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Enfermagem
Patrícia Benner
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Quarteto
Título
De Iniciado a Perito
Excelência e Poder na Prática Clínica de Enfermage,fü@Íg1ção Comemorativa)
Edição oJjgjpru•·'põ'.f"Pirtri:cii.'f·B~JW,!,J, Copyright (e) 2@(Jteservados Todos os Direitos
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Excelle11çf!.r;;n4 P'!i,yJ''r.iÚfÓinim/.!;{L.Lrsing Prat/jce (Commemorative Edition)
Firs\,Édition b§P11ifiçj;r']}êfiner, Ccip9right (e) 2&91, Ali Rights Reserved
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rl,dução I! ,:;.
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Anaf,'\lbuqlie.rgJ}lfQµé1rósJ;l':mvà colal:>oração Jle Belarmina Lourenço
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•colecção ( t
Enfermagem nº 3 \.
Coordenação da Coíêcção
Ana Albuquerque Queirós
Capa
João Ferrand
Edição
Quarteto Editora
AI. Calouste Gulbenkian, Lt. 5 - Sl. 6
3004-503 Coimbra
URL: http://quarteto.regiaocentro.net
Email: quarteto_editora@ip.pt
Execução Gráfica
Cláudia Mairos
Impressão
Tipografia Arte Pronta
: ~: .~~;~!~t~; i: :~i:Jt'iã~itt;\., //
(Os cti{~itgs qp títµfo original i4glês)peµerlç~m ao Proprietário da edição da Obra)
(e) TraiisIª1io'i), Quarteto Editorã; 2001{ l
(Originá\í:\ttgll~.l\Ianguage title f,·dlhlt9Prietor's edition ofthe Work)
Publicad~'-'~i~c~rdo com o editoi~~i;•::1, Pearson Education, lnc., publicando como PRENTICE
HALL, Inc. · •••••·· , ./
Published by ár,.ang_ement wi0p'ihe original publisher, Pearson Education, Inc., publishing as
PRENTICE HALL, me. f
Patrícia Benner / Qiifrteto ~f:lífora
Reservados todos os dft~1~:~ de acordo com a legislação em vigor
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DE INICIADO
A PERITO
Excelência e Poder na Prática Clínica de Enfermagem
Edição Comemorativa
Patricia Benner
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Quarteio
2001
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SUPERIOR
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PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
AGRADECIMENTOS .•....................................... 27
CAPÍTULO 1
A DESCOBERTA DO CONHECIMENTO
INCLUÍDO NA PRÁTICA DA ENFERMAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
CAPÍTULO 2
0 MODELO DREYFUS
DE AQUISIÇÃO DE COMPETÊNCIAS APLICADO À ENFERMAGEM . . . . . . . . . . . 41
Métodos ................................................ 44
Interpretação dos dados ..................................... 45
Estadol : Iniciado ......................................... 49
Estado 2: Iniciado avançado ................................. 50
Estado 3: Competente ...................................... 53
Estado 4: Proficiente ....................................... 54
6 1 De iniciado a perito
CAPÍTULO 3
ABORDAGEM INTERPRETATIVA DA IDENTIFICAÇÃO
65
E DA DESCRIÇÃO DOS CONHECIMENTOS CLÍNICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . • .
A avaliação das performances ................................ 70
Identificação dos domínios e de competências .................... 71
Resumo ................................................. 72
CAPÍTULO 4
A FUNÇÃO DE AJUDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
CAPÍTULO 5
A FUNÇÃO DE EDUCAÇÃO, DE ORIENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • 101
A função de guia:
tornar abordáveis os aspectos culturalmente inacessíveis de um doente . 113
Resumo e conclusões ...................................... 116
CAPÍTULO 6
A FUNÇÃO DE DIAGNÓSTICO E DE VIGILÂNCIA DO DOENTE . . . . . • . . . . . . . 119
Detectar e determinar
as mudanças significativas do estado do doente ................... 123
Fornecer um sinal de alarme precoce:
antecipar uma crise e uma deterioração do estado do doente
antes que os sinais explícitos confirmem o diagnóstico ............. 125
Antecipar os problemas: pensar no futuro ....................... 127
Compreender os pedidos e os comportamentos tipos de uma doença:
antecipar as necessidades do doente ........................... 129
Avaliar o potencial de cura do doente
e responder às diversas estratégias de tratamento .................. 130
Resumo e conclusões ...................................... 131
CAPÍTULO 7
A GESTÃO EFICAZ DE SITUAÇÕES DE EVOLUÇÃO RÁPIDA .............. 133
CAPÍTULO 8
A ADMINISTRAÇÃO
E A VIGILÂNCIA DOS PROTOCOLOS TERAPÊUTICOS ................... 145
CAPÍTULO 9
ASSEGURAR E VIGIAR A QUALIDADE DOS CUIDADOS ..•..........•... 159
CAPÍTULO 10
As COMPETÊNCIAS EM MATÉRIA
DE ORGANIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE TAREFAS . . . . . . . . . . . . • • . . . . . . . 171
CAPÍTULO 11
IMPLICAÇÕES PARA A INVESTIGAÇÃO
E A PRÁTICA CLÍNICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . • . . . 187
CAPÍTULO 12
IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
E PARA A EDUCAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
CAPÍTULO 13
PARA UMA NOVA IDENTIDADE
E UMA REDEFINIÇÃO DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . 215
CAPÍTULO 14
EXCELÊNCIA E PODER NA PRÁTICA DE ENFERMAGEM . . . . . . . . . . . . . . . . . 227
' Novice será traduzido por iniciado ou iniciada, caso a caso, e poderá também ser
traduzida pela palavra principiante. Nota da Tradutora (N. da T.)
12 \ De iniciado a perito
' Caring é uma palavra que ao longo deste livro será traduzida, caso a caso, por
cuidar, cuidar humano ou envolvimento humano nos cuidados. (N.da T.)
Nota Introdutória 1 13
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24 1 De iniciado a perito
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A DESCOBERTA DO CONHECIMENTO
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' Saber é a palavra que usaremos para traduzir a expressão no original know that,
que significa saber sobre alguma coisa. Nota da tradutora.(N.daT.)
' A expressão saber fazer será usada para traduzir a expressão usada pela autora
know how. (N da T).
A Descoberta do conhecimento incluído na prática da Enfermagem 1 33
' Connaisseurship, palavra usada no original que podemos traduzir por sabedoria.
(N da T)
A Descoberta do conhecimento incluído na prática da Enfermagem 1 35
' Set é também uma palavra que se torna difícil de traduzir. Neste contexto
colocamos a opção por comportamentos tipos, seguindo a própria explicação dada pela
autora, isto é: uma predisposição a agir de certos modos de acordo com situações
particulares. (N. da T.)
A Descoberta do conhecimento incluído na prática da Enfermagem 1 37
As máximas
Resumo e conclusões
e
,s 0 lVIODELO DREYFUS DE AQUISIÇÃO
·S
s DE C()MPETÊNCIAS
e
s
APLICADO À ENFERMAGEM
J
O matemático e analista dos sistemas Stuart Dreyfus e o filósofo Hubert
Dreyfus desenvolveram um modelo de aquisição de competências fundado
sobre o estudo de jogadores de xadrez e de pilotos de aviões. O modelo
Dreyfus (Dreyfus & Dreyfus, 1980; Dreyfus, 1981) estabelece que, na
aquisição e no desenvolvimento de uma competência, um estudante passa
por cinco níveis sucessivos de proficiência: iniciado, iniciado avançado,
competente, proficiente e perito. Estes diferentes níveis são o reflexo de
mudanças, em três aspectos gerais, que se introduzem aquando da
aquisição de uma competência. O primeiro é a passagem de uma confiança
em princípios abstractos à utilização, a título de paradigma, de uma expe-
riência passada concreta; o segundo é a modificação da maneira como o
formando se apercebe de uma situação - não a vê tanto como um conjunto
de elementos tirados aqui e ali, mas como um todo no qual só algumas
partes são relevantes; o terceiro aspecto é a passagem de observador
desligado a executante envolvido. Este último já não está do lado de fora
da situação e do processo, mas está empenhado na situação.
Iremos apresentar os resultados de um estudo sistemático da
aplicabilidade deste modelo em enfermagem. As expressões
"competência" e "práticas competentes" serão utilizados indistintamente;
com efeito, as duas englobam a noção de cuidados de enfermagem
competentes e as capacidades de julgamento clínico. Em nenhum caso
estes termos serão utilizados para falar de capacidades psicomotoras ou
outras, demonstráveis fora do contexto normal da prática da enfermagem.
Assim, competências e práticas competentes referem-se aos cuidados de
enfermagem desenvolvidos em situações reais.
44 1 De 1niciaclo a perito
l\1étodos
Tinha trabalhado até tarde e estava quase para ir para casa quando uma
enfermeira tutora me diz: "Jolene, vem ver". Havia urgência na sua voz,
mas não como quando há uma paragem cardíaca. Entro e examino o
doente. A sua frequência cardíaca está nos 120, está sob respiração
artificial e a ventilação parecia normal. Pergunto: "O que é que não está
bem?". Uma recém diplomada que tratava do doente aponta um mar de
sangue.
Uma grande quantidade de sangue saia da sua boca. Esse homem
tinha sido submetido a uma ressecção de um cancro mandibular. Mais ou
menos uma semana atrás tinha sofrido uma hemorragia ao nível da
carótida externa, que tinha sido ligada, devido à sua ruptura causada pela
radioterapia. Essa ferida infectou-se e o doente fez uma insuficiência
respiratória, pela qual tinha sido internado nos tratamentos intensivos.
Examino assim o penso e constato que está seco. Mais sangue saia da
sua boca. O homem tinha uma traqueostomia por causa da operação à
qual se submeteu. Tinha também uma sonda nasogástrica para o
alimentar, e penso que talvez a artéria carótida ou o tronco bráquio-
cefálico tinha cedido. Desligámos o doente do respirador para ver se
qualquer coisa saía da traqueia. Havia um pouco de sangue, mas parecia
que quase tudo tinha passado da faringe aos pulmões. Começámos então
por ventilá-lo ma-nualmente tentando adivinhar o que poderia estar na sua
boca para fazer sair uma tão grande quantidade de sangue...
