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Introdução:
No ano de 2007 foi realizada no mês de junho uma reunião na Câmera de Vereadores
com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável para divulgação do
Programa e sensibilização das lideranças políticas, comunitárias e representações da
sociedade civil do município. Nesta oportunidade foram selecionadas quatro
comunidades para serem trabalhadas pelo Programa. Em virtude do atraso no repasse
das sementes e do excesso de chuvas, só foi possível implantar um campo na
Comunidade de Candeal. Neste ano de 2008 foram realizados novos contatos com as
lideranças dessas comunidades e mesmo com o atraso do preparo do solo em algumas
comunidades foi constatado que muitas áreas já haviam sido plantadas com as
sementes selecionadas distribuídas pelo governo. Assim foram realizadas várias visitas
a essas propriedades, discussão com os produtores sobre seus sistemas de produção e
foi observado um bom desenvolvimento das culturas de feijão e milho. Essas áreas
continuarão a ser visitadas onde serão acompanhados os plantios com as sementes
selecionadas e com as variedades locais – sementes crioulas.
* Daniel Dourado – Engenheiro Agrônomo; Cloves Silva – Técnico Agrícola; Jânio Castelo – Técnico em
Classificação
Nas comunidades de Teiru, Estrada Grande e Mato Grosso** foram realizadas reuniões
comunitárias com a finalidade de divulgar o programa, sensibilizar os (as) agricultores
(as) presentes e realizar um estudo/diagnóstico dos sistemas de produção locais.
Também foi discutida a utilização de alternativas tecnológicas baseadas nos princípios
da agroecologia – adaptadas à realidade da agricultura familiar - para serem testadas
nas áreas plantadas. Foi notado um grande interesse dos (as) agricultores (as) pelas
ecotécnicas que eles não conheciam. Posteriormente serão identificadas as
propriedades que possuam sistemas de produção mais exitosos visando torná-las
propriedades de referência ou “faróis agroecológicos”. No final dessas reuniões ficou
combinada a realização de capacitação e treinamentos práticos sobre a utilização
dessas tecnologias – que poderão ser realizados nas propriedades de referência.
Antecedentes:
** Comunidade escolhida para substituir Candeal – que está atravessando problemas de ordem administrativa. A
Comunidade de Mato Grosso também foi escolhida pelo interesse de um grupo de mulheres em trabalhar com uma
horta coletiva orgânica.
Posteriormente, ele realiza a capacitação dos agricultores – sem conhecer direito o
Agroecossistema e sem visitar as propriedades para conhecer e/ou discutir os sistemas
de produção local com os agricultores. Nesse processo de “intervenção” ele “ensina”
as técnicas a serem aplicadas nas propriedades dos agricultores ou nos campos de
experimentação - definido por ele - para convencer os agricultores a adotar as
tecnologias preconizadas. Mostram as vantagens das técnicas convencionais sem se
importar com o contexto vivido pelas famílias camponesas, não considerando se essas
técnicas custam dinheiro, se causam problemas ambientais, problemas de saúde, se
são adaptadas às condições dos sistemas de produção local, a relação com a mão-de-
obra familiar, com os recursos disponíveis localmente, ou com a vontade dos
produtores. Por esses e outros motivos é que muitos técnicos afirmam que os
agricultores são “resistentes” à adoção das tecnologias preconizadas.
A experiência que será descrita abaixo tem como objetivo repensar essas práticas:
mostrar que é possível fazer um trabalho dialógico, construindo saberes, juntando o
conhecimento empírico/popular e o acadêmico/científico. Essa nova extensão rural
pode apoiar as experiências dos agricultores familiares, resgatar e valorizar o
conhecimento popular e construir caminhos mais consistentes e sustentáveis para as
comunidades rurais. É preciso considerar que os agricultores já possuem uma tradição
de plantio, uma história, uma riqueza de informações baseadas em conhecimentos e
práticas acumuladas de muitas gerações que sabem como conduzir suas vidas a partir
de muitas adversidades para garantir a sobrevivência de suas famílias. A falta de
recursos, o tamanho reduzido das áreas e os riscos envolvidos com a frustração de
safras é que caracteriza na maioria das vezes a necessidade de praticar uma agricultura
familiar com baixa utilização de insumos externos.
Preparo do Solo – os solos são na sua maioria arenosos, mas existem também solos de
textura mediana – barrento – conhecidos como Ceilão. A aração é feita na maioria das
vezes com trator e uma minoria com enxada. Foi discutida a possibilidade de realizar
treinamento sobre tração animal para conhecimento e possível adoção através do
aluguel de animais neste período – existem animais que puxam as carroças para
transporte de raízes de mandioca que podem ser utilizados.
Plantio – o plantio é realizado em cova virada (cova alta ou mutuca) e em cova rasa ou
cavadela (em solos mais arenosos). A preferência maior é para o plantio em cova alta –
facilita a drenagem, evita doenças das raízes de mandioca - permite bem os arranjos
em consórcios e facilita a colheita ou o arranquio da mandioca e do amendoim.
Geralmente o plantio é realizado através de consórcios como feijão e milho, feijão e
mandioca; mandioca solteira com plantio posterior de amendoim; amendoim e milho.
