Você está na página 1de 5

Resoluções da Pré-Conferência Livre Popular de Teatro da Cidade de São

Paulo.

A Pré-Conferência Livre Popular de Teatro da Cidade de São Paulo foi realizada de


maneira on-line, entre os dias 24 e 25 de abril de 2021 das 9h às 13h, sob a organização
do Grupo de Trabalho de Teatro, com o objetivo de preparar as questões gerais do setor
cultural e sua ligação com as especificidades da linguagem teatral. Ao todo, a Pré-
conferência Livre Popular do Teatro da Cidade de São Paulo que recebeu 89 inscrições e
contou 40 pessoas presentes em seus dois dias.

Os trabalhos da Pré-conferência foram organizados em 6 momentos complementares que


tinham como objetivo compor um panorama de pensamento, crítica e propostas para
serem levadas à primeira Conferência Livre Popular dos Movimentos Culturais da Cidade
de São Paulo.
Assim, a discussão foi composta em uma estrutura que abarcou Introdução (onde foram
exibidos vídeos sobre o sistema, fundo, plano e conselho municipal de cultura) e 4 eixos
de debates (Conjuntura, Políticas Públicas, Sistema Municipal de Cultura e Auto-
organização). Por último, realizou-se a sistematização e aprovação das propostas e teses
apresentadas durante os dois dias.

Dessa, forma, considerando que:

1. Os antecedentes históricos do teatro popular na cidade de São Paulo nascem


ligados a processos à margem da produção hegemônica, e não se encontram nas
páginas da historiografia oficial do teatro brasileiro, salvo raras exceções. Entre
estas, por exemplo, estão o teatro anarquista do início do século XX, o Teatro
Experimental do Negro, o Teatro Estudantil de Pernambuco, Teatro Paulista do
Estudante (TPE), Teatro Popular Solano Trindade (TPST) e aqueles ligados à
experiência dos Centros Populares de Cultura (CPC), nascidos como impulso rumo
à democratização da arte e da cultura nos anos 1950-1960. Sob esta lógica de
organização, incompatível com a busca pelo lucro, prevalece a experimentação e a
troca entre espectador e produtor durante o próprio processo criativo. É neste
sentido que o processo de criação artística deste teatro pressupõe o trabalho
coletivo e um tempo de maturação próprio, que se tornam ainda mais evidentes
conforme o desenvolvimento e a consolidação do teatro de grupo.
2. Provenientes das classes trabalhadoras, aqueles envolvidos no processo de

formação histórica deste teatro precisaram sempre lidar com a árdua tarefa de
como tornar financeiramente viável seu trabalho artístico. Ao longo do tempo, foram

diversas as formas de financiamento encontradas pelas coletividades:

autofinanciamento a partir de sua auto-organização, formas diversas de cotização,

contribuição financeira dos próprios espectadores organizados, luta por verba e

recursos públicos através de instituições e organizações estatais, etc. Esta última

forma se tornou o eixo central em torno do qual girou o movimento Arte Contra a

Barbárie (inserir datas), que, além de consolidar parte da experiência do processo

histórico descrito anteriormente, reuniu uma série de grupos de teatro na luta

contra o aprofundamento da então designada barbárie mercadológica no campo

cultural ocorrido nas últimas duas décadas do século XX e início do século XXI até

os dias presentes. Seu manifesto reafirmava os direitos à produção, circulação e

fruição de bens culturais” e, em nome deles, denunciava como inaceitável a

mercantilização imposta à cultura, de tal forma que chamava o Estado a assumir

suas responsabilidades constitucionais. As conquistas com a organização do

Movimento Arte Contra a Barbárie resultaram na Lei de Fomento ao Teatro (numero

da lei), que buscava apoiar e fomentar grupos teatrais que possuíssem um trabalho

continuado de pesquisa e de produção.

3. O movimento traria ainda sólidos frutos para o campo cultural, visíveis na

proliferação dos grupos de teatro, na qualidade dos trabalhos artísticos

apresentados e na auto-organização dos trabalhadores da cultura em diversos

estados. Data deste período o que talvez tenha sido a experiência teatral mais

importante e frutífera desde o fim da ditadura civil-militar. No entanto, dados os

pressupostos desta forma de luta pelo financiamento, o movimento, ao longo do

percurso, se viu muitas vezes refém dos “tempos de vacas gordas”, se deparando

com os limites da lógica do edital, e, é claro, com os ataques do neoliberalismo.

4. Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, a barbárie no campo da cultura se

intensifica, não apenas pelo aprofundamento dos cortes e ataques do

neoliberalismo de Paulo Guedes, mas também através da extinção do Ministério da

Cultura, transformando-o em uma secretaria especial e nomeando secretários de

extrema-direita ou mesmo protofascistas, que interditam qualquer possibilidade de


diálogo entre as partes. Além disso, com o início da pandemia de Sars-CoV-2 em

2020 e a necessidade do isolamento social, o campo da cultura foi duramente

atingido pela impossibilidade da realização de suas atividades, o que refletiu no

fechamentos de espaços culturais e de encerramento de suas atividades. A Lei

Aldir Blanc (numero) foi, nesse contexto, uma vitória dos setores culturais sobre a

política de morte do governo Bolsonaro. Proposta e aprovada por parlamentares

aliados dos trabalhadores da cultura, tentou minimamente remediar os efeitos

catastróficos da crise e da pandemia. No entanto, sua implementação passou e

passa por dificuldades.

5. Nos âmbitos estadual e municipal, a hegemonia do PSDB em São Paulo fortaleceu

a prática do desmonte e da privatização dos aparelhos culturais e do “balcão de

negócios”, além de promover cortes e congelamentos derivados de sua política de

austeridade fiscal. Atualmente, a falta de transparência e de mecanismos

democráticos para a escolha das comissões julgadoras dos editais e dos gestores

dos aparelhos culturais municipais transformou, mais uma vez, a produção teatral

seja uma negócio de poucos, privando os trabalhadores da cultura de decidir

aspectos importantes de sua própria forma de produção.

A Pré-Conferência Livre Popular de Teatro da Cidade de São Paulo exige do poder


público (municipal, estadual e federal):

1. A implementação imediata e democrática do Sistema Municipal de Cultura.

2. A implementação novos mecanismos de eleição – mais democráticos, com


representação das entidades de classe – das bancas de seleção dos editais
públicos que garantam a pluralidade de ideias;

4. A participação democrática, via assembleias, dos fazedores e fazedoras de


cultura na distribuição de verbas, gestão e programação dos espaços culturais da
Cidade de São Paulo;

5. A implementação, ao lado de editais específicos para culturas negras, indígenas,


mulheres, lgbtti+, pessoas com deficiência (pcd) etc., de políticas afirmativas como
eixo estrutural de todas as políticas públicas da cidade, com a participação da
coletividade e reserva de percentuais (a serem debatidos e definidos), que
garantam a presença das pessoas historicamente marginalizadas e excluídas da e
na participação social, a partir do viés de classe.

7. A continuidade e a transformação da Lei Aldir Blanc em política de Estado.

8. O aumento e controle das verbas do orçamento da Cultura e da distribuição


democrática à periferia, ao Centro e a todas as expressões pouco valorizadas;

8. A criação de Centros de Referência do Teatro como o CRD da Dança, para as


diversas expressões teatrais.

9. O apoio imediato e urgente a todos os PLs que estão parados na Câmara


esperando votação; Comment [1]: Está confuso. Precisa
especificar, quais e onde, né?

10. A realização de radiografia do Teatro na cidade e região metropolitana .

Da mesma forma, a Pré-Conferência Livre Popular de Teatro da Cidade de São Paulo


resolve:

1. Criar os Conselhos Populares de Cultura, setoriais e livres, sem cadeiras, pensados a


partir da coletividade, sem a participação do Estado. Esses conselhos devem ser
estruturados pelo campo popular e levando em conta três eixos de ação:
 proteção social (sindicatos);
 produção e reprodução do trabalho (cooperativas interseccionais);
 luta política.

2. Estimular a formação do pensamento político democrático nas escolas de teatro e


articular o movimento teatral com os movimentos de trabalhadores da a Educação, Saúde
e outros movimentos sociais, para se opor ao pensamento neoliberal hegemônico sobre a
produção cultural.

15. Criar o “mês do teatro”, com um Festival de Teatro auto-organizado pelos Conselhos
Populares de Cultura.
16. Assumir a permanência desta Pré-conferência e colocar em prática a auto-
organização da categoria, sem as diretrizes do Estado, iniciando uma nova era de ações
políticas.

Você também pode gostar