Esse homem era alguém de muito simpático, muito vivo, muito alerta
e atento. Infelizmente era necessário aspirá-lo, aproximadamente todas as
horas ou de duas em duas, para lhe serem retiradas quantidades mo-
deradas de secreções vindas da traqueia. Essas secreções tinham um
aspecto resistente e uma cor ligeiramente acastanhada. Infelizmente, ele
não suportava muito bem a aspiração das secreções. Punham-no numa
situação de desconforto, faziam-no tossir, moderadamente, e davam-lhe
vómitos, o que por sua vez lhe provocavam uma subida passageira da
pressão arterial. No fim de um desses momentos de aspiração, enquanto
estava a trocar seu aerossol, pôs-se a tossir e a cuspir quantidades muito
importantes de sangue vermelho vivo. Comecei a entrar em pânico, pedi
ajuda à enfermeira do lado, pu-lo ligeiramente em posição de Trendelen-
burg e acelerei a sua perfusão. Continuei ligeiramente em pânico e até um
pouco mais.
As iniciadas não têm nenhuma experiência das situações com que elas
possam ser confrontadas. Para as ensinar e permitir que elas adquiram
experiência tão necessária ao desenvolvimento das suas competências, são-
lhes descritas situações em termos de elementos objectivos tais como: o
peso, os líquidos ingeridos e eliminados, a pressão arterial, a pulsação e
outros parâmetros objectivamente medíveis, que permitam conhecer a
condição de um doente - características identificáveis sem experiência
clínica. São-lhes igualmente ensinadas as normas, independentemente do
contexto, para guiar os seus actos em função dos diversos elementos. Por
exemplo:
: de \i:•, 111ud:mça dos pensos"; "verifique se o doente olha para a ferida ou lhe toca
> de em quando". Mas essas indicações dependem dos conhecimentos
o à dfiquele que cuida, nesse ponto preciso do seu trabalho quotidiano. Assim,
podemos explicitar certos aspectos, é impossível torná-los
objectivos. A enfermeira pode retirar indícios pela maneira
,,;;i•iuu o doente coloca as perguntas sobre a operação ou o estado da sua
J(:nç1a,.aq1ua.noo da mudança dos pensos, mas nenhuma dessa indicações é
•;'{i•··;•1fílt.!,i"da em todas as situações. A enfermeira tem que ter muita experiência
ser de poder aplicar os seus critérios em cada um dos doentes.
elas principiante avançada ou a pessoa que a orienta podem formular
vos que ditam as acções em termos de atributos e de aspectos. Esses
fica que pressupõem elementos significativos fundados sobre a
são apelidos de "indicações". Elas integram tanto quanto
·eal. atributos e aspectos, mas têm tendência a ignorar o que as
; do •'·//;/ •rlifPrPn,,-, 0 de uma maneira importante, isto é, que elas dêem a todos os
tzer, e a todos os aspectos a mesma importância. É o que ilustra os
das de uma enfermeira perita em relação à enfermeira principiante
cias serviço de cuidados intensivos em neonatologia:
1en-
ou- Dou instruções muito detalhadas e muito explícitas à recém
,is a diplomada: "Quando entrar e vir o bebé pela primeira vez, tome-lhe os
lhe sinais vitais e faça um exame físico. Verifique, de seguida, os pontos de
sua injecção das perfurações assim como o respirador e assegure-se que
funciona. Verifique os monitores e os alarmes." E é o que elas fazem
exactamente ponto por ponto, independentemente do que aconteça ... Elas
52 1 De iniciado a perito
seriam incapazes de fazer uma triagem entre o que pode ficar de lado e o
que é mais importante. Seriam incapazes de ir de um bebé para o outro
fazendo o que é mais importante e desempenhar mais tarde o resto da
tarefas.
As principiantes e as principiantes avançadas só podem apreender um
pequeno aspecto da situação: isso tudo é muito novo, muito estranho e cada
vez mais têm que se concentrar nas regras que lhes ensinaram.
A enfermeira perita continua:
npo
ndo Estado 3: Competente
irá
ou A enfermeira competente trabalha no mesmo serviço há dois ou três
e a anos: Torna-se competente quando começa a aperceber-se dos seus actos
;erá eln termos objectivos ou dos planos a longo prazo dos quais está cons-
1tas ciente. Este plano dita quais os atributos e aspectos da situação presente ou
dos prevista que devem ser considerados como os mais importantes, e os que
podem ser ignorados. Assim, para a enfermeira competente, um plano
;em estabelece uma perspectiva e baseia-se sobre uma análise consciente,
ser abstracta e analítica do problema. Uma orientadora descreve como ela
por evoluiu do estado estímulo-resposta ao da competência adquirida ao longo
dos da prática da enfermagem:
vas
aos Tinha quatro doentes. Um tinha de aprender a tomar conta da sua
IS O colostomia, os outros necessitavam de muito mais coisas. Estava ocupada
dos com variadíssimas coisas. A perfusão de um tinha acabado e tive que
paz resolver a situação, de seguida, tinha-me esquecido de dar alguns
ada medicamentos e tive que me despachar para distribui-los. Depois, alguém
em começou a ter náuseas e tentei reconfortá-lo. E por fim, a bolsa da
colostomia tinha-se descolado e tive que ensinar o doente a resolver a
situação. De repente, apercebi-me que a manhã já tinha acabado e que
ninguém tinha sido lavado.
Estado 4: Proficiente
suas acções são guiadas por máximas. A percepção é aqui uma palavra
chave. A perspectiva não é muito bem pensada mas "apresenta-se por si
mesma", porque é fundada sobre a experiência e os acontecimentos re-
centes. A descrição dada por uma enfermeira de um serviço de reanimação
neonatal diz respeito a enfermeiras principiantes que ilustra essa mudança:
Penso que a coisa mais importante que me ficou na cabeça nessas
últimas semanas foi saber se, ao cabo destes três meses, a recém
diplomada poderia tratar sem perigo, ou se sabia apenas fazer os cuidados
de enfermagem, ou mesmo só cumprir com as tarefas específicas. Para
mim, o objectivo dos cuidados de enfermagem é de levar uma criança de
um ponto A a um ponto B. Para isso, é necessário praticar actos. Mas os
cuidados de enfermagem não se resumem a um seguimento de actos ...
Desejava ver surgir uma luz de compreensão nos seus olhos: que ela
compreenda que este é o estado deste bebé hoje, e eis como eu quero que
este bebé esteja daqui a seis semanas. Que posso eu fazer, hoje, para
ajudar este bebé a estar cada vez melhor ao longo do trajecto? E é essa
da mudança que está a acontecer. Começou, agora, a ver as coisas como um
se todo e não como uma lista de tarefas a cumprir.
na
1ue A enfermeira proficiente aprende pela expenencia quais os
e acontecimentos típicos que acontecer numa determinada situação, e como
se pode reconhecer que o que era previsto não se cai concretizar. Trata-se
de uma teia de perspectivas e como o nota Stuart Dreyfus (1982):
1ma trecho. A enfermeira não diz que nunca se enganava, mas referia-se à sua
ões própria percepção - a sua capacidade de reconhecimento. Esse tipo de
ões certeza e de percepção parece ter pontos em comum com a capacidade de
via, reconhecer o rosto humano sem errar. Esta enfermeira diz que pode reco-
nhecer as mudanças frequentes nos psicóticos, devido aos seus quinze anos
de prática. Essa afirmação abre uma via de investigação interessante, se
esta certeza aparece empiricamente e, se for o caso, quais são as
sra, enfermeiras que a têm e em que condições.
, ao Esta enfermeira, de seguida, descreve uma situação onde sabe que um
ide, doente muito zangado é, por erro, diagnosticado como sendo psicótico.
Jle- Convencida de que o doente só está muito zangado diz: "vamos fazer um
1s. MMPI (Inventário de Personalidade Multi-fásica do Minnesota) para ver
quem tem razão." Continua: "tenho a certeza que tenho razão, pouco
por importa o resultado do IMMPI". Felizmente para ela os resultados
ada confirmaram o que tinha dito, e já tinha começado a cuidar o doente, com
ti ... sucesso, com base na sua avaliação. ..
dos Dreyfus e Dreyfus (1977) notam que:
de
1m, Enquanto o aprendiz de piloto, o estudante em línguas, o jogador de
xadrez ou o condutor seguem as regras, as suas competências estagnam e
em ficam medíocres. Mas com o domínio da actividade vem a transformação
!Ira da competência, mecanismo parecido ao que é produzido quando por um
ada cego que aprende a utilizar uma cana. O principiante ressente, na planta
de da mão, uma pressão que pode utilizar par detectar a presença de um
objecto distante tais como os passeios. Mas com a prática, já não é a
pressão que a pessoa cega sente na planta da mão mas simplesmente o
passeio. A cana transformar-se-á numa extensão do seu próprio corpo.
(p.12)
60 1 De iniciado a perito
(p.12)
pilotos a quem foi ensinado a seguir uma sequência fixa de leitura óptica
de instrumentos e de painéis. Os pesquisadores da aviação acharam que os
instrutores que tinham editado estas leis podiam encontrar os erros nos
quadros de bordo mais rapidamente que os estudantes. Perguntaram-se se
os instrutores aplicavam mais rapidamente e melhor as regras que os
aspirantes pilotos; seguiram os movimentos dos olhos dos instrutores e
acharam que não utilizavam de forma alguma as regras que ensinavam aos
seus alunos. Melhor, o não seguimento das regras permitia aos instrutores
agir mais depressa e melhor.
Assim, uma assunção importante do modelo de Dreyfus é que, com a
experiência e o domínio, a competência transforma-se. E esta mudança leva
a um melhoramento das actuações. Se, por exemplo, insistirmos para que
os pilotos peritos sigam as regras e as linhas orientadoras que utilizaram
quando eram principiantes, as suas actuações, no momento presente,
deteriorar-se-iam verdadeiramente.
