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LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Unidade 4 - Organização linguística


da Libras

GINEAD
Unidade 4
Legislação da
Língua Brasileira de Sinais

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A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184 e


Parágrafos, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980) sujeitando-se à busca e
apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).
Habilidades

• Problematizar o conceito de surdez e analisar as políticas pú-


blicas voltadas para essa temática.

Descritores de desempenho

• Incluir alunos com surdez durante o processo de ensino-apren-


dizagem.

• Propiciar momentos coletivos de reflexão acerca de adequa-


ções curriculares necessárias.

• Difundir a importância da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e


do tradutor e intérprete de Libras na sociedade.

• Promover a formação continuada dos profissionais da Libras e


da comunidade surda.

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Apresentação da Unidade
Os critérios legais estabelecidos pelo Brasil que dão conta do indivíduo surdo são
recentes, se considerarmos o tempo histórico. No entanto, estes já conquistaram
inúmeros avanços, proporcionando, atualmente, as condições para que o surdo possa
conviver socialmente de acordo com as necessidades que suas limitações exigem.
Desse modo, as políticas educacionais voltadas para o sujeito surdo vêm criando
condições para que ele se ambiente em escolas regulares com a acessibilidade
necessária e o uso de metodologias específicas para o desenvolvimento de seu
conhecimento. Nesse quadro, o profissional tradutor e intérprete de Libras tem papel
fundamental, pois será o mediador entre a língua de sinais, L1 dos surdos, e a Língua
Portuguesa oralizada.
A inclusão, assim, pode ser realizada de modo efetivo, em seu conceito mais amplo,
o de incluir alguém que, não fosse uma legislação atuante, as políticas educacionais
existentes e o tradutor e intérprete de Libras, continuaria sendo excluído e vivendo à
margem da sociedade. É sobre esses temas que vamos tratar nesta unidade, começando
pela legislação que ampara os direitos do indivíduo surdo.

4.1 Legislação
No Brasil, a primeira lei que contempla de forma mais pontual a educação dos surdos
é a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, ao garantir que (BRASIL, 2000):

O Poder Público tem como missão promover a comunicação e estabele-


cer ferramentas alternativas que possibilitem às pessoas portadoras de
deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação ter acesso aos
sistemas de comunicação e sinalização.

O Poder Público irá implementar a formação de intérpretes de escrita em


braile, linguagem de sinais e de guias-intérpretes, com o intuito de garan-
tir a comunicação direta à pessoa portadora de deficiência sensorial e
com dificuldade de comunicação.

Os serviços de rádio e TV devem adotar medidas que permitam o uso


da linguagem de sinais ou outra subtitulação a fim de garantir que todos
tenham acesso à informação, inclusive as pessoas portadoras de defi-
ciência auditiva.

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Como podemos perceber, a lei pretende estabelecer e dar condições para que o
indivíduo surdo possa ser incluído na sociedade de modo a atuar, de forma praticamente
independente, na sociedade da qual participa. Para tanto, a acessibilidade prevista na
lei, como os facilitadores na comunicação, são indispensáveis.
No entanto, é importante lembrar que há pouco tempo dava-se um primeiro passo nesse
sentido, tanto que, se pensarmos nas nomenclaturas, ainda se lê o termo “linguagem
de sinais”, isso porque a Libras não existia oficialmente como língua. Somente com a
sanção da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, é que esta foi reconhecida como meio
legal de comunicação e expressão dos sujeitos surdos.

Art. 1º - É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira
de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de co-
municação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com
estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias
e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

Art. 2º - Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessioná-
rias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua
Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente
das comunidades surdas do Brasil.

Art. 3º - As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de as-


sistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de
deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor.

Art. 4º - O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais


e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Es-
pecial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da
Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares
Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente.

Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade
escrita da língua portuguesa. (BRASIL, 2002).

Vale lembrar que essa lei foi regulamentada somente três anos depois, por meio
do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005 (BRASIL, 2005), indo além do
reconhecimento da Libras como uma língua oficial e garantindo a seus usuários a
condição de pertencimento à sociedade brasileira de uma população até então
marginalizada pela sua diferença linguística. Além disso, o acesso à escola regular
só é possível mediante essa regulamentação, a qual subentende a interação entre

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indivíduos surdos e ouvintes, além do contato efetivo com a escrita e a leitura em
Língua Portuguesa.

