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CONFLITOS E CONFRONTOS SOCIOTERRITORIAIS NA

MICRORREGIÃO DOS GERAIS DE BALSAS/MA

CONFLICTOS Y CONFRONTOS SOCIOTERRITORIALES EN LA


MICRORREGIÓN DE LOS GERAALES DE BALSAS / MA
Vanderson Viana Rodrigues
Graduando em Geografia - UEMA
vanderson2016rodrigues@email.com

Ademir Terra
Professor do departamento de História e Geografia - UEMA
ademir.terra@outlook.com

Resumo
As disputas, conflitos, organizações e articulações socioterritoriais na Microrregião dos Gerais de
Balsas tem sua gênese ligada às políticas de povoamento e incentivos agrícolas efetivadas pelos
governos militares no período de 1970, quando este/a território/região recebeu um grande número
migrante vindos do sul do país, eles trouxeram consigo novas práticas sociais como é o caso da
mecanização das plantações, diferentes das aqui utilizadas pelos camponeses desta áreas do cerrado
sul, e aqui encontraram apoio para desenvolve-las. Contudo a partir de então se instalam os conflitos
socioterritoriais mais acirrados que seguem até os dias atuais, pois as atividades desempenhadas por
esses produtores nem sempre têm sido executadas com os melhores critérios do ponto de vista de
preservação da natureza e da valorização da territorialidade preexistente, o que de certa forma,
contribui para criar novos conflitos além do agravamento daqueles que já se faziam presente, deste
modo as organizações sociais que se fazem presente fortalecendo o camponês que ali luta para
continuar a se manter ditando suas próprias regras tem sido de grande valia na mediação e ação no
que tende as modulações e enfrentamento dos conflitos gerados pelo choque entre estes dois modos
de produção e de vida que se especializam neste território.

Palavras-chave: Conflitos, Socioterritoriais, Organizações.

Resumen
Las disputas, conflictos, organizaciones y articulaciones socioterritoriales en la Microrregión de los
Generales de Balsas tienen su génesis ligada a las políticas de poblamiento e incentivos agrícolas
realizadas por los gobiernos militares en el período de 1970, cuando éste / territorio / región recibió
un gran número migrante venidos del sur del país, trajeron consigo nuevas prácticas sociales como
es el caso de la mecanización de las plantaciones, diferentes de las aquí utilizadas por los campesinos
de estas áreas del cerrado sur, y aquí encontraron apoyo para desarrollarlas. Sin embargo, a partir de
entonces se instalan los conflictos socioterritoriales más intensos que siguen hasta los días actuales,
pues las actividades desempeñadas por esos productores no siempre se han ejecutado con los mejores
criterios desde el punto de vista de preservación de la naturaleza y de la valorización de la
territorialidad preexistente, lo que de cierta forma contribuye a crear nuevos conflictos más allá del
agravamiento de aquellos que ya se hacían presentes, de modo que las organizaciones sociales que se
hacen presentes fortaleciendo al campesino que allí lucha para continuar manteniéndose dictando sus
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propias reglas ha sido de gran valor en la mediación y acción en lo que tiende a las modulaciones y
enfrentamiento de los conflictos generados por el choque entre estos dos modos de producción y de
vida que se especializan en este territorio.

Palabras clave: Conflictos, Socioterritoriales, Organizaciones.

1. INTRODUÇÃO

A Microrregião dos Gerais de Balsas na área do Cerrado Sul Maranhense permaneceu por
mais de dois séculos ocupado pela pecuária associada ao cultivo de subsistência, ou seja, a agricultura
camponesa, a que se refere Chayanov (1981) “Baseia-se, não em uma forma capitalista, mas numa
forma inteiramente diferente, de unidade econômica familiar não assalariada. Esta unidade tem
motivações muito específicas para a atividade econômica, bem como uma concepção bastante
específica de lucratividade”. Pois o solo da região até́ então era considerado inadequado para o
cultivo agrícola de alta produção e esta não era a intenção ou sonho dos camponeses que ali se
encontravam. Contudo, o avanço tecnológico e a modernização da agricultura, nos anos 1970,
tornaram o Cerrado e a Amazônia Legal maranhense atrativos às novas frentes de expansão agrícola,
em detrimento das populações tradicionais.
O cultivo da soja se expandiu rapidamente como resultado da combinação de
preços, subsídios governamentais diretos e indiretos, especialmente no que se refere a investimentos,
e parceria entre o Estado e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA para o
desenvolvimento de novas variedades de cultivares de soja, adaptadas às condições da região, e a
facilidade no escoamento da produção através do Porto de Itaqui o que colocou a região em destaque
na produção de grãos. O Estado no estimulo à inovação tecnológica e intensificação do trabalho são
características dos sistemas produtivos ligados à agricultura patronal e afetam diretamente o processo
de produção do camponês. (GROSSMAN, 1998).
No início, a atividade no sul do Maranhão era camponesa, sem a presença de grandes grupos
produtores de grãos. Mas nos anos de 1990, a produção se torna uma atividade empresarial que marca
um intenso processo de concentração da posse da terra e de violentos conflitos entre especuladores
de terras, sojicultores, trabalhadores rurais, lideranças sindicais e membros das Igrejas católica e
luterana de Balsas.

