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O homem, animal 

político
Por Thiago < https://apologetica.net.br/author/radtrad/>

01/06/2011 < https://apologetica.net.br/2011/06/01/homem-animal-politico/>

Ao longo do século passado, os católicos fiéis à Tradição


tiveram de lidar com as duas “cabeças de Janus” que
atormentaram a humanidade: o totalitarismo coletivista
(comunismo marxista, fascismo, nazismo) e o liberalismo.
Na verdade, essa batalha só intensificou uma problemática
que imediatamente vinha do século XIX, e mediatamente
do processo revolucionário iniciado com a “reforma”
protestante. Hoje em dia parece que o quadro não mudou,
e ainda teremos, neste século que acabou de entrar na sua
segunda década, uma continuação do embate entre essas
duas falsas posturas (só que agora com outras roupagens –
fundamentalismo islâmico e diversidade sexo-cultural).

Por isso, certas escolas de pensamento combativo devem se


tornar conhecidas, em especial na nossa pátria. Destaco,
entre elas, o tradicionalismo hispânico, que, pelo que
pude entender até hoje, é uma filha dileta do carlismo dos
requetés de Navarra, com adeptos na Espanha e em países
da América Latina de língua espanhola (em especial no
Chile, na Argentina e no Uruguai).

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Sendo assim, postarei minha tradução do primeiro


capítulo do livro El hombre, animal político <
http://www.nuevahispanidad.com/seccion2.php?
sb=1&ax=2&sor=31> , de Juan Antonio Widow, um
destacado pensador chileno, que lutou contra a subversão
marxista no seu país, e contra a recente revolução liberal.

<
https://apologeticacatolicasite.files.wordpress.com/2014/
08/juanwidow.jpg>

I – Pessoa e Sociedade

1. A sociabilidade humana

Não se tem notícia da existência de um indivíduo humano que


tenha podido viver totalmente privado de vínculos com outros
homens. Por isso, para entender o que é a sociedade humana e
porque ela existe, deve-se partir da evidência, da observação da
realidade. É falsa a perspectiva que toma como ponto de
referência a idéia de um ser completo e autônomo, desde o qual
se estendem os laços até outros entes autônomos que lhe são
semelhantes. A sociedade não é uma espécie de mosaico
formado mediante a justaposição harmoniosa de suas partes,
tendo essas uma existência anterior à obra resultante, e
independente dela. Salvo Adão, não se sabe de um homem que
tenha tido uma existência anterior aos vínculos que o unem
com seus semelhantes. Salvo Adão, todo homem vem à
existência por causa de outros homens, estando assim vinculado
a eles pelo fato mesmo de existir, e não por alguma decisão
posterior.

A geração do homem é já um fato social, e é de algum modo a


raiz de todos os outros. Há uma sociedade de dois, da qual se
engendra um terceiro, e esse depende daqueles não só em sua
geração, mas também na aquisição ou formação progressiva das
capacidades que, por sua vez, vão aperfeiçoando a índole das
suas relações com os demais, dando o selo humano. Desse
modo, a vinculação social compreendida na geração de cada
homem subsiste no tempo, pois o indivíduo só pode atualizar
seus potenciais por meio dos hábitos que hão de configurar sua
personalidade em virtude da relação de dependência com
outros homens. Os casos que se contam de crianças criadas com
animais, comprovam que as capacidades que se desenvolvem são
somente aquelas cuja atualização foi provocada diretamente
pelo meio ativo, isto é, pelos que, possuindo já esses hábitos,
atuam de acordo com eles em contato direto com o aprendiz:
essas crianças, de fato, só desenvolveream suas potências
animais.

O indivíduo humano tem, por certo, desde sua concepção, uma


natureza completa e perfeitamente definida, a humana. Pensar
de outro modo seria afirmar que em algum momento da sua
existência não é essencialmente o que é, que no curso dela
advém outro, absolutamente diverso do que era antes. O que é
este ente chamado homem, desde que começa a ser com
unidade distinta da de sua mãe e de todos os demais, é isso,
homem, não é uma ameba, não é um macaco, nem
hipopótamo, nem anjo. O que se desenvolve nele durante todo
o processo de sua vida é algo que já existia germinalmente nessa
natureza concreta e individual, do mesmo modo que a semente
de uma árvore é já de alguma forma o que vem a ser essa árvore
uma vez crescida e desenvolvida.

