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350 ARTIGO ORIGINAL | ORIGINAL ARTICLE

O desafio da gestão de equipamentos


médico-hospitalares no Sistema Único de
Saúde
The challenge of managing medical equipment in the Unified Health
System

Aline Silva Amorim1, Vitor Laerte Pinto Junior2, Helena Eri Shimizu3

RESUMO O estudo analisou as políticas de gestão de equipamentos médico-hospitalares ado-


tadas pelo Ministério da Saúde para o Sistema Único de Saúde. Realizou-se uma análise docu-
mental das publicações do Ministério da Saúde e uma análise de dados do Cadastro Nacional
de Estabelecimentos de Saúde, no período de 2005 a 2013. O País instituiu uma Política de
Gestão de Tecnologias em Saúde e uma área para a gestão dos equipamentos da Hemorrede.
A oferta de equipamentos na rede privada é superior à pública, reforçando a necessidade da
gestão e monitoramento de tecnologias para garantir o acesso aos usuários da rede pública e
diminuir a dependência do Sistema Único de Saúde.

PALAVRAS-CHAVE Gestão em saúde; Sistema Único de Saúde; Tecnologia biomédica.

ABSTRACT The study analyzed the medical equipment management policies adopted by the
Ministry of Health for the Unified Health System. We conducted a document analysis of the
publications of the Ministry of Health and a data analysis of the National Registry of Health
Facilities, in period from 2005 to 2013. The country established a Technology Management Policy
on Health and an area for the management of Hemorrede equipment. The supply of equipment
to the private network is superior to the public one, highlighting the need for management and
monitoring technologies to ensure access to users in the public area and reduce the dependence
of the Unified Health System.

KEYWORDS Health management; Unified Health System; Biomedical technology.

1 Universidade de Brasília
(UnB) – Brasília, DF, Brasil.
amorim.aline@ymail.com

2 Fundação Oswaldo Cruz


(Fiocruz), Programa de
Epidemiologia e Vigilância
em Saúde (Pepivs) –
Brasília, DF, Brasil.
vitorlaerte@fiocruz.br

3 Universidade de Brasília
(UnB), Programa de
Pós-Graduação em Saúde
Coletiva – Brasília, DF,
Brasil.
shimizu@unb.br

SAÚDE DEBATE | rio de Janeiro, v. 39, n. 105, p.350-362, ABR-JUN 2015 DOI: 10.1590/0103-110420151050002004
O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde 351

Introdução demonstrou a ampliação do investimento e


a necessidade de se criar mecanismos mais
O avanço da tecnologia e o crescimen- eficientes de gestão.
to da oferta de Equipamentos Médico- Vários países executam ações visando à
Hospitalares (EMH) geraram um gestão eficiente dos parques tecnológicos ins-
impacto financeiro nos Estabelecimentos talados. As estratégias utilizadas incluem a
Assistenciais de Saúde (EAS), ao investir em elaboração de normas legais com vistas à regu-
métodos mais sofisticados e caros. lamentação do financiamento e manutenção
O Sistema Único de Saúde (SUS) é com- dos EMH, a criação de sistemas de informa-
posto por EAS de diferentes níveis de tizados de gestão, a formação de equipes téc-
complexidade. Instituições privadas com- nicas regionais (fixas e móveis), entre outras.
plementam os serviços do SUS e, inclusive, Esses fatores proporcionam a melhoria da
recebem investimentos, tendo preferência qualidade dos serviços oferecidos à população,
em relação às entidades filantrópicas e sem bem como a redução dos custos com novas
fins lucrativos, mediante contrato de direito aquisições e manutenções (GALVAN, 2004; GENTLES,
público ou convênio (BRASIL, 1998). O SUS, 2004; GUTIÉRREZ, 2004; SUMALGY, 2004).
portanto, também possui EMH instalados A gestão eficiente dos EMH é parte in-
na rede privada financiados com recursos tegrante dos cuidados ao paciente, sendo
públicos. importante componente para garantia da in-
O Ministério da Saúde (MS) utiliza a tegralidade, e está diretamente ligada à qua-
Portaria n.º 1.101/GM (Gabinete do Ministro), lidade dos serviços. Assim, os objetivos deste
de 12 de junho de 2002, como base para o di- estudo foram descrever a distribuição de
mensionamento da assistência ambulatorial equipamentos de diagnóstico por imagem,
e alocação de EMH (BRASIL, 2002). Segundo nas esferas federal, estadual, municipal e
Calil (2001), em 1985 não havia nenhum con- privada, e analisar os processos do MS en-
trole de equipamentos instalados no Brasil, volvidos na gestão do parque tecnológico
tanto em termos locais como nacionais. instalado no SUS.
Nesse contexto, a partir de 1990, o MS de-
senvolveu várias ações na área de EMH,
como a capacitação de recursos humanos — Metodologia
Programa Pró-Equipo (BRASIL, 1992) —; a divul-
gação de ferramentas de gestão — Sistema Realizou-se uma análise documental para
para Planejamento e Dimensionamento de identificar quais são os mecanismos de
Equipamentos Médico-Hospitalares (BRASIL, gestão utilizados pelo MS na gestão do
1991) — e aquisição de EMH para readequação parque instalado no SUS, bem como uma
da infraestrutura física e tecnológica do SUS análise quantitativa de dados disponíveis
— Projeto Reforço à Reorganização do SUS no Cadastro Nacional de Estabelecimentos
(ReforSUS). O ReforSUS ainda ofereceu uma de Saúde (CNES), de equipamentos de
capacitação a distância para os profissionais diagnóstico por imagem no âmbito público
de saúde da rede pública: Gerenciamento e privado, conforme apresentado a seguir.
da Manutenção de Equipamentos Médicos Foram pesquisados documentos oficiais
(Gema). do MS (Portarias, Resoluções, Manuais,
Entre 1999 e 2002, houve um aumento Guias, Oficinas etc.) relacionados aos temas
expressivo na capacidade instalada de EMH ‘Gestão e Equipamento Médico-Hospitalar’.
nos EAS públicos, variando de 31,3% (tomó- Os documentos selecionados tiveram os
grafo computadorizado) a 135,8% (aparelho seguintes dados inseridos em uma matriz:
de ultrassonografia) (IBGE, 2010). Tal aumento ano de publicação, tipo de documento e o

