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SÃO PAULO
2016
BÁRBARA CRISTINA GONÇALVES SCODELER
SÃO PAULO
2016
Scodeler, Bárbara Cristina Gonçalves
Violência de Gênero na Cidade de São Saulo: Quem são as
Mulheres que mais Sofrem? /
37p.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
PROFA. REGINA MADALOZZO
PH.D. EM ECONOMIA
UNIVERSITY OF ILLINOIS AT URBANA-CHAMPAIGN
________________________________________
PROFA. LUCIANA YEUNG LUK TAI
DOUTORA EM ECONOMIA
ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO - FGV
________________________________________
PROF. SÉRGIO RICARDO MARTINS
MESTRE EM ESTATÍSTICA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à minha mãe, mesmo com luta sempre me incentivou, sem
ela nada seria possível.
Finalmente, agradeço aos meus amigos por fazerem do Insper os melhores anos da
minha vida.
“A violência contra a mulher é uma manifestação de relações de poder desiguais
entre homens e mulheres, que levou ao domínio e discriminação das mulheres pelos
homens, e impediu o avanço completo das mulheres [...] “(Nações Unidas, 1993)
“No mundo todo, há uma estimativa de uma em cada cinco mulheres serão vítimas
de estupro ou de tentativa de estupro em toda sua vida. Uma em cada três serão
vítimas de agressão, forçadas ao sexo ou outro tipo de abuso, na maior parte das
vezes por um membro da família ou algum conhecido. Mais frequentemente do que
não, os criminosos não serão punidos.
A cada ano, centenas de milhares de mulheres e crianças são traficadas e
escravizadas, milhões são submetidas a praticas prejudiciais. A violência mata e
incapacita mais mulheres nas idades entre 15 e 44 anos do que o câncer.”
(Fundo de População das Nações Unidas – UNFPA, 2005)
RESUMO
Palavras chave: violência doméstica, violência de gênero, São Paulo, logit, vitimização
ABSTRACT
This article aims to analyze the occurrence of domestic violence in the city of São
Paulo, in 2003, 2008 and 2013. The paper uses and econometric logit model to
determine which features are most impactful on the increase or decrease in aggression
chance in the city , among them, income, age , marital status and education .
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10
2 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 11
3 BASE DE DADOS.................................................................................................. 17
3.1 BASE DE DADOS – 2003 ................................................................................... 18
3.2 BASE DE DADOS – 2008 ................................................................................... 20
3.3 BASE DE DADOS – 2013 ................................................................................... 23
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 25
5 RESULTADOS ....................................................................................................... 26
7 BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 33
8 ANEXOS ................................................................................................................ 35
10
1 INTRODUÇÃO
A Organização das Nações Unidas (ONU) define a violência de gênero como
qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento
à mulher, tanto no âmbito público como no privado. Existem vários tipos de violência
de gênero, como violência física, sexual, psicológica, econômica ou financeira. Dessa
forma, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a violência de gênero
é uma manifestação de relações de poder historicamente desiguais entre homens e
mulheres, em que a subordinação não implica na ausência absoluta de poder.
A violência doméstica pode ocorrer contra crianças, idosos e também pode ser um
tipo de violência de gênero, e quando desse tipo, geralmente ocorre entre casais que
possuem um relacionamento, casados ou não. É um fenômeno complexo, com raízes
culturais, econômicas e sociais, causadas pela pouca visibilidade dada ao tema e
também porque muitas vezes os agressores sequer são denunciados, conforme
Oliveira, et al. (2012)
De acordo com dados da pesquisa do Sistema de Informação de Agravos de
Notificação do Ministério da Saúde, de 2011, publicada no Mapa da Violência 2012 –
Homicídios de Mulheres, no Brasil, a violência física contra a mulher é a
preponderante, englobando 44,2% dos casos, a psicológica ou moral representa
acima de 20% e a violência sexual, 12,2%.
Segundo um relatório do Instituto Patrícia Galvão, 20,7% das mulheres que
sofreram violência doméstica alguma vez na vida nunca denunciaram ou pediram
ajuda por prever que o parceiro não será punido ou por medo.
