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Faculdade de Estudos Culturais

Licenciatura em Cinema e Audiovisual


2º.Ano

Módulo de Teoria de Cinema

Tema:

O Impacto da adopção do modelo Socialista na formação da aldeia comunal

Docente: Paulo Guambe

Discente: Augusto Falque


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O Impacto da adopção do modelo Socialista na formação da aldeia comunal


O presente ensaio consiste em justificar “o Impacto da adopção do modelo Socialista na
formação da aldeia comunal” do filme de Moira Forjaz (1981). Na verdade o filme tem como
título “um dia numa aldeia Comunal”. E trata-se de um documentário expositivo pelo facto de
explicar e argumentar a implantação do modelo socialista num período em que o País tivera
alcançado a sua independência (1975) e estava num processo de reconstrução e uma das medidas
implantadas era de investir em todas as áreas de desenvolvimento social existentes naquela época,
embora as mesmas não tivessem sido bem delineadas e sistematizadas.
De referir que no documentário expositivo, a narração é quem organiza as imagens
conferindo-lhes o significado que se deseja através de uma narração autoritária, presunçosa e
didática. (Nichols, 2005).
O documentário também comporta traços de modo participativo dado aos depoimentos que
são apresentas ao longo do filme sobre os conteúdos ligados a participação e envolvimento das
mulheres nas actividdades exercidas na aldeia comunal a ser abordado nesse ensaio.
No modo expositivo o espectador pode assistir ao registro do encontro entre o cineasta e
seus sujeitos-personagens. Assiste-se a verdade de um encontro, de como esse encontro é
negociado e o que se revela enquanto ele perdura. Um encontro nunca antes evidenciado diante da
câmara. (Nichols, 2005).
O filme dá mais protagonismo as mulheres da aldeia comunal em destaque. Trata-se
portanto de uma crítica social ao modelo socialista, e nos revela que apesar de historicamente o
mesmo ser visto como ideal, trouxe consigo marcas profundas que de algum modo colocaram as
mulheres numa situação de fadiga, tanto em termos físicos e psicológicos. Nas passagens fílmicas
do documentário em análise, elas manifestaram o seu desagrado com relação ao modo de trabalho
e na respectiva integração em diferentes áreas de desenvolvimento social existente naquela época.

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No que tange ao procedimento metodológico, irei realizar a análise de conteúdo e analise


poética respectivamente, cuja citação é sustentada por Penafria (2009). Conforme consubstancia a
autora, a análise de conteúdo considera o filme como um relato e tem apenas em conta o tema do
filme. Entretanto, a aplicação deste tipo de análise implica, em primeiro lugar, identificar-se o
tema do filme o melhor modo para identificar o tema de um filme. Posto isso, segundo as palavras
da autora, faz-se um resumo da história e a decomposição do filme tendo em conta o que o filme
diz a respeito do tema.
Em termos contextuais, quando o filme começa um soldado iça uma bandeira, após ter
realizado uma marcha na aldeia comunal e sob narração de uma voz over dá-nos a entender que
estamos perante a época do “subdesenvolvimento” num período em que sonhava-se com a
construção de um “Estado Novo”. Sonhava-se em transformar oficina em fábrica.
A ideia que nos é transmitida no acima exposto, é transformar a aldeia comunal num estado
novo. De facto, a população no meio rural deveria concentrar-se em aldeias comunais, como
estratégia de transformação social e cultural dos camponeses, sendo a base produtiva e económica
as empresas estatais e as cooperativas” (Mosca, 2008, p. 47).

A tese que eu apresento nesse ensaio é que a adopção do modelo socialista na formação da
aldeia comunal trouxe descontentamento no seio das mulheres daquela região. E sustento o meu
argumento com a seguinte passagem a partir da voz over:
“ Todo trabalho das machambas e de casa é feita por mulheres, o que nos cria dificuldades
Nesse método de trabalho, as mulheres trabalham demasiado, faz-nos falta um fundo o que não nos
permite fazer outras coisas”.