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conteúdo abordado. No total, foram selecio- e Equipamentos Médicos’, publicados no


nados 11 documentos sobre os temas ‘Gestão período de 2005 a 2013 pelo MS (quadro 1).

Quadro 1. Relação de documentos analisados sobre o tema ‘Gestão e Equipamentos Médico-Hospitalares’

Doc. nº Tipo e Data Referências


1 Portaria – ______. Ministério da Saúde. Portaria. Portaria MS nº 2.510, de 19 de dezembro de 2005 – Instituiu comissão
19/12/2005 interinstitucional para elaboração da Política de Gestão de Tecnologias em Saúde, sob coordenação da Secretaria de
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 19 dez. 2005. Disponível em: <
http://www.funasa.gov.br/site/wp-content/files_mf/Pm_2510_2005.pdf>. Acesso em: 15 abr. 2013.
2 Portaria - ______. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 2.481, de 2 de outubro de 2007 – Institui o Sistema de Apoio à Elaboração
02/10/2007 de Projetos de Investimentos em Saúde – SOMASUS. Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 2 out. 2007. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2007/prt2481_02_10_2007.html>. Acesso em: 15 abr. 2013.
3 Manual - ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e
2010 Tecnologia. Política Nacional de Gestão de Tecnologias em Saúde – PNGTS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010a.
4 Resolução ______. Resolução da Diretoria Colegiada nº 2, de 25 de janeiro de 2010 – Dispõe sobre o gerenciamento de tecnologias
25/01/2010 em saúde em estabelecimentos de saúde. Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 25 jan. 2010b. Disponível em: <http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2010/res0002_25_01_2010.html>. Acesso em: 16 abr. 2013.
5 Manual - ______. Ministério de Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento. Programação
2011 Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde. SOMASUS – Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos
em Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2011c. (Atendimento Ambulatorial e Atendimento Imediato, v.1). Disponível
em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programacao_arquitetonica_somasus_v1.pdf> Acesso em: 16 abr. 2015.
6 Portaria – ______. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 2.915, de 12 de dezembro de 2011 – Institui a Rede Brasileira de Avaliação de
12/12/2011 Tecnologias em Saúde (REBRATS). Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 12 dez. 2011a. Disponível em: <http://bvsms.saude.
gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2915_12_12_2011.html>. Acesso em: 15 abr. 2013.
7 Portaria – ______. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 263, de 18 de fevereiro de 2011 – Institui Grupo de Assessoramento Técnico
18/02/2011 em Gestão de Equipamentos dos Serviços de Hemoterapia e Hematologia Públicos, visando à elaboração de propostas
e pactuação de ações nas áreas de Gestão de Equipamentos nos Serviços De Hemoterapia e Hematologia Públicos.
Diário Oficial [da] União. Brasília, DF, 18 fev. 2011b. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt0263_18_02_2011.html>. Acesso em: 15 abr. 2013.
8 Manual – ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de atenção especializada. Guia para elaboração
2012 do Plano de gestão de equipamentos para serviços de Hematologia e Hemoterapia. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2012.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/elaboracao_plano_gestao_equipamentos_servicos_
hematologia_hemoterapia>. Acesso em: 10 abr. 2015.
9 Manual- Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Ciência e Tecnologia.
2013 Diretrizes metodológicas: elaboração de estudos para avaliação de equipamentos médicos assistenciais. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2013a. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_metodologicas_elaboracao_estudos.
pdf>. Acesso em: 18 abr. 2015.
10 Manual - ______. Ministério de Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento. Programação
2013 Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde. SOMASUS – Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos
em Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013b. (Programação Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde, v. 2).
11 Manual - ______. Ministério de Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento. Programação
2013 Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde. SOMASUS – Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos
em Saúde. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013c. (Programação Arquitetônica de Unidades Funcionais de Saúde, v. 3).
Fonte: Elaboração própria

No CNES, os gestores de saúde de institui- endereço eletrônico: http://www2.datasus.


