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Colonialidade e processos de subjetivação – aquilombamento na clínica

Kwame Yonatan Poli dos Santos1

Resumo: No ano de 2020, no estado do Rio de Janeiro doze crianças, entre quatro a catorze
anos, foram mortas pelas mãos de agentes do Estado, em média de uma por mês. Como escutar
as comunidades afetadas na clínica por essa brutalidade? Para escutarmos na clínica a
necroinfância (NOGUERA, 2020) é preciso abandonar os clichês de uma certa tradição que
dissocia a clínica da política e, assim, expandir suas bases para que possamos “ouvir com os
olhos”. O objetivo do presente texto é refletir sobre quais são as lentes teóricas que nos ajudam
na clínica “a escutar com os olhos” as comunidades afetadas pelo genocídio negro e indígenas.
Nesse sentido, as ferramentas clínico-político-teóricas utilizadas para escutar os efeitos
subjetivos da colonialidade serão a psicanálise, em suas reavaliações éticas propostas pela
filosofia da diferença, e a obra de Franz Fanon. Por fim, apontamos o aquilombamento na
clínica como um dispositivo clínico de reorientação ética que pode nos auxiliar na escuta das
sequelas da colonialidade no campo do inconsciente, a partir da construção do comum que toca
o singular.

Palavras-chaves: necroinfância, colonialidade, clínica, pulsão, aquilombamento.

E as crianças negras, não são crianças?

Por que não são crianças?


São pivete, trombadinhas, aviõezinhos, o filho dos Outros?
Por que elas têm que vender maconha pros playboys?
Por que elas não podem só brincar?
Por que dormem na rua?
Por que tem que começar a trabalhar tão cedo?
Por que elas não têm Natal, aniversário e nem Páscoa?
Por que os homens olham de forma tão maliciosa para as meninas negras?
Tem medo de mim?
Por que tem que crescer tão rápido? Aprender a se virar...
Por que morrem tão cedo?
Chegamos tarde...
(Kwame.Y)

No ano de 2020, primeiro ano da pandemia no Brasil, no estado do Rio de Janeiro, doze
crianças, entre quatro a catorze anos, foram mortas pelas mãos de agente do Estado, a média
de uma por mês, seus nomes: Kauã Vitor da Silva, 11 anos; Leônidas Augusto Oliveira, 12
anos; Luiz Antônio de Souza, 14 anos; Maria Alice Neves, 4 anos; Rayane Lopes, 10 anos;
João Vitor Moreira, 14 anos; Anna Carolina Neves, 8 anos; Douglas Enzo Marinho, 4 anos;
Ítalo Augusto Amorim, 7 anos; João Pedro Pinto, 14 anos; Emilly Vitória Santos, 4 anos;
Rebeca Beatriz Santos, 7 anos.

1
Psicanalista, doutorando da PUC-SP, bolsista CAPES e membro do coletivo Margens Clínicas.
Foram 12 histórias que foram interrompidas brutalmente nos seus primeiros capítulos.
Algumas dessas crianças estavam dentro das suas casas, brincando, quando foram atingidas
pelas “balas perdidas”. Suas mortes não foram acidentais, trata-se de necroinfância.
(NOGUERA, 2020).
Necroinfância é um termo proposto pelo filósofo Renato Noguera (2020), um
desdobramento a partir do conceito de necropolítica (MBEMBE, 2018): “A necroinfância pode
ser definida como o conjunto de práticas, técnicas e dispositivos que não permitem que as
crianças negras gozem a infância” (NOGUERA, 2020).
Entre 2017 e 2019, 2.215 crianças e adolescentes (0 a 19 anos) foram mortas pelo estado
brasileiro, 69% eram negras (FBSP, 2019). O Rio de Janeiro é o Estado que ocupa o primeiro
lugar no ranking de letalidade policial nessa faixa etária 2.
A morte de Kathleen Romeu esse ano 3, grávida de quatro meses, é paradigmática do
que significa necroinfância: nos impedir de nascer é a forma mais eficiente de nos fazer
morrer”, como diz a tatiana nascimento 4.
O que nos leva a diferentes questões: Como é possível acontecer nas periferias, onde
mora a maior parte da população negras das cidades, o que não acontece em lugar nenhum?
Quais as ferramentas clínicas necessárias para escutar as mães, os pais, as irmãs, os irmãos, a
família, ou melhor, comunidades inteiras que foram afetadas por mortes orquestradas pelo
Estado?
O objetivo do presente texto é refletir sobre quais são as lentes teóricas que nos ajudam
na clínica “a escutar com os olhos” (SANTOS, 2021) as comunidades afetadas pelo genocídio
negro e indígena. Quais são as alianças teóricas que nos auxiliarão nessa tarefa?
Toda obra de Fanon é erigida no entrelaçamento entre a teoria, a clínica e a política.
Para ele, não seria possível pensar uma clínica revolucionária, por exemplo, desassociada de
uma prática que questione o colonialismo que nos atravessa e, consequentemente, o capitalismo
que lhe dá base de sustentação.
Nesse sentido, as ferramentas clínico-teóricas utilizadas para escutar os efeitos
subjetivos da colonialidade serão o dispositivo psicanalítico em suas reavaliações éticas
propostas pela filosofia da diferença; para isso Fanon será um intercessor (DELEUZE, 1992)
para que realizemos uma análise da colonialidade e suas sequelas no campo do inconsciente, e

