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DIREITO DE FAMÍLIA
BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
Entre os vários organismos sociais e jurídicos, o conceito, a compreensão e a extensão
de família são os que mais se modificaram no curso dos tempos. A sociedade cada vez
mais globalizada pelos meios de comunicação, possui uma modalidade conceitual de
família bastante distante das civilizações do passado.
No curso das primeiras civilizações de grande importância, tais como a assíria, hindu,
egípcia, grega e romana, o conceito de família era de uma entidade ampla e
hierarquizada, abrangendo por vezes até os serviçais; contemporaneamente, o âmbito de
família restringe-se quase que exclusivamente aos pais e filhos menores que vivem no
mesmo lar.
No estado primitivo das civilizações, existia a endogamia, isto é, as relações sexuais
ocorriam entre todos os membros do grupo familiar que integravam a tribo. Como
consequência disso, a mãe sempre era conhecida, mas se desconhecia o pai, o que
permite afirmar que a família teve no início, caráter matriarcal, já que a criança ficava
sempre ao lado da mãe, que a alimentava e educava. Caio Mário da Silva Pereira afirma,
no entanto, que tal sistema, que indica promiscuidade, não era homogêneo em todos os
povos.
Em etapa posterior, porém ainda na vida primitiva, devido as guerras, à carência de
mulheres, e até a uma inclinação natural, os homens passaram a procurar mulheres de
outras tribos, antes do que em seu próprio grupo. Segundo os historiadores, esse
fenômeno foi a primeira manifestação contra o incesto no meio social.
Nessa linha, no decorrer da história, o homem se inclina para as relações individuais, com
caráter de exclusividade, muito embora algumas civilizações mantivessem
concomitantemente situações de poligamia, como ocorre até o presente.
Atualmente a organização familiar é de inspiração monogâmica. A monogamia
desempenhou um papel de impulso social em benefício da prole, ensejando o exercício
do poder paterno. Até então, o fator econômico de produção, se restringia quase que
exclusivamente ao interior dos lares, nos quais existiam pequenas oficinas. Somente com
a Revolução Industrial se reverte tal situação, ensejando um novo modelo de família, que
com a industrialização, perde sua característica de unidade de produção, voltando-se
mais para o âmbito espiritual.
A partir daí, desenvolvem-se mais os valores espirituais, morais, afetivos e de assistência
recíproca entre seus membros. A procriação, no entanto, era a finalidade primordial do
casamento.
No Direito Romano, o poder do pater exercido sobre a mulher, os filhos e os escravos era
quase absoluto, servindo a família como essencial para a perpetuação do culto familiar.
No Direito Romano, assim como no grego, o afeto ou a procriação não eram fundamento
da família. A instituição fundava-se no poder paterno ou poder marital, derivando do culto
familiar, que era a religião doméstica e o culto dos antepassados. Por esse largo período
da Antiguidade, a família era um grupo de pessoas sob o mesmo lar, que invocava os
mesmos antepassados.
O culto aos antepassados não poderia desaparecer, sob pena de a família cair em
desgraça. Por essa razão, fazia-se necessária a presença de um descendente homem
que desse continuidade ao culto familiar. Daí a importância que passou a ter o instituto da
adoção no velho direito, como forma de perpetuar o culto, na impossibilidade de
existência de um filho consanguíneo. O celibato era considerado uma desgraça, pois
poderia colocar em risco a continuidade do culto. Além disso, o filho deveria ser fruto de
um casamento religioso. As uniões livres não possuíam o status de casamento.
O Cristianismo condenou as uniões livres, pondo em relevo a comunhão espiritual entre
os nubentes. Por muito tempo, inclusive na Idade Média, o casamento esteve longe de
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qualquer conotação afetiva. Era estimulado o casamento da viúva, sem filhos, com o
parente mais próximo de seu marido, e o filho dessa união era considerado filho do
falecido. O nascimento de filha não preenchia a necessidade, uma vez que ela não
poderia dar continuidade ao culto de seu pai, quando se casasse, pois passaria a
pertencer à família do marido. A ligação da família com a religião nunca desapareceu por
completo, sendo sempre considerada como a célula básica da Igreja.
A FAMÍLIA MODERNA
A família atual difere das formas antigas no que diz respeito as suas finalidades,
composição e papel de pais e mães.
Hoje em dia, a escola e outras instituições de educação, esportes e recreação preenchem
as atividades dos filhos que anteriormente eram de responsabilidade dos pais. Os ofícios
não mais são transmitidos de pais para filhos, dentro dos lares. A educação cabe ao
Estado ou a instituições privadas por ele supervisionadas. A religião não é mais
ministrada em casa, e a multiplicidade de credos não mais permite uma definição
homogênea. Igualmente a assistência a crianças, adolescentes, necessitados e idosos
tem sido assumida pelo Estado.
Com a Revolução Industrial, mudou radicalmente a família. O número de nascimentos
diminui muito nos países mais desenvolvidos, como consequência da participação
também da mulher no mercado de trabalho. No século XX, a transformação do papel da
mulher na sociedade afeta profundamente o âmbito familiar. Na maioria das legislações, a
mulher passa a ter os mesmos direitos que o homem, e com isso modifica-se
sensivelmente a convivência entre pais e filhos, sendo que estes passam mais tempo na
escola e em atividades fora do lar.
As melhores condições de vida e os avanços da medicina, permitem uma maior
longevidade, o que faz com que várias gerações passem a conviver, tais como pais, avós,
netos, bisnetos, o que poderá ocasionar problemas sociais e previdenciários não
enfrentados anteriormente.
Os conflitos ocasionados pela nova posição social do homem e da mulher, as pressões
econômicas, o tempo escasso em função do excesso de trabalho, a desatenção e o
desgaste das religiões convencionais trazem como consequência o aumento do número
de divórcios.
As uniões informais passam a ser regularmente aceitas pela sociedade e pela legislação,
sendo que a unidade familiar, sob o prisma social e jurídico, não tem mais como baluarte
exclusivo o matrimônio, estruturando-se a nova família independentemente das núpcias.
A ciência jurídica acompanhou legislativamente essas transformações sociais, que se
fizeram sentir mais acentuadamente em nosso país após a Segunda Guerra, na segunda
metade do século XX.
A partir da década de 70, em toda a civilização ocidental surgiu a família monoparental
conduzida por um só membro, o pai ou a mãe e respectivas proles. Novos casamentos
entre cônjuges separados, formam as novas famílias com uma simbiose de proles: “os
meus, os seus, os nossos”.
Quanto mais desenvolvida a sociedade, maior o controle de natalidade, agravando os
problemas sociais decorrentes do mesmo fenômeno – a retração populacional dificulta a
sustentação do Estado e da família nas nações desenvolvidas, em contrapartida com o
aumento da miséria nas nações pobres, que não têm uma política de controle de
natalidade bem desenvolvida.
Casais homossexuais vão aos poucos conseguindo reconhecimento judicial e legislativo.
Em pouco tempo, os paradigmas do direito de família são drasticamente modificados: a
indissolubilidade do vínculo do casamento e a ausência de proteção jurídica aos filhos
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naturais, pertencem definitivamente ao passado em nosso ordenamento jurídico.
Atualmente, o jurista defronta as surpresas e desafios de um novo Direito de Família.
Por outro lado, a par desses novos conceitos, com premissas absolutamente diversas
daquelas trazidas pelo Código Civil de 1916, o desenvolvimento tecnológico demonstra
hoje ser possível a certeza da paternidade, a fecundação artificial, a clonagem de seres
humanos etc, superando as mais imaginosas ficções científicas de um passado bem
próximo.
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O CC atual, distingue o concubinato da união estável. A união estável
representa o concubinato puro, no qual os companheiros são equiparados aos cônjuges.
Já o concubinato impuro, é aquele em que o relacionamento entre o homem e a mulher
ocorre enquanto um deles, ou ambos, mantém casamento com outra pessoa. Nesse
caso, o(a) concubino(a) corresponderia ao amante.
As relações de parentesco são regidas pelo direito parental, que contém
normas sobre filiação, adoção, poder familiar e alimentos. Rege, portanto, tanto relações
interpessoais quanto econômicas, como por exemplo, dever de sustento dos pais, poder
familiar quanto à pessoa e aos bens dos filhos, obrigação de prestar alimentos, etc.
Os institutos do direito protetivo são disciplinados pelas normas do direito
assistencial concernentes às relações que substituem os familiares, ou seja, a guarda, a
tutela e a curatela. Aí se enquadram também as normas específicas de proteção ao
menor (Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente)
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NATUREZA DO DIREITO DE FAMÍLIA - É direito extra – patrimonial ou personalíssimo
(irrenunciável, intransmissível, não admitindo condição ou termo, ou exercício por meio de
procuradores). Suas normas são cogentes ou de ordem pública. Suas instituições
jurídicas são direitos – deveres. É ramo do Direito privado, apesar de sofrer intervenção
estatal, devido à importância social da família.
CASAMENTO
O Código Civil dedica ao casamento nove capítulos ( arts 1.511 a 1.570)
do Livro IV, que é o livro dedicado ao Direito de família.
O casamento é o negócio jurídico mais solene que se conhece, sendo a
mais importante e poderosa de todas as instituições de direito privado, por ser uma das
bases da família, que por sua vez é peça chave do sistema social, constituindo o pilar do
esquema moral, social e cultural do país.
“O casamento é o vínculo jurídico entre o homem e a mulher, que visa o
auxílio mútuo material e espiritual, de modo que haja uma integração fisio-psíquica e a
constituição de uma família.” Tal definição, de Maria Helena Diniz, foi baseada em
Orlando Gomes, Caio Mário, e outros autores consagrados.
Para Sílvio Rodrigues, “casamento é o contrato de Direito de Família,
que tem por fim promover a união do homem e da mulher de conformidade com a lei, a
fim de regularem suas relações sexuais, cuidar da prole comum e se prestarem mútua
assistência.”
No entanto, nos parece mais adequado o conceito de M. H. Diniz,
através do qual se deduz que o casamento é a conjunção da matéria e do espírito de dois
seres de sexos diferentes (ou, atualmente, do mesmo sexo), para atingirem a plenitude do
desenvolvimento de sua personalidade através do companheirismo e do amor,
constituindo uma relação dinâmica e progressista na qual cada cônjuge reconhece e
pratica a necessidade da vida em comum para ajudar-se mutuamente, compartilhar o
mesmo destino e perpetuar a sua espécie.
Na letra do art. 1.511 do CC estão inseridos dois princípios: o princípio
da comunhão indivisa, que valoriza o aspecto moral da união sexual de dois seres, uma
vez que o matrimônio tem por objetivo criar uma comunhão plena de vida entre os
cônjuges que pretendem passar juntos os momentos alegres e tristes da existência e o
princípio da igualdade jurídica dos cônjuges, que estabelece que as decisões devem ser
tomadas de comum acordo entre marido e mulher, em razão da paridade de direitos e
deveres referentes a sociedade conjugal.
Art. 1512 – a cerimônia de celebração do casamento pela autoridade competente é feita
gratuitamente, porém (par. único) a habilitação matrimonial, o registro e a primeira
certidão só serão isentos de selos, emolumentos e custas para aqueles cuja pobreza for
comprovada.
Art. 1514 – o casamento estará constituído no instante em que o juiz declarar casados os
nubentes que, não sendo impedidos de se casar, declaram perante ele, livre, espontânea
e conscientemente sua vontade de estabelecer o vínculo conjugal.
