O documento discute o erótico como uma fonte de poder feminino que foi suprimida e deturpada ao longo da história. O erótico representa a energia criativa e a força vital das mulheres. Celebrar o erótico em todos os aspectos da vida empodera as mulheres e as leva a exigir mais de si mesmas e de suas vidas.
O documento discute o erótico como uma fonte de poder feminino que foi suprimida e deturpada ao longo da história. O erótico representa a energia criativa e a força vital das mulheres. Celebrar o erótico em todos os aspectos da vida empodera as mulheres e as leva a exigir mais de si mesmas e de suas vidas.
O documento discute o erótico como uma fonte de poder feminino que foi suprimida e deturpada ao longo da história. O erótico representa a energia criativa e a força vital das mulheres. Celebrar o erótico em todos os aspectos da vida empodera as mulheres e as leva a exigir mais de si mesmas e de suas vidas.
EXISTEM MUITOS TIPOS de poder, reconhecidos ou ignorados, utilizados
ou não. O erótico é um recurso intrínseco a cada uma de nós, localizado em um plano profundamente feminino e espiritual, e que tem firmes raízes no poder de nossos sentimentos reprimidos e desconsiderados. Para se perpetuar, toda opressão precisa corromper ou deturpar as várias fontes de poder na cultura do oprimido que podem fornecer a energia necessária à mudança. No caso das mulheres, isso significou a supressão do erótico como fonte considerável de poder e de informação ao longo de nossas vidas. Fomos ensinadas a suspeitar desse recurso, demonizado, maltratado e desvalorizado na cultura ocidental. Por um lado, o erotismo superficial tem sido estimulado como um sinal da inferioridade feminina; por outro, as mulheres têm sido submetidas ao sofrimento por se sentirem ao mesmo tempo indignas de respeito e culpadas pela existência desse erotismo. Num pulo, podemos passar dessa ideia para a falsa crença de que apenas com a supressão do erótico em nossa vida e nossa consciência é que as mulheres podem ser verdadeiramente fortes. No entanto, essa força é ilusória, pois é criada de acordo com os modelos masculinos de poder. Como mulheres, acabamos desconfiando do poder que emana de nossos conhecimentos mais profundos e irracionais. Temos sido advertidas contra eles durante a vida inteira pelo mundo masculino, que valoriza essa profundidade de sentimento o suficiente para manter as mulheres por perto a fim de empregá-los a serviço dos homens, mas os temem a ponto de não refletirem sobre as possibilidades desses sentimentos para eles mesmos. Então, as mulheres são mantidas em uma posição distante/inferior para serem ordenhadas psiquicamente, de maneira bastante parecida com as formigas, que mantêm colônias de pulgões que fornecem uma substância nutritiva para seus líderes. Contudo, o erótico oferece uma fonte de energia revigorante e provocativa para as mulheres que não temem sua revelação nem sucumbem à crença de que as sensações são o bastante. O erótico é frequentemente deturpado pelos homens e usado contra as mulheres. Foi transformado em uma sensação confusa, trivial, psicótica, plastificada. Por essa razão, é comum nos recusarmos a explorar o erótico e a considerá-lo como uma fonte de poder e informação, confundindo-o com o seu oposto, o pornográfico. Mas a pornografia é uma negação direta do poder do erótico, pois representa a supressão do verdadeiro sentimento. A pornografia enfatiza sensações sem sentimento. O erótico é uma dimensão entre as origens da nossa autoconsciência e o caos dos nossos sentimentos mais intensos. É um sentimento íntimo de satisfação, e, uma vez que o experimentamos, sabemos que é possível almejá-lo. Uma vez que experimentamos a plenitude dessa profundidade de sentimento e reconhecemos o seu poder, em nome de nossa honra e de nosso respeito próprio, esse é o mínimo que podemos exigir de nós mesmas. Nunca é fácil demandarmos o máximo de nós, de nossas vidas, de nosso trabalho. Encorajar a excelência é ir além da mediocridade estimulada pela sociedade. No entanto, sucumbir ao medo de sentir e de trabalhar no limite de nossas capacidades é um luxo ao qual apenas os sem-propósitos