2 – Natureza e Indivíduo
Há, pois, dois aspectos distintos, e não se pode cair na tentação
de que se valoriza a importância de um diminuindo a do outro;
o que se deve ver é como eles se relacionam entre si. Por um
lado, a natureza humana está completamente definida desde
que o indivíduo é engendrado, não se faz homem – no sentido
estrito do termo – graças aos outros homens, nem deve à
sociedade, de forma alguma, que sua natureza seja
essencialmente o que é. Por outro lado, tudo que pode chegar a
ser, inclusive seu começar a existir individual, só consegue
devido à sua dependência dos outros.

O homem é pessoa. Isso significa que goza do modo de ser


próprio do que, por sua realidade espiritual, tem conhecimento
e domínio de si, do que tem uma conduta cuja causa
determinante está no interior de cada sujeito. É pessoa em razão
de sua natureza, a qual não é definida pela sociedade, nem esta
submetida, nas suas características essenciais, às mudanças e
contingências do existir temporal. Mas não é uma pessoa
perfeita, e o domínio que pode exercer sobre si não é completo.
Desde sempre, nenhum homem inventou sua natureza, nem a
escolheu, nem decidiu existir, nem realiza de uma maneira total,
plena e excludente sua espécie. Tudo isso significa limitação: se
não é limitadamente homem, na sua existência concreta está
sujeito a todas as condições que lhe impõem o fato de sê-lo.

Na ordem essencial não há, pois, graus e condicionamentos,


mas eles estão presentes na ordem da existência; se nenhum
homem recebe dos outros homens sua determinação essencial,
do modo que uma pedra pode receber de um escultor sua
forma, recebe, de fato, embora não de uma maneira passiva
como a pedra, todas as perfeições a que pode aspirar pelo fato
de ser homem. As recebe da sociedade, ou melhor, o recebê-las
(e o dá-las, comunicá-las) constitui o viver mesmo da sociedade.
A dignidade própria da pessoa humana é em sua raiz um
atributo natural, não derivado de contingências, mas por uma
dignidade participada, implica, da parte de seu sujeito, a
necessária submissão a uma lei: a que emana de sua própria
natureza.

Isso significa que os atos por meio dos quais os homens se põem
em relação uns com os outros não são “livres”, no sentido que
se dá modernamente a essa palavra, isto é, o de ausência de toda
necessidade proveniente do fim. Pelo contrário, há necessidade
em muitos desses atos, e principalmente nos decisivos,
necessidade que se faz presente, entretanto, não como uma
determinação ou condicionamento extrínseco da conduta
humana, mas como obrigação, isto é, enquanto deve ser
assumida interiormente como motivo dos tais atos. Existe, por
exemplo, uma necessidade na conduta da mãe que se faz
presente no filho: a de que esse sobreviva e se forme como
homem. A mãe pode deixar de lado essa necessidade, que não é
estritamente sua, se se quer entender com isso que pertence ao
âmbito individual; se isso acontecer, sem dúvida, se dirá dessa
mãe que é uma desnaturada. Em outras palavras, como a
própria linguagem coloquial revela, há uma obrigação
estabelecida pela natureza; ela não se identifica com a pura
individualidade do sujeito, mas se participa, se comunica, sendo
essa comunicação, em seu aspecto ativo, existencial, o que
constitui o viver em sociedade.

3 – Dependência entre os homens

Nas relações entre os homens existe o uso de uns pelos outros,


uso que é absolutamente necessário para sua sobrevivência e
perfeição. A palavra evoca, por certo, a ação subordinada de um
instrumento cuja razão de ser é apenas servir para o fim
particular ao qual se destina: esse é o uso da faca pelo
açougueiro, ou o do pincel pelo pintor. O uso de um homem
por outro é, ao contrário, como o da mãe pelo filho;
compreende a relação de meio a fim (a mãe é um meio
necessário para a sobrevivência e formação do filho), mas o bem
que busca como fim é um bem próprio do meio (o bem do
filho, por ser humano e ser um indivíduo, é próprio da mãe), e,
ademais, compete ao meio, neste caso, dispor-se a ser. O próprio
do homem não é ser usado passivamente, mas colocar-se
ativamente em disposição de ser, é servir. É a mãe que, de uma
maneira ativa, voluntária, livre, se dá ao filho para que este possa
viver dela, e desta índole são todas as relações fundamentais
entre os homens. Cada um, ao cumprir com suas obrigações
naturais, necessariamente há de servir aos outros, tomados em
conjunto ou particularmente.

