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UMA EXPERIÊNCIA DE ATER AGROECOLÓGICA

PROGRAMA SEMEANDO – PRODUÇÃO DE SEMENTES MELHORADAS

Introdução:

O Programa de Produção de Sementes – SEMEANDO – vem sendo executado pela


equipe Técnica do PAVAN (Posto Avançado) de Conceição da Feira - Ba* em quatro
Comunidades deste município – Baixinha da Pindobeira, Teiru, Candeal e Estrada
Grande.

No ano de 2007 foi realizada no mês de junho uma reunião na Câmera de Vereadores
com o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável para divulgação do
Programa e sensibilização das lideranças políticas, comunitárias e representações da
sociedade civil do município. Nesta oportunidade foram selecionadas quatro
comunidades para serem trabalhadas pelo Programa. Em virtude do atraso no repasse
das sementes e do excesso de chuvas, só foi possível implantar um campo na
Comunidade de Candeal. Neste ano de 2008 foram realizados novos contatos com as
lideranças dessas comunidades e mesmo com o atraso do preparo do solo em algumas
comunidades foi constatado que muitas áreas já haviam sido plantadas com as
sementes selecionadas distribuídas pelo governo. Assim foram realizadas várias visitas
a essas propriedades, discussão com os produtores sobre seus sistemas de produção e
foi observado um bom desenvolvimento das culturas de feijão e milho. Essas áreas
continuarão a ser visitadas onde serão acompanhados os plantios com as sementes
selecionadas e com as variedades locais – sementes crioulas.

* Daniel Dourado – Engenheiro Agrônomo; Cloves Silva – Técnico Agrícola; Jânio Castelo – Técnico em
Classificação
Nas comunidades de Teiru, Estrada Grande e Mato Grosso** foram realizadas reuniões
comunitárias com a finalidade de divulgar o programa, sensibilizar os (as) agricultores
(as) presentes e realizar um estudo/diagnóstico dos sistemas de produção locais.
Também foi discutida a utilização de alternativas tecnológicas baseadas nos princípios
da agroecologia – adaptadas à realidade da agricultura familiar - para serem testadas
nas áreas plantadas. Foi notado um grande interesse dos (as) agricultores (as) pelas
ecotécnicas que eles não conheciam. Posteriormente serão identificadas as
propriedades que possuam sistemas de produção mais exitosos visando torná-las
propriedades de referência ou “faróis agroecológicos”. No final dessas reuniões ficou
combinada a realização de capacitação e treinamentos práticos sobre a utilização
dessas tecnologias – que poderão ser realizados nas propriedades de referência.

Antes da reunião em Mato Grosso, atendendo convite agendado anteriormente, foi


visitada uma área doada para o grupo de mulheres, que está interessado em plantar
uma horta orgânica. Foi constatada que a área apresenta condições adequadas para a
implantação deste trabalho. Existe disponibilidade de água de uma nascente próxima
que pode disponibilizar água por gravidade. O solo é rico em matéria orgânica e as
mulheres estão bastante motivadas.

Está prevista a realização de mais uma reunião na comunidade de Baixinha da


Pindobeira, programada para o início do mês de agosto.

Antecedentes:

No sistema de extensão rural convencional o técnico na maioria das vêzes (existem as


exceções) assume uma postura autoritária de quem tem o conhecimento para fazer a
transferência de tecnologias. Ele chega às comunidades com um Programa novo
debaixo do braço e começa a apresentar o seu pacote.