ções públicas e privadas cadastram os equi- gov.br/DATASUS.
pamentos disponíveis na infraestrutura do Este estudo se limitou a analisar o grupo
SUS. A consulta ao CNES é disponibilizada no de EMH de diagnóstico por imagens,

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equipamentos com alto custo de aquisição, no âmbito do SUS (CPGT), o MS publicou o


infraestrutura e manutenção. Ressalta-se que manual da PNGTS. Entre os propósitos dessa
a processadora radiológica não é um equipa- política, estão: a aquisição e monitoramento
mento de diagnóstico, mas como foi inserido das tecnologias, o desenvolvimento de mapas
no grupo de Diagnóstico por Imagem (DIM) regionais dos recursos tecnológicos existentes
pelo MS, também foi considerado neste e o monitoramento das manutenções requeri-
estudo. No campo Recursos Físicos do CNES, das pela tecnologia para garantia de sua correta
selecionou-se o campo Equipamentos, e na utilização e segurança dos usuários, dos profis-
barra de opções ‘Brasil, UF e Municípios’. sionais e do meio ambiente. Houve, ainda, o in-
O sistema apresentou três opções: Linha, centivo para realizar cursos de pós-graduação
Coluna e Conteúdo. Selecionou-se no campo e educação permanente, voltados para áreas
Coluna a opção ‘Equipamentos’, no campo relacionadas à gestão de EMH, tais como
Linha ‘Esfera Administrativa’ e no campo Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS) e
Conteúdo ‘Disponíveis no SUS’. Foi realizada Gerenciamento de Unidades de Saúde. Outro
uma pesquisa com as opções anteriores para ponto observado foi a criação de mecanismos
cada ano, considerando o período de dezem- formais para articular os setores envolvidos no
bro de 2005 a dezembro de 2013. processo de gestão de tecnologias em saúde. O
monitoramento de tecnologias em saúde foi
definido nessa portaria como um
Resultados
processo sistemático e contínuo de acom-
Gestão do parque de EMH instalados panhamento do uso da tecnologia, visando à
no SUS obtenção de informações em tempo oportuno
para subsidiar a tomada de decisão, relativas
No Brasil, a Portaria n.º 2.510, de 19 de dezem- à substituição, ao abandono ou à ampliação
bro de 2005, criou uma Comissão para elaborar de cobertura. (BRASIL, 2010B).
a Política Nacional de Gestão de Tecnologias em
Saúde (PNGTS) no âmbito do SUS, sendo que A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
a sua coordenação foi exercida pelo Secretário (Anvisa) instituiu a Resolução da Diretoria
de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos, Colegiada (RDC) n.º 2, de 25 de janeiro de
do MS (BRASIL, 2005). De acordo com essa portaria, 2010, que “Dispõe sobre o gerenciamento de
tecnologias em saúde são: medicamentos, equi- tecnologias em saúde em estabelecimentos de
pamentos, procedimentos técnicos, sistemas saúde”. Ela teve como objetivo
organizacionais, informacionais, educacionais e
de suporte, programas e protocolos assistenciais estabelecer os critérios mínimos a serem segui-
por meio dos quais a atenção e os cuidados com dos pelos estabelecimentos de saúde para o ge-
a saúde são prestados à população. Em 2007, o renciamento de tecnologias em saúde utilizadas
MS formalizou, por meio da Portaria n.º 2.481, na prestação de serviços de saúde, de modo a
o Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos garantir a sua rastreabilidade, qualidade, eficá-
de Investimentos em Saúde (SomaSUS) (BRASIL, cia, efetividade e segurança. (BRASIL, 2010B).
2007). Essa ferramenta tem como objetivo auxi-
liar gestores e técnicos na elaboração de proje- Essa resolução se aplica aos “estabeleci-
tos de investimentos em infraestrutura na área mentos de saúde em âmbito hospitalar, am-
de saúde, entre eles equipamentos médicos. bulatorial e domiciliar e àqueles que prestam
Após cinco anos da publicação da Portaria serviços de apoio ao diagnóstico e terapia, intra
que institui a Comissão para Elaboração de ou extra-hospitalar” (BRASIL, 2010B), reconhecen-
Proposta de Política de Gestão de Tecnológica do como equipamentos de saúde:

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[...] o conjunto de aparelhos e máquinas, suas qualidade e excelência na conexão entre pes-
partes e acessórios utilizados por um estabe- quisa, política e gestão, por meio da elabora-
lecimento de saúde onde são desenvolvidas ção de estudos de avaliação de tecnologias
ações de diagnose, terapia e monitoramento, em saúde, nas fases de incorporação, monito-
bem como os equipamentos de apoio, os de ramento e exclusão de tecnologias no âmbito
infraestrutura, os gerais e os médico-assisten- do SUS. (BRASIL, 2011A).
ciais. (BRASIL, 2010B).
Ao analisar os documentos, verificou-
Considera-se o gerenciamento -se que a Coordenação-Geral de Sangue e
Hemoderivados (CGSH/MS) instituiu em
[...] desde o planejamento e entrada no esta- 2011 o Grupo de Assessoramento Técnico
belecimento de saúde até seu descarte, visan- em Gestão de Equipamentos dos Serviços de
do à proteção dos trabalhadores, a preserva- Hemoterapia e Hematologia (GAT). Foram
ção da saúde pública e do meio ambiente e a atribuídas as seguintes atividades ao GAT:
segurança do paciente. (BRASIL, 2010B). elaboração de propostas na área de gestão de
equipamentos nos Serviços de Hemoterapia
Dessa forma, os gestores são orientados a e Hematologia, assessoria para a CGSH/MS
elaborar um Plano de Gerenciamento (PG) no que se refere à gestão de equipamentos e
para as tecnologias abrangidas por esse re- estabelecimento de um modelo de gestão de
gulamento técnico. Caso esse serviço seja equipamentos. Essas atividades estavam res-
terceirizado, “não isenta o estabelecimento tritas aos EAS que compõem a Hemorrede
de saúde contratante da responsabilização (Rede de Hemoderivados) (BRASIL, 2011C).
perante a autoridade sanitária”. Com relação A análise do Doc. 7 revelou as diver-
à infraestrutura física para a realização das sas ações desenvolvidas pelo GAT, como
atividades de gerenciamento de tecnologias oficinas de capacitação na área de enge-
em saúde, a resolução orienta que esta deve nharia clínica e capacitação de profissio-
ser compatível com a RDC n.º 50, de 21 de nais da Hemorrede para a utilização do
fevereiro de 2002, da Anvisa (BRASIL, 2010B). software Sistema de Gerenciamento de
Em 2011, o MS publicou o primeiro Equipamentos para a Hemorrede Pública
manual do SomaSUS, dando continuidade Nacional (Hemosige). Além disso, foi criada
ao trabalho iniciado em 2007 com a publi- uma subárea de Gestão de Equipamentos
cação da Portaria n.º 2.481. No primeiro no organograma da Gestão Financeira e
volume da série, o tema desenvolvido foi Assessoria Técnica (GFAT), da CGSH,
‘Unidades de Atendimento Ambulatorial cuja missão é “assessorar tecnicamente a
e Atendimento Imediato’. Trata-se de um Rede de Hemocentros Públicos do País e
manual ilustrado contendo os ambientes dos a própria CGSH no desenvolvimento das
EAS, com seus respectivos equipamentos e ações inerentes à gestão de equipamentos”
mobiliários — exceto material de consumo. (BRASIL, 2011B). A GFAT ficou responsável por:
O objetivo dessa publicação é “fornecer in-
formações técnicas estratégicas para a ela- [...] nortear os investimentos realizados pelo MS
boração de projetos de investimentos, em em inovação tecnológica; aumentar a vida útil do
particular relativos à execução de obras e à parque de equipamentos; conhecer o estado de
aquisição de equipamentos médico-hospi- funcionamento dos equipamentos localmente;
talares” (BRASIL, 2013B, P. 7). Nesse mesmo ano, gerenciar os contratos de manutenção dos equi-
foi criada a Rede Brasileira de Avaliação de pamentos; avaliar a aquisição de novos equipa-
Tecnologias em Saúde (Rebrats) com a fina- mentos; orientar a qualificação de equipamen-
lidade de buscar por tos; e validar os processos. (BRASIL, 2011B).