FINALIDADES DO MATRIMÔNIO:
• instituição da família matrimonial – vem a ser a unidade originada pelo casamento
e pelas inter relações existentes entre marido e mulher e entre pais e filhos. O art. 1.513
do CC assegura o princípio da liberdade, que assegura à comunidade familiar a
constituição de uma comunhão de vida por meio do casamento, sem que haja qualquer
imposição ou restrição de pessoa jurídica, seja de direito público ou privado, nas
decisões do casal com relação ao planejamento familiar, intervindo o Estado apenas para
propiciar recursos educacionais e científicos ao livre exercício desse direito; na livre
aquisição e administração do patrimônio familiar e escolha pelo regime matrimonial mais
conveniente; na livre opção pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da
prole; e na livre conduta, respeitando-se a integridade físico-psíquica e moral dos
componentes da família.
• procriação dos filhos – é uma consequência lógica – natural, porém não essencial
do matrimônio. A falta de filhos não afeta o casamento e a lei permite o casamento de
pessoas que não têm condições de procriar. Por outro lado, a lei requer aptidão física dos
nubentes, pois só permite o casamento dos púberes (CC, arts. 1.517 e seguintes) e
admite sua anulação se um dos cônjuges for impotente para a prática do ato sexual.
OBS.: conforme dito acima, a capacidade para o casamento se dá a partir da menoridade
púbere, ou seja, a partir dos dezesseis anos, mediante autorização de ambos os pais ou
de seus representantes legais. Se restar provada a ausência de um dos genitores para
local incerto e não sabido, o genitor que estiver em companhia do filho poderá dar sozinho
o seu consentimento. Havendo divergência entre os pais a respeito do consentimento
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para o casamento, qualquer dos genitores poderá recorrer ao Judiciário para solucionar o
desacordo (CC, art. 1631, par. Único).
Art. 1518 - Até a data da celebração do casamento poderão os pais ou representantes
legais do menor (tutor ou curador), revogar a autorização invocando o legítimo interesse
do menor, devendo indicar o justo motivo para tal.
Art. 1519 – se o representante legal do incapaz vier a negar sem justa causa o
consentimento para seu casamento, há permissão legal para que tal denegação seja
suprida pelo magistrado, com recurso para instância superior. Tal suprimento consiste em
medida cautelar preparatória para o processo de habilitação matrimonial. A lei não declara
quais seriam as hipóteses em que se tem por injusta a não-autorização para casamento
de incapaz, competindo ao Juízo analisar caso a caso a relevância ou irrelevância dos
motivos invocados.
Art. 1520 – a lei considerará válido casamento contraído por menor que ainda não atingiu
a idade núbil, antecipando essa idade para coibir a desonra, permitindo, mediante
expedição de alvará judicial, o matrimônio, para evitar a imposição ou o cumprimento de
pena criminal ou se do relacionamento amoroso resultou gravidez para a mulher. Tal
casamento deverá ser livremente consentido por ambos os contraentes, não se fazendo
necessária a anuência do representante legal e, se já houve instauração de processo
criminal, extinguir-se-á a punibilidade.
• Legalização das relações sexuais entre os cônjuges – desejo sexual é inerente a
natureza humana e sua satisfação dentro do casamento apazigua a concupiscência,
trazendo afeições, prazer, planificação e interação entre marido e mulher (CC, art. 1.566,
II).
• Prestação de auxílio mútuo – de suma importância ao convívio entre os cônjuges,
significa o estabelecimento entre eles de ajuda mútua, comunhão de vida e interesses,
tanto nas horas boas como nas más (CC, art. 1.566, III).
• Estabelecimento de deveres patrimoniais ou não entre os cônjuges. Por exemplo, o
dever legal de caráter patrimonial que os cônjuges têm de contribuir na proporção dos
rendimentos de seu trabalho e de seus bens para a manutenção da família (CC, art.
1.568). Igualmente, o dever matrimonial de fidelidade recíproca, respeito e consideração
mútua (CC, art. 1.566, I e V).
• Educação da prole – não se pode apenas gerar filhos – tem-se o dever de criá-los
e educá-los para a vida, prestando-lhes assistência (CC, arts. 1.566, IV e 1.634 e ECA,
art. 22)
• Atribuição do nome ao cônjuge e aos filhos (CC, art. 1.565, § 1º).
CARACTERÍSTICAS DO CASAMENTO
a) liberdade na escolha do nubente: o matrimônio é ato pessoal, e se anteriormente
requeria apenas que a escolha recaísse em pessoas do sexo oposto, atualmente nem
isso. A interferência da família limita-se à orientação, salvo nos casos em que a legislação
exige o consentimento dos pais.
b) solenidade do ato nupcial: a norma jurídica o reveste de formalidades que
garantem a manifestação do consentimento dos nubentes, a sua publicidade e validade.
Precisa ser celebrado conforme a lei que o ampara e rege.
c) Legislação matrimonial: é de ordem pública, está acima das convenções dos
nubentes.
d) União permanente: as pessoas, quando se casam, não o fazem por tempo
determinado, mas por toda a vida. Caso venham a separar-se ou divorciar-se, cabe
somente à lei questionar a validade da ruptura do vínculo conjugal.
e) União exclusiva: a fidelidade conjugal é exigida por lei, sendo importante dever
conjugal, não podendo ser afastado em nenhuma hipótese (pacto ante – nupcial, por ex.),
pois isso seria contrário à lei e aos bons costumes.
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HABILITAÇÃO
CONCEITO: habilitação para o casamento é o processo que corre perante o oficial do
Registro Civil para demonstrar que os nubentes estão legalmente habilitados para o ato
nupcial.
No período preparatório do matrimônio temos o processo de habilitação (Lei 6.015/73,
arts. 67 a 69 – Lei de Registros Públicos). Para os atos da vida civil em geral, presume-se
a aptidão. O casamento é daqueles atos de direito privado para os quais os interessados
devem demonstrar uma aptidão específica, legitimação para contrair matrimônio. Nosso
Código Civil trata da matéria sob a epígrafe “Do processo de habilitação para o
casamento”, nos arts. 1.525 e seguintes.
Trata-se de um procedimento, pois devem ser apresentados vários documentos que
seguem um caminho em busca da habilitação para o ato. Esse procedimento preparatório
tem três fases distintas:
a) a habilitação, que se processa nas circunscrições do registro civil perante o oficial
do Registro Público e, após a fiscalização do Ministério Público, é homologada pelo juiz
(CC, art. 1526);
b) a publicidade nos órgãos locais;
c) a celebração.
O CC, no art. 1525 elenca em seu caput a forma como se deve proceder o requerimento
de habilitação, bem como os documentos que devem instruí-lo:
1. certidão de idade ou prova equivalente: a prova da idade é exigida aos nubentes, já
que o art. 1517 do CC admite apenas o casamento dos maiores de dezesseis anos, e o
art. 1641, II, impõe limitações legais ao regime de bens se qualquer dos contraentes for
maior de setenta anos;
2. memorial: exige-se também apresentação de um memorial contendo declaração do
estado civil, do domicílio e da residência atual dos noivos e seus pais, se forem
conhecidos, assinada pelos nubentes, em conjunto ou separadamente;
3. autorização de representante legal ou suprimento judicial desta: o processo de
habilitação de pessoas menores de dezoito anos deverá conter a prova de emancipação
ou a anuência de seus pais ou representante legal, ou ainda o suprimento judicial da
referida autorização;
4. declaração testemunhal atestando a inexistência de impedimento matrimonial:
exige-se a declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou estranhas, que atestem
conhecer os noivos, afirmando que entre eles inexiste qualquer impedimento matrimonial;
5. apresentação de certidão de óbito do cônjuge falecido, da sentença de invalidação
do casamento anterior ou do registro da sentença de divórcio, pois tratando-se de viuvez,
de casamento nulo ou de divórcio, será preciso que se apresente a comprovação desses
fatos, para evitar infração ao CC, art. 1521, VI, que proíbe o casamento de pessoas já
casadas.
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determinando ao oficial que expeça, de imediato, a certidão de habilitação matrimonial
prevista no art. 1.531 do CC.
O oficial do Registro Civil tem o dever legal de esclarecer os nubentes sobre os
impedimentos que podem invalidar o matrimônio, bem como sobre os vários regimes de
bens, arrolados nos arts. 1639 a 1688 do CC (CC, art. 1528). Quem apresentar oposição
de impedimento ou causa suspensiva, deverá fazê-lo em declaração escrita, devidamente
assinada pelo opoente, e instruída com as provas do fato alegado, ou a indicação do local
onde tais provas poderão ser obtidas (CC, art. 1529), sendo que aos nubentes deverá ser
dada ciência dos fatos, podendo os mesmos requerer prazo para fazer prova contrária e
promover as ações civis e criminais cabíveis contra o opoente de má-fé.
Cumpridas as formalidades dos arts. 1526 e 1527, se após 15 dias da publicação dos
editais não houver oposição de impedimentos matrimoniais, o oficial de registro deverá
passar uma certidão de habilitação declarando que os nubentes estão habilitados para se
casar dentro dos próximos noventa dias (CC, arts. 1531 e 1532). Tal certificado é a prova
documental da conclusão satisfatória do processo de habilitação. Se os nubentes não
convolarem núpcias dentro do prazo estipulado, terão de renovar o processo de
habilitação, com a publicação de novos editais e nova certidão, por se tratar de prazo de
caducidade.
CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO
FORMALIDADES ESSENCIAIS DA CERIMÔNIA NUPCIAL
CASAMENTO NUNCUPATIVO
O casamento nuncupativo ou in extremis é uma forma excepcional de celebração em que
o CC, art. 1540, possibilita que, quando um dos nubentes se encontrar em iminente risco
de vida, ante a urgência do caso, não se cumpram as formalidades dos arts. 1533 e
seguintes do CC, de modo que o oficial do registro, mediante despacho da autoridade
competente, desde que entregues os documentos exigidos no art. 1525, independente de
edital de proclamas, dará a certidão de habilitação. Chega-se até mesmo a dispensar a
autoridade competente, se impossível sua presença e a de seu substituto, caso em que
os nubentes figurarão como celebrantes, declarando que querem receber-se por marido e
mulher, perante seis testemunhas, que com eles não tenham parentesco em linha reta ou
na colateral em 2º grau (CC, art. 1540; Lei 6015/73, art. 76). Porém, esse casamento
requer habilitação a posteriori e homologação judicial (CC, art. 1541, I, II e III e §§ 1º, 2º,
3º, 4º e 5º) e não se confunde com o casamento em caso de moléstia grave (CC, art.
1539, §§ 1º e 2º).
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O Código Civil de 1916, em seu art. 183, relacionou 16 impedimentos
matrimoniais. Já o CC em vigor, modificou substancialmente a sistemática antiga,
classificando de forma diversa os impedimentos matrimoniais, embora mantida, em sua
maioria a essência das restrições e seus efeitos.
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O direito de oposição sofre restrições de ordem pessoal e formal, a fim de
evitar abusos, imputações caluniosas ou levianas, uma vez que há sanções para quem
exerce-la arbitrariamente. As limitações concernentes às pessoas variam de acordo com
os impedimentos que se opõe. Os impedimentos podem ser arguidos:
a) de ofício, pelo oficial do registro civil, pelo juiz, ou por quem presidir a celebração do
casamento (CC, art. 1522, par. único);
b) por qualquer pessoa que, até o momento da celebração do casamento, apresente
declaração escrita e assinada, instruída com as provas do fato que alegar (CC, arts. 1522
e 1529).