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A partir de então os conflitos pela posse da terra e os processos de mudanças na Microrregião
dos Gerais de Balsas passam a se tornar constantes. A análise desses processos se pautou na
compreensão dos principais atores sociais envolvidos sendo eles os camponeses, os produtores
de commodities e as organizações sociais (Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra-
MST; Comissão Pastoral da Terra-CPT; Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais-STTR
e a Associação Camponesa-ACA) dando ênfase aos grupos sociais marginalizados (LITTLE, 2006),
os mais afetados pelas relações assimétricas de poder (ZHOURI & OLIVEIRA, 2007), e analisando
as especulações de legitimação das práticas sociais de apropriação do território e seus recursos
naturais, para que as interrelações fossem mapeadas e as conexões entre as esferas locais, regionais e
nacionais fossem compreendidas.
Assim Rugani (2002) sintetiza este tipo de conflito afirmando que: “Conciliar a preservação
da paisagem cultural, histórica e ambiental com os processos de renovação controlada dos espaços
constitui o ponto chave das administrações públicas comprometidas com uma agenda de
desenvolvimento sustentável” (RUGANI, 2002, p. 160). Deste modo temos como punho de
compreensão que os conflitos socioterritoriais abordados são parte das dinâmicas de territorialização
e os processos de mudança nos modos de produção, como transformações espaciais provocadas pelas
práticas dos atores sociais.

2. Conflitos pela terra no Maranhão

A questão fundiária remota ao passado colonial brasileiro, quando então iniciou-se a


concentração de terras no Brasil, ocasionada pelo modelo de ocupação territorial adotado pela Coroa
Portuguesa, todavia, os conflitos que emergem desta questão são mais evidentes a partir do século
XIX, agravando-se no século XX em virtude da ausência de uma efetiva regulamentação e
fiscalização na distribuição de terra no país.
Os conflitos territoriais que foram sufocados com a implantação do regime militar no país
em 1964, ressurgem em meados dos anos 1980 com a abertura política, com a crise econômica que
se abateu logo após o chamado “milagre brasileiro”, com a modernização do setor agrícola e das
sucessivas mudanças institucionais que repercutiram no ambiente de negócios brasileiro, que irão se
configurar em um aprofundamento das demandas sociais, que repercutiram ainda mais na segunda

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metade dos anos 1990, quando então, após esta fase de reestruturação e modernização agrícola, as
questões econômicas relacionadas a esses conflitos se complexificam ainda mais.
A Comissão Pastoral da Terra-CPT, conceitua esses conflitos como:

[...] ações de resistência e enfrentamento pela posse, uso e propriedade da terra e pelo acesso
aos recursos naturais, tais como: seringais, babaçuais ou castanhais, dentre outros (que
garantam o direito ao extrativismo), quando envolvem posseiros, assentados,
quilombolas, geraizeiros, indígenas, pequenos arrendatários, camponeses, ocupantes, sem-
terra, seringueiros, camponeses de fundo de pasto, quebradeiras de coco babaçu,
castanheiros, faxinalenses, etc. (CPT, p.15, 2016).