2
Ver mais informações em: http://esquerdadiario.com.br/Policia-matou-mais-de-2215-criancas-e-adolescentes-
em-tres-anos-no-pais
3
Kathlen Romeu assassinada em junho de 2021: https://piaui.folha.uol.com.br/materia/estaremos-juntas-nessa-
guerra/
4
Link de acesso: https://www.instagram.com/p/CP8axckn6YP/?utm_medium=copy_link
como tais efeitos aparecem na clínica e as criações possíveis a partir dela como o
aquilombamento.
O essencial são os intercessores. A criação são os intercessores… é
preciso fabricar seus próprios intercessores. É uma série. Se não
formamos uma série, mesmo que completamente imaginária, estamos
perdidos. Eu preciso de meus intercessores para me exprimir, e eles
jamais se exprimiriam sem mim: sempre se trabalha em vários, mesmo
quando isso não se vê. (DELEUZE, 1992, p. 160)

Os intercessores, como dizia Deleuze (1992), interessam-nos pelos movimentos, não


pelo que se passa antes deles, ou pelo que os causa, mas pelo acontecimento. Sendo figuras
híbridas do pensamento que se põe a operar pela encruzilhada de diferentes domínios. Eles
possibilitam darmos passagem à produção da diferença, ao novo.

Necroinfância
Que tipo de sociedade é capaz de produzir o aniquilamento de infâncias negras? No
senso comum, a infância é o lugar do futuro, então, qual futuro está sendo eliminado? O que a
necroinfância diz sobre nós?
Primeiramente, a colonialidade com a racialidade produziu sequelas no campo do
desejo de maneira que o pilar central da experiência negra é uma violência calcada em uma
dupla injunção: primeiro, almejar os ideais da branquitude e, segundo o auto-ódio ligado as
características da sua negritude (SOUZA, 1983).
Comemoramos hoje 133 anos* de abolição da escravatura negra no
Brasil. Abolição da escravatura quer dizer aqui fim de um sistema cruel
e injusto que trata os negros como coisa, objeto de compra e venda,
negócio lucrativo para servir à ambição sem-fim dos poderosos.
Abolição da escravatura quer dizer libertação. Mas será que acabamos
mesmo com a injustiça, com a humilhação que o conjunto da sociedade
brasileira ainda nos trata? Será que acabamos com a falta de amor-
próprio que nos foi transmitida desde muito cedo nas nossas vidas?
Será que já nos libertamos do sentimento de que somos menores,
cidadãos de segunda categoria? Será que gostamos mesmo da nossa
pele, do nosso cabelo, do nosso nariz, da nossa boca, do nosso corpo,
do nosso jeito de ser? Será que nesses 133 anos* de abolição
conquistamos o direito de entrar e sair dos lugares como qualquer
cidadão digno que somos? (SOUZA, N. S. Contra o racismo: com
muito orgulho e amor. Correio da Baixada (jornal), 13 de maio 2008)

