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Introdução
A proposta da pesquisa é investigar o tema da oração na sua relação com o corpo
humano. Buscaremos mostrar que é através do corpo que o ser humano é, está e se
relaciona e, por isso, a oração e o corpo estão intimamente ligados. Sem a relação com a
corporeidade, a oração se torna mero espiritualismo e alienação. A oração não deve
estar desvinculada da vida nem a vida da oração, pois ambas se fecundam mutuamente.
Por isso, nosso primeiro passo será explicitar o processo de humanização
indispensável a todo ser humano através das suas relações fundamentais. Depois,
mostraremos que o desenvolvimento destas relações é fundamental para que o ser
humano cultive uma oração integral e integradora.
O segundo passo, depois da abordagem destes elementos antropológicos, será
introduzir a experiência que teve Santa Teresa a partir do seu “trato de amizade com
Deus”, ou seja, a oração. E qual a visão da santa, no Livro da Vida, quanto à relação
corpo e oração.
O intuito geral da pesquisa será mostrar que sem uma integração pessoal, ou
seja, corpo humano em unidade, apesar de possuir partes distintas, ou dualidades (corpo
e alma, por exemplo), não seria possível desenvolver coerentemente a prática oracional.
Portanto, é fundamental que corporeidade humana e oração estão intimamente ligadas.
CAPÍTULO I
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o(s) outro(s), com a natureza e com Deus pode comprometer esse processo de
humanização a que cada ser humano deve ser submetido ao longo da sua história1.
Alguns aspectos pontuam essa deficiência relacional como, por exemplo: o
crescimento do número de pessoas que se encerram em relações virtuais deixando de
cultivar o importante “olho no olho”; o âmbito familiar que sofre devido ao
individualismo e a mera satisfação pessoal; o sistema capitalista que se caracteriza pelo
forte desejo de obter lucros; o meio ambiente que geme como em dores de parto (cf. Rm
8, 22), pois pode ser visto, muitas vezes, como um verdadeiro “lixão” da sociedade; a
espiritualidade que é deixada de lado para dar espaço ao ativismo tornando o corpo (que
é o próprio ser humano) uma máquina produtora de afazeres e não ser “produtor” de
relações etc.
Homem e mulher, em oposição à capacidade de relacionar-se, que
intrinsecamente os constituem, não tenderão para um caminho de humanização. Nessa
imprescindível necessidade de relacionar-se, como poderá o ser humano harmonizar
suas relações? A partir disso, os desafios que o ser humano deve enfrentar para não cair
no risco de comprometer seu processo de humanização não são fáceis, contudo, são
possíveis de serem enfrentados e superados.
Relacionar-se de modo a construir relações sadias e laços duradouros implica,
por exemplo, integração entre afeto e razão, alma e corpo; valorização do corpo como
meio principal de relações; abertura ao outro, a Deus e à natureza etc.
Analisaremos abaixo a inegável vocação relacional/dialógica que constitui cada
ser humano dentro das suas relações fundamentais (ou seja, relação consigo mesmo,
com o(s) outro(s), com Deus e com a natureza) e seus aspectos tanto positivos, quando
esta é assumida e praticada, quanto negativos, quando esta não é assumida de forma
responsável e madura.
1
Cf. GARCÍA RUBIO, Alfonso. Evangelização e maturidade afetiva. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2006. pp.
17-39.
2
DONNE, John. Meditações. 1ª ed. Landmark, 2007. pp. 103.105.
2
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Para o cristianismo, o fundamento que nos mostra ser real e possível essa
vocação relacional/dialógica do ser humano é o Deus bíblico, pois este “se relaciona
com o povo e com o ser humano concretos”3. A proposta bíblico-cristã apresenta Deus
como aquele que quer levar ao povo seu amor e sua libertação e se este “for apresentado
como um ser solitário, impassível, perdido na distância, facilmente se chegaria à
justificação e até à sacralização da auto-suficiência, da dominação e do fechamento
humano na própria subjetividade”4. Pelo contrário, se Deus se revela como próximo, tão
próximo que nos manda seu Filho, Jesus Cristo, então o sentido da humanização muda
completamente.
Essa presença concreta na vida do povo nos ajuda a perceber o quanto o Deus
bíblico quer se relacionar com pessoas e quer se manifestar através delas, ou seja, nos
mostra o quanto Ele quer fazer parte da vida de cada ser vivente atuando neles e por
eles.
