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LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Unidade 7 - Atendimento educacional


especializado

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Unidade 7
Atendimento educacional
especializado

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A violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184 e


Parágrafos, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980) sujeitando-se à busca e
apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).
Habilidades

• Identificar os serviços do AEE, política e inclusão escolar do


surdo.

Descritores de desempenho

• Motivar os alunos no aprendizado, destacando a importância


da língua no ensino para alunos surdos.

• Orientar e dar suporte nas estratégias pedagógicas para de-


senvolver a escrita e a alfabetização do educando surdo.

• Desconstruir os mitos estabelecidos socialmente com relação


às línguas de sinais e à comunidade surda.

• Destacar metodologias para a expansão de informações/co-


nhecimento ao sujeito surdo por meio da Língua de Sinais.

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Apresentação da unidade
Nesta unidade, iremos estudar a surdez a partir do olhar da inclusão, problematizando
os conceitos de inclusão e também de acessibilidade. Nesse sentido, perguntamos:
o que é necessário para que os sujeitos surdos se sintam incluídos em todos os
segmentos da sociedade? Em termos de acessibilidade, o que é necessário ser feito
para que os sujeitos surdos tenham acesso a qualquer ambiente, tanto educacional
como social?
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) vem identificar, elaborar e organizar
recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena
participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas, na perspectiva
inclusiva, de um atendimento de qualidade, sendo fundamental que os professores
conheçam as dificuldades de seus alunos.

7.1. Surdez e acessibilidade


Uma pessoa surda é como aquela que vivencia um déficit de audição que o impede de ad-
quirir, de maneira natural, a língua oral/auditiva usada pela comunidade majoritária e que
constrói sua identidade calcada principalmente nesta diferença, utilizando-se de estra-
tégias cognitivas e de manifestações comportamentais e culturais diferentes da maioria
das pessoas que ouvem. (COSTA; REIS, 2009, p. 20, apud SILVA, 2009, p. 15).

Símbolos, logotipos e sinais servem para representar o que queremos expressar, e


pessoas com deficiência têm utilizado esse meio através de signos, emblemas, símbolos,
logotipos, logomarcas e sinais com o intuito de se comunicarem visualmente com a
população em geral. Essa ideia de transmitir imagens é tão antiga quanto a história
da humanidade, que envolve o uso de diversas inteligências, como a pictográfica, a
visual/espacial, a corporal/cinestésica, a musical, a ética/moral, a política e muitas
outras.
A utilização do Símbolo Internacional de Surdez, conforme a Figura 7.1, é prevista
pela Lei nº 8.160/1991, que dispõe sobre a caracterização de símbolo que permita
a identificação de pessoas portadoras de deficiência auditiva. Conforme o art. 1º da
referida lei:

[...] é obrigatória a colocação, de forma visível do ‘Símbolo Internacional de Surdez’ em


todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras
de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos a sua disposição ou que
possibilitem seu uso. (BRASIL, 1991).

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A Língua de Sinais vem para fazer a mudança necessária ao processo de ensino-
aprendizagem do aluno surdo, que constitui um alicerce para sua comunicação e se
baseia nos princípios de “igualdade de oportunidades” e “educação para todos”.
Com o reconhecimento da Língua de Sinais a ser utilizada pela comunidade surda e a
integração do aluno surdo no ensino regular, é necessário um estudo sobre a legislação
e o processo de ensino-aprendizagem para que a inclusão realmente se efetive.
A Libras ainda não tem o status de uma língua, e muitos ainda a consideram apenas
uma ferramenta para os surdos aprenderem a Língua Portuguesa escrita, o que é um
equívoco. No entanto, essa desvalorização e, muitas vezes, até o desconhecimento da
Libras pelos ouvintes faz com que os sujeitos surdos tenham problemas de comunicação.