A violência doméstica contra mulheres pode ser associada com diversos fatores,
tais como baixo nível educacional, pobreza e abuso de álcool e drogas por parte do
parceiro; tais fatores podem aumentar a magnitude do problema, mas é algo que
encontramos em todos os níveis sociais. No Brasil, em 2006, foi criada a Lei Maria da
Penha, que aumentou a punição para agressores de mulheres em casos de violência
dentro de casa. Essa lei permitiu a possibilidade de prisão por flagrante para esse tipo
de crime e também prisões preventivas, e criou a possibilidade de instituir medidas de
segurança para mulheres em situação de perigo. Mas, muitas mulheres que sofrem
dessa violência são financeiramente dependentes do parceiro, ou são amedrontadas
por eles, o que tornam as denúncias mais difíceis de acontecer. Segundo uma
pesquisa Realizada pelo Instituto Avon (2011), 94% das mulheres possuem
conhecimento a respeito dessa lei, mas apenas 13% sabem realmente como
11
ela funciona. Das mulheres que responderam à pesquisa, 60% das mulheres pensam
que o agressor vai preso imediatamente ao ser denunciado e 52% acreditam que os
profissionais da lei menosprezam seus problemas.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo do estudo é analisar a
violência doméstica na cidade de São Paulo, geografica, sócio e financeiramente, para
que se possa entender melhor quem são as mulheres que sofrem desse problema.
Para isso, utiliza-se uma base de dados do Centro de Políticas Públicas do Insper,
onde foram entrevistadas 5000 pessoas no ano de 2003, 2967 no ano de 2008 e 3000
no ano de 2013. A pesquisa foi realizada pelo Centro de Políticas Públicas do Insper,
pela empresa Radar Pesquisas (2013) e pela empresa Ipsos Public Affairs (2003 e
2008). A pesquisa faz inúmeras perguntas, de cunho econômico e social. Entre os
anos da pesquisa houve uma diminuição do número de agressões físicas relatadas,
sendo de 4% em 2003 e 2,6% em 2013, o que equivale a uma diminuição de 33,7%.
Os casos de agressão verbal também diminuíram, variando em -22,7% entre 2003 e
2013.
Na próxima seção será apresentada a revisão de literatura, com a bibliografia
que se mostrou mais relevante para o presente estudo.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Uribe-Urán (2013) compara agressões físicas contra mulheres, feitas por seus
parceiros íntimos, especialmente maridos, em alguns países da América Espanhola
(México, Guatemala, Costa Rica, Colômbia, Venezuela, Peru, Argentina e Porto Rico).
O artigo tenta entender as razões atrás das agressões e as respostas legais ao
problema.
Nos países estudados, desde o início do século XIX até hoje, mulheres têm sido
vítimas de abusos físicos, psicológicos e sexuais, por parte de seus parceiros íntimos.
No passado e no presente, tais abusos envolvem disputas sobre autonomia,
obediência, respeito, sexo, dinheiro, tarefas domésticas, filhos, família e bebida. Em
geral, é possível dizer que a violência doméstica está relacionada com confrontos
sobre o entendimento e a reciprocidade dos direitos e deveres matrimoniais.
Segundo o artigo, os “fatores de gatilho”, ou seja, aqueles que levam ao ato de
violência incluem desobediência por parte da mulher, resposta a ataques verbais do
parceiro, fracasso no preparo de refeições no tempo ou modo correto, negligência nas
tarefas domésticas ou no cuidado com os filhos, dentre outras. Isto é, sempre são
12
e não metropolitanos das cinco grandes regiões brasileiras (Sul, Sudeste, Norte,
Nordeste e Centro-Oeste), para uma amostra de 3810 indivíduos de ambos os sexos,
vários grupos religiosos, de idades e escolaridade variadas.
Nesse relatório é possível observar que há uma baixa tolerância à violência
contra a mulher na sociedade, como por exemplo, 91% dos entrevistados
concordaram, total ou parcialmente, com a afirmação “Homem que bate na esposa
tem que ir para a cadeia”, e essa tendência em concordar com punição severa para a
violência doméstica transcendeu as fronteiras sociais, com pouca variação entre as
diferentes características dos indivíduos que responderam a pesquisa. Porém, a
pesquisa mostra também resultados paradoxais, quando 63% respondem que “casos
de violência dentro de casa devem ser discutidos somente entre membros da família”
e 89% acreditam que “a roupa suja deve ser lavada em casa”. Ou seja, há algo de
incoerente quando parte expressiva dos entrevistados concordam com questões tão
diferentes, onde a prisão do cônjuge poderia ser vista como a intromissão da “colher
do Estado” na briga do casal, o que tornaria a pública a “lavagem da roupa suja”.