EFEITOS DA OPOSIÇÃO:
I) enquanto pendente, adiar o casamento, impossibilitando os nubentes de obter o
certificado de habilitação;
II) se improcedente a oposição, levanta-se a suspensão e o ato nupcial realiza-se;
III) se procedente, não se poderá realizar o casamento enquanto subsistir a razão
impeditiva.
Sanções ao oponente de má-fé – de acordo com o CC, art. 1530, este poderá sofrer
ações civis ou criminais, devendo reparar os danos patrimoniais ou morais que causou
com seu comportamento abusivo, doloso ou culposo (CC, art. 186).
CASAMENTO ANULÁVEL - IMPEDIMENTOS RELATIVOS
O CC atual dispõe os casos específicos de anulabilidade no art. 1550,
incisos I a VI. A sentença judicial que decretar a anulabilidade do matrimônio porá fim à
sociedade conjugal e ao vínculo matrimonial. O casamento anulável poderá ser
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confirmado, tacitamente, pelo decurso do tempo, se sua anulabilidade não for requerida
por pessoa interessada em sua anulação, no prazo previsto em lei, passando a ser válido.
Nos termos dos incisos do artigo supra citado, poderá ser anulado o casamento:
Inciso I - de quem não completou dezesseis anos, uma vez que a puberdade sempre foi
exigida como requisito para o casamento, com exceção dos casos apontados pelo CC,
arts. 1551 e 1520;
Inciso II - pelo menor de dezoito anos, em idade núbil, não autorizado pelos seus
representantes legais, e enquanto não obtiver o suprimento dessa anuência;
Inciso III - por vício de vontade – erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge e
coação (CC, arts. 1556 a 1558). Assim, será anulável o casamento de pessoa por
qualquer motivo coacta, por haver vício de consentimento que atinge a vontade livre,
decorrendo de ameaça grave, injusta e iminente (CC, arts. 151 e 152);
Inciso IV – de pessoa incapaz de consentir ou de manifestar, inequivocamente seu
consentimento, como ébrios, dependentes químicos, deficientes mentais com
discernimento reduzido etc;
Inciso V – realizado por meio de procuração sem que o mandatário ou o outro contraente
saiba da revogação do mandato, não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
Inciso VI – poderá ser anulado o casamento celebrado por autoridade de local estranho
àquele em que correu o processo de habilitação para o casamento; porém,
hodiernamente, nos termos do CC, art. 1554, entende-se que será válido o casamento
que for celebrado por autoridade incompetente em razão do local, desde que a mesma
exerça a função de juiz de casamentos. Assim, apenas será inexistente o casamento
realizado por outra autoridade que não for o juiz de casamentos, tendo em vista que tal
incompetência ocorre em razão da matéria.
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PUTATIVIDADE DO CASAMENTO NULO E ANULÁVEL
Casamento putativo é aquele que é maculado por uma das causas de anulabilidade ou
nulidade, mas que foi celebrado de boa-fé ao menos por um dos cônjuges. Todos os
efeitos jurídicos inerentes ao casamento incidem para o cônjuge de boa-fé e aos filhos
que sejam frutos da relação, ou seja, os efeitos pessoais e patrimoniais do matrimônio,
em relação aos consortes e a prole, retroagem até sua celebração, suprimindo o
impedimento, se um dos cônjuges ou ambos o contraíram de boa-fé, fazendo
desaparecer a causa de sua nulidade ou anulabilidade (CC, arts. 1561 e 1563).
PROVAS DO CASAMENTO
Dada a importância do casamento, é justificável o intuito do legislador em ser rigoroso na
sua prova. É grande a repercussão do casamento na órbita privada, dele sobrevindo
efeitos relevantes, tais como a legitimidade da prole, a condição de meeira da esposa, ou
de herdeiro legítimo do cônjuge, que será chamado à sucessão do cônjuge falecido, se
não houver descendentes ou ascendentes, ou em concorrência com estes, de acordo
com o regime de bens adotado pelo casal, a nulidade de enlaces posteriores ou o
estabelecimento do regime de bens entre os cônjuges.
A rigor, e como disposição de caráter geral, a lei só permite que o casamento seja
provado com a certidão do registro, feita ao tempo de sua celebração. Tal prova prevalece
até que se prove o contrário. Portanto, o melhor meio de evidenciar a celebração do
matrimônio é a apresentação da certidão de registro civil do casamento.
Desta forma, as provas do casamento se dividem em:-
I -Provas diretas que podem ser:
1- Específicas:
- do casamento celebrado no Brasil – certidão do registro civil do casamento (Código
Civil, art. 1543)
- do casamento realizado no exterior – Código Civil, art. 1544.
2- Supletórias: quando é impossível provar a existência do casamento por meio da
certidão do registro (por exemplo, quando houver distribuição ou perda dos livros do
registro por incêndio, guerra, revolução, ou mesmo quando houver falta de registro por ato
culposo do oficial). Segundo Silvio Rodrigues, deve haver dois momentos distintos:
inicialmente deve se justificar a falta ou perda do registro. A seguir, deve-se evidenciar o
ato nupcial por meio de outros documentos, tais como passaporte, certidão dos
proclamas, testemunhas do ato etc. (Código Civil, art. 1543, parágrafo único).
II - Prova indireta – posse do estado de casados (CC, art. 1545).
A posse do estado de casados é a situação em que se encontram pessoas de sexos
diferentes, que vivem notória e publicamente como marido e mulher.
Sendo assim, coabitam, apresentam-se juntos nas relações públicas e privadas, têm casa
e economia comuns, e são tidos como casados pela comunidade.
Tal situação exige três requisitos:
A- nomen – a mulher deve usar o nome do marido;
B- tractus – devem tratar-se ostensivamente como casados;
C- fama – a sociedade deve reconhecer sua condição de cônjuges.
Para Caio Mário da Silva Pereira, a rigor, a posse do estado de casado não
constitui propriamente uma prova do casamento, uma vez que matrimônio não se
presume.
Porém, excepcionalmente, a prova do estado de casado vale para
comprovar indiretamente casamento de pessoas falecidas, em benefício da prole, ou
ainda se, embora vivas, sofrem de doença mental, ou ainda se foram declarados
ausentes por sentença. Em qualquer dessas hipóteses, como não poderão dar
informações que comprovem necessariamente o local do casamento, ou averiguar o
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cartório onde foi realizado o ato nupcial, admitir-se-ão as provas por intermédio de
documentos diversos, especialmente se for para beneficiar a prole.
A única prova que poderá destruir a presunção favorável da existência do
casamento em favor da prole é a certidão de registro civil que comprova que um dos pais
já era casado com outra pessoa quando contraiu o matrimônio (Código Civil, art. 1545, 2.
parte).
Portanto, a prova do casamento dos genitores pela “posse do estado de
casados” tem por finalidade beneficiar os filhos comuns, sendo que para prevalecer a
presunção do art. 1545 do CC como prova do casamento, é necessário que ambos os
genitores sejam falecidos, doentes mentais ou declarados ausentes por decisão judicial;
que tenham vivido, até o momento do óbito de um deles, na posse do estado de casados;
que a prole prove ser comum e que não apresente certidão do Registro Civil provando o
casamento de um deles, em detrimento da alegada posse do estado de casados. Uma
vez comprovados esses elementos, passa-se a admitir o estado de fato como estado de
direito.
Art. 1547 CC – havendo dúvidas entre as provas pró e contra o casamento,
sendo estas conflitantes, deve-se inclinar pela sua existência. Trata-se da regra “ in dubio
pro matrimônio”.
Art. 1456 CC – havendo prova da celebração legal do casamento resultante
de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto com
relação aos cônjuges como com relação aos filhos, todos os efeitos civis do matrimônio os
quais passam a operar desde a data do casamento e não apenas a partir do registro. A
ação que pode proclamar a existência de matrimônio cujo registro desapareceu é ação
declaratória.
19
O pacto antenupcial, segundo Sílvio Rodrigues, é um contrato solene, realizado
antes do casamento, por meio do qual as partes dispõem sobre o regime de bens que
vigorará entre elas desde a data do matrimônio.
O pacto nupcial é firmado pelos nubentes, que são os interessados no regime de
bens e considerados aptos a estipulá-lo, desde que tenham habilitação matrimonial.
No caso de casamento por procuração, o mandatário se sujeitará ao estabelecido
pelo mandante e no caso do menor de idade, a eficácia do pacto se condicionará à
aprovação de seu representante legal, salvo nos casos de regime obrigatório de
separação de bens (Código Civil, art. 1654).
O art. 1653 do Código Civil prescreve que será nulo o pacto nupcial que não se fizer
por escritura pública (Código Civil, art. 108), sendo portanto, convenção solene. Para
valer contra terceiros, deverá ser assentado, após o casamento, em livro especial no
Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges, pois só assim terá publicidade e será do
conhecimento de terceiros.
O pacto caducará se o casamento não se realizar, se um dos nubentes vier a falecer
ou se casar com outra pessoa. A eficácia do pacto nupcial se condiciona a ocorrência das
núpcias.
Deve conter única e exclusivamente estipulações relativas às relações econômicas
dos cônjuges (Código Civil, art. 1655).
Por exemplo, serão nulas as cláusulas, e não o pacto, que:-
A- dispensem os consortes dos deveres de fidelidade, coabitação e mútua
assistência;
B- privem a mãe do poder familiar ou de assumir a direção da família, ficando
submissa ao marido;
C- alterem a ordem de vocação hereditária;
D- ajustem a comunhão de bens quando o casamento só podia realizar-se pelo
regime de separação;
E- estabeleçam que o marido pode vender imóveis sem o consentimento da esposa
(outorga uxória).
O pacto antenupcial, embora tenha conteúdo patrimonial, tem natureza institucional. Uma
vez realizado o matrimônio, os nubentes não mais podem alterá-lo, conservando-se até a
dissolução da sociedade conjugal, salvo se houver autorização judicial para sua alteração,
baseada em pedido motivado de ambos os cônjuges e mediante apuração da
procedência dos motivos invocados, ressalvando-se, porém, direito de terceiros (CC, art.
1639, § 2º).
Quando os noivos não escolhem o regime de bens, o Código Civil privilegia o regime de
comunhão parcial de bens, o que se denomina regime legal.
Antes da Lei 6.516/77 (Lei do Divórcio) o regime comumente adotado era o da comunhão
universal de bens. No art. 50, VII da referida Lei, tal regime foi substituído pelo da
comunhão dos aquestos, ou comunhão parcial, também acatado pelo novo Código Civil,
no art. 1640, que é um regime misto, formado em parte pelo da comunhão universal
(quanto ao futuro) e em parte pelo da separação (quanto ao passado), tendo por
característica a comunhão dos bens adquiridos na vigência do casamento.
3- PRINCÍPIO DA MUTABILIDADE DO REGIME ADOTADO (Código Civil, art. 1639,
§ 2º) em substituição a imutabilidade do regime matrimonial previsto no Código Civil de
1916, que previa que, uma vez adotado o regime de bens, não mais poderia ser
modificado (art. 230, Código Civil 1916).
Porém a lei admitia exceções através da jurisprudência, que permitia a comunicação
de bens adquiridos na constância do casamento, pelo esforço comum de ambos os
consortes, mesmo se casados pelo regime de separação de bens, pois não seria justo
que esse patrimônio, fruto do trabalho mútuo, só pertencesse a um dos cônjuges porque
este fizera a aquisição em seu nome.
20
O novo Código Civil, em seu art. 1639, § 2º, veio a admitir a alteração do regime
matrimonial adotado, mediante decisão judicial, a requerimento de ambos os consortes.