Alguns agricultores realizam a prática de pousio (áreas maiores) e rotação de culturas.
Variedades utilizadas:
Falta de maquinário para preparo Utilização de tratores de outras Elaboração de Projeto Comunitário
do solo comunidades, com atraso no plantio para aquisição de trator; aluguel de
trator de forma coletiva
Falta de local para secar feijão Secagem na roça com sérios riscos Construção de puxadinhos ou
de perdas; secagem nos beirais das beirais nas residências; aquisição de
residências, construção de lonas de maior espessura (mais
“moleques” (armações verticais) e difícil devido ao custo)
até dentro de casa
Recursos financeiros insuficientes Plantio de áreas mais reduzidas, Regularizar documentação pessoal
com utilização de mão-de-obra e da terra; acessar financiamento
familiar para mandioca através do Banco do
Brasil (após estudo de viabilidade)
Variedades utilizadas:
Ataque de lagartas nas culturas de Não fazem controle Utilização de defensivos naturais
feijão e milho (fitoterapia e preparados
homeopáticos) rotação de culturas,
plantio em época adequada
Ataque de pequenos engongos na Não fazem controle Rotação de culturas, teste com
cultura do amendoim (sementes plantio de variedades mais
plantadas) resistentes e uso de preparados
homeopáticos (nosódios)
Falta de maquinário e plantio Aluguel de trator e preparo do solo Realizar treinamento à tração
manual através de enxada manual animal. Os tratores têm provocado
dependência, atraso no plantio,
compactação e degradação do solo
Recursos financeiros insuficientes Plantio de áreas mais reduzidas, Regularizar documentação pessoal
com utilização de mão-de-obra e da terra; acessar financiamento
familiar para mandioca através do Banco do
Brasil
Variedades utilizadas:
A variedade conhecida como mamão é precoce, fácil de arrancar, melhor para raspar.
Uma desvantagem é que não agüenta tempo (não pode esperar), porque é suscetível à
podridão das raízes.
A variedade cigana é mais exigente em adubo, é mais tardia e mais profunda – o que
dificulta o arranquio.
Ataque de pequenos engongos na Não fazem controle. Algumas Rotação de culturas, teste com
cultura do amendoim (sementes pessoas diziam que era devido à plantio de variedades mais
plantadas) utilização do esterco de suínos. Foi resistentes (casca mais dura) e
testado a suspensão desse adubo utilização de preparados
mais o problema está persistindo homeopáticos com esses insetos
(nosódios)
Conclusão:
Existe uma corrente de Técnicos que estão iniciando no processo de capacitação e
formação em agroecologia que até trabalham com metodologias participativas, dão
ênfase à didática e à pedagogia, mas ficam apenas nas questões conceituais e
ideológicas da Agroecologia. Nesse processo de transição, não basta a redução dos
agroquímicos, a substituição de insumos, mas o redesenho dos sistemas de produção e
do Agroecossistema local em um enfoque holístico e sistêmico. Para isso, é preciso
fundamentação técnica e científica para avançar com o movimento agroecológico.
Alguns ainda pensam que agroecologia é igual à produção orgânica! Portanto, não
basta ser um animador, realizar diagnósticos, fazer somente a problematização. Como
dizia o saudoso jogador de futebol Dario Maravilha – não basta a problemática, é
preciso também a solucionática! Para não ficar “patinando” no diagnóstico, o técnico
precisa também contribuir com o prognóstico: é isso que o agricultor está querendo do
técnico que chegou até a sua comunidade – soluções para os seus problemas – com
desenvolvimento de tecnologias simples, baseadas no conhecimento, nas habilidades
humanas, portanto baratas, eficientes, disponível na própria propriedade, adaptadas à
sua realidade. Assim evitam-se tecnologias dependentes de insumos importados,
garantindo sustentabilidade econômica, ambiental, segurança alimentar, melhoria de
renda, trabalho menos penoso, mais bem estar e melhor qualidade de vida. Para
atender esse desafio de generalizar a agroecologia e aumentar a escala da agricultura
ecológica torna-se necessário investir na produção de conhecimentos agroecológicos
(capacitação), aumentar a disponibilidade e o acesso a recursos e a tecnologias
apropriadas (campos de experimentação/Estações Experimentais de Pesquisa) e a
garantia de condições políticas e sociais favoráveis (políticas públicas).
Para trabalhar com Agroecologia o técnico precisa ter perfil, reeducar seus pontos de
vista - a partir da construção de um novo modelo mental. Deve adequar seu
vocabulário, ter sensibilidade, solidariedade, respeito e acima de tudo maturidade do
senso moral para corrigir vaidades, voluntarismos, personalismos e não querer ser o
“Pai da Criança”. Por isso é preciso sair dessa crise ética e moral da atualidade para
entender e ajudar a plantar a semente de uma nova dimensão – a dimensão espiritual.
Assim fica mais fácil entender o que significa a relação da natureza desse novo homem
(da nova mulher também) com o meio ambiente, para melhor entender a ecologia
profunda e sua relação com a Agroecologia. A partir dessas mudanças poderá ser
visualizada a possibilidade de construção social de sociedades mais pluralistas e
sustentáveis, com inclusão, equidade, ética e justiça social.
e-mail : douradodaniel@yahoo.com.br