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A educação moral e religiosa

Fonte: São João Bosco, AA educação moral e religiosa@.

A educação moral

A educação moral e religiosa é o ponto central de toda a obra educativa. Sendo una,
compreende vários setores.

a) Formação da consciência, que é, por assim dizer, formar nos alunos esse intelecto
prático que conhece a lei moral e, à sua luz, avalia cada ação, descobrindo sua consciência ou
discrepância com a dita lei e agindo em conformidade com ela. Tudo deve concorrer para isto:
leituras, conversações, colóquios, aulas, conferências públicas e privadas devem visar incutir
nas inteligências o reto juízo sobre todas as coisas e ações da vida. Devem aprender a fugir do
mal e fazer o bem, não por temor ou visando o homem, mas por amor a Deus: não por prêmio
ou por castigo do superior, mas por dever de consciência.
Jovens, habituai-vos a dizer ao demônio: Não posso; tenho uma só alma! Esta é a
verdadeira lógica cristã. Por isso, pureza de intenção, fazer o que agrada a Deus, obedecer a
Deus. O mundo é muito ingrato; é impossível contentá-lo; o melhor é não esperar recompensa
do mundo, mas de Deus. Cumpramos com diligência todo dever, isto é, com amor; porque de
onde vem a palavra Adiligência@ senão do verbo diligere: amar? A Ele, pois, todo trabalho, para
Sua glória.

b) Formação do senso do dever. Estamos sempre em presença de Deus, porque Ele é


imenso. Ele merece tudo. Tudo devemos a Ele. Muito faz aquele que, fazendo pouco, faz o que
deve por ser vontade de Deus; e não faz nada aquele que faz muito, mas não o que deve fazer.
Ninguém recuse o trabalho, por mais humilde que pareça, sendo dever; e lembre-se que
Deus pedirá contas do cumprimento do próprio dever, e não se fizemos ações brilhantes ou
preenchido cargos honoríficos. Formando, como merece, aquele que varre uma sala como
aquele que ensina ou faz a prédica.

c) Formação para o senso da responsabilidade. Responsabilidade diante de Deus e dos


homens. Direi a cada um de meus alunos aquilo que disse São Bernardo: Ad quid veniste?
Escrevam no início de vosso caderno de aula: Ad quid veniste? e pensai: para que vim a este
mundo? Para amar e servir a Deus e ganhar o céu. Se agis de outro modo estais fora do
caminho. Ad quid veniste ad Oratorio? Vim para estudar, para adiantar-se na ciência e na
piedade e para conhecer qual é a minha vocação; sem isto nada faço e perco miseravelmente o
tempo.
Se pensarem um pouco sobre a grande fortuna que é poder estudar não perderiam um
minuto. Deus nos pedirá contas até do minuto. Vós que tendes maior instrução e vos ocupais de
coisas mais altas, não deveis pronunciar palavras toscas, mas mostrar em qualquer lugar a
vossa educação.
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d) Formação do coração. A infância, a adolescência, a juventude, são épocas de um


extraordinário florescimento de sentimentos e afetos. O educador deve aproveitá-los. O coração
apresenta setores pouco explorados, quase desconhecidos. O centro do coração é o amor. É
preciso purificar o amor, transformar a sentimentalidade humana em fino e sublime amor; em
caridade: em caridade para com Deus e para com o próximo. Refrear a ira, ajudar ao próximo,
sujeitar o sentimentalismo à razão, aos ensinamentos da Fé, ao zelo pela glória de Deus. De
minha parte, posso dizer com franqueza: os amo todos igualmente; todos são meus filhos, e
para salvá-los daria a minha vida; todos sois, como diria São Paulo: Gaudium meum et corona
mea: AMinha coroa e minha alegria@.
Um grave obstáculo para a formação do coração podem ser as afeições desregradas,
ainda que seja pelos companheiros ou superiores. É preciso vigiar nossas amizades. É preciso
evitar aquilo que é apaixonante. Muita parcimônia nos elogios. Os elogios não regulados
podem arruinar os melhores caracteres; fazem nascer o preciosismo. É um ponto que se pode
trabalhar nos exercícios espirituais.
Filhos meus, desprendei-vos daquilo que é terreno. Imitai aos passarinhos quando
querem deixar o ninho. Começam a sair ao bordo do ninho, sacodem as asas, tentam
levantar-se aos ares, fazem prova de suas forças. Assim deveis fazer vós; sacudir um pouco as
asas para elevar-se ao céu... Começai com coisas pequenas, com as que são necessárias para a
salvação eterna.
Santo amor fraterno. Recordai o aviso de São João Evangelista: Diligete alterutrum:
Aamai-vos mutuamente@. Isto não é um conselho, mas um mandamento, e por isso, peca aquele
que não o observa. Portanto, jamais palavras injuriosas, rixas, invejas, vinganças, burlas,
maldades. Fazei bem uns aos outros e será prova de que amais uns aos outros. Quantas bênçãos
choverão sobre vós se colocarmos empenho em compadecer, compreender, suportar, perdoar,
ajudar, porque os triunfos de um são os triunfos de todos; e triunfe sempre a caridade.
Cuidado com as antipatias! Amai a todos; não desprezeis a ninguém. Podem haver
santas amizades como a de São Basílio e São Gregório Nazianzeno. O maior amigo é Jesus. É
Ele quem distribui todas as graças e a alegria; Quem consola nos sofrimentos; Quem dará a
glória.