Segundo García, em seu livro Evangelização e maturidade afetiva5, o povo
israelita ao mesmo tempo em que viveu a opressão da escravidão no Egito e mais tarde
o exílio da Babilônia, foi visitado e acolhido por um Deus que não foi alheio ou estático
à situação dele, pois interveio na história e se manifestou com amor efetivo. O Deus
bíblico sofreu com este povo e quis libertá-lo. Essa “visita” de Deus faz com que pouco
a pouco Israel redescubra sua dignidade e com isso perceba e assuma a proposta de
libertação deste Deus. Próximo e convidativo, Deus expõe seu projeto salvífico e
convida o povo a participar, de forma livre e responsável de modo que este venha, numa
relação de amizade e fidelidade, a ser seu parceiro na contínua e dinâmica obra da
criação.
As estruturas dominadoras às quais o povo israelita era submetido e que lhe
provocava sofrimentos e sentimentos de revolta certamente interferia no seu processo de
humanização, pois o ser humano, criado a “imagem e semelhança” de Deus, nasceu para
ser livre e relacionar-se sadiamente com tudo aquilo que lhe cerca (cf. Gn 1, 26-27).
Além do mais, o Deus bíblico é um Deus solidário, comprometido com a causa e as
necessidades do povo, um Deus que não está à margem do sofrimento.
Contudo, Israel nem sempre foi fiel a esse Deus de amor. A tentação da idolatria
era uma realidade constante. O Deus do amor e da liberdade muitas vezes era
substituído por falsos deuses. Deus é livre e, por isso, não poderá ser manipulado.
Todos os outros ídolos são nada diante dele. Ao rejeitar o convite de Deus o povo fica
deficiente no seu processo de humanização, pois faz parte desse processo desenvolver
relações harmoniosas tanto com todos os outros seres humanos, consigo mesmo e
também com o cosmos como também com Deus.
Quando rejeitamos a relação com Deus, fechamo-nos ao seu dom criador. Por
isso, é imprescindível estar aberto ao dom do outro e colocar a serviço o dom de si
mesmo. Sendo assim, é o ser humano um ser de doação e receptividade. Recebe de
Deus toda a obra de suas mãos (o dom da criação; o dom dos outros) e põe a serviço de
forma responsável e consciente aquilo que lhe foi dado como dom (e o dom de si
mesmo).
É de suma importância que o ser humano esteja aberto à proposta de YHWH6,
ou seja, de Deus, visto que ela é a âncora para que este ser humano desenvolva bem as
3
GARCÍA RUBIO. Evangelização..., p.17.
4
Ibid., p. 21.
5
Cf. Ibid., pp. 18-23.
6
Este tetragrama, YHWH, significa “Deus” ou “Adonai” em hebraico.
3
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7
GARCÍA RUBIO. Evangelização..., p. 22.
8
Cf. Ex 3; Gl 5, 13-15.
9
Cf. Cl 3, 9-10; Ef 2, 15; 4, 24.
10
Cf. Rm 6, 6; Cl 3, 9-10.
11
GARCÍA RUBIO. Evangelização..., p. 28.
12
Ibid., pp. 23-24.
4
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do ser humano (“vida pessoal” e “vida profissional”, por exemplo), apesar de estarem
marcados com qualidades próprias, a partir do exemplo de Cristo, que esteve presente
na história concreta reunindo em sua vida tudo aquilo que fez parte do meio em que
viveu, não devem existir em justaposição, mas em unidade.
Ora, o penoso dualismo entre corpo e alma deve ser deixado de lado quando se
percebe que Deus mesmo, feito homem, Jesus Cristo, constitui o enlace perfeito entre o
espírito e a carne. A partir disso, pode-se afirmar que “o corpo humano está [...] no
centro da revelação cristã, visto que se trata de algo assumido pelo próprio Deus, na
Encarnação de seu Filho Jesus Cristo”16.
A novidade da Encarnação resgata de uma vez para sempre a corporeidade
humana, “já que a divindade a abraça por dentro, assumindo sua fragilidade para dentro
de Si mesma”17. Esse Jesus que se assemelha a nós quer que também nos assemelhemos
a ele. Ele foi “capaz de renunciar (de certa forma) ao que lhe pertence de mais próprio,
o ser-Deus, para comunicá-lo aos homens”18. Visto que comungou da nossa
corporeidade, somos chamados a participar da sua divindade, pois ao assumir a
condição humana, Cristo não perde sua condição divina, mas nos comunica “aquilo que
ele é com maior propriedade, como Deus: Amor, capacidade de dar-se, sendo assim
plenamente ele mesmo”19.
Resgatada a corporeidade humana, Cristo abre novos caminhos no processo de
humanização. Ele constitui a imagem do homem perfeito20, do homem integral. O que
antes estava disperso pelo dualismo, agora se une pelo mistério do Verbo encarnado. O
corpo humano, portanto, pode ser reconhecido como lugar da manifestação de Deus,
pois foi assumido e não aniquilado, pelo próprio Cristo (cf. GS 22). O Espírito de Deus,
como nos mostra a Sagrada Escritura, nunca será desvinculado do corpo, ou seja, ambos
estarão sempre em estreita relação, já que este é lugar de manifestação da divindade.
