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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

Mestrado em Ordenamento do Território e SIG


Disciplina de Técnicas e Metodologias para o Planeamento Territorial

Ano letivo 2017/2018

Altino Ferreira

1. OBJETIVO

Trata-se de um trabalho curricular individual para a avaliação da Unidade de


Aprendizagem 1: “Território e Processo de Planeamento”, tendo como objetivo a
elaboração de um comentário sobre as mais valias associadas ao planeamento
estratégico, colaborativo e resiliente num contexto de globalização e incerteza.

2. CONTEXTO DE PLANIFICAÇÃO CONTEMPORÂNEA

O urbanismo como ciência, só apareceu nos meados do século XIX com o objetivo de
dar resposta aos problemas surgidos com o advento da revolução industrial. No entanto,
a preocupação com as questões do urbanismo vem inquietando o Homem desde a
antiguidade. Em 1920 e 1930 surgiram nos Estados Unidos e na Europa os primeiros
planos urbanísticos assentes no ordenamento espacial do crescimento urbano de modo a
evitar disfunções e impactos ambientais negativos e era característico desses planos,
fazer a arbitragem entre o interesse particular das propriedades privadas e os interesses
coletivos (Güell, 2006, p. 13).

O planeamento e o planeador, segundo Güell (2006) tiveram a sua época áurea depois
da segunda guerra mundial, caracterizada por desenvolvimento de grandes planos e, os
planeadores desfrutavam de alargado reconhecimento social e estavam seguros das suas
capacidades técnicas. No entanto o estado de bonança foi de pouca dura, na medida em
que as alterações económicas e sociodemográficas proporcionaram uma elevada
aceleração no crescimento urbano e, juntamente com este, a utilização massiva dos
automóveis e processo de suburbanização excessiva tornaram obsoleta o sistema
clássico de planeamento, apelando assim a perspetivas mais cientificas do planeamento

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(Güell, 2006). As cidades, o planeamento e o seu processo, sofreram alterações
consoante períodos de crise e/ou sua superação. Sendo assim o enfoque científico que o
planeamento tomou deixou de existir com o distanciamento do planeamento dos centros
de poder, provocado pela expansão da doutrina económica liberal dos anos 80 (Güell,
2006).

Nos dias hodiernos os desafios do planeamento continuam presentes, mediante


realidades cada vez mais dinâmicas. Constitui desafio ao planeamento, o crescimento
exacerbado das áreas urbanas, as insuficiências energéticas, a mobilidade, a coesão das
regiões periféricas, a diminuição substancial da emissão dos gases com efeito estufa e
vários outros desafios que dependem o bem-estar de todos. Tendo o planeamento,
desafios relevantes no mundo contemporâneo e sendo a realidade cada vez mais
mutável e incerto urge atribuir ao planeamento um enfoque cada vez mais estratégico,
mais inclusivo e que seja mais preparada para as mudanças que o mundo impões.

3. MAIS-VALIAS ASSOCIADAS AO PLANEAMENTO ESTRATÉGICO,


COLABORATIVO E RESILIENTE

Como já tinha referido, as mudanças e incertezas que o mundo moderno impõe


pressupõe que seja levada em consideração novas abordagens no planeamento. A
atividade de planear remete-nos à perceção de um processo que envolve alguma relação
interativa e processo de governança, considerando, no entanto, a governança como
sendo processos pelos quais as sociedades e os grupos sociais gerem seus assuntos
coletivos (Healey, 2003). Tendo essa perceção faz todo o sentido a inclusão das
populações nos processos de desenvolvimento das suas localidades.

A inclusão do processo colaborativo, segundo Healey (2003) não garante


necessariamente a justiça de qualquer processo nos resultados materiais, mas considera
eticamente adequado para qualquer planeador avaliar os impactos das intervenções
sobre as pessoas e os lugares ao longo do tempo e também permite ao planeador uma
visão mais inclusiva quanto possível do alcance e distribuição dos impactos. O
planeamento colaborativo apresenta, também, vantagens em contexto multicultural,
dando atenção às diversas formas em que os impactos são experimentados, no que
refere aos processos e às identidades (Healey, 2003). A inclusão da abordagem
colaborativa é reconhecer que o desenvolvimento e boa governação são produtos das
sociedades no seu todo (dos decisores políticos, dos agentes técnicos e administrativos,

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das instituições privadas, do público e de todos que de qualquer forma possam sentir os
efeitos das medidas de planeamento).