Uma das implicações deste modelo é que os modelos estruturais
formais, a análise das decisões ou os modelos de processos não podem
descre-ver níveis avançados de actuações clínicas que podemos observar na
realidade. Uma abordagem interpretativa da descrição da prática dos
cuidados de enfermagem será apresentada no capítulo 3 como um meio de
descre-ver o processo de decisão rápida e global pelas peritas. Da mesma
forma, trata-se de um meio de apreender o contexto e as significações
inerentes à prática dos cuidados de enfermagem em situação real. Os
educadores e os conhecedores do seu ofício dedicaram-se ao problema de
descrever de forma satisfatória a extensão e a profundidade dos cuidados
de enfermagem em situação real. O processo de cuidados de enfermagem e
a análise das decisões são limitados na medida em que a dificuldade da
tarefa, a impor-tãncia relativa, os aspectos relacionais e os resultados de
uma prática competente não são completamente apreendidos se neles não
incluirmos o contexto, as intenções e as interpretações desta prática
competente.
CAPÍTUL() 3
Uma grande paite da sua habilidade (saber fazer) só podia ser transmitida na
situação.
Na prática, a variedade dos casos e as excepções escapam às descrições
dos manuais, mas cedem a pouco e pouco o passo à riqueza de situações,
similares ou não, encontradas pela enfermeira experiente. É esta demons-
tração que é indispensável ao neófito.
Todos os exemplos apresentados não reflectirão um nível de prática
qualificado ou experiente, mas todos serão o reflexo dos conhecimentos
clínicos. Encorajamos o leitor a procurar os domínios de conhecimentos
práticos que foram descritos no capítulo I: a hierarquização das diferenças
qualitativas, a prova do saber; as assunções, as expectativas e os
comportamentos tipo; os paradigmas; as máximas; e finalmente, as
competências desenvolvidas na sequência de uma delegação de
responsabilidade particular e não planeada da parte dos médicos ou de
outros membros da equipa de cuidados. Qualquer enfermeira pode
comparar estes exemplos com si-tuações similares ou não, tiradas da sua
própria vivência. Quando houver desacordo, acordo, questionamento,
aperfeiçoamento ou extensão dos exemplos será indício de que um novo
domínio de conhecimentos clínicos está a ser descoberto.
Em oposição à abordagem interpretativa fundada na situação, o modelo
de processo linear em cuidados de enfermagem pode verdadeiramente
esconder os conhecimentos clínicos decorrentes da prática quotidiana,
porque este modelo simplifica exageradamente e deixa desnecessariamente
de lado o contexto e o conteúdo dos actos de enfermagem. A prática da
enfermagem é de tipo racional e não pode portanto ser descrita de forma
adequada por estratégias que negligenciam o conteúdo, o contexto e a fun-
ção. Tanner (1983) chama a atenção para outras pesquisas que corroboram
o facto de que a enfermeira ou o médico começam por emitir muito cedo
uma hipótese antes de estabelecer um diagnóstico, coisa que o modelo de
Dreyfus qualifica de apreensão rápida do problema.
Se é possível descrever a experiência (Kuhn, 1979, p. 192), não po-
demos reconstituir a partir das narrações dos especialistas, e sob a forma de
etapas explícitas e claras, os processos mentais ou todos os elementos que
entram em linha de conta na sua capacidade de reconhecimento, e que lhes
permite fazer avaliações rápidas dos doentes. Isto não quer dizer no
entanto, que as consequências e as características dos actos das enfermeiras
experientes não podem ser observados e consignados sob a forma de
narrações explicativas.
70 1 De iniciado a perito
Resumo
1
1'
A FUNÇ1\0 DE i\JlfDA
Os doentes viram-se para as enfermeiras em busca de diferentes tipos de
ajuda que não esperam receber dos outros profissionais de saúde. Procurar
ajuda e recebê-la são dois problemas diferentes. Uma pessoa pode ser
ajudada sem o ter pedido, mas pode pedir ajuda sem ser capaz de a receber.
Acontece mesmo que a "ajuda" não ajude; por vezes, alguns indivíduos
tendo uma grande necessidade de guardar o controlo sobre si-próprios, não
são capazes de admitir que precisam de ajuda, quanto mais recebê-la.
Um grande número das enfermeiras que interrogámos pareciam cons-
cientes do facto de que o problema de receber e procurar ajuda dependia
dos indivíduos. Por vezes, escondiam a ajuda dada aos doentes e a sua
implicação pessoal por detrás de um pouco de humor ou de um ar despreo-
cupado. Em todos os casos, elas têm um cuidado extremo em limitar ao
máximo o sentimento de obrigação do doente para com elas; tentaram ser
delicadas, papel principal do "que presta cuidados" e evitar que se
estabeleça um contracto social ou que o doente se sinta em dívida para com
elas.
Isto não quer dizer que todas as enfermeiras foram de grande ajuda ou
fizeram prova de astúcia nesse papel. Era claro para elas que eram de maior
socorro para alguns doentes do que para outros. Reconheciam
frequentemente o interesse em terem no mesmo serviço enfermeiras
diferentes capazes de se ocuparem de doentes diferentes. No entanto, eu
própria fiquei francamente surpreendida perante a qualidade dos cuidados
que observei. Numa época em que o individualismo é rei e em que o poder
é o estatuto, são admitidos como sendo as forças que motivam as relações
humanas, eu esperava observar jogos de poder; em vez disso, ·encontrei
enfermeiras que lutavam por evitar este tipo de interacção.
No reinado da tecnologia, a dor humana e os dilemas são facilmente
reduzidos a "problemas a resolver". Estudamos separadamente o espírito e
r
76 1 De iniciado a perito
❖ Optimizar a participação do doente para que este controle a sua própria cura
❖ Interpretar os diferentes tipos de dor e escolher as estratégias apropriadas
para as controlar e gerir
❖ Reconfortar e comunicar pelo toque
❖ Trazer um apoio afectivo e informar as famílias dos doentes
❖ Guiar os doentes aquando das mudanças que aconteçam nos planos
emocional e físico - propor novas escolhas, eliminar as antigas: guiar,
educar, servir de intermediário
❖ Agir como mediador psicológico e cultural
❖ Utilizar objectivos com um fim terapêutico
❖ Estabelecer e manter um ambiente terapêutico
Exemplo 1
Comentário Reduzido
Exemplo II
Comentário Reduzido
A função de ajuda 1 81
Exemplo I
82 1 De iniciado a perito
Exemplo 1/
E 11esse dia, nós lavámos-lhe os cabelos, o que 11ão tinha sido feito
desde há semanas. Leva11tá1110-la da cw11a e fizemo-la sentar-se. Esse
si111ples exercício encantou-a, porque ela tinha estado tc7o doente que
linha sido obrigada a fica,· deitada de costas, onde w1w escara se estm•a
a formai: Todos estes peque11os nadas - lc1\'ar-lhe o cabelo, sentá-la,
mobilizar-lhe braços e pernas - fora/ll um verdadeiro prazer para ela. E
ela fez-nos saber disso.
Conjiolt-me o quanto era maravilhoso ter pessoas que lhe liam algo,
rntiio eu trouxe lllll /i1•ro. Ela tinha-me falado de u111 livro que lhe inte-
ressava, entc7o a sua prima, que era estudante de enfernwge111 no serl'iço,
e eu, orga11izámo-11os para lho lermos cada uma por sua \'ez.. E ela
adorava isso.
A função de ajuda \ 83
Comentário Reduzido
Exemplo I
Exemplo II
ficou sob controlo e que já não havia mais nada a fazei; Elizabeth
segurou o doente pelos ombros com muita firmeza, si111ples111e11te para
estar com ele durante esses momentos terríveis. Parecia-lhe que, pela sua
simples presença, ela reconfortava o doente.
Exemplo 1/l
Comentário Reduzido
Exemplo I
não tinha visto 110 dia anterio1: Depois da nossa conversa, ela tratoll-Se
com llma cinesiterapia.
Exemplo li
Como ele ficou muito calmo enquanto eu lhe falava, eu não podia
saber em absoluto se tinha conseguido convencê-lo. Eu pensava por
momentos que exigia demais, mas salientei que, enquanto amiga, sentia-
me obrigada a dizer o que pensava.
Na manhã seguinte, quando eu cheguei ao trabalho, vi-o sentado no
corredor, olhando pela janela. Perguntei-lhe o que tinha mudado para ele,
e ele respondeu-me: "Você tinha razão! Eu vou deixá-la ajudar-me a
curar-me o mais depressa possível!"
Acreditei verdadeiramente que tinha feito uma diferença na vida desse
homem ajudando-o a enfrentar as circunstâncias que ele pensava não
controlar, simplesmente ajudando-o a apelar aos seus recursos internos.
Comentário Reduzido
Exemplo
Exemplo I
Exemplo II
Comentário Reduzido
Exemplo l
Exemplo II
não era o caso. O marido, muito presente, queria tomar conta dela.
Quando eu a quis ajudar a ir à casa de banho, ele pediu para o fazer. Tirei
então as garrafas do pé de perfasão e levei toda a gente. E em vez de ser
eu a dizer-lhe que ela estava a ir muito bem com a relaxação e a
respiração.foi ele que tomou tudo em mãos, tão bem que eu o deixei fazer,
até porque me apercebia que ele o fazia bem e que tinha necessidade de
o fazer.
Entretanto, o médico chamou-me para saber em que ponto ela estava.
Não tinha havido nenhum progresso mas o trabalho de parto estava
normal. E ele disse-me: "Então, damos-lhe mais uma hora." Mas como a
situação continuava a não evoluir, ele quis fazer uma cesariana...
O médico veio e disse: "Vamos fazer-lha agora." Pedi-lhe que a
fizesse na sala de partos, deforma a que o marido pudesse estar presente,
porque os maridos não são admitidos na sala de operações. Além disso,
ela queria permanecer acordada; consegui encontrar um anestesista
habituado a este género de situações. Tudo correu bem. O marido pôde
ficar com a mulher e tirar fotografias.