Na área da saúde, o trabalho de Reichenheim et al., publicado no Brasil em
2006, a violência doméstica cometida por um parceiro íntimo é um dos principais
problemas de saúde pública do mundo, não apenas pelos danos físicos causados,
mas também pelas sequelas deixadas em toda a sociedade. Nesse estudo o principal
objetivo era mapear a violência doméstica em 15 capitais brasileiras e no Distrito
Federal, com uma amostra de 26.003 mulheres selecionadas, onde 11.204
classificavam sua ocupação como “dona de casa” e o nível de violência doméstica
encontrado foi alto para todas as regiões pesquisadas. Como por exemplo, em média,
três-quartos das mulheres reportaram algum tipo de agressão psicológica, variando
de 61,7% em Campo Grande para 85,6% em Belo Horizonte. Ainda, as regiões Norte
e Nordeste mostraram um nível maior de agressões quando comparadas as regiões
Sul, Sudeste e Centro Oeste, como é possível observar no Gráfico 1: “Prevalência de
abusos físicos (leves e severos) relatados nas 15 capitais e no Distrito Federal, Brasil,
2002-2003”.
Com objetivo semelhante ao estudo de Reichheim et al., o Instituto Flacso Brasil
lançou o “Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil”, que busca
mapear a violência de gênero e o feminicídio (perseguição e morte intencional de
pessoas do sexo feminino) no Brasil utilizando dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IGBE) e do Departamento de Informática do Sistema Único
14
Em 82% das agressões a crianças do sexo feminino, a violência partiu dos pais –
principalmente da mãe, que concentra 42,4% das agressões. Para as adolescentes,
de 12 a 17 anos de idade, o peso das agressões divide-se entre os pais (26,5%) e os
parceiros ou ex-parceiros (23,2%). Entre jovens e adultas, de 18 a 59 anos de idade,
o agressor principal é o parceiro ou ex-parceiro, concentrando a metade do todos os
casos registrados. Já para idosas, o principal agressor foi o filho, com 34,9%. No
conjunto de todas as faixas, vemos que prepondera largamente a violência doméstica.
Parentes imediatos ou parceiros e ex-parceiros são responsáveis por 67,2% do total
de atendimentos.
Sobre as consequências da violência doméstica, o estudo de Fanslow &
Robinson (2008), concluiu, com a ajuda de um modelo logit, que o risco de suicídio é
três vezes maior em mulheres que sofreram violência física moderada e oito vezes
maior naquelas que sofreram violência física grave, quando comparadas as que não
sofreram nenhum tipo de violência. E quando se associa tais dados com os números
alarmantes de agressões que as mulheres brasileiras sofrem, pode-se enxergar a
violência doméstica como um problema também da área da medicina e da saúde, ao
acreditar-se que tais mulheres passam por grandes traumas, que geram
consequências de caráter físico e psicológico.
As consequências desse alto número de violência contra as mulheres também
foram relatadas em um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), que em
realizou um estudo com 24 mil mulheres de 10 países, entre eles também se encontra
o Brasil. Neste, foi constatado a importância do sistema de saúde, podendo ajudar a
identificar o abuso antes de acontecer e também, providenciar às vítimas o tratamento
e cuidados necessários. Além disso, a OMS desafia a percepção de que o lar é o local
mais seguro para mulheres, pois, na amostra estudada, este foi o lugar onde mais
ocorreram agressões; fato que pode se associar com o “Mapa da Violência 2015”,
uma vez que a maior parte das agressões relatadas foram cometidas por parentes ou
conhecidos da vítima.
Além disso, Fanslow (2007) visa esclarecer as consequências da violência de
gênero para a saúde das mulheres. E, concluiu que as ocorrências de violência de
gênero são correlacionadas com problemas de saúde como: lesões abdominais e
torácicas, lacerações, problemas ginecológicos, infertilidade, doenças sexualmente
transmissíveis, abuso de álcool e drogas, fobias, pânico, inanição, baixa autoestima,
depressão e suicídio.
17
3 BASE DE DADOS
Como já mencionado anteriormente, a base de dados utilizada para a
construção desse estudo é do “Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo –
18
2003-2013”, feito pelo Centro de Políticas Públicas (CPP), Insper – Instituto de Ensino
e Pesquisa, com apoio da FAPESP e Radar Pesquisas.