Figura 7.1: Símbolo Internacional de Surdez

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Identificando a surdez: bebê ou criança surda


Nos primeiros meses de vida, o bebê depende totalmente de sua mãe para sentir-
se compreendido e atendido nas suas necessidades básicas. Quando ele está
incomodado, é sua mãe que identifica e lhe oferece a ajuda necessária.
Nesse contexto, são sinais e situações nas quais os pais podem suspeitar quando
alguma coisa não vai bem com a audição do seu filho quando:

• o bebê recém-nascido não mostra sobressalto nem se desperta diante de


qualquer ruído do ambiente;

• a criança não faz barulho durante jogos, por exemplo;

• o bebê de mais de três meses não vira ao ser chamado;


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• o bebê de aproximadamente um ano não inicia a linguagem;

• a criança, no seu primeiro ano de vida, não balbucia nem responde aos
sons ou às chamadas normais em uma família;

• a criança de dois anos de idade ainda não diz papai nem mamãe;

• a criança, aos dois anos de idade, atende somente às ordens simples e


básicas, sem olhar a quem as produz;

• a criança de três anos de idade não diz palavras, mas emite ruídos que não
se entendem;

• a criança, aos três anos de idade, não é capaz de repetir frases com mais
de duas palavras;

• a criança, aos quatro anos de idade, não sabe contar o que acontece;

• a criança, aos cinco anos de idade, ainda fala como bebê;

• a criança é muito passiva e não incomoda;

• a criança pronuncia mal as letras: R, S, D, L, J e T;

• o bebê é demasiadamente tranquilo;

• o bebê não se altera diante de ruídos inesperados.

Como posso saber se meu filho ouve bem?


Quando bebês, é muito difícil detectar uma deficiência auditiva. Segundo
alguns especialistas, a surdez é mais facilmente detectada somente a par-
tir dos dois ou três anos, pois a criança deixará de responder quando seus
pais a chamam; o volume da televisão e da música estará acima do normal;
a criança se mostrará mais reservada, excluída, porque se sentirá insegura.

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7.1.2 Considerações sobre a surdez
A surdez é entendida nas perspectivas clínica e educacional. Do ponto de vista clínico,
para entender como acontece uma perda auditiva é imprescindível conhecer, antes,
como funciona o ouvido.
Os sons são captados pelo ouvido externo, formado pelo pavilhão auricular (orelha) e
o canal auditivo; em continuidade, o som é conduzido até o ouvido médio, chocando-
se contra a membrana timpânica e produzindo ondas vibratórias que chegam a três
pequenos ossos, também conhecidos como cadeia ossicular do ouvido: o martelo, a
bigorna e o estribo. Esses ossos formam uma ponte entre o ouvido médio e o ouvido
interno, e essa interação intensifica e amplifica as ondas sonoras antes que elas
cheguem à janela oval, o ouvido interno.
É no ouvido interno que está localizada a cóclea, com formato de um caracol, que
contém um sistema de canais cheio de um líquido aquoso. Quando as ondas sonoras
fazem a janela oval vibrar, o líquido se move e faz mexer células muito pequenas,
chamadas células ciliadas, que o nervo auditivo capta e leva informações até o cérebro.
No órgão de corti há a transformação das vibrações em impulsos elétricos, que são o
que conhecemos como ondas sonoras transmitidas pelo ar.
Trata-se de sons captados por nossa via aérea, mas também podemos captar os sons
por via óssea. No caso de uma pessoa com audição normal, o som é escutado por
via aérea e, apenas quando o som for muito grave e intenso, sentimos a vibração por
via óssea, como, por exemplo, o bater de um tambor. É fundamental que o professor
entenda sobre o funcionamento da audição normal para, depois, conhecer os conceitos
iniciais da deficiência auditiva e surdez, de modo a agir no processo educacional.

