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DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA – 2020/2021

Aula n.º 8

LICENCIATURA EM SOLICITADORIA
ESCOLA SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E TURISMO (EsACT)
INSTITUTO POLITÉCNICO DE BRAGANÇA

Docente: Rui Ferreira


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- O direito primário corresponde ao direito da União Europeia regulado pelos


Tratados institutivos.

- O direito regulado através dos tratados institutivos não se esgota no Tratado da


União Europeia (TUE) e no Tratado de Funcionamento da União Europeia, do qual
fazem parte ainda os protocolos e as declarações.

- Inclui, também, os Tratados de adesão dos Estados, as revisões dos Tratados ...

- Pode incluir decisões, que correspondem a atos unilaterais, como o de 1979, que
introduziu o sufrágio universal e direto para o Parlamento Europeu.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- O que distingue distingue o direito primário do direito derivado é a intenção e a


hierarquia.

- Os Tratados são a fonte primária de Direito da União Europeia, sendo convenções


internacionais, de tipo clássico, produto exclusivo da vontade soberana dos
Estados contratantes, que foram concluídas em conformidade com as regras do
direito internacional e das respetivas normas constitucionais.

- É assim o direito que enquadra, fundamenta e limita todo o restante direito (o


direito derivado).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- O Direito derivado nunca pode contrariar o Direito originário, existindo um conjunto


de mecanismos de controlo se tal acontecer – art. 263.º, 267.º e 277.º do TFUE.

- A violação do Direito originário é objeto de sindicabilidade contenciosa (art. 258.º


do TFUE), podendo ser verificada jurisdicionalmente, culminando em sanções para
os Estados (art. 260.º do TFUE), quando não deem execução aos acórdãos.

- Segundo MOTA DE CAMPOS os Tratados enunciam os objetivos fundamentais da


UE e definem os instrumentos para a respetiva realização; e definem a estrutura
institucional da União Europeia (onde se específica as atribuições e poderes das
instituições, bem como a definição das relações entre elas e o controlo político e
jurisprudencial a que a sua ação está sujeita).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Dos Tratados resultam ainda as regras quanto à relação entre da União Europeia e
os Estados-membros, bem como, organizam o sistema jurisdicional de salvaguarda
da ordem jurídica instituída no quadro da União Europeia.

- Os Tratados da União Europeia contêm ainda disposições de Direito Económico e


Financeiro.

- Os Tratados serão uma Constituição?


- A doutrina diverge, havendo uma pré-compreensão política adjacente a esta
caracterização, que se prende com uma visão mais ou menos federalista da União
Europeia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Porém, a diferença no plano político é muito importante, pois levanta questões


sobre quem detém o poder constituinte e se a União Europeia já se autonomizou
dos Estados.

- A corrente federalista: querem ver os Tratados como uma Constituição e procuram


encontrar pontos de apoio em que a criatura se autonomizou dos criadores, tendo
a União Europeia já poder constituinte próprio e pode andar por si.

- Falava-se da irreversibilidade do acervo comunitário, mas tal argumentação foi


destruída com o Tratado de Lisboa, que estabeleceu no art. 48.º e 50.º, do Tratado
da União Europeia, a reversibilidade do adquirido.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Corrente não federalista: os seus defensores vêm os Tratados como Tratados de


Direito Internacional Público.

- Contudo, os Tratados não possuem a competência das competências, e a


competência da União Europeia é definida pelos Estados, uma vez que os Estados
são os criadores e a União Europeia é a criatura.

- Alguma doutrina defende que os Tratados são Tratados Internacionais, mas


funcionalmente têm uma função análoga à de uma Constituição em sentido
material.
- Mas, também se podem encarrar como uma constituição em sentido estrutural, na
aceção da pirâmide normativa de Kelsen.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Âmbito de aplicação dos Tratados:

- Material: os Tratados são aplicáveis no quadro das competências que os Estados


atribuem à União Europeia (por exemplo o art. 18.º do Tratado de Funcionamento
da União Europeia).

- Subjetivo: os Tratados são aplicáveis às instituições, órgãos e organismos da União


Europeia, Estados-membros e pessoas.

- O art. 20.º e ss. é aplicável aos cidadãos da União Europeia, mas não só a estes,
pois quando os tratados não o especificam, aplicam-se a todos (art. 263.º, do
Tratado de Funcionamento da União Europeia).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, também as disposições


valem para todos, embora hajam algumas disposições específicas para os
cidadãos da União Europeia.

