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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS


CAMPUS APARECIDA DE GOIÂNIA
CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

FABRÍCIA RIBEIRO DA SILVA


LIA RAQUEL PEREIRA COSTA PIMENTEL

AVALIAÇÃO DO POÇO DE INFILTRAÇÃO EXIGIDO PELO PLANO DIRETOR


DE APARECIDA DE GOIÂNIA EM UM LOTE RESIDENCIAL.

APARECIDA DE GOIÂNIA
2019
1
1

FABRÍCIA RIBEIRO DA SILVA


LIA RAQUEL PEREIRA COSTA PIMENTEL

AVALIAÇÃO DO POÇO DE INFILTRAÇÃO EXIGIDO PELO PLANO DIRETOR


DE APARECIDA DE GOIÂNIA EM UM LOTE RESIDENCIAL.

Trabalho de Conclusão de Curso, no formato de


artigo científico, apresentado ao curso de
Bacharelado em Engenharia Civil, do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás - Campus Aparecida de Goiânia/IFG, como
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel
em Engenharia Civil.

Orientador: Prof. Dr Arlam Carneiro Junior

APARECIDA DE GOIÂNIA
2019
AVALIAÇÃO DO POÇO DE INFILTRAÇÃO EXIGIDO PELO PLANO
DIRETOR DE APARECIDA DE GOIÂNIA EM UM LOTE
RESIDENCIAL

Fabrícia Ribeiro da Silva, Instituto Federal de Goiás - IFG


fabribeiroo@gmail.com
Lia Raquel Pereira Costa Pimentel, Instituto Federal de Goiás - IFG
lrpcp@hotmail.com
Arlam Carneiro Júnior, Instituto Federal de Goiás – IFG
arlamjr@gmail.com

RESUMO

O processo de expansão urbana causou a ampliação de áreas impermeáveis e consequentemente a


redução da capacidade de infiltração do solo, aumento do escoamento superficial, decréscimo da taxa de
recarga do lençol freático e alterações no ciclo hidrológico. O sistema de drenagem convencional está
sendo insuficiente em gerir as águas pluviais, provocando problemas como enchentes, inundações, erosões
e assoreamento do solo. Diante disto, estruturas de infiltração tem-se mostrado soluções para atuarem
juntamente com o sistema tradicional afim de compensar as áreas impermeáveis, pois realiza a retenção
nas proximidades de suas fontes, retarda o escoamento, contribui para recarga de aquíferos e aumenta o
tempo de concentração da bacia reduzindo as vazões máximas. Nesse contexto, o presente trabalha
buscou avaliar a exigência do atual Plano Diretor de Aparecida de Goiânia em relação à complementação
da taxa de permeabilidade com a execução de poços de infiltração. Através da definição de uma área
hipotética baseada em um lote residencial típico da cidade, foi possível dimensionar, analisar a eficiência de
um poço e obter informações relevantes a serem consideradas no projeto da estrutura de infiltração,
garantindo assim seu desempenho após a implantação.

Palavras-chave: Poço de infiltração. Drenagem urbana. Plano Diretor

1. INTRODUÇÃO

O crescimento populacional acelerado e os avanços da urbanização provocam impactos