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Figura 7.2: Sistema auditivo

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

7.1.3. A classificação da deficiência auditiva


Para conhecer a deficiência auditiva, é necessário distinguir aspectos fundamentais
desse tipo de deficiência. Saber quais são os fatores etiológicos que originam a
perda auditiva, classificar diferentes tipos de perda auditiva, identificando as escalas
em decibéis (dB), são informações importantes para o professor e qualquer outro
profissional que encontrar uma pessoa com essa deficiência em sua vida, pois, ciente
da caracterização da pessoa com Deficiência Auditiva (DA) ou com surdez profunda,
esse profissional poderá lidar de acordo com as necessidades específicas de cada um
e, ainda, entender as possibilidades de comunicação por meio da Língua de Sinais.

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O que é dB e frequência?
Os termos dB e frequência são utilizados para descrever o nível do som e
os números de ciclos de uma onda sonora em um segundo.

Frequência
A frequência de som é o número de ciclos de uma onda sonora, por se-
gundo. As vibrações entre 20 e 20.000 ciclos por segundo são conside-
radas como som de uma pessoa com saúde normal. Sons agudos são
os emitidos por uma flauta ou o canto de um pássaro, por exemplo; e os
sons graves são aqueles produzidos por fortes trovoadas distantes ou
sons de uma guitarra.

Decibéis (dB)
Os termos dB (decibéis) e escala de decibéis são usados mundialmente
para medir o nível de som. É importante entender que o termo dB pode
ter diferentes significados e não tem uma unidade fixa, como as rela-
cionadas à voltagem, a metro e afins. A unidade de dB vai depender do
contexto em que ela é utilizada.

Saber se a surdez foi adquirida ou é congênita, se é uma perda condutiva ou


neurossensorial, ajudará os profissionais da educação e de outras áreas a entender por
que um surdo é diferente de outro surdo.
Identificar os modelos clínico-terapêutico e socioantropológico também irá auxiliar na
discussão acerca da inteligência e da comunicação dos surdos, bem como a concepção
de que existem dois mundos distintos, o dos OUVINTES e o dos SURDOS, que incide
na compreensão plena da existência de uma diferença linguística e, assim, na visão
educacional, os aspectos clínicos servirão de parâmetros para definir as melhores e as
mais eficazes práticas pedagógicas.
Vejamos os dois tipos de surdez.

• Surdez condutiva: também conhecida como de condução, caracteriza-se


como aquela que causa problemas na transmissão das ondas sonoras atra-
vés do ouvido externo ou médio, podendo ser temporária ou permanente.

• Neurossensorial: acontece quando a perda de audição ocorre devido a pro-


blemas na parte interna do ouvido ou no nervo auditivo, que liga o ouvido
ao cérebro, o que indica problema na cóclea, sendo um problema irreversí-
vel. São muitas as causas da perda auditiva, e aqui iremos enumerar algu-

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mas mais comuns, não esgotando todas as possibilidades que afetam a
diminuição da audição.

1. Consumo de álcool ou drogas durante a gravidez.

2. Otites frequentes no ouvido externo ou médio.

3. Grande quantidade de cera no ouvido médio.

4. Presença de líquido no ouvido médio.

5. Presença de algum corpo estranho ou de pequenos objetos dentro do ou-


vido.

6. Otosclerose, doença hereditária. Trata-se de uma formação anormal do


osso esponjoso próximo ao estribo e da janela do vestíbulo da orelha.

7. Ingestão de alguns medicamentos ototóxicos que podem acarretar perda


auditiva.

8. Exposição a ruídos excessivos por longos períodos.

9. Traumatismo crânioencefálico ou AVC.

10. Doençascomodiabetes,sarampo,toxoplasmose,esclerosemúltipla,lú-
pus, tumor no ouvido ou cerebral etc.

Acompanhe agora as características da surdez e os períodos de aquisição.

Audição normal
Perda auditiva de até 25 dB. Não há limitação da capacidade de comuni-
cação e desenvolvimento linguístico.