Figura 4.1: Conversa entre duas pessoas na Língua de Sinais

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

A lei que determina a Libras como segunda língua, aliada ao português, dá condições de
acessibilidade nos sistemas de comunicação e sinalização, sendo, portanto, um passo
importante que a legislação brasileira deu para que o surdo possa se sentir sujeito na
sociedade em que vive.

4.2 Políticas educacionais


As políticas públicas voltadas para a área da educação e da educação especial no
Brasil foram fortemente influenciadas pelas conferências internacionais em prol da
inclusão, como a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (Conferência de
Jomtien, 1990) e a Declaração de Salamanca (Conferência Mundial sobre Necessidades
Educacionais Especiais, 1994).
Nesse contexto, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (2008) determina:

Para o ingresso dos estudantes surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue – Lín-
gua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de
sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para
estudantes surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o
ensino de Libras para os demais estudantes da escola. O atendimento educacional espe-

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cializado para esses estudantes é ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto na
língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com
outros surdos em turmas comuns na escola regular. (BRASIL, 2008, p. 12).

Assim, a partir da oficialização da Libras, compreende-se o sujeito surdo não mais


pelo viés da deficiência, mas pelo da diferença. Isto porque, em 1º de setembro de
2010, foi reconhecida oficialmente a profissão de tradutor e intérprete da Libras, com
a promulgação da Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. (BRASIL, 2010). Já o
Decreto nº 5.626 (2005) afirma, em seu art. 2º, que se considera surda toda pessoa
“[...] que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de
experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua
Brasileira de Sinais - Libras”.
Percebemos, com isso, a validação da situação do indivíduo surdo como alguém que
se expressa por meio de uma língua própria, a Libras. Além disso, o decreto também
dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular. Em seu art. 3º, apresenta
o seguinte texto:

A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação
de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de
Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino
e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. (BRASIL, 2005).

Parágrafo 1º
“Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimen-
to, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de
Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de
formação de professores e profissionais da educação para o exercício do
magistério”.

Parágrafo 2º
“A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cur-
sos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano
da publicação deste Decreto”. (BRASIL, 2005).

A partir desse decreto, percebemos que se abriu um leque de possibilidades tanto para
a educação dos surdos quanto para a divulgação da Libras. Guedes (2009, p. 34), ao
problematizar as políticas públicas voltadas para os surdos, afirma que:

Podem-se apontar importantes conquistas no campo da Educação ocorridas na déca-


da de 1990, tais como a oficialização da Língua Brasileira de Sinais, o fortalecimento da

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comunidade surda, a oferta de cursos de formação de professores, de instrutores e de
intérpretes, o aumento da produção de pesquisas na área da educação de surdos, a im-
plantação da Libras na educação de surdos e a revisão do currículo escolar.

Desse modo, é possível pensarmos que o sujeito surdo passa a ser reconhecido,
legalmente, como um sujeito ativo na sociedade em que vive, capaz de participar dela
de modo efetivo e atuar nela de maneira a conceber sua identidade surda.
Para que o trabalho com o surdo seja efetivado de modo a obter resultados satisfatórios
e coerentes com sua necessidade, é importante o conhecimento e o aprofundamento
sobre as leis que amparam esse sujeito em nossa sociedade.

O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, em seu capítulo IV, dis-


põe sobre o uso e a difusão da Libras e da Língua Portuguesa para o
acesso das pessoas surdas à educação.

Dispõe que “[...] as instituições federais de ensino devem garantir, obri-


gatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação
e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos
curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de
educação, desde a educação infantil até a superior". (BRASIL, 2005).

4.3 Tradutor e intérprete de Libras


A história dos profissionais que atuam como intérpretes teve seu começo na Grécia
Antiga e no Império Romano. Já o trabalho em conferências, de modo semelhante
ao que é realizado atualmente, iniciou apenas no século XX, em eventos relativos à
Primeira Guerra Mundial, pela necessidade de se usar a língua francesa, que era falada
entre os diplomatas da época. Ao final da Segunda Guerra Mundial, eram quatro as
línguas faladas nesse ambiente diplomático: inglês, russo, alemão e francês (PAGURA,
2003 apud LACERDA, 2014).

