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“É preciso ser totalmente um dom, um dom

desinteressado, para reconhecer em cada pessoa


aquele dom que ela é”

“Viver de amor é dar sem


medidas sem, na terra, salário
reclamar. Eu dou, pois
convencida de que quem ama
não sabe calcular...
Não tenho mais que minha
única riqueza: viver de amor!”
(Santa Terezinha)
A lógica do Dom.

“Não somente os homens se unem entre si, mas é Deus


que os doa um ao outro. E nisto se atua o Seu plano
criador. Assim como lemos no livro do Gênesis, Deus criou
o mundo visível para o homem e lhe disse para dominar
sobre toda a terra (cf. Gn 1,28).” João Paulo II
A lógica do Dom

 Deus nos cria numa lógica de Dom, não numa lógica de prazer,
e precisamos saber bem essa distinção;
 A Trindade mesma se faz Dom pelo homem: Deus se doa à
humanidade.
 Só conseguiremos entender a Palavra de Deus com essa chave
de leitura: Dom;

 O amor é Dom!
A lógica do Dom

 “Os homens não vivem somente um ao lado do


outro, mas vivem em variados referimentos:
vivem um para o outro, um é para o outro (...).
Pode parecer que não existia aí nada de
extraordinário . É, a princípio, uma simples
imagem da vida humana. Esta imagem, porém,
em certos momentos, ganha densidade, e é
exatamente aí, nestes aumentos de densidade,
que se realiza o mencionado dom de um
homem ao outro.” João Paulo II
A lógica do Dom

 Deus doa ao homem:


 Na criação;
 Na libertação do povo;  Jesus Cristo despoja-se da sua
condição divina : Kenosis (cf. Fil
 Nas profecias;
2, 6-8)
 Deus doa-se ao homem!  Jesus Cristo doa sua palavra,
revela o rosto do Pai;
 Jesus doa-se na Cruz;
 Jesus doa-se na Eucaristia;
 Jesus doa seu Espírito
Fundamentos de Antropologia

 Quando Deus nos cria a sua imagem e


semelhança, cria-nos todos para o amor,
toda nossa estrutura é direcionada para
o amor;
 Deus criou nosso corpo;
 Deus criou nossa psique;
 Deus criou nosso espírito;

 Somo um só, e não “três em um”.


Fundamentos de Antropologia

 Não tenho um corpo, sou um corpo!


 Não tenho uma psique, sou uma psique
(sou um “eu”).
 Não tenho um espírito, sou um espírito.

 Ao mesmo tempo, não sou só um corpo,


não sou só uma psique, não sou só um
espírito: Sou uma pessoa!
Fundamentos de Antropologia

 Mas não basta definir o homem como indivíduo da espécie


homo (nem sequer homo sapiens). O termo “pessoa” não se
deixa encerrar na noção de “indivíduo de uma espécie”,
porque há nele alguma coisa mais, uma plenitude e uma
perfeição de ser particulares, que não exprimir senão
empregando a palavra “pessoa”.
(Karol Wojtyla, p.12).

 Demócrito: “O homem é um microcosmo.”


 Karol Wojtyla: “O homem é um macrocosmo.”
Fundamentos de Antropologia

 É significativo que graças à sua interioridade e à sua vida


espiritual o homem não só constitua uma pessoa, mas ao,
mesmo tempo, pertença ao mundo objetivo “exterior” e faça
parte dele duma maneira que lhe é própria. A pessoa é
precisamente um objeto tal, que, enquanto sujeito definido,
comunica estreitamente com o mundo (exterior) e se introduz
nele radicalmente graças à sua interioridade e à sua vida
espiritual. É preciso acrescentar que assim comunica não só
com o mundo visível, mas também com o mundo invisível e
sobretudo com Deus. Este é outro sintoma da especificidade da
pessoa no mundo visível. (Karol Wojtyla, p. 13)
Fundamentos de Antropologia

 A comunicação da pessoa com o mundo objetivo, com a


realidade, não é só física, como sucede em todo o ser natural, e
nem sequer unicamente sensitiva, como nos animais. Enquanto
sujeito claramente definido, a pessoa comunica com os outros
seres por meio da própria interioridade, ao passo que o contato
físico , de que é também capaz (porque possui um corpo e, em
certo sentido, “é corpo”) e o contato sensitivo, como nos
animais, não são os seus meio característicos de comunicação
com o mundo. (Karol Wojtyla, p. 13).
Fundamentos de Antropologia

 Sem dúvida, o laço da pessoa humana com o mundo tem início


no plano físico e sensorial, mas assume forma peculiar só ao
homem, na esfera da vida interior. (Karol Wojtyla, p.13-14).

 A pessoa é um indivíduo de natureza racional (Karol, p.12).


 A pessoa é alteri incommunicabilis (Karol, p.14).

 O fato da pessoa ser incomunicável e inalienável está em


estreita relação com a sua interioridade, com a sua
autodeterminação, o seu livre arbítrio (Karol, p.14).
 “O ser humano, com efeito, é chamado
ao amor como espírito encarnado, isto
é, alma e corpo na unidade da pessoa. O
amor humano abarca também o corpo
e o corpo exprime também o amor
espiritual. A sexualidade, portanto, não
é qualquer coisa de puramente
biológico, mas refere-se antes ao
núcleo íntimo da pessoa. O uso da
sexualidade como doação física tem a
sua verdade e atinge o seu pleno
significado quando é expressão da
doação pessoal do homem e da mulher
até à morte.” (Sexualidade Humana:
verdade e significado, p. 8)
Afetividade, Sexualidade e
Genitalidade.