Surdez leve
Perda auditiva de 26 a 40 dB. Permite ouvir os sons pouco intensos, di-
ficuldade de perceber os fonemas e voz com pouca intensidade. Essa
perda auditiva não impede a aquisição normal da linguagem, havendo
dificuldade na leitura e/ou escrita.

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Surdez moderada
Perda auditiva de 41 a 55 dB. É necessária uma voz de mais intensidade
para que seja percebida; ao telefone, o indivíduo não ouve com clareza,
trocando muitas vezes a palavra ouvida por outra foneticamente seme-
lhante. Nesse caso, é frequente o atraso da linguagem.

Surdez acentuada
Perda auditiva entre 41 e 70 dB. O indivíduo não escuta sons como o to-
que do telefone; é frequente o atraso de linguagem e alterações articula-
tórias. Dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou frases
gramaticais complexas.

Surdez severa
Perda auditiva entre 71 e 90 dB. Permite que o indivíduo identifique ruí-
dos familiares; não entende a voz humana e não distingue os fonemas
da fala. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão
para utilizar a percepção visual (leitura labial) e para observar o contexto
das situações.

Surdez profunda
Perda auditiva superior a 90 dB. Priva a pessoa das informações auditi-
vas necessárias para perceber e identificar a voz humana. As perturba-
ções da função auditiva estão ligadas tanto à estrutura acústica quanto
à identificação simbólica da linguagem.

Congênita
É aquela que ocorre antes do nascimento ou, em alguns casos, durante o
parto, podendo ser hereditária ou até mesmo se a mãe, durante o período
de gravidez, contrair alguma doença, como, por exemplo, a rubéola.

Adquirida
Quando ocorre após o nascimento, nos casos em que a criança pode
adquirir alguma doença, como a meningite, ou ter infecções, como otites
crônicas ou agudas. Pode acontecer em qualquer idade.

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7.1.4. Política de inclusão educacional e atendimento
educacional especializado – art. 205
A inclusão das crianças na escola é um princípio de valorização do ser humano sem
qualquer tipo de preconceito para que possam exercer sua cidadania, fazendo parte
da sociedade e não sendo apenas inseridas, participando ativamente do processo
de aprendizagem para que essa aprendizagem seja significativa, com resultados
reais, mostrando que teoria e prática acontecem em parceria com a escola, equipe
multidisciplinar, professores, família e comunidade.

A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentiva-


da com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL, 1988).

Figura 7.3: Inclusão

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Somente uma política de inclusão educacional fundamentada em leis e documentos


é capaz de provocar mudanças que desenvolvam um paradigma educacional, com
transformações benéficas e imprescindíveis aos sistemas de ensino.
No Brasil, a primeira lei que deixa explícitos os direitos à educação dos surdos é a
Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Além disso, a primeira Lei de Diretrizes e
Bases (LDB), de 20 de dezembro de 1961 (Lei nº 4.024), já recomendava a integração
da Educação Especial no Sistema Nacional de Educação.

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A partir da Constituição de 1988 e também da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), os sujeitos com deficiência passaram a ser
reconhecidos como sujeitos de direitos, inclusive no que se refere à educação.
No ano de 1996, mais especificamente em 20 de dezembro de 1996, com a segunda
Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN), Lei nº 9.394, a Educação Especial é
contemplada com um artigo específico. “Entende-se por educação especial, para os
efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente
na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”.
(BRASIL, 1996, art. 58).
Caso a escola regular não possua condições de atender esses alunos: “O atendimento
educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em
função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas
classes comuns de ensino regular”. (BRASIL, 1996).
Para que se efetive uma política educacional de qualidade, é necessário investir na
formação de professores para atuarem no AEE, na formação de intérpretes de Libras
e na adaptação curricular. É primordial contemplar uma formação voltada para a
diversidade, capaz de dar oportunidades a todos, respeitando as diferenças.
Nessa perspectiva, a educação especial está estruturada por meio de três eixos,
conforme anunciado, em 2010, no documento do MEC “Marcos Político-Legais da
Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva”, elaborado pela Secretaria
de Educação Especial. O primeiro eixo se constitui em uma política fundamentada
na concepção de educação inclusiva; o segundo, pela institucionalização de uma
política de financiamento para a oferta de recursos e serviços na intenção de eliminar
obstáculos no processo de escolarização; o terceiro, em orientações específicas para
o desenvolvimento de práticas pedagógicas inclusivas (BRASIL, 2010). Dessa forma,
a educação especial se apresenta como um serviço para atender aos estudantes com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades.
Nesse contexto, o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, dispõe sobre a
educação especial, o Atendimento Educacional Especializado e dá outras providências,
da seguinte forma:

Art. 1º. O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação espe-
cial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e


com base na igualdade de oportunidades;

II - aprendizado ao longo de toda a vida;

III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência;

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IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações ra-
zoáveis de acordo com as necessidades individuais;

V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a fa-
cilitar sua efetiva educação;

VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximi-


zem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena;

VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino; e

VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem fins lu-
crativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial. (BRASIL, 2011).

Observando o que é recomendado pelo Decreto nº 7.611/2011, a inclusão se encontra


em um processo inicial, em que as escolas estão se adaptando, vagarosamente, às
recomendações previstas na legislação. Entretanto, nota-se que há um movimento
político-educacional que impõe mudanças nos ambientes escolares e nas instituições
e adéqua seus espaços físicos, os mobiliários, materiais, recursos, currículos e,
principalmente, a composição do quadro de profissionais contratados para atuar na
escola e no AEE. O Governo Federal, em parceria com os estados e municípios, vem
criando salas de recursos multifuncionais, adequando os seus serviços para atender
estudantes com deficiências, sejam elas auditivas, visuais, motoras ou intelectuais.

Atendimento Educacional Especializado em Libras na escola regular


O planejamento é feito pelo professor especializado, juntamente com os
professores de turma comum e os de Língua Portuguesa, que utilizam
imagens visuais e, quando o conceito é muito abstrato, recorrem a outros
recursos, como o teatro ou vídeos.

A organização didática desse espaço de ensino implica:


• imagens que possam colaborar para o aprendizado dos conteúdos cur-
riculares, na sala de aula comum;

• mural de avisos e notícias;

• biblioteca da sala;

• painéis de gravuras e fotos sobre a aula;

• roteiro de planejamento;

• ficha de atividade e outros.

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7.2 Vocabulário
Começar reconhecendo a Língua de Sinais como primeira língua do surdo, sua língua
materna e língua escolar, é o avanço de sucesso para a aprendizagem do sujeito surdo,
assim como os processos e práticas construídos e os a serem construídos. A Língua
de Sinais apresenta particularidades, portanto, torna-se fundamental a apropriação da
Libras para o desenvolvimento cognitivo, linguístico e social no aprendizado da Língua
Portuguesa e na formação da identidade surda.
A Língua de Sinais vem organizar o pensamento, estabelecer relações interpessoais,
conceituar o mundo, pressuposto para a leitura da palavra. Dar acesso a sua própria
linguagem visual e natural desde o berço é a chave para uma aquisição de linguagem
bem-sucedida para que esses indivíduos tenham uma base eficiente de uma primeira
língua que possa facilitar a aprendizagem de uma segunda.
A oferta de uma educação bilíngue a essas crianças se torna essencial já que cada
criança surda deve ter a Língua de Sinais como proteção contra o dano de aquisição
tardia de uma primeira língua, por essa razão, as escolas têm um papel importante na
sociedade moderna, que se encontra em constante mudança.
Além disso, práticas de ensino de leitura e escrita devem ser desenvolvidas mantendo as
dimensões da Língua de Sinais e do português escrito vinculadas para a acessibilidade
visual do surdo, promovendo e facilitando o acesso à escrita e proporcionando situações
de comunicação em que os alunos possam se expressar e ampliar os seus recursos
linguísticos.
As crianças surdas que utilizam a Língua de Sinais, quando escrevem, buscam
significado na própria língua para produzir a escrita de uma outra língua, no caso, a
Língua Portuguesa. As “palavras” não se constroem a partir de sons que se combinam,
mas de mãos que se movimentam no espaço e que se organizam de forma simultânea
e não linear. Essa relação entre escrita e linguagem estabelece correspondência entre
o que é sinalizado e o que é escrito para surdo e ouvinte.
Assim, a primeira língua do surdo é a Libras, e a segunda é a Língua Portuguesa, que
acontece em níveis de compreensão e utilização na ampliação de seu vocabulário.