** Comunidade escolhida para substituir Candeal – que está atravessando problemas de ordem administrativa. A
Comunidade de Mato Grosso também foi escolhida pelo interesse de um grupo de mulheres em trabalhar com uma
horta coletiva orgânica.
Posteriormente, ele realiza a capacitação dos agricultores – sem conhecer direito o
Agroecossistema e sem visitar as propriedades para conhecer e/ou discutir os sistemas
de produção local com os agricultores. Nesse processo de “intervenção” ele “ensina”
as técnicas a serem aplicadas nas propriedades dos agricultores ou nos campos de
experimentação - definido por ele - para convencer os agricultores a adotar as
tecnologias preconizadas. Mostram as vantagens das técnicas convencionais sem se
importar com o contexto vivido pelas famílias camponesas, não considerando se essas
técnicas custam dinheiro, se causam problemas ambientais, problemas de saúde, se
são adaptadas às condições dos sistemas de produção local, a relação com a mão-de-
obra familiar, com os recursos disponíveis localmente, ou com a vontade dos
produtores. Por esses e outros motivos é que muitos técnicos afirmam que os
agricultores são “resistentes” à adoção das tecnologias preconizadas.

A experiência que será descrita abaixo tem como objetivo repensar essas práticas:
mostrar que é possível fazer um trabalho dialógico, construindo saberes, juntando o
conhecimento empírico/popular e o acadêmico/científico. Essa nova extensão rural
pode apoiar as experiências dos agricultores familiares, resgatar e valorizar o
conhecimento popular e construir caminhos mais consistentes e sustentáveis para as
comunidades rurais. É preciso considerar que os agricultores já possuem uma tradição
de plantio, uma história, uma riqueza de informações baseadas em conhecimentos e
práticas acumuladas de muitas gerações que sabem como conduzir suas vidas a partir
de muitas adversidades para garantir a sobrevivência de suas famílias. A falta de
recursos, o tamanho reduzido das áreas e os riscos envolvidos com a frustração de
safras é que caracteriza na maioria das vezes a necessidade de praticar uma agricultura
familiar com baixa utilização de insumos externos.

O Agente de Desenvolvimento precisa inicialmente conhecer os sistemas de produção


desenvolvidos nas comunidades rurais – que é bastante diferente de agricultor para
agricultor e sua relação com o Agroecossistema local. A realização de diagnósticos
locais permite o conhecimento para o técnico e a população local das questões sociais,
econômicas, ambientais, culturais, religiosas e política – a exemplo de organização,
grupos existentes, infra-estrutura, projetos produtivos, políticas públicas, questões de
gênero, geração, etnia, junto a outros temas relevantes. A partir da vivência e/ou
convívio com essas comunidades pode ser feita uma prática de construção coletiva de
um desenvolvimento local endógeno - a partir da realidade local, discutindo-se as
potencialidades, oportunidades, a elaboração de projetos e também as ameaças e
fraquezas a serem superadas, com planejamentos participativos. Mas, qualquer
iniciativa planejada só será positiva se a população local estiver motivada, interessada
e assumir o protagonismo das suas ações. O Técnico entra nesse processo como
facilitador, animador – abanando o “fogo existente” - buscando parcerias de outras
instituições e políticas públicas de apoio à população local.

Metodologia e Estratégia utilizada


Nos meses de junho e julho/08 foram realizadas várias visitas às propriedades dos
agricultores (com ou sem financiamento) em diferentes comunidades do município de
Conceição da Feira. Através do contato direto com os agricultores e agricultoras – que
estavam trabalhando com a “mão na massa” foi possível estabelecer um diálogo
franco e aberto sobre os sistemas de produção e os subsistemas que são integrados
nas suas propriedades. Neste município as áreas de plantio são pequenas e os
agricultores costumam plantar feijão e milho voltados mais para subsistência familiar e
o plantio de mandioca e amendoim para subsistência e comercialização do excedente.
Praticam a criação de aves caipiras, suínos e uma minoria criam bovinos também.
Busca-se aproveitar de tudo na propriedade. Os suínos e bovinos funcionam como
poupança e/ou renda extra para garantir a sobrevivência e a reprodução familiar.