Os três princípios supra mencionados encontram-se presentes logo no início do
tópico do “Direito Patrimonial de Família” do CC de 2002, conforme se verifica da leitura
do art. 1.639 e §§. Nessa linha de raciocínio, é preciso ressaltar que a escolha do regime
patrimonial de bens opera-se por meio da celebração de um negócio jurídico especial e
solene, denominado pacto antenupcial.
O pacto nupcial é negócio jurídico solene, exigindo, pois, forma prescrita em lei,
condicionado ao casamento, por meio do qual as partes, segundo o princípio da
autonomia privada, escolhem o regime de bens que melhor lhes convenha. É possível até
que os nubentes utilizem regras de regimes diversos, de maneira a elaborar um pacto
patrimonial híbrido, ou misto. Embora pouco comum, tal situação é possível, exigindo
apenas maior cautela por parte do julgador, já que o regime de bens adotado interfere
diretamente no direito sucessório entre os cônjuges, quando concorrer com
descendentes.
O art. 1.653 do CC determina que o pacto antenupcial será considerado nulo se
não for feito por escritura pública, e ineficaz se não for seguido da celebração do
casamento.
Outra importante ressalva é a previsão constante no art. 1.655 do CC/02, segundo
a qual é nulo o pacto, ou cláusula dele, que contrarie expressa previsão legal.
REGIMES DE BENS NO DIREITO BRASILEIRO
Até o advento da Lei do Divórcio, (Lei 6.515/77), o regime supletivo era o da comunhão
universal de bens. A partir de tal lei, o regime subsidiário passou a ser o regime da
comunhão parcial de bens, o qual advém da falta, ineficácia ou nulidade de pacto
antenupcial, caso em que a lei intervém (Código Civil, art. 1640), fazendo prevalecer sua
vontade. Será, portanto, um efeito legal do matrimônio. No Brasil, observamos que a
grande maioria dos casais opta, ou permite que a lei escolha por eles, pelo regime da
comunhão parcial.
Há situações em que a lei impõe o regime da separação de bens, instituído nos termos
do art. 1.641 do CC, que traduz restrição à autonomia privada, não admitindo
interpretação extensiva, ampliativa ou analógica. Tal regime foi previsto para o casamento
e não para a união estável.
Tal imposição, em especial no caso do inciso II do referido artigo, a nosso sentir é
absurda e inconstitucional, instituída para evitar o “golpe do baú”, não convencendo
porém. Trata-se de ataque ao princípio da isonomia, constituindo uma espécie disfarçada
de interdição do idoso. Então com 70 anos uma pessoa pode ser Presidente da
República, mas não pode escolher livremente o regime de bens a adotar caso vá se
casar? Não se pode encontrar razão onde ela simplesmente não existe.
Da mesma forma é o caso do inciso III, que com o decorrer do tempo pode trazer ao
casal consequências danosas.
Para mitigar a aridez do artigo sob comento, e visando evitar o enriquecimento sem causa
por parte de qualquer dos cônjuges, o STF editou a Súmula 377, que dispõe: “No regime
de separação legal, comunicam-se os bens adquiridos na constância do casamento.” Tal
súmula busca evitar a impossibilidade de comunicabilidade dos bens amealhados pelo
esforço comum, sob pena de se permitir, ou até incentivar, o enriquecimento sem causa
de uma das partes
22
5- Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão:- devido ao seu
cunho nitidamente pessoal, não se comunicam.
6- Os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge:- o produto de trabalho dos
consortes e os bens com ele adquiridos não se comunicam, exceto no que
concerne aos imóveis, cuja alienação requer outorga marital ou uxória. Entretanto,
há divergência jurisprudencial a respeito, no sentido de que, os proventos não se
comunicam enquanto estiverem na posse exclusiva daquele que os recebe. A partir
do momento em que são utilizados para aquisição de bens para a manutenção do
casal e da prole, passam a se comunicar.
7- As pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes, por serem bens
personalíssimos, com o intuito de prover a subsistência de quem os recebe.
O novo Código Civil, no art. 1661 prescreve ainda “a incomunicabilidade de bens cuja
aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento”. Por exemplo, se alguém
solteiro vender a crédito um imóvel de sua propriedade, cujo valor só lhe é pago casado,
sob o regime da comunhão de aquestos, não se comunica ao outro pois o recebimento do
preço se prende a causa anterior às núpcias.
Pelo art. 1.660 do Código Civil, são comunicáveis (bens que entram na comunhão e
integram o patrimônio comum):-
Os bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso (troca, venda
etc.), ainda que só em nome de um dos cônjuges. Os bens móveis presumir-se-ão
adquiridos na vigência do matrimônio, salvo prova em contrário (art. 1.662, Código
Civil);
Os adquiridos por fato eventual (jogo, aposta, rifa, loteria etc.) com ou sem o
concurso de trabalho ou despesa anterior;
Os adquiridos por doação, herança ou legado, em favor de ambos os cônjuges;
As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge, desde que se presuma que
foram feitas com o produto de esforço comum.
Os frutos dos bens comuns ou particulares de cada cônjuge, percebidos na
constância do casamento, ou pendentes ao tempo de cessar a comunhão, por
serem ganhos posteriores ao casamento;
Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes de sua
exploração, salvo pacto antenupcial em contrário. Esse regime caracteriza-se pela
coexistência de três patrimônios:- o comum, o patrimônio pessoal do marido e o
patrimônio pessoal da mulher.
Com relação às dívidas, deve-se considerar a época em que foram contraídas e a sua
causa ou finalidade. Assim, cada consorte responde pelos próprios débitos, desde que
anteriores ao casamento (Código Civil, art. 1.663, §1º). Comunicam-se as dívidas quando
são contraídas por qualquer dos cônjuges para atender aos encargos da família (Código
Civil, art. 1.664).
A administração dos bens comuns cabe naturalmente a qualquer dos cônjuges (CC, art.
1.663, § 2º). O patrimônio particular de cada um, por este será administrado, podendo,
entretanto, estabelecer-se o contrário em pacto antenupcial (Código Civil, art.1.665).
Nesse caso, o cônjuge que administra o bem pertencente ao outro age como seu
representante, enquanto que o outro tem o domínio e a posse do que lhe pertence.
A dissolução desse regime dá-se pela morte de um dos cônjuges, separação judicial,
divórcio, nulidade ou anulação do casamento.
23
Instaura-se um estado de indivisão de bens, passando cada cônjuge a ter o direito à
metade ideal do patrimônio comum e das dívidas comuns. Define-se no art. 1.667 do CC.
CONCEITO:- É aquele em que todos os bens dos cônjuges, presentes ou futuros,
adquiridos antes ou depois do casamento, tornam-se comuns, constituindo uma só
massa, tendo cada cônjuge o direito à metade ideal do patrimônio comum, havendo
comunicação do ativo e do passivo, instaurando-se uma verdadeira sociedade.
Segundo Lafayette Rodrigues Pereira, os princípios que regem a comunhão universal de
bens são:-
Em regra, tudo o que entra para o acervo dos bens do casal fica subordinado à lei
da comunhão.
Torna-se comum tudo o que cada consorte adquire, no momento em que se opera
a aquisição.
Os cônjuges são meeiros em todos os bens do casal, embora um deles nada
trouxesse ou nada adquirisse na constância do matrimônio.
Esse regime admite, excepcionalmente a exclusão de alguns bens da comunhão total, por
terem caráter personalíssimo ou devido a sua própria natureza. Segundo o art. 1.668 do
CC, são excluídos da comunhão:-
1- Os bens doados ou herdados com a cláusula de incomunicabilidade e os
sub-rogados em seu lugar. Segundo Washington de Barros Monteiro,
embora omissa a lei, são também incomunicáveis:-
A- os bens doados com cláusula de reversão (CC, art. 547, ou seja, com
a morte do donatário, o bem doado retorna ao patrimônio do doador,
não se comunicando ao cônjuge.
B- Os bens doados, legados ou herdados com cláusula de
inalienabilidade, pois comunicação é alienação.
2- Os bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário,
antes de realizada a condição suspensiva, pois a propriedade do
fiduciário é resolúvel, contrariando o princípio da imutabilidade do regime
patrimonial. O direito do fideicomissário não se comunica enquanto não
se realizar a condição suspensiva, pois tem apenas um direito eventual,
só adquire o domínio se advier a condição (CC, art. 1.958).
3- As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas
com seus aprestos, ou reverterem em proveito comum. Pelos direitos
anteriores ao matrimônio, responde exclusivamente o devedor com seus
bens particulares ou com os bens que trouxe para a comunhão conjugal,
a não ser que tenham sido contraídos com os aprestos do casamento
(aquisição de móveis, enxoval ou festa) ou que reverteram em proveito
de ambos os consortes.
4- As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com
cláusula de incomunicabilidade, para proteger o donatário ainda que o
doador seja o outro consorte.
5- Os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão, devido ao
seu cunho nitidamente profissional.
6- Os proventos do trabalho pessoal de cada consorte.
7- As pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes, por
se tratarem de bens personalíssimos.
8- Os bens de herança necessária a que se impusera cláusula de
incomunicabilidade (art. 1.848, CC).
9- Os direitos patrimoniais do autor, excetuados os rendimentos resultantes
de sua exploração, salvo pacto antenupcial em contrário.
24
Na constância da sociedade conjugal, a propriedade e posse dos bens é comum, mas,
como a direção da sociedade conjugal é de ambos os consortes, compete-lhes a
administração desses bens.
Qualquer dos cônjuges poderá administrar o patrimônio comum, sendo que pelas dívidas
contraídas na gestão respondem os bens comuns e os particulares do cônjuge
administrador. Os bens do outro consorte apenas responderão se se provar que este
obteve algum lucro.
Para que se ceda, gratuitamente, o uso e gozo de bens comuns será imprescindível a
anuência de ambos os cônjuges.
A responsabilidade civil pelas obrigações ilícitas não poderá recair sobre bens comuns do
casal, salvo se o cônjuge que não cometeu a falta obteve lucro com o produto do ilícito
perpetrado pelo outro.
Não se pode onerar a meação do responsável, enquanto a sociedade conjugal não se
dissolver, por se tratar de meação indivisa e ideal.
A extinção da comunhão universal se dá com a dissolução da sociedade conjugal pela
morte de um dos cônjuges, pela sentença de nulidade ou anulação do casamento, pela
separação judicial e pelo divórcio.
A verificação de um desses fatos não põe fim, de imediato, ao estado de indivisão dos
bens, uma vez que a comunhão termina de direito, embora os bens permaneçam
indivisos até a partilha.
Quando há a morte de um dos consortes, o cônjuge sobrevivente, que continua na posse
dos bens, administra-os, até a partilha entre ele e os herdeiros do falecido.
Reparte-se o acervo em duas meações, ficando uma com o cônjuge sobrevivente e a
outra com os sucessores do de cujus; obviamente, os bens incomunicáveis não serão
partilhados.
Quando há declaração de nulidade do casamento, não se tem comunhão de bens, em
razão do fato de não se ter o casamento. O mesmo ocorre com o casamento anulável
mas se o mesmo for considerado putativo, por ser reconhecida judicialmente a boa-fé de
um ou ambos os consortes, aplicar-se-ão as normas concernentes à separação judicial,
partilhando-se os bens em duas meações.
Com a separação judicial ou divórcio, dissolve-se a comunhão a partir da data da
sentença de separação judicial ou divórcio direto, repartindo-se os bens em duas partes,
uma para cada consorte, não havendo perda de bens para o culpado e restabelecendo-se
a comunhão se porventura o casal se reconciliar.