Figura 7.4: Escrita e sinal

Fonte: Capovilla e Rafhael (2001).

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7.3 Mitos e crenças sobre a Língua Brasileira de
Sinais
Um dos mitos mais falados da Língua Brasileira de Sinais consiste na ideia de que
esta seria gesticulação ou imitação da língua majoritária, dominante, do país: a Língua
Portuguesa. Esse mito surge a partir do desconhecimento da Língua de Sinais, como
afirmam Quadros e Karnopp (2004), ao abordarem alguns dos mitos relacionados à
Língua Brasileira de Sinais.
Aceita-se a Língua Brasileira de Sinais como uma forma de linguagem, entendendo-se
esta como toda uma forma de comunicação, mas uma linguagem imitativa e inferior
à Língua Portuguesa. Contudo, como afirma Forster (2017, p. 3), os sinais na Língua
Brasileira de Sinais:

[...] não são como mímicas. Em primeiro lugar porque, mesmo os sinais icônicos [...] não
são uma simples imitação, já que, ao contrário de uma mímica, não são reconhecidos
por qualquer um, mas dependem de um dado conhecimento linguístico vigente dentro de
uma comunidade. Em segundo, nem todos os sinais são imitativos.

Na Língua de Sinais há alguns elementos icônicos, imitativos, que não são imitação,
de onde vem a falsa crença de que todo surdo é mudo e, como ele não pode falar, imita
a Língua Portuguesa por meio da gesticulação.
De acordo com Quadros (1997), Goldfeld (2002) e Sousa (2017), entre outros, a Língua
Brasileira de Sinais é uma língua natural que nasceu da interação espontânea entre
surdos, não sendo, portanto, uma imitação. A Língua de Sinais é “[...] autônoma, flexível,
versátil, criativa, de dupla articulação, constituída dos mesmos traços que compõem
qualquer outra língua humana”. (SANTOS; SANTOS; SANTOS, 2017, p. 491).
Além disso, Ferreira Brito (1998 apud SOUSA, 2017, p. 2) afirma que as línguas de sinais
são línguas naturais porque:

[...] sugiram espontaneamente da interação entre pessoas e porque devido à sua estrutura
permitem a expressão de qualquer conceito - descritivo, emotivo, racional, literal, metafó-
rico, concreto, abstrato - enfim, permitem a expressão de qualquer significado decorrente
da necessidade comunicativa e expressiva do ser humano.

Quadros e Karnopp (2004, p. 36-37) concluem que muitas concepções são equivocadas
em relação às línguas de sinais, assinalando um estatuto linguístico inferior em relação
às línguas orais. As investigações mostram que as línguas de sinais, sob o ponto de
vista linguístico, são completas, complexas e possuem uma abstrata estruturação em
todos os níveis de análise.

