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A não integração da sensualidade ou da afetividade a respeito de uma pessoa de

sexo oposto, que nasce mais rapidamente do que a virtude e mais rapidamente se
exteriorizam, não são ainda amor. Contudo, na maior parte dos casos são tomada
por amor e dá-se-lhe esse nome. Ora a castidade opõe-se precisamente a um amor
assim concebido. (Karol, p.136)

A palavra “castidade”
contém a ideia de eliminação
de tudo o que “mancha”. É
preciso que o amor seja
transparente: todo o ato que
manifesta deve entrever o
reconhecimento do valor da
pessoa. (Karol, p.136-137).
A pessoa e a castidade.
A palavra “castidade” perdeu muito do seu
sentido original e verdade, hoje é interpretado
como algo repressivo, abusivo. É preciso
restaurar o sentido original e acabar com o
ressentimento que lhe restou.
Amor e Castidade.

 As reações da sensualidade são sempre orientadas não só para o


corpo e o sexo, mas também para o prazer. São estes o objetivos
da concupiscência e também do amor carnal. A concupiscência
procura a sua satisfação no corpo e no sexo através do prazer.
Logo que o consegue, toda a atividade do sujeito a respeito do
objeto acaba, e o interesse desaparece até que o desejp
desperte novamente. A sensualidade esgota-se na concupiscência.
(Karol, p.139)
 Convém notar que há uma diferença entre o “amor carnal” e o
“amor do corpo”, porque o corpo, enquanto elemento da
pessoa, pode também ser objeto de amor e não só de
concupiscência. (Karol, p.138).
Amor e Castidade.

 A sensualidade fornece matéria para o amor,


mas só a vontade à produz. (cf. Karol, p.140).
 A afetividade é, em certo sentido, uma proteção
natural contra a concupiscência do corpo,
porém não dá uma solução satisfatória para ela.
(cf. Karol, p.141).
 O que a afetividade presta ao homem e à
mulher é ainda só um material para o amor. Só
poderemos encontrar uma proteção eficaz
contra a concupiscência do corpo num profundo
realismo da virtude, a da castidade
precisamente. (Karol, p.141).
Amor e Castidade.

O subjetivismo pelo contrário, é uma


deformação da essência do amor, que consiste
numa hipertrofia do elemento subjetivo, que
absorve parcial ou totalmente o valor objetivo
do amor. (...) Ora o sentimento desvia, por
assim dizer, o nosso olhar da verdade; desvia-o
dos elementos objetivos da atividade, do
objeto da ação e do próprio ato, e dirige-o para
os elementos subjetivos, para o que foi vivido
por nós. (...) E isto é verdadeiro, isto é,
autêntico, só na medida em que é impregnado
de verdadeira sentimento. (Karol, p.143).
Amor e Castidade.

 O subjetivismo dos valores equivale, todavia, a uma orientação só


para o prazer; este torna-se o objetivo ao passo que todo o resto, a
pessoa, o seu corpo, a sua feminilidade ou masculinidade, não são
senão um meio. (Karol, p.144).
 Não haverá, pois, reciprocidade, mas um “bilateralismo”: as relações
entre duas pessoas de sexo diferente dão uma soma de prazeres que
é preciso intensificar de modo que cada u obtenha o máximo. O
egoísmo exclui o amor, mas admite o cálculos e o compromisso;
embora não haja nada de amor, é sempre possível uma acomodação
bilateral entre os egoísmos. (Karol, p.146)
 Contudo, o prazer não é um mal, mas o mal moral esconde-se por
detrás da busca exclusiva pelo prazer. (cf. Karol, 146)
Amor e Castidade.

 O corpo é o objeto da luta. Em razão dos seus valores sexuais,


desperta o desejo de prazer, ao passo que deveria fazer nascer
o amor em razão do valor da pessoa. A concupiscência do corpo
representa uma disposição permanente só para o prazer,
enquanto o dever do homem é o de amar. por isso é preciso
enunciar com uma certa reserva a opinião por nós formulada no
decurso desta análise do amor, isto é, que a sensualidade e
afetividade fornecem matéria ao amor. Isto só é verdade na
medida em que as suas reações não sejam absorvidas pelo
desejo carnaval, mas pelo verdadeiro amor da pessoa. (Karol,
p.149).
 Aqui a distinção entre o amor do corpo e o amor carnal (Karol,
p.149)
Amor e Castidade.

 Contudo, essa “inclinação natural”, fruto


do pecado original, para o prazer, ao
invés da pessoa, não é ainda pecado, pois
move-se “ao lado”, ou fora, da vontade.
Precisa-se ainda da atitude passiva de
consentimento (cf. Karol, p.150-151).
 Ninguém pode exigir de si mesmo que as
reações da sensualidade não se
manifestem nele (...). Isto é importante
na prática da virtude da continência. “Não
querer” é diferente de “não sentir”, “não
experimentar”. (Karol, p.151-152).
Amor e Castidade.