- Territorial: os Tratados são aplicáveis no território dos Estados-membros, por força


do art. 52.º, do Tratado da União Europeia, que remete para o art. 355.º e 349.º do
Tratado do Funcionamento da União Europeia.

- Há casos de territórios onde não se aplicam os Tratados, em virtude do negociado


pelos Estados-membros e a União Europeia.
- Há ainda o estatuto especial nas regiões ultraperiféricas, previsto no art. 349.º, do
Tratado de Funcionamento da União Europeia (Caso Mayotte, C-132/14).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Processos de Revisão (art. 48.º do Tratado da União Europeia)

- O regime do art. 48.º, do Tratado da União Europeia, distingue o processo de


revisão ordinária e o processo de revisão simplificado, cuja distinção resulta da
distinta tramitação.

- Processo de Revisão Ordinário:


- Vem desde a versão originária dos tratados e foi alterado aquando das
negociações da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

- Contempla várias fases: a fase da iniciativa; fase da convenção e a fase


intergovernamental.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Fase da Iniciativa

- Fase da Convenção
- Esta expressão está historicamente associada a uma Assembleia com poderes
constituintes.
- É uma assembleia com Estados, representantes do Parlamento Europeu (há a
participação do Parlamento Europeu no exercício do poder constituinte),
Comissão e representantes dos parlamentos nacionais.

- Fase da Conferência Intergovernamental


- A regra da deliberação é sempre o acordo entre todos (elemento que caracteriza
a natureza de Tratado de Direito Internacional Público; as Constituições ao invés
são revistas por maioria).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- A revisão dos Tratados é negociado e aprovado, e depois sujeito a ratificação de


todos os Estados-membros.

- Por força do art. 48.º, n.º 5, do Tratado da União Europeia, o Conselho Europeu não
se pode substituir à vontade dos Estados-membros, mas dá-se-lhe o mandato para
conceder concessões e exceções, com o escopo de facilitar que os Estados
ratifiquem os Tratados.

- Processo de Revisão Simplificado:


- Trata-se de um processo de revisão mais expedito.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Nos termos do art. 48.º, n.º 6, do Tratado da União Europeia, apenas é aplicável à
Parte III do Tratado de Funcionamento da União Europeia; às disposições sobre
políticas e ações da União Europeia.

- Ocorre por ato unilateral do Conselho Europeu, que tem de ser aprovado por
unanimidade, ainda que se mantenha a necessidade de ser ratificado (por
exemplo, o novo n.º 3 do art. 136.º).

- Não se podem aumentar as competências


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Nos termos do art. 48.º, n.º 7, do Tratado da União Europeia, estabelece que para
se passar da unanimidade para a maioria qualificada, há subtração de
competências aos Parlamentos Nacionais, pois está a usar-se uma via mais
comunitária.

- Estes dois procedimentos são análogos no acordo de todos os Estados e na


exigência de ratificação por todos.

- O art. 48.º é elucidativo do caráter da União Europeia e seus Tratados como


Tratados, por os Estados (criadores) ainda controlam a criatura (União Europeia).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES PRIMÁRIAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- São características dos Tratados (Direito Primário):

- Primado do Direito da União Europeia;


- Aplicabilidade Direta;
- Efeito Direto (apenas aplicável a normas que atribuam aos particulares posições
jurídicas de vantagem; clareza – não suscitarem dúvidas de interpretação,
precisão, incondicionalidade – não sujeitas a intervenção do legislador nacional
no sentido de as completarem);
- Rigidez dos processos de revisão.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES derivadas DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- DIREITO DERIVADO

- Todas as normas e atos jurídicos adotados pela União Europeia e que resultam da
vontade das instituições, órgãos e organismos da União Europeia.

- Correspondem a atos unilaterais emanados das instituições, adotadas para


aplicação daqueles Tratados e na sua conformidade, que, por isso, neles
encontram o seu fundamento jurídico e deles derivam.

- Direito Derivado Típico: art. 288.º, do Tratado de Funcionamento da União


Europeia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Atos Não Vinculativos


- Não são juridicamente irrelevantes, pois podem conter diretrizes de interpretação
(num exercício de auto vinculação, não está obrigado a fazer, mas ao fazê-lo
auto vincula-se) e/ou serem necessários (para a validade formal da atuação, se
pareceres necessários não forem dados, inquina-se a legalidade).