O Espírito tende para o corpo: esta é a realidade revelada através dos textos
do Primeiro Testamento, quando o Espírito de Deus cria mundos a partir do
nada, transforma desertos em jardim, ossos secos em militante exército e
engravida ventres estéreis. Esta é a boa nova do Novo Testamento, razão de
nossa esperança e nossa alegria 21.
16
Ibid., p. 45.
17
Ibid., p. 46.
18
CODA, Piero. Encarnação. In: PIKAZA, Xabier; e SILANES, Nereo. (Dir.). Dicionário Teológico: O Deus
Cristão. São Paulo: Paulus, 1988. p. 248.
19
Ibidem.
20
Cf. VATICANO II. Constituição Pastoral Gaudium et Spes 22. In: Compêndio Concílio Vaticano II. 27ª ed.
Petrópolis: Vozes, 1998. pp. 164-166. A partir de agora, utilizaremos apenas GS no corpo do texto
seguido do número do parágrafo.
21
BINGEMER. A Aplicação de Sentidos..., p. 46.
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É preciso valorizar este corpo, é preciso cuidar deste Templo! É preciso assumir
a nossa condição humana assim como Jesus de Nazaré o fez, pois constantemente
caímos na tentação de desprezá-lo convergindo mais uma vez em dualismos.
O mistério da Encarnação nos ajuda a refletir sobre a grandeza do ser humano e
sobre a relação de Deus com o mundo (cf. GS 22; 12). O Logos, ou seja, a
autocomunicação de Deus em Jesus Cristo, feito homem (cf. Jo 1, 14), se manifesta na
história concreta do ser humano e, por isso, não participa de uma natureza humana
ingênua, visto que em tudo se fez semelhante a nós, “com exceção do pecado” (Hb 4,
15) e assumiu também toda a criação escravizada pela culpa. Com sua vida, paixão,
morte e ressurreição abre caminhos de esperança e renovação, e resgata para sempre o
gênero humano.
O primeiro Adão, aquele de que nos fala o Antigo Testamento, rejeita a proposta
dialógica de Deus já que, em uma atitude de fechamento e irresponsabilidade,
administra mal o mundo criado oferecido a ele, por Deus (cf. Gn 3, 1-24). O novo Adão,
Jesus Cristo, ao contrário, assume essa administração de forma fiel e responsável, ou
seja, em atitude de serviço e de diálogo (cf. Rm 5, 12-21).
Jesus Cristo é o modelo do verdadeiro homem. Nele, os cristãos devem buscar
inspiração. Quanto mais o ser humano assume a vida de Cristo, tanto mais estará
voltado para fora de si, tanto mais estará aberto para o dom o outro. O ser humano é
chamado a ser outro Cristo no mundo, é chamado a abandonar as atitudes do primeiro
Adão e a assumir, em sua totalidade, a pessoa do Cristo, o novo Adão (GS 22).
O apóstolo Paulo nos ensina que “o primeiro homem, Adão, foi feito alma
vivente22; o último Adão tornou-se espírito que dá a vida” (1Cor 15, 45). Por isso,
Cristo é a fonte que jorra a vida para os outros (cf. Jo 4, 10-14). Por ele, o ser humano,
criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado a ser nova criatura (cf. Rm 8, 29).
Ao entrar na carne humana, Jesus Cristo abre novos caminhos para que o ser
humano, espelhando-se nele (em Cristo), busque pôr em prática a sua vocação dialógica
de forma integrada. Pois Ele é a fonte que jorra a vida nova, “vida caracterizada pela
abertura com toda radicalidade à comunhão com Deus, com os seres humanos e com o
mundo todo criado. Vida que supera o mesquinho fechamento negador dos outros”23.
Homem e mulher são chamados a serem novas criaturas em Cristo (cf. Ef 4, 24).
Isto significa também que o passado não deve mais aprisioná-los. O modelo de todos os
homens, Jesus Cristo, nos ensina um novo modo de proceder, um novo modo de existir,
pois que “passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova” (2Cor 5,
17b).
Renovados e edificados em Cristo (cf. Col 2, 7), homem e mulher, na constante
tensão entre o “homem velho” e o “homem novo” que existe em cada um, encontram a
verdadeira possibilidade de (re) começar um caminho de humanização integral.
A vida do ser humano, na sua totalidade, tem agora uma base sólida, Jesus
Cristo, e deve ser impregnada por sua presença pacífica e harmoniosa. As quatro
dimensões fundamentais de abertura (abertura ao mundo, aos outros, a Deus e a si
mesmo) presentes no ser humano encontram seu ponto de firmeza e coerência na pessoa
de Jesus Cristo.