Quem nos ensinou a nos odiar? Como aprendemos o auto-ódio? “Esta agressividade
sedimentada nos músculos, vai o colonizado manifestá-la primeiramente contra os seus”
(FANON, 1979, p. 39). Tal direcionamento da agressividade é efeito do dispositivo colonial-
escravocrata.
O dispositivo é o objeto de descrição da genealogia na obra de Michel Foucault (1979).
Com a noção de dispositivo, Foucault reitera sua crença na historicidade do dizer verdadeiro,
que é o que lhe confere seu caráter singular. Ele é mais geral que a episteme, sendo mais
discursivo, por assim dizer. Entendemos o conceito do dispositivo foucaultiano como uma
trama que engendra uma rede de discursos, articulando elementos díspares para uma
determinada finalidade. O dispositivo é uma malha de elementos heterogêneos (discursos,
ciência, leis, filosofia, moral etc.) e ele estabelece o tipo de ligação entre estes elementos.
Foucault (1979) acredita que o dispositivo é resultado do acoplamento de uma série de
práticas a um regime de verdade. O discurso que aparece (ou se impõe – e se impõe mais como
dispersão que como estrutura, pois sua natureza impositiva sobressai à percepção ou
compreensão que possamos dele ter) como a priori histórico, apesar de ser determinado pelo
devir da história, é o que define o regime de veracidade, engendrando o falso e o verdadeiro.
Enquanto o discurso age com persuasão, controle e repressão na organização da experiência, o
dispositivo não é algo a ser avaliado pelo crivo de juízo de valor (bom ou mal), ou como se
agisse de fora; antes, o dispositivo atua em nós.
O mais importante que aprendemos com Foucault é que o corpo vivo (e,
portanto, mortal) é o objeto central de toda política. Il n’y a pas de politique qui
ne soit pas une politique des corps (não existe uma política que não seja uma
política dos corpos). Mas o corpo não é para Foucault um organismo biológico
dado sobre o qual o poder age. A própria tarefa da ação política é fabricar um
corpo, colocá-lo em funcionamento, definir seus modos de reprodução,
prefigurar as modalidades de discurso por meio das quais esse corpo se torna
ficcionalizado até poder dizer “eu”. Todo o trabalho de Foucault poderia ser
entendido como uma análise histórica das diferentes técnicas pelas quais o
poder gerencia a vida e a morte das populações. (PRECIADO, 2020, online)

Neste sentido, vemos que o dispositivo colonial-escravocrata atua no coração do ser,


governo do vivo, ele está inscrito no real através de práticas políticas de um regime de verdade
que são fabricadas pela colonialidade.
Dentro do colonialismo, o racismo surge como universalismo que se constitui a partir
do aniquilamento de outras formas de existir, de uma necropolítica. Por exemplo, desde a
infância o que aprendemos sobre a cultura africana ou é estigmatizado, ou invisibilizado, somos
ensinados a desconsiderar, excluir, rejeitar ou até odiar tudo que se refere ao modo de vida que
não seja eurocêntrico. A história da Europa nos aparece como universal, enquanto os
colonizados são particulares.
Desse modo, é preciso considerar a necroinfância (NOGUERA, 2020) de maneira
ampla, não é só a morte de crianças e jovens negros, mas o resultado de uma micropolítica do
desejo reativa (ROLNIK, 2018) presente na nossa cultura atravessada pelo dispositivo colonial-
escravocrata de eliminação de qualquer traço não-branco.
A produção da necroinfância (NOGUERA, 2020) se dá então em um nó entre:
racialidade, subjetividade e um regime econômico de exploração dos corpos. Para escutarmos
na clínica a necroinfância é preciso abandonar os clichês de uma certa tradição que dissocia a
clínica da política e, assim, expandir suas bases para que possamos “ouvir com os olhos”
(SANTOS, 2021) aquilo que nos acontece: “(...) ouvir seria uma experiência sensória, assim
como, ao falar, se poderia afetar o outro, do mesmo modo que os dedos tocam a pele”
(GONDAR, 2020, p. 31). A matéria da clínica é a profundidade do que está a flor-da-pele,
aquilo que de tão íntimo toca a todxs nós. Escutar com os olhos é atuar na intercessão
(DELEUZE, 1992), analisar as encruzilhadas, avaliar o campo das forças que estamos
inseridos.

