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LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS

Unidade 1 - Breve histórico da Libras


no Brasil

GINEAD
Unidade 1
Breve histórico da Libras
no Brasil

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Parágrafos, e Lei nº 6.895, de 17/12/1980) sujeitando-se à busca e
apreensão e indenizações diversas (Lei nº 9.610/98).
Habilidades

• Abranger o conhecimento de como surgiu a Língua de Sinais e


seus fatores históricos.

Descritores de desempenho

1. Entender o surgimento da Língua de Sinais.

2. Identificar quais os fatores históricos do reconhecimento da


língua.

3. Compreender quais foram as influências para o reconhecimen-


to da cultura surda.

4. Refletir sobre a importância da cultura surda e o desenvolvi-


mento cognitivo do surdo.

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Apresentação da unidade
A comunidade surda no Brasil vem conquistando muitos direitos e espaço. Nesse
sentido, podemos destacar o fato de a Libras ser considerada uma língua e não uma
linguagem, isto é, é um idioma oficial do nosso país que desenvolveu estrutura e
regras, desmistificando a ideia de gestos soltos ou mímica. Vale destacar que Libras
é a Língua Brasileira de Sinais e não uma língua universal, tendo em vista que é como
um idioma, em que cada país tem o seu.
No entanto, até conseguir essa conquista, o surdo foi marginalizado e sofreu muito
com a falta de conhecimento. Até o século XV, os surdos eram considerados incapazes
de qualquer tipo de convívio e aprendizagem. Isso começou a mudar a partir do século
XVI, quando, na Europa, começaram a surgir estudos que tinham o objetivo de dar outra
visão aos surdos, bem como tentar acabar com seu estereótipo.
No entanto, somente no século XVII é que foi possível visualizar algo que pudesse
favorecer os surdos. Eles não eram vistos na sociedade; estavam sempre escondidos
das outras pessoas com a justificativa de que não eram humanos; sofriam muitas
atrocidades e ainda havia a crença de que eram incapazes de viverem em sociedade.
(HONORA; FRIZANCO, 2009).
Nasciam diversos surdos nos castelos imperiais por consequência de casamentos
consanguíneos que, na época, eram comuns por motivos de preservar a herança e
assim não seria necessário dividi-la com outras pessoas, permanecendo na família.
Com todo esse descaso, ao serem percebidos, acabavam sendo excluídos. Alguns
povos acreditavam que os surdos não falavam e, consequentemente, não conseguiam
pensar. “Acreditava-se que o pensamento não podia se desenvolver sem a linguagem
e que a fala não se desenvolvia sem a audição: quem não ouvia, portanto, não falava e
não pensava”. (STREIECHEN, 2012, p. 13).
Padres, monges e sacerdotes percebiam a falta dos surdos na participação do Sacramento
da Confissão, que era essencial para a salvação de suas almas, mesmo com a consciência
da dificuldade de se comunicarem. Porém, naquela época, de acordo com a Congregação
de que os padres faziam parte, havia o voto do silêncio, ou seja, não podiam se comunicar,
mas encontravam uma forma de comunicação através de gestos.

1.1 O início da educação do surdo no Brasil


Para discutirmos sobre o início da educação do surdo no Brasil, precisamos falar dos
pioneiros da Europa e dos Estados Unidos, que se preocuparam e tomaram inciativas,
as quais geraram uma mudança significativa na crença de que os surdos eram
incapazes de se comunicar. Com isso, criaram e fundaram escolas que pudessem
utilizar a Língua de Sinais.

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De acordo com Ströbel (2007, p. 2):

Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas a ocasião para adquirirmos
conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos
relacionados com a educação em várias épocas.

Goldfeld (1997, p. 25) relata que “[...] o monge beneditino espanhol, Pedro Ponce de
León (1520-1584), ensinou quatro surdos, filhos de nobres, a falar grego, latim e italiano,
além de ensinar-lhes conceitos de física e astronomia”. Ele recebeu créditos como
o primeiro professor de surdos. Os monges beneditinos empregavam uma forma de
sinais para se comunicar entre eles a fim de não violar o voto de silêncio.

Pedro Ponce de León


Seu método de educação era através do alfabeto manual que desenvol-
veu, permitindo ao aluno que aprendesse a soletrar e reproduzir a pala-
vra. Esse alfabeto foi a inspiração para a criação de outros pelo mundo.
Figura 1.1: Pedro Ponce de León

Fonte: Da Tu Opinión ([s.d.]).