22
Isto é, um ser dotado de vida puramente natural e submetido às leis do desgaste e da corrupção. In: A
Bíblia de Jerusalém. 5ª ed. São Paulo: Paulus, 1996. p. 2170, rodapé “c”.
23
GARCÍA RUBIO, Alfonso. Unidade na pluralidade: o ser humano à luz da fé e da reflexão cristãs. 4ª ed.
São Paulo: Paulus, 2006. p. 201.
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Ele que resgatou para sempre o gênero o humano, abre portas para que o
dualismo em relação ao desprezo pelo corpo ou a sua supervalorização seja superado.
Ao abrir-se à comunicação pessoal de Deus, numa atitude de acolhimento, o ser humano
encontra, em Cristo, seu ponto de equilíbrio. Mesmo sendo corpo e alma o homem é
uno e, portanto, não lhe é lícito “desprezar a vida corporal, mas, ao contrário, deve
estimar e honrar o seu corpo, porque criado por Deus é destinado à ressurreição no
último dia” (GS 14).
O Verbo encarnado, Jesus Cristo, é a verdadeira imagem de Deus (cf. Cl 1, 15;
2Cor 4, 4-6) e, já que nele visualizamos o que é ser humano no sentido integral do
termo, também é ele a verdadeira imagem do homem, o verdadeiro homem. Se ainda
restam dúvidas sobre a significativa verdade do ser humano revelada na pessoa de Jesus
Cristo, “basta olhar para [...] suas atitudes, opções, comportamento, especialmente para
a abertura-obediência ao Pai e para a vivência do amor-serviço, unida à solidariedade
em relação aos irmãos”24. A corporeidade humana, portanto, encontra sua plenitude em
Jesus Cristo.
3. DIMENSÕES EM HARMONIA
Vimos acima que Deus, na pessoa de Jesus Cristo, assumiu a condição humana
com tudo que a cerca. Com a Encarnação de Jesus Cristo, o corpo humano se apresenta
agora em nova aparência e encontra sua restauração plena, visto que foi assumido pelo
próprio Deus. Por isso, toda e qualquer forma de dicotomia antropológica deve ser
deixada de lado. O humano integral, Jesus Cristo, rompe com todo tipo de alienação e
abre portas para que o “homem novo” seja colocado em evidência.
Não é difícil encontrar correntes de pensamento com estruturas que “pregam”
dimensões (“corpo” versus “alma”; razão versus afetos; “interiorização” versus
abertura; pessoal-individual versus social e político etc.) presentes no ser humano de
forma que queiram separá-las quando devem ser vistas e vivenciadas de forma
unificada25.
Compreender e/ou vivenciar um caminho possível para a humanização se torna
tarefa árdua quando a visão dualista tão fortemente se faz presente. Esse tipo de olhar
impede que as dimensões constitutivas do ser humano se relacionem entre si. Por isso,
para um sadio processo de humanização é preciso que o ser humano esteja aberto para
uma visão unitária de suas estruturas.
A visão unitária ou integrada, por sua vez, se insere na unidade básica da pessoa
humana sem, contudo, desvalorizar a “dualidade básica constitutiva do ser humano
(dimensão espiritual e dimensão corpórea) bem como as outras dimensões
fundamentais: racional e afetiva, individual e sociopolítica”26. Caracteriza-se por não
absolutizar uma determinada dimensão em detrimento da outra, mas por constantemente
estarem abertas umas às outras.
Para a finalidade desta pesquisa, destaco e desenvolvo apenas a dimensão
espiritual e a dimensão corpórea do ser humano a partir da fé cristã, de forma que
estejam integradas entre si e, para tal, a perspectiva unitária entre elas será
indispensável.
24
Idem. O encontro com Jesus Cristo vivo. São Paulo: Paulinas, 1994. p. 129.
25
Cf. Idem. Evangelização..., p. 40.
26
Ibid., p. 42.
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Diferente de outros corpos, o corpo humano é especial, posto que seja revestido
pelo espírito humano. Por isso, “a corporeidade é tão própria do homem quanto a sua
espiritualidade. O homem é sempre um espírito com corpo; um espírito sozinho,
descorporificado, não pode ser um homem”29.
A corporeidade do ser humano torna-o um ser capaz de desenvolver relações
interpessoais. Sua corporeidade expressa seu próprio modo de ser gente, de ser pessoa.