- Recomendações
- Adotadas por iniciativa do órgão – atos do Conselho dirigidos aos Estados-
membros (art. 121.º e 126.º, n.º 7, ambos do Tratado de Funcionamento da União
Europeia), ou atos da Comissão dirigidos quer ao Conselho (art. 207, n.º 3; 218.º, n.º
3, do Tratado de Funcionamento da União Europeia) quer aos Estados-membros
(art. 117.º, do Tratado de Funcionamento da União Europeia).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Exprimindo-lhes o respetivo ponto de vista sobre determinadas questões,


apontando-lhe as medidas ou soluções reclamadas pelo interesse da União
Europeia, sugerindo ou prescrevendo os comportamentos a adotar.

- Instrumento de ação indireta da União Europeia, visando a aproximação das


legislações nacionais ou adaptação de uma dada regulamentação interna ao
regime da União Europeia.

- Pareceres
- Elaborado a pedido de outro órgão.

- Não constituem só por si os respetivos destinatários em qualquer obrigação


jurídica.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Com efeito, o Tribunal de Justiça da União Europeia não atende ao nome, mas sim
ao conteúdo, pois sob um nome errado às vezes há atos que são criadores de
direitos e deveres.

- A natureza jurídica dos atos da União Europeia não está limitada pela sua
designação oficial, antes se deve ter em conta o seu objeto e o seu conteúdo.

- Atos vinculativos

- Regulamentos:
- Ato normativo por excelência (lei); instrumento de uniformização jurídica.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Ato geral e abstrato que vincula todos os sujeitos de direito, como fonte direta de
obrigações, sendo aplicável em todos os Estados-membros.

- Caráter geral: âmbito subjetivo


- Estabelecem regras, impõe obrigações ou conferem direitos que a todos os que se
incluam ou possam vir no futuro a incluir-se na categoria de destinatários que o
regulamento define em abstrato e segundo critérios objetivos, afetando todas as
pessoas de direito da União Europeia.

- Generalidade: quanto aos destinatários


- Abstração: quanto ao objeto da previsão legislativa (proibição ou permissão de
comportamentos ou situações jurídicas emergentes da norma).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Um ato não perde o seu caráter regulamentar pelo facto de, num dado
momento, ser possível identificar as pessoas sujeitas à aplicação das normas que
nele se contêm (ac. TJUE – 05.05.1977 – proc. 107/76).

- Exemplo: Um regulamento que dado o caráter técnico, económico ou social visa


pequenas empresas. Não perde o caráter geral e abstrato, desde que as normas
estabelecidas sejam igualmente aplicáveis a qualquer outra empresa que, no
futuro, venha a preencher as condições definidas no regulamento.

- Obrigatório em todos os seus elementos – âmbito objetivo


DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Poder normativo perfeito que permite às instituições da União Europeia impor


autonomamente (prescindindo das instituições nacionais) a observância da
totalidade das disposições desse ato aos Estados-membros, seus órgãos e
autoridades, e a todos os particulares sujeitos à jurisdição da União Europeia.

- O Conteúdo esgota o âmbito de regulamentação em termos das opções políticas


primárias.

- Diversamente da Diretiva pode impor quaisquer modalidades de aplicação e de


execução julgadas necessárias ou úteis pelas instituição da União Europeia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Os Estados-membros não podem adotar atos que dissimulem a natureza


comunitária do regulamento (ac. TJUE – Caso Variola, de 02.02.1977, proc. 50/76).

- Os Estados-membros não podem acrescentar novos elementos (ac. TJUE –


18.02.1970 – proc. 40/69)

- Os Estados-membros não podem aplicar de forma incompleta ou seletiva as


disposições de um regulamento por discordarem de algumas delas (ac. TJUE –
07.02.1973 – proc. 39/72).

- Diretamente aplicável em todos os Estados-membros – âmbito da operabilidade


nas ordens jurídicas dos Estados-membros.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Uma vez publicadas no JOUE e decorrida a vacatio legis (art. 297.º TFUE), entram
em vigor em todos o espaço da União Europeia e ficam de pleno direito
(automaticamente) incorporados no ordenamento jurídico interno dos Estados,
sendo aí aplicáveis a qualquer pessoa (quando nasce na UE, nasce em todos os
Estados-membros).

- Não é necessário a intervenção de órgãos estatais para que o regulamento seja


suscetível de invocação e aplicação a quantos possam fundar nas suas
disposições qualquer direito merecedor de tutela jurisdicional.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Não é necessária, nem sequer admissível, qualquer receção explicita ou implícita


do regulamento nas ordens jurídicas internas para que esse ato normativo entre a
fazer parte do corpo de normas que ao juiz nacional cumpre aplicar
(regulamentos obrigam como direito da União Europeia e não como direito
nacional).

