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Aline Silva Amorim1, Vitor Laerte Pinto Junior2, Helena Eri Shimizu3
ABSTRACT The study analyzed the medical equipment management policies adopted by the
Ministry of Health for the Unified Health System. We conducted a document analysis of the
publications of the Ministry of Health and a data analysis of the National Registry of Health
Facilities, in period from 2005 to 2013. The country established a Technology Management Policy
on Health and an area for the management of Hemorrede equipment. The supply of equipment
to the private network is superior to the public one, highlighting the need for management and
monitoring technologies to ensure access to users in the public area and reduce the dependence
of the Unified Health System.
1 Universidade de Brasília
(UnB) – Brasília, DF, Brasil.
amorim.aline@ymail.com
3 Universidade de Brasília
(UnB), Programa de
Pós-Graduação em Saúde
Coletiva – Brasília, DF,
Brasil.
shimizu@unb.br
SAÚDE DEBATE | rio de Janeiro, v. 39, n. 105, p.350-362, ABR-JUN 2015 DOI: 10.1590/0103-110420151050002004
O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde 351
[...] o conjunto de aparelhos e máquinas, suas qualidade e excelência na conexão entre pes-
partes e acessórios utilizados por um estabe- quisa, política e gestão, por meio da elabora-
lecimento de saúde onde são desenvolvidas ção de estudos de avaliação de tecnologias
ações de diagnose, terapia e monitoramento, em saúde, nas fases de incorporação, monito-
bem como os equipamentos de apoio, os de ramento e exclusão de tecnologias no âmbito
infraestrutura, os gerais e os médico-assisten- do SUS. (BRASIL, 2011A).
ciais. (BRASIL, 2010B).
Ao analisar os documentos, verificou-
Considera-se o gerenciamento -se que a Coordenação-Geral de Sangue e
Hemoderivados (CGSH/MS) instituiu em
[...] desde o planejamento e entrada no esta- 2011 o Grupo de Assessoramento Técnico
belecimento de saúde até seu descarte, visan- em Gestão de Equipamentos dos Serviços de
do à proteção dos trabalhadores, a preserva- Hemoterapia e Hematologia (GAT). Foram
ção da saúde pública e do meio ambiente e a atribuídas as seguintes atividades ao GAT:
segurança do paciente. (BRASIL, 2010B). elaboração de propostas na área de gestão de
equipamentos nos Serviços de Hemoterapia
Dessa forma, os gestores são orientados a e Hematologia, assessoria para a CGSH/MS
elaborar um Plano de Gerenciamento (PG) no que se refere à gestão de equipamentos e
para as tecnologias abrangidas por esse re- estabelecimento de um modelo de gestão de
gulamento técnico. Caso esse serviço seja equipamentos. Essas atividades estavam res-
terceirizado, “não isenta o estabelecimento tritas aos EAS que compõem a Hemorrede
de saúde contratante da responsabilização (Rede de Hemoderivados) (BRASIL, 2011C).
perante a autoridade sanitária”. Com relação A análise do Doc. 7 revelou as diver-
à infraestrutura física para a realização das sas ações desenvolvidas pelo GAT, como
atividades de gerenciamento de tecnologias oficinas de capacitação na área de enge-
em saúde, a resolução orienta que esta deve nharia clínica e capacitação de profissio-
ser compatível com a RDC n.º 50, de 21 de nais da Hemorrede para a utilização do
fevereiro de 2002, da Anvisa (BRASIL, 2010B). software Sistema de Gerenciamento de
Em 2011, o MS publicou o primeiro Equipamentos para a Hemorrede Pública
manual do SomaSUS, dando continuidade Nacional (Hemosige). Além disso, foi criada
ao trabalho iniciado em 2007 com a publi- uma subárea de Gestão de Equipamentos
cação da Portaria n.º 2.481. No primeiro no organograma da Gestão Financeira e
volume da série, o tema desenvolvido foi Assessoria Técnica (GFAT), da CGSH,
‘Unidades de Atendimento Ambulatorial cuja missão é “assessorar tecnicamente a
e Atendimento Imediato’. Trata-se de um Rede de Hemocentros Públicos do País e
manual ilustrado contendo os ambientes dos a própria CGSH no desenvolvimento das
EAS, com seus respectivos equipamentos e ações inerentes à gestão de equipamentos”
mobiliários — exceto material de consumo. (BRASIL, 2011B). A GFAT ficou responsável por:
O objetivo dessa publicação é “fornecer in-
formações técnicas estratégicas para a ela- [...] nortear os investimentos realizados pelo MS
boração de projetos de investimentos, em em inovação tecnológica; aumentar a vida útil do
particular relativos à execução de obras e à parque de equipamentos; conhecer o estado de
aquisição de equipamentos médico-hospi- funcionamento dos equipamentos localmente;
talares” (BRASIL, 2013B, P. 7). Nesse mesmo ano, gerenciar os contratos de manutenção dos equi-
foi criada a Rede Brasileira de Avaliação de pamentos; avaliar a aquisição de novos equipa-
Tecnologias em Saúde (Rebrats) com a fina- mentos; orientar a qualificação de equipamen-
lidade de buscar por tos; e validar os processos. (BRASIL, 2011B).