 O perigo particular do “amor culpado”


reside numa ficção, isto é, no fato de ser
vivido, no momento em que é
experimentado e antes de toda e
qualquer reflexão, não como
“culpado”, mas sobretudo como
“amor”. (Karol, p.154).
 O mal resulta aqui muitas vezes duma
visão falsa e puramente subjetiva da
felicidade, em que a “plenitude do
bem” foi substituída por uma “soma de
prazeres”. (Karol, p.155).
Amor e Castidade.

 O homem nega-se a reconhecer o grande valor da castidade


para o amor quando rejeita a verdade integral e objetiva sobre
o amor das pessoas e substitui por uma ficção subjetiva.
(Karol, p.156).
 Segundo Tomás de Aquino, a castidade está ligada e
subordinada à temperança. Essa é uma virtude segundo a
razão, para atingir o fim correspondente à natureza, ou seja, o
amor da pessoa. A virtude da castidade é uma aptidão para
dominar os movimentos da concupiscência. Aptidão é mais do
que capacidade. E virtude é uma aptidão “permanente”, se
fosse passageira não seria virtude. Ninguém vive a castidade
“por sorte”. (cf. Karol, p.157)
Amor e Castidade.

 Isso não leva a um puritanismo. Essa constância só se alcança


com uma conversão (graça de Deus) dos valores adquiridos
durante toda sua vida. É uma constante educação para o amor
–e em alguns casos, uma restauração ao amor.
 A castidade só tem sentido no amor! Tem como missão livrar o
homem da lógica do prazer, e assim todo os tipos de
subjetivismo e egoísmo que ela esconde (cf. Karol, p.159).
 A castidade é a “transparência” da interioridade, sem o qual o
amor não é amor, e não pode sê-lo até que o desejo de gozar
não esteja subordinado à disposição para amar em todas as
circunstâncias. (Karol, p.159)
Amor e Castidade.

 Há um lado positivo (Tu amarás!) e um


negativo (“Não buscarás só o prazer!”).
 Não se trata de destruir os valores do
corpo e do sexo na consciência,
repelindo a sua experiência para o
subconsciente, mas de realizar uma
integração duradoura e permanente: os
valores do corpo e do sexo devem ser
inseparáveis do valor da pessoa. (Karol,
p.160).
Amor e Castidade.

 Existe uma diferença psicológica entre o


homem e a mulher, na maneira de
aperceber-se da realidade. A mulher
naturalmente é mais afetiva e menos
sensual, e o homem mais sensual e mais
afetiva (cf. Karol, p.166).
 Por isso, diz-se que a mulher é
“naturalmente” mais casta que o homem –
contudo isso não tem nada a ver com a
virtude da castidade. (cf. Karol, p.166).
 A vivência da castidade não é só uma
vivência exterior, ou uma negação.
Amor e Pudor.

 Considerar o pudor como um visão simplesmente negativa


(“vergonha”), certamente seria muita ingenuidade. É antes,
uma guardar aquilo que deve permanecer oculto por sua
finalidade e essência. (cf. Karol, p.163).
 A essência do pudor é mais do que temor e não pode
perceber-se senão caindo bem na conta daquela verdade a
que já nos referimos antes, isto é, que a pessoa possui uma
interioridade que pertence a ela só. (Karol, p.164).
 Como vamos verificar, o pudor não se identifica de maneira
tão simplista com o uso de vestidos, nem a falta de pudor
com a nudez parcial ou integral. (Karol, p.165)
Amor e Pudor.

 Assim é necessário ter em conta as diferenças fisiológicas,


psíquicas e espirituais de ambos os gêneros para levar em conta
o pudor – nunca é uma resposta simples e pronta.
 O pudor sexual não é uma fuga diante do amor, mas, pelo
contrário, é um meio para chegar a ele. A necessidade
espontânea de esconder os valores sexuais é uma maneira
natural de permitir que se descubram os valores da própria
pessoa. (...) O pudor não revela o valor da pessoa de modo
abstrato, (...) pelo contrário, põe-no em evidência de modo vivo
e concreto ligado aos valores do sexo, se bem que ao mesmo
tempo superiores a eles. (Karol, p.168).
Amor e Pudor.

 O pudor é a tendência particular, do ser humano, a esconder os


próprios valores sexuais, na medida em que podem ser
susceptíveis de encobrir o valor da pessoa. É um movimento de
defesa da pessoa que não quer ser objeto de prazer, nem no
ato, nem sequer na intenção, mas que quer, pelo contrário ser
objeto de amor. A pessoa, precisamente porque se sente em
condições de poder tornar-se objeto de prazer por causa dos
seus valores sexuais, procura dissimular esses valores.
Dissimula-os todavia só em parte, porque querendo
permanecer objeto de amor, deve deixá-los visíveis na
proporção em que o amor precisa deles para nascer e existir.
(Karol, p.175).
Amor e Pudor.

 Existe, também, uma certa


vergonha natural do amor físico, e
é natural o homem e a mulher se
“esconder” aos olhos de terceiros.
Mas isso revela uma razão
profunda: aquele ato, aos
terceiros, revelam-se
simplesmente como algo carnal e
exterior (cf. Karol, p.169).
Amor e Pudor.