Tradutor e intérprete de Língua de Sinais.


Atualmente, é comum encontrarmos, no Brasil, tradutores intérpretes de
várias línguas faladas, mas esse profissional para a tradução e interpre-
tação da Língua Brasileira de Sinais ainda é escasso.

Aula de Libras para tradutor e intérprete de Língua de Sinais.


Apenas em 2002, com o reconhecimento da Libras como a Língua de
Sinais da comunidade surda, é que surgiu a necessidade de formar pes-
soas para serem tradutoras e intérpretes dessa língua.
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No entanto, foi somente a partir do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que
foram atendidos os anseios da comunidade surda, pois essa legislação afirma o direito
dos surdos ao acesso às informações em Libras. Esse decreto dedica seu Capítulo V
para tratar da “formação do tradutor e intérprete de Libras – Língua Portuguesa”.
A profissão de tradutor e intérprete da Libras (TILS) está regulamentada pela Lei
nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. A atuação e a formação desse profissional,
indicadas na lei, conforme estabelecem os artigos a seguir, presumem uma postura
ética profissional compromissada e consciente de seu papel.

Art. 1º. Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua
Brasileira de Sinais - Libras.

Art. 2º. O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas)
línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação
da Libras e da Língua Portuguesa. [...]

Art. 4º. A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em


nível médio, deve ser realizada por meio de:

I - cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; 

II - cursos de extensão universitária; e

III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e ins-
tituições credenciadas por Secretarias de Educação.

Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por
organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o cer-
tificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. (BRASIL, 2010).

De acordo com Quadros (2004), o tradutor intérprete de Libras e Língua Portuguesa é


a pessoa que tem a competência, em tempo real ou em um pequeno espaço de tempo,
de traduzir de uma língua para outra, ou seja, da Libras para a Língua Portuguesa e
desta para a Libras. A tradução diz respeito à modalidade escrita de pelo menos uma
das línguas envolvidas no processo:

Modalidades de tradução-interpretação - língua brasileira de sinais para português oral,


sinais para escrita, português para a língua de sinais oral, escrita para sinais - Uma tra-
dução sempre envolve uma língua escrita. Assim, poder-se-á ter uma tradução de uma
língua de sinais para a língua escrita de uma língua falada, da língua escrita de sinais para
a língua falada, da escrita da língua falada para a língua de sinais, da língua de sinais para
a escrita da língua falada, da escrita da língua de sinais para a escrita da língua falada e
da escrita da língua falada para a escrita da língua de sinais. A interpretação sempre en-
volve as línguas faladas/sinalizadas, ou seja, nas modalidades orais-auditivas e visuais-
-espaciais. Assim, poder-se-á ter a interpretação da língua de sinais para a língua falada

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e vice-versa, da língua falada para a língua de sinais. Vale destacar que o termo tradutor é
usado de forma mais generalizada e inclui o termo interpretação. (QUADROS, 2004, p. 9).

Existe uma postura ética que norteia o trabalho do tradutor intérprete de Libras, já que
um dos aspectos principais de sua função está relacionado à sociabilidade.

AFINIDADE SOCIAL
Esse profissional deve ter afinidade social com as pessoas surdas e,
desse modo, apresentar satisfação em desenvolver a comunicação com
elas. Seu papel é também de interlocutor, mediador e facilitador na apren-
dizagem do estudante surdo.

INTERAÇÃO
A tarefa desse profissional consiste em interagir com outras pessoas,
como professores ouvintes, surdos, colegas de classe, pais e outros, exer-
cendo, também, seu papel de mediador e facilitador da comunicação.

ÉTICA
Contudo, ao mediar a comunicação entre surdos e ouvintes e vice-versa,
esse profissional deve observar princípios éticos na execução de sua ta-
refa, percebendo que não poderá interagir na relação estabelecida entre
a pessoa com surdez e a pessoa ouvinte. Isso apenas poderá ocorrer se
for convidado.