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Dois volumes do SomaSUS foram publica- Operacional, Econômico e Inovação. A ava-


dos em 2013: o Volume 2 – Internação e Apoio liação é uma etapa importante na gestão de
ao Diagnóstico e à Terapia (Reabilitação); e o EMH, pois garante uma aquisição eficiente
Volume 3 – Apoio ao Diagnóstico e à Terapia com ganhos para o EAS e o usuário.
(Imagenologia) (BRASIL, 2013A, 2013B), ambos
também baseados na RCD n.º 50/2002.
Por fim, em 2013, o MS publicou o manual Equipamentos: rede pública
‘Diretrizes metodológicas: elaboração de x rede privada
estudos para avaliação de equipamentos
médicos assistenciais’, cujo objetivo é O CNES desenvolvido em 2000 é a ferramen-
ta do MS para disponibilizar informações
nortear a análise de técnicos e gestores inte- das atuais condições de infraestrutura de
ressados na avaliação de equipamentos mé- funcionamento dos EAS do SUS, inclusive de
dicos assistenciais (EMA), seja na inclusão, equipamentos. A coleta dos dados acerca dos
modificação ou exclusão dessas tecnologias EMH do grupo de (DIM) instalados na rede
nos diversos níveis de gestão do Sistema úni- pública nas três esferas (federal, estadual e
co de Saúde (SUS). (BRASIL, 2013A, P. 13). municipal) apresentou o total de 15.217 equi-
pamentos e 37.610 na rede privada. A tabela
O manual apresentou as práticas de 1 apresenta a quantidade de equipamentos
ATS para EMA, considerando seis domí- cadastrados no CNES, na rede pública e
nios: Clínico, Admissibilidade, Técnico, privada, no período de 2005 a 2006.

Tabela 1. Relação de equipamentos de diagnóstico por imagem e terapia da rede pública (municipal, estadual e federal) e privada, cadastrados no CNES
no período de 2005 a 2013

Tipo de equipamento 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Aparelho de Densitometria Óssea - PR* 924 1000 1068 1146 1263 1356 1438 1498 1590
Aparelho de Densitometria Óssea - PU** 35 40 41 61 67 77 80 85 99
Aparelho de Hemodinâmica - PR 245 266 284 313 343 365 375 396 398
Aparelho de Hemodinâmica público - PU 74 79 83 87 90 90 92 93 104
Aparelho de Raios X com Fluoroscopia - PR 651 658 671 689 706 708 681 683 688
Aparelho de Raios X com Fluoroscopia - PU 240 254 256 268 277 274 276 284 292
Aparelho de Raios X de 100 a 500 mA - PR 8062 8652 8888 9388 9862 10217 13041 10503 10762
Aparelho de Raios X de 100 a 500 mA - PU 4767 4962 5061 5384 5595 5873 6078 6356 6525
Gama Câmara PR 423 441 469 494 519 548 559 585 603
Gama Câmara PU 89 88 96 109 121 116 121 132 127
Mamógrafo com comando simples - PR 1667 1813 1934 2069 2242 2421 2479 2484 2594
Mamógrafo com comando simples - PU 99 100 108 127 137 144 142 145 150
Mamógrafo com estereotaxia - PR 401 435 459 495 538 576 589 580 596
Mamógrafo com estereotaxia - PU 89 93 90 104 111 125 129 127 121
Mamógrafo Digital - PR 0 0 0 0 0 0 0 19 37
Mamógrafo Digital - PU 0 0 0 0 0 0 0 30 50
Processadora para Mamógrafo - PR 0 0 0 0 0 0 133 518 594
Processadora para Mamógrafo - PU 0 0 0 0 0 0 38 180 205
Ressonância Magnética - PR 377 440 506 616 748 851 971 1107 1258

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Tabela 1. (cont.)

Ressonância Magnética - PU 29 35 43 50 58 65 78 80 99
Tomógrafo Computadorizado - PR 1197 1281 1365 1524 1690 1860 1940 2116 2311
Tomógrafo Computadorizado - PU 233 253 277 309 341 373 394 425 463
Ultrassom Diagnóstico - PR 12558 13347 13757 14454 15170 15772 15979 16164 16568
Ultrassom Diagnóstico - PU 3419 3747 4077 4511 4998 5442 5874 6234 6593
Total por ano 35579 37984 39533 42198 44876 47253 51487 50824 52827

Fonte: Elaboração própria


PR* = Rede privada; PU** = Rede pública

O gráfico 1 apresenta a quantidade total de no CNES pode não corresponder ao ano de


equipamentos de diagnóstico por imagem aquisição e instalação dos equipamentos,
instalados na rede pública e rede privada. uma vez que essa ação é realizada pelos
Ressalta-se que o ano de cadastramento gestores.

Gráfico 1. Equipamentos do grupo de diagnóstico por imagem da rede pública e privada, cadastrados no CNES no período de
2005 a 2013

Fonte: Elaboração própria

Discussão País, a maior preocupação está concentra-


da na compra de equipamentos, e, por uma
Apesar de vários programas para a aqui- questão cultural, a operação e manutenção
sição de EMH terem sido desenvolvidos são negligenciadas. Isso resulta na baixa
ao longo dos anos no Brasil, somente em qualidade da prestação de serviços, atrasos
2005 foi criada uma Comissão para elabo- na instalação e interrupções no funciona-
rar a PNGTS. Segundo Guimarães (2008), no mento dos equipamentos.