A base de dados contêm três diferentes amostras de três diferentes anos: no
ano de 2003, foram entrevistadas 5000 pessoas, 2967 pessoas entrevistadas em
2008 e 3000 pessoas em 2013.
Ao compararmos os resultados de 2013 e 2003 através da análise do banco
de dados, concluímos que a vitimização em São Paulo permaneceu estável em alguns
tipos de crime, apresentando variações estatisticamente insignificantes, como nos
casos de roubos e furtos de residências, casas de temporada e veículos. Porém em
outros tipos de crime, como nos casos de agressões, acidentes de trânsito, roubo ou
furto de componentes de veículos as variações foram estatisticamente significantes e
apresentaram queda. A única exceção a essa tendência de queda foram os furtos de
objetos pessoais fora da residência ou veículo, que apresentaram um aumento de
81,5% no período analisado.
Porém, o objetivo do presente estudo é analisar os casos de violência
doméstica ao longo do tempo na cidade de São Paulo, e para isso, separou-se as
diferentes amostras nesta seção.
0,04%
10,23%
14,46%
9,34% 59,07%
3,81%
3,04%
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
16,7%
22,2% 5,6%
5,6%
16,7%
16,7%
16,7%
Assaltante Cônjuge
Ex-cônjuge Parente
Pessoa Desconnhecida Policial
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
12,82%
1,28% 16,67%
8,97%
20,51% 8,97%
3,85%
17,95%
8,97%
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
11,6%
11,7%
9,7% 58,9%
5,0%
3,1%
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
10% 10%
10% 10%
20%
30%
10%
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
3%
17% 14%
10%
17%
17%
21%
Assaltante Ex-Cônjuge
Conhecido (a) Pessoa desconhecida
Vizinho (a) Parente
Cônjuge
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
23
9,08%
15,40% 2,82%
22,92%
45,34%
4,45%
Aposentada Desempregada
Dona de Casa Estudante
Trabalha com carteira assinada Trabalha sem carteira assinada
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
24
7,7% 23,1%
7,7%
7,7%
30,8%
23,1%
Cônjuge Ex-cônjuge
Parente Vizinho (a)
Pessoa desconhecida Outros (não especificado)
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
3,57% 7,14%
7,14%
14,29% 25,00%
3,57%
14,29% 25,00%
Assaltante Cônjuge
Ex-cônjuge Parente
Vizinho (a) Pessoa desconhecida
Conhecido (a) Outros (não especificado)
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper
4 METODOLOGIA
A metodologia utilizada no presente estudo será uma regressão logística
multinomial (Logit), pois pretende-se calcular a probabilidade de uma mulher, dada
suas diversas características qualitativas, sofrer violência doméstica. De acordo com
Gujarati e Porter, a análise Logit aplica-se para a obtenção da probabilidade de que
uma observação pertença a um conjunto determinado, em função de variáveis
independentes.
Dessa forma, através do modelo Logit, supõe-se a seguinte relação da probabilidade
da mulher ser vítima de violência doméstica:
𝑃
ln = 𝑏0 + 𝑏1 𝑋1 + 𝑏2 𝑋2 + … + 𝑏𝑛 𝑋𝑛
(1 − 𝑃 )
5 RESULTADOS
Primeiramente é necessário esclarecer o que foi considerado “agressão” para
tal estudo. Considerou-se que um ato de agressão ocorreu se o indivíduo respondeu
“sim” para as perguntas “foi vítima de agressão que causou lesões sérias, sendo
necessários cuidados médicos, no último ano?” e/ou “foi vítima de agressão que não
causou lesões sérias no último ano?”. Dessa forma, os resultados encontrados podem
ser observados nos anexos 1, 2 e 3.