A psicanálise como uma análise de forças


“O estatuto do inconsciente, que eu lhes indico tão frágil no plano ôntico, é ético.”
(LACAN, 1988, p. 37). Assim, entendemos a psicanálise como uma análise das forças, uma
pragmática da pulsão, força constante (konstante Kraft), sendo a pulsão uma ética: “a “pulsão”
como um conceito fronteiriço entre o anímico e o somático, como representante psíquico dos
estímulos oriundos do interior do corpo que alcançam a alma, como uma medida da exigência
de trabalho imposta ao anímico em decorrência de sua relação com o corporal” (FREUD,
[1915] 2014, p. 32).
A pulsão é uma fenda conceitual que faz retorno ao vivo, para além de (meta) uma bio-
logia, referente a uma bio-lógica (SCHIAVON, 2019), a lógica do vivo.
Diferença, entendamo-nos, um modo preciso de nomear a lucidez de
um mundo e seu brilho, sua verdade.
Pensamos assim em uma ciência da vida para além da bio-logia, em
uma bio-lógica, de maneira a envolver com esse termo a noção
freudiana de metapsicologia. Para exprimi-lo em poucas palavras, o
que não é biológico nem psíquico, e nem imediatamente ontológico, é
ético. Que a pulsão seja de consistência ética (e não apenas um
problema ético) é coisa que precisa ser ainda estabelecida.
(SCHIAVON, 2019, p. 24)

A pulsão é uma ética, pois se refere a uma prática que vai na direção do Real. O Real
da pulsão é essa força constante que atravessa a todxs. Refere-se aquilo que nos toca, o comum
que toca o singular. É sobre a profundidade que está a flor-da-pele, um interior que é ao mesmo
tempo exterior, um fora que ao mesmo tempo se remete ao dentro.
A pulsão é essa força estranha5, micropolítica, que nos leva a erguer a voz (bell hooks,
2019), erguer a voz refere-se a uma pragmática ética da fala de um lugar que implica uma
invenção de si, como diz Rosane Borges 6.
Nesta perspectiva, discorreremos em dois planos que se entrelaçam ao final, a partir da
seguinte imagem: uma visão telescópica, macropolítica que objetiva se aproximar de um olhar
microscópico, micropolítico.
No entanto, é preciso esclarecer que toda macropolítica pressupõe uma micropolítica,
não há uma oposição, mas um campo de confluência, uma vez que a macropolítica é também
um efetuador de micropolíticas. A micropolítica não é uma infraestrutura e a macropolítica
uma superestrutura, a micro está na dimensão não-formal, no campo das forças, no campo
afetivo, das potências; a macro está no campo das formas, dos saberes estabelecidos, dos
Estados. Portanto, não há forma que não seja expressão de uma força e não existe força que
não exija sua expressão em alguma forma (ROLNIK, 2018).
Para entendermos como a clínica poderia atuar nessa cartografia cultural vigente da
necroinfância (NOGUERA, 2020) é preciso revisitar a história da formação do Estado
brasileiro, nela coexistem conflitos que acontecem há mais de 500 anos, desde que o Brasil foi
invadido e não descoberto.
Por um lado, temos o Estado brasileiro na sua dimensão genocida, de industrialização
da morte e estruturado para destruir as condições de vida dos povos originários e da população
negra, em resumo, a necropolítica (MBEMBE, 2018). Tal política de gestão da morte passa
pela necroinfância (NOGUERA, 2020) e pelo dispositivo colonial-escravocrata que age em
nós.
O dispositivo opera pelo dito e o não-dito (FOUCAULT, 1979), ou seja, pelo dizer,
pela enunciação. A pulsão é um dizer, um exercício da perspectiva da diferença, a clínica é o
espaço onde buscamos a diferença absoluta, onde até a própria linguagem é produzida, como
diz o poeta, Manoel de Barros: “Acho que o inconsciente é o lugar onde as palavras ainda estão
se formando. Ali é o porão da poesia. Depois que a palavra sai do porão, temos que limpá-las
de suas placentas. Dói mais enxugar o escuro das palavras.” 7
Já dizia Deleuze e Guattari (2011) que inconsciente é uma indústria, lugar de produção,
ou ainda em Lacan, a língua “é viva porque a criamos a cada instante” (LACAN, 2007, p. 129).
Erguer a voz (bell hooks, 2019) refere-se à linguagem do vivo, à conquista de existência.

