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Dislexia e Perturbações Associadas

CHARRE, Antónia Simão Paulo

Resumo

O presente artigo tem como objectivo central avaliar até que ponto a dislexia interfere dentro no
sistema de ensino-aprendizagem com maior enfoque na capacidade de leitura, de entendimento
das palavras, da escrita, a soletração, bem como a compreensão e interpretação de textos e de
actividades que envolvem o raciocínio lógico, e como o educador deve enfrentar tais problemas
para contribuir para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Tendo em conta que os
principais instrumentos que norteiam a Governação Educacional no País, possuem ausência de
estruturas, serviços e profissionais especializados no domínio de alunos com necessidades
educativas especiais ou ainda crianças com sérias dificuldades de aprendizagem – dislexia.
Pretende-se com este artigo aprofundar a influência que atenção, concentração e a memória têm
nas dificuldades de aprendizagem registadas na leitura e na escrita nos alunos do 3º ciclo
correspondentes a 6ª e 7ª classes. E como forma de obtermos autenticidade do nosso artigo
envolvemos 20 educandos (10 rapazes e 10 raparigas) com idades compreendidas entre 10 à 13
anos, da Escola Primária Completa Eduardo Mondlane (1º e 2º Graus), localizada no bairro de
Ponta-Gêa. Nessa mesma escola foram envolvidos 20 professores. A metodologia aplicada foi de
inquirição através de questionário de perguntas previamente elaboradas e assistência directa às
aulas.

Palavra-chave: Dislexia, dificuldades de aprendizagem, Políticas Educacionais.

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Introdução
O presente trabalho pretende buscar informações e contribuições que estejam correlacionadas
com as dificuldades de escrita e de leitura que se apresentam no desenvolvimento pessoal e
educacional de crianças tidas como portadoras de Dislexia. Propõe-se também estudar conceitos,
definições, características, principais sintomas, identificação dos componentes físicos e
intelectuais, seu reconhecimento pela família e educadores, observar quais são as possíveis
acções e estratégias de professores, seu papel como educador e facilitador do processo de
aprendizagem e os meios de se trabalhar pedagogicamente com uma criança portadora de
dislexia. Pois, no processo de ensino-aprendizagem as dificuldades de leitura e escrita até então
têm sido de escolarização. Essas dificuldades não se limitam apenas na leitura e na escrita, como
também dificultam toda a cadeia de processo do aprendizado no aluno, criando assim
condicionalismo em todo o percurso escolar da criança. Assim, repercute-se não só na fase de
descodificação, mas também na compreensão e interpretação de textos. Diversos estudos
recentes concluíram que a maioria dos alunos de ensino primário chegam ao final da 7ª classe de
escolaridade sem saber ler e escrever (Lusa, 2011)1. É neste prisma que motivou a proponente a
elaborar esse estudo que se destina em apresentar um artigo proveniente da Escola Primária
Completa Eduardo Mondlane (1º e 2º Grau), situada na avenida Eduardo Mondlane na Ponta-
Gêa em frente a Sé Catedral. Apresentaremos também a revisão da literatura onde abordaremos
os principais conceitos ligados a dislexia e perturbações associados, contextualizando ainda a
análise de resultados apurados na entrevista entre outros pontos julgados pertinentes.

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Disponível a 19 de Julho de 2021 em http://diariodigital.sapo.pt/lusa/artigo/12960858.html

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I Capítulo: Revisão da literatura

1.1. Conceitos
Etimologicamente na palavra dislexia, dis significa dificuldade, perturbação, e lexia é igual a
leitura no latim, e linguagem no grego. O termo dislexia refere-se a dificuldades na leitura, ou
dificuldades na linguagem. Encontramos hoje uma enorme variedade de hipóteses etiológicas
que concordam com as correntes teóricas que lhe são subjacentes (médicas, psicológicas,
sociológicos e pedagógicas), para definir o termo dislexia, segundo Ekwal e Shanker (1983)
citado por Hennigh (2003). Contudo, os investigadores têm tido dificuldades em defini-las.

Segundo Snowling, (2004, p. 24-25):

“A dislexia é uma das diversas incapacidades distintas na aprendizagem. É um distúrbio específico


baseado na linguagem de origem constitucional, caracterizado por dificuldades na descodificação
de palavras isoladas que geralmente reflectem habilidades insuficientes de processamento
fonológico”.

Segundo o mesmo autor, dislexia manifesta-se por uma dificuldade variável em diferentes
formas de linguagem, incluindo, além do problema na leitura, um problema conspícuo na
aquisição de proficiência na escrita e no soletrar.

Julgamos ser oportuno definirmos dificuldades de aprendizagem quando observamos no aluno a


incapacidade de não conseguir acompanhar o ritmo normal de aprendizagem em comparação
com o restante do grupo. Neste trabalho, entende-se por dificuldade de aprendizagem um
distúrbio em um ou mais dos processos psicológicos básicos envolvidos no entendimento ou no
uso da linguagem, falada ou escrita, que pode se manifestar em uma aptidão imperfeita para
ouvir, pensar, falar, ler, escrever, soletrar ou realizar cálculos matemáticos (Grigorenko,
Sterneberg & Robert, 2003).