Como nota-se, para todos os anos da pesquisa, em apenas uma das
regressões (Regressão 4 – Ano 2008) a idade não foi relevante, com 10% de
significância, para explicar as chances de um indivíduo sofrer violência na cidade de
São Paulo. Para a Regressão 1, que contém todas as variáveis de interesse, no ano
de 2003 é possível notar que a cada ano a mais que o indivíduo tenha sua chance de
sofrer um dos tipos de agressão diminui em média 4,62%. Para as mesmas
regressões nos anos de 2008 e 2013, os resultados foram de 2,84% e 2,53%. Isso
significa que para o ano de 2003, em média, para um indivíduo da cidade de São
Paulo, a cada ano a mais que ele tenha sua chance de sofrer agressão diminui em
4,62%. Tal resultado pode ser comparado com Mapa da Violência de 2014, feito pelo
Instituto Flacso Brasil com dados do Ministério da Saúde, cujo o foco e subtítulo foi
“Os Jovens do Brasil”, e, o relatório mostra que entre os anos de 1980 e 2012 houve
uma diminuição do índice de mortalidade no Brasil para 100 mil habitantes, passando
de 632 para 608. Porém, a taxa de mortalidade juvenil teve um ligeiro aumento,
passou de 146 para 149 mortes por 100 mil habitantes. O Gráfico 11: Taxa de
mortalidade violenta por idade – Brasil – 2012 exibe as taxas de mortalidade violenta
para o ano de 2012 de acordo com a idade dos indivíduos, é possível observar que
há um pico para essa taxa, aos 20 anos, o que pode ser uma evidência de que
pessoas mais jovens possuem mais chance de sofrer violência.
Para a variável relacionamento estável foram considerados os indivíduos que
responderam a essa questão da pesquisa com “casado (a)” ou “união consensual /
casamento informal”. Esta variável só se mostrou relevante para as regressões do ano
de 2003, onde na Regressão 1, verifica-se que moradores da cidade de São Paulo,
que estão engajados em um relacionamento estável possuem, em média, 50,89%
menos chance de sofrer uma agressão do que indivíduos que não estão em um
relacionamento estável, a um nível de confiança de 90%, seja com ou sem lesões
27
sérias. Para os resultados dos outros anos, apesar da variável não ser relevante, seus
coeficientes se mostraram negativos.
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89
Fonte: Mapa da Violência 2014 – Os Jovens do Brasil; Instituto Flacso Brasil - Adaptado
A variável “trabalha fora” engloba pessoas que trabalham com ou sem carteira
assinada e pessoas que trabalharam na semana anterior ao questionário, ou seja, são
indivíduos que exercem algum trabalho remunerado fora de casa. Essa variável só se
mostrou relevante na Regressão 1 do ano de 2008, onde nota-se que pessoas
residentes na cidade de São Paulo, que trabalham fora de casa possuem 59,73% mais
chance de sofrer algum ato de violência quando comparados a quem não apresenta
esta característica, a um nível de 10% de significância. Mesmo que sejam não
relevantes, todos os coeficientes para as regressões desse ano se apresentaram
negativos.
O resultado das três variáveis já citadas neste trabalho (idade, relacionamento
estável e se o indivíduo trabalha fora) dialoga com o trabalho de Andrade et. al. (2004),
onde os autores traçam o perfil das vítimas de uma pesquisa de vitimização do Centro
de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública de Belo Horizonte, feita em 2002.
Neste estudo, realizado com a metodologia logit, contatou-se que uma pessoa com a
característica “trabalha fora” possui 42% mais chance de ser agredida, quando
comparada a quem não trabalha fora de casa. A variável “estado civil” não se mostrou
relevante para o estudo em questão, porém, o estudo mostra que a maior incidência
de agressões está na parcela de solteiros e divorciados, representando 15,8% e
28
14,5%, respectivamente. Para a idade, os indivíduos mais velhos também têm maior
chance de sofrer agressão quando mais jovens, onde pessoas de 35 a 44 anos de
idade tem 63% menos chance de sofrer agressão, e, para pessoas com 45 anos ou
mais essa chance é 79%, quando comparadas a indivíduos de 13 a 18 anos.
De acordo com o trabalho, tais fatos podem ser justificados pelo efeito
exposição de tal população, uma vez que indivíduos que trabalham fora de casa
frequentam mais lugares públicos e tendem a estar mais próximos dos agressores,
pois seu circuito social é maior; e indivíduos que não estão engajados em um
relacionamento estável costumam frequentar lugares de vida noturna e crimes
interpessoais se concentram nos períodos noturnos e nos finais de semana. Para a
idade, os autores defendem que os mais velhos tendem a se expor menos, pois
passam grande parte do tempo cuidando de suas famílias, em contrapartida, a
tendência entre os mais jovens é de maior exposição, onde o consumo de álcool e a
frequência em lugares de vida noturna também maior.
A variável renda se mostrou ambígua para o presente estudo, uma vez que
para as regressões do ano de 2003 ela se mostrou relevante e com coeficientes
positivos, para o ano de 2008 não foi significante e finalmente, para o ano de 2013 ela
foi significante e com coeficientes negativos. Esta variável foi dividida em classes
salariais e a categoria de base é renda maior do que 10 salários mínimos.