ambientais que podem modificar profundamente as condições naturais de uma determinada
região. É possível observar as principais consequências desse processo nas características
hidrológicas locais, cujo efetivo mais evidente está no aumento do escoamento superficial devido
a diminuição da infiltração que é causada pela ocupação do solo. Além disso o desenvolvimento
urbano aumenta significativamente a ocorrência de inundações, a produção de sedimentos e a
deterioração da qualidade da água. (SILVA, 2007).
A ocorrência de grandes enchentes registradas nos últimos anos, as falhas dos sistemas
convencionais de drenagem urbana, evidenciam a necessidade de medidas alternativas que
possam atuar juntamente com o sistema tradicional, tentando restabelecer o equilíbrio ou
minimizar os impactos causados pela ocupação urbana. De acordo com Araujo (2010), as
estruturas de infiltração reduzem os impactos causados pelos tradicionais sistemas de drenagem,
que acumulam a contribuição de grandes bacias em córregos e vertentes. As mesmas compõem
o conjunto de dispositivos não convencionais e tem-se mostrado eficientes tanto no
gerenciamento das águas superficiais quanto na contribuição da recarga dos aquíferos pois, a
retenção é feita nas proximidades de suas fontes.
As medidas alternativas para controle de enchentes ainda são pouco empregadas, e quando
empregadas as estruturas são dimensionadas sem qualquer controle técnico. Araújo (2010) cita
que para o dimensionamento dessas estruturas é necessário a caracterização e conhecimento
das propriedades do solo pois, influenciam diretamente em seu desempenho.
Para elaboração do presente trabalho foi analisada a cidade de Aparecida de Goiânia, município
metropolitano de Goiânia que tem se desenvolvido em ritmo acelerado. Aparecida de Goiânia foi
criada em 1922 e segundo dados do IBGE (2018) a população registrada na última pesquisa foi
de 565.957 habitantes. A cidade está em contínua expansão e as áreas permeáveis estão sendo
substituídas por condomínios, indústrias, prédios comerciais e grandes loteamentos. De acordo
com o Plano Diretor de Drenagem Urbana do município, foram determinados 36 pontos com
problemas relacionados ao manejo de águas pluviais urbanas.
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho consistiu em avaliar a exigência do atual Plano
Diretor de Aparecida de Goiânia em relação à complementação da taxa de permeabilidade com a
execução de poços de infiltração conforme parâmetros estabelecidos no Código de Edificações.
Foi definida uma área hipotética baseada em um lote típico da cidade, com dimensões de 35m x
15m, totalizando uma área de 525 m². Após a análise do projeto exigido por Lei, foi calculada a
eficiência do poço de infiltração através das características do solo local e apresentadas
sugestões para contribuir com as exigências legislativas afim de se obter um melhor desempenho
do dispositivo de infiltração após a sua implantação.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O referencial teórico aborda conceitos de hidrologia de grande relevância para o entendimento do


funcionamento dos dispositivos de infiltração como medidas de controle de águas pluviais. São
apresentadas as características do poço de infiltração e o projeto de como é exigido atualmente
pela Lei Municipal.

2.1 Tópicos de hidrologia


A infiltração é a passagem da água superficial para o interior do solo. Carvalho (2008) explica que
o conceito de infiltração foi introduzido no ciclo hidrológico por Horton (1933) que definiu a
capacidade de infiltração (fc) como a taxa máxima com que um determinado solo pode absorver a
água. Quando superada essa capacidade, o que excede da precipitação se torna escoamento
superficial (runoff). O processo é influenciado pelas características do solo e do fluido permanente
que determinam a velocidade de infiltração.
Costa et al. (2007) explicam que o coeficiente de escoamento superficial (C) também é conhecido
por coeficiente de deflúvio ou coeficiente de “runoff” sendo a relação entre o volume do
escoamento superficial direto e o volume precipitado. É influenciado pelas seguintes
características: solo, cobertura, tipo de ocupação, tempo de retorno, intensidade de precipitação e
topografia do terreno. O coeficiente varia conforme a intensidade da precipitação, sendo
diretamente proporcional. Para determina-lo, são utilizadas tabelas por tipo de ocupação ou por
tipo de superfície sendo que quanto mais próximo de 1 o coeficiente se encontra, maior é a
parcela de área impermeável.
Righetto (1998) explica que o período de retorno é o tempo médio em que determinado evento
hidrológico é igualado ou superado pelo menos uma vez. Se trata de um parâmetro fundamental
para a avaliação de projeto para sistemas hídricos. Quando uma vazão é definida com o período
de retorno com “T anos”, determina-se o grau de proteção e risco aceitável para o projeto que
está sendo dimensionado. O Plano Diretor de Drenagem Urbana de Aparecida de Goiânia (2011)
recomenda um valor de 2 anos para obras de microdrenagem residenciais.
O período de retorno é utilizado de acordo com as recomendações da norma de projeto de águas
pluviais de acordo com as características da ocupação. Se trata de um dado de entrada para o
cálculo de intensidade de uma precipitação, através da equação de chuva que é determinada a
partir dos fenômenos atmosféricos de precipitação, que decorrem quando há uma condensação
de vapor d’água formando nuvens, os ventos movimentam as partículas d’água de maneira a
ocorrer aglutinação de gotículas, formando massas de água suficientes para serem precipitadas.
(ANA, 2012).
Os parâmetros dessa equação são obtidos através de uma regressão não-linear com base em
dados extraídos de pluviogramas. Para determinação da equação da cidade de Aparecida de
Goiânia, onde se encontra o campo experimental do presente trabalho, o Plano Diretor de
Drenagem Urbana (2011) escolheu a curva IDF definida por Costa e Mendonça (1998), conforme
mostrado abaixo:

3858∗𝑇𝑅0,147
𝑖= (𝑡+24,8)0,975
(1)
Onde:
TR = período de retorno (menor ou igual a 8 anos);
t = duração da precipitação (horas).

2.2 Medidas de controle das águas pluviais


Os sistemas de drenagem de águas pluviais podem ser classificados em: convencionais e
alternativos. Conforme destaca Guedes (2015) constituem-se em estruturas cujo objetivo é
controlar e diminuir os efeitos causados pela impermeabilização do solo sobre uma bacia urbana.
Reis et al. (2008) explica que enquanto as técnicas convencionais centralizam e transportam o
escoamento superficial para um ponto a jusante, os sistemas chamados de alternativos ou de
drenagem na fonte, controla o excesso no próprio local onde o escoamento é gerado.
Segundo Tucci (2003) as medidas convencionais que são praticadas atualmente se baseiam no
conceito de escoar a água precipitada de maneira rápida e que a consequência é o aumento das
inundações que ocorrem a jusante causadas pela canalização. O autor explica que para
transportar todo o volume da água que não é infiltrada durante e após as precipitações, é
necessário amplos condutos e canais ao longo do trajeto dentro da cidade até chegarem a um
local onde o efeito de ampliação do volume não atinja a população e informa que este princípio
não é utilizado em países desenvolvidos desde a década de 1970.
Com o objetivo de aumentar a infiltração de água no solo, melhorar o equilíbrio do ciclo
hidrológico e incentivar o aproveitamento de água pluvial surgiu o conceito de SUDS (Sustainable
Drainage Systems) nos países escandinavos como evolução do sistema sanitário-higienista que
prevê a rápida expulsão das águas pluviais dos centros urbanos. (AGOSTINHO; POLETO, 2012).
As estruturas de infiltração compõem o conjunto de dispositivos não convencionais, capazes de
gerenciar as águas superficiais e contribuir para a recarga dos aquíferos devido a retenção ser
feita nas proximidades de suas fontes. De acordo com Canholi (2014) o processo retarda o
escoamento, aumenta o tempo de concentração nas bacias e reduz as vazões máximas. Para
eficiência do processo de infiltração, é importante considerar a influência dos fatores que possam
interferir no desempenho tais como: o próprio solo, grau de intemperismo, cobertura vegetal,
relevo, clima e topografia. Deve ser realizada a caracterização do solo para melhor entendimento
do processo de infiltração da água e considerar os seus parâmetros bem como a geometria da
estrutura, as condições de contorno e iniciais. (CARVALHO, 2013).
Segundo Silva (2007) os dispositivos de infiltração se diferenciam pela sua forma geométrica e
pela capacidade de captação do volume escoado. Os sistemas de drenagem alternativos mais
comumente utilizados são: as trincheiras de infiltração, os poços de infiltração, as bacias de
retenção, os pavimentos permeáveis e as valas de infiltração.
A escolha do sistema depende das características locais onde se pretende utilizar os sistemas de
infiltração. No caso desse estudo o elemento escolhido foi o poço de infiltração pois se trata de
um lote padrão relativamente pequeno para a ocupação da residência.