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O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde 357

A aquisição de EMH é responsabilida- de um quadro permanente de pessoal qua-


de dos estados e municípios, porém, o MS lificado para atender à necessidade na área
desenvolveu ferramentas para auxiliar de gestão de tecnologias em saúde” (BRASIL,
os gestores nessa atividade. A ferramenta 2010A, P. 22) De maneira geral, observa-se
SomaSUS assemelha-se ao Sisplan, implan- que a PNGTS considerou o tipo de tecno-
tado em 1994 pelo MS, porém, mais detalha- logia a ser inserida no SUS, por exemplo, a
do. Nos três volumes publicados, não foram substituição de uma tecnologia analógica
identificadas orientações sobre a gestão dos por uma digital. Portanto, não foram iden-
equipamentos ou mesmo espaço físico desti- tificadas ações voltadas para a gestão de
nado para esta finalidade — conforme Doc. 4. EMH instalados no âmbito do SUS, embora
Embora não seja o foco dos manuais, propõe- eles estejam incorporados no conceito de
-se a abordagem desses assuntos para que os tecnologia em saúde. A ferramenta CNES
gestores sejam estimulados a desenvolver também não foi citada nessa política.
essas atividades nos EAS. Orientações para o No Canadá, existem serviços regionais de
cadastramento dos EMH (pós-aquisição) no engenharia clínica, em que uma equipe com
CNES não foram abordadas em nenhum dos cerca de 63 profissionais coordena até seis
volumes analisados. Dessa forma, sugere-se hospitais (GENTLES, 2004). Essas equipes atuam
que tal orientação também seja inserida nos na gestão do parque instalado e desenvol-
manuais. vem atividades envolvendo a escolha das
Dependendo do porte do equipamento, tecnologias adequadas, logística, instalação,
há necessidade de construir ou readequar a capacitação de usuários, manutenção e baixa
infraestrutura física, os recursos humanos de patrimônio, entre outras. O Paraguai re-
especializados, tratamento de resíduos dife- formulou o seu sistema de saúde com base
renciado, manutenções periódicas, insumos em dois componentes: ATS e Gerenciamento
e substituição de peças de alto custo. Nesse de Tecnologia (GT). Hospitais e centros
aspecto, a Colômbia implementou em 1997 a de referência com o mínimo de 100 leitos
Lei da Manutenção (LM). De acordo com esta devem ter uma equipe de manutenção, ofi-
Lei, as instituições públicas devem reservar cinas de manutenção são distribuídas de
5% do seu orçamento para a manutenção da acordo com a demanda dos hospitais e ofi-
infraestrutura física e tecnológica. Essas ins- cinas móveis dão suporte aos hospitais loca-
tituições ainda devem apresentar de maneira lizados em áreas remotas ou rurais (GALVAN,
compulsória um Plano de Manutenção (PM) 2004). Considerando-se a extensão territorial
anual, evidenciando os custos com a aqui- do Brasil, essa alternativa pode contribuir
sição e manutenção de seus equipamentos para a melhoria da qualidade de unidades de
(GUTIÉRREZ, 2004). saúde de municípios do interior, principal-
O manual da PNGTS relatou que cabe mente nas regiões mais carentes.
ao MS apoiar os gestores na “implantação Acredita-se que a publicação do Doc. 4,
das tecnologias e no seu monitoramento e pela Anvisa, se deu pelo fato desse órgão
manutenção após a incorporação” (BRASIL, ser responsável pela autorização de funcio-
2010A, P. 23). Não ficou claro, contudo, se o MS namento dos EAS, controle e fiscalização
irá monitorar as falhas técnicas ou quebras sanitária de equipamentos. Essa resolução
dessas tecnologias (equipamentos) insta- orienta o gestor na definição e padronização
ladas nos EAS e como essas ações seriam de critérios para as etapas de gerenciamento
realizadas. Além disso, o MS reconhece a de tecnologias em saúde, inclusive, na elabo-
necessidade de capacitação dos gestores e ração de um Plano de Manutenção. Em com-
da estruturação do próprio MS nessa área paração com a Colômbia, que implementou a
quando relatou a necessidade de “formação LM e o PM compulsórios para suas unidades