Figura 1.2: Alfabeto manual criado por Pedro Ponce de León

Fonte: Da Tu Opinión ([s.d.]).

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Charles-Michel de L’Épée
O Abade Charles-Michel de L’Épée (1712-1789), devido às discussões
que aconteciam sobre a aprendizagem do surdo, começou a se incomo-
dar. Assim, iniciou seus estudos da Língua de Sinais utilizada, a partir dos
quais compreendeu as características linguísticas da língua, que tinha
como foco o campo viso-gestual. Com essa descoberta, desenvolveu um
método próprio de Língua de Sinais.

Goldfeld (1997) destaca que, na França, em 1750, o trabalho de Charles-


-Michel de L’Épée, conhecido como um educador filantrópico e, mais es-
pecificamente, “o pai dos surdos”, foi dedicado à sua educação religiosa,
fundando o Instituto Nacional de Surdos-Mudos desse país, cuja institui-
ção é assumida pelo governo francês e os seus métodos educacionais
difundidos pelos mais diferentes países do mundo. L´Épée aprendeu os
sinais e desenvolveu a educação de surdos na França, ensinando religião
e alfabetizando-os.
Figura 1.3: Charles-Michel de L’Épée

Fonte: Yanne (2011).

Para L’Épée, a “linguagem” de sinais é uma língua natural dos surdos, sendo a melhor
ferramenta para desenvolver seu pensamento e sua comunicação. (GUARINELLO;
MASSI; BERBERIAN, 2007).

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Porém, havia os que não concordavam com o alfabeto manual, criticando e continuando
com o pensamento de que a comunicação se dava apenas através da língua oral, em
que a escrita ficava em segundo plano. Assim, se não fosse seguida essa sequência,
não teria como dar certo.
No Brasil, a preocupação com a educação dos surdos aconteceu somente no Segundo
Império, quando Dom Pedro II convidou o conde francês Ernest Huet, professor surdo e
ex-aluno surdo do Instituto de Paris, o qual trouxe o alfabeto manual francês e a Língua
Francesa de Sinais.

Figura 1.4: Ernest Huet

Fonte: Silveira (2014).

Figura 1.5: Alfabeto em língua de sinais

Fonte: Mundo Estranho (2011).

Huet apresentou estratégias e conteúdos importantes para a educação dos surdos,


bem como sua experiência anterior como diretor de uma instituição para surdos na
França: o Instituto dos Surdos-Mudos de Bourges. Como ainda não havia um espaço
onde poderia colocar em prática esses ensinamentos, ele solicitou ao Imperador Dom
Pedro II um local. Em 26 de setembro de 1857, foi criado o Instituto dos Surdos-Mudos
na cidade do Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – Ines.

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Figura 1.6: Instituto de Surdos-Mudos no Bairro das Laranjeiras em 1915

Fonte: Reis (2015).

Segundo Ciccone (1996), os surdos brasileiros de várias regiões do país, que se dirigiam
ao Instituto criado por Huet, foram educados por meio da língua escrita, do alfabeto
digital e dos sinais. Nos últimos anos, observa-se um movimento de mudanças na
concepção de surdez.

Curiosidade
O Instituto de Surdos-Mudos no Bairro das Laran-
jeiras servia também como um asilo somente para
meninos surdos de todo o Brasil. (STRÖBEL, 2007).
Huet encontrou muitas dificuldades para lecionar no
Ines, visto que as famílias brasileiras não o reconhe-
ciam como cidadão brasileiro e não confiavam em
seu trabalho pedagógico.

A língua de sinais utilizada pelos surdos no Instituto teve forte influência francesa,
misturando-se com a língua de sinais utilizada no Brasil, criando, assim, a Língua
Brasileira de Sinais. (STRÖBEL, 2007).

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Quanto à legislação de fundação do Ines, Doria (1958, p. 171) detalha:

[...] quando a Lei nº 839, de 26 de setembro de 1857, denominou-o ‘Imperial Instituto de


Surdos-Mudos’ [...], o artigo 19 do Decreto nº 6.892 de 19-03-1908, mandava considerar-
-se o dia 26 de setembro como a data de fundação do Instituto, o que foi ratificado pelos
posteriores regulamentos, todos eles aprovados por decretos. Inclusive o Regimento de
1949, baixado pelo Decreto nº 26.974, de 28-7-49 e o atual, aprovado pelo Decreto nº
38.738, de 30-1-56, (publ. No D.º de 31-1-56), referindo à denominação de ‘Instituto Na-
cional de Surdos Mudos’ [...] Tal instituição viu seu nome modificado recentemente pela
Lei nº 3.198, de 6-7-57 (publ. No D.º de 8-7- 57), para ‘Instituto Nacional de Educação de
Surdos’ [...].