Deve-se notar aqui que se se concebe o indivíduo humano


como um absoluto, como um fim e não como um meio, como
livre ou independente de toda necessidade moral, é inevitável
considerar qualquer relação com o outro como um servir-se
dele, como um usar que só é conveniente em vista dos fins ou
interesses privados do primeiro. Nessa perspectiva, não há outra
relação possível que a de um sujeito com o instrumento útil. Se
não existe mais que esses interesses privados, toda relação há de
ser em função deles, e, portanto, os outros homens não podem
passar de meios, contingentes e prescindíveis, ordenados a
alcançar um bem que lhes é sempre alheio. Como veremos
adiante, nessa mesma afirmação da primazia absoluta do bem
individual, da liberdade como princípio primeiro das relações
entre os homens, vai inclusa sua própria negação prática. E é
um dado comprovado pela experiência o de que uma sociedade
começa a corromper-se quando nela os homens pensam mais
em servir-se dos outros que em servi-los.

4 – Primazia da sociedade ou do indivíduo

Então o que vem primeiro, o indivíduo ou a sociedade? Essa é


uma questão muitas vezes refletida, e mal refletida. Há uma
confusão de planos, devida, em geral, à intervenção da
imaginação num campo onde só a inteligência pode desenvolver
satisfatoriamente o assunto. Por certo, na ordem entitativa ou
ôntica, é primeiro o indivíduo, pois este goza de subsistência, e a
sociedade não. Disto, sem dúvida, se chegou equivocadamente à
conclusão de que a primazia do indivíduo é absoluta, e que, por
conseguinte, a sociedade, na ordem moral ou prática, é
unicamente o meio para que aquele alcance seus fins próprios.
Como reação, por outra parte, e procurando evitar as
conseqüências nocivas que essa tese tem para a sobrevivência da
sociedade, se concebeu a essa como se fosse um todo
substancial, cujos elementos ou partes integrais seriam os
indivíduos, e que teria vida própria, autônoma, regulada por
leis de índole biológica, semelhantes as que regem a vida dos
organismos vegetais ou animais.

Uma das premissas mais reiteradas para sustentar a primazia da


pessoa sobre a sociedade, é aquela em que se afirma que não se
pode subordinar um ser substancial a um ser acidental, por ser
aquele ontologicamente superior. É neste argumento que se
joga o papel ilegítimo da imaginação: se pensa em um ser
substancial e em um ser acidental como se fossem duas
entidades fisicamente diversas, uma superior à outra (algo
como: aqui está o indivíduo, ente subsistente, e aí o conjunto de
relações entre indivíduos ao qual chamamos sociedade; como
conceber, então, a subordinação do indivíduo a esse conjunto
de relações?).

Se fossem fisicamente diversas ambas as entidades, isto é, se a


sociedade, como ente acidental, tivesse uma existência alheia à
existência dos homens que a integram, teria, quiçá, sentido
argumentar isso. Mas tal perspectiva é ininteligível se pensarmos
o que é substância e o que é acidente; nenhum acidente tem
existência diversa a da substância à qual pertence, pois sua
realidade é a realidade da substância, a que simplesmente
modifica ou determina. Não há diversidade entitativa entre a
maçã e sua cor, entre um indivíduo e sua estatura, entre uma
mulher e a relação de maternidade que a une com seu filho.
Ademais, devemos ter em conta que a perfeição de um sujeito
consiste no desenvolvimento ou desdobramento de seu ser
acidental: a sabedoria é a perfeição do sábio, a arte do artista, a
dureza do aço, a virtude moral do homem. Por isso, podemos
afirmar sem temor de cair em aberrações, que o homem deve
ordenar-se à virtude, que o sábio deve ter a sabedoria como fim
de sua existência, pois nem a virtude nem a sabedoria são
realidades alheia ou inferiores à realidade do homem que é
virtuoso ou sábio.