Em 2003, para a Regressão 1, que contém todas as variáveis de interesse, a
renda só se mostrou relevante na categoria “até 10 salários mínimos”, onde apresenta
um coeficiente de 0,5027 e um p-valor de 0,20. Isso quer dizer que no ano de 2003,
um indivíduo residente na cidade de São Paulo e que possui renda de até 10 salários
mínimos tem 50,27% mais chance de ser agredido do que uma pessoa que possui
renda maior do que 10 salários mínimos, a um nível de confiança de 90%. Os outros
níveis de renda da regressão (até 2 salários mínimos e até 5 salários mínimos) não
se mostraram relevantes, porém seus coeficientes também são positivos, o que
sugere uma correlação negativa entre renda e agressões na cidade de São Paulo,
para o ano de 2003.
A relação encontrada entre renda e agressões para o ano de 2003 pode ser
relacionada com o trabalho de Cardia e Schiffer (2002), onde os autores estudam a
relação entre violência e desigualdade social no município de São Paulo, com dados
da Fundação Seade para o ano de 1999. O artigo sugere que a distribuição da
violência na cidade em questão não é homogênea, uma vez que em 1999 houveram
29
6638 homicídios na cidade de São Paulo e em apenas 4 distritos da zona sul, onde
se encontravam 831.178 habitantes aconteceram 854 homicídios. Ou seja, em uma
região onde habitavam ,37% dos moradores da cidade ocorreram 12,87% dos
homicídios. Os distritos em questão são Campo Limpo, Capão Redondo, Jardim
Ângela e Jardim São Luís, e seus indicadores de renda mostram que há uma maior
concentração de famílias de baixa renda, onde chefes de família que não têm renda
ou têm renda de até 3 salários mínimos ultrapassam os 50% da população de tais
distritos.
Também para um contexto brasileiro, Macedo et. al. (2001) utiliza dados do
Instituto Médico Legal e do Censo Demográfico de 1991 e 1994, para a cidade de
Salvador, Bahia, para estudar a relação entre pobreza e violência. Neste trabalho os
autores concluem que taxas de mortalidade por homicídio mais elevadas foram
registradas nas áreas mais pobres da cidade, o que também sugere que indivíduos
com pior nível de renda tem maior chance de sofrer algum tipo de violência, entre
esses tipos, a agressão.
Ainda, utilizando dados em painel para a cidade de Chicago, nos Estados
Unidos, Levitt (1999) inferiu que durante a década de 1970, em média, a cada mil
dólares em renda extra das famílias a taxa de homicídio seria reduzida em 1,5 por
100.000 habitantes. Esse valor é de 1,7 para a década de 1980 e 0,7 para os anos
1990. Ou seja, durante os anos do estudo, na cidade de Chicago, conclui-se que
quanto maior a renda das famílias, menor seria a taxa de homicídios na cidade. Este
resultado dialoga com os trabalhos de Cardia e Schiffer (2002) e Macedo et. al. (2001),
mesmo que tenham sido realizados para sociedades com características muito
diferentes.
Já em 2013, a mesma variável se mostrou significante e com um coeficiente de
sinal diferente. Para a Regressão 1, os coeficientes foram de -1,3585 para a classe
de renda até 2 salários mínimos e de -0,9816 para a classe de até 5 salários mínimos,
ambos significantes para o modelo. O que quer dizer que, para o ano de 2013, em
média, um cidadão da cidade de São Paulo que tem renda de até 2 salários mínimos
tem 135,85% de chance a menos de sofrer agressão, e para alguém que tenha renda
de até 5 salários mínimos essa chance é de 98,16% quando comparados com um
indivíduo que tem renda acima de 10 salários mínimos, o que apresenta uma
correlação positiva entre chance de agressão e violência. Resultados semelhantes
são raros na literatura, porém, uma possível explicação para isso são crimes
30
Mulheres 89 39 38
(%) 44,72% 46,99% 48,10%
Total 199 83 79
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper –
Instituto de Ensino e Pesquisa
Porém, ao analisar a base de dados com mais atenção, percebe-se que dentro
do núcleo familiar, onde ocorre os atos de violência doméstica, as mulheres sofreram
mais agressões do que os homens. Ao analisar somente os atos de agressão de
cônjuges, ex-cônjuges e parentes, através do Gráfico 12: Distribuição de agressões
por sexo e autor na cidade de São Paulo para o ano de 2003, Gráfico 13: Distribuição
de agressões por sexo e autor na cidade de São Paulo para o ano de 2008 e Gráfico
31
14: Distribuição de agressões por sexo e autor na cidade de São Paulo para o ano de
2013, infere-se que o número de agressões contra mulheres são, em maioria, mais
do que o dobro do que as agressões contra homens. Ou seja, pessoas do sexo
masculino sofreram mais agressão, porém o agressor está fora do núcleo familiar.