Tabela 1. Relação de equipamentos de diagnóstico por imagem e terapia da rede pública (municipal, estadual e federal) e privada, cadastrados no CNES
no período de 2005 a 2013
Tipo de equipamento 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Aparelho de Densitometria Óssea - PR* 924 1000 1068 1146 1263 1356 1438 1498 1590
Aparelho de Densitometria Óssea - PU** 35 40 41 61 67 77 80 85 99
Aparelho de Hemodinâmica - PR 245 266 284 313 343 365 375 396 398
Aparelho de Hemodinâmica público - PU 74 79 83 87 90 90 92 93 104
Aparelho de Raios X com Fluoroscopia - PR 651 658 671 689 706 708 681 683 688
Aparelho de Raios X com Fluoroscopia - PU 240 254 256 268 277 274 276 284 292
Aparelho de Raios X de 100 a 500 mA - PR 8062 8652 8888 9388 9862 10217 13041 10503 10762
Aparelho de Raios X de 100 a 500 mA - PU 4767 4962 5061 5384 5595 5873 6078 6356 6525
Gama Câmara PR 423 441 469 494 519 548 559 585 603
Gama Câmara PU 89 88 96 109 121 116 121 132 127
Mamógrafo com comando simples - PR 1667 1813 1934 2069 2242 2421 2479 2484 2594
Mamógrafo com comando simples - PU 99 100 108 127 137 144 142 145 150
Mamógrafo com estereotaxia - PR 401 435 459 495 538 576 589 580 596
Mamógrafo com estereotaxia - PU 89 93 90 104 111 125 129 127 121
Mamógrafo Digital - PR 0 0 0 0 0 0 0 19 37
Mamógrafo Digital - PU 0 0 0 0 0 0 0 30 50
Processadora para Mamógrafo - PR 0 0 0 0 0 0 133 518 594
Processadora para Mamógrafo - PU 0 0 0 0 0 0 38 180 205
Ressonância Magnética - PR 377 440 506 616 748 851 971 1107 1258
Tabela 1. (cont.)
Ressonância Magnética - PU 29 35 43 50 58 65 78 80 99
Tomógrafo Computadorizado - PR 1197 1281 1365 1524 1690 1860 1940 2116 2311
Tomógrafo Computadorizado - PU 233 253 277 309 341 373 394 425 463
Ultrassom Diagnóstico - PR 12558 13347 13757 14454 15170 15772 15979 16164 16568
Ultrassom Diagnóstico - PU 3419 3747 4077 4511 4998 5442 5874 6234 6593
Total por ano 35579 37984 39533 42198 44876 47253 51487 50824 52827
Gráfico 1. Equipamentos do grupo de diagnóstico por imagem da rede pública e privada, cadastrados no CNES no período de
2005 a 2013
de saúde em 1997, o Brasil está defasado em realizada pelo fabricante e envolve contrato
13 anos (GUTIÉRREZ, 2004). Estudos detalhados de manutenção periódica do equipamento.
são necessários para analisar a viabilidade Esse é outro ponto que pode ser explorado
das instituições brasileiras em reservar parte em trabalhos futuros: quanto se gasta com
do seu orçamento para a manutenção da contratos desse tipo no SUS?
infraestrutura física e tecnológica, uma vez A Rebrats foi um ganho para o SUS, mas
que são conhecidas na literatura as deficiên- os trabalhos envolvendo a avaliação de EMH
cias no financiamento da saúde nacional. Por ainda são escassos. Suas atividades são dire-
outro lado, o descumprimento das disposi- cionadas para a avaliação e o monitoramento
ções contidas na resolução da Anvisa cons- de novas tecnologias a serem introduzidas
titui uma infração sanitária. Verificou-se que no SUS, principalmente medicamentos.
