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GINEAD
Unidade 1
Breve histórico da Libras
no Brasil
Descritores de desempenho
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GINEAD
Apresentação da unidade
A comunidade surda no Brasil vem conquistando muitos direitos e espaço. Nesse
sentido, podemos destacar o fato de a Libras ser considerada uma língua e não uma
linguagem, isto é, é um idioma oficial do nosso país que desenvolveu estrutura e
regras, desmistificando a ideia de gestos soltos ou mímica. Vale destacar que Libras
é a Língua Brasileira de Sinais e não uma língua universal, tendo em vista que é como
um idioma, em que cada país tem o seu.
No entanto, até conseguir essa conquista, o surdo foi marginalizado e sofreu muito
com a falta de conhecimento. Até o século XV, os surdos eram considerados incapazes
de qualquer tipo de convívio e aprendizagem. Isso começou a mudar a partir do século
XVI, quando, na Europa, começaram a surgir estudos que tinham o objetivo de dar outra
visão aos surdos, bem como tentar acabar com seu estereótipo.
No entanto, somente no século XVII é que foi possível visualizar algo que pudesse
favorecer os surdos. Eles não eram vistos na sociedade; estavam sempre escondidos
das outras pessoas com a justificativa de que não eram humanos; sofriam muitas
atrocidades e ainda havia a crença de que eram incapazes de viverem em sociedade.
(HONORA; FRIZANCO, 2009).
Nasciam diversos surdos nos castelos imperiais por consequência de casamentos
consanguíneos que, na época, eram comuns por motivos de preservar a herança e
assim não seria necessário dividi-la com outras pessoas, permanecendo na família.
Com todo esse descaso, ao serem percebidos, acabavam sendo excluídos. Alguns
povos acreditavam que os surdos não falavam e, consequentemente, não conseguiam
pensar. “Acreditava-se que o pensamento não podia se desenvolver sem a linguagem
e que a fala não se desenvolvia sem a audição: quem não ouvia, portanto, não falava e
não pensava”. (STREIECHEN, 2012, p. 13).
Padres, monges e sacerdotes percebiam a falta dos surdos na participação do Sacramento
da Confissão, que era essencial para a salvação de suas almas, mesmo com a consciência
da dificuldade de se comunicarem. Porém, naquela época, de acordo com a Congregação
de que os padres faziam parte, havia o voto do silêncio, ou seja, não podiam se comunicar,
mas encontravam uma forma de comunicação através de gestos.
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De acordo com Ströbel (2007, p. 2):
Conhecer a história de surdos não nos proporciona apenas a ocasião para adquirirmos
conhecimentos, mas também para refletirmos e questionarmos diversos acontecimentos
relacionados com a educação em várias épocas.
Goldfeld (1997, p. 25) relata que “[...] o monge beneditino espanhol, Pedro Ponce de
León (1520-1584), ensinou quatro surdos, filhos de nobres, a falar grego, latim e italiano,
além de ensinar-lhes conceitos de física e astronomia”. Ele recebeu créditos como
o primeiro professor de surdos. Os monges beneditinos empregavam uma forma de
sinais para se comunicar entre eles a fim de não violar o voto de silêncio.
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Charles-Michel de L’Épée
O Abade Charles-Michel de L’Épée (1712-1789), devido às discussões
que aconteciam sobre a aprendizagem do surdo, começou a se incomo-
dar. Assim, iniciou seus estudos da Língua de Sinais utilizada, a partir dos
quais compreendeu as características linguísticas da língua, que tinha
como foco o campo viso-gestual. Com essa descoberta, desenvolveu um
método próprio de Língua de Sinais.
Para L’Épée, a “linguagem” de sinais é uma língua natural dos surdos, sendo a melhor
ferramenta para desenvolver seu pensamento e sua comunicação. (GUARINELLO;
MASSI; BERBERIAN, 2007).
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Porém, havia os que não concordavam com o alfabeto manual, criticando e continuando
com o pensamento de que a comunicação se dava apenas através da língua oral, em
que a escrita ficava em segundo plano. Assim, se não fosse seguida essa sequência,
não teria como dar certo.
No Brasil, a preocupação com a educação dos surdos aconteceu somente no Segundo
Império, quando Dom Pedro II convidou o conde francês Ernest Huet, professor surdo e
ex-aluno surdo do Instituto de Paris, o qual trouxe o alfabeto manual francês e a Língua
Francesa de Sinais.
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Figura 1.6: Instituto de Surdos-Mudos no Bairro das Laranjeiras em 1915
Segundo Ciccone (1996), os surdos brasileiros de várias regiões do país, que se dirigiam
ao Instituto criado por Huet, foram educados por meio da língua escrita, do alfabeto
digital e dos sinais. Nos últimos anos, observa-se um movimento de mudanças na
concepção de surdez.
Curiosidade
O Instituto de Surdos-Mudos no Bairro das Laran-
jeiras servia também como um asilo somente para
meninos surdos de todo o Brasil. (STRÖBEL, 2007).