O Maranhão entrou na lista de conflitos da CPT a partir de 1985, quando


foram registradas 71 ocorrências no estado, e os primeiros assassinados de trabalhadores rurais sem-
terra foram catalogados. Os problemas acarretados por conta da grande concentração de terras nas
mãos de poucos persistem até os dias de hoje no estado do Maranhão, muitos camponeses que
dependem da terra para a produção e sua reprodução social, não dispõe desta para desenvolver suas
atividades, pois os incentivos públicos e a legislação tem beneficiado os latifundiários os quais, a
cada ano, aumentam, ainda mais, seus domínios territoriais, que são voltados para produção e
expansão do agronegócio, enquanto os camponês perdem suas terras e não consegue sobreviver como
antes do extrativismo e cultivo para subsistência.
Silva e Cunha (2012), afirmam que:

O direito à terra tem sido uma bandeira de luta de trabalhadores rurais em todo o Maranhão.
As lutas extrativistas não ficaram atrás nessa empreitada reivindicatória. Os conflitos em
torno dos babaçuais também somaram números alarmantes. Parte desses conflitos pode ser
visualizada na região do Mearim, pertencente à Zona dos Cocais, maior produtora de
babaçu no estado (SILVA & CUNHA (2012, p 05).

O Maranhão convive com um aumento progressivo no número de conflitos territoriais,


segundo dados da CPT, nesta unidade da federação, entre os anos de 1985 a 2016 ocorreram cerca de
2.476 conflitos por terra envolvendo cerda de 233.288 famílias.

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Evolução dos conflitos pela terra no Maranhão 1985/2016
Fonte: CPT, 2018.
Org.: RODRIGUES, 2018.

A grande maioria dos conflitos ocorreu em comunidades da zona rural onde estão sendo
implantados grandes empreendimentos de projetos de desenvolvimento que exclui a população local,
essas comunidades tem buscado ajuda junto as organizações sociais com grande destaque para o
MST, que tem articulado ações de resistência e também fornecido aporte jurídico a esses grupos
marginalizados, tendo hoje grade destaque na luta de classes no Maranhão e no país.
A Microrregião dos Gerais de Balsas na área do Cerrado Sul Maranhense que concentra um
elevado número de conflitos encontra-se na faixa geográfica do bioma Cerrado do Centro-Oeste, área
que é abrangida pelo Rio Balsas e pelos Rios Tocantins. Cujas disputas pela posse de vastas extensões
de terra adequadas para a agricultura mecanizada e a pecuária, está culminando em graves
confrontos envolvendo fazendeiros e posseiros, com maior letalidade para este último.
A luta por terra no Maranhão é uma das maiores do Brasil, realidade comprovada não só na
atualidade como também ao longo da história deste estado. Evidencia-se também que, os conflitos
agrários, ocorrem em áreas que são agricultáveis, disputadas pelos grandes produtores para a
implantação de pastagem, e mais recentemente de campos produtores direcionados à grande lavoura
capitalista, que para tanto expulsa os camponeses para as pequenas cidades localizadas próximas às
gigantescas plantações, geralmente produtora de soja.

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3. Conflito socioterritoriais na microrregião sul maranhense

Moreira apud Rodrigues e Alencar (2007), afirma que o espaço nasce da tensão entre o local
e a disposição, e que a seletividade é um processo importante que se dá devido às diferenças das
estruturas. Essas diferenças são o resultado de inúmeros fatores de classificação espacial que vão
desde os fatores físicos aos econômicos. A seletividade se dá de acordo com a demanda do modo de
produção predominante do local.
Os atributos que cercam esta microrregião são atraentes à expansão do agronegócio uma vez
que a localização privilegiada e agrega características exigidas por esta atividade econômica, uma
delas é a interligação das rodovias que facilita o escoamento dos grãos até o complexo portuário de
São Luís (ANTAQ, 2015), sendo uma das mais significativas vantagens da região requeridas pelo
agronegócio, o que tornou a região do cerrado sul maranhense a principal área de produção de soja
do Maranhão, contudo essa produção também tem se estendido para outros municípios do estado.
A inserção da agricultura moderna de grãos, comandada pelas políticas governamentais já
destacadas anteriormente em consonância com a chegada de sulistas³ na década de 1980, repercute
numa nova re/organização do espaço da produção agrícola regional e faz parte de um planejamento
em escala nacional, é neste contexto que é gestado o MATOPIBA⁴.
Tal projeto constitui a denominada, nova fronteira agrícola no Brasil que em verdade, reflete
nada menos que a continuidade da “marcha da soja” baseada em tecnologias modernas de alta
produtividade que se iniciou nos anos 1970 no sul do Brasil e expandindo em direção às demais
regiões do país, ocupando áreas do cerrado e da pré-Amazônia, remodelado pelo Grupo de
Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa-GITE, segundo o qual, tivera como primeiro grande
critério as áreas de cerrados existentes nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