Face aos conceitos acimas definidos considera-se crucial o papel do professor bem como dos
pais e ou encarregados de educação em impulsionar e até mesmo valorizar a criança com esse
tipo de incapacidade, entusiasmando-a para realizar tentativas, entendendo o seu desempenho
como o melhor que pode obter naquele momento, e dando-lhe a força e a esperança para sua
melhoria. A dificuldade de aprendizagem não deveria ser encarada como algo oposto à
aprendizagem. Porque o erro faz parte do processo, ele deveria ser encarado como algo
construtivo no processo de aprendizagem.

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II Capítulo: Trabalho do Campo

2.1. O Trabalho do campo foi realizado na Escola Primária Completa Eduardo


Mondlane
A Escola Primaria Completa Eduardo Mondlane é uma escola estatal, localiza-se no bairro de
Ponta-Gêa e reúne os três ciclos de ensino. Na sexta e sétima classes, onde ocorreu este estudo,
lecciona-se cinco disciplinas, nomeadamente: Português, Matemática, Ciências Naturais,
Ciências Socais e Educação Visual. No momento da realização deste estudo, a escola contava
com seis salas de aulas, 31 professores (2 homens e 29 mulheres) e 1.265 alunos repartidos em
23 turmas de idades compreendida entre 6 a 17 anos. O rácio professor/aluno face a situação de
Covid-19 é de 25 alunos. A equipa gestora era composta por uma directora, e uma comissão
pedagógica, uma chefe da secretaria e dois auxiliares administrativos para além de um agente da
limpeza. As aulas decorriam em três turnos tal como descreve a Tabela:

Turnos Turmas/Classes Início Fim


Turno 1 Três turmas de 7ª classe; 6h40min 10h40min
Três turmas de 6ª classe; e
Três turmas de 5ª classe
Turno 2 10h50min 13h50min
Turno 3 14h00min 17h00min

Como forma de conferir maior autenticidade ao presente trabalho, a proponente preparou dois
inquéritos por questionário para recolha de dados, o primeiro direccionado aos professores e o
segundo direccionado alguns pais turma e/ou encarregados de educação. Os inquéritos em
referência explicitam sobre a dislexia em crianças que se encontram no processo de ensino-
aprendizagem e a inclusão dos pais turma nestes inquéritos é mesmo para inteiração entre
professores com crianças disléxicas e os pais. Face a isso e segundo alguns autores como Rief e
Heimburge (2000, p. 127) sublinham que “os pais devem estar dispostos a partilhar informações
com os professores, assim como devem tentar saber como podem ajudar e apoiar o professor de
todas as maneiras possíveis” (e vice-versa).

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2.2. Perguntas inqueridas aos entrevistados
 Para os professores:
1. Que tipo de metodologia tem usado para os alunos disléxicos ou que tenham
dificuldades na leitura e na escrita?
2. Até que ponto essa estratégia que aplicou foi possível obter resultados?
3. Na assistência às aulas: quantas vezes o professor interage com o aluno disléxico?
 E aos pais e/ou encarregados de educação as seguintes questões:
1. Como é que os pais turma interagem com os alunos que têm dificuldades na
aprendizagem da leitura e escrita?

Para o efeito, a proponente deslocou-se à Escola Primária Completa Eduardo Mondlane onde
procedeu a assistência de aulas em duas turmas distintas e a posterior fez o inquérito a 10
professores e 4 pais turma, as tais envolvidas na assistência às aulas.

2.3. Principais constatações


Nas duas turmas em que a proponente assistiu as aulas na disciplina de Português observou com
preocupação que cerca de 64% dos 50 alunos da quinta e sexta classes possuem dificuldades da
leitura e escrita evidenciando-se sobretudo dificuldade enorme na leitura. Alguns até escrevem
imitando aquilo que o professor escreveu no quadro preto. Todavia, quando o docente diz para
decifrar o que escreveu não consegue. Notamos ainda que nessas turmas existem quatro (4)
crianças bastante hiperactivas face ao comportamento que demostrava no decurso das aulas.

2.4. Resultados do Estudo


Face aos resultados obtidos, dois dos professores entrevistados defendem o método descritivo
com imagens e palavras descritas debaixo das figuras, utilizando também o método repetitivo das
palavras sem figuras mas que sejam do conhecimento da criança. Algumas técnicas
implementadas são: a observação, a explicitação da regra, os desenhos e o questionamento. Neste
contexto, os professores explicaram que as crianças são incentivadas a expressar os seus
problemas e isso facilita a localização dos erros para poder ser remediados efectivamente.

Segundo professora de Português da Escola Primária Eduardo Mondlane, quanto mais cedo se
identificar as dificuldades dos alunos, mais fácil será para resolvê-las antes que a criança
consolide os procedimentos errados”. Portanto a mesma professora indicou que as aulas de

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recuperação de alunos com dificuldades de leitura e escrita podem decorrer no momento das
aulas normais, dentro da sala de aula praticando a pedagogia diferenciada. Nestes momentos, os
alunos são agrupados de acordo com as dificuldades identificadas e prepararam-se exercícios
particulares a serem resolvidos durante 20 minutos.