e) Formação da vontade. A sabedoria é a arte de governar a própria vontade. A educação


da vontade consiste antes de tudo em fortificá-la, afastando dela todos os impedimentos que
possam pôr obstáculo no seu reto exercício e dando-lhe ocasião e motivos de exercitar-se
devidamente de acordo com sua vida natural e sobrenatural.
Todos ou quase todos os educadores têm em vista como principal privilégio da criança o
desenvolvimento de sua inteligência. Mas isto é uma falta de prudência, porque desconhecem
ou perdem de vista a natureza humana e a recíproca dependência de nossas faculdades.
Dirigem todo esforço para desenvolver a capacidade cognoscitiva e o sentimento, que errônea e
dolorosamente confundem com a faculdade de amar, e descuidam completamente da faculdade
soberana C a vontade C única fonte do verdadeiro e puro amor, da qual a sensibilidade não é
mais que uma espécie de aparência. E se algumas vezes se ocupam desta pobre vontade, não é
tanto para regulá-la e fortificá-la com o repetido exercício de pequenos atos de virtude,
facilmente obtidas por boas disposições do coração, mas com pretexto de domar a natureza
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rebelde, se obstinam em dobrar a vontade com meios violentos; em vez de dirigi-la, a


destroem.
Por causa deste erro fatal perturbam a harmonia que deve presidir o desenvolvimento
paralelo das faculdades humanas e causam dano às almas confiadas às suas mãos inexperientes.
A inteligência e a sensibilidade sobre-excitadas por uma cultura intensa, atraem todas as
forças da alma, absorvem toda a sua vida e adquirem prematuramente uma extrema vivacidade,
unida à mais rara delicadeza. A criança assim conclui rapidamente; sua imaginação é ardente e
móvel; a memória retém com escrupulosa exatidão e sem esforço os menores detalhes, dando
origem ao memorismo. Sua sensibilidade encanta a todos que se aproximam dela.
Porém todas estas brilhantes qualidades escondem a insuficiência mais vergonhosa, a
debilidade mais fatal. A criança de hoje por desgraça, mais tarde o jovem, arrastado pela
prontidão das concepções não sabe pensar e nem obrar com critério, falta-lhe o bom senso, o
tato, a medida; em uma palavra, o espírito prático. Não procureis nele ordem, nem método:
tudo o enreda, tudo confunde, tanto em palavras como nas ações; e os desconcerta com atitudes
bruscas e impetuosas e com uma estranha incoerência. Ontem afirmava com entusiasmo uma
pretendida verdade; amanhã sustentará com a mesma firmeza o contrário. A razão, ofuscada e
não sustentada senão por uma vontade débil não lhe permite pensar por si mesmo. Recebe
todos os julgamentos dos outros e os faz seus porque seduzem sua imaginação, lisonjeiam sua
sensibilidade; e com a mesma rapidez os abandona, porque não gosta mais delas ou porque
outras teorias mais sedutoras fascinaram sua errátil inteligência.
Demasiado superficial para ler o fundo de sua alma, não vê mais que a superfície, isto é,
as emoções passageiras, e apressado em captar seus pequenos movimentos, crê haver decidido
com firmeza aquilo que parece querer; incapaz de dominar-se, se apressa em colocá-lo em
prática. Triste é o ridículo joguete do espírito maligno, que não cessa de enganar suscitando-lhe
impressões que ele, pobre cego, toma como propósitos firmes e largamente meditados.
E assim como seu pensamento tem a rapidez do relâmpago, assim se dobra a todo
movimento, seja bom ou mau, às vezes de má vontade, porque sempre tem um fundo de
retidão, mas no fim se dobra. Proceder de outro modo lhe pareceria falta de sinceridade: quer
ser fora o que é por dentro: pareceria a ele hipocrisia refrear suas paixões. E assim lhe parece
no que em realidade não crê, e no querer o que na realidade não quer. A virtude seduz, mas
repugna a debilidade de sua natureza, interpreta esta repugnância como vontade contrária e
cede.
Em vão caem sobre sua alma as graças mais abundantes, pois não sabe recolhê-las; sua
consciência é um mar em borrasca, agitado sem cessar pelas correntes mais contrárias.
Escravo do próprio humor, o infeliz vê tudo através da paixão que neste momento o
domina. Se se trata de decidir ou querer uma ação importante, em lugar de considerar a ação
em si mesma, examinar os motivos, as circunstâncias, o fim, interroga o oráculo de sua própria
e louca sensibilidade. À mercê de suas próprias impressões, pergunta-se a si próprio: que lhe
parece? E de acordo com sua atração ou repugnância, toma a decisão e age. E isto lhe parece
reflexão. Se se engana, guardai-vos de o censurar: dirá sempre que agiu como lhe ditava sua
consciência: que estava de boa fé.
E se lhe apresentam circunstâncias difíceis em que devia dar prova de caráter
equilibrado, não espereis dele nada. Capaz de ímpetos generosos momentâneos, está na
realidade sujeito às mais estranhas debilidades. A violência será a manifestação de uma
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vontade débil. E o vereis praticar sempre o contrário daquilo que esperáveis.