Comentário Reduzido
Exemplo 1
" O que é que isso lhe interessa? Eu sou completamente louca." Achei-
lhe piada: "Então porque não me fala sobre isso?" Eu sabia desde o
início que havia muito sofrimento por debaixo daquela linguagem
agressiva - uma tal intensidade, quase uma agonia. Eu nem sequer
conhecia a história dela, não sabia nada sobre ela. Mas isso eu sabia. E,
ao longo do mês seguinte, eu descobri o porquê de todo esse sofrimento.
Exemplo II
Ela ensinou-me o que era estar prisioneira num corpo que não quer
fazer aquilo que queremos que ele faça. Ela ensinou-me o que era ser
mirada pelas outras pessoas e ser tratada como se fosse uma atrasada
mental, embora o seu espírito fosse são. Mas como o queixo cai, ou a
forma de falar é diferente, ou o aspecto é estranho, ou os braços têm
movimentos descoordenados, é-se tratado como se o espírito também
tivesse sofrido lesões. Ela ensinou-me o que era dispender tanto tempo e
energia tentando controlar o corpo até chegar ao ponto de não ter forças
para fazer seja o que for.
Exemplo III
começar a ser responsável por si mesmo, isso também lhe vai tomar o
tempo todo. Podemos dizer uma mensagem destas com muita
amabilidade e delicadeza, mas penso que deve ser dito ...
Comentário Reduzido
Exemplo
96 1 De iniciado a perito
não pode estar se111pre com eles: "Não é porque vocês séio crianças más,
mas porque me pede111 demasiado. É porque eu nüo posso corresponde,:
Isto néio quer dizer que eu néio gosto de vocês ou que não vos quero ver
e que néio me interesso pelo que vocês fazem." Ela age de u111aforma tüo
responsável que eu estou mesmo orgulhosa dela.
No ano passado, ela teve as suas primeiras férias, porque tinha
trabalhado o tempo suficiente enquanto assalariada para poder
beneficiar de férias pagas. Foi absolutamente maravilhoso para ela.
Quero dizer. .. parece tão simples, mas uma das coisas que te11ta111os
passar ao grupo, é que se se querem sentir bem na pele deles, devem fazer
coisas que podem ajudar nesse sentido. Sabe, as pessoas não se sentem
bem quando se dei-xam tomar a cargo por instituições como os serviços
sociais. Se se qui-ser sentir bem na sua pele, deverá provavelmente to111ar
medidas que permitirão sentir-se melho1: Parece tão evidente. E, no
entanto, o psiquiatra quase que não fala disso. Eu néio sei se eu alguma
vez ouvi falar disso estes anos todos nos quais eu trabalhei no serviço.
Isto é, que se se qui-ser sentir melhor, deve empreender coisas razoáveis...
E comportar-se como um cidadão responsável faz parte disso. Nós
enfatizamos a responsabilidade, uma responsabilidade completa. Se não
consegui,; aceite-o. E se se trata de algo que deve ser feito - co1110
ocupar-se das crianças, etc-, então confie esse cuidado disso a alguém
capaz.
Comentário Reduzido
el,,
A função de ajuda 1 97
Exemplo
Comentário Reduzido
Resumo e Conclusões
A FUNÇÃO DE EDUCA.Ç,\O,
DE ÜRIENTA.Ç~ÃO
Já há muito tempo que as enfermeiras sabem o quanto é importante
educar o doente tendo em vista a intervenção cirúrgica, e depois a
recuperação. As enfermeiras fornecem pistas físicas e temporais ao doente
hospitalizado que não sabe o que o espera durante a doença. Mas o
ambiente hospitalar não é o único aspecto novo e estranho que acompanha
uma doença aguda. A própria doença substitui as respostas familiares do
corpo por outras, não habituais, que os doentes interpretam, correctamente
ou não; por vezes, tomam um sinal de melhoras por um sinal de
agravamento. Portanto, sempre que possível, as enfermeiras avisam os
doentes sobre o que devem esperar, corrigem as más interpretações e
fornecem explicações quando se produzem mudanças físicas.
Os médicos são vistos como demasiado ocupados para falar das
pequenas mISenas que acompanham os sintomas, mesmo se estas
preocupam por vezes os doentes. Estes últimos fazem muitas vezes as
perguntas, primeiro às enfermeiras, depois ao médico. Assim, as
enfermeiras adquirem conhecimentos que lhes permitem guiar um doente
ao longo da sua doença. Tornam familiar aquilo que assusta ou que é
estranho ao doente.
Se já é preciso ser muito competente para educar alguém quando as
condições são boas, torna-se muito mais delicado quando se trata de um
doente que tem medo. As enfermeiras experientes aprenderam a comunicar
e a transmitir informações em situações extremas. Assim, são obrigadas a
utilizar todos os seus recursos pessoais: a atitude, o tom de voz, o humor, a
competência, assim como qualquer outro tipo de abordagem ao doente.
Temos muito a aprender com os conhecimentos não escritos da
enfermeira quando ela exerce funções de educadora e de guia experiente
perto dos doentes. Mas aprender observando peritas necessita ter em conta
o contexto e evitar generalizar demasiado depressa. Por exemplo, a
1
educadora deve por vezes ser firme e "tornar as coisas em mãos" em vez do
doente que entra em pânico. Mais tarde, essa mesma enfermeira deverá
encorajar o doente a tornar conta de si mesmo. O tornar conta de si mesmo
é altamente recomendado, mas pedir isto no contexto dramático de urna
doença grave é muitas vezes irrealista.
A variabilidade dos pedidos, dos recursos e dos incómodos da situação
vai ao encontro de generalizações independentes do contexto. Por
conseguinte, passar-se-à ao lado de urna grande parte das competências
compreendidas nas funções de educação e de guia da perita se estudarmos
apenas as sessões de educação-orientação formalmente planificadas. É
preciso também observar a maneira como as peritas abordam os cuidados
de enfermagem nesse .domínio. Só simplificaremos esse papel se
procurarmos unicamente a transmissão de informações ou o ensino de
princípios formais, porque a aprendizagem mais significativa encontra-se
na maneira como um doente enfrenta a doença e mobiliza a sua energia
para curar. Estas enfermeira especializadas não propõem apenas
informações, elas oferecem maneiras de ser, de enfrentar e mesmo novas
perspectivas ao doente, graças às possibilidades e ao saber que decorrem de
uma boa prática de cuidados de enfermagem. As suas competências são
enumeradas no quadro que se segue:
Exemplo
Comentário Reduzido
Exemplo 1
Uma enfermeira perita descreve o papel que ela teve, no início da sua
carreira, ao ajudar uma mulher gravemente deficiente a reencontrar o gosto
pela vida.
Exemplo II
Comentário Reduzido
__
, _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _J
b. ..
A função de educação, de orientação 1 109
Exemplo I
Exemplo II
A doente era uma mulher de cerca de trinta anos que sofria de colite
ulcerosa e tinham acabado de lhe fazer a primeira parte de uma
intervenção em dois tempos. A primeira parte consistia na criação de um
bolso rectal (similar àquele que se faz no caso de uma ileostomia
continente, só que a pessoa guarda o controle do seu esfíncter anal e não
tem estomia). A pessoa tinha uma ileostomia temporal - a continuidade
l l O I De iniciado a perito
Comentário Reduzido
Como se admite cada vez mais que os doentes devem e querem saber o
que lhes fazem, a interpretação e explicação dos tratamentos tornaram-se
papéis chave nos cuidados de enfermagem. Elas necessitam da
competência e da descrição. A enfermeira deve avaliar até que ponto o
doente precisa de informações e quer ser informado. Ela deve, portanto,
encontrar um vocabulário que o doente possa entender. Por vezes, ela deve
também admitir os limites da sua própria compreensão.
Exemplo!
Exemplo li
Comentário Reduzido
Exemplo I
Uma enfermeira descreve o seu encontro com um jovem que tem quase
a mesma idade que ela e que estava de visita ao pai moribundo. O estado
deste último tinha-se deteriorado subitamente e a família estava
completamente desalentada. O filho parou a enfermeira no corredor e
perguntou-lhe quanto tempo de vida tinha o pai. A enfermeira disse que,
sinceramente, ela não sabia e que podia ser uma questão de minutos, horas,
dias ou semanas - não havia meio de saber. Ele perguntou então se havia
outros doentes moribundos no serviço. A enfermeira confirmou.
Comentário Reduzido
Exemplo II
Uma jovem de trinta e cinco anos tinha sido internada nos cuidados
intensivos. Era diabética desde a infância e, por causa desta doença, tinha
ficado cega. Tinha sofrido a enucleação do olho direito e a amputação,
abaixo do joelho, da perna direita, assim como outras operações. Como se
isto não bastasse, estava agora no hospital por causa de um enfarte. Quando
a enfermeira a encontrou pela primeira vez, a doente estava num estado de
confusão e foi preciso amarrá-la. Toda a gente no serviço pensava que o seu
estado era tão grave que mais valia para ela falecer. Pensavam que era uma
vergonha manter aquela mulher com vida por tentativa terapêutica.
A enfermeira descreve os cuidados dados a esta jovem durante esta fase
e a sua própria mudança de atitude quando esta jovem retomou consciência
e recuperou de novo toda a sua razão:
Falando com esta mulher, eu apercebi-me que nunca tinha visto uma tal
vontade de viver. Apesar de tudo o que lhe tinha acontecido - todas as
destruições que o seu corpo tinha sofrido - ela tinha o melhor
temperamento que eu jamais tinha encontrado. A sua família também
queria que fizéssemos o máximo para a manter com vida. Esta jovem disse-
me que tinha tido muitas dificuldades para convencer as pessoas de que
queria viver. Falou-me de um campo de férias reservado aos diabéticos,
onde tinham hesitado em aceitá-la, temendo que a sua diabetes não se
estabilizasse. A jovem tinha dito aos responsáveis que, se a encontrassem
morta, tinham de se lembrar que tinha morrido feliz ... Saber isso ajuda no
nosso serviço. Ela realmente impressionou-me muito. Era fácil cuidar dela
depois desta conversa ... Eu levava-lhe livros, e com a sua família !íamo-los
às vezes.