Quando tudo parecia caminhando bem, pois o surdo estava deixando de ser excluído e
começando a ser evidenciado com a preocupação de inseri-lo na sociedade, em 1880,
na cidade de Milão, Itália, aconteceu o Congresso de Milão, que proibiu o uso da Língua
de Sinais nas escolas de surdos, em toda a Europa.
Essa decisão, que foi tomada por ouvintes, conseguiu desestabilizar a comunidade
surda, não somente na Europa, mas também no mundo, já que foi tão demorado o
reconhecimento do surdo e, de repente, em um Congresso que durou apenas três dias,
foram decididas resoluções que transformariam a vida do surdo, sem que este tivesse
direito à defesa, impondo o método oralista e impedindo-o de se comunicar através do
gesto. Dessa forma, ficou claro todo o autoritarismo pelas decisões impostas, a saber:

• o uso da língua falada e da língua gestual em simultâneo com a língua oral


afeta a fala;

• o método mais adequado para os surdos se apropriarem da fala é o intuiti-


vo (primeiro a fala depois a escrita);

• a gramática deve ser ensinada por meio de exemplos práticos;

• os educadores de surdos, do método oralista, devem aplicar-se na elabora-


ção de obras específicas dessa matéria;

• os surdos, depois de terminado o seu ensino oralista, usarão a língua oral na


conversação com pessoas falantes, já que a fala se desenvolve com a prática;

• a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os
8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de
7-8 anos;

• nenhum educador de surdos deve ter mais de dez alunos em simultâneo;

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• os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo esse novo
sistema oral.

De acordo com Ströbel (2009, p. 33):

[...] haviam 164 delegados no evento, sendo uma boa maioria de franceses e italianos a
favor do oralismo, votou pela proibição da língua de sinais nas escolas da época. Apenas
Estados Unidos e Inglaterra eram a favor do uso da língua de sinais. Os próprios educadores
surdos foram proibidos de votar. Com a influência de Grahn Bell pelas criações de aparelhos
auditivos, admirados e criados como uma solução para a ‘cura’ da surdez, o Congresso
finalizou com a aprovação do método oral, único e exclusivo para a educação de surdos.

Foi um verdadeiro retrocesso a tudo aquilo que já haviam conquistado para a


comunidade surda, definindo que o oralismo era o único método de ensino aos surdos,
pois acreditavam que a leitura labial era a melhor forma de comunicação para eles,
deixando de lado o que já havia sido aprendido sobre a Língua de Sinais e a própria
autonomia que o surdo estava adquirindo na comunicação.
Essa imposição do oralismo chegou às escolas já no século XIX de uma forma
avassaladora para os surdos e professores surdos, visto que estes lutavam por uma
educação igualitária, pois viam os surdos como seres capazes de aprenderem. Porém,
foram dispensados e proibidos de ensinarem a Língua de Sinais, o que desencadeou
uma evasão escolar da comunidade surda.
Nogueira (2010) aponta que o oralismo fez com que os surdos se tornassem ouvintes
de uma hora para outra e interagissem com o mundo usando o recurso da leitura labial
e da fala.

1.2 Primeiras instituições


O Ines atende em torno de 600 alunos, da Educação Infantil até o Ensino Médio.
Começou a funcionar no dia 1º de janeiro de 1856, mesma data em que foi publicada a
proposta de ensino apresentada por Huet, que propunha o trabalho com as disciplinas
de Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia, História do Brasil, Escrituração Mercantil,

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Linguagem Articulada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. No ano de 1957,
aconteceu uma mudança significativa e necessária para a vida dos surdos: a palavra
“Mudo” da sigla do Instituto foi substituída por “Educação”.

Figura 1.7: Imperial Instituto de Surdos-Mudos – Atual Instituto Nacional de Educação


de Surdos (Ines)

Fonte: Chih (2013).

O Ines recebeu alunos de todo território Nacional por ser a única instituição que
trabalhava com o ensino da Língua de Sinais, sendo referência para os assuntos de
educação, profissionalização e socialização de surdos. Para concluírem o estudo, os
alunos cursavam, de acordo com suas aptidões, oficinas de sapataria, alfaiataria, gráfica,
marcenaria e artes plásticas. As oficinas de bordado eram oferecidas às meninas que
frequentavam a instituição em regime de externato.
Com o movimento de oficialização da Língua Brasileira de Sinais, um projeto de lei, em
1993, em âmbito federal, culminou na criação da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002,
seguida pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a reconhecem como
primeira língua. Além disso, tal decreto regulamenta:

• a Libras como disciplina curricular;

• o ensino da língua portuguesa oferecida aos alunos surdos como segunda


língua;

• a formação de profissionais bilíngues; e

• a regulamentação do uso e da difusão dessa língua em ambientes públicos


e privados.