Se ao menos as qualidades do coração compensassem tantos defeitos! A sensibilidade,
com tanto carinho cultivada nestes primeiros anos não terá feito terno e amável o coração? Por
desgraça aqui encontramos o mesmo e triste vazio que nas outras faculdades. Com facilidade se
aficciona, mas com a mesma facilidade se esquece. Sem ser propriamente mau, não conhece
outra regra que o capricho. Jamais soube conservar amigos, porque jamais foi capaz de
impor-se por eles o mais leve sacrifício, nem guardou por eles considerações; sempre os feriu
com desdém, com cruéis alusões, com descuidos depreciadores; com ironias, com insolências
amargas e indiscretas e com suspeitas injuriosas e infundadas. E com tudo isso ele se pasma
que sua amizade não seja compreendida e nem correspondida. Pobre criatura incompleta!
Quanto mal lhe fizeram aqueles que deviam educá-lo.
Precipitação e inconstância, eis aqui os pontos principais deste caráter. Queria-se fazer
dele um homem, e não se fez outra coisa que um ser inteligente e sensível, mas débil e
irracional; em suma, uma espécie de animal gracioso.
Dirão que este retrato é exagerado. Olhemos desapaixonadamente em torno de nós e
veremos muitos exemplares. Quantos encontramos no nosso caminho com estes atrativos
naturais, mas incompletos como estes que descrevemos. Indo ao fundo da questão,
reconhecemos que este vazio tão deplorável é fruto de uma primeira educação equivocada.
Por toda parte hoje se deplora o debilitamento do caráter. Mas a causa dessa decadência
devemos buscá-la no esquecimento, ou para dizer com mais crueza de realidade, no desprezo
dos princípios mais elementares de educação cristã. E de onde procede este desprezo? De onde
esta educação truncada e falsa? Sem dúvida da ignorância; mas também e sobretudo do
egoísmo e de ternura mal entendida. Do egoísmo! Se queres gozar do menino em vez de
sacrificar-se por ele!
O que um amor -- ou melhor, um afeto sincero e até saudável, se se quiser -- pede à
criança, tão terna, mas tão cegamente amada, é antes de tudo um triunfo do amor próprio, uma
satisfação da própria sensibilidade, quando não da vaidade, se sente prazer em poder fazer em
todas as partes propaganda das qualidades deste menino prodígio!
Bebem-se avidamente os elogios que a ele se tributam e se faz até mesmo em sua
presença, sem se dar conta dos progressos crescente de sua vaidade, que logo será presunção,
vanglória e orgulho insuportável. É preciso ver as coisas com o devido valor. Comumente os
pais e os familiares acham deleite nas demonstrações afetuosas próprias à índole e à idade do
menino; ficam cheios de admiração diante de suas graças nativas. Recebe-se e procura-se seus
afagos como se faria com um cachorrinho; educa-se precisamente como se faz com este animal
e castiga-se por mau humor ou por cólera quando aborrece ou nega-se a obedecer, ou fica
quieto.
Qual é a obrigação do educador cristão? De acordo com o espírito de Jesus Cristo e a
prática de Sua moral, o educador, seja pai ou mestre, deve evitar dar às crianças, que a
Providência lhes confiou, esta educação viciada; deve encaminhá-los imediatamente pelas
sendas da santidade, cujos guias são a renúncia e a generosidade. Para comunicar a eles o
espírito de sacrifício, deve dirigir seus cuidados, sobretudo cultivando a razão e a vontade, sem
descuidar de nenhuma outra faculdade.