É com seu corpo que o ser humano intervém na sociedade sendo influenciado por ela e,
ao mesmo tempo, fazendo parte, de forma ativa, da sua transformação, ou seja,
influenciando-a. A partir desta perspectiva, podemos concluir que “o corpo não pode
continuar sendo considerado [...] como inimigo do espírito, empecilho para a libertação
do conhecimento e da liberdade”30, mas como realidade que se relaciona
indubitavelmente com a realidade espiritual presente no ser humano.
27
GARCÍA RUBIO. Unidade na pluralidade..., p. 343.
28
Idem. Evangelização..., p. 45.
29
AUER, J. El mundo, creación de Dios. Barcelona, 1979. p. 274. Apud. GARCÍA RUBIO, Alfonso. Unidade
na pluralidade..., p. 345.
30
GARCÍA RUBIO. Unidade na pluralidade..., p. 346.
9
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31
SPINSANTI, S. Corpo. In: DE FIORES, Stefano; e GOFFI, Tullo (Dir.). Dicionário de Espiritualidade. 2ª ed.
São Paulo: Paulus, 1993. p. 219, nota 24.
32
Cf. SC 5.
33
GARCÍA RUBIO. O encontro com Jesus Cristo vivo. p. 78.
34
Idem.
35
Ibid., p. 79.
10
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outro(s). A partir disso podemos mais uma vez dizer que a oração fecunda a vida e a
vida fecunda a oração.
Portanto, a partir do que vimos neste capítulo, podemos concluir que o ser
humano, quando busca integrar as suas relações fundamentais, este estará inclinado a
desenvolver um sadio processo de humanização. Do contrário, fechar-se ao que lhe é
mais próprio, ou seja, ser relacional, seria entrar em desarmonia consigo mesmo, com
o(s) outro(s), com Deus e com o meio em que vive.
No processo de humanização cristã mostramos que o Deus bíblico é o
fundamento desse processo, pois mostra ser possível pôr em evidência a vocação
relacional/dialógica que todo ser humano possui. Este Deus não satisfeito com suas
iniciativas anteriores, manda seu Filho, Jesus Cristo, modelo do humano integral, para
relacionar-se com o povo de forma encarnada.
Jesus Cristo, encarnado em corpo humano, é modelo do humano integral porque
não nega, mas assume verdadeiramente seu corpo, sua humanidade. Desenvolve de
forma belíssima a relação com o povo, com Deus, com os outros. Mostra-nos numa
relação amorosa de amizade com Deus, seu Pai, que é possível, mais ainda, colocar em
evidência aquilo que chamamos de vocação relacional/dialógica.
Relacional, dialógico, corpóreo, espiritual, estas são as características que
concluímos pertencer a cada ser humano. E que se estiverem entrelaçadas e unidas
contribuirão para que este ser humano desenvolva seu necessário processo de
humanização.
Depois de termos, portanto, investigado o processo de humanização necessário a
cada ser humano a partir das suas relações fundamentais e que este possui uma vocação
que lhe é intrínseca: chamamos de vocação relacional/dialógica, podemos agora
introduzir o tema central da nossa pesquisa: corpo e oração à luz do Livro da Vida de
Santa Teresa de Jesus. Trataremos de investigar o que Santa Teresa nos deixou sobre a
oração, já que seus escritos são ricos deste tema. Ao longo de sua caminhada humana e
espiritual ela desenvolveu um conceito muito belo de oração: “tratar de amizade [...]
com quem sabemos que nos ama”36. Já que a oração é relação (de amizade) e, portanto,
está diretamente vinculada à corporeidade humana, investigaremos também que visão
teve a santa de Ávila sobre a possível relação da oração com a corporeidade humana.
CAPÍTULO II
36
SANTA TERESA DE JESUS. Livro da Vida: leitura orante e pastoral. 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2010. p. 68.
Utilizaremos também outras traduções do Livro da Vida ao longo da pesquisa.
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Santa Teresa, no capítulo 8 do Livro da Vida, nos fala que a oração é um trato de
amizade, ou seja, um trato íntimo “com aquele que sabemos que nos ama”37. A partir da
definição e significação teresiana de oração, investigaremos, portanto, a relação entre o
corpo e a oração, tendo o Livro da Vida como base principal.
37
Idem. Livro da Vida. 7ª ed. São Paulo: Paulus, 1983. p. 59. A partir de agora, utilizaremos apenas V no
corpo do texto e nas notas de rodapé.
38
LLAMAS, Enrique. Libro de la Vida. In: BARRIENTOS, A. (Dir.). Introducción a la lectura de Santa Teresa.
Madrid: Editorial de Espiritualidad, 1978. p. 224, “tradução da autora”.
39
Cf. V 17, 5; V 26, 6.
40
V 8, 5.
41
LLAMAS. Op. cit., p. 226, “T. A.”.