2.5. Contextualização face a realidade moçambicana


Pensando no contexto moçambicano, os resultados deste estudo poderão, por um lado, inspirar a
revisão da lei nº18/2018 de 28 de Dezembro que estabelece o regime jurídico do Sistema
Nacional de Educação (SNE) o que permitirá o Estado moçambicano e duma forma específica, o
Ministério da Educação na implementação eficaz de um programa nacional de apoio ao sucesso
escolar de todos os alunos moçambicanos. Por outro lado, as escolas moçambicanas poderão
encontrar exemplos e estratégias de melhorar o atendimento dos alunos com dificuldades de
leitura e de escrita. Especialmente, os professores envolvidos neste estudo poderão desenvolver
uma visão de como e quando devem apoiar os alunos disléxicos e sobretudo as crianças
hiperactivas. Para os pesquisadores, este estudo poderá trazer algumas linhas de reflexão
particulares, entre outras, as filosofias que estão por detrás dos programas de ensino primário.

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III Capítulo: Sugestões e Conclusão

3.1. Sugestões
Do estudo realizado, a proponente achou viável deixar as seguintes sugestões:

 Que os professores devem prestar maior atenção a todos alunos na sala de aula, com
maior enfoque à criança com dificuldades de aprendizagem nos processos simbólicos
como a fala, a leitura e escrita, o que traz dificuldades em todas as outras disciplinas.
Quer aos alunos com o carácter deprimido ou quer os outros que possuem um carácter de
maior abertura o professor deverá criar e aplicar metodologias inclusivas de modo a
envolver todo o tipo de Personalidade dos alunos.
 Citando Rocha em 2004, refere que uma criança disléxica apresenta uma leitura hesitante,
memória visual pobre, quando estão em causa símbolos linguísticos, dificuldades em
aplicar o que foi lido à situações sociais ou de aprendizagem entre outras dificuldades.
Pelo que há necessidade de se criar nesses alunos uma grande motivação, por esse ser um
dos elementos de grande importância no processo de ensino-aprendizagem.

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3.2. Conclusão
Chegados á este ponto, a preponente julga ter sido produtivo trabalhar sobre o tema que escolheu
porque deu-lhe uma visão e um conhecimento mais aprofundado tanto na assistência às aulas
como nos inquéritos efectuados sobre a dislexia e como ela manifesta no indivíduo. Apesar do
conhecimento das dificuldades de leitura e escrita, a escola não sabe como encaminhar a criança
com dislexia, principalmente nos casos onde a família se redime da responsabilidade, não
apoiando o professor e a escola. Foi possível também, através do estudo concluir que a dislexia é
um factor de estudos científicos que quanto mais cedo for diagnosticada, maiores serão os
resultados eficazes do tratamento e das estratégias de acções voltadas para este indivíduo.
Portanto, o Sistema Nacional de Educação, no País deve considerar a Educação como uma das
suas prioridades Nacionais e melhorar as condições escolares em termos de recursos humanos,
recursos materiais e recursos financeiros. Esta priorização deve ser verificada através do
aumento gradual e progressivo do orçamento alocado ao sector da Educação. Criar um quadro
nacional de ensino que garanta um atendimento personalizado dos alunos na sala aulas: Neste
quadro, deve haver (i) a limitação do número dos alunos por turma; (ii) programa de formação e
contratação dos professores mais exigente em termos de competência e habilidades; (iii)
fiscalização periódica do Ministério da Educação (direcções nacionais, provinciais e distritais)
sobre o alcance qualitativo e quantitativo das metas estabelecidas nas políticas nacionais de
educação;

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Manuais

Diploma Ministerial lei nº18/2018 de 28 de Dezembro

SERRA, H. ET AL. Cadernos de reeducação pedagógica – Dislexia 1. Porto: Porto Editora,


2003.

SNOWLING, Margaret J. Dislexia: Fala e Linguagem. Artmed: editora, 2004

Fontes Electrónicos

GRIGORENKO, E., Sternberg, L., & Robert, J. Crianças Rotuladas - O que é Necessário Saber
sobre as Dificuldades de Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed. 2003 Disponível a 22 de Julho
de 2021 em https://www.worldcat.org/title/criancas-rotuladas-o-que-e-necessario-saber-sobre-as-
dificuldades-de-aprendizagem/oclc/55935205

LUSA (2011). Governo mantém “passagens automáticas” no ensino primário, apesar das
críticas. Disponível a 19 de Julho de 2021 em http://diariodigital.sapo.pt/
lusa/artigo/12960858.html

RIEF, S. & HEIMBURGE, J. Como ensinar todos os alunos na sala de aula inclusiva:
estratégias prontas a usar, lições e actividades concebidas para ensinar alunos com
necessidades educativas especiais de aprendizagem diversas, vol. I, Colecção Educação
Especial. Porto: Porto Editora, 2000. Disponível a 23 de Julho de 2021 em
https://www.portoeditora.pt/ produtos/ficha/como-ensinar-todos-os-alunos-na-sala-de-aula-
inclusiva-1-vol-/128189

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