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Com isso, é possível perceber que, com a luta da comunidade surda sempre superando
desafios, eis que surge a educação bilíngue.
Quando se fala do surdo, há diversos questionamentos sobre sua comunicação,
seu convívio social e sua aprendizagem. Devido à falta de informação ou mesmo
interesse em saber sobre a cultura surda, acontecem muitos equívocos e situações
que constrangem o surdo, com expressões como mudinhos ou surdo–mudo, além de
tratamentos diferenciados, como se fossem incapazes ou como se nunca conseguirão
se socializar, já que falar é visto como o meio ideal de comunicação.
O instituto tem como uma de suas atribuições regimentais subsidiar a formulação da
Política Nacional de Educação de Surdos, em conformidade com a Portaria MEC nº
323, de 08 de abril de 2009, publicada no Diário Oficial da União, de 09 de abril de 2009,
e com o Decreto nº 7.690, de 02 de março de 2012, publicado no Diário Oficial da União,
de 06 de março de 2012.
Outras instituições iniciaram a Língua de Sinais, mas, após o Congresso Internacional
de Surdos-Mudos de Milão, passaram a adotar o oralismo puro.
Aqui no Brasil temos outros institutos preocupados com a educação do surdo, como o
Instituto Santa Terezinha, fundado em 1929, em Campinas e transferido para São Paulo
em 1933. Ele funcionou durante muito tempo como internato para meninas surdas, e
somente no ano de 1970 começou a aceitar meninos surdos. Além disso, o Instituto
Educacional São Paulo (IESP), fundado em 1954, foi doado em 1969 para a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, e é, hoje, referência em pesquisa e estudos na
área da deficiência auditiva. Podemos citar, ainda, a Federação Nacional de Educação
e Integração dos Deficientes Auditivos, criada em 1977, a qual, em 1987, passou a
denominar-se Federação Nacional e Educação e Integração dos Surdos (Feneis).

Curiosidade
Existem cerca de 10 milhões de surdos no Brasil. Isso
é o equivalente a quase 5% da população brasileira!
Um número bastante considerável hoje em dia, não é?

1.3 Identidade surda


Quando falamos em cultura, temos características que pertencem a uma região,
sociedade ou mesmo a grupos que se manifestam através de dança, folclore, músicas
e muitas outras atividades, o que dificulta a inserção, exclui ou mesmo separa, neste
caso, o ouvinte e o não ouvinte.

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Mesmo existindo uma quantidade considerável, que não passa despercebida, os
surdos ainda continuam desconhecidos e ignorados, visto que a surdez, por ignorância,
é considerada uma incapacidade ou deficiência e não como algo comum.
Segundo Demo (1988, p. 55):

[...] cultura significa produto tipicamente humano e social, no sentido da ativação das po-
tencialidades e da criatividade de cada sociedade, com relação ao desenvolvimento de si
mesma e ao relacionamento com o ambiente. É marca do homem sobre a terra, princi-
palmente na região simbólica, como capacidade de se criar e desdobrar em suas poten-
cialidades próprias e como capacidade de interagir com circunstâncias externas dadas.

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) foi oficializada em 24 de abril de 2002, com a


Lei nº 10.436. A partir de então, começaram a ser difundidas opiniões diversas entre
profissionais que trabalhavam com surdos e por surdos oralizados (que infelizmente
não se viam surdos). Dessa forma, a Libras surge como um mecanismo de afirmação
da identidade surda; uma identidade que foi impedida pela insistência de imposição da
sociedade, a qual considerava que oralizar era a melhor forma de se educar um surdo.

1.4 Introdução à Libras


A legislação oficializou a Língua Brasileira de Sinais como segunda língua oficial no
Brasil somente no século XXI. Trata-se da Lei nº 10.436 de 2002, que reconhece “[...]
como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS,
e outros recursos de expressão a ela associados” (BRASIL, 2002), definindo-a como:

[...] a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-


-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de trans-
missão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL,
2002, [s.p.]).