2.2.1 Poço de infiltração


Os poços de infiltração são estruturas pontuais, escavadas no solo, revestidos por tubos de
concretos, tijolos assentados em crivo ou por materiais reciclados como pneus, como mostra na
Figura 1. São envolvidos por uma manta geotêxtil e possuem fundo preenchido com material
granular para permitir a infiltração da água no solo. Reis et al (2008) explica que toda a água da
chuva é lançada inicialmente no poço e após a diminuição da capacidade de absorção do solo e
total enchimento do poço pela água da chuva, é que água passa a ser lançada no sistema coletivo
de drenagem através de extravasores.
Os poços devem ser utilizados em locais com solos permeáveis ou que tenham camadas
superficiais pouco permeáveis, mas, com camadas mais permeáveis abaixo. Os poços de
infiltração possuem como vantagem o fato de ocuparem uma pequena área em superfície,
tornando fácil sua integração com o ambiente urbano. A locação dos poços tem algumas
restrições de suas instalações como proximidade de estruturas de fundações pré-existentes, pois
a infiltração pode modificar as características do solo. Sugere uma distância igual à profundidade
do poço. (ZAHED FILHO; MARTINS; PORTO, 2012).
Figura 1 - Poço de infiltração

Fonte: Reis et al. (2005)

Destacam-se como vantagens da utilização do poço de infiltração os seguintes aspectos comuns


na bibliografia revisada:
 Por ser uma estrutura de solução pontual, demanda a utilização de pequenas áreas
podendo ser empregado em lotes bastante impermeabilizados dos grandes centros
urbanos, ajudando no gerenciamento dos fluxos do escoamento superficial.
 Possibilidade de ser agregado a sistemas de aproveitamento de água da chuva
devido a capacidade de reter um volume razoável para reserva;
 Baixo custo de implantação e fácil execução;
Como restrições ao uso do poço podemos citar:
 Não possui capacidade de suportar grandes cargas de sedimentos e podem
oferecer riscos quanto à infiltração de poluentes;
 Tendência à colmatação por causa das partículas em suspensão conduzidas pela
água da chuva e podem levar ao entupimento da estrutura na inexistência de
manutenção.

2.3 Legislação
O zoneamento e uso do solo em Aparecida de Goiânia, determina um índice de permeabilidade.
Definido pela parcela mínima de solo permeável no lote, destinada a infiltração de água com
função principal de recarga do lençol freático, prevenção de enchentes e melhoria do clima na
área urbana. O atual Plano Diretor instituído pela Lei Complementar n° 124, de 14 de dezembro
de 2016 estabelece índice de 15% da área total do lote para todas as zonas da cidade com
exceção das Zonas de Uso Misto II e Zonas Especiais de Proteção Ambiental II, que demandam
um índice de 30%.
Segundo o Plano Diretor do município de Aparecida de Goiânia (2016), a parcela mínima de solo
permeável deve ser de cobertura vegetal, sendo obrigatório complementar a taxa de
permeabilidade com o poço de infiltração conforme parâmetros estabelecidos no Código de
Edificações demonstrados no Quadro 1.
Quadro 1 - Exigências de projeto para o poço de infiltração

Projeto do poço de infiltração Exigências


- Para cada 200 m² de terreno
impermeabilizado, é necessário 1m³ de
caixa de recarga;

- Superfície do dispositivo com área


mínima de 1,00 m²;

- Profundidade máxima da altura do


poço de 2,60 m.

Fonte: Dos autores (2019) adaptado do Código de Edificações de Aparecida de Goiânia

3. METODOLOGIA

A metodologia consistiu em uma análise do projeto do poço de infiltração exigido no Código de


Edificações a ser implantado em uma área hipotética, baseada em um lote típico da cidade de
Aparecida de Goiânia, com dimensões de 35m x 15m, totalizando uma área de 525 m². Esta
investigação permitiu obter a eficiência do poço para gerenciar o volume de aporte gerado pela
área do lote, considerando a taxa de infiltração do solo e intensidade de chuva obtida pela Curva
IDF do município de acordo com a Equação (1).
Os parâmetros do solo foram obtidos em pesquisas anteriores através de ensaios realizados no
Câmpus do Instituto Federal em Aparecida de Goiânia com o intuito de utiliza-los como amostras
para a região. Para o alcance do objetivo proposto, análise da capacidade de infiltração do poço,
foi necessário caracterizar o solo local através dos seguintes ensaios: análise granulométrica,
sondagem SPT e infiltração para obtenção da taxa média.
Após todas as análises realizadas, listou-se informações que podem ser relevantes para contribuir
com a elaboração do projeto do poço a ser implantando, garantindo assim um melhor
desempenho da estrutura de infiltração.