Também vale notar que são muitos e diversos os acidentes que


podem determinar um sujeito. Alguns o aperfeiçoam só sobre
um aspecto particular, como, por exemplo, o tamanho maior ou
menor de um animal; outros são aperfeiçoados em um sentido
mais profundo e universal, como a sabedoria de um homem.
Pode acontecer, além disso, que a aquisição de uma perfeição
implique noutras determinações, que se dão de um modo
conseqüente e subsidiário, como quando a sabedoria de um
homem o leva a ter relações com outros sábios (o que se busca
como fim principal, não obstante, é a sabedoria, o que faz com
que a relação buscada subsidiariamente não seja qualquer uma,
senão a com os sábios).

Isto ocorre em toda sociedade humana: o homem tem como


fim principal sua perfeição de homem, que é um fim comum a
todo membro de sua espécie; além disso, as formas que tal
perfeição pode ter em outros excedem suas possibilidades de
realização em um indivíduo. O homem constitui sociedade ao
buscar uma perfeição que é por natureza comum a ele e aos
outros, e ao compartilhar, mediante a comunicação com esses
outros, os distintos modos da perfeição humana que nele,
individualmente, não existem nem podem existir.

A sociedade é, pois, um convergir ordenado das pessoas à sua


perfeição comum, e um completar-se entre elas mediante a
comunicação das diversas e multiformes participações
particulares nessa perfeição. É nesse sentido que a sociedade tem
primazia sobre o indivíduo, subordinando-se esse de modo
natural àquela por estar aí sua perfeição.

O indivíduo tende à sua perfeição – qualquer que seja o aspecto


que dela se considere – para participar dela. Precisamente por
isso, tal tendência é o fundamento da ordem social, é o
princípio da convergência de muitos para um fim, da união de
diversas pessoas na participação na mesma perfeição. Por isso, a
sociedade é sempre um todo do qual o indivíduo é uma parte; e
o todo prevalece sempre sobre suas partes: na ordem da
perfeição natural, a sociedade política é superior a seus
membros, e se bem que esses tendam também a outra perfeição,
a sobrenatural, em razão da qual totalmente subordinados
àquela, essa tendência os constitui, por sua vez, parte de outra
sociedade, a Igreja, que nesta ordem também tem primazia
sobre seus membros. Isso se pode dizer, com certeza, de
qualquer sociedade de homens, embora se veja mais claramente
na sociedade política e na sociedade sobrenatural, por elas serem
perfeitas como sociedades, isto é, pelo indivíduo pertencer a
uma delas por tudo que é, e não sob apenas uma determinada
dimensão de sua existência.
Pretender que o indivíduo não seja, em sentido estrito, parte da
sociedade que integra, implica sustentar que é esta – os demais
indivíduos – que deve subordinar-se àquele para servi-lo e viver
em função de seus fins particulares. É totalmente impróprio,
por isso, afirmar que a sociedade é para o indivíduo, pois,
mesmo que o fim da sociedade seja, de fato o bem do indivíduo,
este bem é universal e comunicável, não sendo, portanto,
circunscrito a nenhuma forma individual ou particular de
participação.

A sociedade, por conseguinte, considerada em sua relação com


os que a compõem, não é um todo integral, no sentido de que
seus membros sejam apenas partes quantitativamente
diferentes, pois embora seja uma soma de homens, não o é
essencialmente; ela não está definida como um mero agregado
de indivíduos. As pessoas, por exemplo, que estejam num
elevador, por mais apertadas que se encontrem, não constituem
por isso uma sociedade; mas se o elevador se decompõe e cai
entre os pisos, podem começar a ser, caso os afetados se
organizem entre si para buscarem um meio de sair do desastre.

A sociedade é o que se denomina um todo potestativo, pois suas


partes realizam de forma diversa a perfeição que radica na
natureza humana. É esse bem ou perfeição o princípio da
ordem social; se se prescinde dele, não há verdadeira sociedade,
não há nada que obrigue as partes a respeitar o todo. Quando
existe verdadeira sociedade, portanto, a relação das partes com
respeito a ela é a que há entre quem participa e o participado,
havendo sempre primazia natural deste por aquele. É um todo
potestativo moral – não substancial, obviamente, como é um
organismo vivo – constituído pela operação das partes em
ordem a um fim comum.

