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Religião e Sexualidade: Sarando a Ruptura entre Eros e Ágape

Esta oficina vai discutir as diversas imagens do sexo e da sexualidade recebidas das
Tradições Cristãs. Serão discutidas as questões do impacto destas imagens no significado
de ser macho e fêmea e as implicações para a Ação Pastoral. Os temas de opressão e
libertação vinculadas com o dualismo de Eros e Ágape, tais como o lugar de Philios, serão
o ponto central da discussão.

Esta é uma oficina e não palestra. Por isso, vou oferecer alguns conceitos e, depois,
levantar perguntas para nossa discussão. Mas, o mais importante é sua experiência da
relação entre Eros, Philios e Ágape na sua vida dentro da sua Igreja. Para mim, estas
questões têm tudo a ver com a Ação Pastoral e a Teologia Prática, porque nossas vidas
estão interligadas com nossa fé e nossa comunidade, ou Igreja. Em outras palavras, nossa
fé – religiosidade e nossa sexualidade são interligadas - inseparáveis.

A SEXUALIDADE!

É perigoso propor uma "definição" da sexualidade humana por causa da


complexidade do conceito e devido às atitudes culturais diversas que influenciam a
discussão. Uma descrição ampla, e individualista, da sexualidade humana é que ela está
"onde as motivações emocionais e psicológicas mais profundas para a auto-revelação,
a intimidade, a interligação, a proximidade e o compromisso … encontram-se numa
outra pessoa".1 Esta descrição reflete um entendimento individual, ou interpessoal e
emocional da sexualidade humana. Uma descrição mais ampla da sexualidade humana é
que ela "é nosso modo de estar no mundo como pessoas de gênero, com estruturas
biológicas de macho ou fêmea e a autocompreensão socialmente interiorizadas desses
significados…".2 Conseqüentemente, a sexualidade humana envolve os sentimentos, os
pensamentos e as atitudes sobre o Eu e o Corpo e como eles se relacionam com o mundo.
A sexualidade humana envolve ter e ser um corpo e a constelação complexa de relações
que estas duas dimensões de ser geram. A sexualidade humana, por conseguinte "é o
desejo para a intimidade e a comunhão emocional e física. É a base fisiológica,
psicológica e social de nossa capacidade para amar." 3 Enquanto a palavra "amor" nesta
citação é aberta a várias interpretações, a implicação desta definição é que a relação é um
elemento central na sexualidade humana. A sexualidade humana inclui as relações
físicas, emocionais e espirituais (nossa sexualidade influencia profundamente nossas
relações com o Divino). As relações genitais são freqüentemente a categoria mais
associada com a sexualidade humana, mas este é só um aspecto do desejo fundamental para
contato, ou comunhão que é característica básica da sexualidade humana.

1
James Nelson e Sandra Longfellow. Sexuality and the Sacred: Sources for theological
reflection. Louisville, Kentucky, Westminster Press, 1994, p. 26. (tradução do autor)
2
Ibid, p. 26. (tradução do autor)
3
Ibid, p. 26. (tradução do autor)

1
A TEOLOGIA!

A história da relação entre a sexualidade e a fé, ou a religião é complexa e não


temos tempo para discutir todos os aspectos da questão. Por isso, vou destacar a relação
entre Eros e Ágape, incluindo um pouco sobre Philios. Toda está discussão volta a uma
pergunta fundamental – “Na sua vida, fé e tradição religiosa, o que significa o AMOR?”
Resumidamente, há duas perspectivas, ou posições, protestantes a respeito da
relação entre Eros e Ágape (Ou, o que significa o AMOR “verdadeiro”, ou “fiel”) – Paul
Tillich e Anders Nygren. Os dois representam os extremos da discussão – ou pólos
opostos.

Paul Tillich (Love, Power and Justice – Amor, Poder e Justiça, 1954):

Amor – O poder intrínseco na vida, ou da vida, que convida e possibilita a união daquilo
que está fragmentado (a separação – fragmentação entre pessoas, mundo e Deus).
Epithyia – Libido ou Desejo.
Eros – A busca daquilo que consideramos de valor, ou de fundamental importância em
nossa vida e na comunidade/mundo.
Philia – Amizade baseada em atração mútua e respeito.
Ágape – Dando de si mesmo de maneira que valoriza o outro e a base de ser (o
incondicional, infinito) (Deus). A Ágape reflete, expressa ou encarna-se no imanente e
transcendente, ao mesmo tempo.