A abordagem colaborativa tem alguma semelhança com as do planeamento estratégico,


na medida em que este também envolve populações locais na tomada de decisões. Nesse
caso o planeamento estratégico assume-se como “um processo sistemático, criativo e
participativo que estabelece as bases de uma ação integrada de longo prazo que define o
futuro modelo de desenvolvimento, que formula estratégias e cursos de ação para
alcançar esse modelo, que estabelece um sistema contínuo na tomada de decisão e
envolve atores locais ao longo do processo” (Güell, 2006, p. 13, p 55). Ainda de acordo
com Güell (2006) o planeamento estratégico caracteriza-se pela sua capacidade em
integrar além da dimensão física das comunidades a realidade social, económica e
política, possibilitando assim a integração de diversas realidades urbanas em um único
projeto tendo como base o seu enfoque pluridisciplinar e multissectorial.

O planeamento estratégico evita posições demasiadamente sectoriais e marginais e


apresentam diversas vantagens (Güell, 2006, pp. 56-58):

 A conjunção entre a equidade, competitividade e sustentabilidade;


 Visão de longo prazo e compartilhada;
 Considera o envolvente;
 Compreensão das relações entre cidades;
 Configuração de uma oferta urbana competitiva;
 Enfase na prospeção;
 Concentração nos temas críticos;
 Orientada a ação;
 Flexibilidade nas decisões;
 Participação dos agentes locais; e
 Modernização da administração

O planeamento estratégico e a inclusão do processo colaborativo no planeamento não


são suficientes para enfrentar as dinâmicas e as incertezas da atualidade. As mudanças
constantes no mundo atual e as crises cíclicas que se tem registado são alertas para
direcionar o planeamento ao estímulo da capacidade de adaptação. Sendo assim, deve-
se incluir o processo resiliência no planeamento.

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Pode se identificar três variantes da resiliência territorial: a) pela resistência- quando a
região contorna a crise e não sente o seu impacto, b) pela reposição- que acontece
quando uma região é afetada e sente efeitos da crise, mas tem capacidade de voltar ao
estágio em que se encontrava no período pré-crise e c) pela superação- sendo esta o
ideal nas variantes de resiliência uma vez que as regiões além de absorverem os efeitos
da crise têm capacidade de adaptar e impulsionar o seu desenvolvimento (Gonçalves,
2015, p. 707).

O planeamento pro-resiliência acarreta a inclusão na prática do planeamento a natureza


dinâmica do território e tem objetivo de apetrechar os territórios para lidar com os
proveitos da coesão, de equidade, do progresso e da qualidade de vida, tem ainda
objetivo de criar capacidade interna de organização e promover o território para
formatos de funcionamento geradoras de progresso (Gonçalves, 2015).

A globalização, as mudanças cada vez mais velozes e os frequentes períodos de crise,


instam a alterações na abordagem a processo de planeamento, dando a este uma
abordagem mais estratégica, colaborativa e pro-resiliência.

4. BIBLIOGRAFIA

Güell, J. M. F. (2006), Planificación Estratégica de Ciudades: Nuevos Instrumentos y


Processos, Reverté, Barcelona.

Gonçalves, C. (2015) “Planeamento para territórios resilientes: quem és tu?”, in Roxo,


M.J; Julião, R.P; Pereira, M. e Gil, D. (coord.) Valores da Geografia - Atas do X
Congresso da Geografia Portuguesa, Lisboa: Associação Portuguesa de Geógrafos,
718-723.

Healey, Pasty (2003) “Collaborative Planning in Perspective”, Planning Theory, Vol


2(2): 101-123.

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