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7.4 Sinais básicos: alfabeto digital e números
O alfabeto manual ou datilológico é uma forma de “escrita” pelas mãos que representa
as letras do alfabeto do país de origem. No Brasil, é composto por 27 formatos, incluindo
o “Ç”, que representam as letras do alfabeto da escrita na Língua Portuguesa. Não é
uma língua, e sim um código de representação das letras alfabéticas. Sendo assim, seu
domínio poderá auxiliar na construção do conhecimento proposto. (GESSER, 2009).
A datilologia é usada em muitas línguas gestuais, com vários propósitos: representar
palavras (especialmente nomes de pessoas ou de localidades) que não têm gesto (sinal)
equivalente, ou para ênfase, para se ensinar ou aprender uma determinada língua gestual.
A representação de soletrar com as mãos o alfabeto, sendo a parte mínima da língua
oral escrita, permite formar palavras, frases e textos, sendo uma das alternativas que
se propõe para a comunicação com/entre os surdos. Nesse contexto, a Libras é uma
língua de modalidade gesto-espaço-visual, com sua estrutura gramatical que auxilia no
desenvolvimento cognitivo do surdo.
A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, a qual reconhece que a Libras, como língua, é o
meio legal de comunicação e expressão para os surdos, afirma que:

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais (Libras) a forma de comunicação e expres-


são, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical
própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de
comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

O Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, estabelece:

Art. 2º Para os fins deste Decreto considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda au-
ditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando
sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras. (BRASIL, 2005).

Esse mesmo Decreto determina que o surdo tem o direito à educação bilíngue, sendo que:

Art. 22. § 1º São denominadas escolas ou classes de educação bilíngue aquelas em que a
Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas
no desenvolvimento de todo o processo educativo. (BRASIL, 2005).

Além disso, a utilização do alfabeto manual com o uso de imagens promove a


construção de conhecimento para os surdos em todos os níveis da educação.

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Figura 7.5: Alfabeto manual

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

• Números

Em Libras, os números também podem ser representados de formas diferentes para


apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida,
idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários.
Os numerais cardinais são feitos com configurações de mãos diferenciadas que não
apresentam movimento. A sinalização dos números na Língua Brasileira de Sinais
acontece conforme pode ser observado na Figura 7.6, a seguir.

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Figura 7.6: Números

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Curiosidade
Alexander Graham Bell nasceu em Edimburgo, em 3
de março de 1847, em uma família ligada ao ensino
de elocução: o seu avô, em Londres; seu tio, em Du-
blin; e seu pai, Sr. Alexander Melville Bell, em Edim-
burgo, eram todos elocucionistas professados. Este
último publicou uma variedade de trabalhos sobre o
assunto, dos quais vários são bem conhecidos, em
especial o seu tratado da linguagem gestual, divulga-
do em Edimburgo em 1868. Nesse trabalho, explica
o seu método engenhoso de instruir surdos por meio
visual, como articular palavras e como ler o que as
outras pessoas dizem pelo movimento dos lábios.
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Síntese

Nesta unidade, estudamos os conceitos de inclusão e de acessibilidade linguística para


os sujeitos surdos. Muitas são as políticas públicas pensadas e criadas para que a
inclusão e a acessibilidade dos sujeitos surdos se torne realidade. No entanto, muitas
ações ainda precisam ser pensadas e colocadas em movimento para que essa realidade
se modifique. Os surdos ainda encontram muitas dificuldades de comunicação em vários
segmentos da sociedade, por isso, podemos afirmar que não basta existirem políticas
públicas, é necessário que tenhamos condições de colocá-las em funcionamento.

Saiba mais
Ser Surdo (com "S" maiúsculo) é reconhecer-se por
meio de uma identidade compartilhada por pes-
soas que utilizam a Língua de Sinais e não veem
a si mesmas como marcadas por uma perda, mas
como membros de uma minoria linguística e cultural
que tem normas, atitudes e valores distintos, assim
como uma constituição física distinta (LANE, 2008).
Para saber mais sobre o atendimento à pessoa com
surdez, acesse o site do INES: <http://www.ines.gov.
br> .

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Referências

BISOL, C.; SPERB, M. T. Discursos sobre surdez: deficiência, diferença,


singularidade e construção de sentido. Revista Psicologia: teoria e pesquisa.
Brasília, v. 26, n. 1, jan./mar., 2010.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
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