não há relatos sobre a percepção por parte Identificou-se nos documentos analisados
da Anvisa ou do MS para que esses estabele- que somente a CGSH realiza gestão de equi-
cimentos repassem dados do seu parque de pamentos, no âmbito do MS. Ao criar uma
equipamentos para um sistema de ‘gestão’ área para GE, a CSGH desenvolveu várias ati-
nacional ou mesmo para o CNES. Tal fato vidades junto aos gestores dos hemocentros
demonstra a desarticulação entre os órgãos (oficinas de treinamento, desenvolvimen-
e áreas internas do MS em relação às ações to de software de gestão de equipamentos,
referentes aos EMH instalados no SUS. entre outros). Tal medida, além de permitir
Exceto o CNES, não existem sistemas um controle detalhado da situação atual do
informatizados que avaliem a situação do parque instalado na Hemorrede, garante o
parque de equipamentos instalados no SUS. planejamento e a aplicação de políticas efe-
Moçambique era afetado pela falta da cultura tivas na área de hemoderivados. De acordo
de manutenção, de recursos escassos (físicos com Doc. 8, os gestores da Hemorrede foram
e materiais), falta de especialistas, proces- capacitados para gerir tecnologias e operar o
sos de doação e uso de tecnologias inapro- sistema informatizado Hemosige. Acredita-
priadas. Ante esse cenário, um Sistema de se que o tamanho do parque tecnológico da
Informação (SI) foi implantado para a ob- Hemorrede tenha favorecido o desenvolvi-
tenção de indicadores relacionados ao in- mento dessas atividades.
ventário e manutenção (exceto a preventiva) A publicação Doc. 9 relatou que está aten-
dos equipamentos instalados naquele país dendo a PNGTS e tem como finalidade in-
(SUMALGY, 2004). centivar o desenvolvimento de atividades de
Ao contrário do sistema canadense, em gestão de EMH no âmbito dos SUS. Nessa pu-
que a terceirização da gestão de EMH não blicação, o SomaSUS e a RDC n.º 2/2010 são
é comum (GENTLES, 2004), no Doc. 4 foram considerados. O documento ainda evidencia
citadas as condições para a adoção dessa as considerações a serem feitas na aquisição
medida. De acordo com o Art.7, a “terceiri- de EMH (infraestrutura, manutenção, recur-
zação do serviço pode ser realizada desde sos humanos etc.). Isso demonstra que o MS
que não haja nenhum impedimento legal, vem buscando desenvolver ferramentas para
devendo a terceirização obrigatoriamente auxiliar os gestores na área de EMH.
ser feita mediante contrato formal” (BRASIL, O quantitativo de EMH de DIM
2010B), mas, isso “não isenta o EAS contratan- neste estudo teve como objetivo co-
te da responsabilização perante a autoridade nhecer o tamanho do desafio a ser en-
sanitária” (BRASIL, 2010B). Nesse caso, o controle frentado pelos gestores no MS, pois,
deve ser mais rígido devido a conflitos de conforme relatado na PNGTS, é res-
interesse existentes nessa área. A manuten- ponsabilidade desse ministério desen-
ção de equipamentos de DIM geralmente é volver ações para o monitoramento das
emissão de pósitrons (PET-CT) foi inserido EMH do SUS, exceto para as instituições da
no CNES, constando 18 equipamentos cadas- Hemorrede. As ações dos órgãos ligados ao
trados, estando 13 equipamentos disponíveis MS desenvolvem ações desarticuladas, por
ao SUS. Sabe-se que esse número é superior exemplo, a ferramenta CNES não foi citada
ao informado no CNES, mas, conforme rela- na maioria das publicações.
tado, essa informação depende do gestor. Embora haja um investimento crescen-
Segundo com Gomez (2004), no Equador, te para a adequação tecnológica dos SUS, a
as informações sobre inventários econô- falta de um sistema de gestão eficiente desse
mico e técnico dos equipamentos instala- patrimônio afeta o desenvolvimento das
dos eram insuficientes e os hospitais não políticas de saúde. Notícias na mídia sobre
tinham acesso à internet. O País redefiniu equipamentos não instalados devido à in-
as ações e implantou um modelo semelhan- fraestrutura inadequada são frequentes e
te ao utilizado pelo Canadá. Na Estônia, o afetam diretamente o acesso do paciente aos
inventário de equipamentos foi reorganiza- serviços do SUS.
do, padronizado e centralizado no sistema Medidas que reforcem a responsabilização
nacional de saúde, permitindo uma série dos gestores poderiam levar à maior preocu-
de mudanças regulatórias e legislativas (AID; pação com a necessidade de planejamento
GOLUBJATNIKOV, 2004). das ações e com o desperdício de recursos
públicos. O aperfeiçoamento dos processos
de alocação de recursos tecnológicos que
Conclusão considerem a importância da redução das
desigualdades geográficas e sociais é condi-
Conclui-se, com base na documentação ana- ção necessária para a obtenção da equidade
lisada, que o MS não dispõe de um sistema implícita na legislação brasileira, no que se
informatizado ou ferramenta para gerir os refere ao setor saúde. s
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