3.1 Determinação dos parâmetros do solo local


Os ensaios de sondagem SPT foram realizados entre o período de maio/2017 e dezembro/2017
por Dias e Wind (2018) para um trabalho cujo objetivo foi de analisar e estudar a viabilidade de
projetos de fundações no campus do IFG – Aparecida de Goiânia e consistiu na obtenção de
quatro furos.
A granulometria foi realizada por Gomes et al. (2018) para um estudo experimental da relação
entre as condições atmosféricas, umidade e sucção do solo. Foram retiradas amostras do perfil do
solo considerando as profundidades de 20 cm a 60 cm, 60 cm a 100 cm, 120 cm a 160 cm e 160
cm a 200 cm. Os ensaios foram realizados com defloculante conforme Norma 7181 (ABNT, 2016).
A taxa média de infiltração foi obtida através de ensaio em campo conforme método executivo
previsto em Carvalho (2008) para poços pilotos. O ensaio compõe o estudo das características do
solo para um trabalho cujo tema foi a identificação de parâmetros do solo para estudo de
implantação de poços de infiltração na região centro-sul de Aparecida de Goiânia. Foi utilizado um
poço perfurado com trado mecânico de 20 cm de diâmetro e 3 metros de profundidade.
Realizaram-se três enchimentos sucessivos na mesma altura de cota para manter a mesma carga
hidráulica. A quantidade de água infiltrada em relação ao tempo foi obtida de forma automática
através da utilização de um sensor de nível d’água, Onset HOBO – 30 ft.
3.2 Cálculo da eficiência do poço de infiltração
Os cálculos foram baseados nos critérios de dimensionamento para poços de infiltração utilizados
por Carvalho (2008). Através da Equação (1) calculou-se a intensidade pluviométrica para um
tempo de retorno de 2 anos conforme Plano Diretor de Drenagem (2011) e com tempo de duração
da chuva de 5 minutos como é determinado na Norma NBR 10844/1989. Com esse dado foi
possível calcular o volume de aporte de água pluvial gerado pela área de contribuição através da
Equação (2).

𝑽=𝑰𝒙 𝑨 𝒙 𝒕 (2)

Onde:
V = Volume de aporte (m³);
I = Intensidade da chuva (m/h);
A = Área (m²);
t = duração da precipitação (horas).
O poço foi dimensionado para armazenar e infiltrar 100% do volume de aporte, respeitando o
Código de Edificações que determina uma profundidade máxima de 2,60 m e distância mínima de
1,50 m do lençol freático. Para os cálculos foram desconsiderados 30 cm iniciais para instalação
das tubulações de entrada e saída de água do poço. Para revestimento do poço, foi considerado
um diâmetro comercial com tubo de 110 cm com paredes perfuradas para permitir a drenagem da
água para o solo.
Para atendimento da exigência de que a cada 200 m² impermeabilizado é necessário 1 m³ de
caixa de recarga, foi utilizado uma unidade de poço de infiltração considerando a área total do lote
de 525 m² conforme demonstrado nas Equações (3) e (4). Apesar de ser obrigatório que 15% da
área total seja permeável, para efeito de cálculo esse fator não foi considerado, devido ao
processo de infiltração em um poço ser mais eficiente do que em superfície pois, a altura da
lâmina d’água gera uma carga hidráulica facilitando o processo.
𝑽𝒑𝒐ç𝒐 = 𝝅 ∗ 𝒓𝟐 ∗ 𝒉 (3)
Onde:
r = raio do poço (m);
h = altura útil do poço (m).
𝑨
𝑸𝒖𝒂𝒏𝒕𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 = (𝟐𝟎𝟎)/𝑽𝒑𝒐ç𝒐
(4)