Conforme estabelecido no código de ética da atuação do tradutor intérprete de Libras,


compete a esse profissional agir sigilosamente, com discrição, sendo fiel à mensagem
interpretada, à intenção e ao espírito do locutor da mensagem. (QUADROS, 2004).

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Desse modo, o papel do TILS fica caracterizado da forma como se apresenta no quadro
a seguir.

Quadro 4.1: Atuação e função do TILS

Atuação Função
Atuação do tradutor intérprete e Traduzir as aulas do professor surdo
professor de Libras aos alunos ouvintes.

Atuação do tradutor intérprete com o Não há necessidade de TILS para


professor proficiente em Libras auxiliar em aula.

Traduzir as falas do professor ouvinte e


Atuação do tradutor intérprete em sala não proficiente em Libras para o aluno
comum com o professor sem fluência surdo e promover a interação entre
em Libras professor e colegas ouvintes com o
aluno surdo.

Atuação do tradutor intérprete em Traduzir as falas nos eventos e


palestras, debates, discussões, promover a interação entre os
reuniões e outros eventos envolvidos nos eventos com o surdo.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2018).

Podemos compreender, com esses preceitos, que a ética, como em todas as profissões,
deve ser vista como fundamental para um bom trabalho de interpretação. É muito
importante pensar que o indivíduo surdo tem certa dependência desses profissionais
para se comunicar, mas que, em nenhum momento, corre o risco de ter sua liberdade
controlada. Os momentos em que são necessários o uso de interpretação são aqueles
que se restringem ao âmbito de que se tem necessidade naquele momento. Em uma
palestra, por exemplo, o TILS fará seu trabalho durante os momentos de fala; se houver
a previsão de um intervalo, nesse momento, o surdo e o TILS não precisam estar juntos,
a não ser que esteja envolvida uma situação de continuidade sobre o tema da palestra.
O que podemos perceber é que há uma linha muito tênue entre o profissionalismo
do TILS e sua conduta como amigo ou conhecido do surdo. É importante que essa
distinção fique bem clara entre ambos, como um contrato de prestação de serviço.

4.4 Inclusão
O uso do termo “inclusão” é bem recente, dada sua extensão legal. A própria Lei
de Diretrizes e Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1961, ou seja, a primeira LDB, já
recomendava a integração da educação especial no Sistema Nacional de Educação.

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Com a promulgação da Constituição de 1988 e da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), os sujeitos com deficiência passaram a ser
reconhecidos como sujeitos de direitos, inclusive no que se refere à educação.
No ano de 1996, mais especificamente em 20 de dezembro, com a segunda Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN) – Lei nº 9.394 –, a educação especial é
contemplada com um artigo específico. Capítulo V – Da Educação Especial, artigo 58:
“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação
escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
portadores de necessidades especiais". (BRASIL, 1996).
Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos: “O atendimento
educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas
classes comuns de ensino regular”. (BRASIL, 1996).
Para saber mais sobre essa relação do surdo e a escola, obtenha, a seguir, outras
informações.

No Brasil e no mundo, grande parte dos surdos tem baixa escolaridade


e problemas de alfabetização, o que acontece porque normalmente os
surdos não têm uma boa fundamentação da Língua Portuguesa. Fonte:
Federação Mundial dos Surdos (WFD).

Você sabia que grande parte dos tradutores de Libras tornam-se pro-
fissionais nessa especialidade por situações de convívio com o surdo?
Leia a reportagem "Tradutor e intérprete de Libras têm amplo mercado a
ser explorado", disponível aqui: <https://extra.globo.com/noticias/edu-
cacao/profissoes-de-sucesso/tradutor-interprete-de-libras-tem-amplo-
-mercado-ser-explorado-18890475.html>.

Você sabia que a inclusão do surdo nas escolas regulares está ocorrendo
em conformidade com aquilo que é disposto nas leis brasileiras? Será
que os surdos conseguem uma educação inclusiva conforme suas ne-
cessidades? Vamos refletir sobre isso.

