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O vídeo do historiador e diplomata Alberto Costa e Silva para além dos documentos
oficiais é bem esclarecedor do ponto de vista acadêmico que desconsidera a história da
África. Logo início, quando ele faz referência a um historiador inglês que teria dito que
a África não possui história porque “os povos que vagueiam pelas solidões não têm
história”. O primeiro ponto a se tomar nesta discussão é o entendimento do que é a
África. Diante de suas grandes dimensões, variedades de línguas e cultura, temos que ter
bastante cuidado ao falar de sua história. Generalizar o continente africano é reduzir
toda a sua complexidade a um uno, religião, estrutura administrativa, região, cultura,
língua... são diferentes em toda a sua extensão continental. Todas as experiências foram
diferentes ao longo do tempo para as diferentes sociedades. A historiografia colonial a
respeito do continente africano era desinteressada pelo processo de construção cultural,
geográfico e histórico em uma perspectiva racista e eurocêntrica, marcada pela
pacificação dos africanos pelo europeus.
Em verdade, o tal historiador tem razão em um ponto. A África não tem história, mas
históriaS, tão diversas quanto seu território. Muitos anos tiveram que se passar até que
fosse possível a escrita destas histórias, mesmo considerando que diversos historiadores
tivessem tentado fazê-lo, mas sob um viés eurocentrista, com toda sorte de preconceitos
para com o continente. Assim como Alberto Costa e Silva, podemos afirmar que a
disciplina de História da África é nova, mas nova apenas enquanto ciência, porquanto
desenvolvimento de metodologia na metade do século XX a partir dos escritos em livros
de viagens e livros de mundos diferentes escritos por diversos viajantes.
A África teve, assim como todo o oriente, sua história contada em torno de visões
estereotipadas, que também foram cultivadas contra outros povos e regiões. Os
documentos ditos oficiais não conseguiram, ou tiveram intenção, de contar nada que
fosse além do modelo ocidental. Conforme o vídeo apresentado, na construção da
História da África, no século XIX algumas áreas do conhecimento – antropologia
cultural, etnografia e geografia humana – foram utilizadas no intuito de contar um
pouco dessa história, mas acabaram por misturar mitos e histórias. Além disto, haveria
uma tendência em projetar para o passado as estruturas e modos de vida do presente,
como se a história fosse estática – afirma Costa e Silva. Mas esta História seria antiga,
pois havia livros escritos por africanos – em árabe, gueês, e aljamia, por exemplo –
desde os tempos de Heródoto. Estas obras reuniam as tradições locais, passadas de
geração em geração. O material didático registra este tipo de conhecimento, importante
fonte no estudo de períodos anteriores à introdução de fontes escritas via europeus.
Costa e Silva discorda de que há uma escassez de fontes de escritos sobre a África, pelo
contrário, afirma que há excesso de fontes, escritas e locais, que perturbam os
historiadores, sobretudo as produzidas nos séculos XVI, XVIII e XIX. No material
didático vimos que a maioria das fontes escritas sobre a África, exceto no Egito e na
região conhecida como Núbia, foi realizada por viajantes muçulmanos e cristãos que
viam os africanos quase sempre de maneira hostil por razões culturais e políticas, a seus
modos de vida. Logo, as fontes são fartas, a questão desenrola-se na problematização
das fontes.
A precariedade das fontes é uma questão que, perante uma reinvenção da história pelas
diferentes dinastias ao longo do tempo, deve ser levada em conta. O historiador
questiona se, assim como os africanos, cada geração de historiador também não
seleciona determinadas fontes e relega outras. Tal afirmação pode se justificar em nossa
apostila quando diz-se que, a partir do século XVIII, “O olhar sobre as sociedades
africanas não buscava compreender sua história, mas apenas encontrar argumentos –
contrários ou favoráveis – a esse comércio.” A ideia de superioridade dos europeus pode
ter eco neste tipo de seleção intencional de fontes, onde cada um faz a sua própria
história.
REFERÊNCIAS