Onde:
A = área total do lote (m²).
Na verificação da capacidade de infiltração diária do poço, foi desprezada a infiltração do fundo do
poço devido o processo de colmatação e acúmulo de partículas finas conforme explica Carvalho
(2008). Portanto, nos cálculos foi considerada somente a infiltração que ocorre nas paredes
laterais do poço. Através da taxa média de infiltração do solo obtida nos ensaios, calculou-se a
capacidade diária de infiltração conforme Equação (5).
𝒕𝒊
𝑪𝒂𝒑𝒂𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 𝒅𝒊á𝒓𝒊𝒂 𝒅𝒆 𝒊𝒏𝒇𝒊𝒍𝒕𝒓𝒂çã𝒐 = 𝟐𝝅 ∗ 𝒓 ∗ 𝒉 ∗ (𝟏𝟎𝟎) ∗ 𝟐𝟒
(5)
Onde:
r = raio do poço (m);
h = altura útil do poço (m);
ti = taxa média de infiltração (mm/h)
4. RESULTADOS

Os resultados obtidos são apresentados nos tópicos abaixo e consistem na apresentação dos
parâmetros do solo do campo experimental e na análise da eficiência do poço de infiltração.

4.1 Parâmetros do solo local


O Quadro 2 demonstra os ensaios que forneceram parâmetros do solo no campo experimental.

Quadro 2 - Resultados dos ensaios para determinação dos parâmetros do solo local

05/2017 - 5,80 m
Nível d'água encontrado pelo ensaio 07/2017 - 6,20 m
SPT 08/2017 - 6,90 m
12/2017 - 4,45 m
47,08% de argila
11,39% de silte
Granulometria
36% de areia
5,53% de pedregulho
Taxa média de infiltração 42 mm/h
Fonte: Dos autores (2019)

Como pode ser observado no Quadro 2, os níveis d’água encontrados possibilitam a implantação
de um poço de infiltração com altura de 2,60 obedecendo a exigência de que o mesmo deve estar
a 1,50 m de distância do lençol freático. A taxa resultou em 3,5.10−5 m³/m².s e considerando um
fator de segurança igual a três (F = 3), o que corresponde a 42 mm/h e conforme literatura, é
considerado um solo de alta permeabilidade.

4.2 Dimensionamento e análise da eficiência do poço de infiltração


A Tabela 1 demonstra o resultado dos cálculos do volume de aporte.

Tabela 1 – Cálculo do volume de aporte

Tempo de retorno (anos) 2,00

Intensidade Pluviométrica (mm/h) 156,05

Área (m²) 525,00

Tempo (min) 5,00

Volume de aporte (m³) 6,83

Fonte: Dos autores (2019)

A Tabela 2 demonstra os resultados da quantidade necessária de poços para o lote em estudo, o


dimensionamento e a capacidade diária de infiltração.
Tabela 2 –Dimensionamento do poço e cálculo da capacidade diária de infiltração

Índice de armazenamento (%) 100,00

Volume de aporte a armazenar (m³) 6,83

Número de poços 1,00

Diâmetro comercial do tubo (cm) 110

Diâmetro nominal do tubo (cm) 100

Profundidade útil de infiltração do poço


2,30
(m)

Volume total do poço (m³) 2,19

Superfície de infiltração do poço (m²) 7,95

Capacidade diária de infiltração (m³) 8,01


Fonte: Dos autores (2019)