Gráfico 12: Distribuição de agressões por sexo e autor na cidade de São Paulo
para o ano de 2003
80 75
70
60
50
38
40
30
17 17 17 15
20
8 7 10
10 6
2
0
Cônjuge Ex-cônjuge Parentes Vizinhos Amigos ou Outros
colegas de
trabalho
Homens Mulheres
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper –
Instituto de Ensino e Pesquisa
Gráfico 13: Distribuição de agressões por sexo e autor na cidade de São Paulo
para o ano de 2008
35 33
30
25
20
14
15
10 6 6 7 6
5
5 3
1 1
0
Cônjuge Ex-cônjuge Parentes Vizinhos Amigos ou Outros
colegas de
trabalho
Homens Mulheres
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper –
Instituto de Ensino e Pesquisa
32
Gráfico 14: Distribuição de agressões por sexo e autor na cidade de São Paulo
para o ano de 2013
30
26
25
20
15 12
10
10 8 8 8
6
5 2
1 1 1
0
Cônjuge Ex-cônjuge Parentes Vizinhos Amigos ou Outros
colegas de
trabalho
Homens Mulheres
Fonte: Relatório da Pesquisa de Vitimização em São Paulo – 2003-2013; Centro de Políticas Públicas – Insper –
Instituto de Ensino e Pesquisa
Desta forma, respondendo à pergunta que motivou o trabalho com base nos
resultados desse artigo e na literatura encontrada, as mulheres estão mais sujeitas a
sofrerem algum ato de agressão na cidade de São Paulo são jovens, que trabalham
fora de casa, que não estão engajadas em um relacionamento estável e de baixa
renda, uma vez que essas características foram relevantes para explicar as agressões
de indivíduos no município. Além disso, através das estatísticas distributivas da
amostra, nota-se uma tendência de maior ocorrência de violência doméstica em
pessoas do sexo feminino, o que pode sugerir que em suas próprias residências as
mulheres podem também vir a sofrer atos de agressão.
33
7 BIBLIOGRAFIA
8 ANEXOS
Anexo 1: Tabela de Regressões para o ano de 2003
Variáveis Regressão Regressão Regressão Regressão Regressão
Independentes 1 2 3 4 5
Coeficiente -0,0174 0,0979 0,0130 -0,0104 0,0051
Sexo Feminino
P-valor 0,918 0,515 0,939 0,951 0,976
Coeficiente -0,0462 -0,0488 -0,0450 -0,4710 -0,0460
Idade
P-valor 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000
Renda até 2 salários Coeficiente 0,2002 0,0640 0,1387 0,2063 0,1652
mínimos P-valor 0,497 0,081 0,628 0,477 0,567
Renda até 5 salários Coeficiente 0,1442 -0,0620 0,1115 0,1524 0,1253
mínimos P-valor 0,497 0,741 0,588 0,463 0,545
Renda até 10 salários Coeficiente 0,5027 0,3232 0,4970 0,5070 0,5032
mínimos P-valor 0,020 0,104 0,020 0,018 0,019
Coeficiente -0,4911 -0,4963 -0,4865 -0,4982
Relacionamento Estável
P-valor 0,009 0,006 0,007 0,006
Coeficiente -0,0535 -0,0635 -0,0565 -0,0619
Trabalha fora
P-valor 0,775 0,733 0,762 0,740
Coeficiente 0,0676 0,0673 0,1064
Cor Branca
P-valor 0,688 0,684 0,516
Coeficiente 0,7957
Primeiro grau completo
P-valor 0,276
Coeficiente 0,7901
Segundo Grau Completo
P-valor 0,279
Ensino Superior Coeficiente 0,7508
completo P-valor 0,323
Residência próxima a Coeficiente -0,2695 -0,2788
favelas, em conjuntos
habitacionais ou favelas P-valor 0,110 0,095
36