Huet encontrou muitas dificuldades para lecionar no
Ines, visto que as famílias brasileiras não o reconhe-
ciam como cidadão brasileiro e não confiavam em
seu trabalho pedagógico.
A língua de sinais utilizada pelos surdos no Instituto teve forte influência francesa,
misturando-se com a língua de sinais utilizada no Brasil, criando, assim, a Língua
Brasileira de Sinais. (STRÖBEL, 2007).
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Quanto à legislação de fundação do Ines, Doria (1958, p. 171) detalha:
Quando tudo parecia caminhando bem, pois o surdo estava deixando de ser excluído e
começando a ser evidenciado com a preocupação de inseri-lo na sociedade, em 1880,
na cidade de Milão, Itália, aconteceu o Congresso de Milão, que proibiu o uso da Língua
de Sinais nas escolas de surdos, em toda a Europa.
Essa decisão, que foi tomada por ouvintes, conseguiu desestabilizar a comunidade
surda, não somente na Europa, mas também no mundo, já que foi tão demorado o
reconhecimento do surdo e, de repente, em um Congresso que durou apenas três dias,
foram decididas resoluções que transformariam a vida do surdo, sem que este tivesse
direito à defesa, impondo o método oralista e impedindo-o de se comunicar através do
gesto. Dessa forma, ficou claro todo o autoritarismo pelas decisões impostas, a saber:
• a idade mais favorável para admitir uma criança surda na escola é entre os
8-10 anos, sendo que a criança deve permanecer na escola um mínimo de
7-8 anos;
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• os alunos antigos também deveriam ser ensinados segundo esse novo
sistema oral.
[...] haviam 164 delegados no evento, sendo uma boa maioria de franceses e italianos a
favor do oralismo, votou pela proibição da língua de sinais nas escolas da época. Apenas
Estados Unidos e Inglaterra eram a favor do uso da língua de sinais. Os próprios educadores
surdos foram proibidos de votar. Com a influência de Grahn Bell pelas criações de aparelhos
auditivos, admirados e criados como uma solução para a ‘cura’ da surdez, o Congresso
finalizou com a aprovação do método oral, único e exclusivo para a educação de surdos.
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Linguagem Articulada, Doutrina Cristã e Leitura sobre os Lábios. No ano de 1957,
aconteceu uma mudança significativa e necessária para a vida dos surdos: a palavra
“Mudo” da sigla do Instituto foi substituída por “Educação”.
O Ines recebeu alunos de todo território Nacional por ser a única instituição que
trabalhava com o ensino da Língua de Sinais, sendo referência para os assuntos de
educação, profissionalização e socialização de surdos. Para concluírem o estudo, os
alunos cursavam, de acordo com suas aptidões, oficinas de sapataria, alfaiataria, gráfica,
marcenaria e artes plásticas. As oficinas de bordado eram oferecidas às meninas que
frequentavam a instituição em regime de externato.
Com o movimento de oficialização da Língua Brasileira de Sinais, um projeto de lei, em
1993, em âmbito federal, culminou na criação da Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002,
seguida pelo Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que a reconhecem como
primeira língua. Além disso, tal decreto regulamenta:
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Com isso, é possível perceber que, com a luta da comunidade surda sempre superando
desafios, eis que surge a educação bilíngue.
Quando se fala do surdo, há diversos questionamentos sobre sua comunicação,
seu convívio social e sua aprendizagem. Devido à falta de informação ou mesmo
interesse em saber sobre a cultura surda, acontecem muitos equívocos e situações
que constrangem o surdo, com expressões como mudinhos ou surdo–mudo, além de
tratamentos diferenciados, como se fossem incapazes ou como se nunca conseguirão
se socializar, já que falar é visto como o meio ideal de comunicação.
O instituto tem como uma de suas atribuições regimentais subsidiar a formulação da
Política Nacional de Educação de Surdos, em conformidade com a Portaria MEC nº
323, de 08 de abril de 2009, publicada no Diário Oficial da União, de 09 de abril de 2009,
e com o Decreto nº 7.690, de 02 de março de 2012, publicado no Diário Oficial da União,
de 06 de março de 2012.
Outras instituições iniciaram a Língua de Sinais, mas, após o Congresso Internacional
de Surdos-Mudos de Milão, passaram a adotar o oralismo puro.
Aqui no Brasil temos outros institutos preocupados com a educação do surdo, como o
Instituto Santa Terezinha, fundado em 1929, em Campinas e transferido para São Paulo
em 1933. Ele funcionou durante muito tempo como internato para meninas surdas, e
somente no ano de 1970 começou a aceitar meninos surdos. Além disso, o Instituto
Educacional São Paulo (IESP), fundado em 1954, foi doado em 1969 para a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, e é, hoje, referência em pesquisa e estudos na
área da deficiência auditiva. Podemos citar, ainda, a Federação Nacional de Educação
e Integração dos Deficientes Auditivos, criada em 1977, a qual, em 1987, passou a
denominar-se Federação Nacional e Educação e Integração dos Surdos (Feneis).