116 1 De iniciado a perito
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Resumo e Conclusões
A l?UNÇ1lO DE DL\GNÓSrfll~O
E DE VIGIL.4.NCIA DO DOENTE
A enfermeira viu a sua função de diagnóstico e de vigilância
desenvolver-se de forma importante, à medida que o número de doenças e
de intervenções por doente aumentou de uma forma quase exponencial no
decorrer dos últimos decénios. Numerosos testes diagnósticos e
intervenções terapêuticas necessitam uma vigilância atenta, e as margens
de segurança são muitas vezes pequenas. A enfermeira que cuida de
doentes que sofreram um transplante, por exemplo, aprende rapidamente a
reco-nhecer os primeiros sinais de infecção e de rejeição. A que se
especializa em cardiologia aprende a reconhecer a zona estreita que existe
entre a segurança e a toxicidade de um certo número de medicamentos
fortes. E a maior parte das especialidades necessitam uma vigilância muito
cerrada do equilíbrio hidro-electrolítico. A vigilância prudente e a detecção
precoce dos problemas são a primeira forma de defesa do doente.
Numerosos medicamentos só podem ser utilizados sem perigo se
seguirmos os seus efeitos, e se as suas incompatibilidades e efeitos
secundários forem descobertos muito cedo.
De facto, se a função de diagnóstico e de vigilância da enfermeira não é
necessária, o doente em geral não é hospitalizado, porque este último ou a sua
famHia podem seguir as prescrições em casa. Assim, as funções de
diagnóstico e de vigilância do doente constituem a tarefa principal da
enfermeira, mesmo se as enfermeiras não conseguem fazer reconhecer
completamente este papel. Contando como elas detectaram precocemente
sinais de alarme, as enfermeiras muitas vezes relataram os factos como se
não tivessem sido elas a fazerem a descoberta. Era como se elas dissessem:
"no melhor dos mundos, não há complicações e, no caso contrário, o médico
estará lá para reconhecer os primeiros sinais da deterioração do estado do
doente." Ora, na prática, é a enfermeira que passa mais tempo com o doente
e nota a maior parte das vezes os primeiros sinais. E isso é totalmente normal.
122 1 De iniciado a perito
Detectar e determinar
as mudanças significativas do estado do doente
Exemplo I
Exemplo II
Exemplo Ili
Comentário Reduzido
Exemplo I
Exemplo li
Comentário Reduzido
Exemplo
Comentário Reduzido
Exemplo
Comentário Reduzido
Exemplo
Comentário Reduzido
Resumo e Conclusões
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. 1:
CAPÍTULO 7
A GESTÃO El?ICAZ
DE SITUAÇÕES DE EVOLlTÇÃO RÁPIDA.
É muitas vezes por ser a primeira a reparar nos sinais de deterioração do
estado de um doente que a enfermeira toma a cargo rapidamente as mudanças
de situação, até à chegada do médico. Uma forma de interpretar este domínio
é qualificando-o de "ruptura no sistema" e esperar que as "rupturas" futuras
poderão ser evitadas; trata-se de uma abordagem do tipo "dar conta dos
incidentes". Mas uma tal abordagem é muito inealista e não permite enfrentar
eficazmente a situação. É, por exemplo, ÍITealista pretender que os médicos
estejam sempre ali no momento preciso em que o estado do doente se
deteriorará. As enfermeiras tentam detectar as mudanças muito cedo, de forma
a prever que os médicos estejam disponíveis em caso de urgência; os hospitais
tentam ter médicos de serviço o tempo todo, mas as urgências baralham sempre
a melhor das planificações, e é à enfermeira que cabe tomar tudo a cargo até à
chegada do médico. Muitas vezes, isto significa que é ela que pede os exames
de laboratório ou põe uma pe1fusão para antecipar a injecção em urgência de
medicamentos por via intravenosa. Este domínio deve ser explorado mais
adiante e ser melhor reconhecido, de forma a que as enfermeiras possam estar
melhor preparadas para enfrentar estas situações de crise.
Os hospitais têm equipas sempre prontas para as paragens cardíacas, mas
numerosas urgências ou doentes "cujo estado muda rapidamente" não
relevam destas equipas de reanimação. Um eITo de orientação pode por vezes
pôr de novo o doente numa situação crítica. Os exemplos neste domínio (ver
qua-dro) mostram que a enfermeira coordena e dirige as intervenções dos
outros membros da equipa de saúde. Na altura de uma urgência, a enfermeira
funciona como um generalista que coordena as funções de diversos
especialistas. Em situações que exigem imperativamente acções rápidas, o
doente tem com certeza sorte se urna enfermeira experiente se encontrar aí
para coordenar o conjunto das operações de forma a que enos e actos inúteis
sejam evitados.
136 1 De iniciado a perito
Exemplo I
Exemplo II
sistólica da doellle caiu a 70 mmHg e foi então que eu decidi fazer uma
segunda perfusão e fazer correr Ringer tão depressa quanto possível, em
função da subida da tensão.
Mais ou menos uma hora depois da sua chegada às urgências, a
minha doente foi transportada ao bloco operatório. Teve uma paragelll
cardíaca no momento em que a puseram na mesa de operações mas,
felizmente, pudera/ll reanimá-la. O cirurgião veio mais tarde pedir
desculpa e adlllitiu que esta doente tinha tido um choque hipovolémico e
que ele não devia ter demorado tanto. Eu sabia desde o início que a
minha doente se esvaía e/ll sangue sob os meus olhos. O que me enfureceu
mais, tinha sido a minha impotência em consciencializar os médicos
disso. Eu gostei das desculpas do médico, deve ter sido difícil. Ele tomou
também o tempo de me felicitar pelas minhas competências e disse-me
que pensava que tinha sido eu a manter a doente com vida até à sua
chegada ao bloco.
Comentário Reduzido
Exemplo I
Estas duas horas são típicas do que se passa num serviço de urgências.
É preciso saber continuamente em que ponto estão os recursos do serviço
e enfrentar o que ocorre. São as enfermeiras que o fazem, o médico tem
raramente uma visão de conjunto do que se passa.
Exemplo II
Comentário Reduzido
Exemplo III
1 Comentário Reduzido
;'1
'
Exemplo I
que o mais prol'ável era a /zíper glicelllia. Pedi ao laboratório que li/e
c/esselll a sua glicemia; quando os resultados chegaralll, ela estava a mais
de 600mg%. Foi nesse momento que consegui contactar o assistente do
cirurgic7o, finalmente de regresso. Ele deu as prescrições necessárias em
funçc7o da glicelllia do doente e conseguimos por fim estabilizá-lo,
Exemplo II
Exemplo Ili
b
A gestão eficaz de situações de evolução rápida 1 143
Comentário Reduzido
Resumo e Conclusões
i
CAPÍTULO 8
A A.DMINlSTl{t\ÇÃO E A VIGIL1\.NCL,\
DOS PROTOCOLOS TERAPÊUTI(~OS
Podemos encontrar descrições processuais das competências nesse
domínio em qualquer manual, mas os exemplos deste capítulo põem em
relevo os pedidos, os recursos e as contrariedades suplementares que
entram em jogo quando um doente e um contexto particular são
considerados. As enfermeiras esquecem-se muitas vezes de atribuir o
crédito das competências de que elas fazem prova em matéria de
administração de protocolos terapêuticos muitas vezes complicados. Um
grande número destas intervenções foram delegadas à enfermeira de uma
maneira oportuna; novas práticas e novas competências desenvolveram-se
no seu rasto. Foram conduzidos numerosos estudos que cronometraram as
cargas de trabalho em cuidados de enfermagem para nos ajudar a dominar
os custos, mas não temos quase nenhuma descrição sistemática de actos
que demonstram a evolução da competência no seguimento da afinação das
novas terapias. As recém-licenciadas acharam que para seguir os novos
procedimentos que lhes foram ensinados, necessitam de mais competências
complexas que aquelas que lhes foram ensinadas na escola ou durante a sua
experiência clínica perto de um ou dois doentes.
Exemplo I
Exemplo II
Comentário Reduzido
Exemplo 1
>
A administração e a vigilância dos protocolos terapêuticos 1 151
Exemplo II
Exemplo III
Comentário Reduzido
Exemplo I
Exemplo II
Exemplo III
Comentário Reduzido
Exemplo I
Exemplo II
Comentário Reduzido
Resumo e Conclusões
ASSEGURAR E VIGIAR
A QUALIDADE DOS CUIDADOS
Porque estão sempre presentes e coordenam as relações entre o doente
e os diferentes membros da equipa de cuidados, as enfermeiras têm a
possibilidade de prevenir e de detectar os erros; elas estão particularmente
atentas durante o estado inicial de aprendizagem dos novos internos.
Durante as entrevistas, as enfermeiras evocaram sem nenhum orgulho, e até
mesmo com desgosto, o tempo passado a prevenir e detectar erros. Essas
competências (ver quadro) não foram apresentadas tais como elas são, mas
como "falhas do sistema" parecidas .com as intervenções de urgência
descritas no capítulo 7. Está subentendido que o sistema deveria melhorar
e que erros potencialmente perigosos nunca deveriam acontecer.
' Lewis Thomas. The Youngest science: notes o/ a 111edici11e-watcher, New York,
Viking Press, 1983, p. 679.
Assegurar e vigiar a qualidade dos cuidados 1 163
sensível aos sinais não habituais que indicam que o doente vai ter
problemas. As enfermeiras devem também ter um sentido aguçado do
comportamento e da aparência habitual do doente para detectar mudanças
subtis mas significativas.