5
“Força estranha, composição de Caetano Veloso: https://www.youtube.com/watch?v=JizRoArMVoI
6
Formação Aberta de Aquilombamento nas Margens com a Rosane Borges: https://youtu.be/_m5zrMY5o2g
7
Essa foi a resposta de Manoel de Barros para a pergunta "Seus versos doem muito tempo no escuro?", em uma
entrevista com Fabrício Carpinejar para o Jornal Zero Hora, 12 de maio de 2003.
Nesta perspectiva, Fanon (2008, p. 33) aponta que a colonização do inconsciente
começa pela linguagem, “uma vez que falar é existir absolutamente para o outro”. As narrativas
sobre racialidade sobrecodificam binariamente os lugares do colono civilizado, racional, em
contraponto ao colonizado selvagem, irracional.
O corpo do colonizado é desumanizado a tal ponto de ele se tornar matável, descartável,
sua morte não promove nenhuma comoção, a violência colonial produz um esvaziamento da
existência do colonizado.
O mundo colonizado é um mundo cortado em dois. A linha de corte, a fronteira,
é indicada pelas casernas e pelos postos policiais. Nos países capitalistas, entre
o explorado e o poder interpõe-se uma multidão de professores de moral, de
conselheiros, de “desorientadores”. Nas regiões coloniais, em contrapartida,
[…] o intermediário do poder utiliza uma linguagem de pura violência […] não
alivia a opressão, não disfarça a dominação. Ele as expõe, ele as manifesta com
a consciência tranquila das forças da ordem […] leva a violência para as casas
e para os cérebros dos colonizados […] A originalidade do contexto colonial é
que as realidades econômicas, as desigualdades, a enorme diferença dos modos
de vida não conseguem nunca mascarar as realidades humanas (FANON, 1979,
p. 28)

Algumas nações produzem uma coesão nacional por meio de um inimigo externo, nossa
coesão territorial nasce e se dá pela construção de um inimigo interno (população negra e
indígenas) que deve ser exterminado e seus corpos ocultados (SAFATLE, 2017). Nesse
sentido, é inegável a constatação de que a origem colonial-escravocrata da América Latina é
algo marcante nos processos de subjetivação, estando presente em todas as camadas da
sociedade.
Por exemplo, em junho de 2021 atingimos a marca de 500.000 mortes pelo novo
coronavírus no Brasil, sendo que grande parte dessas mortes são negras (SOARES, 2020). Mais
uma vez, longe de essas mortes serem imprevisíveis, elas são uma expressão da necropolítica
brasileira. Desse modo, necropolítica não é apenas sobre “deixar morrer e fazer viver”, mas
também sobre o esvaziamento do sentido do vivo.
A adaptação do conceito de Mbembe ajuda-nos a compreender o que
ocorre no Brasil no que diz respeito à violência e à criação de “mundos
de morte”, zonas de sacrifício onde a política de extermínio e genocídio
são a maneira do Estado implementar a soberania, inclusive
terceirizando o monopólio da força. Em outras palavras, para exercer a
soberania o Estado elege um inimigo interno e estabelece uma política
de morte (NOGUERA, 2020, on-line).