Pressupostos: Os quatro não podem ser separados. Eles se interpenetram. Nenhum deles
existe sem os outros. A comunhão é impossível sem a presença de cada um deles. A
Imago Dei está presente, pelo menos até certo ponto, em todas as nossas relações. A Ágape
ocupa um espaço destacado, por causa da possibilidade de “tocar” no infinito, mas não está
isento, ou isolado, dos outros. A história de valorizar a Ágape e desvalorizar o Epithyia e
Eros reflete a tradição cristã do dualismo entre Corpo e Alma – baseado no Neoplatonismo
de Agostinho e Tomás de Aquino. (Em outras palavras, todas as nossas relações contem
elementos de Epithyia, Eros, Philia e Ágape. Eles são inseparáveis e expressam a Imago
Dei.)

Anders Nygren (Agape and Eros – Ágape e Eros, 1937)

amor – A possibilidade de relações de profundidade – qualidade - comunhão entre seres


humanos. Existe a possibilidade de “vislumbrar” o Eterno – Divino através do amor
humano, mas nosso amor é tão egoísta que raramente conseguimos transcender nossos
próprios desejos e fins.

AMOR – Só através da Graça de Deus os seres humanos tornam-se meios do Amor Divino
e assim há a possibilidade de Amor verdadeiro que une as pessoas, a criação e Deus (A
Comunhão Verdadeira).

2
Eros – Libido, Desejo e a busca daquilo que consideramos de valor, ou de fundamental
importância, de maneira egocêntrica e egoísta – baseado na queda original, a quase
ausência da Imago Dei e a busca da satisfação de nossos desejos pessoais. (A condição
humana e o poder dominante do inconsciente.)

Ágape - Dando de si mesmo de maneira que se valorize à luz do Amor de Deus. Este
Amor só vem de Deus e não de dentro da experiência – realidade humana.
(Transcendência)

Pressupostos: É somente através do Amor de Deus que os seres humanos são capazes de
Amar a Deus e ao outro. A Imago Dei é tão danificada, ou até perdida, que o “amor
humano” está sempre profundamente influenciado, pelo egoísmo e egocentrismo. O ser
humano é um “canal” para o Amor de Deus, mas não “contém”, na sua própria natureza, a
Imago Dei. Nosso egocentrismo e egoísmo são expressos, de maneira destacada, no Corpo,
nos Desejos e na Sexualidade. Teologicamente, o Amor Cristão, o Amor de Deus,
representa uma categoria “destacada”, ou “distinta” do amor humano. Nossos desejos
sexuais, ou a sexualidade humana, sempre expressam a satisfação de nossos desejos e só
secundariamente a criação de relações profundas com outros e com Deus. A comunhão
“verdadeira” ou “profunda” só vem da ação de Deus independente da alma, ou do espírito
humano.

Estas duas “perspectivas” caracterizam bem a tensão entre Eros e Ágape na história
das Igrejas Protestantes. São, com certeza, perspectivas relativamente extremas, mas não
irreais. Parece – me que há uma tensão, se não dualismo, constante entre Eros e Ágape,
que até hoje não está bem resolvida e afeta todos nos em termos: 1) da valorização, ou
negação de nosso corpo; 2) de nosso entendimento da Imago Dei; 3) do conceito de pecado
e sua associação com a sexualidade; 4) do lugar – poder - valor de homens e mulheres
dentro da teologia e da vida da Igreja; 5) de nossas Imagens de Deus e; 6) do significado de
prazer.
Agora, perguntas difíceis para nossa discussão:

1) O que é que a sua comunidade religiosa, ou Igreja, o ensinou sobre o Amor de Deus
(Ágape)?
2) O que é que a sua comunidade religiosa, ou Igreja, o ensinou (direta ou
indiretamente) sobre o prazer erótico (Eros) ... desejos, fantasias, masturbação, os
jogos amorosos, o ato sexual?
3) O que é que você valoriza destes ensinamentos?
4) O que é que você questiona sobre este ensinamentos?

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