Exemplo I
Exemplo II
apenas 011\'ir o ar entrar de u111 dos lados. O seu 111édico de família foi
cha111ado e, qllando chegou, decidill (Jlle o doente estal'a e111
hiperventilação, pelo (Jlte pediu 11111 saco de papel para fazê-lo respirar
gás carbónico. Era ei•idente que o doente es/ava à beira da morte.
Recusei dar-lhe o saco, e cha111ei os Cllidados intensii•os: "Vüo receber
um doellte. Ele está muito mal. Quando c/1egw; quero que chame111 o
111édico responsá-vel," Agi assim porque nüo consegui111osfa~er co111 (Jlle
este médico co111pree11desse que o doe11te tinha necessidade de 11101/ina e
que em necessário introdltzir-lhe gazes 110 sangue. Era preciso
decidinnos se del'ía111os aliviar as suas dores ou tentar Tratar o seu mal.
O doente 111orre11; a sua doença era irreversíi•el. Mas, pelo menos, a
correcta avaliaçêío e as inten•enções destinadas a alil'iar a dor hm·im11
sido feitas.
Exemplo Ili
,,.
Assegurar e vigiar a qualidade dos cuidados 1 165
Comentário Reduzido
Exemplo I
Exemplo II
Comentário Reduzido
Exemplo
que a rnfer111eim chamara o médico para /l1e di~er que o doente estm•a
co111 dificuldades ligeiras de respiraçâo. Mas o médico pensou que a
enfermeira estava preocupada sem 1110ti1•0 e nâo i·eio i·er o doente.
Prescreveu 11111 analgésico.
Por volta das sete horas da manhâ, fui ver o doente. Este estm•a
luí111ido,ji-io, agitado e os seus sinais i•itais estm·a111 a mudw: linha ainda
mais dificuldade em respirar do que a que me tinha111 descrito,
transpirava, o seu pulso eslava ji-aco e ainda tinha dores. Telefonei ao
médico interno que o seguia regularmente e contei-lhe os acontecimentos
da noite. Ele rej/ectiu e perguntou-me se o chamava para lhe pedir outros
analgésicos para o doente. Mantendo a calma, disse-lhe que algo nc7o
estava bem e que 1·0/tar a administrar-lhe mais calmantes nâo resoll'eria
o problema. Acrescentei que solicitava a sua presença porque queria que
li/li médico i·iesse examinar o doente imediatamente. O médico veio logo
Comentário Reduzido
Resumo e Conlusõcs
culpabilidade por não ter detectado o e1To, seja qual for a fonte do mesmo.
No entanto, a enfermeira é a única a poder servir de ponte entre os
membros de diferentes disciplinas, coordenando os cuidados prestados ao
doente, de modo a que os esforços destes não entrem em conflito.
Questiono-me quando as enfermeiras afirmam com convicção que
respeitam sempre as prescrições dos médicos, apesar das mudanças que se
produzem no estado do doente. Nem sempre é possível ou mesmo
gratificante consultar um médico para pequenas modificações das
prescrições. Fico desiludida quando as enfermeiras seguem à letra as
prescrições do médico, no que diz respeito ao regime alimentar ou a outras
medidas de conforto, quando esta prescrição já não co1Tesponde à situação
e em que o bem-estar do doente é sacrificado no altar da obediência cega
ao médico. Concordo que, num plano ideal, o médico seja mantido ao
corrente das mudanças no estado do doente, que ele as antecipe e faça
prescrições flexíveis que permitam às enfermeiras tomar as suas decisões.
Mas, na rea-lidade quotidiana, a enfermeira perita deve utilizar o seu
julgamento mais do que a obediência cega, e uma decisão boa e lógica é
habitualmente respeitada.
Quando existe uma boa comunicação entre os médicos e as enfermeiras
e prevalece a colaboração, a flexibilidade aumenta, e é o doente que
beneficia. Quando esta comunicação não existe e as regras devem ser
seguidas à letra, os doentes passam frequentemente horas a receber líquidos
ou, pior, esperam inutilmente que lhe suprimamos o "ficar de jejum". Uma
certa flexibilidade foi desenvolvida no que diz respeito aos cuidados pós-
ope-ratórios, graças a prescrições de rotina modificáveis em função da
opinião da enfermeira sobre os progressos do doente. Estudos realizados
nos próprios serviços seriam úteis para realçar os repetidos atrasos na
modificação das prescrições médicas, o que acarreta para os doentes um
desconforto inútil. A conclusão de tais estudos poderia levar ao
estabelecimento de novos consensos entre médicos e enfermeiras no que
diz respeito aos problemas mais correntes.
CAPÍTULO 10
Exemplo I
continuar a ter a meu cargo poucos doentes, me dava conta de tudo o que
havia para fazer, do tempo que este trabalho levava, o que queria obter. ..
não sei. .. vinha aqui e alterava todos os meus panos, e fazia as camas.
Bastava que alguém me pedisse um copo de água ou outra coisa
qualquer, para que começasse a correr e me sobressaltasse cada vez que
um doente dizia alguma coisa. E isto apenas contribuía para me
desorganizar completamente. Porque não fazia mais nada que correr de
um lado para o outro e não chegava a lado nenhum. Então, aprendi a
estabelecer prioridades. A água não é uma verdadeira prioridade em
relação a uma injecção de um analgésico. Acabei por dizer: "Espere um
minuto, já volto. "
Se me tivessem visto ao início, não parava de passar no corredor, com
um ar abatido, quase em lágrimas porque nunca era capaz de fazer
grande coisa. Foi necessária muita ajuda. Actualmente, ainda tenho
momentos em que me sinto ultrapassada, quero dizer, isso acontece a
toda a gente quando se é desorganizado, mas, em geral, os cuidados da
manhã estão concluídos por volta das dez horas e os novos medicamentos
distribuídos logo de seguida, os sinais vitais medidos mais cedo, e as
coisas correm melhor. Agora, sinto mais compaixão e empatia pelos
doentes.
O investigador - Mais agora que aquando da sua chegada?
A recém diplomada - Oh, sim. Tinha demasiado medo de tudo para
prestar atenção aos meus doentes, quanto mais sentir simpatia por eles.
O investigador - Actualmente, estou certo de que se trata de um
comportamento típico e que isso faz parte do processo de aprendizagem.
Como conseguiu enfrentar esse problema? Os doentes tornam-se
objectos quando é necessário às enfermeiras coordenar tantas coisas. O
facto de passar tão frequentemente no corredor pode ser difícil no início.
A recém diplomada - Durante um certo tempo, interroguei-me se
realmente queria ser enfermeira. Com efeito, os doentes não eram a
minha prioridade. Já era tão duro para mim distribuir os meus
medicamentos e tudo o resto, que não me preocupava com eles. Agora,
não sei. Presto-lhes realmente atenção. Penso que não consigo descrever
o que se passava no início. Um dia, quando entrava num quarto, senti-me
em casa. Os doentes estavam nas suas camas e no seus lugares; eram
seres humanos que eu queria realmente aprender a conhecer, para
responder às suas necessidades. E senti-me bem.
176 1 De iniciado a perito
Exemplo li
Comentário Reduzido
tr
As competências em matéria de organização e distribuição de tarefas 1 177
Constituir e consolidar
uma equipa médica para prodigializar os melhores cuidados
Exemplo I
Exemplo II
1 j
i t; 178 1 De iniciado a perito
l
r
l
à equipa allterior para que esta pudesse exprimir os seus sentimentos a
propósito de um doente que se suicidara durante a noite. Eles
participaram igualmente na admissão de um novo doente para evitar o
caos no momento das transferências. Mas as relações elltre equipas
devem ser de sentido duplo. Assim, quando estas são fortes, é sempre
possível obter ajuda da equipa seguinte quando a equipa de serviço já
não consegue lidar com a situação.
A enfermeira perita - É extraordinário quando existem relações
suficientemente fortes com a equipa seguinte que nos permitam dizer,
quando se foi ultrapassado pelos acontecimentos, que houve coisas que
não se teve tempo de faze,: Diz-se: "úunento, tivemos de colocar de lado
isso, era necessário ocuparmo-nos de outra coisa mais urgente". E é
verdadeiramente extraordinário quando esta relação de simpatia existe.
Finalmente, esta competência inclui a capacidade de recrear ou
consolidar a equipa depois de uma crise.
Comentário Reduzido
>
As competências em matéria de organização e distribuição de tarefas 1 179
O investigador- Uma das coisas da qual não vos ouvi falar até hoje foi
das vossas relações com os vossos doentes.
A enfermeira 1 - Elas não existiam. Não havia tempo para desenvolver
relações privilegiadas com os doentes porque tínhamos muito que fazer.
180 1 De iniciado a perito
:j
1
J
b '1
As competências em matéria de organização e distribuição de tarefas 1 181
Planificar os acontecimentos
Exemplo I
Exemplo II
Exemplo
Exemplo
Quando uma única enfermeira tem a seu cargo entre vinte e quarenta
doentes e é a única profissional diplomada da equipa, ela não terá tempo de
estabelecer contactos pessoais com os doentes. Mas dado que há
numerosos pacientes que permanecem durante muito tempo no hospital, ou
porque sofrem de doenças crónicas (pelo que frequentemente se encontram
internados), ou porque o seu estado é bastante grave, a enfermeira acaba
por conhecer estas pessoas e sentir-se pessoalmente implicada pelo seu
destino.
Exemplo 1
Exemplo li
Exemplo I
Exemplo II
Exemplo III
o tal procedimento que é proibido seja realizado. Então, estas acções rea-
lizadas habitualmente pelas enfermeiras são feitas por elas, apesar das po-
líticas do hospital, sempre que as situações o exigem.
Comentário Reduzido
Resumo e conclusões
2
Enfermeira de referência ou enfermeira responsável é a forma que encontramos
para traduzir a expressão primary nursing (N. da T.).