Quais são os lugares onde o que não pode acontecer com ninguém, acontece todo dia?
(SILVA, 2014); como é possível aquilo que é? Como colocar a nossa escuta à altura do sufoco
do nosso tempo?
A clínica no sufoco: mal-estar na colonização
Vivemos, sob determinado ponto de vista, uma distopia, em que ninguém imaginaria
que um vírus se alastraria em escala global e mataria milhões de pessoas em alguns meses,
ainda mais se imaginarmos que muitas mortes poderiam ser evitadas caso algumas medidas
sanitárias tivessem sido adotadas.
Em meio a esse contexto asfixiante, nos meses de maio/junho de 2020, a minha clínica
foi inundada pelo mal-estar na colonização. Após a morte do George Floyd, no dia 25 de maio
de 2020, causada pela polícia de Minneapolis (EUA) pelo sufocamento de oito minutos; o
suicídio de um homem trans negro Demétrio Campos, de 23 anos no dia 17 de maio; o
assassinato do João Pedro Mattos, de 14 anos, pela polícia militar do Rio de Janeiro dentro de
casa; e, por fim, a morte do menino João Miguel, de 05 anos de idade, no dia 02 de junho.
Todas/os analisandas/os negras/os, sem exceção, começavam a sessão relatando os
efeitos dessas mortes, em especial o assassinato brutal do George Floyd, em seguida, a análise
de cada um se enveredava por outros caminhos.
Escutei tal coincidência como efeito do mal-estar na colonização. Ensina-nos a teoria
freudiana que o mal-estar advém do laço social, do resto do recalque das pulsões. Como vimos,
toda violência recalcada para constituição da dita civilização é empregada até hoje na colônia.
Para a civilização se erigir foi necessário desestruturar outras formas de vida em um processo
sistemático de genocídio.
Nossa hipótese é que o mal-estar presente no laço social nunca foi algo etéreo, mas
encarnado no dispositivo colonial-escravocrata: na formatação do feminino, na criação das
racialidades e nas sexualidades fora do padrão heteronormativo.
Na Europa, o preto tem uma função: representar os sentimentos inferiores, as
más tendências, o lado obscuro da alma. No inconsciente coletivo do homo
ocidentalis, o preto ou melhor a cor negra, simboliza o mal, o pecado, a
miséria, a morte, a guerra, a fome. (FANON, 2008, p. 161)

Projetou-se todo uma série de discursos morais sobre aqueles que se diferenciavam do
padrão homem-branco-heterossexual-cisgênero; em nome desse padrão, sufoca-se toda uma
multiplicidade. Os efeitos de processos de subjetivação dominantes sob os corpos denunciam
o dispositivo colonial-escravocrata.
A clínica acompanha os acontecimentos, assim como nesse espaço existe a
possibilidade de nos reapropriamos da criação de respostas singulares, da linguagem do vivo.
A clínica segue sendo esse lugar de resistência que nos permite encontrar estratégias de
ampliação das fronteiras. Desse ponto de vista clínico, interessa-nos a questão de como, mesmo
diante de tantas mortes, abrimos espaço para o que vai nascer?
Será que através de dispositivos clínicos é possível reparar algo do valor da vida que
tem sido objeto de tanta violência? Para isso é necessário acessar a nossa potência estética de
invenção de outros mundos, em direção ao vivo, ou seja, o exercício da pulsão.

Aquilombamento na clínica um processo de melanização


Para explicar o que seria o aquilombamento na clínica, utilizaremos como imagem do
pensamento a definição dada pela biologia da pele. A pele é o primeiro sentido para a população
negra e indígena, uma vez que os colonizadores europeus criaram a racialidade, diferenciando
as populações através de uma essencialização das diferenças fenotípicas.
A pele é o maior órgão do corpo humano e possui duas camadas distintas, a epiderme
e a derme. A epiderme é formada por cinco camadas: estrato córneo, estrato lúcido, estrato
granuloso, estrato espinhoso e estrato germinativo. O estrato germinativo contém as células-
tronco da epiderme e é a sua cama mais profunda. Esse estrato forma as células que darão
origem a todas as camadas mais superiores. É nesse estrato que estão os melanócitos, células
responsáveis pela produção de melanina (SANTOS, 2021.). A melanina é uma defesa do corpo
contra a radiação emitida pelo Sol, a coloração da pele, cabelo, cor dos olhos decorre da
quantidade de melanina.
O aquilombamento começa pela melanina, onde a identificação pode ser um
intensificador da existência por meio da compreensão que a diferença absoluta nos une, pois é
nossa capacidade de diferenciação que nos é comum.
Para além da necessária luta pela identidade, a melanização é um exercício constante
para existir todos os dias, a invenção de uma outra sensibilidade, afastada da desumanização e
da morte em vida. A melanização é a criação de uma segunda pele, a construção do comum
pela diferença absoluta.
Em “Pele negra, máscaras brancas”, Fanon (2008) possui uma estética de escrita que
convoca-nos a implicação, pois como já foi dito, teoria, prática e clínica são indissociáveis:
permanece evidente que a verdadeira desalienação do negro implica uma súbita
tomada de consciência das realidades econômicas e sociais. Só há complexo de
inferioridade após um duplo processo:
— inicialmente econômico;
— em seguida pela interiorização, ou melhor, pela epidermização dessa
inferioridade (FANON, 2008; p. 28).