Após vivenciar a realidade de muitas famílias no convívio em suas propriedades, foram


agendadas reuniões nas comunidades selecionadas no ano anterior pelo Conselho
Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), que mostraram interesse
em trabalhar com o Programa de produção de sementes. Nessas reuniões foi
apresentado o Programa Semeando através de uma explanação dialogada, destacando
a importância das sementes, os trabalhos de pesquisa, a valorização e o resgate das
variedades locais (sementes crioulas) e a necessidade do acompanhamento dos
campos plantados. Em seguida foi apresentado um filme – Sementes da Paixão - das
experiências desenvolvidas pelo Pólo Sindical de Borborema do estado da Paraíba
(ASPTA). Depois do filme foi aberta a discussão do que chamou mais a atenção dos
presentes. No final da reunião foi realizado um estudo/diagnóstico dos sistemas de
produção dos agricultores e agricultoras presentes, buscando-se trocar conhecimentos
e experiências observadas nas visitas e estimular o debate de idéias. Foram utilizadas
três perguntas orientadoras: principais problemas enfrentados (permite ao(s)
técnico(s) uma maior compreensão da realidade), como fazem para resolver esses
problemas (visão da lógica dos agricultores com os seus sistemas de produção) e o que
fazer frente a esses problemas ainda sem solução (estratégia a ser planejada pelos
agricultores e pactuada com o técnico). No decorrer das discussões, começam a surgir
alguns consensos, a descoberta de práticas exitosas e a identificação dos agricultores
mais inovadores (futuros multiplicadores ou agentes de desenvolvimento local).

O resultado desse trabalho foi sistematizado abaixo. A partir dessas reuniões e de


acordo com a experiência e a sensibilidade do técnico – que deve ser uma pessoa
sensível e antenada às mínimas observações – já é possível saber quem plantou as
sementes do governo, fazer avaliação do Programa, identificar agricultores mais
inovadores, propriedades a serem acompanhadas (com sementes selecionadas e
também comparando com os plantios de campos com sementes crioulas), além da
construção de um plano de ação feito de forma participativa entre a comunidade e o
técnico.
A partir do Programa de Sementes o técnico pode abrir as portas para um trabalho
multidisciplinar, não enfocando apenas a questão semente, mas fazendo um link da
semente com os sistemas de produção, com a tipologia dos agricultores, práticas e
experiências observadas com o Agroecossistema – que precisará de maiores estudos
em diagnósticos futuros. Utilizam-se outras ferramentas metodológicas, para buscar
através de uma pedagogia abrangente e progressista a compreensão conjunta das
dimensões sociais, ambientais, econômicas, culturais, filosóficas, religiosas, éticas e
política.

Sistemas de Produção Local das Comunidades visitadas:

Sementes – utilização das variedades locais, citadas abaixo e sementes distribuídas


pelo governo – variedade pérola (feijão) e sertanejo (milho). Armazenam em garrafas
petti; alguns produtores fazem tratamento dos grãos com dentes de alho, pimenta do
reino, uso de óleo de oliva e de cozinha (uma colher de sopa para cada quarta de
grãos).

Preparo do Solo – os solos são na sua maioria arenosos, mas existem também solos de
textura mediana – barrento – conhecidos como Ceilão. A aração é feita na maioria das
vezes com trator e uma minoria com enxada. Foi discutida a possibilidade de realizar
treinamento sobre tração animal para conhecimento e possível adoção através do
aluguel de animais neste período – existem animais que puxam as carroças para
transporte de raízes de mandioca que podem ser utilizados.

Adubação – utilização de esterco de bovinos, suínos e de aves***. Alguns produtores


fazem adubação a lanço após a aração, preparando as covas posteriormente; outros
utilizam adubos após preparo das covas e fazem adubação de cobertura. Adubações
mais abundantes ocasionam a produção de muitas folhas no feijão e poucas vagens.
Os agricultores preferem adubar mais a cultura da mandioca para plantar depois o
feijão com milho ou amendoim, com aproveitamento também da fixação biológica do
nitrogênio. Outra prática utilizada é cercar a área destinada ao plantio, colocando
animais (bovinos) para dormir presos neste cercado (chamados de “batedor”), durante
certo período de tempo. Assim são acumulados esterco e urina (a pesquisa cita 25
Kg/Cab/dia) para adubação do solo.