Terminando o estado de indivisão, o consorte imite-se na posse dos bens que a
compõem, passando a ter uso, gozo e disposição. Extinta a comunhão e efetuada a
divisão do ativo e passivo, cessará a responsabilidade de cada um dos cônjuges para
com os credores do outro por dívidas que este houver contraído (Código Civil, art. 1.671).
DA INVALIDADE DO CASAMENTO
Por primeiro cumpre dizer que para que possa advir o divórcio, faz-se necessária a
existência do casamento válido. Afigura-se como pedido juridicamente impossível o
divórcio em face de um casamento inválido (nulo ou anulável). Ora, se existe defeito ou
impedimento, o vínculo matrimonial deverá ser dissolvido por meio do reconhecimento de
sua invalidade, o que deve ser buscado em Juízo.
[...]
Veja-se: a guarda dos filhos não mais pode ser negada ao culpado pelo divórcio,
pois o melhor interesse deles é que dita a escolha judicial; a partilha dos bens
independe de culpa de qualquer dos cônjuges; os alimentos devidos aos filhos não
são calculados em razão da culpa de seus pais e até mesmo o cônjuge culpado
tem direito a alimentos ‘indispensáveis à subsistência’; da mesma forma, a
dissolução da união estável, independe da culpa do companheiro.
Desta forma, a culpa permanece apenas em seu âmbito próprio, qual seja o das
hipóteses de anulabilidade do casamento, tais como os vícios de vontade a ele
aplicáveis, a saber, a coação, o erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge.
(vide art. 1.564 do CC)
DO DIVÓRCIO EXTRAJUDICIAL
Com a publicação da Lei 11.441 de 04/01/07, tornou-se possível a realização de
divórcio em cartório, mediante escritura pública da qual constarão as disposições
relativas à partilha dos bens comuns do casal, quando houver, e à pensão
alimentícia, desde que seja consensual, não haja filhos menores ou incapazes do
casal e desde que haja assistência de advogado comum ou advogados de cada
um deles, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.
29
EFEITOS DO DIVÓRCIO
Os principais efeitos pessoais em relação aos cônjuges são:
1) possibilita novo casamento aos que se divorciam observando-se o disposto
no CC, art. 1523, III e parágrafo único;
2) pôr termo aos deveres recíprocos do casamento: coabitação, fidelidade e
assistência, separando materialmente os consortes que, em consequência,
deixam de residir na mesma casa.
3) pôr fim ao regime matrimonial de bens, sendo que a partilha será feita
mediante proposta dos cônjuges, homologada pelo juiz (na separação ou
divórcio consensuais) ou por ele deliberada (quando litigiosos).
4) Substituir o dever de sustento pela obrigação alimentar (Lei nº 6515/77, arts.
19, 21, §§ 1º e 12º, 22, parágrafo único, 23, 29 e 30; CC, arts. 1702, 1700,
1699, 1707, 1708 e 1709).
5) Suprimir direito sucessório entre os consortes em concorrência ou na falta de
descendente ou ascendente (CC, arts. 1829, 1830 e 1838).
6) Impedir que ex-cônjuge empresário separado judicialmente ou divorciado
exija desde logo a parte que lhe couber na quota social, permitindo que
concorra à divisão periódica dos lucros, até que a sociedade se liquide (CC,
art. 1027);
7) não admite reconciliação entre os cônjuges divorciados, de modo que, se
quiserem restabelecer a união conjugal, só poderão fazê-lo mediante novo
casamento (Lei 6515/77, art. 33);
8) possibilita pedido de divórcio sem limitação numérica (Lei 7841/89, art. 3º,
que revogou art. 38 da Lei 6515/77).
A guarda é o principal atributo do poder familiar. No art. 1.566, o CC diz que são deveres
de ambos os cônjuges, o sustento, a guarda e a educação dos filhos, e o art. 1.634 diz
que compete aos pais quanto à pessoa dos filhos menores, tê-los em sua companhia e
sob a sua guarda. Isso significa que a guarda dos filhos menores deve ser exercida pelos
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pais em razão do poder familiar. Cabe primeiramente, compreender o instituto jurídico do
“poder familiar”, como premissa para a devida compreensão da matéria.
Podemos conceituar o poder familiar como o conjunto de direitos e obrigações
reconhecidos aos pais, em razão e nos limites da autoridade parental que exercem em
face dos seus filhos, enquanto menores e incapazes. Aqui não se trata da colocação em
família substituta prevista no ECA, mas sim, do instituto derivado da própria autoridade
parental exercida pelos pais.
Durante o casamento e a união estável, nos termos do art. 1.631 do CC, compete o poder
familiar aos pais. Na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com
exclusividade. Obviamente isto se estende a outras formas de arranjo familiar em que
haja filhos.
Segundo o princípio da isonomia, não há superioridade de nenhum dos pais para o
exercício do poder familiar, não importando também o estado civil de quem exerce a
autoridade parental. O CC cuidou de disciplinar o conteúdo dos poderes conferidos aos
pais para o exercício de sua autoridade, no seu art. 1.634.
Diversamente do que se entendia outrora, a culpa deixou de ser um elemento relevante
para que ocorra o divórcio e, via de consequência, também não é referência no âmbito da
fixação da guarda dos filhos. O único interesse nesse âmbito é buscar o interesse
existencial da criança ou adolescente, o que faz com que a guarda seja atribuída àquele
que melhores condições morais e psicológicas tiver para exercê-la.
A legislação civil atual estabelece que deve-se dar preferência à guarda compartilhada.
Porém, para que seja implementada tal espécie de guarda, faz-se necessário que os
genitores consigam manter um diálogo civilizado com relação a tudo que diz respeito a
seus filhos menores, ou ainda, que a criança já tenha atingido idade e compreensão
suficientes para que sirva como uma espécie de “intermediária” das opiniões entre um e
outro genitor. Porém, tal papel não é o ideal para ser exercido pelos filhos menores do
casal.
O art. 1.583 do CC diz em seu caput que a guarda será unilateral ou compartilhada. No §
1º traz as definições do que seria uma e outra. O § 2º fala a respeito das condições e
aptidão para o exercício da guarda dos filhos em seus incisos.
Cabe ressaltar que não se confunde o mau marido com o mau pai. Se, no decurso do
processo judicial de divórcio se discute a guarda dos filhos (o que é perfeitamente cabível
havendo cumulação de pedido da espécie), ficar comprovado que aquele que não foi
considerado um bom marido é o que apresenta melhores condições para o exercício da
guarda, é possível que a mesma lhe seja deferida. O § 5º do art. 1.583 diz respeito ao
poder/dever de o genitor que não detém a guarda dos filhos, supervisionar-lhes os
interesses, sendo parte legítima para postular em juízo informações ou prestações de
contas com relação a assuntos que lhes afetem direta ou indiretamente a saúde física e
psicológica bem como sua educação.
A guarda estabelecida não opera trânsito em julgado, podendo ser revista a qualquer
tempo caso se faça necessário. Novo casamento ou união estável do genitor que detenha
a guarda não implica em perda da mesma (CC, art. 1.588).
O art. 1.589 do CC diz respeito ao direito de visitas aos filhos, que será exercido pelo
genitor que não lhes detenha a guarda. Tal direito deve ser entendido como um direito do
menor de conviver com o genitor com quem não habita e, os termos do parágrafo único
desse artigo, dispõem sobre a extensão do direito de visitas aos avós. O regime de visitas
é entendido como a forma pela qual os cônjuges ajustarão a permanência dos filhos em
companhia daquele que não ficar com sua guarda, compreendendo encontros
regularmente estabelecidos, repartição de férias escolares e dias festivos. O regime de
visitas será estipulado pelo juiz, com a supervisão do representante do Ministério Público,
tanto no divórcio consensual, atendendo ao que requerem os pais, como no divórcio
litigioso. É direito recíproco de pais e filhos a convivência, independente da ruptura da
31
união dos pais. Abrange o direito de visitas assim entendido como o direito de
desfrutarem a companhia um do outro, bem como o direito do genitor que não detém a
guarda de fiscalizar sua manutenção e educação, como previsto no artigo supra. Há que
se ressaltar que o direito de visitas, entendido como direito à companhia, é relação de
reciprocidade, não podendo ser imposto quando o filho não o deseja ou o repele. É
possível ainda, diante da negativa do direito de visita pelo genitor não guardião, embora
não se possa obriga-lo a tanto, dar ensejo a ação indenizatória por danos materiais e/ou
morais.
O instituto da guarda dos filhos menores estende-se aos maiores incapazes (CC, art.
1.590).
32
A importância das relações de parentesco é grande em termos de vida prática,
operando efeitos jurídicos de ordem pessoal e econômica, que estabelecem direitos e
deveres recíprocos entre os parentes, tais como: obrigação alimentar, direito de promover
interdição e de receber herança, com exceção do parentesco por afinidade etc.
Há ainda, algumas proibições decorrentes da existência de parentesco. Por exemplo,
não podem casar entre si os parentes da linha reta e em certo grau os colaterais; não
podem os parentes testemunhar pró ou contra outro parente (CPC, art. 447, § 2º, I), nem
mesmo um juiz pode julgar a ação em que parente seu é parte (CPC, art. 144, IV e VIII);
no direito eleitoral, o parentesco pode gerar algumas inelegibilidades (CF, art. 14, § 7º).
FILIAÇÃO
Um dos temas do Direito de Família que mais sofreu influência dos valores consagrados
na Constituição Federal de 1988, foi, sem dúvidas, o da filiação. Filiação é o vínculo
existente entre pais e filhos; é a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de
primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhes deram a vida. Antes da CF/88, o
ordenamento jurídico brasileiro consagrava diferentes tratamentos entre os filhos
(legítimos e ilegítimos). Tal diferença não se aceita atualmente.
Um dos mais importantes princípios da Constituição Federal de 1988 é o da igualdade,
que ganha especiais contornos na seara das relações familiares. Nesse assunto, a
premissa básica é o princípio da igualdade entre os filhos, previsto no art. 226, § 6º, da
CF/88: [...] § 6º - “os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.”
A ligação entre pais e filhos não provém necessariamente de união sexual, pois pode
provir de inseminação artificial homóloga (CC, art. 1597, III), que é a inseminação
realizada com o esperma do marido, esteja ele vivo ou não, pois o mesmo pode ter sido
depositado em banco de sêmen, ou heteróloga (adultério casto), desde que tenha havido
autorização do marido (CC, art. 1597, IV); pode provir ainda, de fertilização in vitro ou de
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proveta (quando o óvulo da mãe é extraído do ovário e fecundado em tubo de ensaio com
o esperma do pai, e colocado novamente no útero posteriormente).
Inúmeras indagações de ordem moral e jurídica são suscitadas com relação a questões
que envolvem o biodireito. Nos Estados Unidos, Ucrânia, Grécia e Rússia, por exemplo, o
embrião fertilizado in vitro, decorrente de fertilização do óvulo da esposa pelo sêmen do
marido, pode ser transferido através de uma cânula para o útero de outra mulher,
configurando a chamada “barriga de aluguel” ou “mãe de aluguel”, que faz isso mediante
pagamento. Daí surgem inúmeros conflitos, tais como: quem seria a mãe: a que cedeu o
útero ou a que forneceu o óvulo? A CF/88, repudia o aluguel do ventre (CF, art.199, §4º).
