumento com passagem fílmica que nos
revela claramente que na aldeia comunal não existiam fundos para edificação de um
ambiente escolar condigno, quanto mais quadros altamente qualificados para levar a cabo
o processo de ensino e aprendizagem.
Com certeza, o ambiente escolar, a vibrante interação de criança, professor,
currículo, ambiente, família e comunidade, é um microcosmo do universo: o espaço
físico delimita o mundo; o sistema escolar e sua organização revelam a sociedade; as
pessoas envolvidas na experiência de aprendizado formam a população. (Taylor &
Vlastos, 1983,).
Na escola, ele possibilita a decodificação e a aprendizagem até mesmo de normas
sociais, comunicando não-verbalmente aos estudantes as intenções e os valores dos
professores enquanto adultos que exercem controle sobre o espaço (Horne, 1999;
Loureiro, 1990).
Assim, tomando-se como exemplo uma sala de aula comum, é possível dizer que
os móveis existentes e seu posicionamento informam as expectativas quanto a ocupação
do local, percepção que tende a ser confirmada ao longo do tempo a partir da experiência
diária, do conhecimento mútuo professor-alunos e das normas institucionais.
Cadeiras dispostas em círculo sugerem que ocorrerá uma discussão na qual é
esperada a participação de todos; carteiras enfileiradas voltadas para o professor
pressupõem aula expositiva; mesas próximas entre si formando blocos maiores indicam
a realização de trabalhos em grupos, e assim por diante. (Sommer, 1973).

Não obstante, na aldeia comunal, não existia ambiente escolar que reunisse
condições essenciais para o processo do ensino e aprendizagem, as crianças sentavam no
chão pela falta de carteiras o que lhes fazia assimilar os conteúdos educativos de forma
deplorável, sem condições mínimas para permitir com que a professora transmitisse os
seus conhecimentos de forma que fosse ser percebido na sua plenitude, e mesmo tempo
tem a questão do material escolar que não correspondia as necessidades dos alunos o que
me leva a deduzir que o sistema educativo era frágil, se bem que já existia um sistema
educativo. Por isso que o ambiente escolar deve reunir condições para o processo do
ensino e aprendizagem.

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Para Fernández (1998), o processo de ensino-aprendizagem tem sido
historicamente caracterizado de formas diferentes que vão desde a ênfase no papel do
professor como transmissor de conhecimento, até as concepções atuais que concebem o
processo de ensino-aprendizagem com um todo integrado que destaca o papel do
educando. Portanto, considera-se a integração do cognitivo e do afetivo, do instrutivo e
do educativo como requisitos psicológicos e pedagógicos essenciais.
A concepção defendida aqui é que o processo de ensino-aprendizagem é uma
integração dialética entre o instrutivo e o educativo que tem como propósito essencial
contribuir para a formação integral da personalidade do aluno. (Idem).
Para o autor, ele tem que desenvolver sua inteligência e isso só será possível se
ele for formado mediante a utilização de atividades lógicas. O educativo se logra com a
formação de valores, sentimentos que identificam o homem como ser social,
compreendendo o desenvolvimento de convicções, vontade e outros elementos da esfera
volitiva e afetiva que junto com a cognitiva permitem falar de um processo de ensino-
aprendizagem que tem por fim a formação multilateral da personalidade do homem.
De facto, a eficácia do processo de ensino-aprendizagem está na resposta em que
este dá à apropriação dos conhecimentos, ao desenvolvimento intelectual e físico do
estudante, à formação de sentimentos, qualidades e valores, que alcancem os objetivos
gerais e específicos propostos em cada nível de ensino de diferentes instituições,
conduzindo a uma posição transformadora, que promova as ações coletivas, a
solidariedade e o viver em comunidade. (Idem).
No filme temos o caso do menino Alberto frente, aluno que frente à sua professora
num ambiente escolar sem condições mínimas para o processo do ensino e aprendizagem
diz o seguinte:
“Há uma estrada nova onde passa todos os dias
Muitos carros e camiões
Motorizadas e bicicletas
As vezes no céu vê-se passar aviões que levam passageiros”
A passagem fílmica nos revela as condições de aprendizagem dos alunos e o papel da
mulher no processo do ensino e aprendizagem. Os alunos tinham aulas sentados no chão
em condições precárias.
Em linhas gerais, afirmo que a aldeia comunal de Incomate estava num processo de
reconstrução sob orientação do modelo socialista e a educação estava a dar os seus
primeiros passos rumo a sua materialização como um sistema.

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Referências Bibliográficas e Filmografia
 Moira Forjaz (1981). Instituto Nacional de Cinema. Laboratórios a Instituto
Nacional de Cinema Produção.
 Francisco, A. (2003), «Reestruturação Económica e Desenvolvimento de
Moçambique», Boaventura de Sousa Santos et al. Conflito e Transformação social: uma
paisagem das justiças em Moçambique. Porto: Afrontamento, 141-178.
 Gomes, w (2004). la poética del cine y la cuestión del metodo en el análisis
fílmico. Revista significação (utp), Curitiba
 Penafria, M. (2009). Análise de Filmes - conceitos e metodologia Petty,
 Taylor, A. P., & Vlastos, G. (1983). School Zone: learning environments for
children. Corales, New Mexico: School Zone.
 Horne, S. (1999). The classroom environment and its effects on the practice of
teachers. Tese de doutorado não-publicada, Universidade de Londres, Londres.
 Loureiro, C. (1999). Classe, controle, encontro: o espaço escolar. Tese de
doutorado não-publicada, Universidade de São Paulo, São Paulo.
 Sommer, R. (1973). Espaço Pessoal. São Paulo: EDUSP.
 Fernández, F. A. (1998). Didática y optimización del processo de enseñanza
aprendizaje. IN: Instituto Pedagógico Latinoamericano y Caribeño – La Havana – Cuba,

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