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Teresa não se deixava aprisionar por teorias espirituais que traziam consigo,
muitas vezes, apenas conhecimento racional. Foi na prática deste “diálogo amoroso”
que aprendeu e apreendeu aquilo que seria o verdadeiro caminho de santidade visto que
procedia de Jesus, seu verdadeiro e único mestre espiritual. A base de seus
ensinamentos partia da sua própria experiência.
O tema da oração é central na autobiografia de Teresa porque “toda ela coincide
com uma vida feita de oração, ou de uma oração que é pura vida”42. O conceito
teresiano de oração é, portanto, “um conceito fluido e rico como a mesma existência
humana”43.
42
CASTELLANO, Jesús. Espiritualidad Teresiana. In: BARRIENTOS, A. (Dir.). Introducción a la lectura de
Santa Teresa. Madrid: Editorial de Espiritualidad, 1978. p. 135, “tradução da autora”.
43
Ibid., p. 134. “T. A.”
44
DI BERARDINO, Pedro Paulo. Itinerário espiritual de Santa Teresa de Ávila: mestra de oração e doutora
da Igreja. 2ª ed. São Paulo: Paulus, 1999. p. 122.
45
Ibid., p. 123.
46
Cf. idem.
47
Cf. SANTA TERESA DE JESUS. Fundações. In: Obras Completas: Teresa de Jesus. São Paulo:
Loyola/Edições Carmelitanas, 1995. p. 671.
13
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48
DI BERARDINO. Itinerário espiritual de Santa Teresa de Ávila..., p. 125.
49
Cf. 1Cor 15, 35-53;
50
SANTA TERESA DE JESUS. Castelo Interior ou Moradas. In: Obras Completas: Teresa de Jesus. São
Paulo: Loyola/Edições Carmelitanas, 1995. p. 561.
51
V 11, 15.
14
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Mais uma vez realista e prática, Teresa sabe que nem sempre se consegue fazer
oração como se gostaria. Por isso, ela dá alguns conselhos valiosos para quando,
algumas vezes, a alma precisar de novos modos de oração:
É bom nem sempre deixar a oração quando o intelecto está muito distraído e
perturbado, e nem sempre atormentar a alma obrigando-a ao que está acima
de suas forças. Há outras ocupações de obras de caridade e leitura de bons
livros, ainda que por vezes nem isto seja possível. Tome alguns passatempos
santos de conversões virtuosas, ou vá ao campo [...]. Em tudo é grande coisa
a experiência, que dá a entender o que nos convém52.
Santa Teresa não perde ocasião para falar seja aos principiantes seja àqueles que
já se decidiram por percorrer este “caminho de perfeição”, ou seja, o caminho de
amizade com Deus (que desemboca em um caminho de amizade com o próximo). Por
experiência própria, ela sabe que este é o caminho que leva à vontade de Deus.
Consequentemente, à prática da vocação relacional/dialógica do ser humano. Pois
quando o ser humano busca este “trato de amizade”, põe em evidência aquilo que lhe é
mais próprio: ser, estar e agir em meio aos outros e junto com os outros.
O ser humano sempre será situacional, pois está fixado no tempo e no espaço
através do seu próprio corpo. Daí, a necessidade de relacionar-se e de manter tanto
quanto possível as relações que lhe são necessárias. Por ser situacional, está direta ou
indiretamente condicionado a fatores externos e/ou internos. Sendo assim, a prática
oracional deve ser e estar amadurecida a partir também desses pressupostos. Por
exemplo, “a aceitação serena dos próprios limites traz [...] à alma a paz e a
tranquilidade. [...] a primeira disposição, [...], é a de colocar-se nas mãos do Espírito
Santo e deixar-se trabalhar por ele, sem pressa e impaciência”53.
Sendo uno, o ser humano deverá ser todo na oração que se propõe a fazer.
Portanto, fatores internos e/ou externos são parte integrante de uma prática oracional.
Podemos citar mais um exemplo sobre isso. A posição do corpo no momento da oração
influencia muito. Teresa também se ocupa deste assunto no capítulo quinze do Livro da
Vida, que traz em uma das linhas do título: Alguns avisos sobre o modo de proceder na
oração de quietude. Santa Teresa nos sugere que “uma boa posição favorece a
concentração dos sentidos para a quietação que disso resulta”54. Eis um trecho de V 15,
1 que pode retratar bem isso:
Tal quietude e recolhimento é coisa que a alma sente muito pela satisfação e
paz que nela se derrama, com grande contentamento e sossego das faculdades
e suavíssimo deleite. [...]. Não se atreve a se mexer nem se agitar, com temor
de que lhe escape das mãos aquele bem. Por vezes nem quisera respirar. [...].