O termo "barriga de aluguel", apesar de ser usual, é um termo inadequado, pois implica
relação comercial que não é permitida no Brasil. O termo técnico correto é "Gestação de
Substituição" ou "Cessão Temporária de Útero". Utiliza-se ainda o termo "Barriga
Solidária", que é mais adequado ao ato de desprendimento e de amor que essas
mulheres têm ao se voluntariar para ajudar outras pessoas. A “barriga solidária” é
permitida no Brasil, sendo legalizada e podendo ser feita seguindo certas normas legais e
de ética médica. Na verdade não há uma lei sobre o tema, em vigor no Brasil. O que há
são resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM) e um provimento do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ). Os dois instrumentos infralegais tratam da chamada gravidez
por substituição, que pode ser popularmente chamada de barriga solidária.
Essa obrigatoriedade de que a doadora temporária do útero seja parente de até quarto
grau dialoga com a Lei 9.434/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e
partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento. Referida legislação diz em
seu artigo 9º que “é permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de
tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes
em cônjuges ou parentes consanguíneos até o quarto grau”.
No caso do procedimento de reprodução assistida que consiste no uso da barriga
solidária, os futuros pais fornecem o material genético necessário (espermatozoides e
óvulos), que serão fertilizados in vitro e, posteriormente, implantados no útero da mulher
que cederá temporariamente o útero para a gestação
O registro da(s) criança(s) sai no nome dos pais genéticos, ponto que já é entendimento
dos Tribunais Superiores no Brasil. No próprio cartório de registro civil a(s) criança(s) já
é(são) registrada(s) no nome dos pais genéticos. Não é necessária ação judicial para
obter a certidão de nascimento.
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina no. 2.168 de 2017, a
paciente que será barriga solidária deve pertencer à família de um dos parceiros em
parentesco consanguíneo até o quarto grau (mãe, filha, avó, irmã, tia, sobrinha ou prima).
Quando a pessoa não tem grau de parentesco até o quarto grau, uma autorização junto
ao Conselho Regional de Medicina deve ser obtida antes de realizar o tratamento.
Os casais homoafetivos podem ter filhos com a ajuda de uma barriga solidária. A
diferença é que, no caso de dois homens, será necessária também outra pessoa para
ajudar, uma doadora de óvulos, já que a barriga solidária não poderá doar os óvulos, mas
apenas ceder o útero para possibilitar a gravidez. A doação de óvulos deve ser anônima.
No caso de homoafetividade feminina, o procedimento chama-se ROPA: recepção de
óvulos da parceira. Uma das parceiras cede os óvulos (que serão fertilizados com um
banco de sêmen) e a outra o útero. Assim, tem-se crianças nascidas de duas mães e que
também podem ser registradas em cartório normalmente.
A barriga solidária precisa ter uma avaliação médica sobre suas condições de saúde
gerais e condições ginecológicas e obstétricas. É uma avaliação para saber se ela pode
engravidar sem riscos para si ou para a(s) criança(s) a ser gerada(s). Também são
necessários exames para doenças infecciosas de todos os participantes do processo,
para que não aconteça a contaminação inadvertida durante o tratamento.
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Pode haver riscos de arrependimento ou da barriga solidária não querer entregar a
criança após o parto, por isso é importante que antes da barriga solidária estar liberada
para o procedimento médico, ela passe por uma extensa avaliação psicológica. Devem
ser abordados todos os aspectos da gravidez, desde as mudanças que o corpo sofre, de
que a criança ao nascer vai ter outros pais, que não haverá amamentação, até o preparo
para quebrar o vínculo que se estabeleceu durante a gravidez. Imediatamente após o
parto a criança já deve ficar em um ambiente separado da barriga solidária, ambiente este
que tem a presença dos pais genéticos. Dessa forma, não há risco de a criança não ser
entregue. Não é um ato de crueldade, pois tudo isso foi preparado e combinado de
antemão entre as partes. É até mesmo uma forma de facilitar as questões psicológicas e
de devolver à barriga solidária sua vida normal.
Para dar segurança jurídica a um procedimento que não está claramente previsto na lei, o
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), tratou do assunto no Provimento 52, editado em 14
de março de 2016, sob a gestão da então corregedora, ministra Nancy Andrighi. O ato
administrativo dispõe sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva certidão
dos filhos nascidos por reprodução assistida no Brasil. No parágrafo 1º do artigo 1º, o
provimento trata dos documentos exigidos no caso de doação voluntária de gametas ou
de gestação por substituição e, no parágrafo 2º, aponta que não constará no registro o
nome da parturiente, informado apenas na declaração de nascido vivo.
É bom dizer que os termos assinados e as regras infralegais relativas ao tema deixam
claro que a mulher que cederá o útero para a implantação do material genético não vai ter
quaisquer direitos sobre o embrião, o nascituro e ou o bebê. Assim, não há que se falar
em qualquer direito de filiação ou mesmo direitos sobre guarda, visita, pensão alimentícia
ou direitos sucessórios (relacionado a heranças), por exemplo. De outro lado, o casal que
cedeu o material genético para a fertilização têm todos os direitos e deveres advindos do
Direito de Família e de Sucessões.
Conforme dito acima, pelo princípio da igualdade entre os filhos, atualmente não há mais
espaço para qualquer distinção entre família legítima e ilegítima, como existia na
legislação anterior. A filiação é um fato da vida. Ser filho de alguém independe de vínculo
conjugal válido, união estável, concubinato ou mesmo relacionamento amoroso
adulterino, devendo todos os filhos ser tratados da mesma forma, conforme se verifica no
art. 1.596 do CC.
O reconhecimento da igualdade da filiação se desdobra na importante noção de
veracidade da filiação, como regra principiológica fundamental. Tal princípio consiste na
ideia de que o ordenamento não deve criar óbices para se reconhecer a verdadeira
vinculação entre pais e filhos, como se verifica, por exemplo, na previsão do art. 1.601 do
CC. A ação para contestar a paternidade dos filhos é imprescritível.
A regra atual é no sentido de se permitir a discussão da paternidade ou da maternidade
de quem quer que seja, o que também importa no direito ao conhecimento da origem
genética, sem se descuidar da perspectiva da socioafetividade.
QUESTÃO DO RECONHECIMENTO DE FILHO
É o ato que declara a filiação, estabelecendo juridicamente o parentesco entre pai e mãe
e seu filho.
Sua natureza jurídica é de ato declaratório, pois apenas declara um fato do qual o direito
tira consequências, sem criar a paternidade. Tal ato, ao estabelecer a relação de
parentesco entre os progenitores e a prole, origina efeitos jurídicos, desde o instante do
reconhecimento válido, pelo qual proclama-se a filiação. Não há possibilidade jurídica de
dualidade de filiações na mesma pessoa. Só será permitido novo reconhecimento caso se
anule o primeiro por erro ou falsidade.
O ato declaratório de reconhecimento poderá emanar da livre manifestação de vontade
dos pais ou de um deles, afirmando, conforme a lei que certa pessoa é seu filho, hipótese
em que é voluntário, ou de sentença prolatada em ação de investigação de paternidade
36
ou de maternidade, demandada pelo filho, caso em que é forçado ou judicial. Voluntário
ou judicial, os efeitos jurídicos que produz são idênticos.
O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e
imprescritível, podendo ser exercido contra os pais ou seus herdeiros, sem quaisquer
limitações, observado o segredo de justiça (Lei nº 8.069/90, art. 27; e Lei nº 8.560/92).
37
O prazo do inciso I justifica-se pelo tempo natural de gestação após o estabelecimento
da sociedade conjugal, considerando-se que a noiva já poderia ter se casado grávida.
Com relação ao inciso II, os filhos nascidos dentro dos 300 dias subsequentes à
dissolução da sociedade conjugal, tal prazo se impõe porque a gestação humana não vai
além desse prazo. Portanto, o filho que nasceu 10 meses após tal dissolução é
considerado matrimonial, uma vez que pode ter sido concebido no último dia de vigência
do enlace matrimonial.
Quanto aos filhos havidos por fecundação artificial homóloga (inciso III), mesmo que
falecido o marido, tendo havido consentimento por parte deste, a lei garante um lar ao
filho concebido post mortem, possibilitando a sua integração familiar e social. O uso do
material fertilizante depende de autorização prévia do doador, uma vez que este tem
propriedade sobre seu corpo, bem como sobre partes destacadas do mesmo. (CC, art.
1597, III e IV). Para a inseminação artificial heteróloga (adultério casto), é preciso haver
prévia autorização do marido, uma vez que a paternidade forçada atinge a integridade
moral e a honra do marido. A presunção do art. 1.597, V do CC, visa instaurar a vontade
procriacional do marido, como um meio de impedi-lo de desconhecer a paternidade do
filho voluntariamente assumido ao autorizar a inseminação heteróloga de sua mulher. A
paternidade, então, apesar de não ter componente genético, terá fundamento moral,
privilegiando-se a relação socioafetiva. No caso de anuência por parte do marido na
inseminação artificial heteróloga da mulher, este será considerado o pai legal da criança
assim concebida, não podendo voltar atrás, salvo se provar que, na verdade, aquele bebê
adveio da infidelidade de sua mulher (CC, arts. 1600 e 1602). Para impugnar a filiação,
deverá provar que não anuiu naquela inseminação, sendo melhor então, que a anuência
do marido seja exigida por escrito.
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sangue fetal. É possível ser feito também depois da morte do envolvido, pois o DNA pode
ser reconstruído por amostras de sangue de parentes próximos, raiz de fio de cabelo, etc.
O suposto pai pode negar-se a fazer o teste, alegando atentado à sua privacidade,
imagem científica e intangibilidade corporal. Com sua recusa, o juiz basear-se-á em
presunção de paternidade, para evitar lesão ao direito da criança à identificação genética
e à filiação – quem não deve, não perderá a oportunidade de provar que não é o pai. O
juiz tem poder legítimo para determinar a realização de qualquer prova que entender
necessária à elucidação da verdade, desde que o faça com imparcialidade, resguardando
o princípio do contraditório. Saber a verdade sobre sua paternidade é um interesse
superior que nenhuma lei pode frustrar, principalmente sabendo-se que existem avanços
científicos capazes de determinar a real filiação.
Com exceção do DNA, todas as outras provas têm caráter subsidiário.
ADOÇÃO
É o ato jurídico solene pelo qual alguém estabelece, irrevogável e independentemente de
qualquer relação de parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação,
trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha. A
adoção é tratada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90).
A finalidade da adoção é dar filhos a quem não pode tê-los naturalmente, ou ainda,
melhorar a condição moral e material do adotado. O fato é que ser pai ou mãe não é
simplesmente gerar, procriar, mas efetivamente criar, cuidar, dedicar amor.
Temos então que a filiação adotiva, não apenas por sua previsão constitucional, mas por
questões afetivas e até morais, equipara-se de direito e de fato, à filiação biológica, não
havendo o mínimo espaço para o estabelecimento de regras discriminatórias.
Com relação à natureza jurídica da adoção, podemos adotar a classificação de Stolze e
Gagliano: “adoção é o ato jurídico em sentido estrito, de natureza complexa, excepcional,
irrevogável e personalíssimo, que firma a relação paterno ou materno-filial com o
adotando, em perspectiva constitucional isonômica em face da filiação biológica”.