***Preço do esterco de aves: 01 Box de Aviário – 40 a 50 sacos – R$80 a 100,00


(incluindo o transporte) – dá para adubar 20 caminhos de 40 covas cada (800 covas)

Plantio – o plantio é realizado em cova virada (cova alta ou mutuca) e em cova rasa ou
cavadela (em solos mais arenosos). A preferência maior é para o plantio em cova alta –
facilita a drenagem, evita doenças das raízes de mandioca - permite bem os arranjos
em consórcios e facilita a colheita ou o arranquio da mandioca e do amendoim.
Geralmente o plantio é realizado através de consórcios como feijão e milho, feijão e
mandioca; mandioca solteira com plantio posterior de amendoim; amendoim e milho.
Alguns agricultores realizam a prática de pousio (áreas maiores) e rotação de culturas.

Capinas – utilização de 3 a 5 capinas para a cultura da mandioca a depender do tipo de


solo, das plantas espontâneas presentes na área e da época de plantio. A beldroega
quando capinada é recolhida para alimentação dos suínos. A marianinha não é dada
para os suínos porque o esterco ao ser destinado para adubação leva as sementes
dessas plantas que vão infestar as áreas!

Controle de pragas e doenças – Praticamente não usam agrotóxicos. Fazem uso


esporádico no controle de formigas, com iscas formicidas. Plantam variedades mais
resistentes à podridão das raízes.

Diagnóstico realizado na Comunidade de Teiru:

Variedades utilizadas:

Feijão – Carioquinha (90%), enxofre, mulatinho, preto e chita fina

Milho – capuco roxo

Mandioca – saracura, estrangeira ou cigana – 80 a 90% (resistente à podridão das


raízes, possibilita menos capinas, maior produtividade, ciclo normal); correnteza (mais
tardia), olho roxo, cidade rica e cidade preta (mais precoces, produzem boa farinha)

PROBLEMAS COMO FAZEM O QUE FAZER

Pouca terra Plantios em sistemas de consórcios As pessoas interessadas em adquirir


e/ou policultivos terra, devem formar grupos para
identificar propriedades para
acessar programa Cédula da Terra –
CDA ou se inscrever na luta pela
posse da Terra através dos
movimentos sociais – MST, MLT,
MPA, CETA ...

Falta de maquinário para preparo Utilização de tratores de outras Elaboração de Projeto Comunitário
do solo comunidades, com atraso no plantio para aquisição de trator; aluguel de
trator de forma coletiva

Falta de local para secar feijão Secagem na roça com sérios riscos Construção de puxadinhos ou
de perdas; secagem nos beirais das beirais nas residências; aquisição de
residências, construção de lonas de maior espessura (mais
“moleques” (armações verticais) e difícil devido ao custo)
até dentro de casa

Recursos financeiros insuficientes Plantio de áreas mais reduzidas, Regularizar documentação pessoal
com utilização de mão-de-obra e da terra; acessar financiamento
familiar para mandioca através do Banco do
Brasil (após estudo de viabilidade)

Ocorrência de pragas – lagartas e Para controle de lagartas Utilização de defensivos


formigas praticamente não fazem controle; alternativos (serão realizados
para controle de formigas alguns treinamentos práticos na
agricultores utilizam iscas Comunidade)
formicidas

Diagnóstico realizado na Comunidade de Estrada Grande:

Variedades utilizadas:

Feijão – Carioquinha (90%), rosinha, preto, mulatinho, grosso

Milho – batinga, moleque e pampurrão

Mandioca – alagoana, ciganinha, saracura, cidade rica, olho roxo e vermelhinha

PROBLEMAS COMO FAZEM O QUE FAZER

Chuvas irregulares Plantam variedades mais precoces e Realizar reflorestamento, plantio na


resistentes; plantios com atraso época correta no início das chuvas,
devido à falta de trator utilização de matéria orgânica para
armazenar mais água no solo para
enfrentar melhor os períodos de
estiagens.