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Área de abrangência da delimitação geográfica do MATOPIBA
Fonte: EMBRAPA, GITE, 2015

De acordo com os dados do IBGE (2010) o MATOPIBA, abrange 337 municípios em 31


microrregiões geográficas, numa área com cerca de 73 milhões de hectares, área esta que abarca
aproximadamente 324 mil estabelecimentos agrícolas, 781 assentamentos de reforma agrária e áreas
quilombolas, 35 terras indígenas, além de 46 unidades de conservação, entre outros.
O Plano de Desenvolvimento Agropecuário-PDA do MATOPIBA foi aprovado pela então
presidente da república Dilma Rousseff e passou a vigorar a partir do dia 06 de maio de 2015, por
meio do decreto nº 8.447, de mesma data, que dispõe sobre tal, e a criação de seu Comitê Gestor. No
segundo parágrafo do artigo primeiro do referido decreto está definida a função do projeto:

[...] 2º O PDA - Matopiba orientará programas, projetos e ações federais relativos a
atividades agrícolas e pecuárias a serem implementados na sua área de abrangência e
promoverá a harmonização daqueles já existentes, observadas as seguintes diretrizes:
I – Desenvolvimento e aumento da eficiência da infraestrutura logística relativa às atividades
agrícolas e pecuárias;
II - Apoio à inovação e ao desenvolvimento tecnológico voltados às atividades agrícolas e
pecuárias; e

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III - Ampliação e fortalecimento da classe média no setor rural, por meio da implementação
de instrumentos de mobilidade social que promovam a melhoria da renda, do emprego e da
qualificação profissional de produtores rurais. (BRASIL, 2015)

O êxito de tal projeto, sob o ponto de vista do agronegócio, pode ser vislumbrado quando
analisamos os dados disponibilizados pela Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB, segundo
a qual, na safra 2014/2015 o MATOPIBA foi responsável por 19,7 milhões de toneladas de algodão
em pluma, soja, arroz e milho, em uma área de 5,7 milhões de hectares. A região que na safra
2013/2014 havia produzido 8,7 milhões de toneladas de soja, já na safra seguinte teve um incremento
de 21,7% e chegou a 10,5, milhões de toneladas, equivalentes a 11% da produção nacional de soja.
Segundo os produtores da região, tais dados só não foram maiores em função do ataque de pragas
como lagarta e a mosca branca que atacaram as plantações nesta safra. Todavia, estes dados de
produção poderão, num futuro próximo, ser ainda mais expressivos, pois segundo a CONAB, mais
10 milhões de hectares podem ser incorporados à área plantada.
O município de Balsas - MA é o terceiro maior produtor de grãos da região do
MATOPIBA ficando atrás apenas de Formosa do Rio Preto e São Desidério ambos os municípios do
estado da Bahia (SINDBALSAS, 2016). No entanto por conta da introdução direta do complexo
sojicultor⁵, e consequentemente uma elevação da produtividade de grãos, ocorreu à queda nas
produções primarias, pois, muitos camponeses que cultivavam tais produtos, foram expulsos ou
induzidos a venderem suas propriedades ou abandonar suas poses para ceder espaço à expansão do
agronegócio, invariavelmente, os camponeses irão habitar nas periferias destas cidades.
Os conflitos pela espacialização e imposição da lavoras técnico cientificas
mecanizadas é uma das categorias de conflitos existentes entre o agronegócio e o campesinato na
região, é um conflito que se dá de forma encoberta e sem chamar a atenção para a sociedade em geral,
pois só é percebido na comparação dos números, pois há instalada uma “cortina” que encobre as
denúncias e queixas de quem sofre tais ações, sendo isto uma forma de não sujar a grande faça do
desenvolvimento dito Top, Pop, Tec. Contudo, a luta das famílias camponesas contra o crescimento
do agronegócio sobre suas terras é para elas como uma forma de se manter com seus próprios meios
e suas próprias características de vida e também de produção para assim poder ser o compositor da
sua própria história, e não submeter sua vida aos caprichos do grande capital, que vem a ser
esmagador do seu lugar e da sua cultura.