podem se dar, e os sem-propósitos são aqueles que não desejam guiar seus próprios destinos. Essa demanda interna pela excelência que aprendemos com o erótico não deve ser confundida com exigir o impossível de nós e das outras. Tal exigência incapacita a todas no processo. Porque o erótico não diz respeito apenas ao que fazemos; ele diz respeito à intensidade e à completude do que sentimos no fazer. Uma vez que conhecemos a extensão do que somos capazes de experimentar, desse sentimento de satisfação e completude, podemos constatar quais dos nossos vários esforços de vida nos colocam mais perto dessa plenitude. O objetivo de cada coisa que fazemos é tornar nossas vidas e as vidas de nossos filhos mais ricas e mais razoáveis. Com a celebração do erótico em todos os nossos esforços, meu trabalho passa a ser uma decisão consciente – uma cama tão desejada, na qual me deito com gratidão e da qual me levanto empoderada. É claro, mulheres tão empoderadas são perigosas. Então somos ensinadas a dissociar a demanda erótica da maioria das áreas vitais das nossas vidas, com exceção do sexo. E a falta de preocupação com as bases e as gratificações eróticas do nosso trabalho repercute em nossa insatisfação com muito do que fazemos. Por exemplo, com que frequência realmente amamos o nosso trabalho, inclusive nos momentos mais difíceis? O horror maior de qualquer sistema que define o que é bom com relação ao lucro, e não a necessidades humanas, ou que define as necessidades humanas a partir da exclusão dos componentes psíquicos e emocionais dessas necessidades – o horror maior de um sistema como esse é que ele rouba do nosso trabalho o seu valor erótico, o seu poder erótico e o encanto pela vida e pela realização. Um sistema como esse reduz o trabalho a um arremedo de necessidades, um dever pelo qual ganhamos o pão ou o esquecimento de quem somos e daqueles que amamos. No entanto, isso equivale a cegar uma pintora e em seguida dizer a ela que aprimore sua obra e aprecie o ato de pintar. Não só é algo praticamente impossível, mas também profundamente cruel. Como mulheres, precisamos examinar de que maneiras nosso mundo pode ser de fato diferente. Estou falando aqui da necessidade de reavaliarmos a qualidade de todos os aspectos de nossa vida e nosso trabalho, e de como nos movemos neles e até eles. A própria palavra “erótico” vem do grego eros, a personificação do amor em todos os seus aspectos – nascido de Caos45 e representando o poder criativo e a harmonia. Quando falo do erótico, então, falo dele como uma afirmação da força vital das mulheres; daquela energia criativa fortalecida, cujo conhecimento e cuja aplicação agora reivindicamos em nossa linguagem, nossa história, nossa dança, nossos amores, nosso trabalho, nossas vidas. Existem tentativas constantes de igualar pornografia e erotismo, dois usos diametralmente opostos do sexual. Por causa dessas tentativas, virou moda separar o espiritual (psíquico e emocional) do político, vê-los como contraditórios ou antagônicos. “O que você quer dizer com uma revolucionária poética, uma contrabandista de armas reflexiva?” Da mesma maneira, tentamos separar o espiritual do erótico, o que resulta na redução do espiritual a um mundo de afetos rasos, um mundo de ascetas que desejam sentir nada. Mas nada está mais distante da verdade. Pois a postura ascética é de grandioso temor, de extrema imobilidade. A abstinência severa do ascetismo se torna a obsessão vigente. E ela não é fundamentada em autodisciplina, mas em abnegação. A dicotomia entre o espiritual e o político também é falsa, já que resulta de uma atenção incompleta ao nosso conhecimento erótico. Pois a ponte que os conecta é formada pelo erótico – o sensual –, aquelas expressões físicas, emocionais e psíquicas do que é mais profundo e mais forte e mais precioso dentro de cada uma de nós quando compartilhado: as paixões do amor, em seus significados mais profundos. Para além do superficial, a estimada expressão “me faz sentir bem” atesta a força do erótico como um conhecimento genuíno, pois o que ele representa é a primeira e a mais poderosa luz que nos guia em direção a qualquer compreensão. E