(A alma) se sente tão satisfeita com Deus que, estando a vontade unida a ele,
não perde a tranquilidade e o sossego durante seu contentamento.
Segundo a santa de Ávila, “não existe fratura entre o corpo e a alma no momento
da oração, pois muitas vezes a felicidade e a paz da alma vertem-se sobre o corpo,
gratificando-o muito”55. Corpo e alma unidos, em oração, beneficiam-se mutuamente.
Cada um, portanto, busque achar a posição corporal que mais lhe trará proveito na
52
V 11, 16.
53
DI BERARDINO. Itinerário espiritual de Santa Teresa de Ávila..., p. 131.
54
Idem. p. 132.
55
Idem. Cf., por ex., SANTA TERESA DE JESUS. Castelo Interior..., p. 477, §4.
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oração, sempre numa atitude de escuta, espera e receptividade ativas, atento às graças
que Nosso Senhor quer comunicar a cada um em particular.
Não havendo, portanto, fratura entre o corpo e a alma na dinâmica espiritual, “o
corpo aparece, tal como a alma e junto com ela, como dimensão que necessita
transformar-se e humanizar-se na relação com Deus e com os irmãos”56. Portanto, “a
atitude teresiana na relação corpo-alma é dialogante”57.
Como já vimos, o corpo é sempre condicionado, assim como a alma, tanto por
fatores externos e/ou internos. Por isso, essa atitude dialogante deve vir acompanhada
pela criatividade da própria pessoa na dinâmica espiritual pessoal. A vocação
relacional/dialógica que pertence a todo ser humano pode ser, aqui, posta em prática de
forma sábia, ou seja, numa atitude suave, paciente e pacífica entre corpo e alma. Essa
relação necessária consigo mesmo diz respeito, por exemplo, a ter “paciência tanto com
o corpo, que é limitado e cheio de necessidades, quanto com a alma [...] com sua
imaginação incontrolável”58.
Quando o ser humano consegue relacionar as dimensões que o compõe (corpo e
alma), podemos assim dizer, de forma harmônica e criativa, essa relação consigo
mesmo, desemboca na sadia relação com Deus, com o(s) outro(s) e com o meio em que
se vive. Por isso é tão necessário o bem estar e a harmonia pessoal. Pois quando corpo e
alma se entendem ou dialogam, nem um nem outro ficam setorizados, mas, ao contrário,
colabora um com o outro.
Segundo Santa Teresa, deve-se buscar sempre essa colaboração mútua entre
corpo e alma, para que a alma não seja sufocada pelo corpo e vice-versa59. Essa
colaboração necessária, no entanto, deve vir acompanhada de um “acordo” recíproco,
pois Teresa alerta sobre a compleição de cada ser humano. Cheio de necessidades é o
corpo e, por isso, quanto mais o servimos tanto mais crescerá em regalias60.
Quando o ser humano decide percorrer este caminho de oração, que é também
caminho de humanização, deve levar em consideração também que “o seguimento de
Cristo sempre exige certa ousadia e desejo de autotranscendência, que passam também
pela forma como a pessoa se situa diante das suas diferentes dimensões”61. A
conciliação entre corpo e alma é fundamental para o desenvolvimento da vida espiritual.
Conciliados e interdependentes (contudo, distintos) corpo e alma desenvolvem
seu diálogo necessário de forma privilegiada na oração62. Para o bom desenvolvimento
deste diálogo, a realização de duas atitudes básicas é necessária:
A primeira, a determinação em não se acomodar na superficialidade do
autoconhecimento, que é igualmente conhecimento/amor de Deus. Mas a
determinação, sozinha, pode se transformar em voluntarismo, incompatível
56
PÁDUA, Lúcia Pedrosa de. Espiritualidade integradora: o testemunho privilegiado de Santa Teresa de
Ávila. In: GARCÍA RUBIO, Alfonso (Org.). O Humano Integrado: abordagens de antropologia teológica.
Petrópolis: Vozes, 2007. p. 188.
57
Ibid. p. 189.
58
Ibid.
59
Cf. V 11, 16; V 13, 14.
60
Cf. PÁDUA. Op. cit., p. 189. Cf. também V 13, 4.5.7.
61
Idem.
62
Cf. Ibid. p. 190.
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63
Idem.
64
Cf. Fl 2, 6-11.
65
PÁDUA. Op. cit., p. 193. Cf. V 22, 10.
66
V 12, 6.
67
V 26, 5.
68
Idem.
69
CASTELLANO. Espiritualidad Teresiana, p. 134. “T. A.”
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que a humanidade de Cristo é o protótipo necessário para que o cristão compreenda esse
trato de amizade e, compreendendo-o, possa desenvolvê-lo e, desenvolvendo-o, ensine
àqueles que querem começar este caminho.
