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RESUMO
O presente artigo tem o objetivo de apresentar a proposta de um novo momento de
produção da mercadoria audiência na internet, inicialmente conceituada como
mercadoria audiência ampliada. Utilizamos como aporte teórico a Economia Política
da Comunicação (EPC) e construimos o caminho conceitual a partir das premissas
iniciais de Smythe (1977) (1981), sobre a mercadoria audiência, e das criticas e
contribuições de Bolaño (2000) (2014), Fuchs (2012) e outros para este conceito nos
meios tradicionais e na Internet. A proposta revela a atual complexidade da produção de
audiência, a mercadoria fundamental para a sobrevivência dos meios ciberjornalísticos.
Ao mesmo tempo, a mercadoria audiência ampliada apresenta-se como ferramenta
alternativa para que meios regionais possam manter-se em atividade apesar do domínio
dos gigantes do ciberespaço, como o Google e Facebook e seus parceiros.
SUMMARY
The present article aims to present the proposal of a new moment of production of the
audience commodity on the Internet, initially conceptualized as audience commodity
increased. We use as a theoretical contribution the Political Economy of
Communication (EPC) and construct the conceptual path from the initial premises of
Smythe (1977) (1981), on the audience commodity, and the critiques and contributions
of Bolaño (2000) (2014), Fuchs (2012) and others for this concept in traditional media
and the Internet. The proposal reveals the current complexity of audience production,
the fundamental commodity for the survival of cyberjournalistic. At the same time, the
expanded audience commodity is an alternative tool for regional media to stay active
despite the dominance of cyberspace giants such as Google and Facebook and their
partners.
1
Doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS
(2009). Em estágio Pós-Doutoral pela Universidade da Beira Interior - UBI/Portugal. Professora da
Universidade Federal do Piauí - UFPI.
2
Mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Doutorando em
Comunicação Social pela Universidade da Beira Interior - UBI/Portugal.
Introdução
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Classificações de Patrice Flich (1980), que separa as empresas culturais em imprensa (jornais
impressos), indústria da edição (livros e revistas) e indústrias de onda (rádio e TV). Atualmente essa
classificação pode estar obsoleta, pois não considera as indústrias culturais na internet, mas não foi
encontrada outra proposta.
indústrias culturais, denominada provisoriamente de mercadoria audiência ampliada.
Este termo tem o propósito de demarcar conceitualmente a estratégia de ciberjornais4 de
Teresina ao criarem grupos de leitores no WhatsApp, um aplicativo de mensagens
instantâneas para dispositivos móveis, com o objetivo de promover uma audiência extra
e, consequentemente, aumentar seu valor de troca. A pesquisa analisa especificamente a
estratégia adotada pelos ciberjornais 180graus.com, oitomeia.com.br e portal
meionorte.com e tem como referencial teórico os fundamentos da Economia Política da
Comunicação (EPC), de corrente crítica. O passo seguinte é identificar, analisar e
classificar as modalidades observáveis de comercialização da atenção e produção dos
usuários na rede, em relação especificamente ao jornalismo, com o objetivo de
apresentar uma nova taxionomia das formas de monetização desses meios, com base
nos resultados da pesquisa. O passo final é analisar a estratégia da mercadoria
audiência ampliada como um modelo de negócios específicos para os meios de
comunicação populares e regionais frente a concentração de capital e poder dos grandes
oligopólios internacionais nos meios tradicionais e na internet.
Nossa proposta deve observar estas questões não apenas sob a análise da
produção. Portanto, este trabalho considera a Indústria Cultural como a instância de
mediação não apenas entre o capital e os públicos, mas também entre o Estado e os
públicos e o próprio capital. Tais relações ocorrem em disputas de poder em cada um
desses campos e entre eles. Relações fundadas na concorrência, que são a origem e
causa da evolução e transformações do próprio capitalismo. Como na toria darwiniana,
ao fazermos um paralelo apenas ilustrativo, as disputas entre as espécies provocam uma
seleção natural onde sobrevivem apenas os grupos de seres que mais se adaptam às
transformações e nas relações com as outras espécies. Sob este cenário, a observação
empírica terá também o apoio dos conceitos de padrão técnico-estético (Bolaño, 2000)
e barreiras à entrada de concorrrência (Brittos, 1999). Ambos ajudam a enxergar as
Indústrias Culturais, seja nos meios convencionais ou na sociedade em rede, sobre o
aspecto da concorrência entre capitais e suas relações com o Estado.
4
Utilizaremos o termo “ciberjornalismo” para definir o jornalismo produzido na World Wide Web (Web). Murad
(1999) e Canavilhas (2001) utilizam a denominação “webjornalismo” e argumentam que este termo faz referência ao
suporte técnico, usando como exemplo o telejornalismo, para a televisão, e o radiojornalismo, para o rádio. Porém,
para este trabalho, a terminologia “ciberjornalismo” porque iremos trabalhar com o jornalismo cuja circulação pode
ocorrer fora da Web, apesar de utilizar as conexões da internet. Ou seja, o ciberjornalismo é um termo mais
abrangente e adequado ao nosso caso, pois o conceito de origem, o ciberespaço, engloba tanto a Web quanto os
demais espaços de comunicação da Internet, de acordo com Zamith (2008) .
Os textos trocados, as imagens, vídeos, as buscas, os locais visitados em redes
sociais ou sites de buscas geram pistas sobre padões de consumo dos usuários ou
mesmo o que se está à procura naquele momento. Porém, enquanto a população
brasileira migra em massa para este novo terreno, os investimentos em publicidade ou
propaganda governamentais ainda não tem volume proprorcional aos das mídias
tradicionais. A Pesquisa Brasileira de Mídia 2016, promovida pelo Governo Federal,
indica que a Web é a segunda opção dos brasileiros para o consumo de informação, com
49% das pessoas declarando como primeira ou segunda opção. A TV segue imbatível
com 89%, o rádio 30% e os jornais 12%.