- Aplicabilidade direta
- Entra em vigor em todos e para todos os Estados-membros, produzindo
imediatamente efeitos sem estar sujeito a medidas de receção, mas não são
autossuficientes e podem necessitar de atos de execução pelos Estados-membros
(portarias e despachos).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Mesmo em Estados-membros com o modelo dualista (de transposição proíbe-se a


transposição – não se deve mascarar o Regulamento como norma de direito
interno.

- Os cidadãos devem saber da natureza comunitária da norma.

- A forma do regulamento é sempre a mesma, seja qual for a instituição que o


produza (de que emane).

- Os Regulamentos do Conselho distinguem-se em:


- Regulamentos de base: estabelecessem as bases gerais do regime jurídico a
adotar e são utilizados para aplicar disposições de direito originário.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Regulamento de execução: subordinados aos regulamentos de base, destinam-se


a dar execução aos mesmos, cujos regimes pormenorizam e desenvolvem,
estabelecendo as condições e os meios da sua aplicação. Em regra esta
competência é da Comissão (art. 290.º, do TFUE)).

- Regulamentos do Parlamento Europeu e do Conselho

- Regulamentos do Parlamento Europeu

- Regulamentos da Comissão (só podem ser adotados no exercício de um poder


autónomo, em casos específicos e limitados (art. 290.º, do TFUE).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Diretiva
- Instrumento de harmonização de legislação (lei-quadro).

- Atos pelos quais uma instituição competente fixa aos destinatários um resultado,
que no interesse comum deve ser alcançado, permitindo que cada um deles
escolha os meios e as formas mais adequadas, do ponto de vista do direito interno,
da realidade nacional ou dos seus interesses próprios, para alcançar o objetivo
visado.

- Não é um ato de alcance geral, visto que os destinatários são exclusivamente os


Estados-membros (todos os Estados-membros, alguns deles ou um único).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Tem caráter individual e os seus destinatários são certos e determinados, ainda


que sejam todos os Estados-membros.

- Embora acabe por produzir um irrecusável efeito normativo geral.

- Vincula o destinatário quanto ao resultado a atingir, por via da compatibilização


da legislação interna com o conteúdo da Diretiva, dando aos Estados a hipóteses
de escolher a forma e os meios.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Obriga os seus destinatários quanto aos fins, resultados ou objetivos a atingir


(impõe aos Estados uma obrigação de resultados), que se conjuga com a
obrigação de comportamento do art. 4.º, n.º 3, TUE, em que os Estados devem
abster-se de adotar medidas suscetíveis de comprometer os resultados previstos
pela Diretiva.

- O regime jurídico da Diretiva não se torna obrigatório logo no dia seguinte à sua
criação, criando logo é a obrigação de transposição para os Estados-membros.

- Federalismo vertical com dois níveis de regulamentação:


- Fixação, em termos vinculativos, do resultado a atingir é da responsabilidade das
instituições da União Europeia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Determinação e adoção das medidas destinadas a alcançar tal resultado


incumbem aos Estados-membros destinatários da Diretiva.

- Têm de ser transpostas – medidas de transposição são atos internos mediante os


quais as diretivas são recebidas no direito interno, existindo liberdade quanto à
forma, tendo em consideração a ordem jurídica de cada Estado-membro.

- Em Portugal, o art. 112.º, n.º 8, CRP, exige ato legislativo, cujo o órgão emissor
depende da matéria em questão, embora o TJUE entenda que não tinha de ser
assim, correspondendo a uma opção constitucional dos Estados-membros.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Os Tratados dão liberdade aos Estados para escolherem a forma e os meios de


transpor as diretivas, correspondendo a uma prerrogativa dos Estados, podendo,
inclusivamente, ser até por remissão, quando o direito interno já acomoda o
conteúdo da diretiva; ou por transcrição e/ou adaptação.

- A Diretiva não tem aplicabilidade direta, uma vez que esta não pode modificar,
por si própria, o direito nacional e alterar as situações jurídicas que ela teve em
vista – tal efeito só haveria de resultar das novas regras jurídicas que, para dar
execução à diretiva, o Estado-membro destinatário acabasse por adotar na
respetiva ordem interna.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Por força da jurisprudência do TJUE admite-se que as diretivas podem ter efeito
direto (interpretação criativa do TJUE do art. 288.º, do TFUE) – apenas chamado
após terminar o prazo de transposição.

- Decisão
- Corresponde ao ato administrativo

- É individual e concreta, pelo que obriga apenas os destinatários que ela própria
designar, individualizado-os
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Tais destinatários, diversamente do que sucede com as diretivas, que apenas


podem ser dirigidos a Estados-membros, tanto podem ser Estados-membros (um,
vários ou todos) como pessoas coletivas de direito público ou mesmo simples
particulares.