Ataque de pássaro (Anísio, Utilização de espantalhos Fazer tratamento das sementes


conhecido também de farracho) na (passarinhos estão sentando em com óleo diesel ou óleo queimado
época de plantio comendo as cima!), armadilhas, tratamento das (é mais barato e também já foi
sementes de milho plantadas sementes com querosene testado por outros agricultores)

Ataque de lagartas nas culturas de Não fazem controle Utilização de defensivos naturais
feijão e milho (fitoterapia e preparados
homeopáticos) rotação de culturas,
plantio em época adequada

Ataque de pequenos engongos na Não fazem controle Rotação de culturas, teste com
cultura do amendoim (sementes plantio de variedades mais
plantadas) resistentes e uso de preparados
homeopáticos (nosódios)

Falta de maquinário e plantio Aluguel de trator e preparo do solo Realizar treinamento à tração
manual através de enxada manual animal. Os tratores têm provocado
dependência, atraso no plantio,
compactação e degradação do solo

Recursos financeiros insuficientes Plantio de áreas mais reduzidas, Regularizar documentação pessoal
com utilização de mão-de-obra e da terra; acessar financiamento
familiar para mandioca através do Banco do
Brasil

Empobrecimento do solo Plantios em consórcios, rotação de Introduzir adubação verde e outros


culturas, utilização de adubos adubos orgânicos não utilizados na
orgânicos Comunidade: manipueira – água da
mandioca, urina, biofertilizante,
adubação mineral rochosa – fosfato
natural, pó de rocha - composto
orgânico, cinzas...

Diagnóstico realizado na Comunidade de Mato Grosso:

Variedades utilizadas:

Feijão – Carioquinha (90%), preto, mulatinho, grosso

Milho – batinga, moleque e capuco roxo

Mandioca – mamão, cigana, cidade rica

A variedade conhecida como mamão é precoce, fácil de arrancar, melhor para raspar.
Uma desvantagem é que não agüenta tempo (não pode esperar), porque é suscetível à
podridão das raízes.

A variedade cigana é mais exigente em adubo, é mais tardia e mais profunda – o que
dificulta o arranquio.

O plantio da mandioca é realizado nos meses de maio e junho ou a partir do mês de


julho, após o plantio de feijão e milho ou amendoim. Neste plantio mais tardio, nasce
menos mato, diminuem as capinas e às vezes coincide com melhores preços para a
farinha.

PROBLEMAS COMO FAZEM O QUE FAZER

Ataque de pequenos engongos na Não fazem controle. Algumas Rotação de culturas, teste com
cultura do amendoim (sementes pessoas diziam que era devido à plantio de variedades mais
plantadas) utilização do esterco de suínos. Foi resistentes (casca mais dura) e
testado a suspensão desse adubo utilização de preparados
mais o problema está persistindo homeopáticos com esses insetos
(nosódios)

Falta de mão-de-obra Utilização de práticas de mutirão, Continuar com a prática de mutirão,


principalmente nas operações de introdução da prática de tração
preparo das covas, capina e animal para reduzir o esforço
arranquio. hercúleo de preparo do solo com
enxadas e também nas práticas das
capinas, quando se planta em cova
rasa ou cavadela.

Empobrecimento do solo Plantios em consórcios, rotação de Introduzir adubação verde e outros


culturas, utilização de adubos adubos orgânicos não utilizados na
orgânicos Comunidade: manipueira – água da
mandioca, urina, biofertilizante,
adubação mineral rochosa – fosfato
natural, pó de rocha, composto
orgânico, cinzas...

