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PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA


EMEIEF MOEMA TINOCO DA CUNHA LIMA

MIQUÉIAS DOS SANTOS VITORINO

UM MAR DE LEITURAS:
PRÁTICAS DE LEITURA EM E PARA SALA DE AULA ATRAVÉS DOS TEXTOS
E MÚLTIPLAS LINGUAGENS DO SÉCULO XXI

JOÃO PESSOA
2022
“Livros não mudam o mundo, quem muda
o mundo são as pessoas. Os livros só
mudam as pessoas.” - Mário Quintana,
poeta brasileiro

“... se a literatura mudar pessoas, isto já


é suficiente. E ela muda” - Moacyr Scliar,
contista brasileiro

1. Justificativa

Já dizia Paulo Freire que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”


(FREIRE, 1988). Temos vivido um mundo em que as leituras se (des)encontram o
tempo inteiro. Com a popularização da internet e das redes sociais, a leitura tem se
tornado cada vez mais deficitária - para todas as idades. Temos consumido cada
vez mais textos multissemióticos (vídeos curtos de TikTok ou Reels do Instagram,
posts, stories etc) e a leitura de textos literários, e até os quadrinhos, têm se tornado
uma atividade para poucos.

Ler bons livros hoje tornou-se caro, dificultoso e impopular. As escolas,


espaços de aprender e compartilhar leituras, que deveriam ofertar oportunidades
para leituras para os mais jovens, têm perdido essa função de ser uma
incentivadora do consumo de livros. Isso tornou-se cada vez mais acentuado com a
paralisação das atividades escolares, em março de 2022, e se estendeu até os
atuais dias. Ler não está na moda.

De acordo com a 5ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, maior


parte dos leitores no Brasil não são estudantes, possuem ensino superior e
pertencem às classes C, D e E (CENPEC, 2022). A pesquisa leva à interpretação de
que a leitura tem se tornado cada vez mais distante da realidade de crianças e
adolescentes em idade escolar, pois outras atividades, como assistir TV ou navegar
em redes sociais têm se tornado mais atrativas.

Tratando-se da realidade de crianças e adolescentes que fazem parte da


comunidade escolar da EMEIEF Moema Tinoco da Cunha Lima, reflete a realidade
do acesso à leitura aos alunos matriculados na rede municipal. A escola até possui
acervo de livros disponível para os alunos matriculados e comunidade escolar, mas
muitos dos alunos não possuem uma cultura leitora ou leem pouquíssimas vezes.
Não há um programa que incentive a leitura e maior parte dos alunos está

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acostumado apenas a ler textos didáticos e pouco tem investido na diversidade de
leitura de outros gêneros, literários ou não.

Diante desse cenário, o intuito do projeto é ofertar ao público-alvo, os alunos


regularmente matriculados na EMEIF Moema Tinoco, experiências de leitura
variadas, desde histórias em quadrinhos (HQ’s), clássicos e livros infanto-juvenis.
Para isso, o professor Miquéias Vitorino, com auxílio de outros professores, equipe
pedagógica, direção escolar e funcionários, pretende, ao fim deste projeto, semear
uma cultura leitora para que os alunos desenvolvam hábitos de leitura dentro e fora
da escola, ofertando livros e revistas específicas para esse público, em formato
físico e digital (e-books) e desenvolvendo atividades lúdicas e extracurriculares.

2. Objetivo geral

As ações deste projeto visam ao incentivo à prática de leitura emancipada,


autônoma, crítica e proficiente dos alunos do oitavo ano do ensino fundamental
regularmente matriculados na escola, através da oferta de livros e histórias em
quadrinhos ao público-alvo e desenvolvimento de atividades voltadas para as
práticas de leitura e escrita.