A Libras, com o apoio da Lei nº 10.436 de 2002, esclarece que “[...] as instituições
públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde
devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência
auditiva, de acordo com as normas legais em vigor”. (BRASIL, 2002, [s.p.]).

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Com essa lei, a Língua de Sinais proporciona, não somente a autonomia do surdo, mas
também o direito de ir e vir, socializar e ser integrado a um grupo social, uma vez que
é definida como uma língua natural. Ela tem como estrutura o visual-gestual e sua
aprendizagem requer atenção visual, memória visual, expressão corporal e facial e
agilidade manual.

Figura 1.8: Comunicação gestual-visual

Fonte: Plataforma Deduca (2018).

Surdos nascem, em 95% dos casos, em lares de pais ouvintes sem domínio da
Língua de Sinais. Por ser um dos primeiros ambientes frequentados pelas crianças, a
escola constitui espaço importante para o desenvolvimento da sua linguagem. Nela,
providências podem ser tomadas para que o surdo não seja, como afirma Sacks (2010,
p. 19), “deficiente na linguagem”.

Reflita
Como você imagina que seja a comunicação da
criança surda em casa, antes de começar a ir para a
escola? Os pais que têm filhos surdos se preparam
adequadamente para ajudarem em sua comunica-
ção? E quando são inseridos na escola?

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1.4.1. Acessibilidade
Igualdade e acessibilidade são direitos de todos e não apenas uma responsabilidade
social; também é lei. Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146, de 6 de julho
de 2015:

Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com
sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa
com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melho-
res práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. (BRASIL, 2015).

Ou seja, a acessibilidade é um direito garantido por lei às pessoas com deficiência.


Mas, na prática, sabemos que ainda estamos muito longe de isso se tornar uma
realidade. Hoje, os websites governamentais, principalmente os do Governo Federal,
preocupam-se com acessibilidade, porém, quando o assunto é a iniciativa privada, fica
bem complicado. Imagine o quanto se perde em vendas de e-commerce devido à falta
de acessibilidade.
Um aplicativo foi lançado um dia após a realização da primeira prova do Exame Nacional
do Ensino Médio (Enem), em 2017, a qual trouxe a reflexão sobre a educação para os
surdos no Brasil como o tema da redação. Com ele, a comunidade surda poderá se
informar semanalmente, em Libras, por meio do celular, sobre as principais notícias do
país e do mundo. É uma inovação que traz para o universo dos equipamentos móveis
uma ferramenta de comunicação visual, factual e informativa.

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Síntese

A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua natural dos surdos, que como outra,
possui estruturas e utiliza a imagem para expressar-se. Mas com os avanços intelectuais,
a comunidade surda no Brasil vem conquistando muitos direitos e espaço – um deles
é a Libras ser considerada uma língua e não uma linguagem. Vale lembrar que não
é uma língua universal, ou seja, cada país tem a sua. Toda essa conquista não foi
fácil, pois o surdo sofreu muitas atrocidades por falta de conhecimento da sociedade,
mas como tudo pode acontecer, estudos começaram a acontecer e desmistificaram
esse estereótipo da visão que tinham do indivíduo surdo.
Aqui no Brasil, com a ajuda de Ernest Huet, ex-aluno surdo na França, convidado por
Dom Pedro II, avançamos nessa educação específica para o surdo, que não existia. Ele
trouxe também material e sinais por meio de estratégias e conteúdos importantes para
a educação do surdo com a influência inglesa, assim surgindo o Instituto Nacional do
Surdo (Ines), primeira instituição brasileira para surdos.
Foi uma luta que continuou incansável para o surdo e sua comunidade, conquistando
direitos, leis sendo sancionadas, mas, infelizmente, muito lentamente. Mas é preciso
pensar positivamente e ajudar a comunidade surda, aprender a sua primeira língua
(Libras) para que a comunicação aconteça. Dessa forma, eles conseguirão estar na
sociedade estar na sociedade, não apenas colocados, mas, sim, usufruindo de seus
direitos e participando efetivamente.

Saiba mais
Sabendo-se que o brasileiro é líder mundial em tem-
po conectado à internet, há milhões de sites no Bra-
sil, mas quantos deles são acessíveis? Acesse o site
<http://www.amigodosurdo.com> e veja um exem-
plo de página acessível ao surdo.

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Referências

BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira


de Sinais - Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
24 abr. 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/
l10436.htm>. Acesso em: 8 jul. 2018.

______. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei


no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial
da União. Brasília, DF, 22 dez. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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Disponível em: <https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/1031158/
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da União, Brasília, DF, 6 jul. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
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