Baixos preços obtidos na Venda para atravessadores Continuar persistindo na melhoria


comercialização, principalmente da da qualidade da farinha, buscar a
farinha diversificação e agregação de valor
aos subprodutos (beiju, tapioca,
“quebradinha”, bolachinha de
goma, bolos); redução dos custos de
produção com a utilização das
tecnologias sociais baseada nos
princípios da agroecologia
(ecotécnicas); aproveitamento
integral dos subprodutos da
mandioca na agricultura e na
pecuária (manipueira, folhas,
raspas, maniva), estudar melhor
época de plantio que coincida a
colheita com melhor época de
comercialização, plantar variedades
precoces, medianas e tardias para
obter produção durante todo ano;
melhorar organização comunitária
para venda conjunta (PAA/CONAB)
e até agregação de valor –
empacotamento, em uma escala
maior – Cooperativa.

Encaminhamentos e propostas a serem discutidas e trabalhadas tendo como base as


informações levantadas nos diagnósticos com os (as) agricultores (as):

 Visita de acompanhamento e assessoria técnica aos campos de cultivo dos


agricultores, para a produção de sementes de qualidade;

 Curso de Agroecologia, com realização de práticas e discussão de tecnologias


adaptadas à agricultura familiar da região;

 Visitas de intercâmbio às propriedades mais inovadoras para troca de


experiências;

 Fazer treinamento sobre compostagem orgânica, com aproveitamento das


plantas espontâneas, a exemplo da marianinha, enriquecendo com outros
materiais disponíveis nas propriedades: esterco, cinzas, raspas de mandioca,
urina, manipueira, resíduo de agroindústria, folhas das fruteiras, capins, mato e
a reciclagem do lixo doméstico;

 Através de contatos, informações prestadas e o interesse demonstrado por


alguns criadores de suínos, surgiu uma demanda que está sendo planejada:
uma visita de Intercâmbio à Estação Experimental da EBDA de Jaguarari para
conhecer a construção e utilização de energia renovável a partir de biodigestor
solar. Esse trabalho visa eliminar problemas ambientais: os dejetos que causam
poluição vão produzir gás e adubo (biofertilizante). A produção do gás metano
vai alimentar as chamas do fogão – evitando a compra de gás de cozinha, evitar
problemas respiratórios, evitar o desmatamento com a utilização de madeira
em fogão de lenha e ainda servirá para produzir luz elétrica e acionar motores e
equipamentos, através de um combustível limpo e sustentável. Servirá ainda
como modelo para outras propriedades e até como tecnologia a ser financiada
pelo PRONAF. É também uma tecnologia importante para dar visibilidade ao
trabalho com agroecologia na região;

 Visita de intercâmbio à Estação Experimental de Conceição de Almeida para


conhecer experiências com plantio e manejo de leguminosas para adubação
verde – visando abafar plantas espontâneas na cultura da mandioca, realização
de subsolagem através de suas raízes, enriquecimento do solo com a fixação
biológica de nitrogênio, cobertura nas entrelinhas, aumento da biodiversidade
e incremento de matéria orgânica;

 Visita de Intercâmbio para os municípios de Olindina e Inhambupe para


verificar utilização da manipueira como inseticida, adubação e alimentação
animal. Conhecer experiências de Horta Orgânica do Programa Feira Verde;

 Implantação de campos de experimentação para avaliação de cultivares de


mandioca: resistência à podridão das raízes, rendimento, precocidade,
resiliência;

 Treinamento de mecanização à tração animal;

 Testar adubação mineral rochosa na cultura da mandioca (fosfato natural e pó


de rocha) combinada com outros tipos de adubos (composto orgânico, esterco,
biofertilizante, urina, manipueira);

 Implantação de horta coletiva e orgânica.