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Esse conflito é entendido como - As ações de resistência e enfrentamento que acontecem em
diferentes contextos sociais no âmbito rural, envolvendo a luta pela terra, água, direitos e pelos meios
de trabalho ou produção” (CPT, 2007).
Na Microrregião dos Gerais de Balsas, composta por cinco municípios - Balsas, Riachão, Alto
Parnaíba, Feira nova do Maranhão e Taco Fragoso o número de conflitos por terra no período de
2000 a 2017 soma 89 concorrências, que vem obtendo alguns picos nos últimos 5 anos, contudo a
maior concentração das disputas tem sido nos municípios de Balsas e Riachão, também principais
produtores de grãos, contudo apenas no ano de 2016 foram registradas 17 ocorrências que estão
sendo investigadas, todas tendo como conflitantes produtores ou empresas ligadas a produção de
grãos.

Conflitos agrarias na microrregião dos gerais de Balsas - 2000/2016


Fonte: CPT, 2017
Elaboração: SILVA & RODRIGUES, 2018

Alguns dessas ocorrências são decorrentes de áreas de assentamento rurais do Instituto


Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA, isto por conta da aquisição das terras próximas
ao assentamento pelo fazendeiro/empresas para implantação de campos de produção de soja, o que
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provoca inúmeros problemas para os moradores dos assentamentos. Um desses problema é a
imposição do impedimento da criação dos animais livremente nas áreas de chapada, que, é um dos
componentes do sistema de produção praticado por esses camponeses. Nesse sistema de produção, as
roças é que são cercadas, enquanto os animais pastoreiam nas áreas de uso comum (a chapada). Na
situação atual ocorre o inverso, pois como os campos de grãos não são cercados, a criação de animais
é que deve ser limitada.
Esses cultivos mecanizados implantados em áreas de chapada, mais altas e planas, ideais ao
plantio, mediante o uso de insumos para corrigir a acides do solo, são as principais locomotivas de
conflito, pois a partir dessas inovações os camponeses assentados ou não de “reforma agrária” relatam
a morte de seus animais por envenenamento, a contaminação das águas por agroquímicos e até mesmo
mortes por disparo de armas de fogo. Segundo a CPT, de 2000 a 2017 cerca de 6.740 famílias
camponesas entraram em conflitos por terras nona microrregião analisara, e que a grande maioria
destas famílias forma expulsas das terras para ceder espaço para as grandes lavouras de grãos.

4. Conclusões

Concluímos assim que as políticas brasileiras voltadas para a questão agrária, não abrangem
as especificidades das disputas locais. Fato esse que somente contribuiu para agravar ainda mais a
precária situação dos camponeses assentados ou não pela política de distribuição de terra, os quais
são pressionados pela grande massa de produção mecanizada, e constantemente questionados quanto
à relevância do seu modo de uso da terra e de vida.
No Estado do Maranhão essa situação parece não ter soluções, pois o próprio governo
negligencia investimentos em reforma agrária. A luta em busca da posse legal da terra e pela a
firmação da identidade tradicional cultural de diversas comunidades tem sido uma luta ferrenha e
sangrenta que envolve violência e impunidade. A CPT em diversos de seus relatórios anuais tem
colocado o Maranhão em primeiro no ranking dos conflitos agrários e principalmente de assassinato
no campo. Isso mostra que pouco ou nada se tem feito para minimizar tais problema.
Entende-se que os movimentos sociais de luta e resistência com o intuito de ajudar a manter
firme o direito e a posse legal da terra tem sido de grande importância nos municípios da Microrregião
dos Gerais de Balsas e em todo o estado. A participação da sociedade maranhense e da comunidade

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de intelectuais é de suma importância para tentar conseguir de fato a mudar dessa atual
realidade. É interessante, portanto, perceber que a luta pela terra tem se tornado uma tarefa difícil,
isso porque, os grandes proprietários, tem sido os verdadeiros destinatários das políticas
governamentais estaduais voltadas para o campo no Maranhão.
Assim o trabalho realizado pelo grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia Agrária-GEPGA-
UEMA até aqui tem se mostrado de grande relevância para o entendimento do atual contexto social
e econômico do Cerrado Sul Maranhense. E esperar-se que essa lamentável situação aqui analisada e
tem sido vivenciada nesta área pelos camponeses se torne minimamente solucionada ou mitigada,
para tanto, faz-se necessário o envolvimento de todas as forças políticas e sociais, para mesmo que
de forma utópica, possa fazer desse município um ambiente de paz e harmonia, e de bem viver para
todos, afinal de contas, a natureza tem se mostrado generosa com todos os aqui envolvidos.

5. REFERÊNCIAS

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