CAPÍr.rULO 11
IMPLICAÇÕES
•
PA.RA A INVESTIGA.ÇÃO
, ,
E A PRA. TICA CLINICA
É um tributo à riqueza da prática em Enfermagem o facto de cada uma
das competências apresentadas nos sete domínios da prática de
enfermagem conduzir a numerosas implicações para a investigação, a
prática clínica, o desenvolvimento profissional e a educação. Abordarei os
dois primeiros pontos neste capítulo.
r
190 1 De iniciado a perito
Creio que as técnicas que visam impor uma certa distância entre elas e os
doentes, protegem insuficientemente as enfermeiras da dor da situação ao
mesmo tempo impedindo-as de aproveitar os recursos e as possibilidades
que engendra o compromisso face a estes doentes e às suas famílias.
Algumas enfermeiras pareciam menos envolvidas, mas tal tratava-se de
uma escolha deliberada, no entanto era uma minoria, como reflectem os
exemplos. Isto abre uma via de pesquisa interessante. O modelo de Dreyfus
de aquisição de competências diria que um certo nível de envolvimento é
necessário para que se desenvolva o sentido de observação. Um observador
"distante" tem menos possibilidades de notar mudanças subtis nos doentes.
Um certo nível de envolvimento é pois necessário para atingir o nível de
perícia. Quando elas trabalham e nos mostram exemplos de da sua perícia,
as enfermeiras que participaram neste estudo, desafiaram algumas das
nossas ideias formais e não formais no que diz respeito a saber se é
necessário manter ou não uma certa distância entre aquele que cuida e o
doente.
a sua doença a sua vida quotidiana. Uma doente, da qual já falámos aqui,
perguntava mesmo a uma enfermeira durante uma sessão de preparação a
uma mastectornia se a enfermeira já tinha sido submetida a uma, por causa
da sua maneira de agir e porque os conhecimentos que ela tinha dos pro-
blemas pelos quais passaram os pacientes depois de serem operados era
muito precisa. Desta forma, as enfermeiras como os doentes não conside-
ravam inconcebível que elas possam ter a experiência da mesma doença.
Quando falei disso às enfermeiras, elas disseram-me que era importante
para elas compreenderem bem aquilo com que o doente era confrontado,
para poderem bem trabalhar com doentes que sofram de doenças
patticulares. Os exemplos dados nos domínios da função de ajuda e de
educação propõem indicações que dizem respeito aos conhecimentos não
consignados sobre a relação única enfermeira/doente, que ficam por
desvendar pelos estudos etnográficos sobre casos clínicos existentes.
Já que é a partir de uma aprendizagem informal que as enfermeiras
aprendem estratégias de adaptação, assim como diferentes possibilidades
de evolução da doença e da sua cura, é obrigatório pensar que a procura
sistemática em cuidados de saúde orientados para a fenomenologia de
readaptação dariam à enfermeira competências e conhecimentos
suplementares no seu papel de guia e de educadora. Tais estudos deverão
ultrapassar as simples descrições das informações que os doentes querem
receber. É neces-sário que se tratasse de estudos etnográficos clínicos dos
processos de rea-daptação que apreenderão os problemas postos, as novas
exigências, os medos, os conflitos e as competências a adquirir através de
diferentes doentes tendo personalidades e características diferentes.
' R.Bellah, "Social science as practical rason", The Hastings Center Report, 12 (5),
32-39, 1982, p.66.
1
1
1
CAPÍTULO 12
ll\tIPLICA.ÇÕES
PARA O DESE1'1VOLVIl\tIENTO
PROFISSIONAi., E PARA A EDlJCAÇÃO
O modelo Dreyfus, aplicado aos cuidados de enfermagem mostra que
poderemos alcançar a especialização graças à experiência. Com efeito, é
permitido medir os riscos tomados pelas enfermeiras peritas, logo quando
elas são levadas a tomar uma decisão. É por isto que o modelo leva a
estabelecer um esquema de formação e de carreira precisa, para que as
enfermeiras no enquadramento saibam até onde é permitido ir quando se
trata de tomar iniciativas. As enfermeiras não são actualmente
reconhecidas pelo seu verdadeiro valor, porque alguns dos actos que elas
realizam não têm nenhuma existência legal. Segue-se um desperdício em
recursos humanos: as enfermeiras peritas não encontram o seu ganho, nem
em termos de salário, nem em termos de reconhecimento das suas
competências.
O modelo Dreyfus fornece um quadro permitindo pôr em prática um
plano de desenvolvimento profissional. Integra as competências e os co-
nhecimentos adquiridos graças à experiência. Toda a gente reconhece o
interesse da formação permanente e da especialização, mas pouca gente
se interessa na experiência clínica. Ora é sobre este último ponto que se
debruça o modelo Dreyfus e a aproximação interpretativa.
O Desenvolvimento profissional
Especialização clínica
1
Implicações para o desenvolvimento profissional e para a educação 1 205
Estabilidade do pessoal
Estratégias de avaliação
Reconhecimento do profissionalismo
A maior parte dos protocolos e directivas têm por objectivo garantir aos
doentes que eles serão tratados com toda a segurança por enfermeiras que
tenham um mínimo de competência. Mas este aspecto não tem em consi-
deração as enfermeiras clínicas peritas. Ora é necessário legitimar todo este
saber - fazer, fruto de numerosos anos de experiência. Aqui não se põe uma
questão de antiguidade, mas sim de competências reais. O seu
reconhecimento diminuirá enormemente o stress e o mal-estar vivido por
estes profissionais de saúde que têm um enorme valor. Concluindo, só uma
Implicações para o desenvolvimento profissional e para a educação 1 207
Especialização clínica
precoce num domínio poderá ser extremamente vantajosa no sentido que ela
dará aos estudantes a ocasião de adquirir conhecimentos clínicos particulares.
As enfermeiras obtêm muitas vezes o seu diploma sem compreenderem
bem como fazer para passar do nível iniciado - avançado a competente ou
proficiente. Com efeito, elas ignoram como adquirir novos conhecimentos.
A aquisição de um saber de alto nível num domínio preciso, mostrará ao
estudante de uma forma mais geral como adquirir conhecimentos
avançados. O objectivo dos programas de estudo é evidentemente o de
fornecer o máximo de conhecimentos teóricos em domínios muito
diferentes para formar pessoas polivalentes depois da obtenção do diploma.
Se a escola pro-põe ao menos uma formação especializada muito intensiva,
os estudantes serão, depois, capazes de seguir o mesmo mecanismo de
aprendizagem para adquirir uma segunda especialidade à sua escolha. O
risco reside no facto que uma especialização precoce poderá limitar a
enfermeira em termos de desenvolvimento profissional porque, em cada
momento de mu-dança, de orientação deverá voltar ao zero ou quase.
Ensino clínico
Pelo menos 70% dos membros do serviço deram a melhor nota a 17 dos
80 actos executados pelas recém-licenciadas. Este é um resultado bem me-
lhor que a avaliação feita pelas pessoas que participaram no estudo de
1978, o qual indicou que as recém-licenciadas não atinjam este nível
elevado para nenhuma das competências ... Se nós não considerarmos as
suas capacidades reais e não aquilo que eles querem saber fazer na sua
imaginação, as recém-licenciadas subestimaram a sua performance. Ao
menos 70% das recém-licenciadas pensavam ter atingido a perfeição em
vinte e quatro dos oitenta actos que executaram, contra 15 actos em 80 no
estudo de 1978. (Benner e ai. 1981).
' Estes resultados devem ser interpretados com prudência porque a taxa de volta das
respostas não foi mais do que de 18%, em vez de 46% e 52% respectivamente para as
recém-licenciadas.
Implicações para o desenvolvimento profissional e para a educação 1 211
a uma maior clareza naquilo que diz respeito à política seguida e a uma
maior racionalização do trabalho, pelo menos dois elementos poderão
aparecer (Benner e Benner, 1979) e neste caso poderão ser eliminadas as
ambiguidades provenientes da vida organizada:
1. O sistema perde o seu poder interpretativo e a sua flexibilidade. Será
parecido a um computador, limitado na sua capacidade de resolver os pro-
blemas pela utilização de regras explícitas para cada operação2 • Os
cuidados dados aos doentes têm lugar em ambientes complexos. Não são
jamais condensados, nem independentes do contexto. Uma política aberta,
com limites delicados, permite uma melhor interpretação e uma maior
adaptação aos acontecimentos complexos, sempre em evolução.
2
Para uma descrição e uma análise mais detalhada dos limites da formalização,
recorra à obra de Hubert Dreyfus, What computers can 't do: the limits of artificial
intellígence, New York, Harper and Row, 1972.
fl'
!
t
PARA. UJVIA NOVA IDEN'fIDA.DE
E UJ\1A REDEFINIÇÃO
DOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
O estado de espírito face ao trabalho está em vias de mudar. Cada vez
mais os indivíduos querem que o seu trabalho seja gratificante. A palavra
"sucesso" não tem mais o mesmo significado. O indivíduo que sacrifica
uma certa qualidade de vida, as suas relações afectivas e a sua saúde em
nome de um estatuto social e de uma determinada estabilidade financeira
não é mais considerado automaticamente como qualquer um "que
conseguiu". As famílias onde o casal trabalha são cada vez mais
numerosas, e os dois sexos devem adoptar novos comportamentos.
Yankelovitch (1974) chamou esta época como a de "reconhecimento
social". Presentemente, as pessoas querem tirar satisfação daquilo que
fazem, quer dizer, querem sentir-se competentes.
Yankelovitch (1974) destingue três benefícios psicológicos que as
pessoas querem obter a partir do seu trabalho:
Uma das coisas mais difíceis a que terei de fazer frente é aquela de
ser enfermeira. As minhas amigas não compreendem porque é que esco-
lhi esta profissão e pensam que aquilo que faço é degradante. Isso
aborreceu-me e explico então que sou levada todos os dias a conviver
com situações de vida ou de morte, e retiro grandes satisfações dos
contactos humanos e das relações que vivo no meu trabalho. Não
imagino quanto tempo me sentirei bem comigo mesma por ter escolhido
ser enfermeira, ou como dizem os meus amigos: "De não ser mais do que
enfermeira"; mas ainda não cheguei aí.
