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UM INOCENTE
ÉPOCA REFAZ OS PASSOS DA
POLÍCIA DO RIO NO MÊS
MAIS LETAL DE 2019 E REVELA
INDÍCIOS DE ERRO, EXECUÇÃO
SUMÁRIA E IMPUNIDADE
por Rafael Soares
EPOCA
DUAS REGINAS
SECRETÁRIA DA CULTURA
CLÃ EM GUERRA
OS BASTIDORES
DEMÔNIOS
PRIVADOS
27.01.20
por Artur Xexéo DE EDUARDO CAMPOS DAS VÍTIMAS DE SEUS PAIS EXEMPLAR DO ASSINANTE
por Gustavo Maia por Janaína Figueiredo VENDA PROIBIDA
ILICITUDES EXCLUÍDAS 21
A o menos 12 casos de mortes cometidas Morro do Estado, em Niterói. Quando foi ba-
QUANDO
Ana Cláudia Rangel,
com a foto do filho pela polícia do Rio de Janeiro, em um leado, o jovem carregava uma mochila com
Daniel Souza, frentista
que se preparava para único mês, apresentados à população como seu uniforme de trabalho, crachá, certificado
entrar na faculdade, “confronto com bandidos”, têm indícios de reservista, carteira de trabalho e celular.
mas foi morto pela graves de erro policial, em que inocentes fo- Tudo isso sumiu quando o rapaz foi deixado
polícia e apresentado
ram mortos por engano, ou execução à mar- por policiais militares no Hospital Antônio
A POLÍCIA
como criminoso
gem da lei, segundo um levantamento feito Pedro, e até hoje nada foi encontrado.
por ÉPOCA. A reportagem analisou nos úl- Quatro horas antes de ser morto, Souza
timos três meses todas as informações dis- terminou sua jornada de trabalho num pos-
poníveis sobre as 195 “mortes por interven- to de gasolina de Jacarepaguá, na Zona Oes-
ção de agentes do Estado” ocorridas em ju- te do Rio. Como acontecia todo domingo,
MATA
lho de 2019 — o mês mais letal do ano mais após o expediente, funcionários fizeram um
letal da polícia mais letal do Brasil em mais churrasco nos fundos do estabelecimento.
de duas décadas. Seis meses depois, nenhum Uma foto postada nas redes sociais por um
policial foi denunciado à Justiça. colega mostra o frentista sorridente, com a
Há casos com fortes indícios de erro poli- mochila nas costas. Câmeras de segurança
QUEM NÃO
cial, em que, ao que tudo indica, as forças de do prédio em que ele morava também mos-
segurança mascararam a realidade para não tram a mochila nas costas do jovem quando
responder pela morte de inocentes. Um dos ele saiu de casa para trabalhar.
homicídios sob investigação é o do frentista Por volta das 23 horas, o frentista deixou o
Daniel Rangel de Souza, de 20 anos, na ma- posto de gasolina num carro da empresa, que
DEVIA
drugada de 28 de julho. Ele foi vítima de cinco levava para casa funcionários que moravam
tiros disparados por policiais militares do Ba- em Niterói, a 40 quilômetros dali. Às 0h03,
talhão de Operações Policiais Especiais (Bope) Souza mandou uma mensagem para sua mãe,
na Rua Padre Anchieta, um dos acessos ao a diarista Ana Cláudia Rangel, de 42 anos,
FOTO: GUITO MORETO/AGÊNCIA O GLOBO
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MARCELOTHEOBALD/AGÊNCIA O GLOBO
Filmagens feitas por frequentadores do baile atingido em 2017, quando 60 mil brasileiros Os três policiais civis que estavam dentro “pode ter havido um confronto no local” por
mostram que o campo de futebol estava foram mortos. Entre os motivos para a me- da casa alegaram que houve uma negociação causa das marcas de tiros nas paredes, com
cheio quando os policiais chegaram. Houve lhora estão o investimento em Inteligência bem-sucedida com os criminosos para que a “direções e sentidos opostos”.
correria, e a atração principal do evento, o policial, como aconteceu no Rio a partir da refém fosse libertada. Os agentes permanece- Antes de o inquérito chegar ao MP, a DH
pagodeiro Mr. Dan, teve de interromper o intervenção federal na segurança, e até uma ram na cozinha e afirmaram ter ouvido de um havia pedido seu arquivamento, argumen-
show em meio aos tiros. Uma testemunha do trégua entre facções, o que leva a um arrefeci- dos traficantes, que estava dentro do banheiro tando que os policiais “cometeram os homi-
crime afirmou à DH que havia traficantes ar- mento dos confrontos entre criminosos. com a refém, que eles faziam a mulher “de es- cídios revidando a injusta agressão”. Os pro-
mados no local, mas eles “não atiraram nos A redução dos homicídios e o aumento cudo”. No entanto, em meio à negociação, a motores do Gaesp, entretanto, discordaram
policiais militares”. A mulher, que estava no da letalidade policial no Rio levaram a uma dona da casa “conseguiu se desvencilhar e sair do parecer, e a investigação segue em anda-
baile, disse que viu o momento em que Alan situação em que as forças de segurança já correndo”. A saída da mulher do local “desen- mento no MP para apurar se os três homens
foi atingido por tiros de fuzil disparados por são responsáveis por uma em cada três mor- cadeou uma intensa troca de tiros no interior foram executados depois de se renderem.
um “policial careca”. Segundo a mulher, o tes no estado. do imóvel”, de acordo com o depoimento de O Gaesp foi criado em 2015, com foco na
adolescente só estava com um copo verde, de um dos agentes à DH. Após a “resistência ar- atuação das forças policiais. Desde dezembro
plástico, na cintura: “Alan não estava arma-
do”. Um exame pericial não encontrou vestí-
gios de pólvora nas mãos do adolescente.
É POCA localizou um inquérito em que o
Ministério Público (MP) apura se os cri-
minosos já estavam rendidos quando foram
mada”, Lucas de Oliveira da Silva, de 17 anos,
Ítalo Kennedy da Silva Santos, de 22, e Breno
Vargas de Souza, de 21, foram encontrados no
de 2016, os promotores ofereceram 38 denún-
cias contra policiais por homicídios cometidos
em serviço, alguns de casos que corriam havia
mortos. Às 6 horas da manhã de 15 de julho, cômodo. Os agentes afirmaram ter apreendido, mais de 20 anos. Em apenas três casos até