A Mercadoria Audiência
Para ele, nos meios convencionais (fluxo e edição) o trabalho é realizado pelos
profissionais (atistas, jornalístas e técnicos de transmissão, por exemplo) para atrair a
atenção e produzir a audiência. Para Bolaño, a empresa de comunicação tem com a
audiência uma relação de comunicação e não de trabalho não remunerado. Um dos
principais argumentos do autor é que, para uma leitura marxista, deve-se considerar que
o valor-trabalho compõe o valor da mercadoria a ser cobrada no mercado concorrencial.
“...os usuários não são observadores passivos, e até certo ponto criadores ativos
de conteúdo. Os anunciantes não estão interessados apenas no tempo que os
usuários gastam on-line, mas também nos produtos que são criados durante este
tempo - conteúdo gerado pelo usuário digital e comportamento online. Dados
dos usuários - informação sobre os seus dados enviados, redes sociais, os seus
interesses, dados demográficos, sua navegação e comportamento interação - é
vendido para os anunciantes como uma mercadoria” (FUCHS, 2010, p 704).
O anunciante não escolhe cada usuário que será alcançado pela publicidade,
mas sim grupos categorizados de acordo com indicadores estabelecidos pelas
empresas que disponibilizam os espaços para anúncios (localização geográfica,
perfil financeiro, gostos pessoais, entre outros), ou mesmo o mecanismo
completo de direcionamento automático da mensagem publicitária ao indivíduo,
à medida que este insere informação. (BOLAÑO & VIEIRA, 2014, p. 80)
6
Por pesquisa realizada pelo Instituto Piauiense de Opinião Pública Ltda – Amostragem – para o Governo do Estado
do Piauí, no período de 26 a 30 de janeiro de 2018. Respondendo a pergunta: qual rede social costuma acessar? Os
resultados estão na seguinte ordem: WhatsApp 44,94%; Facebook 40,63%; Instagram 15,86%; Youtube 0,79%;
Twitter 0,7%; nenhum/não acessa 47,32%; não sabe/não lembra 0,97%. Amostra de 1.137 eleitores em 47 municípios
Confiabilidade de 95% com margem de erro de 2,85% para mais ou para menos.
recebem em suas redes e 16,22% sempre repassam. Em relação à frequência: 34,09%
repasssam todos os dias e 32,39% repassam uma ou duas vezes por semana.
Porém, ambos ciberjornais destacam que ainda não há interesse específico dos
clientes publicitários voltados para o WhatsApp, mas acreditam que após o
protagonismo do aplicativo nas eleições presidênciais deste ano a procura deve
aumentar substancialmente.
Conclusões
Observamos que a estratégia de criar audiência extra por meio de plataformas
na internet como redes sociais e apps de troca de mensagens intragrupais pode ser
considerada como um novo momento de produção da mercadoria audiência em meios
ciberjornalísticos, cuja possibilidade ainda é pouco explorada pelos estudos na área, que
focam principalmente na chamada mercadoria prossumer da internet, conforme Fuchs.
Tomando a experiência do grupo de leitores de WhatsApp promovidos por ciberjornais
de Teresina foi verificado que a estratégia tem capacidade para aumentar os acessos ao
website do veículo jornalístico de forma a aumentar a audiência do mesmo e, desta
maneira, aumentar o valor de troca da mercadoria audiência.
Esse pode ser um modelo de negócios apropriado aos sites regionais para
conquistarem uma audiência que possibilite retorno financeiro e dar mais visibilidade
aos medias locais frente aos grandes conglomerados midiáticos e as empresas que
dominam a atenção dos usuários na internet.
Por fim, é necessária uma investigação em profundidade para inicialmente:
verificar e conceituar todo o processo de produção da Mercadoria Audiência Ampliada;
a sua capacidade para aumentar o valor de troca da Mercadoria Audiência Original e a
possibilidade da mesma ser utilizada como modelo de negócios adequado aos
ciberjornais regionais. Um segundo passo é ampliar a classificação dos modelos e
momentos de produção da mercadoia audiência no ciberespaço, de forma a facilitar
futuras pesquisas acadêmicas neste setor e promover a atividade de pequenas empreas
de comunicação na internet.
REFERÊNCIAS
DANTAS, M. Mais-Valia 2.0: produção e apropriação de valor nas redes do capital. In:
Revista Eptic Online, 2014. V. 16, n. 2.
FUCHS, C. Dallas Smythe today - the audience commodity, the digital labour
debate, marxist political economy and critical theory. Prolegomena to a Digital
Labour Theory of Value. In: Triple C 10 (2), 2012, pags. 692-740.
SMYTHE, D. On the audience commodity and its work. In: M. Durham & D. Kellner
(org), Media and Cultural Studies: keywords. Malden: Blackwell, 1981.
______. New Directions for Critical Communications Research. Media, Culture &
Society 6 (3), 1984. 205-217.
http://www.bocc.ubi.pt/pag/jcorreia_espaco.pdf 1998
A PBM do ano de 2016 verifica que a rede mundial de computadores se cristaliza como
segunda opção dos brasileiros na busca de informação, atrás somente da televisão.
Quase a metade dos brasileiros (49%) declarou usar a web para obter notícias (primeira
e segunda menções), percentual abaixo da TV (89%), mas bem acima do rádio (30%),
dos jornais (12%) e das revistas (1%).
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/02/investimento-publicitario-movimenta-
r-134-bi-em-2017.shtml?loggedpaywall Visto em 10/02/2018