Após o advento da Lei 12.010/09, a adoção passou a ser regulamentada pela lei especial
(ECA), inclusive com aplicação subsidiária na adoção de maiores. (CC, arts. 1.618 e
1.619)
Podem adotar os maiores de 18 anos, independentemente do estado civil, vedado o ato
em favor de quem seja ascendente ou irmão do adotante. (ECA, art. 42)
Nos casos de adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados
civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. A análise
do ambiente no qual a criança será criada é elemento essencial para que o juiz possa
deferir a adoção, visando a proteção integral da criança ou adolescente. Deve haver uma
diferença de idade entre adotante e adotado de pelo menos 16 anos (ECA, art. 42, § 3º)
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Há a possibilidade de adoção post morten ou adoção póstuma, aquela concedida após
inequívoca manifestação de vontade do adotante, mas concluída após seu óbito (ECA,
art. 42, § 6º). Existe ainda a possibilidade de adoção de nascituro, esta porém mais
complexa, tendo em vista a impossibilidade do estágio de convivência entre as partes
envolvidas. Quando o adotando for maior de 12 anos, é indispensável que seja ouvido
para manifestar seu consentimento.
Para a efetivação da adoção, é relevante o consentimento dos pais biológicos ou
representante legal do adotando, quando for possível, isto é, se forem conhecidos. (ECA,
art. 45)
EFEITOS JURÍDICOS DA ADOÇÃO – a adoção atribui ao adotado a condição de filho
para todos os efeitos de direito, pessoais e patrimoniais, inclusive sucessórios, em regime
de absoluta isonomia em face dos filhos biológicos, desligando-o dos seus pais naturais,
mantidas apenas as restrições decorrentes dos impedimentos matrimoniais. (ECA, art. 41
e §§)
O vínculo da adoção, portanto, constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no
registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão (ECA, art. 47), como
decorrência da garantia à intimidade e à vida privada. Tal sentença produz dois efeitos:
desconstituição do vínculo com a família biológica e constituição de novo vínculo parental
entre adotante e adotado.
Por fim, cabe dizer que a Lei 12.010/09 foi clara com relação ao direito de conhecer a
ascendência genética por parte do adotado. Diz o art. 48 do ECA:
Art. 48. “O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter
acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seu eventuais incidentes,
após completar 18 anos.
Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao
adotado menor de 18 anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
psicológica”.
Cabe dizer, contudo, que o reconhecimento de sua ascendência genética não reinsere o
adotado no âmbito parental anterior.
Conforme dito acima (fls. 26),o exercício do poder familiar compete aos pais em conjunto,
ou a um deles com exclusividade, na falta ou impedimento do outro, com relação aos
filhos menores.
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O exercício do poder familiar engloba um complexo de normas concernentes aos direitos
e deveres dos pais em relação à pessoa e aos bens dos filhos menores e não
emancipados. Vejamos.
Compete aos pais quanto à pessoa dos filhos menores (CC, art. 1.634, e Lei 8.069/90):
- dirigir-lhes a criação e a educação (CF, art. 229);
- tê-los em sua companhia e guarda;
- reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;
- conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casar;
- nomear-lhes tutor;
- representá-los até os 16 anos e assisti-los após essa idade, até atingirem 18 anos;
- exigir que lhes prestem obediência e respeito e serviços próprios de sua idade e
condição.
Quanto aos bens dos filhos menores:
- administração dos bens (CC, arts. 1.689, II, 1.691 e 1.692);
- usufruto sobre os bens dos filhos menores que se acham sob seu poder (CC, arts.
1.689,I, 1.391, 1.400, 1.848,1.897, 1.693 e 1.816 e parágrafo único).
ALIMENTOS
Conceito: Segundo Yussef Said Cahali, alimentos são prestações devidas, feitas para que
quem as recebe possa subsistir, ou seja, possa manter sua existência, realizar o direito à
vida, física, moral e intelectual. Destinam-se, pois, à satisfação das necessidades vitais de
quem não pode provê-las por si. Segundo Stolze e Gagliano, juridicamente alimentos
significam o conjunto de prestações necessárias para a vida digna do indivíduo.
Sua finalidade é fornecer a um parente, ex-cônjuge ou ex-convivente, aquilo que lhe é
necessário à manutenção, assegurando-lhe meios de subsistência, se ele, em razão de
menoridade, idade avançada, enfermidade ou incapacidade, estiver impossibilitado de
produzir recursos materiais com o próprio esforço.
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- é incessível, em relação ao credor, pois o crédito não pode ser cedido a outrem,
por ser inseparável da pessoa do credor;
- é irrenunciável (CC, art. 1.707);
- é imprescritível;
- é impenhorável (CC, art. 1.707);
- é incompensável (CC, art. 373, II);
- é intransacionável (CC, art. 841);
- é atual.
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BEM DE FAMÍLA OBRIGATÓRIO
O Bem de família obrigatório esta disciplinado na Lei 8009/1990 que dispõe em seu art.
1º: “O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e
nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a
construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.”
O professor Carlos Roberto Gonçalves, traz em suas lições o seguinte ensinamento sobre
o bem de família obrigatório: “[é] instituidor dessa modalidade o próprio Estado, que a
impõe por norma de ordem pública em defesa do núcleo familiar, independe de ato
constitutivo e, portanto, de registro no Registro de Imóveis.”
Aludindo a “entidade familiar”, a Súmula 364 do STJ faz interpretação extensiva da
proteção da moradia para atingir o imóvel onde reside pessoa solteira, separada ou viúva.
(Súmula 364: “O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.”)
Vale lembrar que a Súmula 205 do Superior Tribunal de Justiça reconhece a
aplicabilidade da Lei n. 8.009/90, “mesmo se a penhora for anterior à sua vigência”.
E ainda de acordo com Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald: “esse regime protetivo do
bem de família ganha contornos ainda mais nítidos com a regra constitucional da garantia
do domicílio como um direito social (CF, art. 6º), passando a decorrer da própria
afirmação do patrimônio mínimo da pessoa humana.”
O princípio da dignidade da pessoa humana é princípio fundamental da República
Federativa do Brasil e o bem de família legal existe em nosso ordenamento para
assegurar à pessoa um mínimo de direitos patrimoniais, para que viva com dignidade.
Em regra, a impenhorabilidade somente pode ser reconhecida se o imóvel for utilizado
para residência ou moradia permanente da entidade familiar, não sendo admitida a tese
do simples domicilio. No entanto o requisito "morar no imóvel" foi mitigado pelo STJ, com
a edição da súmula 486 que nos traz a seguinte redação: “Único imóvel residencial
alugado a terceiros é impenhorável, desde que a renda obtida com o aluguel seja para
subsistência do proprietário”.
A impenhorabilidade recai sobre os bens móveis que guarneçam a residência e sejam de
propriedade do locatário caso a pessoa não tenha imóvel próprio (art. 1º, parágrafo
único, da Lei 8.009/90).
Exceções à impenhorabilidade:
-Os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos estão excluídos da
impenhorabilidade. (art. 2º da Lei 8.009/90)
-O art. 3º da lei 8.009/90 fala que a impenhorabilidade é oponível em qualquer processo
de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza salvo se movido:
I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas
contribuições previdenciárias;
Esses créditos tem natureza de caráter alimentar, de primeira necessidade, pois
normalmente os empregados domésticos, vivem do seu trabalho e sustentam sua família
com o salário advindo dos serviços que prestam no âmbito da casa de família. No entanto
a exceção não abrangeria a empresa que terceiriza trabalhos domésticos, nem os
serviços prestados por empregados de condomínio de apartamentos.
II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;
A casa de moradia, edificada com base no empréstimo contraído de instituição bancária
para o fim de adquiri-la ou construí-la, não isenta o imóvel de penhora na execução.
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III - pelo credor de pensão alimentícia;
Esse inciso justifica-se, pois a satisfação da necessidade alimentar é mais importante que
a de moradia, ainda assim, não importa se os alimentos não forem destinados para
atender diretamente as necessidades primárias da vida, ocorrerá a exceção a
impenhorabilidade do imóvel se os alimentos forem direcionados à manutenção da
condição socioeconômica ou do status do alimentando.
IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em
função do imóvel familiar;
O patrimônio gravado com cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade servirá
também para pagar dívida tributária, conforme art. 184 do CTN:
Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens, que sejam previstos em
lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a totalidade dos bens e das rendas, de
qualquer origem ou natureza, do sujeito passivo, seu espólio ou sua massa falida,
inclusive os gravados por ônus real ou cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade,
seja qual for a data da constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os
bens e rendas que a lei declare absolutamente impenhoráveis.
- Dependendo do caso concreto, o bem de família servirá também para pagar a dívida
tributária. Se a dívida é decorrente de IPTU a pessoa corre o risco de perder seu bem de
família, mas se a dívida é de IRPF não, pois a dívida tem que ser relacionada ao imóvel.
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou
pela entidade familiar;
O caso em tela configura-se na situação em que o devedor, na constituição de um
contrato de mútuo oferecer como garantia real, o imóvel residencial da família.
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
O aludido inciso VI cuida exclusivamente da indenização decorrente da prática de ilícito
penal, exigindo expressamente “sentença penal condenatória”. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves: quanto à primeira parte do inciso VI, do artigo 3º, se o bem de família foi
adquirido com produto do crime, não resta dúvida que o mesmo responde em sua
totalidade, dada a origem criminosa dos valores despendidos em sua aquisição. Por outro
lado, se se tratar apenas de execução de sentença penal condenatória a ressarcimento
ou indenização devida por um dos membros da entidade familiar, por ela somente
responde a sua parte ideal, já que os demais não participaram da prática do ato delituoso.
O perdimento de bens, da mesma forma, somente atingirá a parte ideal do condenado
criminalmente.
VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.
Antes da Lei n. 8.009/90, o imóvel residencial do fiador estava isento de constrição
judicial. Todavia, o art. 82 da Lei do Inquilinato (Lei n. 8.245/91) acrescentou o inciso VII
ao art. 3º da Lei n. 8.009/90, objetivando viabilizar as locações em geral.
Ainda de acordo com o art. 4º da lei, não se beneficiará do disposto nela aquele que,
estando insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência
familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga. Neste caso, o juiz poderá, na
respectiva ação do credor, transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior,
ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução ou concurso, conforme a
hipótese. E ainda estabelece que quando a residência familiar constituir-se em imóvel
rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens
móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como
pequena propriedade rural.
- Sub-rogação do bem de família legal
De acordo com o art. 5º da Lei, o bem de família legal não admite sub-rogação – e
quando dois ou mais imóveis vierem também a servir de moradia para o proprietário ou
família deve ser considerado como bem de família sempre o imóvel de menor valor.
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Segundo o professor Carlos Roberto Gonçalves “em nenhuma hipótese se considera,
pois, impenhorável mais de uma residência, ainda que em cidades diferentes. A casa de
campo ou a de praia, ipso facto, excluem-se da inexecutibilidade.”
O bem de família, portanto, tem como características a inalienabilidade e
impenhorabilidade. Possui essas características com o intuito de resguardar a família, lhe
dando o seguro asilo, evitando a dissipação do bem. Porém é considerada relativa, tendo
em vista que pode ser a única fonte de sustento da família, podendo alugá-lo, por
exemplo, e consequentemente, obtendo daí o mínimo de dignidade. Sendo assim essas
características existem para preservar determinado bem de família para que não venha a
acontecer que uma família se veja numa situação de perder todos seus bens.