O processo de desalienação exige a constituição de um dispositivo clínico que considere


o duplo processo ao qual se refere Fanon. A desalienação exige uma descolonização da clínica,
pois propõe outra política do desejo. Diante da “epidermização da inferioridade” (FANON,
2008), proponho o aquilombamento da clínica por meio da melanização.
Nesta perspectiva, a pedra de toque do processo de racialização, segundo a psicanalista
Neusa Santos Souza (1983) é a violência. Durante a colonização, tal processo visava o controle,
exploração de corpos negros e indígenas para produzir lucro, para tal foi necessária uma
violência sistemática de aniquilamento de outros modos de existir não-eurocêntricos e a
desativação das políticas de desejo desde as quais tais modos se produzem.
A estratégia de dominação colonial se deu de várias maneiras, sendo a principal delas
a invenção e consolidação da racialidade enquanto diferença hierarquizada. Tal hierarquia
fixou os humanos em categorias genéricas, invenção central para o funcionamento do
dispositivo colonial-escravocrata.
A violência colonial (FANON, 1979) é um processo de desumanização, tornando-nos
uma categoria, assim, inviabiliza o colonizado o acesso sensível à zona do não-ser, lugar de
conflito, de embate de forças, da subjetivação pulsional.
“Há uma zona de não-ser, uma região extraordinariamente estéril e árida, uma rampa
essencialmente despojada, onde um autêntico ressurgimento pode acontecer. A maioria dos
negros não desfruta do benefício de realizar esta descida aos verdadeiros Infernos."(FANON,
2008, p. 25)
Se considerarmos a zona do não-ser semelhante ao estrato germinativo, como um plano
virtual onde residem germens de mundo, esta seria o lugar onde a semente guarda a potência
de árvore, onde o mundo engravida de outros mundos. Campo originário que precisa ser
exercido por um pragmatismo pulsional, pois refere-se ao vivo.
Portanto, a clínica deve se orientar no sentido ascendente, a uma involução ao plano
originário, cuja profundidade é a da flor-da-pele e por isso toca a todos nós. Neste sentido, o
aquilombamento na clínica é o avesso da epidermização da inferioridade (FANON, 2008), é
um processo melanização, que atua na profundidade da pele, na membrana sensível que toca o
fora que é íntimo.
A pulsão o limite entre o psíquico e o somático é uma membrana viva, sensível.
Uma língua indígena. A pulsão tem ar de fronteira para as instâncias não
pulsionais; de seu ponto de vista, porém, não é fronteira. Foi considerada
mítica, “meio física e meio psíquica” (GARCIA-ROZA, 1996, p. 115), mas o
que designa não é ficcional, e sim ético. Fronteira significa, segundo aquela
lógica, desimpedimento, margem de escolha, terceira margem. (PERCI &
PELBART, on line, 2020)
O limite pulsional se refere a graus de existência, uma membrana viva e sensível que
discerne a passagem do plano de existência para o plano da realidade: como uma existência
virtual se torna real? Quando se existe de fato e não de direito (LAPOUJADE, 2017)?
Por exemplo, “Tornar-se negro” (SOUZA, 1983) se trata de melanização, um processo
singular de intensificação da existência por meio da identificação com a negritude.
Para os povos da diáspora a ativação de lutas revolucionárias só será possível
mediante a construção de territórios de luta e pertencimento, em que os
processos de construção de subjetividade sejam coletivamente acionados na
composição entre elementos mnêmicos e toda materialidade disponível para
conjugar um plano comum de resistência. (...) Identidade, nesses termos seria,
antes de tudo, um signo que demarca um território de vida a partir do qual
singularidades possam ganhar expressão. Identidade negra é um signo de
demarcação de território, de separação e distinção da política identitária branca,
de ruptura com a identificação com uma proposição nacionalista de poder. O
comum afrodiaspórico habita essa encruzilhada entre mobilizar as diferenças
que compõe a negritude e produzir condições materiais de existência. (SOUZA
& DAMICO & DAVID, 2020, p. 8)