f) Meios de formação da vontade.


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1) Fortificá-la: Ensinar a não dizer sempre o que quer e pensa, mas que às vezes é
preciso ceder, fechar os olhos, dissimular, e esperar ocasião oportuna.
2) Vencer o respeito humano, praticar a virtude ou dizer aquilo que é bom sem temor
dos homens. O respeito humano é um monstro de papel, que vive por covardia e pode até nos
levar à eterna condenação.
3) Refrear a própria índole, ou seja, a ira, o mau humor; é o meio de manter os amigos e
fazer os inimigos ficarem amigos. Inspiremo-nos em Jesus, manso e humilde.
4) Subjugar as paixões, ou seja, a soberba, a avareza, a ira, a sensualidade, a inveja, a
gula e a preguiça: quem não se mortifica não sabe tampouco orar.
5) Pensar, falar, obrar com retidão e para isto acostumar-se a refletir.

A educação religiosa

Só a religião é capaz de levar a cabo a grande obra de uma verdadeira educação


completa. Religião não separada da razão.
Razão e religião são os dois instrumentos que o educador deve usar constantemente.
Ensiná-lo e praticá-lo se quer ter êxito. Posto que a educação deve desenvolver no jovem o
amor ao bem e o ódio ao mal, é dever do educador fazer-lhe compreender uma e outra como
correspondência ou falta de conformidade com a vontade de Deus: de modo que Abem@
signifique obedecer a Deus e Amal@ desobedecê-Lo, resumindo assim toda a direção moral
prática no único princípio de que há um Deus que deve ser amado acima de todas as coisas, e
todas as coisas de acordo com Ele, e Ele em Si mesmo.
A enfermidade que arruina o mundo é a imoralidade, a incredulidade e o materialismo,
que procura entrar no coração da juventude. Para colocar um dique a tanto mal é necessário
aproximar-se dos jovens, cultivá-los e dar-lhes uma educação verdadeiramente cristã.
É preciso lembrar aos alunos com freqüência o pensamento da existência e presença de
Deus e do dever; que se persuadam que os bons costumes e a prática da religião são
absolutamente necessárias a todas as pessoas. Que fique profundamente gravado em suas
mentes que a religião foi e é em todos os tempos o sustentáculo da sociedade humana e que
onde não há religião, não existe senão imoralidade e desordem.
Em qualquer lugar que estejais, mostrai-vos sempre bons cristãos e homens probos.
Amai, respeitai e praticai vossa santa religião, que vos educou e preservou dos perigos e
calamidades do mundo; esta religião que nos consola nas penas inevitáveis da vida, nos
conforta nas angústias da morte e nos abre as portas da eternidade sem fim. Um dos defeitos ou
vícios da moderna pedagogia é reduzir a religião a um puro sentimento. Por isso não querem
que se fale aos jovens das verdades eternas, nem que se mencione a morte, o juízo e muito
menos o inferno.
É preciso instruí-los a fundo e colocá-los em um estágio em que continuem a instruir-se
por si mesmos. É necessário a reforma dos costumes. E isto não se consegue senão pregando a
palavra divina aos povos. Catequizai as crianças, inculcai neles o desapego das coisas da terra.
Chegou o tempo em que os pobres são os evangelizadores da humanidade. Os sacerdotes sairão
dentre os camponeses e operários, pois Deus elevou os pobres para colocá-los entre os
príncipes de seu reino.
Todos os mestres expliquem e façam estudar o catecismo diocesano. É de suma
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importância. Duas vezes ao ano verifique-se com toda solenidade em exame de catecismo, e
aquele que não for aprovado, não seja admitido nos outros exames. Devem ser dados prêmios
especiais àqueles que se distinguem neste exame.

Regina Apostolorum, ora pro nobis!

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