Melhoramento da colaboração
Um reconhecimento acrescido
' : '
d
Para uma nova identidade e uma redefinição dos cuidados de enfermagem 1 225
EXCELÊNCI1\ E PODER
NA PRA.TICA DE ENU'ERMAGEM
Coloquei neste livro exemplos, usando a linguagem oral, porque queria
a todo o custo guardar a riqueza do seu conteúdo. Com efeito, as
enfermeiras descrevem de forma directa e viva o seu envolvimento com os
doentes. Foi-lhes simplesmente pedido para não utilizarem a gíria que elas
empregam habitualmente para ganharem tempo enquanto fazem os seus
depoimentos. Estes exemplos ilustram a excelência e o poder exercido
pelas enfermeiras. A excelência necessita não somente das enfermeiras que
têm vontade de se envolverem mas também enfermeiras que têm o poder.
Tendo em conta a natureza dos cuidados de enfermagem, o poder sem
excelência é inconcebível. Inquieta-me ainda quando ouço as enfermeiras
dizer que são as suas qualidades, que são essenciais para o seu papel de
cuidar, que estão na origem da sua ausência de poder no seio da hierarquia
hospitalar, dominada pelos homens. Tais declarações depreciam as
qualidades ditas femininas e encorajam a concepção masculina do poder
que se caracteriza por estas três noções: competição, dominação e controlo.
Mas é um erro querer restringir o "poder" e os "cuidados de enfermagem"
tendo valores exclusivamente femininos ou masculinos. É usual dizer que
as mulheres não podem conquistar o poder porque por natureza elas são
sempre mantidas num estado de servidão. Com efeito, é a desigualdade
entre os sexos que é a fonte do problema. Incriminar a suposta submissão
das mu-lheres volta a penalizar a vítima e a afirmar que a discriminação
parará assim que as mulheres abandonarem os seus valores e participarem
no jogo do poder à maneira dos homens. Isto enviesa as observações que
tentam explicar como é a realidade.
Uma definição de poder que exclui o poder do cuidar inerente à
enfermagem, não contribui para o ganho de poder de autodeterminação. O
facto de aderir a uma concepção coerciva e dominadora do poder nas
relações com os outros implica uma renúncia daquilo que faz a
230 1 De iniciado a perito
1· 1
117: N
Excelência e poder na prática de enfermagem 1 231
O Poder de transformação
que os seres humano podem ser considerados dignos de todo o valor. Antes
encarava a vida como um contrato que fixava as regras daquilo que pode-
ríamos ter. Hoje em dia, apercebeu-se que podemos ter qualquer coisa
mesmo quando estamos na impossibilidade de dar em troca. Jurou assim
mesmo, que iria fazer tudo para nunca mais se encontrar num estado de
dependência idêntico aquele em que tinha estado, mas os cuidados que ele
recebeu mudaram a imagem que ele tinha anteriormente do que é o cuidar
genuíno e humano.
O cuidar na reintegração
'1
1 Cuidar significa que é possível permitir reinserção da pessoa cuidada na
sociedade. No caso onde a deficiência (handicap) prolongada ou
permanente é inevitável, é muitas vezes a enfermeira que ajuda os doentes
a tirar o máximo das suas possibilidades, permitindo-lhes assim continuar
a ter actividades ricas e úteis apesar dos seus déficites. Foi o caso da
enfermeira que ajudou uma mulher que não deixava o quarto há cinco anos
depois de uma trombose, ajudando-a a participar na vida familiar, mesmo
sendo considerado como extremamente arriscado na altura. O poder de
reinserção dos cuidados era igualmente evidente no caso da enfermeira
:i que, com o apoio da Associação de Ajuda a doentes com miopatias, ajudou
l um estudante do ensino secundário a voltar à escola e a retomar o seu
1 passatempo de comentador desportivo.
1
A defesa (Advocacy)
1
•I
ili\: tr
Excelência e poder na prática de enfermagem 1 233
O poder de participação/afirmação
Resolução de problemas
E
Excelência e poder na prática de enfermagem 1 237
Os modelos formais
Os modelos formais:
guias que permitem compensar uma falta de domínio da prática
>
Epílogo 1 247
t::
Epílogo 1 251
J,
Epílogo 1 253
1
i
onde eles são mal utilizados. Também aqui vou servir-me de exemplos.
A normalização do imprevisto:
a capacidade de raciocínio é suplementada pelas regras
n
Epílogo 1 255
seu serviço. Com efeito, elas devem mostrar às suas jovens colegas como
assegurar cuidados correctos com toda a segurança. As enfermeiras-chefe
querem a todo o preço assegurar "cuidados de qualidade" e insistem cons-
tantemente na necessidade de escrever os planos de cuidados e os antece-
dentes dos doentes, com o objectivo de possuir informações correctas e
de se conformar às normas. Penso que a qualidade dos cuidados prestados
neste serviço alcança frequentemente a qualidade dos cuidados formais.
No entanto, estes critérios externos, destinados a garantir a segurança dos
pacientes, não podem, em caso algum, tomar em conta a qua-lidade dos
cuidados que uma enfermeira presta realmente. Efectivamente,
numerosas enfermeiras esquecem estes planos de cuidados quando estão
sob pressão. Algumas queixaram-se da ausência de reconhecimento do
seu papel na gestão do serviço aquando de períodos de crise, ou quando
prestaram cuidados de boa qualidade mesmo quando o pessoal era
claramente insuficiente. Efectivamente, elas queixam-se do facto dos
planos de cuidados não terem em conta as suas condições de trabalho.
Algumas pensam mesmo que o mais importante era obedecer às regras
formais.
Se estudamos as descrições de função e o conteúdo real das avaliações
efectuadas pelas colegas neste ambiente, concluímos que é dada muita
importância às capacidades de redacção da enfermeira, como, por
exemplo, à sua capacidade de anotar os antecedentes do paciente, à sua
forma de estabelecer um plano de cuidados eficaz ou uma folha de
cuidados bem legível. Estas características mais formais acabam por se
associar à imagem do que deve ser uma boa enfermeira, enquanto que
acabamos por ignorar critérios tais como o envolvimento, o facto de agir
atempadamente, ou ainda de reconhecer precocemente as mudanças no
estado do paciente.
Apesar do cumprimento das regras ser para a aprendiz ou para a
enfermeira inexperiente, este apenas fornece um certo tipo de organização,
que não é em nenhum caso a melhor. Podemos igualmente ter ordem sem
recorrer às regras (Dreyfus, 1979), mas baseando-nos na avaliação de uma
situa-ção paiticular segundo as capacidades de cada enfermeira. Esta ordem
decorre de uma adequação entre as preocupações, a interpretação de uma
situação e as acções empreendidas segundo os actores e as situações. Além
disso, esta ordem é apreendida de modo global ou holístico. A acção pode ser
reduzida ao essencial dado que o que é inútil pode ser eliminado; o que não
se passa no caso dos modelos formais.
r:
Epílogo 1 257
A Mistificação
1
Patrícia Benner, "From novice to expert", Am. J. Nursing, 82, Março 1982, p. 402-
407.
' AMICAE: Achieving Methods of lntra-professional Consessus, Assessment and
evaluation ou "Investigação de Métodos Intra-profissionais de Consensos e de avalia-
ção", é um estudo financiado pelo estado cujo objectivo é avaliar as capacidades das
recém-licenciadas de sete escolas de enfermagem da região de S. Francisco. Aquando
deste estudo, os investigadores igualmente observaram e descreveram os actos
dispensados por quarenta enfermeiras clínicas experientes.
Epílogo 1 261
l
Epílogo 1 263
ri:
Epílogo 1 265
em dois anos para a renovação deste estatuto. No meio desse tempo, apenas
é necessária a análise do dossier por parte do comité.
Resumo
O que é a excelência?
Mary V. Fenton
Competências complementares
i1
1 1
. L
Epílogo 1 275
Os dilemas
1'
"
''
1
1
Epílogo 1 277
voltar para sua casa. Constata-se, então, que a enfermeira não considera que
a sua função acaba com a saída do doente do hospital. Ela preocupa-se
igualmente com o futuro dele, mesmo quando ele está em casa.
Numerosos exemplos mostram que as enfermeiras tinham autoridade
para assegurar que o doente encontre em sua casa um ambiente propício à
sua convalescência e à sua cura.
Os novos conhecimentos
Avaliação
1I .
1
licenciada descrevia-se recentemente como num campo de batalha onde
entram em conflito permanente valores escolares e valores tirados da
prática. A imagem do campo de batalha traduz o pessimismo desta jovem
enfermeira que não via como conciliar valores profissionais e valores
escolares. As recém-licenciadas querem melhorar a qualidade dos cuidados
que empregam aos doentes. Os quadros de enfermeiras querem que elas
adquiram as competências necessárias para serem eficazes no sistema, mas
guardando o seu idealismo.
A evolução de carreira proposta nos trabalhos da Dr.ª Benner pode rea-
nimar a esperança das enfermeiras principiantes como a das enfermeiras
experientes. As primeiras podem ter em vista uma progressão desde o
estado iniciado avançado até ao estado competente e ainda mais. As
j
segundas, que elas sejam competentes, performantes ou experientes,
podem implicar nos domínios dos cuidados de enfermagem ainda não
codificado e trazê-los à luz do dia com orgulho.
Na Universidade da Califórnia, o serviço dos cuidados de enfermagem
pôde colaborar com Patrícia Benner para aplicar o modelo Dreyfus e o
esquema de desenvolvimento de conhecimentos clínicos. As relações es-
Epílogo 1283
Programa de orientação
mi-----------
284 1 De iniciado a perito
Resumo
ANEXO
GUIA PARA A DESCRIÇÃO DE INCIDENTES CRÍTICOS
C . Informações pessoais:
❖ Nome: (facultativo) Data de nascimento:
❖ Função:
❖ Instituição:
❖ Há quanto tempo estais no serviço?
❖ Há quanto tempo sois enfermeira?
❖ Serviço onde o incidente aconteceu:
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