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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 2016 Edição 42ª. pg 152
justamente a atuação do poder de polícia, restringindo a circulação de pessoas,
horários de funcionamento e até mesmo interdição e aplicação de multa aos
estabelecimentos que não respeitarem as determinações legais.
Estando a discussão localizada no município, existem algumas peculiaridades sobre
as faculdades que podem ser exercidas. No capítulo I do título III da Constituição Federal
estão estabelecidas quais são as competências de cada ente federativo, inclusive sobre as
que são inerentes às cidades. No artigo 30 vemos a determinação:
Para que se proteja o interesse público, o principal objetivo deve ser evitar os
excessos advindos do abuso de poder. O município não deve impor o fechamento
obrigatório de todo e qualquer estabelecimento - como ocorre no lockdown - ou liberar o
funcionamento de maneira irrestrita, ignorando os mais de 500 milhões de brasileiros que
partiram nessa pandemia, com base em sua própria opinião. Pelo contrário, todas as
decisões devem ser baseadas na ciência e em estudos que comprovem a redução da
letalidade, propagação e achatamento das ondas de contágio pela Covid-19.
Em consonância com essa ideia, o ordenamento jurídico brasileiro possui requisitos
que devem informar os atos da administração pública e, caso não sejam identificados,
acarretam em abuso de poder, que pode ocorrer na modalidade excesso de poder ou desvio
de finalidade. No primeiro, o que ocorre é a extrapolação das atribuições conferidas a uma
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Constituição Federal, artigo 23 Inc. II.
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Idem, artigo 198.
autoridade, ou seja, o agente foi além do que estava autorizado por lei a fazer. Já no desvio
de finalidade o problema se encontra na motivação, a qual não visou o interesse público4.
Nesse último caso é que se aprofunda a questão da ciência. Isso porque a
motivação do gestor público não pode ser, por exemplo, o impulsionamento da economia
em detrimento da saúde, pois a vida é um direito fundamental e interesses econômicos se
tornam secundários diante da possibilidade de morte dos cidadãos. A lei 9784/99, que trata
sobre o processo administrativo, colocou a motivação como um dos princípios em seu
artigo 2º, e no artigo 50 estabelece casos especiais em que sua presença é fundamental:
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando:
O direito que é o principal afetado diante das medidas que serão tomadas é o direito
de ir e vir, previsto na Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer
pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
Ademais, é importante que as restrições sejam pautadas por outros dois princípios,
também elencados pela lei 9784/99, que são muito importantes para balizar os atos da
administração: a proporcionalidade e a razoabilidade. Esses princípios trazem consigo a
ideia de adotar a concepção do homem médio - a qual seria a aceita pela maioria das
pessoas -, mas que é finalisticamente vinculada pelo interesse público e relacionada ao
exercício da discricionariedade.
Tendo em vista a criação do programa de restrição ao funcionamento e abertura de
estabelecimentos comerciais é importante que se adote critérios que sejam científicos,
palpáveis e passíveis de consulta pela população. Como exemplo, nós podemos mencionar
o Plano SP, que adota o nível de ocupação das UTIs em regiões para definir as fases que
tenham medidas adequadas para reduzir a circulação do vírus, as quais são aplicadas de
maneira independente em cada parcela do território. Essas informações sobre quais são as
fases e nível de ocupação estão abertas e disponíveis no site oficial do governo, além da
sua notória divulgação nos meios de comunicação mais acessados, o que permite o
conhecimento da população sobre o andamento das restrições. Também é importante
salientar a proporcionalidade, que é visível na adoção de fases e regiões que acompanham
a gravidade da situação.
Entretanto, o poder público não pode se esquecer das atividades econômicas, que
também necessitam de amparo devido a baixa movimentação durante os períodos de
fechamento. Dessa forma, cabe ao município incluir sistemas para redução, parcelamento
ou até mesmo renegociação de dívidas com a fazenda pública da cidade com o objetivo de
não sufocar a iniciativa privada e, consequentemente, a população que depende do
emprego e renda gerado pelos setores mais afetados.
Por fim, o programa também deve incluir a aplicação de sanções, que são o cerne
do poder de polícia. Isso porque não haveria efetividade nas restrições de atividades se não
houvesse meios coercitivos para afugentar os desobedientes. Como exemplo, o município
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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo: Malheiros, 2016 Edição 42ª. pg 122-123
pode adotar a Resolução SS 96 de 2020, que estabelece a aplicação de multas para aqueles
que forem encontrados, dentro ou fora de estabelecimentos, sem o uso de máscaras de
proteção. Entretanto, o endereçamento da multa é precedido de ampla divulgação, prevista
no artigo 5ª da própria resolução, e em seu artigo 9º fica assegurado o direito de ampla
defesa e contraditório, para evitar abusos de poder por parte dos agentes.