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É importante ressaltar que uma das maiores conquistas em relação à inclusão é
o acesso à escola regular e, por meio dela, o acesso à escrita e à leitura em Língua
Portuguesa. Isto porque esta é a língua de contato com a sociedade letrada em que o
surdo vive. É ela quem garantirá ao sujeito surdo seu pertencimento a uma sociedade
de forma ampla, em que poderá interagir com outras pessoas, seja por meio da escrita,
seja por meio da Libras.
Sua condição de sujeito bilíngue vai lhe dar o espaço necessário para seu crescimento
individual. Isto porque, de acordo com Pereira (2011, p. 14), “[...] nesse modelo, a primeira
língua é a de sinais [...], que dá o arcabouço para o aprendizado da segunda língua”.

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Síntese

A legitimação do sujeito surdo data de pouco tempo, tanto em nível mundial quanto em
nível nacional. Até ser reconhecido pelas leis brasileiras como sujeito capaz, o surdo
passou por várias denominações, sendo a maioria delas excludentes.
Na atualidade, leis como a que dispõe sobre os direitos de comunicação e de expressão
do surdo e a que determina a Libras como língua oficial da comunidade surda e língua
oficial do Brasil, ao lado da Língua Portuguesa, vêm trazendo maior possibilidade de
inclusão desses indivíduos na sociedade brasileira.
A partir da regulamentação dessas leis, várias atitudes foram tomadas para a acessibilidade
do surdo em ambientes como a escola, um dos maiores e mais importantes acessos
desse sujeito. Para tanto, o trabalho dos profissionais encarregados da interpretação
da Libras foi fundamental para a efetividade dessa situação. Os TILS são de extrema
importância para o surdo em um mundo de interação com a comunidade ouvinte.
Esta unidade tratou desses assuntos e, por meio deles, esperamos ter levado a você
conhecimentos importantes, como:

• a importância da inclusão do aluno surdo durante o processo de ensino-


-aprendizagem;

• o modo de propiciar aos alunos surdos uma situação de real inclusão nes-
se processo;

• a importância de uma legislação voltada ao indivíduo surdo, que estabele-


ça critérios amplos de acessibilidade;

• o movimento de políticas públicas voltadas à educação de surdos no Brasil;

• o trabalho dos tradutores e intérpretes da Língua de Sinais como fator pre-


ponderante no acesso do sujeito surdo às atividades diversas, sobretudo à
educação regular.

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Síntese

Saiba mais
Para o surdo, o mercado de trabalho nem sempre foi
tão acessível. Mas, com algumas alterações legisla-
tivas, a realidade vem mudando. De acordo com o
Ministério do Trabalho, trabalhadores com algum ní-
vel de surdez totalizam 79.389 pessoas nas diversas
atividades profissionais formais, segundo a Relação
Anual de Informações Sociais (RAIS, 2015). Acesse
o link <http://www.brasil.gov.br/economia-e-empre-
go/2017/09/quase-80-mil-pessoas-com-deficiencia-
-auditiva-tem-carteira-assinada-no-brasil> e saiba
mais sobre a realidade de mercado de trabalho bra-
sileiro para o surdo.

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Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao.htm>. Acesso em: 18 jul. 2018.

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e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 23 jun. 2018.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/l9394.htm>. Acesso em: 23 jun. 2018.

______. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e


critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de
deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm>. Acesso em: 23 jun.
2018.

______. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de


Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 24 jun. 2018.

______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei nº


10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras, e o art. 18 da Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>.
Acesso em: 23 jun. 2018.

______. Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010. Regulamenta a profissão


de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais – Libras. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12319.htm>.
Acesso em: 23 jun. 2018.

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Referências

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têm carteira assinada no Brasil. 2017. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/
economia-e-emprego/2017/09/quase-80-mil-pessoas-com-deficiencia-auditiva-
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______. ______. Marcos Político-Legais da Educação Especial na Perspectiva da


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GUEDES, B. S. A língua de sinais na escola inclusiva: estratégias de normalização


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conjunto de práticas que governam. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

LACERDA, C. B. F. Intérprete de Libras: em atuação na educação infantil e no


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PEREIRA, M. C. da C. Libras: Conhecimento além dos sinais. São Paulo: Pearson,


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QUADROS, R. M. de. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua


portuguesa. Secretaria de Educação Especial. Programa Nacional de Apoio à
Educação de Surdos. Brasília: MEC/SEESP, 2004. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/tradutorlibras.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2018.

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