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de saúde em 1997, o Brasil está defasado em realizada pelo fabricante e envolve contrato
13 anos (GUTIÉRREZ, 2004). Estudos detalhados de manutenção periódica do equipamento.
são necessários para analisar a viabilidade Esse é outro ponto que pode ser explorado
das instituições brasileiras em reservar parte em trabalhos futuros: quanto se gasta com
do seu orçamento para a manutenção da contratos desse tipo no SUS?
infraestrutura física e tecnológica, uma vez A Rebrats foi um ganho para o SUS, mas
que são conhecidas na literatura as deficiên- os trabalhos envolvendo a avaliação de EMH
cias no financiamento da saúde nacional. Por ainda são escassos. Suas atividades são dire-
outro lado, o descumprimento das disposi- cionadas para a avaliação e o monitoramento
ções contidas na resolução da Anvisa cons- de novas tecnologias a serem introduzidas
titui uma infração sanitária. Verificou-se que no SUS, principalmente medicamentos.
não há relatos sobre a percepção por parte Identificou-se nos documentos analisados
da Anvisa ou do MS para que esses estabele- que somente a CGSH realiza gestão de equi-
cimentos repassem dados do seu parque de pamentos, no âmbito do MS. Ao criar uma
equipamentos para um sistema de ‘gestão’ área para GE, a CSGH desenvolveu várias ati-
nacional ou mesmo para o CNES. Tal fato vidades junto aos gestores dos hemocentros
demonstra a desarticulação entre os órgãos (oficinas de treinamento, desenvolvimen-
e áreas internas do MS em relação às ações to de software de gestão de equipamentos,
referentes aos EMH instalados no SUS. entre outros). Tal medida, além de permitir
Exceto o CNES, não existem sistemas um controle detalhado da situação atual do
informatizados que avaliem a situação do parque instalado na Hemorrede, garante o
parque de equipamentos instalados no SUS. planejamento e a aplicação de políticas efe-
Moçambique era afetado pela falta da cultura tivas na área de hemoderivados. De acordo
de manutenção, de recursos escassos (físicos com Doc. 8, os gestores da Hemorrede foram
e materiais), falta de especialistas, proces- capacitados para gerir tecnologias e operar o
sos de doação e uso de tecnologias inapro- sistema informatizado Hemosige. Acredita-
priadas. Ante esse cenário, um Sistema de se que o tamanho do parque tecnológico da
Informação (SI) foi implantado para a ob- Hemorrede tenha favorecido o desenvolvi-
tenção de indicadores relacionados ao in- mento dessas atividades.
ventário e manutenção (exceto a preventiva) A publicação Doc. 9 relatou que está aten-
dos equipamentos instalados naquele país dendo a PNGTS e tem como finalidade in-
(SUMALGY, 2004). centivar o desenvolvimento de atividades de
Ao contrário do sistema canadense, em gestão de EMH no âmbito dos SUS. Nessa pu-
que a terceirização da gestão de EMH não blicação, o SomaSUS e a RDC n.º 2/2010 são
é comum (GENTLES, 2004), no Doc. 4 foram considerados. O documento ainda evidencia
citadas as condições para a adoção dessa as considerações a serem feitas na aquisição
medida. De acordo com o Art.7, a “terceiri- de EMH (infraestrutura, manutenção, recur-
zação do serviço pode ser realizada desde sos humanos etc.). Isso demonstra que o MS
que não haja nenhum impedimento legal, vem buscando desenvolver ferramentas para
devendo a terceirização obrigatoriamente auxiliar os gestores na área de EMH.
ser feita mediante contrato formal” (BRASIL, O quantitativo de EMH de DIM
2010B), mas, isso “não isenta o EAS contratan- neste estudo teve como objetivo co-
te da responsabilização perante a autoridade nhecer o tamanho do desafio a ser en-
sanitária” (BRASIL, 2010B). Nesse caso, o controle frentado pelos gestores no MS, pois,
deve ser mais rígido devido a conflitos de conforme relatado na PNGTS, é res-
interesse existentes nessa área. A manuten- ponsabilidade desse ministério desen-
ção de equipamentos de DIM geralmente é volver ações para o monitoramento das

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O desafio da gestão de equipamentos médico-hospitalares no Sistema Único de Saúde 359