Teresa é contra toda doutrina que prega um Jesus unilateralmente divino. Para
ela, é impossível desenvolver bem o caminho espiritual sem meditar os mistérios da
vida, paixão, morte e ressurreição do Cristo homem como nós70. Oração e corporeidade,
para Santa Teresa, portanto, estão intimamente interrelacionadas. Quando nos afastamos
do Cristo Homem, corremos o risco de desenvolver uma espiritualidade desencarnada e
antinatural.
Em V 22, 10, esta mestra de oração nos exorta ao dizer que “não somos anjos,
temos corpo” e ainda que “Cristo é o melhor amigo [pois] olhando-o feito homem,
vemos suas fraquezas e tormentos, e permanecemos em sua companhia”.
Por um caminho de grande engano caminha aquele que afasta de si toda a
realidade corpórea. Teresa diz que é desatino “queremos passar por anjos enquanto
estamos na terra”71. Por isso, ela fortemente nos alerta sobre a necessidade da
humanidade de Cristo. É loucura querer afastar do caminho da vida espiritual o diálogo
com Cristo homem e não gozar da sua fiel companhia. Por isso, é de grande verdade
quando Jesus declara: “Eu sou a porta” (Jo 10, 9a). E ainda: “Eu sou o Caminho, a
Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).
Ao longo de sua experiência de vida espiritual Teresa percebeu que a
“debilidade do homem necessita encontrar sempre em Cristo um eco para seus
sentimentos, um refúgio em suas deficiências”72, pois Ele “nunca falta, é amigo
verdadeiro” 73.
Sem dúvida, Jesus é o modelo e o caminho, a fonte de toda a graça, para Teresa,
pois ela mesma afirma em V 22, 6:
Vi depois, e sempre tenho visto claramente, que para agradarmos a Deus e
para que nos conceda favores, deseja ele que os recebamos por intermédio
desta humanidade sacratíssima, na qual Sua Majestade (Deus Pai) declarou
ter posto suas complacências. Tenho visto muitas vezes por experiência; o
Senhor também me disse isto. Tenho compreendido claramente que esta é a
Porta (Cristo) pela qual devemos entrar, se pretendemos que a soberana
Majestade (Deus Pai) revele grandes segredos.
CONCLUSÕES
Foi possível, através desta investigação científica, aprofundar no tema da oração
numa perspectiva integral e integradora. Daí, concluímos que a oração integral e/ou
integradora, sem dúvida, depende do desenvolvimento (de forma madura) das relações
humanas, sempre buscando vinculá-las umas às outras. Quando o contrário acontece, ou
seja, quando o ser humano nega a sua necessidade de relacionar-se, este se tornará lento
no seu processo de humanização e consequentemente não terá uma oração fecundada
pela vida nem uma vida fecundada pela oração. Buscando desenvolver bem suas
relações e integrá-las tanto quanto possível, o ser humano será capaz de desenvolver um
sadio processo de humanização e uma sadia oração.
70
Cf. Ibid. p. 153-155. Cf. também V 22.
71
V 22, 10.
72
CASTELLANO. Op. cit., p. 154. “T. A.”.
73
V 22, 6.
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Pudemos concluir também que Santa Teresa não desvalorizou seu corpo, seu ser
feminino. Ela soube vincular todos os setores da sua vida e nos deixou entender, no
Livro da Vida, que foi uma mulher que, através do seu trato de amizade com Deus, pôde
ser mais humana e integrada.
Teresa deixa transparecer que o ser humano é corpóreo e que, por isso, não deve
desvincular a oração da vida nem a vida da oração e sim, buscar no modelo Cristo,
aquilo que todo ser humano deve assumir: sua humanidade. Ativa e presente no seu
trato de amizade com Deus, a santa de Ávila, a mestra de oração, a doutora da Igreja
Católica, depois de sofrer muitas “quedas espirituais”, verdadeiramente, soube percorrer
seu caminho de amadurecimento humano e espiritual.
Em suma, constatamos que a oração é relação que por sua vez se dá através da
própria corporeidade humana. Oração e corporeidade, portanto, estão intimamente
ligadas. Sem relações com as pessoas, com os acontecimentos diários da vida, com
Deus, a oração será mera fuga e alienação. Sem dúvida, a oração geradora de relações é
a que leva ao encontro/diálogo, que se abre ao dom de si mesmo e ao dom do(s)
outro(s). É aquela oração em que o ser humano não nega sua corporeidade e, por sua
vez, a sua vocação relacional/dialógica. A partir disso podemos ratificar dizendo que a
oração fecunda a vida e a vida fecunda a oração, ou seja, estão intima e
inseparavelmente vinculadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. 5ª ed. São Paulo: Paulus, 1996.
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