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Trabalho de Antropologia
ASPECTOS TEÓRICOS DA
INTERCESSÃO
DIREITO/FILOSOFIA EM:
“PATERNIDADE BRASILEIRA NA
ERA DO DNA:
A CERTEZA QUE PARIU A DÚVIDA”
Belo Horizonte
Maio/2011
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APRESENTAÇÃO
Este trabalho tem por objetivo apresentar os relatos do grupo acerca do texto
“Paternidade brasileira na era do DNA: a certeza que pariu a dúvida”, de Cláudia Fonseca. O
resumo que se seguirá tem por objetivo expor as impressões do grupo sobre o texto acima
mencionado, buscando salientar as relações existentes entre o tema antropológico e o Direito.
A PESQUISA DE CAMPO
A autora aqui salienta uma nova relação familiar que se estabelece tipicamente no
Brasil, a chamada “adoção à brasileira”. Tal adoção se dá quando, visando a marcar a aliança
com a mulher sem a realização de casamento formal, o homem assume a paternidade de seus
filhos, mesmo cônscio de que as crianças são fruto de um relacionamento anterior de sua nova
cônjugue.
Esse procedimento, embora bastante comum, é ilegal segundo as normas jurídicas
brasileiras. É caracterizado como ‘falsidade ideológica’, e é também passível de multa e
prisão. Entretanto, não se observam punições para a “adoção à brasileira” no Brasil, muito
pelo contrário, essa atitude é caracterizada como “nobreza de espírito” praticada pelos
padrastos.
Porém, como os padrastos brasileiros tendem a efetuar a adoção de forma ilegal e no
afã de se unirem rapidamente com a mulher, são encontrados sérios problemas quando a união
entre essas partes é desfeita, ou seja, quando o casamento acaba. A legislação brasileira é
clara quando afirma que, uma vez que o padrasto assume seu enteado como filho, tendo
conhecimento de que este não o é, esse laço não poderá ser desfeito no caso de separação da
mãe da criança.
Em suma, essa paternidade não é revogável, a menos que o verdadeiro pai da criança
compareça à defensoria junto do pai adotivo para assumir o filho. Em contrapartida, observa-
se uma facilidade muito maior no que concerne à contestação da paternidade. Com o advento
do preciso exame de DNA, até mesmo o Código Civil brasileiro foi alterado, passando agora a
ser mais permissivo quanto à contestação da paternidade dos filhos tidos durante o casamento.
Pelo Código Civil de 2002 não há mais as tradicionais restrições à contestação da
paternidade, não necessitando o pai em dúvida provar impotência ou se preocupar com os
prazos legais para trazer a questão que o aflige à tona. Como afirma um juiz do STF ao
sentenciar um caso de paternidade, “não há como interpretar-se uma disposição, ignorando as
profundas modificações por que passou a sociedade, desprezando os avanços da ciência”.
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A autora começa relatando a história de João Vítor, que, após 8 anos de casamento,
separou-se da mulher e queria “tirar uma dúvida” sobre a paternidade da filha, já com quase 6
anos. Segundo ele, não fará diferença qual for o resultado, vai continuar como está com a
filha, mas desejava tirar a duvida que tanto o consumia.
Ela usa esse caso para explicar que esse ou outros casos do mesmo tipo não vão além
da Defensoria, pois, segundo os defensores, explicando para homens descasados que “seria
difícil” o juiz acatar esse tipo de negatório sem que houvesse outro “pai” pronto para assumir
seu lugar na certidão. De fato, João Vitor conseguiu apenas um encaminhamento para a Santa
Casa, onde teria que pagar R$ 160,00 para realizar um exame menos preciso.
Segundo a autora, muitas das petições iniciadas por mulheres são histórias
semelhantes a de João Vítor: falam de homens que, apesar de terem vivido durante longos
anos com uma companheira, questionam a paternidade dos filhos que criaram. A diferença é
que João Vítor era legalmente casado com sua mulher e, assim, era automaticamente o pai
presumido de sua filha. No caso de 20% da população que vive em união consensual, a
filiação paterna não é automática; deve ser voluntariamente declarada pelo pai - o que
significa, na prática, que a paternidade depende do poder de persuasão da mulher.
Mesmo em situações em que o homem está realmente a ponto de assumir o filho, as
pessoas ainda chegam diante do poder público com a mesma demanda: "Se tiver direito [ao
teste], eu quero". Em resposta à demanda desses indivíduos os operadores das varas de família
tendem a conceder assistência jurídica gratuita com bastante facilidade. Agindo sem dívida
com espírito democrático e querendo garantir direitos iguais a todos que chegaram até esse
ponto, é raro que neguem o pedido por um exame pago pelo Estado.
Ao que tudo indica, quando se trata de estabelecer um vínculo paterno legal para uma
criança que até então não tinha nenhum, já virou quase rotina mandar fazer o teste de DNA.
Existe uma aceitação tácita da “normalidade” de o homem exigir esse “direito”, deixando a
ciência decidir os fatos, antes de ele assumir um compromisso tão sério.
Contudo, o poder público não trata todas as demandas da mesma forma. Como a
autora mostra no caso de João Vítor, mesmo se tecnicamente a lei favorece a contestação do
homem casado, de fato o sistema judiciário aciona mecanismos para desencorajar esses
homens, obrigando a grande maioria deles a pagar o preço do teste de DNA em um
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laboratório particular. É só depois de eles voltarem com resultado negativo que os defensores
acatam sua demanda, ajuizando o processo e mandando-o para o Fórum.
É nesse momento que é invocada, ao lado do “direito de a criança saber”, a “hipótese
de erro”. Contrariamente à questão de “falsidade”, “a hipótese de erro” diz respeito a casos
em que o homem 'errou' em boa consciência - subentendendo-se que foi enganado pela
mulher.
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OLHARES CRUZADOS SOBRE PARENTESCO E PATERNIDADE NA ÉPOCA
CONTEMPORÂNEA
Hoje é possível “duas mulheres (uma com o óvulo da outra implantado no seu útero)
serem parceiras na procriação de um filho. Hoje, com a maternidade assistida, uma mulher
pode ser mãe de sua própria irmã. E com as cirurgias transexuais as autoridades estatais estão
procurando maneiras para classificar aquele pai que passou a ter um sexo feminino legal.” Ou
seja, a ciência passou a sofrer grandes interferências humanas e deixou de ser algo anterior, ou
externa à cultura. Porém, a ideia de parentesco, de laços sanguíneos continua forte como pode
ser observado na certeza assumida após o resultado de um exame científico, o DNA.
Apesar disso, o exame de DNA vem sendo usado como uma ferramenta para a
legitimação de parentescos, sendo que essa legitimação é puramente judicial. O que acaba
tornando paradoxal tal situação, pois a relação de parentesco é uma relação social e não
científica. “Em outras palavras, a tecnologia está mudando as premissas das relações
familiares e assim aumentando a dúvida que pretende sanar.”