5 – O que é a sociedade

Está claro, pois, que a sociedade não é um mero conjunto de


indivíduos, e, por isso mesmo, sua natureza não é o que esses
livremente determinam. Tão pouco é algo como um modelo,
constituído pela soma de relações entre indivíduos e abstraído
daquilo em que se fundam tais relações. A sociedade humana
não é uma abstração; por isso, não existe a sociedade, única e
uniforme. Existem diversas sociedades, formalmente diferentes
segundo os distintos aspectos da perfeição do homem aos quais
se ordenam. Também estão diversificadas pelas modalidades
(idiossincrasias, costumes, tradições, etc.) que assumem.

Entre as sociedades diferenciadas formal ou especificamente, a


primeira é a família, raiz de todas as outras, no sentido de que
essas dela procedem, como derivação (as sociedades de tipo
gremial ou profissional), como complemento (as de tipo local,
como o município ou a região), ou como aperfeiçoamento (a
sociedade política). O indivíduo é forjado na família, nela
adquire as virtudes e costumes básicos do seu ser; da família,
projetando o caráter moral ali adquirido mediante o exercício
de determinadas atividades e ofícios, forma as sociedades
gremiais, entendendo-se como tais todas as que se formam para
alcançar, de modo organizado, os objetivos próprios de alguma
atividade ou trabalho (são desta espécie, por exemplo, uma
empresa econômica, uma universidade, uma escola técnica ou
uma corporação militar).

Quando certo número de famílias se unem para procurar em


conjunto ou mediante colaboração mútua certos bens que são
necessários para cada uma delas (como o ensino escolar, a
segurança ante certos perigos, os meios para o cuidado da saúde,
a armazenagem de alimentos e outros recursos, etc.), se
constituem os municípios; esse, por sua vez, ao possuírem
interesses comuns e estarem unidos pelas mesmas tradições e
costumes, formam sociedades mais amplas (cujas dimensões
podem variar bastante), pertencendo todas à espécie de
sociedade local.

Por último, temos a sociedade natural completa e perfeita, que


engloba todas as outras como um corpo vivo engloba seus
órgãos, e cuja unidade é o resultado da vitalidade daquelas. Nela
as outras sociedades alcançam o desenvolvimento pleno que
lhes corresponde em razão de sua espécie, mas ordenando-se ao
mesmo tempo a um bem mais alto, o bem completo do
homem. E esta a sociedade política. Entre ela e a família, o
núcleo básico, se desprendem todas as outras sociedades,
chamadas, por isso, corpos intermediários.

A margem dessas sociedades cuja necessidade emana da mesma


natureza do homem – são denominadas por isso necessárias ou
naturais -, há muitas outras ordenadas a fins acessórios ou não
necessários – e chamadas livres ou acidentais -, como pode ser
uma associação de filatelistas ou um clube de futebol.
Ao dizer que não existe um modelo de sociedade, ou que essa
tem espécies diversas que, por sua vez, tomam características
peculiares ao se conformarem com as realidades humanas
concretas, se está afirmando com isso que é impossível tomar
um tipo de sociedade como referência para o julgamento de
outras. Uma sociedade gremial, por exemplo, ou um município,
não são e nem podem ser uma sociedade política em miniatura;
se tratamos elas dessa maneira, terminamos por desvirtuá-las
radicalmente, e também se enferma a sociedade política à qual
pertencem.

A sociedade ideal, aquilo que se pensa como arquétipo a partir


do qual se deveria construir a sociedade real, é um fantasma da
mente, é uma causa de violência ilimitada toda vez que tomada
a sério. Uma sociedade real, natural, nunca se constrói, mas
nasce ao ocorrerem todas as condições para a sua geração. E de
modo análogo ao fato do começo de sua existência ser um
nascimento, seu desenvolvimento é um crescimento e seu final
uma morte (morte que por mais que se tente evitar mediante
artifícios ou se oculte com uma maquiagem rebuscada,
acontece como efeito, muitas vezes, da violência derivada das
tentativas de fazê-la seguir um modelo).

Na busca de seu bem real, é sempre possível aos homens uma


maior perfeição, ou o descobrimento de novas vias: esta é a
chave da vitalidade das sociedades. Se se pretende, ao contrário,
construir a sociedade perfeita para o homem perfeito, a única
coisa que se ganha é aprisionar o homem real numa realidade
opressiva. Tampouco é possível programar o desenvolvimento
de uma sociedade; só se pode e deve dirigir, provendo suas
necessidades naturais. A construção e programação de
sociedades é um mal moderno, é uma conseqüência das
concepções ideológicas do totalitarismo.

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