 A necessidade de pudor foi inteiramente absorvida pelo amor


profundo da pessoa (Karol, p.172)
 O que é essencial, no amor, é a afirmação do valor da pessoa
(...). A vergonha, forma de defesa contra tal atitude, desaparece
pois no amor, porque nele perde a sua razão de ser objetiva.
Mas só desaparece na medida em que a pessoa amada também
ela ama e – mais importante – está pronta a dar-se por amor.
(Karol, p.171).
 Se esta é a atitude daqueles que amam, já não tem motivo
nenhum para sentir vergonha da sua vida sexual, pois já não
têm de temer que essa vida ofusque os valores das suas
pessoas, nem atente contra a sua inalienabilidade e
inviolabilidade. (Karol, p.172).
Amor e Pudor.

 Ainda que hoje haja uma relatividade nesses


valores, isso não prova de modo algum que
o impudor em si seja relativo, nem que não
haja em nós elementos e comportamentos
que revelem isso, ainda que se manifestem
de maneira diversa. (cf. Karol, p.175).
 O verdadeiro pudor dos atos de amor nunca
se identifica com o falso pudor, mas é uma
sã reação contra toda a atitude que
pretende reduzir a pessoa à categoria dum
objeto de prazer. (Karol, p.176).
Amor e Pudor.

 O princípio é simples e evidente, mas a sua aplicação concreta


depende dos indivíduos, dos ambientes e da sociedade. o
vestuário é sempre um problema social, é, portanto, uma
função dos costumes (sãos ou malsãos). Simplesmente é
preciso sublinhar que as considerações de natureza estéticas,
embora aqui possam parecer decisivas, não são as únicas a ter
em conta nem o podem ser: ao lado delas existem
considerações de natureza moral. (Karol, p.178).
 O corpo é uma parte autêntica da verdade sobre o homem,
como os elementos sensuais e sexuais são uma parte autêntica
do amor humano. Mas não é justo que esta parte oculte o
conjunto, e é precisamente isso que muitas vezes sucede na
arte. (Karol, p.180)
Amor e Continência.

 O domínio da concupiscência do corpo tem


por fim não só a perfeição da pessoa que o
pratica, mas também a realização do amor
no mundo das pessoas. (Karol, p.182).
 A moderação não é mediocridade... (Karol,
p.183).
 A castidade não é uma depreciação do
corpo e do sexo, por isso, não é repelir as
reações sensuais para o subconsciente.
Afinal, a continência não é um fim em si
mesmo. (cf. Karol, p.184).
Amor e Continência.
 O valor da pessoa deve assumir seguidamente a direção do que
sucede no homem. A continência deixa então de ser cega. Assim
se supera a etapa do domínio de si mesmo e do
entrincheiramento para permitir à consciência e à vontade que se
abra a um valor que é ao mesmo tempo verdadeiro e superior.
Por isso a objetivação dos valores está estreitamente ligada à
sublimação. (Karol, p.185).
 A prática da temperança e da castidade são, no começo,
acompanhados de um sentimento de frustação, como se um
valor estive-se lhe sendo tirado. Isso é natural e mostra como a
concupiscência ainda estava ancorada na consciência e na
vontade do homem. À medida em que se desenvolve o amor da
pessoa, este reflexo torna-se mais fraco. Assim, castidade e amor
condicionam-se mutuamente. (cf. Karol, p.186)
Amor e Continência.

 Todo homem deveria saber usar as energias latentes da


sexualidade e da afetividade para que elas ajudem no
verdadeiro amor. Transformar inimigos em aliados é,
certamente, uma das características essenciais da virtude da
castidade e da continência. (cf. Karol, p.187).
Amor e Continência.

 A ternura, pelo contrário, brota da afetividade e, no caso que


nos interessa, dessa reação perante o ser humano de sexo
diferente, que a caracteriza. Não exprime concupiscência, mas
antes benevolência e abnegação. (...) A afetividade está
orientada para o homem e não para o corpo e o sexo; não se
trata para ela de gozar, mas de sentir-se perto. (Karol, p.190).
 A ternura pode ser completamente desinteressada, sobretudo
quando põe em evidência a atenção dirigida à pessoa e à sua
situação interior. (Karol, p.190).
 Por isso, o verdadeiro amor humano (...) deve reunir em si dois
elementos: a ternura e uma certa firmeza. (Karol, p.191)
Amor e Continência.

 De modo algum é ter um amor “frio”, mas o afeto traz um calor


positivo no relacionamento, um calor que não gera
ressentimento.
 A ternura é a arte de “sentir” o homem todo inteiro, toda a sua
pessoa, todos os movimentos da sua alma, mesmo os mais
ocultos, pensando sempre no seu verdadeiro bem. (Karol,
p.194).
 Não pode haver verdadeira ternura, sem verdadeira continência
a qual tem a sua origem na vontade, sempre pronta a amar e a
triunfar da atitude de prazer, que a sensualidade e a
concupiscência procuram impor. (Karol, p.194).
Amor e Continência.

 Peçamos ao Senhor a graça de


transformar-nos, a partir de dentro!
A graça de converter as estruturas
mais íntimas do nosso ser e
converter todas as nossas
potências na direção do amor: um
amor verdadeiro, desinteressado.
Um amor casto!

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