a compreensão é uma serva a quem resta apenas esperar por esse conhecimento nascido das profundezas, ou esclarecê-lo. O erótico é o que estimula e vela pelo nosso mais profundo conhecimento. O erótico, para mim, opera de várias formas, e a primeira delas consiste em fornecer o poder que vem de compartilhar intimamente alguma atividade com outra pessoa. Compartilhar o gozo, seja ele físico, emocional, psíquico ou intelectual, cria uma ponte entre as pessoas que dele compartilham que pode ser a base para a compreensão de grande parte daquilo que elas não têm em comum, e ameniza a ameaça das suas diferenças. Outra maneira importante por meio da qual a conexão com o erótico opera é ressaltar de forma franca e destemida a minha capacidade para o gozo. No modo como o meu corpo se alonga com a música e se abre em resposta, ouvindo atentamente seus ritmos mais profundos, de maneira que todos os níveis da minha percepção também se abrem à experiência eroticamente satisfatória, seja dançando, montando uma estante, escrevendo um poema, examinando uma ideia. Essa autoconexão compartilhada é uma extensão do gozo que me sei capaz de sentir, um lembrete da minha capacidade de sentir. E esse saber profundo e insubstituível da minha capacidade para o gozo acaba por exigir que minha vida inteira seja vivida com a compreensão de que tal satisfação é possível, e de que ela não precisa ser chamada de casamento, nem de deus, nem de vida eterna. Essa é uma das razões de o erótico ser tão temido e tão frequentemente restrito ao quarto, isso quando é reconhecido. Pois uma vez que começamos a sentir com intensidade todos os aspectos das nossas vidas, começamos a exigir de nós, e do que buscamos em nossas vidas, que estejamos de acordo com aquele gozo do qual nos sabemos capazes. Nosso conhecimento erótico nos empodera, torna-se uma lente através da qual esmiuçamos todos os aspectos da nossa existência, forçando-nos a avaliar cada um deles com honestidade, de acordo com seu significado relativo em nossa vida. E é uma grande responsabilidade, projetada do interior de cada uma de nós, não nos conformarmos com o conveniente, com o fajuto, com o que já é esperado ou o meramente seguro. Durante a Segunda Guerra Mundial, comprávamos uma margarina branca, descorada, que vinha em embalagens de plástico lacradas. Havia uma minúscula cápsula de corante amarelo, como um topázio, aninhada dentro do plástico transparente da embalagem. Deixávamos a margarina fora da geladeira por um tempo, para amolecer, e então apertávamos aquela capsulazinha para que ela se rompesse dentro do pacote, liberando o intenso amarelo na massa macia e pálida da margarina. Então, pegando a embalagem com cuidado entre os dedos, apertávamos o pacote gentilmente para a frente e para trás, várias vezes, até que a cor se espalhasse por todo o saco, colorindo a margarina por inteiro. Penso que o erótico é como esse núcleo dentro de mim. Quando liberado de sua vigorosa e restritiva cápsula, ele flui e colore a minha vida com uma energia que eleva, sensibiliza e fortalece todas as minhas experiências. Fomos educadas para temer o “sim” dentro de nós, nossos mais profundos desejos. No entanto, uma vez identificados, aqueles que não aprimoram nosso futuro perdem sua força, e podem ser modificados. Temer nossos desejos os mantêm suspeitos e indiscriminadamente poderosos, uma vez que reprimir qualquer verdade é dotá-la de uma força além do limite. O medo de não sermos capazes de superar quaisquer distorções que possamos encontrar dentro de nós nos mantém dóceis e leais e obedientes, definidas pelos outros, e nos leva a aceitar várias facetas de nossa opressão por sermos mulheres. Quando vivemos fora de nós mesmas, e com isso quero dizer por diretivas externas apenas, e não pelo nosso conhecimento e nossas necessidades internas, quando vivemos distantes desses guias eróticos de dentro de nós, nossa vida é limitada por modelos externos e alheios, e nos conformamos com os requisitos de uma estrutura que não é baseada em necessidades humanas, muito menos nas individuais. No entanto, quando passamos a viver de dentro para fora, em contato com o poder