3. Objetivos específicos

● Incentivar a leitura de alunos do oitavo ano do ensino fundamental


regularmente matriculados na escola para tornarem-se leitores espontâneos
e autônomos.
● Sustentar uma cultura de leitura dentro (e fora) da escola, através do
desenvolvimento de atividades lúdicas, rodas de leitura, práticas de leitura de
mundo e uso de textos multimodais que complementam ou se relacionem
com as leituras dos alunos.
● Compartilhar experiências de leitura com a comunidade escolar.
● Participar de concursos voltados para uma cultura leitora, literatura e
produção textual de crônicas
● Criar uma atividade extracurricular de leitura que valorize e incentive ainda
mais leitores mais avançados

4. Aporte teórico-metodológico

Para poder compreender o escopo do projeto e os benefícios que ele


potencialmente pode trazer para a comunidade escolar, é necessário pensar alguns
conceitos relacionados à leitura, partindo de uma visão de que a leitura precisa ser
concebida como um direito inalienável, conforme preconiza Antonio Candido (2011),
compreendendo que não só as histórias, mas as memórias de um povo e de uma

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cultura se materializam nos escritos produzidos pelos seus escritores, pela ficção,
pela poesia, através das peças de teatro - já que o próprio Antonio Candido
percebia na literatura um papel humanizador, em que todos os elementos que
tornam alguém humano - intelecto, conhecimentos, história, cultura, valores,
emoções etc - estão presentes e compartilhados entre autor e leitor. Há um
momento de troca, de construção.

Partindo da ideia de que a leitura é um direito, transitamos pela perspectiva


freireana de que a leitura de mundo e a leitura da palavra se somam (FREIRE,
1988). Se é sabido que o aluno tem consigo valores e prévias leituras de mundo,
fazer com que a experiência de leitura faça sentido parte dessa realidade do
estudante. Portanto, para que a leitura seja significativa para o estudante, ele
precisa ter experiências de leitura de mundo (todo o conjunto de saberes e
vivências) que conversem com as novas leituras.

Também é importante frisar a perspectiva de língua, linguagem e texto


adotada para esse projeto. Compreendendo o papel da literatura como um direito e
a perspectiva de uma educação pela leitura como construtora de experiências,
adotamos a concepção de texto de Bronckart (2007), como algo fruto de interações
e essencialmente humano, que reflete todo um conjunto de conhecimentos e
características chamadas de pré-construídos, que influenciam diretamente na
construção e dialogia entre os interlocutores (autor e leitor). O Interacionismo
Sociodiscursivo, que tem Bronckart (2007) como principal representante, ainda lida
com questões relacionadas ao desenvolvimento humano - que deposita nos textos
escritos e orais uma grande responsabilidade. Esse conceito de desenvolvimento,
que parte do social e dos pré-construídos, cristalizadas nos textos e interações,
conforme Vygotsky (apud. Bronckart 2007), também são caras ao trabalho que será
desenvolvido através deste projeto.

Ainda relacionada a perspectiva de língua e texto, é necessário ainda alinhar


as nossas referências teórico-metodológicas a Linguística Textual segundo
Marcuschi (2008), Koch e Elias (2010) e Antunes (2003, 2009), que vão lançar as
bases para uma compreensão muito mais prática dos impactos que os textos e os
gêneros textuais que compartilhamos no nosso cotidiano, conforme as
características interacionais, nos proporcionam.

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Sabidas as nossas referências teóricas e metodológicas, partimos agora para
as ações concretas do projeto.

5. Metodologia e ações do projeto

5.1. Práticas em e para sala de aula: por um currículo de ensino de língua


portuguesa que valorize as práticas de leitura

O projeto integra algumas ações e atividades que visam a incentivar e


efetivar práticas de leitura nas aulas de língua portuguesa e também ações
extracurriculares que se somam a essas práticas. São as seguintes:

a. Aulas dedicadas às práticas de leitura na carga horária semanal de língua


portuguesa: semanalmente, o professor e os alunos terão duas horas-aula
dedicadas às práticas de leitura em sala de aula - fixada na quarta-feira.
Consiste no uso do livro didático para a promoção da leitura dos textos
previstos no currículo, bem como rodas de leitura coletiva de livros pré-
selecionados na biblioteca e que tenham uma tiragem grande o suficiente
para que cada aluno possa ter a experiência de ler individualmente ou em
pequenos grupos. O professor também imprime pequenos textos, como
crônicas e poemas, para serem lidos em sala de aula pelos alunos. Ao final
da aula, será o momento de compartilhar experiências, falar sobre suas
impressões ou responder uma atividade direcionada sobre o texto, como
quizzes, questionários ou resenhas críticas. Os textos selecionados para as
práticas de leitura em sala de aula são diversificados, literários ou não-
literários e promovem experiências diferentes de leitura.
b. Cine escola: o Cine Escola é uma atividade que visa quebrar um pouco a
monotonia e promover uma ampliação da leitura de mundo dos alunos
através da sétima arte. Os filmes têm uma frequência menor que as leituras
em sala de aula e têm o intuito de, visualmente, criar experiências de leitura
diferentes e complementares. Os filmes são, em sua maioria, adaptações de
livros, animações e documentários que podem promover reflexão sobre
textos literários, cultura, história, natureza e outros temas considerados
transversais pelo BNCC. No dia seguinte ao da exibição, segue-se o mesmo
procedimento usado no final das aulas de leitura, que são as atividades de
reflexão e compartilhamento de experiências.
c. Clube do Livro: esta ação extracurricular é voltada para leitores voluntários
das turmas de oitavo ano e aberta aos demais alunos da comunidade

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escolar. Trata-se de uma atividade extracurricular e não-obrigatória, na qual o
aluno se voluntaria a participar.
d. Criação de gibiteca no acervo da escola: para tornar o acervo da biblioteca
ainda mais atrativo e promover ainda mais experiências de leitura, uma das
ações é a criação de uma gibiteca para os alunos da escola. Consiste em um
programa de doação de gibis e mangás apropriados para a faixa etária dos
alunos, promovido com auxílio do corpo docente, direção e funcionários da
escola. Além disso, o professor de português também fica responsável pela
organização do acervo e busca ativa de doações dos volumes com terceiros,
como sebos e voluntários.
e. Convite formal aos pesquisadores da UFPB Campus I para realização de
pesquisas, programas de extensão, formação e estágio na EMEIEF Moema
Tinoco da Cunha Lima. O convite será enviado a partir do segundo semestre
no intuito de trazer para a escola a participação de universitários e
professores do ensino superior em Letras para somar esforços quanto às
temáticas voltadas para o ensino de literatura, práticas de leitura e linguística
aplicada ao ensino de língua portuguesa, que estão relacionadas ao escopo
do presente projeto.
f. Aplicação de um questionário de perfil leitor para realizar uma leitura da
realidade do público-alvo da comunidade escolar, visando colaborar com o
trabalho dos potenciais pesquisadores e graduandos convidados, além de
oferecer um panorama acerca da situação da comunidade escolar acerca dos
temas relacionados à leitura e literatura.
g. Promoção de workshops e oficinas de leitura e escrita multimodal e de outras
linguagens. Com o advento das redes sociais e das plataformas digitais de
streaming, hoje lidamos com leituras que são dotadas de múltiplas
linguagens e promovem uma rotina diferente de leitura. O intuito desse
conjunto de ações é promover outras possibilidades de leitura de mundo e de
textos, usando tecnologia móvel, suportes digitais e outras linguagens.
h. Organização de um acervo virtual. O acervo virtual será organizado em uma
pasta do Google Drive do professor e disponibilizado para a comunidade
escolar através de links nos grupos de WhatsApp e Códigos QR nas salas de
aula.
i. Divulgação do projeto nas redes sociais Instagram e Facebook para dar
visibilidade, engajamento e mais apoio às ações do projeto e captar mais
doadores e voluntários.

5.2. Clube do livro: leituras para além da escola


A cada mês, um livro é escolhido pelos alunos para leitura e o professor
marca um encontro no espaço da biblioteca para falar sobre o livro, sobre as

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personagens, sobre o mundo que a cerca e leituras relacionadas (para ampliar os
horizontes dos alunos e guiar outras leituras posteriores).
O propósito do clube do livro é tornar a leitura uma prática coletiva,
prazerosa, autônoma e voluntária. Dessa forma, os alunos que participam do clube
do livro são convidados pelo professor em sala de aula, para participar no
contraturno, mas não são direcionados para o clube como se fosse uma atividade
obrigatória.
Ao longo do encontro, são desenvolvidas atividades lúdicas, rodas de
conversa, jogos de improvisação e quizzes para compartilhar as experiências e
tornar a leitura do livro ainda mais significativa.