 É necessário distinguir entre:


 Genitalidade (faz referência aos órgãos genitais, está
mais relacionado ao corpo);
 Afetividade (faz referência à maneira como
“apreendemos a realidade”, está mais relacionado à
psique)
 Sexualidade (faz referência ao ser todo, à maneira de
ser de uma pessoa, está mais relacionado ao espírito).
Genitalidade

 A genitalidade faz referência ao corpo, contudo não pode ser


entendida como separada das demais realidades da estrutura
humana;
 Não é determinante no processo de integralização do ser
humano;
 O homem não pode ser entendido simplesmente um fator
biológico – precisa ser integrado na personalidade como um
todo;
 O processo de integralização da genitalidade na realidade da
pessoa não é automática (instintiva).
Afetividade

 É a maneira como a pessoa se relaciona com o mundo, com as


outras pessoa e com Deus;
 A maneira de um homem se relacionar é diferente da maneira
de uma mulher se relacionar: nenhum desses fatores podem se
separar da realidade da pessoa (integral);
 É como um óculos que usamos para ver a realidade;
 Não pode ser separada do caráter genital (repressão e
fantasia), nem deixar de ser integralizada na sexualidade como
um todo (ilusão e libertinagem).
Sexualidade

 Está ligado ao que a pessoa é, não é simplesmente fruto de


impulsos biológicos, das marcas históricas pessoais ou
marcação de uma estrutura social;
 “A Sexualidade é uma componente fundamental da
personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se
comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o
amor humano”. Esta capacidade de amor omo dom de si tem,
por isso, uma sua “encarnação” no caráter esponsal do corpo,
no qual se inscreve a masculinidade e a feminilidade da pessoa.
(Sexualidade Humana, verdade e significado, p. 15)
Sexualidade

 É durante o crescimento que o homem e a


mulher vão formando sua sexualidade,
identificando os papéis. A convivência com
pessoas do outro sexo é muito importante
para a formação da personalidade e
sexualidade (...). O processo
particulamente difíficl da sexualidade é o
da sua integração, isto é, da harmonia de
todos os elementos da indentidade
enquanto pessoa. A integração da
sexualidade humana não é automática.
(Aos Jovens com afeto, CNBB, 15)
Três tipos de Amores

 Amor concupiscentiae – Amor de


concupiscência: “amo-te porque tu me
faz bem”;

 Amor benevolentiae – Amor de


complacência: “amo-te porque quero
teu bem, quero ser um bem para ti”.

 Amor esponsal: “preciso doar-me a ti!”


Amor concupiscentiae

 O amor de concupiscência não se reduz, portanto,


só a desejos. Não é senão uma cristalização da
necessidade objetiva dum ser virado para o outro
(...). Todavia, na consciência do sujeito, este amor
não se limita só à concupiscência. Aparece como o
desejo dum bem para si: “Amo-te porque és para
mim um bem”. O objeto do amor de
concupiscência é um bem para o sujeito. (Karol, p.
71)
Amor complacentiae

 A benevolência separa-se de todo o


interesse, do qual certos elementos
são ainda perceptíveis no amor de
concupiscência. A benevolência é o
desinteresse no amor; não diz: “Eu
desejo-te como um bem”, mas: “Eu
desejo o teu bem”, “Eu desejo o
que é um bem para ti”. Uma
pessoa “benevolente” deseja isto
sem pensar em si mesma, sem ter-
se em conta a si...
Amor complacentiae

 Por isso o amor de benevolência é amor num sentido muito


mais absoluto do que o amor de concupiscência. É o amor mais
puro. Por meio da benevolência aproximamo-nos o máximo
daquilo que constitui a “essência pura” do amor. É o amor que
aperfeiçoa ao máximo o seu sujeito e que consegue realizar de
modo mais perfeito, tanto a existência do sujeito como a da
pessoa para a qual é orientado. (Karol, p.73-74)
O amor conjugal

 O amor do homem e da mulher não


pode deixar de ser um amor de
concupiscência, mas deve tender a
tornar-se uma profunda benevolência.
Isto deve verificar-se especialmente no
amor conjugal, onde está presente não
só o amor concupiscente como a
própria concupiscência. Nisto consiste a
beleza e a dificuldade do amor conjugal.
(cf. Karol, p. 74).
Amor esponsal

 O amor esponsal difere de todos os outros


aspectos e formas do amor que analisámos.
Consiste no dom da pessoa. A sua essência é o
dom de si mesmo, do seu próprio “eu”. É uma
coisa diversa da atração, e ao mesmo tempo
alguma coisa mais do que a concupiscência, e até
que a benevolência. Todos estes modos de sair
de si mesmo para ir para a outra pessoa, só com
vista ao seu bem, nunca vão tão longe como o
amor esponsal. “Dar-se” é mais que “querer
bem”. (Karol, p.85-86)

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