erótico que existe dentro de nós, e permitindo que esse poder oriente e ilumine nossas ações no mundo ao nosso redor, é que começamos a ser responsáveis por nós mesmas no sentido mais intenso. Pois conforme passamos a reconhecer nossos sentimentos mais profundos, é inevitável que passemos também a não mais nos satisfazer com o sofrimento e a autonegação, e com o torpor que frequentemente faz parecer que essas são as únicas alternativas na nossa sociedade. Nossos atos contra a opressão se tornam parte integral do nosso ser, motivado e empoderado desde dentro. Em contato com o erótico, eu me torno menos disposta a aceitar a impotência, ou aqueles outros estados do ser que nos são impostos e que não são inerentes a mim, tais como a resignação, o desespero, o autoapagamento, a depressão e a autonegação. E sim, existe uma hierarquia. Existe uma diferença entre pintar uma cerca dos fundos e escrever um poema, mas é apenas quantitativa. E não existe, para mim, nenhuma diferença entre escrever um bom poema e caminhar sob o sol junto ao corpo de uma mulher que eu amo. Isso me traz a última consideração a respeito do erótico. Compartilhar o poder dos sentimentos umas com as outras é diferente de usar os sentimentos das outras como se fosse um lenço de papel. Quando negligenciamos nossa experiência, erótica ou não, nós usamos, em vez de compartilhar, os sentimentos daquelas que participam dessa experiência conosco. E o uso sem o consentimento da envolvida é abuso. Para serem utilizados, nossos sentimentos eróticos devem ser reconhecidos. A necessidade de compartilhar sentimentos profundos é uma necessidade humana. Mas, na tradição europeia/americana, ela é satisfeita por certos encontros eróticos proscritos. Ocasiões que são quase sempre caracterizadas por uma negligência recíproca, por uma pretensão de chamá-las de outra coisa, seja uma religião, um impulso repentino, vandalismo ou mesmo brincar de médico. E isso de deturpar a necessidade e o ato leva à distorção que resulta em pornografia e obscenidade – o abuso dos sentimentos. Quando ignoramos a importância do erótico no desenvolvimento e na manutenção do nosso poder, ou quando ignoramos a nós mesmas ao satisfazermos nossas necessidades eróticas na interação com outras pessoas, estamos usando umas às outras como objetos de satisfação em vez de compartilharmos o gozo no satisfazer, em vez de nos conectarmos através de nossas semelhanças e nossas diferenças. Recusarmo-nos a ser conscientes daquilo que sentimos a qualquer momento, por mais cômodo que pareça, é rejeitar grande parte da nossa experiência, é permitir que sejamos reduzidas ao pornográfico, ao papel de abusadas e ao absurdo. O erótico não pode ser sentido de segunda mão. Como uma lésbica negra feminista, tenho um sentimento, um conhecimento e um entendimento específicos em relação às irmãs com quem dancei muito, brinquei ou mesmo briguei. Essa intensa comunhão tem frequentemente precedido a articulação de ações conjuntas antes impossíveis. No entanto, essa carga erótica não é compartilhada facilmente entre as mulheres que continuam a operar sob uma tradição masculina exclusivamente europeia/americana. Sei que ela não me era acessível enquanto eu ainda tentava adaptar minha consciência a esse modo de viver e sentir. Só agora eu encontro mais e mais mulheres-que-priorizam- mulheres corajosas o suficiente para se arriscar a compartilhar a carga elétrica do erótico sem ter que desviar o olhar, e sem distorcer a extremamente poderosa e criativa natureza dessa troca. Reconhecer o poder do erótico nas nossas vidas pode nos dar a energia necessária para lutarmos por mudanças genuínas em nosso mundo, em vez de apenas nos conformarmos com trocas de personagens no mesmo drama batido. Pois não apenas entramos em contato com as fontes da nossa mais intensa criatividade, como também com o que é feminino e autoafirmativo diante de uma sociedade racista, patriarcal e antierótica.
Cinema e Psicologia Processos Psicologicos Basicos a Luz Das Teorias Cinematograficas Cristiane Nova e Helen Copque Resumo o Artigo Faz Uma Discussao Sobre as Relacoes Do Cinema Com Temas Da Psicologia Embasada Em