Conclusão:
Existe uma corrente de Técnicos que estão iniciando no processo de capacitação e
formação em agroecologia que até trabalham com metodologias participativas, dão
ênfase à didática e à pedagogia, mas ficam apenas nas questões conceituais e
ideológicas da Agroecologia. Nesse processo de transição, não basta a redução dos
agroquímicos, a substituição de insumos, mas o redesenho dos sistemas de produção e
do Agroecossistema local em um enfoque holístico e sistêmico. Para isso, é preciso
fundamentação técnica e científica para avançar com o movimento agroecológico.
Alguns ainda pensam que agroecologia é igual à produção orgânica! Portanto, não
basta ser um animador, realizar diagnósticos, fazer somente a problematização. Como
dizia o saudoso jogador de futebol Dario Maravilha – não basta a problemática, é
preciso também a solucionática! Para não ficar “patinando” no diagnóstico, o técnico
precisa também contribuir com o prognóstico: é isso que o agricultor está querendo do
técnico que chegou até a sua comunidade – soluções para os seus problemas – com
desenvolvimento de tecnologias simples, baseadas no conhecimento, nas habilidades
humanas, portanto baratas, eficientes, disponível na própria propriedade, adaptadas à
sua realidade. Assim evitam-se tecnologias dependentes de insumos importados,
garantindo sustentabilidade econômica, ambiental, segurança alimentar, melhoria de
renda, trabalho menos penoso, mais bem estar e melhor qualidade de vida. Para
atender esse desafio de generalizar a agroecologia e aumentar a escala da agricultura
ecológica torna-se necessário investir na produção de conhecimentos agroecológicos
(capacitação), aumentar a disponibilidade e o acesso a recursos e a tecnologias
apropriadas (campos de experimentação/Estações Experimentais de Pesquisa) e a
garantia de condições políticas e sociais favoráveis (políticas públicas).

O Técnico ou a Técnica precisa ter conhecimentos multidisciplinares: unindo


conhecimentos das tecnologias sociais, economia, sociologia, antropologia, filosofia,
psicologia, religião, ética, política... que englobam as diferentes dimensões do
desenvolvimento local sustentável. Esse é o desafio. A sua contribuição não é apenas
de ordem técnica, econômica, produtivista. É por isso que existem técnicos sem visão
crítica que estão ingenuamente chamando de agroecologia o que é apenas
substituição de insumos (da agricultura convencional por tecnologias de base
ecológica), mantendo monoculturas, ignorando ou até desprezando o conhecimento
popular, passando por cima das questões de gênero, de geração, de etnia, de
segurança alimentar, economia solidária ... caminhando na direção de uma produção
orgânica para obter vantagem de um plus mercantil da comercialização! Mantêm-se
desse modo a dependência e a subordinação dos agricultores para o agronegócio
verde!

Para trabalhar com Agroecologia o técnico precisa ter perfil, reeducar seus pontos de
vista - a partir da construção de um novo modelo mental. Deve adequar seu
vocabulário, ter sensibilidade, solidariedade, respeito e acima de tudo maturidade do
senso moral para corrigir vaidades, voluntarismos, personalismos e não querer ser o
“Pai da Criança”. Por isso é preciso sair dessa crise ética e moral da atualidade para
entender e ajudar a plantar a semente de uma nova dimensão – a dimensão espiritual.
Assim fica mais fácil entender o que significa a relação da natureza desse novo homem
(da nova mulher também) com o meio ambiente, para melhor entender a ecologia
profunda e sua relação com a Agroecologia. A partir dessas mudanças poderá ser
visualizada a possibilidade de construção social de sociedades mais pluralistas e
sustentáveis, com inclusão, equidade, ética e justiça social.

Daniel Rebouças Dourado – Articulador da Rede Temática de Agroecologia – EBDA/BA

Especialista em Agroecologia e Produção Orgânica

Tel.: 0xx75-91208066 e 0xx75-3625-2998

e-mail : douradodaniel@yahoo.com.br

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