Após dimensionamento e análise da eficiência do poço de infiltração utilizando como referência os


parâmetros do solo do campo experimental localizado no IFG – Câmpus Aparecida de Goiânia,
observou-se que as dimensões do dispositivo de infiltração definidas são suficientes para infiltrar
100% do volume de aporte para um lote residencial com uma área usual de 525 m². Pois, o
volume diário de infiltração é maior que o volume de aporte. Caso o solo local não seja capaz de
infiltrar todo o volume necessário da área definida, o excedente deve ser lançado na rede pública
de águas pluviais.
De acordo com a exigência da prefeitura para cada 200 m² de terreno impermeabilizado o poço de
infiltração deve possuir superfície mínima de 1 m². No entanto, com o dimensionamento realizado
utilizando um poço com diâmetro de 110 cm e área de 0,95 m² percebe-se que ao variar a
profundidade é possível garantir o mínimo de 1 m³ de caixa de recarga, conforme a exigência da
legislação, fazendo com que o poço seja eficiente para aportar todo o volume da área.
É importante observar alguns aspectos na implantação de um poço de infiltração:
 Ressalta-se que o solo analisado apresenta uma alta taxa de infiltração, ou seja,
um solo bem permeável. No caso de poços para outras regiões da cidade com
característica próprias, recomenda-se a realização do protocolo de ensaios de forma a
produzir projetos economicamente viáveis. Na falta desses dados os projetos sempre
são feitos com a superestimação dos parâmetros, o que implica em projetos de custos
mais onerosos.
 O uso da manta geotêxtil envolvendo os tubos que compõe o poço contribui para a
duração da sua vida útil, pois evita o processo de colmatação, funcionando como filtro
e protegendo o solo das paredes do poço.
 É importante realizar a manutenção da estrutura para garantir sua capacidade de
infiltração;
 Conforme destaca Carvalho (2008), o uso inconsequente do dispositivo de
infiltração pode causar erosão interna, colapso do solo e afetar fundações vizinhas.
Para isso recomenda-se que as outras construções possuam uma distância mínima de
5 metros do raio do poço.
 Por ser uma estrutura pontual o poço de infiltração é o mais recomendado para o
uso em lotes residenciais, outros sistemas como as trincheiras de infiltração requer
uma grande extensão linear sendo mais apropriada em áreas como praças, ruas,
calçadas entre outros.
5. CONCLUSÕES

O objetivo principal do trabalho foi avaliar a implantação de um poço de infiltração exigido pelo
atual Plano Diretor de Aparecida de Goiânia para complementar a taxa de permeabilidade. Ao
definir uma área hipotética baseada em um lote típico da cidade e utilizar parâmetros do solo de
um campo experimental, foi possível dimensionar um poço de infiltração capaz de infiltrar e
armazenar o volume gerado por toda a área.
Ao estudar o funcionamento de uma estrutura de infiltração observou-se a importância de seguir o
que é proposto por lei, além de atentar-se aos parâmetros reais do solo local, sendo interessante
a elaboração de um memorial de cálculo que conste todas as informações necessárias para o seu
dimensionamento.
Apesar das vantagens da utilização do poço de infiltração como diminuir o escoamento superficial,
gerenciando todo o volume gerado pela área impermeável e promovendo a recarga do lençol
freático, é importante ressaltar a necessidade de manter a área mínima permeável exigida. Além
de contribuir com a infiltração da água da chuva no solo, ela deve ser composta com vegetação
para melhor absorção. Áreas permeáveis contribuem para a diminuição da sensação térmica,
deixando o ambiente mais fresco e arejado. Enfim, colaborando com o meio ambiente e a
sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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Nacional de Águas, 2012.

AGOSTINHO, Mariele de Souza Parra; POLETO, Cristiano. Sistemas sustentáveis de drenagem


urbana: Dispositivos. Holos Environment, Rio Claro, v. 12, n. 2, p.121-131, out. 2012.

APARECIDA DE GOIÂNIA. Plano Diretor de Drenagem Urbana do Município de Aparecida de


Goiânia: Medidas Estruturais e Não-Estruturais Plano de Obras e Estimativa de Investimentos.
Prefeitura de Aparecida de Goiânia, 2011.

APARECIDA DE GOIÂNIA. Plano Diretor do Município de Aparecida de Goiânia. Prefeitura de


Aparecida de Goiânia, 2016.

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CANHOLI, A. P. Drenagem Urbana e Controle de Enchentes. 2. Ed. São Paulo: Oficina de


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