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Subsídios
Os caracteres da perfeição, apresentados por Jesus, no Evangelho, desdobram-se em
três pontos fundamentais: amar os vossos inimigos; fazer o bem aos que vos odeiam, e
orar pelos que vos perseguem e caluniam. E isso porque – explica o Mestre Divino – se
somente amarmos os que nos amam, que recompensa teremos disso? Não fazem o
mesmo os publicanos? Se somente saudarmos os nossos irmãos, que fazemos com
isso mais do que outros? Não fazem o mesmo os pagãos? Concluindo o seu
ensinamento, diz Jesus: Sede, pois, vós outros, perfeitos, como perfeito é o vosso Pai
celestial.
Comentando esse ensino, assinala Kardec:
Pois que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta proposição: Sede
perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial, tomada ao pé da letra, pressuporia a
possibilidade de atingir-se a perfeição absoluta. Se à criatura fosse dado ser tão perfeita
quanto o Criador, tornar-se-ia ela igual a este, o que é inadmissível. [...] Aquelas
palavras, portanto, devem entender-se no sentido da perfeição relativa, a de que a
Humanidade é suscetível e que mais a aproxima da Divindade. Em que consiste essa
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Módulo XVII: A Perfeição Moral
perfeição? Jesus o diz: Em amarmos os nossos inimigos, em fazermos o bem aos que
nos odeiam, em orarmos pelos que nos perseguem. Mostra ele desse modo que a
essência da perfeição é a caridade na sua mais ampla acepção, porque implica a prática
de todas as outras virtudes. Com efeito, se se observam os resultados de todos os vícios
e, mesmo, dos simples defeitos, reconhecer-se-á nenhum haver que não altere mais ou
menos o sentimento da caridade, porque todos têm seu princípio no egoísmo e no
orgulho, que lhes são a negação; e isso porque tudo o que sobreexcita o sentimento da
personalidade destrói, ou, pelo menos, enfraquece os elementos da verdadeira
caridade, que são: a benevolência, a indulgência, a abnegação e o devotamento. Não
podendo o amor do próximo, levado até ao amor dos inimigos, aliar-se a nenhum defeito
contrário à caridade, aquele amor é sempre, portanto, indício de maior ou menor
superioridade moral, donde decorre que o grau da perfeição está na razão direta da sua
extensão.
Pode dizer-se, em decorrência disso, que a [...] virtude, no mais alto grau, é o conjunto
de todas as qualidades essenciais que constituem o homem de bem. Ser bom, caritativo,
laborioso, sóbrio, modesto, são qualidades do homem virtuoso. [...] Não é virtuoso
aquele que faz ostentação da sua virtude, pois que lhe falta a qualidade principal: a
modéstia, e tem o vício que mais se lhe opõe: o orgulho. A virtude, verdadeiramente
digna desse nome, não gosta de estadear-se. Advinham-na; ela, porém, se oculta na
obscuridade e foge à admiração das massas.
Entretanto, de todas as virtudes qual a mais meritória? Os Espíritos Superiores
respondem:
Toda virtude tem o seu mérito próprio, porque todas indicam progresso na senda do
bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus
pendores. A sublimidade da virtude, porém, está no sacrifício do interesse pessoal, pelo
bem do próximo, sem pensamento oculto. A mais meritória é a que assenta na mais
desinteressada caridade.
Frequentemente, as qualidades morais são como, num objeto de cobre, a douradura
que não resiste à pedra de toque. Pode um homem possuir qualidades reais, que levem
o mundo a considerá-lo homem de bem. Mas, essas qualidades, conquanto assinalem
um progresso, nem sempre suportam certas provas e às vezes basta que se fira a corda
do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. [...]O apego às coisas
materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens
deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino. Pelo desinteresse, ao
contrário, demonstra que encara de um ponto mais elevado o futuro.
Dizem os Espíritos Superiores que, de todos os vícios, aquele que se pode considerar
radical é o egoísmo. [...] Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no
fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-
los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a
causa.
Note-se, entretanto, que fundando-se o egoísmo no interesse pessoal, só poderá ser
extirpado do coração à medida que o homem se instrui a respeito das coisas espirituais,
o que fará que dê menos valor aos bens materiais.
Com efeito, ensinam os Orientadores Espirituais que de [...] todas as imperfeições
humanas, o egoísmo é a mais difícil de desenraizar-se porque deriva da influência da
matéria, influência de que o homem, ainda muito próximo de sua origem, não pôde
libertar-se e para cujo entretenimento tudo concorre: suas leis, sua organização social,
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