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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CEDERJ – Licenciatura em História


DISCIPLINA: História da África – 2020.2

Nome: Leonardo Dangelo


Matrícula: 16216090149
Polo: Duque de Caxias
Avaliação à Distância 1 – AD1

O vídeo do historiador e diplomata Alberto Costa e Silva para além dos documentos
oficiais é bem esclarecedor do ponto de vista acadêmico que desconsidera a história da
África. Logo início, quando ele faz referência a um historiador inglês que teria dito que
a África não possui história porque “os povos que vagueiam pelas solidões não têm
história”. O primeiro ponto a se tomar nesta discussão é o entendimento do que é a
África. Diante de suas grandes dimensões, variedades de línguas e cultura, temos que ter
bastante cuidado ao falar de sua história. Generalizar o continente africano é reduzir
toda a sua complexidade a um uno, religião, estrutura administrativa, região, cultura,
língua... são diferentes em toda a sua extensão continental. Todas as experiências foram
diferentes ao longo do tempo para as diferentes sociedades. A historiografia colonial a
respeito do continente africano era desinteressada pelo processo de construção cultural,
geográfico e histórico em uma perspectiva racista e eurocêntrica, marcada pela
pacificação dos africanos pelo europeus.

Em verdade, o tal historiador tem razão em um ponto. A África não tem história, mas
históriaS, tão diversas quanto seu território. Muitos anos tiveram que se passar até que
fosse possível a escrita destas histórias, mesmo considerando que diversos historiadores
tivessem tentado fazê-lo, mas sob um viés eurocentrista, com toda sorte de preconceitos
para com o continente. Assim como Alberto Costa e Silva, podemos afirmar que a
disciplina de História da África é nova, mas nova apenas enquanto ciência, porquanto
desenvolvimento de metodologia na metade do século XX a partir dos escritos em livros
de viagens e livros de mundos diferentes escritos por diversos viajantes.

Ao relacionarmos o vídeo postado com o material didático, é possível perceber uma


convergência de concepções. Enquanto Costa e Silva chama atenção para algumas
distorções ao se pensar/estudar a África, dando uma série de exemplos de livros antigos
escritos por africanos, e ignorados na historiografia europeia de então, registrando
assentamentos desde o século XI e a história de um rei da Etiópia de fins do século XVI.
Já a apostila registra exatamente o que foi dito anteriormente, com a multiplicidade de
processos históricos em contraponto à visão de uma África uniforme, considerando, ainda,
que a negação da diversidade sociocultural destes povos seria o empobrecimento de uma
História tão rica.

A África teve, assim como todo o oriente, sua história contada em torno de visões
estereotipadas, que também foram cultivadas contra outros povos e regiões. Os
documentos ditos oficiais não conseguiram, ou tiveram intenção, de contar nada que
fosse além do modelo ocidental. Conforme o vídeo apresentado, na construção da
História da África, no século XIX algumas áreas do conhecimento – antropologia
cultural, etnografia e geografia humana – foram utilizadas no intuito de contar um
pouco dessa história, mas acabaram por misturar mitos e histórias. Além disto, haveria
uma tendência em projetar para o passado as estruturas e modos de vida do presente,
como se a história fosse estática – afirma Costa e Silva. Mas esta História seria antiga,
pois havia livros escritos por africanos – em árabe, gueês, e aljamia, por exemplo –
desde os tempos de Heródoto. Estas obras reuniam as tradições locais, passadas de
geração em geração. O material didático registra este tipo de conhecimento, importante
fonte no estudo de períodos anteriores à introdução de fontes escritas via europeus.

Ainda segundo o historiador, no início do século XX, na África, criou-se a moda de


cada grupo escrever sua história local, (cidades, reinos) em caracteres latinos/arábicos o
que ouviram dos avós, griots e poetas dentre outros, que sabiam os nomes dos reis,
pelos acontecimentos, não pelas datas. Fundamental registro da importância dos griots
(denominação dada pelos colonizadores), foi feito na aula 1. Em razão da falta de escrita
e necessidade de fixação e, consequente, legitimação de reinos da savana da África
Ocidental, indivíduos da elite eram preparados desde cedo para a tarefa fundamental de
fazer esta transmissão oral. Tal trabalho era realizado recitando os textos com o
acompanhamento de instrumentos musicais. Porém, para sociedades que não possuíam
sistema políticos centralizados, ao contrário das que os griots viviam, a tradição oral era
passada de geração em geração, sem nenhum especialista para a função.

Costa e Silva discorda de que há uma escassez de fontes de escritos sobre a África, pelo
contrário, afirma que há excesso de fontes, escritas e locais, que perturbam os
historiadores, sobretudo as produzidas nos séculos XVI, XVIII e XIX. No material
didático vimos que a maioria das fontes escritas sobre a África, exceto no Egito e na
região conhecida como Núbia, foi realizada por viajantes muçulmanos e cristãos que
viam os africanos quase sempre de maneira hostil por razões culturais e políticas, a seus
modos de vida. Logo, as fontes são fartas, a questão desenrola-se na problematização
das fontes.

A precariedade das fontes é uma questão que, perante uma reinvenção da história pelas
diferentes dinastias ao longo do tempo, deve ser levada em conta. O historiador
questiona se, assim como os africanos, cada geração de historiador também não
seleciona determinadas fontes e relega outras. Tal afirmação pode se justificar em nossa
apostila quando diz-se que, a partir do século XVIII, “O olhar sobre as sociedades
africanas não buscava compreender sua história, mas apenas encontrar argumentos –
contrários ou favoráveis – a esse comércio.” A ideia de superioridade dos europeus pode
ter eco neste tipo de seleção intencional de fontes, onde cada um faz a sua própria
história.

Por fim, Alberto Costa e Silva levantando a importância de escrevermos a história da


África, afirma que, mesmo não sendo uma história de “grandes nomes” e tendo os
povos africanos deixado “menos” marcas na história, elas também precisam ser escritas.
Finaliza lembrando que parte do que eles eram está entranhada em nós, corre em nossas
veias. História é o homem que se foi e ainda fala ao nosso ouvido. Estas palavras
correlacionam-se com o material didático à medida que é questionada a falta de estudos
sobre a África que veio a ter uma obra mais consistente na escrita, entre 1980 e 1990, da
coleção História Geral da África, sob patrocínio da UNESCO. A importância do estudo
da história da África ocorre pela forte presença de afrodescendente em nossa população,
mas, principalmente, devido ao interesse que os historiadores possuem pela vida do
homem em sociedade, seja ele americano, europeu, asiático ou africano.

REFERÊNCIAS

MARZANO, Andrea; BITTENCOURT, Marcelo. História da África - vol. único. Rio


de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2012.
EBC NA REDE. Alberto Costa e Silva fala sobre a história da África além dos
documentos oficiais. 2012. (17m25). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=sZ_XvPiaPfI>. Acesso em 25 ago. 2020.

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