A existência é uma conquista, não é um fato bruto. Existir é ganha intensidade, força e
consistência. Por exemplo, o racismo existe em vários planos, o racismo estrutural dá aparência
de natural a realidade de desigualdade racial brutal, mas como fazer ver a brutalidade do
racismo? Como trazer a flor-da-pele a experiência do racismo? Como tornar mais real aquilo
que existe (idem)?
Existir é ter consciência do corpo como lugar primeiro do nosso saber, do nosso
lugar no mundo. Nesse sentido, o corpo da população africana trazido como
mercadoria na condição de escravo para as Américas se tornou o elemento
fundamental de comunicação, de resistência e de resposta aos sofrimentos
diante das situações violentas produzidas pela condição hostil e desumana com
que os colonizadores europeus os tratavam. Desse modo, apenas por meio do
domínio consciente do corpo-arquivo e de sua força presencial, do
encantamento e da memória ancestral, esses seres humanos, na condição de
escravos, puderam potencializar suas energias corporais como instrumento de
resistência e libertação. (SOUZA & DAMICO & DAVID, 2020, p. 8)

A partir do trabalho de David (2018), tomamos o aquilombamento como uma


reorientação ética. Aquilombar a clínica é a invenção de um lugar onde a diferença absoluta
possa existir.

Conclusão
A colonialidade é uma chave para entender o sistema-mundo, funcionando como um
regime de verdade totalizante, uma das ferramentas da manutenção dela no mundo
contemporâneo é o racismo na sua dimensão estruturante.
A colonialidade é racista e o racismo é colonial, são sistemas que se retroalimentam. O
racismo surge dentro do colonialismo como ferramenta que limita o direito universal a Europa.
Desse modo, a colonialidade não é apenas um discurso, a compreensão da sua dimensão
estruturante exige uma pragmática ética.
Aquilombamento da clínica é sua a descolonização da mesma, isto é, a avaliação dos
atravessamentos da colonialidade nas suas bases teóricas. Não é possível pensar a psicanálise
ou a filosofia da diferença sem o atravessamento da colonialidade, faz-se necessário o diálogo
desses campos com Fanon. Assim sendo, a descolonização da clínica é um banho do Real a
partir de um duplo agenciamento: ampliação das suas bases teóricas-ético-política e, a partir
disso, a construção de outros dispositivos clínico a altura do que nos acontece.
O aquilombamento é uma reorientação ética a partir da perspectiva das marcas do
dispositivo colonial-escravocrata que atravessam a todos nós. O quilombo é mundo sem os
muros da colonialidade, é um ideia-força (NASCIMENTO, 2002), é para além de um lugar
topológico.
É possível ler em Fanon (2008) sobre a descolonização como um processo de
encruzilhada da necessária superação da desigualdade material e de desalienação da dimensão
subjetiva, a existir na zona do não-ser.
A zona do não-ser é onde está o vivo, lugar de indeterminação, logo de invenção, onde
a diferença pode existir, é uma encruzilhada, local de enfrentamento as contradições que nos
compõem (FAUSTINO, 2018).
Nesse sentido, a construção do comum, autêntica desalienação, é tanto a reapropriação
da fonte de existência como dos meios de produção. Para tal, sugerimos o aquilombamento
(DAVID, 2018) enquanto dispositivo clínico de criação do comum a partir do singular que
implica outros modos de produção de saúde. A partir da clínica é possível a construção de outro
horizonte macropolítico para além da necroinfância (NOGUERA, 2020).
Portanto, a tarefa da clínica não pode ser outra, senão a de construir o comum que toca
o singular. Afinal, a análise só acontece do ponto de vista pulsional, enquanto avaliação
pragmática que visa dar passagem a esse mundo grávido de outros mundos.
Aquilombamento é uma ética de construção de zonas temporária de passagem da
singularidade, um lugar onde a diferença pode existir. Não se refere a um lugar topológico,
nem muito menos ideal, mas de uma prática, uma pragmática de construção do comum.
Nesse sentido, a clínica como território de escuta pode atuar nesse limiar, acolhendo os
sufocamentos, proporcionando um mergulho de modo a intensificar a relação com o vital,
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