Curiosidade
Existem cerca de 10 milhões de surdos no Brasil. Isso
é o equivalente a quase 5% da população brasileira!
Um número bastante considerável hoje em dia, não é?
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Mesmo existindo uma quantidade considerável, que não passa despercebida, os
surdos ainda continuam desconhecidos e ignorados, visto que a surdez, por ignorância,
é considerada uma incapacidade ou deficiência e não como algo comum.
Segundo Demo (1988, p. 55):
[...] cultura significa produto tipicamente humano e social, no sentido da ativação das po-
tencialidades e da criatividade de cada sociedade, com relação ao desenvolvimento de si
mesma e ao relacionamento com o ambiente. É marca do homem sobre a terra, princi-
palmente na região simbólica, como capacidade de se criar e desdobrar em suas poten-
cialidades próprias e como capacidade de interagir com circunstâncias externas dadas.
A Libras, com o apoio da Lei nº 10.436 de 2002, esclarece que “[...] as instituições
públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde
devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência
auditiva, de acordo com as normas legais em vigor”. (BRASIL, 2002, [s.p.]).
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Com essa lei, a Língua de Sinais proporciona, não somente a autonomia do surdo, mas
também o direito de ir e vir, socializar e ser integrado a um grupo social, uma vez que
é definida como uma língua natural. Ela tem como estrutura o visual-gestual e sua
aprendizagem requer atenção visual, memória visual, expressão corporal e facial e
agilidade manual.
Surdos nascem, em 95% dos casos, em lares de pais ouvintes sem domínio da
Língua de Sinais. Por ser um dos primeiros ambientes frequentados pelas crianças, a
escola constitui espaço importante para o desenvolvimento da sua linguagem. Nela,
providências podem ser tomadas para que o surdo não seja, como afirma Sacks (2010,
p. 19), “deficiente na linguagem”.
Reflita
Como você imagina que seja a comunicação da
criança surda em casa, antes de começar a ir para a
escola? Os pais que têm filhos surdos se preparam
adequadamente para ajudarem em sua comunica-
ção? E quando são inseridos na escola?
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1.4.1. Acessibilidade
Igualdade e acessibilidade são direitos de todos e não apenas uma responsabilidade
social; também é lei. Segundo a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) nº 13.146, de 6 de julho
de 2015:
Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com
sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa
com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melho-
res práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente. (BRASIL, 2015).
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Síntese
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua natural dos surdos, que como outra,
possui estruturas e utiliza a imagem para expressar-se. Mas com os avanços intelectuais,
a comunidade surda no Brasil vem conquistando muitos direitos e espaço – um deles
é a Libras ser considerada uma língua e não uma linguagem. Vale lembrar que não
é uma língua universal, ou seja, cada país tem a sua. Toda essa conquista não foi
fácil, pois o surdo sofreu muitas atrocidades por falta de conhecimento da sociedade,
mas como tudo pode acontecer, estudos começaram a acontecer e desmistificaram
esse estereótipo da visão que tinham do indivíduo surdo.
Aqui no Brasil, com a ajuda de Ernest Huet, ex-aluno surdo na França, convidado por
Dom Pedro II, avançamos nessa educação específica para o surdo, que não existia. Ele
trouxe também material e sinais por meio de estratégias e conteúdos importantes para
a educação do surdo com a influência inglesa, assim surgindo o Instituto Nacional do
Surdo (Ines), primeira instituição brasileira para surdos.
Foi uma luta que continuou incansável para o surdo e sua comunidade, conquistando
direitos, leis sendo sancionadas, mas, infelizmente, muito lentamente. Mas é preciso
pensar positivamente e ajudar a comunidade surda, aprender a sua primeira língua
(Libras) para que a comunicação aconteça. Dessa forma, eles conseguirão estar na
sociedade estar na sociedade, não apenas colocados, mas, sim, usufruindo de seus
direitos e participando efetivamente.
Saiba mais
Sabendo-se que o brasileiro é líder mundial em tem-
po conectado à internet, há milhões de sites no Bra-
sil, mas quantos deles são acessíveis? Acesse o site
<http://www.amigodosurdo.com> e veja um exem-
plo de página acessível ao surdo.
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Referências
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DEMO, P. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 1988.
SACKS, O. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
SILVEIRA, L. Atividade de Libras 03. Blog Surdos e Mudos, 2014. Disponível em:
<http://surdosemudosbr.blogspot.com/2014/08/>. Acesso em: 9 jul. 2018.
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STRÖBEL, K. L. História dos Surdos: Representações “Mascaradas” das
Identidades Surdas. In: QUADROS, R. M.; PERLIN, G. (Orgs.). Estudos Surdos II.
Petrópolis: Arara Azul, 2007.
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