- Tem normalmente a finalidade de aplicar as regras do Direito da União Europeia a


casos particulares.

- À semelhança da diretiva, a decisão impõe o resultado a atingir, mas,


diversamente daquela, obriga igualmente quanto às modalidades de execução
(é obrigatória em todos os seus elementos como o regulamento).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Tratam-se de decisões dirigidas pelas instituições da União Europeia aos Estados-


membros: não modifica por si própria a ordem jurídica interna dos Estados-
membros em causa nem as situações jurídicas individuais, cuja modificação só
ocorrerá após a aplicação, pelos Estados-membros destinatários da decisão, das
medidas que a decisão lhes impõe que adotem.

- As decisões dirigidas pelas instituições da União Europeia a particulares, originam,


por si próprias, direta e imediatamente, direitos e obrigações para os respetivos
destinatários e eventualmente para terceiros (tem inoponibilidade erga omnes).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Atos Atípicos (fora do art. 288.º, do TFUE)

- Encontram-se nos tratados (art. 232.º e 234.º, do TFUE).

- Encontram-se fora dos Tratados: atos que resultam da prática institucional, cuja
natureza não está prevista nos Tratados, mas a competência do mesmo tem de se
reconduzir aos Tratados.

- Pretensa hierarquia dentro do direito derivado


- O art. 288.º, do TFUE, não estabelece um critério expresso e apenas enumera certa
ordem, o que não é relevante para que se deduza pela existência de certa e
determinada hierarquia.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Ainda assim as decisões devem respeitar a legislação base.

- Regulamento e Diretiva
- Produzem atos que podem ser atos legislativos, atos delegados e atos de
execução.

- Quando não há designação expressa, será ato legislativo, conforme resulta do art.
289.º, n.º 4; 290.º, n.º 3; e 291.º, n.º4, do TFUE.

- Pode haver regulamentos legislativos, delegados e de execução, o mesmo


ocorrendo com as diretivas.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Os delegados só podem completar ou alterar elementos não necessários dos


legislativos (art. 290.º) – são subordinados aos atos legislativos, o mesmo ocorrendo
como os de execução.

- Segundo alguma doutrina, entre Regulamento e Diretiva (legislativa, delegada,


execução) não há hierarquia e sim paridade.

- A jurisprudência do efeito direto levou a que a Diretiva se aplicasse a todos,


tornando-a geral e abstrata como o Regulamento.

- A partir dos anos 80, as Diretivas foram sendo cada vez mais pormenorizadas –
“diretivas regulamentares” – pelo que se aproximam ao regulamento (reduzindo a
zero a margem de apreciação dos Estados, que apenas as podem transpor).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Alguma doutrina sustenta tratar-se de uma subversão da Diretiva.

- Portanto, estes atos são paritários e atenta-se ao critério cronológico.

- No art. 296.º e 297, do TFUE, consagra-se o regime comum.


- Todos os atos da União Europeia, normativos ou não, têm de ter base jurídica (i.e.
norma de habilitação) que estão nos Tratados (Direito Primário).

- Têm de invocar a disposição dos tratados quem que fundam a decisão, embora
segundo o TJUE se possa admitir a remissão genérica se dela se puder inferir a base
jurídica, caso contrário, há uma invalidade formal por falta de base jurídica.
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Por vezes, indica-se nos Tratados o tipo de ato, mas, quando tal não acontece, o
artigo 296.º, do TFUE, deixa a instituição escolher o ato normativo, segundo o
princípio da proporcionalidade (exigências de adequação, necessidade e
proibição do excesso).

- Este princípio da proporcionalidade articula-se ainda com o princípio da


subsidiariedade, uma vez que se a União Europeia conseguir realizar os seus
objetivos enquadrando os Estados-membros, deve fazê-lo.

- Nos termos do art. 296.º, §2, do TFUE, exige-se fundamentação do ato normativo,
sob pena de violação do princípio da legalidade, tornando o ato impugnável (art.
263.º, do TFUE).
DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA: AS FONTES DERIVADAS DE DIREITO DA UNIÃO EUROPEIA

- Assinatura e publicação no JOUE

- Série L para todos os atos normativos de publicação obrigatória


- Série C para todos os atos normativos de publicação facultativa

- Vacatio legis supletiva: 20 dias.

- As diretivas dirigidas a poucos Estados ou as decisões o que há de tomar em


consideração não é a data da publicação, mas sim a notificação dos
destinatários (o que é fundamental para apuramento dos prazos de impugnação).

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