UNIÃO ESTÁVEL
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no Imposto sobre a Renda, dependência em plano de saúde, cartas, fotografias, recibos,
notas fiscais, testamento reconhecendo o companheirismo, etc.;
d) honorabilidade: a união entre os conviventes deve ser respeitável, baseada no
afeto;
e) fidelidade ou lealdade (CC, art.1724) entre os conviventes: não havendo fidelidade,
o relacionamento perderá o status da união estável. Porém, o dever de fidelidade visa
apenas valorizar esse tipo de união, pois se é rompido por qualquer dos conviventes, não
implica, em regra, em qualquer sanção. No entanto, a quebra da lealdade pode implicar
em injúria grave, acarretando a separação dos companheiros, gerando, em virtude da boa
fé de um deles, indenização por danos morais, e os efeitos jurídicos da sociedade de fato;
f) coabitação, uma vez que a união estável deve ter aparência de casamento. Sendo
notório que a vida dos conviventes se equipara à dos casados civilmente, a união estável
pode existir mesmo que não residam sob o mesmo teto (Súmula 382 do STF);
g) colaboração da mulher no sustento do lar, na função de administradora e
provedora, não como mera fonte de despesas.
O concubinato puro, ou união estável, foi reconhecido como entidade familiar, para
fins de proteção especial do Estado, pelo art. 226, §3º, da CF/88 (primeira parte), sem
equipara-lo ao casamento. Portanto, FAMÍLIA é o gênero, do qual entidade familiar é
espécie.
Em sentido estrito, família é aquela fundada no casamento civil e no religioso com
efeito civil, e a entidade familiar é a união estável e a comunidade formada por qualquer
dos pais e seus descendentes, independentemente da existência de vínculo conjugal que
a tenha originado.
Por fim, e de forma sucinta, o art. 1.726 do CC prevê a conversão da união estável em
casamento mediante pedido de ambos os conviventes perante o juiz e levado a assento
no Registro Civil. Ressalta ainda o art. 1.727 do CC, que as relações não eventuais entre
o homem e a mulher impedidos de casar constituem concubinato.
TUTELA
CONCEITO: Tutela é um complexo de direitos e obrigações, conferidos pela lei a um
terceiro, para que proteja a pessoa de um menor que não se acha sob o poder familiar, e
administre seus bens.
Há quatro espécies de tutela:
a) TESTAMENTÁRIA: é a que se institui em virtude de nomeação de tutor aos
menores através de ato de última vontade (testamento, codicilo ou outro documento
autêntico, como escritura pública, por exemplo), pelo pai ou pela mãe, desde que tenham
o poder familiar (CC, art. 1730), não podendo ser nomeado pelos avós, já que o poder
familiar compete exclusivamente aos pais;
b) LEGÍTIMA: é a que se dá na falta de tutela testamentária, ou seja, é deferida pela
lei aos parentes consanguíneos, ouvindo-se, se possível o menor, na ordem estabelecida
no artigo 1731, I e II do CC, qual seja: 1. Aos ascendentes, preferindo-se o grau mais
próximo ao mais remoto; 2. Aos irmãos (colaterais de 2º grau) ou aos tios (colaterais de 3º
grau), preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no mesmo grau, os mais velhos
aos mais moços. Essa ordem poderá ser alterada pelo magistrado no interesse do menor;
c) DATIVA: oriunda de decisão judicial, pois na falta de tutor testamentário ou
legítimo, ou quando estes forem excluídos, removidos ou escusados da tutela, o juiz do
lugar em que o menor vivia com os pais, ou do inventário, nomeia tutor ao menor, nos
termos do CC, art. 1732, I, II e III. A escolha recairá sobre pessoa estranha, idônea e que
resida no domicílio do menor;
d) IRREGULAR: é aquela na qual não há propriamente nomeação de tutor na forma
legal, de modo que o suposto tutor zela pelo menor e por seus bens como se estivesse
investido legitimamente do ofício tutelar. Todavia, essa tutela não gera efeitos jurídicos,
não passando de mera gestão de negócios, e como tal deve ser regida.
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Não poderão exercer a tutela e serão exonerados, se a exercerem, nos termos do artigo
acima e incisos:
a) os que não tiverem a livre administração de seus bens;
b) os que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em
obrigação para com o menor, ou tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles
cujos pais, filhos ou cônjuges tiverem demanda com o menor, devido a oposição de
interesses;
c) os inimigos do menor ou de seus pais, ou que tiverem sido excluídos por estes
expressamente da tutela, baseada essa proibição em razões de ordem moral;
d) os condenados por crime de furto, roubo, estelionato ou falsidade, contra a família
ou os costumes, tenham ou não cumprido pena, por serem pessoas sem idoneidade;
e) as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade e as culpadas de abuso
em tutorias anteriores, em razão de inidoneidade ou desonestidade;
f) os que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela,
como por exemplo a de juiz, escrivão, militar, embora tal proibição não seja absoluta.
CASOS DE ESCUSA DE TUTELA (CC, ARTS. 1736 e 1737; CPC, ARTS. 1192 e 1193)
Sendo a tutela um munus público, ninguém pode dela fugir, sendo evidente seu caráter
obrigatório, devido à impossibilidade de recusar a nomeação e de renunciar à função. No
entanto, tal obrigatoriedade não é absoluta, havendo casos taxativamente previstos em lei
que autorizam a escusa do ofício tutelar, permitindo ao tutor o direito de pedir dispensa.
São eles:
a) as mulheres casadas;
b) os maiores de sessenta anos;
c) os que tiverem em seu poder mais de três filhos;
d) os impossibilitados por enfermidade;
e) os que habitarem longe do lugar onde deve ser exercida a tutela;
f) os que já estiverem no exercício da tutela ou curatela;
g) os militares em serviço.
GARANTIA DA TUTELA
A lei, na intenção de assegurar a boa administração dos bens do menor sob tutela, com a
devolução destes ao término do ofício tutelar (CC, art. 1745, e CPC, art. 1188), requer
que os bens do menor sejam entregues ao tutor, mediante termo especificado deles e de
seus valores, mesmo tendo havido a dispensa dos pais, após o compromisso prestado, e
antes de assumir a tutela, para acautelar os haveres que serão confiados à sua
administração.
Tais garantias consistem em:
a) caução real ou fidejussória (CC, art. 1745 e parágrafo único; CPC, arts. 1190 e
1191);
b) responsabilidade subsidiária do juiz (CC, art. 1744);
c) responsabilidade pessoal e direta do magistrado (CC, art. 1744).
EXERCÍCIO DA TUTELA
Tutor é orgão ativo permanente, sob a fiscalização de um protutor, sendo seu poder uno,
indivisível e indelegável, salvo a exceção do art. 1743 do CC.
O exercício da tutela encontra-se sob controle ou vigilância judicial, que pode ser anterior
ou posterior à prática de atos de administração. O controle judicial será preventivo quando
o tutor não puder realizar atos sem autorização do magistrado (CC, arts. 1748, I a V,
1750 e 580).
Com relação a atos que o tutor poderá realizar sem vigilância judicial, os mesmos estão
elencados no CC, art. 1747, I a V (LER).
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Alguns atos são proibidos ao tutor, mesmo com autorização judicial, em virtude do
elencado no CC, art. 1749, I a III (LER). Com relação à administração dos bens do menor
pelo tutor, seus termos estão discriminados no CC, arts. 1745, 1751, 1753 e 1754, sendo
que os artigos 1752, 932, II e 933 elencam a responsabilidade do tutor. (LER)
Os atos de controle judicial posteriores à atividade do tutor consistem na aprovação de
sua prestação de contas, estando elencados no CC, arts. 1755, 1756, 1758 a 1762; CPC,
arts. 20 e 914 e segtes) (LER).
CESSAÇÃO DA TUTELA
Em relação ao tutelado ocorre se:
a) ele atingir a maioridade (CC, art. 1763, I), ao completar 18 anos de idade,
adquirindo, então, plena capacidade civil;
b) pela sua emancipação (CC, art. 1763, I);
c) se ele cair sob o poder familiar, em caso de reconhecimento ou adoção (CC, art.
1763, II);
d) se se alistar ou for sorteado para o serviço militar;
e) se falecer.
CURATELA
CONCEITO : é o encargo público, cometido, por lei, a alguém, para reger e defender a
pessoa e administrar os bens de maiores, que por si sós, não estão em condições de
fazê-lo, em razão de enfermidade ou deficiência mental.
Os pressupostos da curatela podem ser:
FÁTICO: é a incapacidade, estando sujeitos a ela os adultos que, por causas patológicas,
congênitas ou adquiridas, são incapazes de reger sua própria pessoa e de administrar
seu patrimônio (CC, art. 1767, I a V);
JURÍDICO: é uma decisão judicial, uma vez que não pode haver curatela senão deferida
pelo juiz, mediante processo de interdição.
ESPÉCIES DE CURATELA
a) CURATELA DE ADULTOS INCAPAZES (CC, art. 1767): curatela dos psicopatas,
alienados mentais e excepcionais; curatela dos toxicômanos; curatela dos ébrios
habituais; curatela dos que não podem exprimir sua vontade; curatela dos pródigos. Ao
decretar a interdição, o magistrado deverá determinar sua internação em estabelecimento
adequado, particular ou público, conforme sua condição social e econômica, se entender
ser inconveniente ou perigoso deixá-lo em casa ou se o tratamento médico o exigir. Como
a curatela tem por escopo proteger o incapaz, cessará, se ele recobrar sua integridade
mental, segundo o que se apurar em processo judicial de levantamento de interdição;
b) CURATELAS DESTACADAS DA DISCIPLINA LEGAL DO INSTITUTO DEVIDO A
SUAS PARTICULARIDADES:
b.1) curatela do nascituro (CC, arts. 2º, 1778 e 1779; arts. 877 e 878, parágrafo único),
visto que, embora a personalidade civil do homem comece com o nascimento com vida, a
lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Sendo assim, para
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resguardar esses direitos, a lei determina que se lhe nomeie curador, se a mulher grávida
enviuvar, sem condições de exercer o poder familiar, desde que o nascituro tenha que
receber herança, legado ou doação, sendo, portanto, titular de direito, apesar de
subordinado à condição suspensiva, ou seja, seu nascimento com vida.
b.2) curatela do ausente cujo escopo é salvaguardar bens de pessoa que desaparece de
seu domicílio sem deixar notícia e sem deixar representante ou procurador para
administrar seu patrimônio (CC, art. 22). Essa curatela extinguir-se-á após um ano de
ausência (CC, art. 1163), ao se converter em sucessão provisória, requerida pelos
interessados.
CURADORIAS ESPECIAIS
Distinguem-se pela sua finalidade específica, que é a administração dos bens e a defesa
dos interesses e não a regência de pessoas; uma vez exauridas, esgota,
automaticamente, a função do curador. Dentre elas, temos;
a) a instituída pelo testador para os bens deixados a herdeiro ou legatário menor (CC,
art. 1733, § 2º);
b) a que se dá à herança jacente (CC, art. 1819);
c) a que se dá ao filho, sempre que no exercício do poder familiar colidirem os
interesses do pai com os daquele (CC, art. 1692; Lei nº 8069/90, arts. 142, parágrafo
único, e 148, parágrafo único)
d) a dada ao incapaz que não tiver representante legal ou, se o tiver, seus interesses
conflitarem com os daqueles;
e) a conferida ao réu preso;
f) a que se dá ao revel citado por edital ou com hora certa, que se fizer revel (curador
da lide, CPC, art. 9º, I e II);
g) a instituída a requerimento do enfermo ou portador de deficiência física, ou de seus
pais, tutor, cônjuge, parente ou órgão do MP, para cuidar de todos ou de alguns de seus
negócios ou bens (CC, art. 1780).
INTERDIÇÃO: a curatela é sempre deferida pelo juiz em processo de interdição, que visa
apurar fatos justificadores da nomeação de curador, com observância dos seguintes
dispositivos legais: CC, arts. 1768 a 1773 e 1775; Lei 6015/73, arts. 29, V, e 104.
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