5.3. Workshops de fotografia, podcast e textos para redes sociais: leituras


para o século XXI
O nosso foco está na linguagem da fotografia e nos gêneros emergentes das
redes sociais, como postagens, vídeos curtos (Reels e TikTok) e podcasts. Serão
ofertadas ao longo do ano letivo oficinas temáticas sobre esses elementos para que
a produção textual dos alunos também seja voltada para gêneros emergentes da
internet no século XXI, visando às suas potencialidades tanto no entreterimento
como no campo do mundo do trabalho.
Especificamente sobre a fotografia, será ofertado workshops para ensinar os
alunos a usar a linguagem fotográfica e seus principais elementos, como luz,
composição, narrativa visual e edição, para criar textos visuais.
Os encontros para os workshops temáticos serão mensais. A cada encontro,
será pedido aos alunos que façam exercícios práticos de produção de material
audiovisual para fins de desenvolvimento de habilidades voltadas para práticas de
produção de textos multimodais.
As produções dos alunos terão culminância em uma mostra no mês de
outubro de 2022, onde serão exibidas fotografias, artes visuais, mostras de
gravações de podcast e postagens para redes sociais.

5.4. Participantes das atividades


O projeto é voltado principalmente para os alunos do oitavo ano do ensino
fundamental anos finais, podendo ser replicado e aproveitado pelos professores e
alunos das demais turmas da escola. Na condição de participantes:

a. Professores de língua portuguesa: que terão o protagonismo do


planejamento e execução das ações voltadas para o público-alvo.

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b. Demais professores: que serão os principais colaboradores do projeto,
aderindo as ações de leitura em sala de aula para tornar a leitura um hábito
indisciplinar e interdisciplinar.
c. Coordenação e Direção Escolar: que terão um papel fundamental de
gerência dos recursos e materiais recebidos, além de auxiliar todos os
demais agentes em suas demandas no projeto e o público-alvo na solicitação
do material de leitura.
d. Funcionários da Escola: que atuarão como colaboradores e auxiliares na
gerência dos recursos materiais e humanos.
e. Voluntários e doadores: que estarão colaborando com as atividades de
forma presencial ou virtual e ainda adquirindo e doando materiais para o
projeto.
f. Pesquisadores, alunos e professores de ensino superior, que poderão
atuar na escola como participantes do projeto, como aplicadores de suas
próprias ações voltadas ao tema de leitura, literatura e ensino e poderão
usufruir do material do projeto na escola para aplicação de suas atividades de
extensão, pesquisa e ensino.

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6. Cronograma de atividades

Ações MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Aulas de leitura nas quartas-feiras


X X X X X X X X X X

Workshops de fotografia
X X X X X X

Workshop de gêneros emergentes


X X X X
da internet

Aplicação dos questionários sobre


X X
leitura

Ações da organização da gibiteca


X X X X
e biblioteca virtual

Ações de culminância do projeto e


X
evento na escola

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Referências Bibliográficas

ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola,


2003.

________. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.

BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um


interacionismo sociodiscursivo. 2.ed. Educ: 2007.

CANDIDO, Antonio. O Direito à literatura: In. CANDIDO, Antonio. Vários Escritos.


5.ed. Ouro sobre Azul: Petrópolis, 2011. pg. 171-193

CENPEC. Retratos da leitura no Brasil: por que estamos perdendo leitores?.


Disponível em: <https://www.cenpec.org.br/tematicas/retratos-da-leitura-no-brasil-
por -que-estamos-perdendo-leitores>. Acesso em 10 mar. 2022

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam.


São Paulo: Cortez, 1988

KOCH, Ingedore Villaça Grunfeld; ELIAS, Vanda Maria. Ler e escrever: estratégias
de produção textual. São Paulo: Contexto, 2010.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e


compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.

NOVA ESCOLA. BNCC na prática: tudo o que você precisa saber sobre língua
portuguesa. Disponível em: <https://novaescola.org.br/baixar-pdf-conteudo?
id=883444>. Acesso em 13 jan. 2019.

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