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Em termos conceituais, por socialismo pode se entender um ordenamento jurídico-económico


fundado numa organização social na qual o direito de propriedade seja fortemente limitado; os
principais recursos económicos estão sob o controle das classes trabalhadoras; e a sua gestão tem por
objetivo promover a igualdade social, através da intervenção dos poderes públicos (Bobbio ; Matteucci;
Pasquino, 1998).
Em contradição a definição apresentado pelos autores as mulheres não detinham de Recursos
econômicos para subsidiar as suas atividades, e não havia necessariamente a intervenção de poderes
públicos pelo que estavam sujeitas às péssimas condições de trabalho. Se o Socialismo preconiza a
produção em massa, como elas poderiam produzir sem recursos para o efeito?
Além disso a divisão de tarefas não era feita por igual como demostra a seguinte passagem:
“Na cerâmica, encontra-se mulheres, na aldeia, encontra-se
mulheres, na cooperativa encontra-se mulheres, na machamba,
encontra-se mulheres é por isso que sofremos muitos”
Essa narração remete-nos a ideia de que as mulheres tinham um papel muito mais que activo no
desenvolvimento da sua aldeia comunal. Elas estavam inseridas em quase todas as áreas de
trabalho. O filme nos revela que o projecto socialista de formação da aldeia comunal enfrentou
várias dificuldades no âmbito da sua implementação, principalmente no processo de produção:

“Na cooperativa agrícola, não encontramos trator, não encontramos charrua, não
encontramos celeiro, encontramos o carro, depois iniciamos o trabalho com as
mãos, a bomba que nos foi cedida no distrito avariava de tempo a tempos, até
agora colhemos alho, cebola pequeninas, mas não temos nada, não temos
máquinas, Gostaríamos que nesse tempo de produção nos apoiassem com
outros parceiros, não há resultados por causa da falta bomba de água”

O trecho acima elucidada mostra claramente que o socialismo enquanto um modelo


implementado para a formação de aldeia comunal teve seus impactos, que pesaram
significativamente nas atividades realizadas pelas mulheres.

Em relação ao processo de produção as mulheres sofriam demasiado. Era uma


comunidade rural que procurava garantir o seu sustento na base da agricultura. No
entanto, não dispunham de recursos materiais para o efeito. De facto foi uma estratégia

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que preconizava um desenvolvimento sustentável para aldeia, mas não foi demasiado
eficaz.

Vale dizer que as políticas económicas introduzidas pelo governo de Moçambique depois
da independência (1975) visavam transformar as relações sociais de produção e tornar
Moçambique independente do sistema mundial capitalista. A estratégia consistia em construir um
sistema socialista onde a cooperativização da produção da agricultura familiar camponesa, o
reassentamento das populações em aldeias comunais e o investimento no sector estatal de produção
seriam os grandes motores da transformação (Coelho, 1998).
As medidas económicas preconizadas pelo Estado pós-colonial mostraram no entanto ser
as menos adequadas e acabaram por marginalizar os camponeses familiares a favor do
desenvolvimento de uma agricultura mecanizada, destruindo assim o sistema que havia garantido
a produção para o abastecimento do mercado interno e para exportação. (Idem)

Na minha visão o ideal é responder, qual é o impacto da adopção do modelo socialista na


formação da aldeia comunal?

A minha resposta é que esse modelo foi ideal tendo em vista o período em que o País estava
mergulhado, teve os seus contornos. E, como nos mostra o filme pesou demasiado na atuação das
mulheres no processo de produção. O filme é uma crítica social que nos revela o outro lado do
modelo socialista. Porém o mesmo não perdurou até a instauração do neoliberalismo económico.

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Referências Bibliográficas e filmografia


1.BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicolas; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política.
Volume 1. Tradução de Carmen C. Varriale, Gaetano Lo Mônaco, João Ferreira, Luís Guerreiro
Pinto Cacais e Renzo Dini. Brasília: UnB, 1998.

2. Coelho, J. P. B. (1998), «State Resettlement Policies in Post-colonial Rural Mozambique:


the impact of the communal Village Programme on Tete Province, 1977-1982», Journal of
Southern African Studies, (24)1, 61-92

3.Moira Forjaz (1981). Instituto Nacional de Cinema. Laboratórios a Instituto Nacional de C


Penafria, M. (2009). Análise de Filmes - conceitos e metodologia Petty.

4.MOSCA, João. Agricultura de Moçambique Pós-independência: da experiência socialista à


recuperação do modelo colonial. Revista Internacional em Língua Portuguesa, III Série, n. 21,
2008, pp. 47-66.

5.Nichols, B. (2005). Introdução ao documentário. Papirus


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