tecnologias — entre elas, EMH — do SUS. Gutierrez (2009) analisou a oferta de TC


Os dados demonstraram que o País possui para o tratamento do Acidente Vascular
cerca de 15 mil equipamentos de DIM Cerebral Agudo (AVC) no Brasil. Os resulta-
instalados no SUS, sendo que estão sob dos apontaram uma forte presença da esfera
responsabilidade da instituição receptora privada com 87,4% dos tomógrafos existentes
(municipal, estadual ou federal). no País e 73,4% dos tomógrafos disponíveis
O SUS herdou uma estrutura física e ao SUS, além da alocação de equipamentos
tecnológica sucateada do antigo Instituto pouco equitativa e a concentração de TC nos
Nacional de Assistência Médica da municípios mais populosos e de melhor situ-
Previdência Social (Inamps). Segundo a Lei ação socioeconômica.
n.º 8.689, de 27 de julho de 1993, que extin- Em 2005, o Instituto Brasileiro de
guiu o Inamps, os bens imóveis e o acervo Geografia e Estatística (IBGE) realizou um
físico, documental e material integrantes estudo sobre o parque de equipamentos
do seu patrimônio deveriam ser inventaria- brasileiro. De acordo com a pesquisa, o País
dos e incorporados ao patrimônio da União tinha 39.254 equipamentos, um aumento de
dentro de 180 dias (BRASIL, 1993). Esses bens 20% com relação ao ano anterior (ANDREAZZI,
ficaram sob a responsabilidade do MS e po- 2009). Os equipamentos de Raios X apresenta-
deriam ser doados ou cedidos a municípios, vam 45% do total de equipamentos e aqueles
estados e Distrito Federal para utilização que apresentaram maior variação no período
em hospitais e postos de assistência à saúde, analisado foram: ressonância magnética
desde que especificados os destinatários e (93%); mamógrafo com comando simples
sua utilização. Nesse contexto, o MS im- (71%); ultrassom doppler colorido (58%); e
plantou vários programas para readequar a Raios X para Hemodinâmica (51%). Ainda
infraestrutura tecnológica do SUS, princi- se observou uma maior variação do quanti-
palmente na área de média e alta complexi- tativo da rede pública em relação à privada,
dade, como o ReforSUS (BRASIL, 1993). resultado do Projeto ReforSUS, que teve um
Toscas (2013) relatou que os equipamen- papel importante na alocação de EMH no
tos de maiores valores modais financia- SUS (BRASIL, 2010). Embora o MS tenha investi-
dos pelo MS são do grupo DIM, tais como: do na rede pública, a rede privada apresentou
Ressonância Magnética (RM), Tomógrafo um maior quantitativo nesse mesmo período
Computadorizado (TC), Arco Cirúrgico (gráfico 1). Além disso, a rede privada investe
(AC) e os Mamógrafos (Analógicos e em infraestrutura e recursos humanos para
Digitais) (MA). Esse mesmo estudo apontou gerir o seu patrimônio, uma vez que um
um aumento significativo do investimento equipamento sem funcionamento acarreta
do MS em EMH ao longo dos anos: 150% no prejuízos financeiros para a instituição.
período de 2010 a 2011 e 80% no período de Outro ponto relevante que deve ser revisto
2011 a 2012. pelo MS é a limitação do CNES. Esse banco
O mamógrafo digital é o equipamento de dados apresenta somente alguns equipa-
com maior quantitativo em relação à área mentos financiados pelo Fundo Nacional de
privada. Uma hipótese para tal fato foi a im- Saúde (FNS), de um total de aproximada-
plantação da Política Nacional de Redução mente 840 itens. O único grupo de equipa-
do Câncer de Mama (Decreto n.º 7.508, de 28 mentos completo é o DIM, com 17 tipos de
de junho 2011). Embora os equipamentos de equipamentos cadastrados, talvez devido ao
RM, TC e MA sejam aqueles mais solicitados alto custo do investimento (equipamento,
pelas instituições (TOSCAS, 2013), a quantidade infraestrutura física e recursos humanos).
instalada na rede pública ainda é muito infe- Recentemente, o equipamento tomógra-
rior à privada (gráfico 1). fo computadorizado com tecnologia de

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emissão de pósitrons (PET-CT) foi inserido EMH do SUS, exceto para as instituições da
no CNES, constando 18 equipamentos cadas- Hemorrede. As ações dos órgãos ligados ao
trados, estando 13 equipamentos disponíveis MS desenvolvem ações desarticuladas, por
ao SUS. Sabe-se que esse número é superior exemplo, a ferramenta CNES não foi citada
ao informado no CNES, mas, conforme rela- na maioria das publicações.
tado, essa informação depende do gestor. Embora haja um investimento crescen-
Segundo com Gomez (2004), no Equador, te para a adequação tecnológica dos SUS, a
as informações sobre inventários econô- falta de um sistema de gestão eficiente desse
mico e técnico dos equipamentos instala- patrimônio afeta o desenvolvimento das
dos eram insuficientes e os hospitais não políticas de saúde. Notícias na mídia sobre
tinham acesso à internet. O País redefiniu equipamentos não instalados devido à in-
as ações e implantou um modelo semelhan- fraestrutura inadequada são frequentes e
te ao utilizado pelo Canadá. Na Estônia, o afetam diretamente o acesso do paciente aos
inventário de equipamentos foi reorganiza- serviços do SUS.
do, padronizado e centralizado no sistema Medidas que reforcem a responsabilização
nacional de saúde, permitindo uma série dos gestores poderiam levar à maior preocu-
de mudanças regulatórias e legislativas (AID; pação com a necessidade de planejamento
GOLUBJATNIKOV, 2004). das ações e com o desperdício de recursos
públicos. O aperfeiçoamento dos processos
de alocação de recursos tecnológicos que
Conclusão considerem a importância da redução das
desigualdades geográficas e sociais é condi-
Conclui-se, com base na documentação ana- ção necessária para a obtenção da equidade
lisada, que o MS não dispõe de um sistema implícita na legislação brasileira, no que se
informatizado ou ferramenta para gerir os refere ao setor saúde. s

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